top of page

A Insegurança.

Atualizado: 22 de set. de 2024


“Assim como a raiz da árvore busca água nas entranhas da terra, a insegurança se alimenta da profundidade do inconsciente humano.” Dan Mena. Por Dan Mena.

De onde vêm os medos e as inseguranças que carregamos?


Desde a psicanálise se revelam nossos processos de crescimento e como a verdadeira transformação acontece a partir da real complexidade que nos compõem, tendo em conta o funcionamento mental e a maior descoberta psicanalítica: o inconsciente. Crescimento, mudança, ser diferente a cada dia da existência. Em ''Inibição, Sintoma e Angústia'', Freud descreve nossos medos reais e morais, inclusive, os inter-relacionados como os neuróticos. Existe um temor precursor e pioneiro do qual devemos ter um certo grau de tolerância para não ficarmos ancorados nesse instante, esse que se repete, cada vez que damos um passo adiante na nossa vida. Os desejos, devem incluir a labor necessária para os alcançar, e não falo de desejos como as coisas que dizemos que almejamos; digo dos atos, onde o inconsciente está inerentemente entrelaçado. A caminhada necessária para atingirmos metas não são mais do que palavras, ditas narrativas elaboradas nos permitirão nomear uma realidade para que ela possa de fato existir. Muitos de nós, vivemos como se o amanhã fosse eterno, esticamos tudo, nessa imaginária auréola de imortalidade, ou na sua fantasia. Conceitos como a culpa inconsciente podem nos levar a sabotagem, a não tolerarmos os próprios sucessos. A energia psíquica, a libido, é a força que necessitamos para poder elaborar as mudanças imprescindíveis, que por vezes, através de processos neuróticos, dificultam, inibem e nos conduzem as doenças, estagnando esta potência vital, vigor essencial utilizado nos processos criativos, anseios, projetos, encontros com os outros, amor e trabalho. A mente é dividida em três níveis: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. Essa estrutura tripartite é essencial para podermos entender como a insegurança progride nas nossas vidas e pode tomar conta dos seus processos. No nível consciente, estamos cientes de pensamentos, sentimentos e percepções. No entanto, a maioria do tempo opera no nível inconsciente, onde pensamentos e desejos são suprimidos ou reprimidos. É nesse gabarito estrutural que as raízes da hesitação, indecisão e vulnerabilidades nos abordam e podem ser encontradas, já que muitos dos medos, ansiedade e insegurança que as alimentam são mantidas fora da consciência. A maioria de nós se sente inseguro(a) por vezes, mas alguns, tem esta companhia na maior parte do percurso, eis o problema. O tipo de infância que tivemos, traumas passados, experiências recentes de fracasso ou rejeição, solidão, abandonos, traições, ansiedade social, crenças negativas sobre si, o perfeccionismo, ter um pai, mãe ou parceiro desmedidamente críticos, podem contribuir para a instauração da insegurança. Boa leitura.


“A insegurança é o estado básico do ser humano, e a busca constante por segurança é o que nos impulsiona.” Freud.


Ansiedade e a insegurança.


Freud desenvolveu uma teoria labiríntica sobre a ansiedade, que está ligada à insegurança. A ansiedade, é uma emoção básica que surge quando a mente está em conflito, entre impulsos instintivos, demandas da sociedade e as exigências do ego. Como exemplo, posso citar o medo infantil de ser separado da figura de apego, geralmente a mãe. Esse amedrontamento é uma manifestação inicial de hesitação, ao representar a preocupação que o mundo externo seja possivelmente ameaçador, logo, a conexão imperiosa com a figura de afeto será essencial para a defesa, preservação e resguardo emocional da criança. O ego, superego e id, também serão significativos para tal compreensão, sendo o ego responsável por mediar o encontro entre o id que contém impulsos e desejos primitivos, e por fim, o superego, que representa a nossa voz internalizada da moral e estruturação das normas sociais. Quando o ego falha em equilibrar essas forças, a ansiedade pode aumentar, nos levando a sentimentos de fragmentação e fragilidade emocional. Em “A Interpretação dos Sonhos,” ele amplia a visão de como essas dinâmicas podem revelar desejos inconscientes e desassossegos coibidos, fornecendo uma rica fonte de insights sobre a insegurança e suas estruturas. Em “O Ego e o Id,” se versa a dinâmica entre o ego, o superego e o id, e como o ego lida com a angústia, um aspecto medular para entender o tema.


Desenvolvimento da personalidade.


