O Ódio.
- Dan Mena Psicanálise
- 5 de set. de 2023
- 15 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
''Não suportar ser odiado, nos converte no alvo perfeito daqueles que utilizam o ódio como ferramenta de manipulação'' Dan Mena. - Por Dan Mena.

O ódio é conhecido como a antipatia ou aversão por algo, ou alguém cujo mal é desejado. A palavra é de origem latina ''odium''. Sinônimo de hostilidade, rancor, ressentimento, que gera um sentimento de profunda inimizade e rejeição, leva à maldade para com uma pessoa ou ao desejo de confronto.
Freud abordou o tema em várias de suas obras, sua definição está relacionada aos conceitos sobre a psicodinâmica humana. Considerado um aspecto da agressão e sua relação com o instinto de morte (Thanatos). Nessa visão, se traduz como uma emoção intensa que surge como parte da nossa experiência, inerente à natureza própria do ser, e pode ser direcionada para objetos externos, como outras pessoas, inclusive, se voltar para o próprio indivíduo. É uma emoção poderosa que tem sido objeto de interesse na psicanálise desde os primórdios da nossa disciplina. Sob um panorama único, vamos além de um entendimento simples, exploramos suas raízes. Boa leitura.
O ódio inconsciente sofrido pelo sujeito perverso. Tanto para o homem como para a mulher, a perversão que implica uma ruptura profunda entre a “sexualidade genital madura”, enquanto força vital, renovadora e amorosa, e a lubricidade precária que ela denota, que corresponde, na realidade, a etapas primitivas do desenvolvimento: a “pré-genitalidade” (antes do Complexo de Édipo) […].
O seu contexto nas relações de família.
A capacidade de tolerarmos o sentimento de ódio direcionado a si é um elemento capital nas mecânicas saudáveis entre pessoas. Esse princípio, se torna particularmente relevante no espectro das relações de família, por exemplo; os pais atuam perante seus filhos como figuras limitadoras, impõem a eles contenções, controles e moderações aos seus desejos durante o desenvolvimento. Nesse cenário, é natural que as crianças, em sua busca por autonomia, liberdade e satisfação dos seus quereres, possam experimentar sentimentos de ódio e fúria em relação aos pais. A nossa capacidade como genitores de sustentar e segurar ditas contendas hostis, sem ampliar ou alargar os desgostos e mágoas que surgem destas contendas, é uma árdua tarefa. Lidar com essa sanha dirigida a nós, exige uma capacidade elevada, que será elementar para possibilitar que seja diligenciada a criação de um ambiente familiar salutar, onde tanto crianças quanto adolescentes se sintam livres para emitir seus afetos, sentimentos, embates e conflitos apropriadamente. No entanto, é importante ressaltar, que essa habilidade não pode ser limitada apenas aqueles que são pais, mas deve ser concebida por todos nós, qualquer indivíduo que almeje e ambicione firmar relações sociais, de amizade, emocionais e pessoais, benéficas, positivas e favoráveis para a vida em sociedade. Não contemporizar, não saber jogar com a crítica, desaprovação, rejeição, opinião, discordância, critério, nos torna alvos cativos e fáceis daqueles que aprenderam a usá-lo. O ódio, é uma ferramenta poderosa nas mãos de pessoas cruéis, que nos torna vulneráveis a manipulações por aqueles que não hesitam em sua utilização como instrumento de submissão, controle e retenção de liberdades. A habilidade de suportarmos sermos odiados, sem desenvolver ressentimentos ou buscar vingança, é uma qualidade indispensável para dar sustentação aos relacionamentos interpessoais em diversas esferas da convivência contemporânea. Aqueles que dominam essa competência equilibradamente, estão mais aptos a promover dinâmicas de relacionamentos construtivos, lidando eficazmente com conflitos e desafios.
''O amor e o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que carregam''. Nietzsche.
Às consequências de não ter aprendido a lidar com ele pelo Complexo de Édipo.
