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A Fixação.

Atualizado: 22 de set. de 2024



“A fixação é uma forma de resistência ao crescimento. Ela nos impede de nos tornarmos quem realmente somos.” Lacan - por Dan Mena.

A infância é um período de descobertas e aprendizados. Durante essa fase, grande parte da personalidade de cada indivíduo é moldada, assim como nossa percepção de mundo e a maneira como compreendemos experiências, emoções, afetos, gostos e desejos, que começam a se solidificar nessa etapa inicial da vida. Mas você sabe o que é uma fixação?


É um conceito que pertence à teoria freudiana da psicanálise, onde a libido de uma pessoa pode se direcionar a um objeto de desejo com grande intensidade. Esse elemento pode ser outra pessoa, mas também imagens ou até mesmo coisas. Seguindo essa ideia, se origina prematuramente e influenciará a vida da pessoa na fase adulta, criando certa dependência em relação ao seu desejo objetal, podendo ficar preso(a) a uma fase do desenvolvimento psicossexual infantil. Para compreender o que acabo de explicar, é necessário entender o significado de libido na teoria psicanalítica. Ela se refere ao desejo sexual, e essa é a concepção mais popular de uso comum, incluindo toda a energia que motiva seus comportamentos introjetados. A essa forma de potência psíquica que direciona a ação para um objetivo, chamamos de pulsão. A libido seria um afeto ligado a ela e direcionada pelo indivíduo. O importante, é que na infância, diferentes períodos pulsionais se desenvolvem, guiando a libido conforme a fase em que o sistema nervoso se encontra. Na nossa mente existem estados primitivos que, em certas circunstâncias, podem ser restabelecidos e detonam um gatilho quando surgem determinadas dificuldades. Assim, a força libidinal e retirada dos objetos exteriores e reenviada para si próprio. Encontramos seis fases do desenvolvimento psicossexual, que serão os motivos desencadeantes se a pessoa continuar ancorada em dito ciclo. Boa leitura.


Elas se sucedem à medida que a criança cresce, existem pulsões muito instintivas, como a pulsão de vida, sendo simplesmente o instinto de sobrevivência. No entanto outras estão relacionadas à sexualidade, que Freud as divide assim;


Fase Oral: ocorre no primeiro ano de vida.

Fase Anal: verifica-se entre dezoito meses e três anos.

Fase Fálica: intercorre entre três e seis anos.

Complexo de Castração: a quarta fase, a partir dos seis anos, é quando a criança vê seus desejos edípicos frustrados.

Período de Latência: também a partir dos seis anos, mas até a puberdade, considerada uma espécie de pausa no desenvolvimento da sexualidade.

Fase Genital: é a última, começa na puberdade, momento em que os interesses sexuais do indivíduo se desenvolvem.


Essas seis fases ocorrem sucessivamente desde o nascimento até a juventude, mas a psicanálise acredita haver pessoas que não as completam as mesmas, ficando 'fixadas' em alguma delas. Como isso pode ser identificado?


Oral:

Onde a boca é a zona erógena central, uma fixação pode surgir se as necessidades de alimentação e conforto não forem adequadamente atendidas. Isso pode levar a comportamentos como o hábito de chupar o dedo na vida adulta, procurando conforto emocional através da oralidade.


Anal:

O controle dos esfíncteres é central, uma fixação pode se manifestar se a criança enfrentar conflitos em relação à autoridade e ao controle. Resulta em comportamentos obsessivos e uma necessidade pujante de controle em áreas da vida adulta como o caso do perfeccionismo.


Fálica:

Quando ocorre o complexo de Édipo, uma fixação pode surgir se os sentimentos de desejo e rivalidade não forem adequadamente resolvidos. Isso pode levar a comportamentos de sedução ou uma busca incessante por aprovação e reconhecimento dos outros.


Complexo de Castração:

Envolve confrontar a ansiedade de perder o amor dos pais. Esse complexo pode resultar em inseguranças profundas em relação ao sexo oposto, medo de intimidade e dificuldades em estabelecer relacionamentos saudáveis consigo mesmo e o corpo.