Os estágios da progressão psicossexual da personalidade representam uma fase específica do desdobramento evolutivo infantil, durante a qual como crianças vamos enfrentar conflitos e desafios psicológicos. A maneira como despachamos esses embates, terão um impacto direto na formação da pessoalidade e na possibilidade da formação de inseguranças. Quais são eles?


Oral: Surge nos primeiros anos de vida, onde a boca é a zona erógena dominante. As experiências durante essa fase, como problemas de alimentação ou desmame precoce, podem afetar a segurança e a confiança em futuros relacionamentos. A insegurança pode se manifestar como medo da rejeição ou dependência excessiva.


Anal: Ocorre durante o treinamento do controle de esfíncteres. A pugna entre a satisfação e a repressão de impulsos na eliminação pode influenciar como alguém lida com questões de autonomia e controle. Inseguranças podem surgir quando há uma tendência a ser excessivamente controlador(a) ou submisso(a).


Fálico: O estágio fálico é marcado pelo complexo de Édipo para meninos e complexo de Electra para às meninas. Aqui, neste circuito a criança desenvolve sentimentos de desejo pelo progenitor do sexo oposto e cria rivalidades com seu oposto do mesmo sexo. De acordo como essas dinâmicas serão resolvidas, podem surgir receanças ligadas à identidade de gênero, ciúmes e ansiedades de castração.


Latência: A partir do 7º ano e até a puberdade, segue uma latência, ou seja, não há ausência da sexualidade, mas sim uma detenção, congelamento da sua evolução. Esse período é marcado pelo distanciamento de novas descobertas sobre o corpo e a sexualidade e não se instaura o funcionamento de uma nova zona erógena. Nessa fase, ocorrem a escolarização, alfabetização, socialização e início da intelectualidade, concomitantemente a formação de valores.


Etapa genital: A puberdade é um período de grandes transformações físicas e fisiológicas. A ela segue a adolescência, período de importantes acontecimentos psicológicos. Ambas as fases se estendem até a vida adulta, onde a sexualidade surge agora impulsionada por uma nova onda instintiva, marcada por suas características adultas: primazia dos genitais sobre as demais zonas erógenas e escolha de um objeto fora do próprio corpo, normalmente outra pessoa. Por primazia dos genitais, se entende o lugar que a genitália passa a ocupar como a principal via de descarga das tensões sexuais.


Do ponto de vista psicológico, o fim de toda essa evolução deve nos conduzir à capacidade de desenvolver afetos, amar, produzir e criar. Os possíveis desvios desses desígnios podem ocorrer por fixação a uma das fases acima anotadas, etapa esta, que já devia ter sido superada ou por um factível regresso a ela. É importante ressaltar, que não é inevitável que os traquejos em cada estágio levem à insegurança. A resolução bem-sucedida dos embates em cada ponto, podem promover um senso de segurança emocional. No entanto, se esses duelos não forem resolvidos adequadamente, podem persistir como fontes de ansiedade e insegurança ao longo da vida. Por exemplo, um indivíduo que enfrenta uma fixação ou retrocesso a um estágio particular do amadurecimento, pode carregar consigo traços comportamentais associados a esse período. Isso pode se manifestar como uma insegurança relacionada à dita fase específica, uma obstinação, como um desejo constante de atenção e aprovação em decorrência de questões não satisfeitas e incompletas no estágio fálico.


Insegurança e a Teoria do Ego de Erik Erikson.


Erikson foi um psicólogo e psicanalista, conhecido por sua teoria sobre a desenvolução psicológica, cunhou a expressão ''crise de identidade'', (são episódios nos quais se pode perder o contato com o mundo externo ao afundar em pensamentos e sentimentos próprios que lembram o passado ou sentir ansiedade e angústia quando se olha para o futuro). Propôs também uma teoria psicossocial que expandiu as ideias de Freud. Embora em contraste com a teoria psicossexual freudiana, ele enfatiza a promoção da identidade ao longo da vida e aborda questões sociais e emocionais cruciais em cada estágio. Considero uma extensão análoga, por isso, acho importante dar voz. Postulou uma série de crises que afrontamos nos diferentes estágios, cada colapso envolve um choque entre duas forças psicossociais opostas, como confiança versus desconfiança na infância ou identidade versus confusão de papéis na adolescência. Como esses eventos são assentes, tem implicações diretas para a identidade e, por extensão, para a elaboração da insegurança.


Exemplos de estágios críticos na teoria de Erikson e como se relacionam com o assunto:


Confiança versus Desconfiança (Infância): No primeiro ano de vida, as crianças desenvolvem um senso de afirmação em relação aos cuidadores ou podem amplificar uma suscetibilidade básica em relação ao mundo. A insegurança pode surgir, se ditas necessidades básicas infantis não forem atendidas, levando a uma falta de credibilidade nos outros e em si mesma(o).