O Complexo de Édipo, descreve um estágio do desenvolvimento infantil onde a criança experimenta sentimentos ambivalentes em relação aos pais. A criança desenvolve desejos amorosos pelo progenitor do sexo oposto (Complexo de Édipo positivo), e sentimentos de rivalidade e hostilidade em relação ao progenitor do mesmo sexo (Complexo de Édipo negativo). Através desse processo, a criança aprende a lidar com seus sentimentos de ódio de maneira saudável, transformando-os em formas mais aceitáveis de expressão emocional, como competição saudável e desenrolar de ambições. A resolução bem-sucedida do Complexo é crucial para o desenvolvimento da identidade e a capacidade de estabelecer relacionamentos adequados na vida adulta. Destarte, se uma criança não consegue lidar com às afeições de ódio durante o Complexo de Édipo, podem levar a problemas psicológicos posteriores. Por exemplo, a incapacidade de resolver adequadamente esse conflito pode resultar em sentimentos de culpa, ansiedade e insegurança em relacionamentos íntimos futuros. Além disso, a pessoa pode desenvolver mecanismos de defesa inadequados para lidar com o ódio não resolvido, como a projeção, onde ela(e) atribui seus próprios sentimentos de desafeto a outras pessoas. Isso pode levar a conflitos frequentes e dificuldades em estabelecer relacionamentos duradouros. Por esta razão, a psicanálise enfatiza a importância de aprender a lidar com tal animosidade de maneira construtiva durante o desenvolvimento infantil, pois isso desempenha um papel importante na formação da personalidade. A falta desse aprendizado, pode resultar em consequências psicológicas significativas e dificuldades emocionais ao longo da vida.
“A procura é satisfeita, mas, o desejo permanece sempre suspenso na sua insaciabilidade (a não realização do impossível), estando intimamente relacionado com o fato dos sujeitos, podem, por vezes, ao odiar seu parceiro, usar a ilusão de estar fazendo amor, senão equivocadamente associado à esperança de que a gratificação fisiológica seja totalmente plena. A procura sexual, nestas circunstâncias, não conduz a um sentimento de contentamento, mas sim de tristeza e frustração, sobretudo, à sua repetição imediata e incessante”.
A psicodinâmica do ódio.
O ódio é uma emoção universal, muitas vezes ligada à agressão e ao instinto de morte. Sob a lente da psicanálise, é examinado em relação a outros pilares, como a repressão, projeção e complexo de Édipo.
Instinto de Morte:
Dois bacorejos governam o nosso comportamento. Eros (o instinto de vida) e Thanatos (o de morte). O ódio é associado a impulsos de Thanatos, representando a parte destrutiva da nossa natureza primitiva. É a expressão da agressão e da hostilidade em relação a objetos internos e externos.
Repressão e o inconsciente:
A importância da repressão na regulação das emoções intensas, incluindo o ódio como instrumento para lidar com a ansiedade gerada por ele, quando reprimimos esses sentimentos no inconsciente somos levados a duelos psicológicos e sintomas neuróticos.
Projeção e o ''Outro''.
Associado a projeção, podemos atribuir nossos envolvimentos odiosos a outras pessoas ou objetos, muitas vezes como uma forma de evitar lidar com essas estimas interiorizadas. A projeção pode criar pugnas interpessoais e mal-entendidos.
Complexo de Édipo e relações parentais:
Por sua vez, está ligado ao Complexo de Édipo, uma fase crucial do desenvolvimento psicossexual infantil. Durante esse estágio, as crianças experimentam sentimentos ambivalentes em relação aos pais, incluindo o ódio. Esses afetos desempenham um rol básico na formação da personalidade adulta.
Três dos principais tipos de ódio.
Narcísico:
Ocorre quando um indivíduo direciona seu ódio para partes de si, percebidas como inaceitáveis ou indesejadas. Isso pode ser resultado de um conflito interno entre o ''ego e o superego'', onde o ''ego'' sente que não atende aos padrões impostos pelo ''superego''. Esse tipo de emotividade pode levar a baixa autoestima e repulsa.
Projetado:
O projetado envolve rumar sentimentos de irritação e raiva para terceiras pessoas ou objetos, muitas vezes como uma forma de lidar com sentimentos intoleráveis em si. A projeção é um mecanismo de defesa comum, onde o indivíduo projeta seus traços indesejados, criando um alvo para seu ódio. Isso leva a conflitos interpessoais e relações prejudicadas.
Destrutivo:
Sua forma extrema, desencadeada por experiências traumáticas ou feridas profundas. Pode levar a comportamentos destrutivos em relação a outros. A psicanálise explora suas origens, ligadas geralmente a experiências de abuso ou negligência na infância.