Latência:

Pode ocorrer se as questões de autoestima e competência não forem ajustadas. Isso pode se manifestar em baixa autoestima, falta de confiança em utilizar habilidades e dificuldades em assumir responsabilidades na vida adulta.


Genital:

Uma fixação pode ocorrer se questões de identidade sexual e orientação não forem resolvidas. Isso pode levar a conflitos internos em relação à própria identidade e dificuldades em aceitar a diversidade sexual.


Exemplo de um caso típico.


Podemos observar esse estado em indivíduos psicóticos. Geralmente eles(as) apresentam uma disposição psíquica de ruptura com a realidade, obrigados a suprimir e retirar completamente suas necessidades libidinais dos seus objetos amados, onde transferem esta  posição de agente para o seu próprio ego. Isto produz nos psicóticos sintomas megalômanos e um retrogresso a um estado de narcisismo pelo qual a criança teve um desenrolar psíquico normal. Se o indivíduo não consegue resolver os desafios em um momento específico, a energia libidinal pode permanecer “retida”, afetando o amadurecimento posterior.


Interpretando a interconexão nas fases psicossexuais. Como se exibem?


Se você é alguém que denota exímio contentamento, alegria exagerada, idealismo e otimismo, proclama uma certa facilidade na forma de enxergar a vida, como uma equação muito simples. Possui um traço de tendências egocêntricas concentradas em si, digamos uma dependência de certa forma. Se demonstra um interesse particular e objetivo pela linguagem, se envolve em todo tipo de diálogos, debates, ideologias, conversas, controversas, repete ideias, um desejo insaciável por conhecimento, então, pode estar fixado(a), devido a uma superproteção na fase oral incorporativa-passiva.


Caso manifeste traços de gula na alimentação, desejos excessivos e incontroláveis por mastigação, se identifica como um(a) comprador(a) compulsivo(a), invejoso(a), pessimista e dependente de companhia, bem como; costuma roer unhas, chupar dedos, inveterado(a) fumante, mastiga chicletes continuamente, tem preferência por sexo oral, então pode estar fixado(a) a uma frustração na fase oral incorporativa-dependente.


Se sua personalidade é exageradamente ativa, nunca para, é possível que você tenha uma fixação na fase oral-agressiva devido a uma superproteção familiar.


Se está caracterizado(a) por usar de um cinismo acentuado, uma interpelação do outro de tom brusco, irônico(a), sarcástico(a), humorístico, invasivo(a), critico(a), usa de indiferenças e possui uma tendência a obter prazer em machucar o outro emocionalmente, magoar, julgar sem fundamentos, pode indicar uma fixação devido à frustração na fase oral-agressiva.


Você expõe um comportamento exagerado por ordem, limpeza, detalhamento, organização, pode refletir uma formação de reação contra o desejo de confrontar conflitos. Isso se manifesta em um foco excessivo na pontualidade, rotina ou em manter tudo em seu suposto devido lugar. Também, pode se manifestar via comportamentos obsessivo-compulsivos e ações voltadas para agradar os outros, como dar presentes ou ser caridoso sobremaneira. Esses contornos podem estar relacionados a uma fixação na fase anal-expulsiva.


Especialmente vaidosa(o), econômico(a), possui um desejo de reconhecimento público, teimoso(a) na exibição da sua imagem, procura a fama incondicionalmente, potencializa sua masculinidade ou feminilidade, possivelmente esteja fixado(a) na fase anal-retentiva.


Na fase fálica, pode se manifestar através da curiosidade extrapolada, exibicionismo, exploração dos outros, demonstrações superes de masculinidade ou feminilidade, ambição desmedida, egoísmo, narcisismo e tendência a homossexualidade.


Nunca se sente à vontade em relações heterossexuais, evita contato com pessoas do sexo oposto, pratica atos sexuais que não deseja compartilhar com seu parceiro ou se envolve em comportamentos violentos, isso indica uma fixação na fase de latência.


