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A Inatingível Natureza do Desejo.

Atualizado: 15 de abr.

A dualidade Eros (vida) e Tânatos (morte)
A dualidade Eros (vida) e Tânatos (morte)

Entre a Sedução e o Caos: O Enigma do Desejo

O desejo se aproxima mais de um enigma inconsciente e da marca de uma satisfação mítica, de uma primeira experiência, às vezes infantil, que é difícil de recordar como um objeto concreto. Sua satisfação não está relacionada à descarga de prazer, mas ao esforço que implica a luta por um projeto que nos faz sentir vivos e guarda relação com essas balizas inconscientes arquivadas na memória como sujeitos. Então, devemos nos perguntar: queremos realmente o que desejamos? Pretendemos adentrar nessa relação, sugestiva e desejável, mas tirânica? Queremos essa vida loca, cheia de ritmo e velocidade? "Nosso corpo é um campo de inscrições, onde as pulsões esculpem uma identidade antes mesmo que possamos nomeá-las." - Dan Mena.

O desejo como falta (Lacan)
O desejo como falta (Lacan)

A chave para a verdadeira satisfação estaria na habilidade de reencontrar, nas vivências atuais, os sinais que um dia nos fizeram felizes, e não na compra compulsiva de um produto. ''Nenhum objeto pode ser o destino de um desejo''. Quando a produção deles é tão elevada quanto vemos atualmente, arriscamos buscar uma satisfação imediata por meio de artefatos de todo tipo. Essa relação consumista adquire, então, uma forma aditiva e solitária. Se trata de uma satisfação da pulsão, não do cumprimento do desejável.  Para podermos existir como sujeitos, é preciso que rejeitemos uma primeira identificação, a qual somos logo convocados: sermos aquilo que o ''Outro'' espera, e a de se identificar como objetos desse desejo do Outro, o lugar onde algo falta e onde somos esperados. A razão pela qual essa primeira identificação deve ser rejeitada é que é absolutamente aniquiladora, pois, se identificar com algo que falta, que não existe, equivale a ser nada.

Para tal premissa ser possível a existência, é preciso reprimir a dimensão objetificada. O refreio originário, portanto, opera sobre o corpo, significando a identidade fálica, localizada no desejo materno, e investida como falo. A investidura fálica do corpo é determinada pelas pulsões, uma vez que, ao atender às necessidades do infante, a mãe fortalece a pulsão parcial, dessa forma, suprindo a carência, é o que identifica o corpo a esse símbolo. "Nenhum objeto, pessoa ou prazer pode preencher o que nunca esteve vazio, mas foi recortado pela linguagem." - Dan Mena.

A sexualidade polimorfa (Freud)
A sexualidade polimorfa (Freud)

“O maior paradoxo da sexualidade é que não buscamos outra resposta para uma pergunta que nunca foi formulada por palavras, mas por traumas e fantasmas infantis.” - Dan Mena.

"A sexualidade é o campo onde o sujeito busca reencenar sua primeira falta, acreditando encontrar no outro o que lhe foi perdido."- Dan Mena.


A pulsão sempre busca a unificação do sujeito com o falo, explicando logo a recorrência dessa dinâmica. A unificação mencionada corresponde à ideia de ser, e é justamente o oposto da divisão subjetiva. Diante disso: somos pensados, projetados, desejados, falados, gozados, portanto: como entramos na subjetivação? Isso implica uma separação radical, a divisão do sujeito de seu próprio corpo tomado pela mãe. Não se trata da separação da mãe, mas do afastamento e perda do que a mãe teria querido que fôssemos, do que poderíamos ter sido. Esse objeto perdido e que desejaremos ''reencontrar ao longo da vida'' é o primeiro movimento do desejo. Tal processo implica o reconhecimento de um trauma inaugural, representando o início de um percurso de individuação marcado pela divisão e pela busca contínua pelo reencontro com a parte idealizada de si. Nesse sentido, o desejo surge como um impulso para superar as consequências do trauma e promover a autorrealização.


"O desejo não nasce da posse, mas da sua falta; estamos condenados a buscar aquilo que, ao ser encontrado, não é mais o que desejávamos." - Dan Mena.

A fantasia e o recalcamento
A fantasia e o recalcamento

Por outro prisma, a fantasia, que não é um mero delírio etéreo, mas um alicerce da psique onde o desejo se edifica, se manifesta e se oculta, emana como a arquitetura subjetiva do querer. Se fosse uma chama, a fantasia seria o oxigênio que a alimenta, permitindo que ela cresça, brilhe e, por vezes, queime com intensidade avassaladora.