O ódio segundo Lacan.
Para compreender o ódio na teoria lacaniana, é primordial considerar o papel central do desejo. Como motor fundamental da psicodinâmica humana, é inerente à nossa condição, mas sua relação com o ódio é complexa. O desejo é o ''Outro'', essa importância da relação entre o sujeito e o “Outro”, não se refere apenas a outra pessoa, mas a um espaço simbólico que engloba a linguagem, as normas sociais e expectativas culturais. O desejo surge dessa relação como uma resposta ao ''não satisfeito''. Isso ocorre porque o mesmo é mediado pela linguagem e pelas estruturas simbólicas, que não podem abarcar plenamente seu hermetismo e obscuridade. Quando um sujeito encontra obstáculos para a realização do seu querer, devido a barreiras estabelecidas, pode experimentar o ódio, direcionado-o para o ''Outro'', percebido como um impedimento à sua satisfação. Constituídos por meio da linguagem e da interação com esse significante, aparece, de fato, quando o sujeito se depara com limitações e frustrações nesse processo de constituição. Como o ódio é experimentado e expresso, pode variar amplamente entre os indivíduos. Alguns o podem internalizar, redirecionado-o para si, conduzindo a sentimentos de autodescarto e depressão, enquanto outros, podem externalizá-lo, focado para certos objetivos que podem resultar em agressão e contendas.
A dualidade das emoções.
Emoções não são simples e lineares, senão multifacetadas, compostas por diversas camadas e influenciadas por inúmeros fatores contextuais. Amor e ódio não são exceções a essa complexidade. Para entender sua relação devemos analisar a psiquismo por trás dessas emoções. O amor é frequentemente associado a sentimentos de carinho, afeição, compaixão e desejo de proximidade emocional com outro ser, por outro ângulo, também relacionado a aversão, raiva, hostilidade, distanciamento e destruição. Fatores como experiências passadas, traumas, vínculos interpessoais, identidade pessoal e cultural, entre outros, reconhecem que ambos afetos se desenvolvem em planos diversos e nem sempre são opostos irreconciliáveis. Sua coexistência, destaca que podem existir na mente, onde dita dualidade não é necessariamente paradoxal. Por exemplo; como foi citado acima, em relacionamentos complicados, como o amor entre pais e filhos, pode haver momentos de intensa afeição e, ao mesmo tempo, de frustração e raiva. Essa ambivalência é uma clara demonstração das suas complexidades. Não é simplesmente uma emoção negativa a ser suprimida, senão que desempenha um papel na autorreflexão no processo de formação da identidade, necessário a reação de injustiças percebidas, resistência a opressões ou uma força motriz para a mudança interior. Pode ser uma maneira de definir a própria identidade, cercada em contraposição a grupos ou valores vistos como ameaçadores, em movimentos sociais, pode ser direcionado a sistemas de poder injustos, impulsionando a luta por direitos e igualdade. Como uma forma de autodefesa psicológica, em situações que um indivíduo se sente ameaçado ou vulnerável, pode insurgir como uma barreira emocional destinada a lhe proteger de ferimentos emocionais adicionais. Em vez de simplificar eles em uma dicotomia, nos incentiva a mergulhar na sua reflexão, reconhecendo que ambos desempenham funções relevantes em nossa experiência emocional e na formação da identidade.
''O amor é o ódio no casal se fundem entre a relação sexual e o orgasmo, experimentam a mesma integração que ocorre nessa bipolaridade. A capacidade de viver plenamente essa suposta preocupação com o ser amado, esse ''Outro'', que está na base de toda a relação afetiva autêntica. Tal verificação deve pressupor a associação, união, reunião e anexação do amor e do ódio como elementos da sua composição, ou seja, incluir a tolerância dessa imprecisão ambivalente no seu contexto romantizado. Esta complacência, necessária a essa compreensão, é também ativada na relação sexual, que envolve a mistura do prazer e de atos libidinosos e agressivos que têm lugar na intimidade das relações pessoais''. Dan Mena.
O ódio e o corpo.