“A fixação é um estado no qual um indivíduo fica preso a um estágio anterior do desenvolvimento psicossexual. Isso pode acontecer quando o indivíduo não pode lidar com os conflitos e ansiedades associados a uma determinada fase.” (Freud, 1905).


“Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”.


Neste livro, Freud propõe uma visão revolucionária sobre o desenvolvimento psicossexual, desafiando tabus sociais e tradicionais concepções sobre a sexualidade.


As aberrações sexuais.


São comportamentos que desviam do padrão considerado normativo regular. Esses desvarios não devem ser vistos apenas como perversões, mas sim como manifestações diferentes da sexualidade que não é restrita apenas à genitalidade, mas se manifestam de maneiras diversas.


A transformação da puberdade.


A transformação da sexualidade na adolescência e a emergência dos desejos sexuais direcionados para outros indivíduos, será o ápice motor onde a criança experimentará sentimentos conflitantes em relação aos pais e como essas conflagrações podem moldar a sexualidade adulta.


Em qualquer um dos estágios podem resultar em traços de personalidade, comportamentos e confrontos emocionais específicos. A resolução bem-sucedida dos embates em cada ponto, resulta em conflagrações saudáveis da personalidade. No entanto, fixações não resolvidas podem levar a comportamentos repetitivos e dificuldades emocionais.


Diversas abordagens.


São os colaboradores de Freud que estabelecem distinções mais sutis do tema, dependendo do momento (início, consolidação ou fim de uma fase) em que ocorrem as fixações ou do que é traumático, como é construído (percebido) o exteriorizado.


Distinção baseada no momento: Seus auxiliares sugeriram que as fixações podem ser prováveis de ocorrer em certos pontos, como o início de uma fase, quando o indivíduo está mais vulnerável a influências externas.


Diferença baseada no traumático: Pode ser algo que ocorre no interior do sujeito, como uma experiência de perda ou separação.


Jung foi um aluno de Freud, ele desenvolveu sua própria teoria psicanalítica (o que o levou a sua eliminação da escola freudiana), que também incorporava o conceito de fixação. No entanto, ele enfatizou a ideia de que tal não estava apenas relacionada ao fenômeno psicossexual, mas também, ao desdobramento geral da personalidade. Ele introduziu o conceito de “complexo”, que se forma quando experiências não resolvidas ou traumáticas resultam em um foco excessivo de energia em determinados aspectos do ego. Esses predicados podem causar comportamentos e emoções desequilibradas ao longo da vida. 


Cooperações de Melanie Klein.


No período de vida precoce, no qual a fixação pode ocorrer devido a traumas ou interações parentais disfuncionais, puxa a ''teoria dos objetos internos'', que sugere que as primeiras perícias emocionais formam “objetos” mentais que irão influenciar a maneira como vamos perceber o mundo ao nosso redor. A criança internaliza essas imagens das figuras parentais, chamadas de “objetos internos”, que representam os aspectos bons e maus das relações emotivas. Esses soflagrantes internos desempenham um papel significativo na formação do “self”, e na maneira como a criança interage com outros e com seu interior reprimido. São duas posições principais que elas sustentam: a esquizo-paranoide e a depressiva. Na conformação esquizo-paranoide, percebe o mundo de maneira fragmentada e polarizada, projetando aspectos bons em um objeto e maus em outro. Na depressiva, integra esses objetos, reconhecendo a ambivalência e complexidade das emoções, onde ditas demarcações podem levar a padrões repetitivos de relacionamento e comportamento na maturidade.


Teoria do desenvolvimento de Winnicott.


Winnicott acreditava que o desenvolvimento emocional salutar depende da capacidade do bebê em estabelecer uma relação significativa com sua mãe ou cuidador. Conceitos de “holding” (sustentação) e “objet transitionnel” (objeto transicional) são fundamentais para os primeiros anos de vida.