Identidade versus Confusão de Papéis (Adolescência): Durante a puberdade, como jovens rivalizamos e disputamos questões cruciais relacionadas à formação da identidade. Se não conseguimos estabelecer uma identificação sólida, podemos experimentar confusão de papéis e insegurança sobre quem somos, e o que podemos esperar da vida e do futuro.


Para embasar sua análise, destaco sua obra “Infância e Sociedade,” que adentra nas implicações do estágio de confiança versus desconfiança e como a falha na resolução dessa crise pode levar a sentimentos de insegurança. Além disso, “Identidade: Juventude e Crise”, (muito bom), que aborda a formação da personalidade e suas conexões com a irresolução.


A abordagem de Klein, à psicanálise infantil.


Seguindo esta linha para a compreensão do progresso emocional e da psicopatologia infantil, Klein se concentrou na análise das fantasias inconscientes das crianças, (as fantasias representam uma forma de leitura subjetiva, organizada a partir dos desejos e dos mecanismos de defesa, da realidade dos fatos. Trata-se do que Freud denomina realidade psíquica, a qual tem suas bases na infância e nas fantasias filogenéticas), e como essas quimeras podem influenciar a visão de si e do mundo ao seu redor. Uma das contribuições mais destacadas foi sua ênfase nas primeiras relações mãe-filho. Experiências e vinculações nessa estação inicial da vida têm um esbarrão expressivo, visto que projetamos partes de nossas mentes internas nos outros, principalmente, na figura materna, em um processo conhecido como ''projeção introjetiva'', (introjeção, de acordo com o prefixo intro (para dentro) e do latim iacere (lançar) - lançar para dentro - é um mecanismo psíquico inconsciente pelo qual incorporamos qualidades dos objetos do mundo exterior). Às relações mãe-filho, são particularmente relevantes para a compreensão da insegurança, já que irrealidades e utopias inconscientes sobre a mãe podem variar de sentimentos de amor e proteção a ódio e perseguição. Essas iluminações, podem se tornar fontes de insegurança emocional quando não devidamente compreendidas e processadas. Por exemplo, uma criança que idealiza devaneios de ódio na mãe, pode desenvolver sentimentos de culpa e insegurança em relação a essas emoções negativas. Isso pode abalar sua autoimagem e desempenho em relações futuras, criando um ciclo de divisão afetiva.


Fatores sociais e culturais na insegurança — Contexto contemporâneo.


Para compreender essa extensão na sociedade atual, é essencial considerar os fatores sociais e culturais que moldam nossa psique. Esses coeficientes interagem com nossos desejos, impulsos e conflitos inconscientes.


1 - Influências da mídia e das normas sociais:


A mídia desempenha um cenário significativo na criação de padrões de beleza, êxito, sucesso e felicidade que muitas vezes são inatingíveis. Essas representações projetadas nos seus canais de comunicação, podem criar sentimentos de impropriedade nas pessoas, pois elas se comparam e defrontam perante esses padrões estabelecidos. Essas analogias arquetípicas, podem ser vistas como projeções de desejos não realizados ou ansiedades inconscientes. Isso nos leva inconscientemente a uma luta constante para alcançar e copiar modelos, exemplos, arquétipos irreais que subsidiam a formação da insegurança.


2 - Pressão social e expectativas sociais:


A coação social para o sujeito se encaixar em determinados quadrados e seguir normas predefinidas e regras impostas, também podem contribuir, assim como a internalização dessas expectativas geram ambiguidades entre nossos desejos internos e as demandas externas. Por exemplo, um indivíduo pode se sentir inseguro por não atender às expectativas da sociedade em relação à carreira, posição social, moda, casamento ou família, mesmo que essas não se alinhem com seus desejos e necessidades relacionais.


3 - Autoimagem e Redes Sociais:


Elas têm um alto custo psíquico e implicação na constituição da insegurança contemporânea. Pessoas frequentemente apresentam versões altamente editadas de si, maquiadas(os), montadas(os) e superfluamente retocadas e idealizadas(os) de suas vidas para o universo online. Essa curadoria mascarada da realidade nos levam a que sejam feitas comparações prejudiciais, uma falsa transmissão e sensação de que os outros estão vivendo vidas mais alegres, felizes, melhores, perfeitas e bem-sucedidas. Estas analogias interligadas a redes sociais, estão intimamente associadas a sentimentos de inveja, narcisismo e insegurança. Além disso, a busca por validação nos meios eletrônicos pode refletir na necessidade de gratificação do ego e a ansiedade em relação ao provável julgamento dos outros.