O conceito de energia psíquica, que chamamos de “libido”, não está ligada apenas a impulsos sexuais, mas também a alavancas agressivas e destrutivas, é visto como uma manifestação dessa força belicosa. Quando reprimido ou mal direcionado, pode se manifestar no corpo de maneiras intrigantes. A relação entre ele e o fisiológico se torna aparente quando observamos como essa emoção pode se manifestar fisicamente. Estudos clínicos relatam que o ódio crônico ou intenso pode levar a uma série de problemas de saúde.
Quais suas implicações psicofísicas?
Estresse crônico: O ódio é uma emoção altamente estressante, quando uma pessoa está constantemente consumida por ele, seu corpo está em um estado de estresse, que levam a problemas de saúde a longo prazo, como doenças cardíacas, hipertensão e distúrbios gastrointestinais.
Problemas cardiovasculares: A resposta do corpo muitas vezes envolve um aumento na pressão arterial e na frequência cardíaca. Com o tempo, isso pode contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como hipertensão, doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais.
Sistema imunológico comprometido: O estresse causado pode enfraquecer o sistema imunológico, tornando o corpo mais suscetível a infecções e doenças.
Problemas musculares: A tensão muscular é uma resposta comum, pode levar a dores de cabeça, dores nas costas e problemas musculares.
Problemas gastrointestinais: Quando intenso, afeta o sistema gastrointestinal, causando úlceras, síndrome do intestino irritável e outros distúrbios digestivos.
Distúrbios do sono: Dificulta o sono, resultando em insônia, que por si só, está associada a uma série de reveses de saúde.
Problemas de saúde mental: Não afeta apenas o corpo, mas também a saúde mental, contribui para o surgimento de transtornos de humor, depressão e ansiedade, inclusive, agrava condições pré-existentes e comorbidades.
Comportamento destrutivo: Leva a condutas autodestrutivas, como abuso de substâncias, alcoolismo, automutilação e pensamentos suicidas.
Impacto nas relações: Não é apenas prejudicial para o indivíduo que o experimenta, mas também pode causar danos significativos nos relacionamentos, laços familiares, amizades e amorosos, podem ser afetados negativamente pelo fel não controlado.
Ciclo vicioso: Cria um circuito no qual a pessoa se sente mais odiada, e, à medida que expressa mais execração a um aumento do isolamento social, expressos numa sensação contínua de ressentimento.
A meta do sujeito odioso.
O principal alvo do sujeito dominado pelo ódio é destruir seu objeto, um elemento específico da sua fantasia imaginária e inconsciente, como também de seus adjacentes conscientes; no fundo, o objeto é desejado e necessário ao odioso, e sua destruição igualmente ansiada e necessária para sua elaboração. Esse paradoxo disruptivo, está no centro da nossa investigação psicanalítica sobre esse afeto, onde sabemos que nem sempre é psicopatológico. Como analistas, consideramos que pode ser uma resposta a um perigo real, uma ameaça direta à sobrevivência do indivíduo ou à de seus familiares. É uma estruturação normal da raiva, que visa eliminar essa possível ameaça. No entanto, pode ser influenciada por motivações involuntárias, como a busca por vingança, ao se tornar uma predisposição crônica de caráter. Isso é sempre refletido na psicopatologia da agressão. Sua forma extrema, exige a eliminação física do objeto, podendo se manifestar em; perturbar, perseguir, ferir, chegar ao crime, como o assassinato ou a desvalorização do objeto, promovendo sua destruição psicológica, manipulação emocional, que pode ser generalizada como um extermínio simbólico de todos os seus parâmetros sociais. Engloba todas as relações agressivas potenciais com os ''outros'' significantes, que compõem seu universo negativo de personalidade. Essa forma de zanga, é observada nas estruturas antissociais comportamentais, se manifestam no suicídio, onde o sujeito se identifica como o objeto odiado, articulando seu autoeliminamento como única maneira de eliminar a ''coisa'' ou ''outro''. Indivíduos com ''síndrome do narcisismo maligno'', um caráter narcisista, agressivo, egocêntrico, com tendências paranoides e antissociais, transferências “psicopáticas”, como o traço transferencial dominante. Tentam sistematicamente explorar, aniquilar, castrar e desumanizar outros significantes, (inclusive o analista, rsrs), num grau que desafia os esforços deste(a) para proteger algum lugar da relação objetal primitiva, que seja de fato boa. Ao mesmo tempo, pode parecer que a transferência, (na análise), está livre da agressão, dominada por um engano crônico, pela busca de um estado do self primitivo, totalmente bom, que elimina todos os objetos, por exemplo; usando o álcool, pornografia ou drogas, e por meio de tais esforços inconscientes e conscientes, tentar envolver o analista no seu plano destrutivo.