1 - O termo “holding”, não se refere apenas à ação física de segurar a criança nos braços, mas também ao cuidado emocional e disponibilidade do cuidador de atender às necessidades básicas dele. É a capacidade de proporcionar um espaço de confiança, acolhimento e apoio, onde ele(a) se sinta seguro para averiguar o mundo e se manifestar emocionalmente. Particularmente importante nos estágios originais, quando o infante ainda não consegue regular suas emoções e precisa da presença constante e sensível dos pais para se sentirem amparados. Através da sustentação, um senso de confiança básica se estrutura no mundo das relações interpessoais, formando a base para a construção de um "self" saudável. Não é apenas uma tarefa física, mas também, uma responsabilidade emocional quando essa função é desempenhada de maneira adequada ele(a) se sente aceito, amado e valorizado participando ativamente na formação da identidade sólida e saudável de gerir laços na vida adulta.


2 - O “objet transitionnel” (objeto transicional), se relaciona a um objeto físico, frequentemente um objeto de apego, como um cobertor, um urso de pelúcia, chupeta, fralda, brinquedo, ou outro reconfortante, que ele(a) escolhe para se acalmar, logo, desempenha um papel sintomático na transição entre o mundo interno e externo. Surge em um estágio onde a criança começa a perceber a separação entre ela mesma e sua mãe ou cuidador. Serve como um ponto de conexão entre ela e o mundo ao seu redor, preenchendo a lacuna entre o interno, fantasias, emoções, necessidades e o externo, objetos reais e pessoas. O objeto em questão tem características de ambos, representando uma parte da criança e sua ligação com o ambiente. Permite que lide com a ansiedade da separação, oferecendo conforto e segurança. Ao abraçar ou interagir com o objeto, pode recriar sentimentos de proximidade e ligação normalmente experimentados com a figura de afeto. Gradualmente, à medida que amadurece emocionalmente o objeto transicional tende a perder sua importância, mas deixa uma marca duradoura na expansão da sua capacidade de lidar com seus sentimentos e extensão das transições. Ditas realidades não são abruptas, mas sim facilitadas por esses instrumentos que atuam como uma ponte emocional. A continuidade, Winnicott descreve o “falso self” como uma adaptação defensiva que algumas crianças desenvolvem para se ajustar às demandas de seus protetores, muitas vezes suprimindo aspectos genuínos da sua personalidade. Essa supressão pode levar a ditos enquadramentos, onde certos ângulos do self não são plenamente florescentes. O indivíduo pode então continuar a se comportar de maneira adaptada e agradável para evitar desencadear reações negativas dos outros. Ditos balizamentos ocorrem quando o ambiente não fornece um ambiente suficientemente bom, (“good enough environment”) para o desenvolvimento saudável do self, uma atmosfera facilitadora permite que a criança percepcione uma sensação de continuidade e autoconfiança, o que é essencial para superar fixações e desenvolver um self autêntico e legitimo da sua personalidade.


Pela visão de Lacan.


Ele reconceituou muitos temas psicanalíticos, incluindo a fixação, em sua busca para expandir a compreensão da psique humana. Incorporou a ideia de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, uma vez que acredita que os processos psíquicos são mediados pela linguagem e pelos significantes. Essa dimensão linguística deu origem a conceitos-chave, como o “estádio do espelho” e a “função do Nome-do-Pai”, que influenciaram sua compreensão. A fixação como consequência da linguagem, não é apenas uma estagnação de energia libidinal, mas também o resultado do modo como os significantes e a sua exterioridade moldam o sujeito. Às psicopatologias latentes são produtos da falha na integração adequada desses eloquentes na estrutura do self. Portanto, não é apenas uma questão de libido presa em um estágio de evolução, más uma linguagem que se entrelaça com as vivências. O ''Estádio do Espelho'' e a ''Formação do Eu'', exploram a formação da identificação, indicam que a fixação ocorre quando o indivíduo não consegue integrar adequadamente a imagem refletida no estádio do espelho, resultando em uma divisão do self. Isso pode levar a uma busca constante por uma completude impossível ou uma alienação do ''eu do corpo'', contribuindo para o aparecimento de dinâmicas como às manias obsessivas e psicológicas. O papel da linguagem e dos significantes incidem quando não conseguem se vincular de maneira coesa na mente do sujeito, levando a lacunas e mal-entendidos que o afetam, afunilando finalmente na dificuldade de expressar sentimentos adequadamente e em compreender a si, como também aos outros.


