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Complexo de Édipo - a Castração.

Atualizado: 22 de set. de 2024



O complexo de castração é um dos elementos centrais na psicanálise, está ligado ao complexo de Édipo. Embora existam outras análises interessantes sobre ele, neste artigo, adentro nele com a base da teoria clássica de Freud.

Freud constrói sua fala sobre os sistemas complexos assim… “Os nossos complexos são a fonte da nossa fraqueza; mas muitas vezes, eles também são a fonte da nossa força”. Segundo Freud, “o”Eu” não é senhor em sua própria casa”. Na tragédia Édipo Rei, escrita por Sófocles, como uma das bases da estruturação psíquica do desejo humano, sinaliza com um dos conceitos clínicos mais importantes da teoria psíquica, que propõe a divisão entre a consciência e o inconsciente, onde aparece como a pedra fundamental a Psicanálise, com o nome de Complexo de Édipo. A interpretação deste mito, reescrito por Freud, no qual Édipo se casa com a sua mãe e mata o pai, (sem estar ciente que era), estabelece para o Psicanalista (no seu conceito terapêutico), o ato inaugural da civilização, a partir do tabu do incesto, citado em Totem e Tabu escrito em 1913. O Complexo citado, trata de um conflito afetivo triangulado que toda criança atravessa. Surge, a partir dos desejos amorosos e provocadores em relação aos próprios pais. Em suma: nesse momento ela deseja um dos seus genitores, normalmente do sexo oposto, rivalizando com o genitor do mesmo sexo. Essa proibição de seus desejos representa a entrada do sujeito no chamado processo simbólico. A criança, ao introjetar os limites para o seu ''Eu'', desloca essa energia para outros interesses e afetos. Viver o processo de castração, inaugura o sujeito para a Psicanálise: na busca pela sua incompletude, como maneira de satisfazer o desejo impedido, que permanece viajando entre objetos, sem nunca aceder a descarga total de sua libido e excitação. Aqui podemos citar Lacan… que com sua absoluta autoridade diz: É impossível formar um…

“O gozo — o gozo do corpo do ''Outro'' — resta, ele, uma questão, porque a resposta que ele pode constituir não é necessária. Isto vai mesmo mais longe. Não é nem mesmo uma resposta suficiente, porque o amor demanda o amor. Ele não deixa de demandá-lo. Ele o demanda… mais… ainda. Mais, ainda, é o nome próprio dessa falha de onde, no ''Outro'', parte a demanda do amor”, 1985. O complexo de castração é um dos elementos centrais na Psicanálise, centralmente ligado ao complexo de Édipo. Embora existam outras análises interessantes sobre ele, neste artigo, adentro com a base da teoria clássica de Freud. Este fenômeno psíquico, não se refere a uma mutilação anatômica do corpo. Diz respeito, a uma experiência inconsciente na qual a criança rompe com a ideia de onipotência da existência fálica (pênis), através da diferenciação dos sexos. Ele se dá de maneira diferente na constituição psíquica do menino e da menina, a de que muitos homens desenvolvem na infância, a fantasia de que podem ser castrados por seus pais. Essa crença imaginária, se vê reforçada por insinuações jocosas adultas, geralmente em tom de brincadeira. Um exemplo clássico poderia ser: não mexe no seu ''PIUPIU'' senão vou cortá-lo. Freud constatou que, diante do desconhecimento de como funciona a genitália feminina, crianças de ambos os sexos, tenderiam a explicar a ausência do pênis nas meninas como resultado de uma castração. O suposto medo de serem castrados, levaria os meninos a renunciarem à prática da masturbação infantil e ao desejo incestuoso pela mãe. Já as meninas, acreditando ilusoriamente que são castradas, seriam levadas a aguardar uma recompensa por tal infortúnio, normalmente um bebê a ser gerado pelo pai. Em ambos os casos, a fantasia de castração, leva os infantes a fazer uma permuta, ela (mulher), abandona e troca por determinadas coisas, para poder desejar outras, que acabam funcionando como os símbolos dessa primeira.

Esta experiência mental intensa no desenvolvimento, que vivemos pela primeira vez, por volta dos 3 a 6 anos, se estabelece como uma prova inconsciente, que ciclicamente se repetem na nossa vida, particularmente, quando os mecanismos de defesa estão ativados, sendo fundamental e decisiva para a estruturação da futura identidade sexual do indivíduo. O complexo de castração, pode ser definido como “o sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela criança, quando ela constata a diferença anatômica entre os sexos” segundo afirmação de (ROUDINESCO, E. & PLON, M, 1998: 104.) (presença ou ausência de pênis) que se centra na fantasia imaginária infantil, de haver nesta suposta ausência ou não, a amputação do pênis. Portanto, se é definida pelo recalcamento da castração como estratégia defensiva, formativa do modo estrutural. A perversão pela renegação, a recusa de reconhecer a falta (já captada) do outro, representada pelo corpo da mãe em que faltaria um elemento, o falo.