Quais as principais características de uma pessoa insegura?


Uso da falsa modéstia e forte sentimento de autodúvida.

Necessidade imperiosa de exibir e mostrar realizações.

Demanda permanente de receber elogios e atenção.

Tendência para o perfeccionismo e exagerada competitividade.

Medo do julgamento, da crítica negativa e da avaliação de terceiros.

Acometem diligências na tentativa de transmitir dúvidas e inseguranças.

Estado de baixa autoestima, erguendo barreiras defensivas constantes.


Formas mais comuns de insegurança e como lidar com elas.


Insucessos e rejeições:


Quando verificamos os acontecimentos mais recentes das nossas vidas observamos que podem afetar muito o nosso humor e como nos sentimos, visto que grande parte do nosso parâmetro de bem-estar se baseia em acontecimentos do presente momento. O maior contributário negativo da suposta felicidade é o fim de uma relação, seguido da morte de um cônjuge, perda de emprego e acontecimentos problemáticos de saúde. Por sua vez, a insatisfação e infelicidade influenciam a autoestima, fracassos e rejeições podem causar um duplo golpe na nossa confiança. O desprezo, desacolhimento ou negação, nos transportam inevitavelmente a um espelhamento de si e às outras pessoas, de uma forma escusa, pelo menos durante algum tempo. Aqueles que têm uma autoestima mais propensa a baixa, são mais reativos ao fracasso, sabe, aquelas experiências que se apoderam de nossas velhas crenças escusas sobre a nossa autoestima e as ativa. Nesse instante, pode ser útil compreender que o insucesso é uma tarimba da vida, um know-how onipresente a todos(as).


Ferramentas que auxiliam na insegurança baseada na frustração:


Dê a si mesmo o tempo suficiente para se recuperar e se ajustar ao novo normal.

Interaja com a vida, seguindo seus interesses e curiosidades.

Procure os amigos e a família para se distrair e confortar.

Obtenha feedback de pessoas em quem confia verdadeiramente.

Persevere, continue a avançar em direção aos seus objetivos.

Esteja disposto(a) a tentar uma estratégia diferente, se necessário.


Falta de confiança e ansiedade social.


Muitos de nós sentimos falta de autoconfiança em situações sociais como eventos, apresentações, festas, reuniões familiares, entrevistas de trabalho, compromissos, etc. O medo de ser avaliado(a) pelos outros, que possam vir imaginariamente descobrir que não temos confiança suficiente, pode conduzir a sentimentos angustiantes. Como resultado, evitamos situações sociais, sentimos agonia ao antecipar contingências e incorporamos consequentemente sentimentos de constrangimento e desconforto. As experiências passadas podem nutrir um sentimento de não pertencimento, de não ser importante, interessante ou simplesmente não corresponder naturalmente a determinada situação. Se você cresceu sob a mira de pais críticos ou sendo pressionado(a) para ser popular, bem-sucedido(a), etc, floresceu sensível à forma como supostamente os outros lhe enxergam. Este tipo de insegurança se baseia normalmente em crenças distorcidas sobre a autoestima e o grau de avaliação que fazem ao nosso respeito Na maioria das vezes, pessoas se concentram mais na forma em como se refletem do que em julgar os outros. Aqueles que muito qualificam terceiros e os excluem e cancelam, estão geralmente encobertos das suas próprias inseguranças e, por isso, que suas banais opiniões podem ser inexatas, entanto que ditas medem e valorizam atributos superficiais em vez de avaliar o caráter e a integridade do indivíduo.


"Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais sobre Pedro do que de Paulo" Freud.


Combate em situações sociais.


- Evitar a participação na situação social só piora as coisas. Por isso, vá a uma festa ou a um encontro mesmo que esteja nervoso(a). A sua ansiedade deve diminuir quando se envolver com outros, trocar experiências e pontos de vista.

- Pense em assuntos e coisas sobre as quais pode falar, como acontecimentos atuais, filmes, atividades de lazer, passatempos, trabalho ou família.

- Estabeleça um objetivo limitado e realista, como falar com pessoas novas, fazer amizades ou descobrir mais sobre seus interesses.

- Perceba mais os outros para combater a intensa concentração em si próprio(a), desfoque de si.

- Se lembre de todas as razões e motivos pelos quais pode ser interessante ser um bom amigo, ajudar o próximo ou ser parceiro, acima de qualquer situação.