Caso clínico de fixação utilizando o “objeto a” de Lacan.


Norberto meu cliente, é um homem de 45 anos, procurou tratamento psicanalítico devido a uma sensação constante de vazio e insatisfação em sua vida. Ele me relata ter muitas dificuldades em estabelecer conexões significativas com os outros, e sente que sua vida carece de propósito e sentido. Embora seja um empresário bem-sucedido, chegou a um ponto em que percebe que sua carreira e êxito não lhe proporcionam a realização que deseja. Durante as sessões, compartilha suas experiências que incluem uma infância marcada por ser negligenciado emocionalmente pelos pais. Conta que frequentemente eram ausentes, desatenciosos e grosseiros. Por otra parte, devido a compromissos profissionais e uma vida social agitada terceirizavam sua existência. Ele cresceu num ambiente familiar se sentindo isolado, e buscava logicamente atenção de seus pais, más, era assiduamente ignorado. Dentro das suas falas, silêncios e narrativas, ditas e não ditas, explorei a possibilidade de que sua fixação pudesse estar relacionada a uma busca constante por reconhecimento e validação. Tudo sugeriu ele estar preso em um ciclo repetitivo, onde sua meta inconsciente de conseguir aprovação externa para acomodar e preencher o vácuo emocional resultante de sua infância fragmentada era predominante. O ajudei a interpretar e perceber como sua diligência desenfreada por conquistas profissionais, posição social, anseios de proximidades emocionais e validação de reconhecimento estavam conectados às suas primeiras experiências negativas desse desamparo infantil. Neste tratamento, foi importante usar o conceito lacaniano do “objeto a”, que representa o ícone do desejo inatingível e insaciável do ser. Para o paciente, o “objeto a” pode estar representado pela legitimação que nunca recebeu dos seus pais. Uma vez guiado, ele conseguiu explorar suas emoções subjacentes e reconhecer que sua imperativa demanda por abonação estava se perpetuando nesse suposto lugar do vazio emocional que o angustiava e frustrava. Ao compreender esse dinamismo entre suas condutas passadas e atuais, iniciou o enfrentamento de um processo para se desvincular das fixações históricas que o mantinham preso em padrões insatisfatórios.


''A noção de frustração, quando colocada em primeiro plano na teoria analítica, é remetida à primeira idade da vida (…) trata-se de condições reais, que supostamente devemos localizar nos antecedentes do sujeito através da experiência analítica (…) A noção de frustração é considerada portanto, como um conjunto de impressões reais, vividas pelo indivíduo em um período do desenvolvimento (…) qualificada de primordial, em relação à qual se formarão (…) e se inscreverão suas primeiras fixações, aquelas que permitiram descrever os tipos dos diferentes estágios instintivos'' (Lacan 1956).


Outro caso clínico usando os ''padrões arquetípicos'' de Jung.


Ana, é uma mulher de 39 anos, sondou pelo tratamento devido a uma sensação persistente de estagnação em sua vida. Relatou nas entrevistas iniciais possuir amplas dificuldades em se adaptar a novas situações e percebe que a cada dia que atravessa está perdendo oportunidades importantes de viver com qualidade, tanto na área profissional quanto emotiva. Ela é uma artista talentosa, mas tem medo de encarar novos desafios, modificar estilos e variar expressões. Uma vez que entrou em análise, durante as sessões me participa e conta pormenores muito claros de sua infância conturbada, frisando que muitos desses detalhes são persistentes em seus sonhos. Cresceu em um ambiente altamente controlador, agressivo, opressivo e com regras rígidas de conformidade moral. Seus pais a forçaram a seguir uma carreira tradicional que a levou a uma grande frustração vocacional, tendo que seguir um caminho que não era da sua escolha. Foram quase vinte anos sustentando dito desvio impositivo, até que se libertou para sua real vontade. Destarte conseguiu corrigir o problema, seu aferro permaneceu localizado na resistência a introdução de novas práticas, traquejo de vida e adquisição de novos conhecimentos, que ficaram relacionados à influência dos complexos arquetípicos em sua fase infantil. A abordagem de Jung dos ''padrões arquetípicos'', aproxima a compreensão do arcabouço de padrões repetitivos de comportamento e resistência , devido à influência de complexos vividos. Aqui é possível trabalhar com o conceito de “persona” e “sombra”, de forma que Ana seja incentivada a perfazer aspectos não expressos de sua personalidade, como resultado de paradigmas ligados aos papéis sociais que foram exigidos compulsóriamente, identificando ditos esquemas que moldaram suas escolhas e comportamentos. Paulatinamente ela começa a reconhecer que seus parâmetros estão assentados em medos estruturados na sua infância. Sobre ditas perspectivas, ela iniciou um processo na superação e re-elaboração dos seus modelos fastidiosos, que permitirão um crescimento positivamente transformador.