Freud constrói esta frase para falar sobre os sistemas complexos… “Os nossos complexos são a fonte da nossa fraqueza; mas muitas vezes, eles também são a fonte da nossa força”.

O complexo de castração se faz presente, seja com meninos e meninas, cada um, a vivenciando e experimentado de uma forma diferente. Tal padrão de representação, é importante como experiência mental, onde a criança aprende através dela a diferenciar os sexos e reconhecer pela primeira vez, os desejos impossíveis que se apresentam. Segundo os estudos iniciais de Freud, esse processo psíquico transcorre em quatro fases e momentos até a sua resolução.

São eles;

A premissa inicial: o menino descobre que ele tem um pênis e elabora a ideia de que todas as pessoas têm um pênis.

Segundo momento: a ameaça. Em virtude do complexo de Édipo, a criança deseja substituir o pai em relação à mãe.

Tem comportamentos que comprovam esse desejo, simultaneamente, em que apresenta manifestações de autoerotismo. Por isso, recebe ameaças e proibições e constrói a ideia de que a castração é o castigo que o aguarda, caso persista nos seus desejos e comportamentos.

Terceiro momento: a descoberta da ausência. O menino descobre que a anatomia feminina difere: as mulheres não têm pênis. Eles não percebem que as meninas têm vagina, mas são desprovidas de pênis. Associa essa realidade às ameaças imaginadas: acredita que a ausência de um pênis é uma castração real.

Quarto momento: o da angústia. O menino descobre que a sua mãe é mulher, portanto, não tem pênis. Surge então a ansiedade da castração, experimentada inconscientemente.

Uma vez cumpridas estas quatro etapas, acontece uma última fase que é a de resolução, tanto do complexo de castração quanto do complexo de Édipo. Dita, ocorre quando o menino não quer mais assumir o lugar do pai em relação à mãe. Em outras palavras, renúncia à mãe e aceita a lei paterna. Ele faz isso para resolver a sua angústia de castração. Assume assim, sempre inconscientemente, que se ele persistir, ficará sem o seu pênis. O complexo de castração na menina, tem vários pontos em comum com o do menino. O primeiro é que a garota também parte da premissa de que todos têm um pênis. Da mesma forma, a mãe ocupa um papel muito importante na sua vida, é o centro do seu amor. No entanto, o processo segue por caminhos diferentes.

Vejamos as diferenças que aparecem entre meninos e meninas em cada um dos momentos:

Inicialmente, mantém-se a premissa de que todos têm um pênis. A menina assume que o clitóris é um pênis. A descoberta dessa diferença: a menina percebe que o seu clitóris é muito pequeno para ser um pênis. Acredita então que foi castrada e gostaria que isso não tivesse acontecido. Posteriormente, ela constata que sua mãe também não tem um pênis e a culpa por não tê-lo, assim entende que houve uma transmissão dessa deficiência a ela.

A resolução do complexo de castração nas meninas pode tomar três caminhos diferentes: O primeiro: é a aceitação de que ela não tem pênis e se afasta da sua sexualidade. O segundo: é a manutenção do desejo de ter um pênis. É a negação da castração, o que pode levá-la à homossexualidade.

Por fim, o caminho dessa trilha é uma solução completa do complexo de castração. A menina aceita que não tem pênis. A mãe deixa de ser o centro do seu afeto e este é reorientado em relação ao pai. Do mesmo modo, há um deslocamento da libido, onde o desejo de possuir um pênis se transforma no desejo de desfrutar de um pênis durante às relações sexuais. Finalmente, esse desejo do uso fálico, se move para a maternidade, é a vontade de ter um filho.

Freud afirma, quando o Complexo de Édipo fica mal resolvido, podem existir várias consequências, tais como: a identificação com o progenitor do sexo oposto, entre eles a homossexualidade, comportamento submisso, dependência excessiva ao sexo feminino, etc., que podem ganhar força, já que o menino sem pai, almejará ser como a mãe.

No percurso desse desenvolvimento, a criança passa por diversos momentos que podem ser metaforicamente descritos como castrações. Neles, todos, precisam acontecer num processo cíclico de troca de um objeto ou meio de satisfação por outros, mais amplos, humanizados e amadurecidos.

Um tema um tanto difícil, onde sua compreensão e desdobramentos merece muitas extensões que não são possíveis num único artigo. Farei novas abordagens no futuro. Ao poema: mais uma vez com Drummond; Só a genialidade de um poeta como ele pode incluir tantos significados num poema. Numa única frase: “no meio do caminho tinha uma pedra”, agrega questões como simbolismo, filosofia e existencialismo.

“No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra.”

Seriam essas nossas pedras?


Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

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