A filosofia nos oferece várias perspectivas.
Platão: Em sua obra “A República,” discute as emoções, ele o considera como uma emoção negativa que deve ser controlada pela razão. Para Platão, a educação e o autocontrole são essenciais para superar esse sentimento rudimentar e alcançar a harmonia na sociedade.
Aristóteles: Argumenta que surge quando alguém percebe uma injustiça ou uma afronta pessoal. Destarte anota, a importância da virtude, sugerindo que a riqueza moral pode ajudar a equilibrar as emoções, incluindo o ódio.
Espinoza: O considera como uma emoção negativa que surge da falta de compreensão e conhecimento, ambos são essenciais para superar esse sentimento negativo e alcançar a paz interior.
Kant: O relaciona com à moralidade, algo incompatível com o imperativo categórico, um princípio de sua ética, onde defende o respeito pelos outros como um dever moral, implicando não odiar o próximo.
Nietzsche: Tem uma visão mais ambígua, reconhece que pode ser uma força motivadora e transformadora, no entanto, alerta para os perigos do ódio descontrolado, que conduzem à destruição e à crueldade.
Levinas: Combina sua relação com à ética e à responsabilidade. Quando não reconhecemos a humanidade do indivíduo o reduzimos a um objeto, assim, a importância do reconhecimento e do respeito por ele sobrevêm como uma resposta.
Arendt: Discute o ódio político em seu trabalho, traz uma visão de como tal pode ser explorado por regimes totalitários e ideologias para justificar a violência, manipulação das massas e a opressão, ainda, destaca a importância da vigilância contra a ira política.
Gerir o ódio é um desafio complexo.
Pode ser um processo demorado, onde será importante ser gentil consigo mesmo e buscar apoio quando necessário, seja de amigos, parceiro(a), familiares ou terapeutas. O objetivo não é abortar sua existência, mas aprender a lidar com ele de maneira construtiva para promover o bem-estar.
Autoconsciência: O primeiro passo é reconhecer e aceitar que você está sentindo ódio. A autoconsciência é fundamental para entender a origem desse sentimento e como ele está lhe afetando.
Explore a Origem: Tente entender por que está sentindo malevolência. Isso pode envolver reflexão sobre suas experiências passadas, traumas, frustrações ou antagonismos que contribuíram para o seu aparecimento.
Comunique-se. Se ele está relacionado a outra pessoa, considere uma comunicação aberta e honesta. Expressar seus sentimentos de uma maneira instrutiva pode ajudar a resolver alguns mal-entendidos.
Autocontrole: Trabalhe na regulação emocional. Pratique técnicas; análise, relaxamento, meditação ou respiração profunda, para acalmar a mente quando sentir raiva.
Empatia: Tente se colocar no lugar da pessoa, isso pode ajudar a entender melhor suas motivações e criar intropatia, o que pode diminuir sua presença.
Terapia: Considere fazer terapia, ela pode ajudar a desenvolver estratégias para enfrentá-lo de maneira saudável.
Atividade física: Se exercitar regularmente libera tensões e reduz a agressão acumulada.
Arte e criatividade: Expressar suas emoções por meio da arte, música ou escrita, pode ser uma maneira positiva de lidar com seus reflexos.
Limitação da exposição: Evite situações ou pessoas que ativem seu fastio, quando possível. Isso pode incluir reduzir a exposição a conteúdo ou mídias que provocam emoções escusas.
Aprendizado e crescimento: Use o potencial da repulsão como uma oportunidade de crescimento pessoal. Pergunte a si o que essa emoção está tentando lhe ensinar e como você pode evoluir à partir dela.
Citações na psicanálise que auxiliam na compreensão do tema;
“O ódio é uma defesa contra o sofrimento, uma tentativa de se proteger contra a dor que o amor pode trazer.” Freud.
“O ódio é uma maneira de lidar com a frustração e a impotência. É a expressão de nossos conflitos internos projetados no mundo exterior.” Melanie Klein.