Esses modelos de cânones standards podem ser encontrados em todas as culturas e épocas, expressos em mitos, lendas, contos de fadas, sonhos, obras de arte, poesia e literatura.


Quais são eles?


O herói: Personagem que parte em uma jornada para enfrentar um desafio ou uma adversidade, é um símbolo de coragem, força e determinação.

O salvador: Ele vem para salvar o dia como ícone da esperança e renovação.

O sábio: Possui conhecimento e sabedoria, se apresenta pela iluminação e compreensão.

A criança: Marca de inocência, criatividade e potencial.

A mãe: Representa a nutrição, proteção e amor incondicional.

O pai: Personifica a autoridade, força e estrutura.

O amante: Traduz o romance, paixão e intimidade.

O trickster: Astuto e travesso, personifica a ambiguidade e dualidade.


Os padrões arquetípicos podem nos ajudar a entender a nós mesmos e o mundo ao nosso redor, nos fornecem uma linguagem para falar sobre nossas experiências mais estudas e significativas.


Exemplos práticos de como podem ser aparentados no cotidiano;


Um homem que se vê como um herói, pode ser motivado a correr riscos e enfrentar desafios desnecessários.

Uma mulher que se identifica com a mãe pode sentir um forte instinto de cuidar dos outros exageradamente.

Um jovem que está passando por uma crise de identidade pode se sentir atraído pelo arquétipo do trickster. (ambíguo).


Regressão e fixação caminham juntas.


A regressão é um mecanismo de defesa que leva à reversão temporária ou a longo prazo do ego para um estágio anterior de desenvolvimento, o indivíduo pode recorrer a esse subterfúgio para lidar com a ansiedade, fobias e outras queixas. Isso pode acontecer em resposta a um estresse ou trauma que podem ser de dois tipos:


1 - Libidinal: É a reversão da libido para uma fase anterior ao prosseguimento psicossexual.

2 - Defensivo: É o retrocesso do ego para um estágio preliminar de desenvolução para evitar a ansiedade.


Fixação e regressão.


Uma pessoa que foi abusada(o) sexualmente na infância pode desenvolver uma fixação oral e se tornar dependente ou possessiva(o).

Um indivíduo que está se sentindo inseguro em um novo emprego pode retornar à fase anal e se tornar obstinado ou controlador.

Quem está enfrentando um trauma, pode regressar à fase fálica e se comportar de forma infantil, imatura e violenta.