- Seja observador(a), note algumas semelhanças ou competências que possa aprender com elas(es).


Idealização e insegurança.


Muitos utilizamos padrões muito elevados em tudo o que fazemos. Talvez nossa intenção seja ter o melhor desempenho, obter melhores notas na faculdade, usufruir de um excelente emprego, desfilar o melhor carro, apresentar aquele impossível corpo perfeito, morar no apartamento mais bem decorado, ter filhos muito bem educados em colégios caros ou um parceiro ideal. Infelizmente, a vida nem sempre corre exatamente como desejamos, mesmo que nos esforcemos. Há uma parte do resultado que, pelo menos em certa medida, está fora do nosso controle. Patrões podem ser críticos, os empregos podem ser escassos, parceiros podem resistir ao compromisso, podemos ter genes que dificultam alcançar um corpo idealizado, além do natural envelhecimento. Isso significa estar constantemente condicionado(a) a desilusão, se culpando pela improvável e irreal imperfeição, o que ativará o gatilho da sua insegurança. Dar o nosso melhor e trabalhar arduamente pode ser uma vantagem competitiva, destarte, outros aspectos potencializados do perfeccionismo não são visivelmente saudáveis. Se achacar constantemente por não ser suficientemente bom ou boa na sua estreita avaliação, pode te levar à depressão, sofrer distúrbios alimentares, viver a fadiga crônica e estimular o estresse.


Combater o perfeccionismo.


Se avalie com base no esforço que realiza, aquilo que pode ser sustentável, minimamente controlado, e não no resultado que possa depender de fatores externos.


O perfeccionismo se enquadra num pensamento ambivalente, é o tudo ou nada, o limite das bordas, tentando encontrar as zonas intermediárias. Há uma forma mais compassiva de ver uma situação, que radica em considerar as circunstâncias quando se avalia. Há sempre um resquício positivo, alguma coisa que aprendemos, mesmo que o resultado não tenha sido o melhor. Perfeccionistas possuem uma autoestima condicionada, gostam de si quando estão no topo, e não se toleram, se desprezam, quando as coisas não correm como almejado. Podemos aprender a apreciar a si, também, quando as coisas não saem bem. Vamos nos focar nas qualidades interiores como a construção do caráter, a sinceridade e bons valores, e não apenas nas notas que obtemos, no salário que recebemos ou no número de pessoas que achamos que estimam nossa companhia.


O complexo de inferioridade.


Frequentemente ouvimos uma certa associação popular do sujeito inseguro ao que Alfred Adler desenvolveu como o ''complexo de inferioridade'', um conceito chave na psicologia individual, uma das escolas de psicologia que se desenvolveu no início do século XX. Na época, surgiu como uma alternativa às teorias psicanalíticas. Enquanto Freud enfatizava o papel do complexo de Édipo na formação da personalidade, Adler aduzia que a sensação de inferioridade era uma força motriz mais importante. Suas ideias tiveram grande implicação na psicologia e na psicoterapia. Sua tese funda as raízes na infância, onde nós captamos naturalmente inferiores aos adultos. Ele disse; “A inferioridade é um sentimento que pertence a todos os seres humanos. […] Ela surge na infância, quando percebemos nossas limitações e medimos a diferença entre nossa capacidade e a dos maiores de idade.”. Pessoas inseguras travam uma luta pela predominância que pode levar a um choque negativo nas suas relações. Um exemplo, ''se sentem felizes se fizerem outros infelizes''. Este tipo de comportamento é típico da neurose, no entanto, nem todas as pessoas inseguras são caracterizadas como tal. Tudo depende do grau de desconfiança que possuem em relação às capacidades ou realizações passadas. Indivíduos instáveis emocionalmente tendem a agir e a pensar condicionadas(os) entre a necessidade de se destacarem e de provarem aos outros que são importantes, e alimentam um profundo sentimento de invalidez e inadequação. Nos casos mais graves, são altamente dependentes, não são ninguém se os outros não as valorizarem e validarem, ou seja, se tornam invisíveis para si próprias(os).


"A inferioridade é uma ficção que apenas prejudica a mente. A sensação de inferioridade nos impulsiona a superar nossos limites." Adler.


Para resumir sua tese anotarei 7 pontos relevantes;


Contribuições para a psicologia: Desempenhou um rol importante na psicologia individual e influenciou terapias psicodinâmicas posteriores, como a cognitivo-comportamental. Deu uma compreensão mais holística da psicologia, considerando não apenas os aspectos intrapsíquicos, mas também os sociais e culturais na formação da personalidade.