“O ódio pode ser uma reação a uma ferida narcísica, quando nos sentimos ameaçados em nossa autoestima ou identidade.” Kohut.
“O ódio não é inato, mas é aprendido e internalizado ao longo do tempo. Ele reflete nossas experiências e relações passadas.” Anna Freud.
“O ódio pode ser uma forma de autoproteção, uma maneira de nos distanciar emocionalmente quando nos sentimos vulneráveis ou feridos.” Otto Kernberg.
“Na psicanálise, o ódio não é visto como algo destrutivo, senão, uma expressão das complexidades psíquicas, que requerem reparo cuidadoso para serem exploradas.” Dan Mena.
Reflexão final.
Finalizando com uma interpelação; seria o ódio uma leitura de uma falha emocional? Daquilo que não está onde gostaríamos, é do processo das posturas pessoais que adotamos para adentrar na plataforma dos modos de contato para amar, desejar e gozar?
Vimos que não é possível separar amor e ódio. Ele nos coloca a violência em termos da pulsão de morte, expressando que nele (o ódio) há aquilo que nós e estranho, não menos intensos dos motivos com os quais se promove. Quando tratado sem os intervalos do amor, a sua coerência aponta mais para aquilo que é distante, diferente, incomum, exótico, o vizinho, o amigo(a), quem pensa, sente, veste, fala, narra, goza, é, de qualquer forma diferente, do que eu falsamente ''não sou'', então, o(a) detesto. Estamos então numa outra ordem lógica, onde o sujeito do nosso tempo é um indivíduo desterrado de si, encapsulado, que deseja, más, quer distância do que rejeita de si propriamente, do humano. Por isso, quando odiamos, estamos apontando para nos mesmos, essa reprovação do ''Outro''. Mas que ''Outro'' é esse?, o que faz dele(a) ser meu objeto odioso? O ''Outro'', supostamente detestado, possui então alguma coisa… que agora lateralmente, sob outro aspecto, ''e aquela que eu não tenho''. A questão é, que sem uma análise, sem o desejo do analista em sua função, é muito difícil para um sujeito se confrontar com aquilo radicalmente estúrdio da sua fragmentação emocional, aquilo, que lhe é íntimo, singular e familiar. O lugar da minha estranheza, a que me ensina sobre meu exílio contemporâneo, está dentro de cada um, para ser dito ou não, silenciado, gritado ou deliberado. Qual a sua escolha?
Ao poema;
O ódio. Por Wislawa Szymborska.
Vejam como ainda é eficiente,
como se mantém em forma
o ódio no nosso século.
Com que leveza transpõe altos obstáculos.
Como lhe é fácil – saltar, ultrapassar.
Não é como os outros sentimentos
a um tempo mais velhos e mais novos que ele.
Ele próprio gera as causas
que lhe dão vida.
Se adormece, nunca é um sono eterno.
A insônia não lhe tira as forças; aumenta.
Religião, não religião –
contanto que se ajoelhe para a largada
Pátria, não pátria –
contanto que se ponha a correr.
A Justiça também não se sai mal no começo.
Depois ele já corre sozinho.
O ódio. O ódio.
Seu rosto num esgar
de êxtase amoroso.
Ah, estes outros sentimentos –
fracotes e molengas.
Desde quando a fraternidade pode contar com a multidão?
Alguma vez a compaixão
chegou primeiro à meta?
Quantos a dúvida arrasta consigo?
Só ele, que sabe o que faz, arrasta.
Capaz, esperto, muito trabalhador.
Será preciso dizer quantas canções compôs?
Quantas páginas da história numerou?
Quantos tapetes humanos estendeu
em quantas praças, estádios?
Não nos enganemos:
ele sabe criar a beleza.
São esplêndidos seus clarões na noite escura.
Fantásticos os novelos das explosões na aurora rosada.
Difícil negar o páthos das ruínas
e o humor tosco
da coluna que sobressai vigorosamente sobre elas.
É um mestre do contraste
entre o estrondo e o silêncio,
entre o sangue vermelho e a neve branca.
E acima de tudo nunca o enfada
o tema do torturador impecável
sobre a vítima conspurcada.
Pronto para novas tarefas a cada instante.
Se tem que esperar, espera.
Dizem que é cego. Cego?
Tem a vista aguda de um atirador
e afoito olha o futuro
– só ele.
Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
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