Assim, podemos deduzir que a fixação é inseparável da regressão, uma vez que implica a presença dos objetos de satisfação que se caracterizam por uma determinada fase, atuando na vida presente do adulto regressivamente. Desta forma, a neurose se configura como um ''modo de resposta'' a “toda dificuldade na sua vivência madura”, como resposta a; “qualquer dificuldade no exercício da relação de objeto mais evoluída”, (Bouvet, 1956). Este modo de ''feedback'', detectado em modalidades infantis, correspondem a modelos de organização que já deveriam ter sido apagados no caminho da maturação do ego. A fixação se infiltra no eu adulto, e a sua manifestação numa tipologia ocorre já no sujeito amadurecido. Bouvet os denomina como traços de caráter; eis as características que separam o pré-genital do genital (…). Os pré-genitais são indivíduos com um ''eu'' fraco, (…) a estabilidade, a coerência do ''eu'' depende da relação com um objeto significativo, (…) que sustentam relações extremamente próximas, (…) se apresentam com violência, falta de nuances e absolutismo, (…) absolutização dos desejos de uma criatura. Os órgãos genitais, por outro lado, possuem um ''eu'' que não depende de um objeto significante, (…). O objeto significante, (…) põe em jogo a sua individualidade (…) A perda, por mais dolorosa que seja, não perturba de modo algum a solidez da sua personalidade. Para o adulto, a regressão aos pontos de fixação vertem pelos rasgos de caráter. Se concretizam pela tipologia pré-genital e a fixação de objetos na modalidade de satisfação, seja no estado pre-genital, (oral o anal), atuando como consequência no presente do indivíduo. 


Fixação e regressão podem ser tratadas na terapia psicanalítica, o objetivo é auxiliar o paciente a compreender suas experiências infantis e a lidar com os enfrentamentos associados a um estágio anterior da sua vivência. “A regressão é um mecanismo de defesa que leva à reversão temporária ou a longo prazo do ego para um estágio anterior de elaboração. Isso pode acontecer em resposta a um estresse ou trauma.” (Freud, 1920). A técnica da associação livre que utilizamos confere a interpretação e manejo da transferência para ajudar o(a) mesmo(a) a acessar memórias e sentimentos reprimidos. Ao fazer isso, o analisado pode se reconectar com suas experiências e entender como elas influenciam seu comportamento atual.


“Fixação e regressão são dois conceitos importantes na psicanálise que podem ser usados para compreender a personalidade e o surgimento de sintomas psicológicos.” (Laplanche e Pontalis, 1967).


Diversos livros que abordam o tema;


“Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905): Apresenta as ideias iniciais sobre o desenvolvimento psicossexual e os estágios nos quais a energia libidinal se fixa, influenciando o desenvolvimento da personalidade.


“A Interpretação dos Sonhos” (1899): Embora não seja centralmente focado na fixação, este livro é uma obra que explora muitos conceitos fundamentais da psicanálise, incluindo os do desenvolvimento psicossexual que podem influenciam o complexo abordado.


“Além do Princípio do Prazer” (1920): Neste livro, Freud discute a ideia de que a vida psíquica é guiada por pulsões de vida e morte. Isso também tem relevância para a compreensão das fixações, ao abordar as forças que moldam a psique humana.


“Psicologia das Massas e Análise do Eu” (1921): Embora não seja especificamente sobre fixação, neste livro, Freud discute a influência do inconsciente coletivo nas massas e como as dinâmicas psíquicas podem ser compreendidas em grupos. Isso pode ter implicações para a compreensão de fixações do contexto social.


“A fixação é um fenômeno muito comum na infância. É raro que um indivíduo atravesse as diferentes fases do desenvolvimento psicossexual sem que haja algum grau de fixação.” (Freud, 1905).


“A regressão pode ser um mecanismo de defesa muito eficaz. Pode auxiliar o indivíduo a lidar com a ansiedade e o estresse, evitando que ele tenha que enfrentar conflitos ou traumas que ainda não foram resolvidos.” (Freud, 1920).


“Fixação e regressão podem ter um impacto significativo no desenvolvimento da personalidade. Podem levar a problemas emocionais e comportamentais na fase adulta.” (Laplanche e Pontalis, 1967).


Ao poema; Fixação por Nilson Ferreira.


Estou propondo um coração


Suponho um corpo


Quase louco


Num querer em vão


Estou propondo o meu desejo


Depois da fala


Um lento beijo


Pra acalmar o coração.


Estou propondo um louco amor


O agito e a calma


Proponho a alma


Desse sonhador


Estou propondo uma verdade


Trancada no coração


Não é sonho, nem costume


É fixação.


Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

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