Críticas e controvérsias: Embora suas ideias tenham sido influentes, enfrentaram críticas. Alguns psicólogos argumentavam que sua teoria é menos fundamentada em evidências empíricas do que outras abordagens. A noção do “complexo de inferioridade” pode ser considerada simplista em comparação com aquelas mais contemporâneas.


Compensação e busca por superioridade: Como um impulso central na vida humana, afirmou em “A Individual Psychology of Alfred Adler” (1956): “A busca pelo sucesso está no centro de nossas vidas. Qualquer outra coisa, é insignificante em sua comparação.”


Estilos de vida: Desenvolveu a ideia dos “estilos de vida” individuais como uma maneira de compreender como lidamos com esse ponto da inferiorizaçao. Em; "The Science of Living” (1929): cita; “Cada indivíduo cria seu próprio estilo de vida a partir de suas experiências infantis e tentativas de superar suas sensações de inferioridade.”


Inferioridade fictícia e real: Diferenciou entre subalternidade fictícia e real, destacando a importância da primeira. Como ele explicou em ''Problems of Neurosis: A Book of Case Histories'' (1929). “A fictícia é mais importante para a compreensão da psicologia do que a real, ela impulsiona nosso desenvolvimento e é um motivador essencial.”


Relação com a sociedade: A influência dela na formação do complexo, como argumentou em “Understanding Human Nature” (1927); “Não é apenas o mundo interior de um indivíduo que importa, mas também sua relação com a sociedade, ela pode agravar ou aliviar os sentimentos de inferioridade.”


Desenvolvimento pessoal e psicoterapia: Via a psicoterapia como um meio de auxiliar as pessoas, como narra em “The Practice and Theory of Individual Psychology” (1927); “O objetivo da psicoterapia é auxiliar as pessoas a entenderem seus estilos de vida, encontrar maneiras mais saudáveis de lidar com a inferioridade e alcançar uma sensação de harmonia.”


Uma sessão resumida de psicanálise que aborda o assunto em questão.


Daniel: Olá, boa noite Mônica? Como tem passado?


Mônica: Boa noite Daniel, bem, eu acho. Um pouco ansiosa, como sempre.


Daniel: O sempre, é a palavra que queremos eliminar não é?… Poderia me contar mais sobre o que te faz ''sempre'' te sentir insegura?


Mônica: Acho que tem a ver com a minha falta de confiança em mim mesma, me sinto inadequada, incompetente, inferiorizada, como se não fosse boa o suficiente em várias áreas da minha vida.


Daniel: Como essa falta de confiança se manifesta? Me dá exemplos práticos?


Mônica: Me lembro de uma vez que fui convidada para uma festa de colegas de trabalho. Todos pareciam tão confiantes e bem-sucedidos, e eu me senti completamente deslocada deles. Fiquei o tempo todo me preocupando se estavam me julgando, todos olhavam para mim, para minha roupa, meu cabelo, parecia que eu era o centro das atenções, quando era exatamente o oposto que eu desejava.


Daniel: Por acaso numa festa, ninguém olha para ninguém? Como se sentiu nessa situação? Houve algum incidente específico dirigido verbalmente? Ou foi apenas uma percepção que te fez sentir insegura?


Mônica: Não, ninguém me dirigiu alguma crítica direta. Havia uma conversa sobre o trabalho e realizações no grupo que eu estava, e eu senti como se não tivesse nada realmente importante para compartilhar e falar sobre mim. Isso me lembrou de todos os momentos em que falhei no trabalho ou não atingi minhas metas, isso aprofundou minha hesitação naquele momento. Fiquei triste, não consegui relaxar.


Daniel: Nota como essa situação ativou memórias de momentos anteriores? Você acha que essas experiências passadas podem estar contribuindo para sua falta de confiança no presente? Como aconteceu nessa roda de colegas.


Mônica: Sim, acho que sim. Vivi situação semelhante na escola, na faculdade, quando eu me sentia de fora das atividades em grupo ou não me apercebia tão talentosa quanto meus colegas de classe.


Daniel: Suas memórias estão muito interconectadas e podem estar alimentando sua insegurança atual. Essas vivências passadas moldam nossa visão de nós mesmos. Como essas histórias estão influenciando sua voz crítica interna?


Mônica: Sinto como se elas estivessem constantemente me lembrando que eu não sou tão boa assim, que nunca alcancei o que se espera de mi.


Daniel: Entendo. Essa voz interior Mônica, pode ser muito poderosa.


Daniel: Voltemos a festa, por um momento. Parece que foi um evento desafiador para você. Se lembra como seu corpo reagiu naquele momento? Houve alguma sensação física associada à sua insegurança?


