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A Relação Sexual Não Existe.

Atualizado: 14 de jan.

Conflitos Sexuais da Psicologia e o Inconsciente.

"O vínculo entre os sexos, para a psicanálise, é mais do que biológico; é o palco onde a linguagem e o inconsciente dançam em descompasso." — Dan Mena.
"O Outro, tão desejado, é sempre um lugar de projeção, um espelho onde nossas fantasias se materializam e nossos medos se escondem." — Dan Mena.

A Inexistência da Relação Sexual: Laços Sociais, Fantasias e o Desejo no Imaginário. "Neste artigo vamos examinar como a psicanálise explica os conflitos e tabus na sexualidade, incluindo as relações sexuais, desejos reprimidos, e a teoria de Freud sobre a libido. Entenda como os complexos de Édipo e a repressão sexual influenciam as relações afetivas e o comportamento sexual." “A relação sexual não existe” — diz Lacan categoricamente. Para abordar esta questão um tanto complexa, podemos nos referir ao vínculo social, às relações que existem. Esse laço pode ser dimensionado a partir daquilo que conhecemos como estrutura. Se o tomarmos deste último ponto de vista, dizemos que o laço social é uma forma de ligação com o ''Outro''. Uma forma de vínculo, uma das versões destas alianças que existem entre os sexos, homens e mulheres. Precisamos ter em mente, que para Lacan, que cunhou o termo no seu Discurso do Seminário 17, “O Reverso da Psicanálise” — o que se pretende com a noção de ''discurso'', é formar uma ficção, uma fantasia. O que, em última análise, permite isso, entre o imaginário e o simbólico) na ligação da nossa sexualidade. No entanto, esta conexão entre estes dois elementos autônomos, difere das concepções biológicas, teológicas ou culturais. No campo Psicanalítico, este elo, homem-mulher, está situado em relação a uma lógica fantasmagórica, onde ambos estamos unidos pelo nosso fantasma, entendido isso, como uma singular modalidade de satisfação do impulso de cada um. "O Outro, tão desejado, é sempre um lugar de projeção, um espelho onde nossas fantasias se materializam e nossos medos se escondem." — Dan Mena.

Existe uma teoria psicanalítica da sexualidade? Qual é o alcance da noção de sexo na Psicanálise? Como se articulam o desejo, amor e o gozo na experiência da análise? Porque mesmo que não haja relação sexual, como afirma Lacan, ainda existem relações sexuais no plural, numa sociedade que facilita cada vez mais orgasmos banais? Boa leitura. "O vínculo entre os sexos, para a psicanálise, é mais do que biológico; é o palco onde a linguagem e o inconsciente dançam em descompasso." — Dan Mena.

"Ao dizer que 'não há relação sexual', não se nega o amor, mas simboliza a impossibilidade de um encaixe absoluto entre os sujeitos." — Dan Mena.
"A inexistência de uma fórmula perfeita para o amor, é o que dá ao encontro dos laços afetivos sua complexidade e mistério." — Dan Mena.

Antes de começar, se é um fato que para nós Psicanalistas é difícil ler, se chama Lacan, logo imagino para vocês, (juro que tento um humanês), uma das razões que dificulta a compreensão da obra é o seu modo de escrever. Ele o faz de uma forma que não leva a uma posição claramente definida, nos desafia a um pensar. Seu estilo de escrita, usualmente empregado, se diferencia muito da obra de Freud. Por outro ângulo, figura entre os mais importantes Psicanalistas do século XX, e a leitura da obra Freudiana, que a partir da filosofia Hegeliana, da linguística Saussuriana e dos trabalhos de Levi-Strauss, deram origem a uma das principais escolas da Psicanálise Francesa. "A inexistência de uma fórmula perfeita para o amor, é o que dá ao encontro dos laços afetivos sua complexidade e mistério." — Dan Mena. Aprendi assim: temos primeiro que quebrar a cabeça, abandonar nossa forma clássica de pensar, logo, para compreender sua magnífica obra, precisamos escapar da nossa própria retórica, fugir da armadilha do pensamento, para posteriormente se deixar prender na dele. Para captar as teorias de Lacan, especificamente neste tema, é preciso lembrar que na frase original, ele, de forma traduzida ao português, expressa: “Não há relação sexual”, aqui o analista francês utiliza a palavra ''rapport''. Apesar de ser tradicionalmente traduzida como “relação”, na língua francesa, a palavra designa uma associação de complementaridade, de encaixe, onde os elementos, são mutuamente equilibrados e proporcionais. Seria esse um encaixe perfeito?. Nesse sentido, quando Lacan diz… que “não há relação sexual”, o que ele está dizendo, é que no campo do amor, não encontramos relações que se encaixem com perfeição. Em outras palavras, não se alcançam os pares perfeitos. Na sua leitura, a inexistência da relação sexual, significa que não perdura, não existirá, nunca existiu, uma fórmula mágica para termos relações amorosas harmônicas e plenamente satisfatórias. "Ao dizer que 'não há relação sexual', não se nega o amor, mas simboliza a impossibilidade de um encaixe absoluto entre os sujeitos." — Dan Mena.