Freud, ao longo de sua obra, jamais trivializou sua natureza, se dedicou ao seu estudo como um fenômeno inescapável. Ele distingue entre Wunsch, o desejo inconsciente, e Lust, o prazer sensível, oferecendo uma visão onde é visto tanto como uma força pulsional quanto uma estrutura simbólica que se inscreve na história de cada um. Ao formular a teoria do sonho, Freud mostra que ele atua na encenação de uma satisfação impossível, um teatro onírico onde o inconsciente busca, pela via da simbolização, aquilo que na vigília lhe é interditado. "O sujeito é, antes de tudo, um enigma para si, pois seu desejo é escrito por mãos invisíveis que antecedem sua própria consciência." - Dan Mena.

A distinção entre desejo e necessidade é precípua. Conseguimos reconhecer e atender suas necessidades básicas com relativa facilidade, mas quando se trata do desejo, a lógica se torna paradoxal, não se esgota na satisfação de uma necessidade física; ele é um impulso que transcende o biológico e se inscreve no registro da subjetividade, sendo marcado pela falta e pelo deslocamento contínuo.

A psicanálise rompe com a visão mecanicista da sexualidade proposta pelos sexólogos de sua época. Para Freud, ela é infinitamente mais abundante do que um instinto redutível à genitalidade. Sua teoria da libido introduz um conceito inovador: a sexualidade como um ''continuum'' que atravessa todas as dimensões mentais. Nos "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade", desvela a sexualidade infantil e sua estrutura perverso polimorfa, demonstrando que o desejo aflora em uma forma e trama difusa, antes mesmo da constituição de uma identidade sexual adulta. A libido, nesse sentido, não se reduz ao ato sexual em si, mas se manifesta na busca incessante de prazer, seja ele sensual, afetivo ou mesmo intelectual.

A fantasia e o amor romântico
A fantasia e o amor romântico

''Somos criadores e prisioneiros de nossas próprias fantasias - elas nos libertam e nos acorrentam no mesmo gesto.'' - Dan Mena.

Contudo, não se manifesta sem resistência. O recalcamento é a dinâmica central que impede o sujeito de acessar plenamente seus anseios, relegando isso ao inconsciente. ''O recalcado não desaparece; ele retorna distorcidamente, seja na forma dos sintomas neuróticos, dos lapsos, das formações substitutivas ou das fantasias. Uma simples proibição pode transformar um objeto qualquer em alvo do desejo''. "A sexualidade não se limita ao corpo; ela se infiltra no olhar, no gesto, na palavra, no interdito, no silêncio e até na ausência."- Dan Mena.

No decorrer de sua obra, Freud amplia esse conceito ao formular a noção de narcisismo. No ensaio "Sobre o Narcisismo: uma Introdução", postula que a libido pode ser investida tanto em objetos externos quanto no próprio eu, configurando o que ele denomina a ''libido narcísica''. Esse mecanismo não somente circunda as dinâmicas do desejo, mas também as formas como o sujeito se constrói e se relaciona com o mundo. Mais tarde, em "O Eu e o Isso", reformula sua teoria pulsional, introduzindo o dualismo entre as pulsões de vida (Eros) e as pulsões de morte (Tânatos). Nesse novo enquadramento, acrescenta não ser movido apenas pela busca do prazer, mas também pelo conflito entre a força que preserva a vida e a que tende à sua dissolução.

Lacan, cava fundo e reformula o conceito de desejo, assenta que é estruturado pela linguagem e, consequentemente, pelo ''Outro''. Inspirado na filosofia hegeliana, articula com a dialética do reconhecimento, afirmando que "o desejo é o desejo do Outro". Isso significa que ele não é meramente individual, mas sempre mediado pelo olhar, pela falta e pelo reconhecimento desse ''Outro''. "O amor-próprio nasce do reflexo narcísico, sua permanência depende do olhar do ''Outro'' – amar-se, nunca é um ato solitário." - Dan Mena.

Libido e prazer
Libido e prazer

Além disso, introduz a distinção entre desejo e gozo. Enquanto o querer está ancorado na falta e na busca inatingível do objeto perdido, o gozo se refere a um traquejo que vai além do prazer, podendo até mesmo se tornar insuportável. Nesse cenário, nunca se deseja diretamente o objeto, mas sim o desejo a que esse objeto suscita.

O desejo é o que nos move, o que nos faz buscar, errar e insistir. No entanto, como bem mostra a psicanálise, ele nunca se satisfaz plenamente. E talvez seja justamente nessa insatisfação que resida o mistério abismal da nossa condição.

"A insatisfação não é um erro de psique, mas sua essência – é no vazio que o desejo se renova e nos empurra para a vida."- Dan Mena. Palavras Chaves; #DesejoInconsciente #PsicanáliseEDesejo #ErosETânatos #Freud #Lacan #PulsãoDeVidaEMorte #SatisfaçãoDoDesejo #Fantasia #SexualidadeHumana #DesejoEFalta #Libido #Narcisismo #Trauma #ObjetoDoDesejo #Inconsciente #PsicanáliseLacaniana #DesejoEGozo #Recalcamento #TeoriaDasPulsões #DanMena Até breve, Dan Mena.

Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.

 
 
 

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