Mônica: Sim, meu coração começou a bater mais rápido, minhas mãos ficaram suadas e eu senti um aperto forte no peito. Foi como se todas as minhas inseguranças estivessem se reunindo para me atacar e se manifestando fisicamente.


Daniel: Compreendo. Essas reações podem ser indicativos da intensidade de suas emoções naquele momento. Se lembra de algum pensamento específico que passou por sua mente na festa? Algo que tenha alimentado sua vulnerabilidade?


Mônica: Eu me lembro de pensar que todos à minha volta eram melhores do que eu, parecia estar num filme, aonde todos eram protagonistas e eu era a copeira que os servia. Estavam todos rindo, aparentavam ser muito inteligentes, felizes e confiantes. Eu forçava meu sorriso, me senti uma fraude, como se estivesse fingindo ser alguém que eu não era e que estava no lugar errado... deslocada.


Daniel: É interessante como você se descreve como um embuste. Isso me faz pensar em algo chamado “síndrome do impostor,” onde as pessoas duvidam de suas próprias realizações, com medo de serem expostas, como um falseamento de si. Você já se sentiu assim em outras situações?


Mônica: Sim, muitas vezes no trabalho principalmente. Mesmo quando alcanço às coisas, sinto que não mereço e que, em breve, todos descobrirão que não sou tão competente assim.


Daniel: Essa síndrome muito comum pode estar ligada a esses sentimentos. Mesmo pessoas hábeis e capazes a experimentam. Já sentiu algo semelhante na infância? Havia alguma figura importante da sua infância que era muito crítica, severa, impositiva com você?


Mônica: Minha tia, ela cuidava de mim, ficava falando que eu não ia ser ninguém, que era preguiçosa, burra e mal-educada. Fora que me surrava, me fechava no banheiro por horas e gritava para outros ouvirem. Por outro lado, meus pais, tinham expectativas muito altas ao meu respeito, às vezes, eu sentia que nunca ia conseguir atender a essas perspectivas.


Daniel: Como você acha que isso afetou sua autoimagem e sua confiança ao longo dos anos, na medida que foi amadurecendo?


Mônica: Isso me tornou muito crítica em relação a mim. Tudo o que faço, preciso refazer, senão o faço, tenho a impressão de não ter feito devidamente. Também percebo agora, te falando, que sempre achei difícil aceitar elogios e reconhecer minhas conquistas. Parece que só consigo olhar e me concentrar nas falhas.


Daniel: Compreender esses padrões é um passo importante para podermos trabalhar em direção a uma maior autoaceitação.


Daniel: Quero voltar um pouco no tempo... que você fale mais da sua infância. Me conta uma história, um episódio que você acredita tenha contribuído para sua insegurança na vida adulta?


Mônica: Claro, quando eu tinha cerca de 7 anos, estava participando de uma competição de desenho na escola. Eu costumava gostar muito de desenhar, estava empolgada com isso. Passei muito tempo fazendo o trabalho e realmente coloquei todo o meu esforço nele.


Mônica: Bem, quando entreguei meu desenho ao professor, ele o olhou e disse… o que é isso? Que estava confuso e fora do tema. Ele disse isso na frente de toda a turma, e todos começaram a rir do meu desenho. Eu me senti tão envergonhada…


Daniel: Parece uma memória muito negativa do episódio.


Daniel: Deve ter sido doloroso e impactante para você. Como afetou sua autoimagem e estima na época?


Mônica: Acho que foi nesse ponto que comecei a acreditar que sou um fracasso. Eu me lembro de ter chorado naquela noite e prometido a mim mesma que nunca mais tentaria algo criativo, fiquei com pavor de ser ridicularizada novamente.


Daniel: É compreensível que isso tenha causado uma sequela em sua autoconfiança e na forma como você se vê. Monica, veja como eventos traumáticos ou humilhantes na infância podem ter criado um terreno fértil de autocríticas negativas. O que essa memória influenciou suas interações e escolhas ao longo dos anos?


Mônica: Acho que desde então, passei a hesitar em me destacar, tomar decisões ou expressar minha criatividade, ser julgada e ridicularizada não foi mais uma opção, então acabei me mantendo na minha zona de conforto.


Daniel: Parece que essa memória moldou muitas das suas escolhas e comportamentos. Nosso objetivo aqui é compreender essas influências, trabalhar e permitir que você se sinta mais confiante e capaz.


Daniel: Você concorda Mônica que estamos começando a entender as raízes da coisa?