A imensa maioria dos animais está submetida a ciclos biológicos afetivos-sexuais pré-definidos, mas o mesmo não acontece conosco, os humanos, onde a ausência de um instinto sexual irracional faz com que a nossa maneira de desejar e de amar seja singular e única. O encontro entre duas pessoas também representa o encontro desses dois mundos, absolutamente diferentes, que não foram moldados ao longo da vida para se completarem, e dessa forma, o encaixe impecável é impossível. Por isso, é necessário, antes de mais nada, decidir amar, para começar a aprender a melhor forma de se adaptar ao outro. Portanto, onde há uma adaptação, existe algo fora do que seria natural. Lacan fala das fórmulas de sexuamento, para se referir a estas posições sexuadas. "Nosso desejo, por não ser regido por instintos pré-definidos, transforma o amor em uma escolha, uma construção contínua de adaptações." — Dan Mena. Assim, do lado masculino encontramos aquelas maneiras de gozo que são todas fálicas (ligadas ao pênis). Enquanto no lado feminino, o gozo seria desdobrado, sendo não só o gozo fálico, mas também um deleite suplementar. O que é obtido na modalidade de gozo é sempre o do próprio corpo. Por exemplo: o homem, para apreciar a mulher sexualmente, se liga a um objeto corporal dela, a uma característica, exemplo; os seios, a bunda, a boca, etc. Ele transforma esse elemento fetiche para o seu gozo, e assim desfrutar do seu órgão.

Quanto ao lado feminino, algo mais acontece, por um lado, pode apontar para um assunto relacionado com a imaginação ou fantasia, uma vez que também existe uma relação com o falo, (pênis), mas por outro, trilha para algo diferente. Este ''algo'' é a palavra, para ela, (a mulher), exemplo: frases de amor, declarações, gestos, são importantes, e para poder desfrutar disso, ela precisa transpassar isso pelo amor. Assim, do lado masculino, o amor e o gozo estariam separados. Uma mulher pode ser amada como um sujeito para um homem, mas para a apreciar, ele a degrada um pouco, desfruta dela como um objeto, um símbolo da sua fantasia.

"O homem separa o amor do gozo; a mulher os entrelaça, construindo um território onde o simbólico dá sentido ao prazer." — Dan Mena.
"Nosso desejo, por não ser regido por instintos pré-definidos, transforma o amor em uma escolha, uma construção contínua de adaptações." — Dan Mena.

"O homem separa o amor do gozo; a mulher os entrelaça, construindo um território onde o simbólico dá sentido ao prazer." — Dan Mena.  Do lado feminino, porém, acha-se uma dimensão onde o amor e o gozo estariam unificados. Ela goza de amor, com amor. É nesta direção que não há correspondência entre os sexos, uma vez que cada um goza à sua maneira, do seu jeitinho, razão pela qual Lacan diz, que a relação sexual ''não pode ser escrita''. Não levar em conta estas diferenças estruturais, e querer colocar-se numa posição de igualdade imaginária, que resulta muitas vezes num mal-entendido entre os sexos. A diferença, não deve, nem pode ser confundida com a desigualdade, a dissemelhança deve ser combatida, a diferença não deve ser misturada, principalmente nas leituras psicanalíticas. “No campo feminino, o amor se torna condição para o gozo, atravessando o corpo e alcançando o território simbólico da palavra.” — Dan Mena.

Poderíamos dizer então que não há nenhuma relação sexual? Significa que não existe no homem nenhum programa natural que lhe permita viver a sexualidade de uma forma harmoniosa? Alguns discursos tentam escrever a relação sexual com base numa relação com a natureza. A narrativa da religião se inscreve na sexualidade com base na procriação. Freud se encarregou de separar a naturalidade e a procriação do desejo da criança, de mostrar as primeiras experiências de satisfação e gozo que nada têm a ver com a procriação, embora a procriação e o gozo não sejam mutuamente exclusivos. No discurso "sadiano" também se tenta apelar à naturalidade, ao pensar sobre a sexualidade humana. "A tentativa de naturalizar a sexualidade, seja na religião ou no discurso sadiano, falha ao ignorar a complexidade do desejo, que vai além do biológico." — Dan Mena.

A sexualidade é concebida por Sade, nas suas obras (The Boudoir, Juliette), como o direito de usufruir de todos os corpos, mesmo sem o consentimento do sujeito em virtude de uma lei natural. É o oposto do discurso da religião e de uma filosofia que leva a um pedido de desculpas, por tentar forçar aquilo que o corpo quer. Lacan fará uma interpretação do discurso Sadiano, mostrando que o Marquês de Sade, nos dá uma nova face do Superego, como uma exigência de gozo. Ele dirá no Seminário XX: “Nada obriga ninguém a gozar, exceto o superego. O superego é o imperativo do gozo: "Goza!” Lacan, situa neste aspecto o Superego no campo do gozo, que pode ser apresentado como um dever, que forçará o corpo empurrando-o. Nesta perspectiva Sadiana, o apelo à naturalidade pode estar ao serviço de uma exigência do gozar, que pode conduzir aos maus tratos dos corpos.

A tese amplamente aceita de Lacan, inclui uma disfunção na sexualidade que se refere a três termos: amor, desejo e gozo, que se jogam papéis de forma diferente em homens e mulheres. Cada um, aspira a uma certa convergência entre estes três termos, mas o sintoma aparece onde existe um buraco ou talvez ausência, e pode ser a causa do sofrimento e do desconforto que muitas vezes experimentamos. A relação não sexual, tem a ver com o fato desse impulso não estar relacionado ao ''Outro'', ao contrário do desejo, que sim o acompanha. Lacan, confiará em Hegel para definir o desejo como desejo do ''Outro'', uma excitação que se articula com o sujeito, enquanto a pulsão, não o tem em conta, se satisfaz por si própria. Por fim, cabe ressaltar, que em cada encontro sexual que provocamos, o desejo é estruturado inconscientemente, mesmo antes de encontrarmos um parceiro idealizado ou não, lembre, através do fantasma singular citado anteriormente, ditando às regras da relação estão: o êxtase, a sedução, ciúmes, possessão, inibição, ódio, etc. Cada ato sexual, envolve pelo menos quatro pessoas, porque não só os amantes estão presentes nela, mas cada um deles, é assistido no seu inconsciente por seu fantasma correspondente, então, somos sempre quatro. "Cada ato sexual envolve não só os corpos dos amantes, mas também os fantasmas inconscientes que os governam, fazendo de cada encontro um jogo de quatro pessoas, num cruzamento de desejos e pulsões." — Dan Mena.

"Cada ato sexual envolve não só os corpos dos amantes, mas também os fantasmas inconscientes que os governam, fazendo de cada encontro um jogo de quatro pessoas, num cruzamento de desejos e pulsões." — Dan Mena.
“No campo feminino, o amor se torna condição para o gozo, atravessando o corpo e alcançando o território simbólico da palavra.” — Dan Mena.

Vamos então efetuar uma síntese. É suficiente descrever o que acontece e o que não, é o que se imagina que possa acontecer. Há corpos, há inconsciência, há fantasias, fetiches e prazeres. Não nos encaixamos, isso vale de um para o outro, homem-mulher, (sem deixar de fora qualquer outra relação de gênero possível) o que demandaria de um capítulo à parte. Não nos complementamos, nem nos unimos, nem fundimos, isso independe das leituras específicas de cada relacionamento. Pelo menos não ao nível do gozo, que é, afinal de contas, e o que conta neste artigo. É através do encontro com o corpo do outro, que chegamos ao nosso próprio modo de gozo e prazer. E é a partir dele, dessa estrutura inconsciente, que articulamos nosso desejo, do qual certamente desfrutamos, cada um da sua maneira. Assim, nos beneficiamos de si próprios. Juntos, se necessário, mas cada um com sua parte, seu lugar. Mesmo que essa estrutura exista para satisfazer o outro, se pensarmos no que faz, veremos que não se pode realizar outra coisa, senão satisfazer a própria fantasia de saciar o ''Outro''. Abreviando… é sempre nosso próprio inconsciente que se satisfaz, um inconsciente do qual, é de resto por definição, também não sabe. Como vemos, não é a satisfação que se interpõe, porque podemos perfeitamente criar sua expressão e configuração, mas sim a complementaridade do seu encontro e entornos. O que de fato é um impossível, é falar na unificação, pois onde há dois sujeitos, haverá sempre duas máquinas particulares, singularmente desejantes, que só escutam a si mesmas. “A complementaridade, ou a tentativa de união total entre os sujeitos, é impossível, pois cada um, no fundo, é uma máquina particular e singular de quereres que escuta apenas a si mesma(o).” — Dan Mena.

Para quem decide amar, o amor oferece riscos, assim o descreve Gibran no seu poema:

O amor.

“Ele vos debulha para expor vossa nudez.

Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.

Ele vos mói até a extrema brancura.

Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.

Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma

No pão místico do banquete divino.

Todas essas coisas, o amor operará em vós

Para que conheçais os segredos de vossos corações

E, com esse conhecimento,

Vos convertais no pão místico do banquete divino”.

Fontes Utilizadas e Autores:

Freud, Sigmund. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade .

Lacan, Jacques. Os Escritos .

Karen Horney. Neurose e Desenvolvimento Pessoal .

Guilherme Reich. A Psicologia do Corpo .

Erich Fromm. A Arte de Amar .

Júlia Kristeva. Poderes do Terror .

John Money. Identidade de gênero e sexualidade .

Sigmund Freud. O Ego e o Id .

Até breve, Dan Mena. 

Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Todo o conteúdo deste site, incluindo textos, imagens, vídeos e outros materiais, é protegido pelas leis brasileiras de direitos autorais (Lei nº 9.610/1998) e por tratados internacionais. A reprodução total ou parcial, distribuição ou adaptação dos materiais aqui publicados é permitida somente mediante o cumprimento das seguintes condições:


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