Mônica: Estou começando a ver quem sou hoje, nunca falei destas coisas para ninguém. É estranho perceber como falando do assunto, estou me sentindo mais aliviada, é, como algo que aconteceu quando era criança continua vivo em mim.


Daniel: A boa notícia é que agora estamos conscientes disso.


Mônica: Estou totalmente aberta e pronta para encarar minhas limitações, por isso estou aqui.


Daniel: Isso é muito encorajador de ouvir.


Até a próxima, continue refletindo sobre o que discutimos hoje. Boa noite!


Finalizando, a insegurança se manifesta como uma constante e debilitante incerteza em relação a diversos aspectos da vida, incluindo os desvios de identidade. É um estado psíquico que estrangula nossas iniciativas e engendra uma busca permanente pela validação externa, como se essa legitimação fosse uma bandeira para a conquista de uma ilusória paz interior que nunca será alcançada plenamente. Contudo, a irresolução emocional não é um fenômeno isolado, senão uma legítima condição do ser. A vida, em sua essência, é frágil, rápida e fugaz. Se consome, tem na sua proposta mudanças radicais e inesperadas, e até mesmo, uma possível extinção iminente, algo que negamos e negligenciamos inconscientemente. Assim, planteamos, alimentamos e debruçamos em expectativas permeadas de esperanças e certezas no futuro, acreditando piamente que a vida se desdobrará de acordo com nossos desejos. Destarte, seu curso desviará na maioria de nossos roteiros incrivelmente desenhados, nos impondo uma transição, aquela contraposição corajosa a ser enfrentada, onde os ventos do incógnito do inexplorado e misterioso se farão sempre presentes. Entretanto, isto não implica que devamos incluir a insegurança como uma base permanente na nossa caminhada e projetos de vida. Talvez, deveríamos reconhecer que a vida tem vida própria, tem potência, força inquebrável e inevitável, de alguma forma, mesmo sem nossa aprovação ou entendimento, ela é. Por outro ângulo, vejamos seu lado positivo, no sentido que ditas imprecisões nos desafiam a uma adaptação dinâmica, da qual o Homo sapiens é a prova viva do êxito, da nossa habilidade, resiliência e superação. Seria, portanto, este conjunto de sinapses que atuam como um estímulo incentivador da vida, autenticando o presente a ser vivenciado. Por esta razão, devemos aprender a confiar em nossas próprias capacidades históricas, buscando a importante validação interna em vez de depender demasiadamente da aprovação de terceiros. Podemos com toda certeza acolher a insegurança como parte importante do nosso processo evolutivo, de crescimento e desenvolvimento pessoal, olhando para ele, não como uma montanha insuperável, más, sim, como uma catapulta que pode nos lançar para além dela.    


Frases de psicanalistas que ajudam a dar compreensão ao tema.


“A insegurança é a sombra que cresce quando a luz da autoestima é ofuscada pelas nuvens da dúvida interior.” Dan Mena.


“A insegurança é muitas vezes a manifestação de conflitos internos não resolvidos, especialmente em relação às figuras parentais.” Klein.


“A insegurança emocional pode surgir quando a mãe falha em ser suficientemente boa em sua função de cuidadora.” Winnicott.


“A insegurança pode ser vista como uma resposta à ansiedade e ao medo do desconhecido. A análise pode ajudar a desvendar esses medos ocultos.” Anna Freud.


“A insegurança emocional muitas vezes é o resultado de uma falta de simbolização adequada das experiências traumáticas da infância.” Lacan.


“A insegurança pode ser mitigada através da empatia e do apoio emocional, permitindo que o indivíduo desenvolva uma autoestima mais sólida.” Kohut.


“A insegurança crônica muitas vezes está enraizada em neuroses básicas não atendidas, como a necessidade de amor e afeto.” Horney.


“A insegurança nas relações interpessoais pode ser um sinal de dificuldades na construção da identidade e na integração do self.” Chodorow.


Vamos ao poema;


A insegurança e o amor — Luciano Fonseca.

 

Na insegurança das palavras

Ou na do jeito de olhar

É que começam nossos medos

De sorrir ou de chorar.


Na insegurança o desejo

Tende a nos abandonar

Pelo medo de um beijo

Ou pelo medo de tocar.


Com a insegurança um toque quente

Tende sempre a gelar

Por não ter já definida

Há questão de aceitar.


Na insegurança do momento

Estamos sempre a aceitar

O medo de sofrer

E o medo de sonhar.


A insegurança da minha vida

Eu vou ter de superar

Pois eu nasci para sorrir

Eu nasci para amar.


Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page