Mundo Líquido.
- Dan Mena Psicanálise
- 2 de mar. de 2024
- 25 min de leitura
Atualizado: 30 de nov. de 2024
“Em um mundo onde as certezas se dissolvem como areia entre os dedos, nosso ego é confrontado diante da necessidade de encontrar significado em meio ao caos, eis, o mal-estar da civilização contemporânea'' Dan Mena.

Entre a Fluidez e a Autenticidade Perdida.
No tumulto incessante dessa retórica da qual somos absolutamente protagonistas, vemos as estruturas tradicionais se esvaindo. Conceitos individuais antes muito sólidos, parecem agora tão fugazes quanto a brisa de verão, surge então a necessidade urgente de compreendermos não apenas esses fenômenos externos que nos afetam, mas também, os intrincados labirintos psíquicos aos quais devemos enfrentar diante dessas radicais mudanças sociais e culturais. É neste contexto vertiginoso e desafiador que me proponho embarcar em uma breve jornada de investigação psicanalítica do mundo atual, inspirado pelas perspectivas inovadoras de Bauman, que certamente se serviu profundamente de Freud é sua obra; ''O Mal-estar na Civilização''. A cada esquina dessa ''modernidade líquida'', surgem perguntas inquietantes que ecoam nas nossas mentes: quem sou eu, em um tempo onde as identidades se desfazem e se reconstroem como nuvens passageiras? Como encontrar segurança e estabilidade em meio à fluidez incessante das relações sociais e culturais? O que significa ser, em uma era permeada pela virtualidade, artificialidade, mediocrização e vulgarização?. Assim, convido você a me acompanhar, sob a ótica atenta e aguçada da psicanálise, mergulhemos nas profundezas da mente, explorando os desejos que reprimimos, os conflitos inconscientes e mecanismos de defesa que moldam nossas percepções e ditam comportamentos. Nesse adentrar, encontraremos as sementes do eu, que entrelaçados com as teias do universo ao nosso redor, que nos instigam, incitam, estimulam, provocam e reptam. Neste artigo, além da análise estrutural embaçada nos dois livros apontados, utilizarei, em primeira mão, trechos do meu próximo livro;
100 Respostas para a Vida Contemporânea - por Dan Mena.
Boa leitura.
Antes de desenvolver e estender o tema, quero abrir um quadro e chamar a uma ponderação de autoconsciência coletiva. Sem nos colocarmos numa posição cômoda de achar culpados para às queixas, impugnações, protestos e objeções que possamos ter quanto a vida que transcorre atualmente, e sem permitir, que tais sejam transferidas sem reflexão:
10 perguntas-chave de autoconsciência que podem ajudar nesse processo. Qual a nossa responsabilidade?
1 - Como minhas escolhas e ações contribuem para a dinâmica da modernidade líquida?
2 - Estou disposto(a) a questionar os valores e normas da sociedade atual, mesmo que sejam amplamente aceitas?
3 - De que maneira minha busca por segurança e estabilidade impacta minha liberdade individual?
4 - Estou consciente das relações de poder e desigualdade que permeiam as interações sociais nestes dias?
5 - Até que ponto minha identidade é influenciada pela pressão da conformidade social e pela busca por validação nas redes sociais e na cultura do consumo?
6 - Como posso cultivar relacionamentos significativos em um ambiente caracterizado pela superficialidade e transitoriedade?
7 - Estou disposto(a) a assumir a responsabilidade pelas consequências de minhas ações, mesmo em um mundo onde a culpa muitas vezes é diluída e deslocada para outros?
8 - Qual é o papel da tecnologia na minha vida e como posso garantir que ela não me aliene ou me distancie das experiências autênticas?
9 - Como posso contribuir para a construção de comunidades mais solidárias e resilientes em meio à fragilidade das estruturas sociais contemporâneas?
10 - Estou aberto(a) a repensar constantemente minhas crenças e valores à luz das mudanças rápidas e imprevisíveis que circulam?
O Legado que Habitamos
Freud foi pioneiro em nos deixar um patrimônio de visões sobre a nossa natureza, assim nos revelou os recônditos do inconsciente e as dinâmicas entrelaçadas das relações interpessoais. Mais adiante, em paralelo literário com Zygmunt Bauman, renomado sociólogo da nossa era que nos brindou com a metáfora do “mundo líquido”, enfatizando a transitoriedade, inconstância, fragilidade, variabilidade e flutuação das estruturas sociais na era da globalização. Convocarei então algumas frases célebres desse trabalho, de forma que possamos ampliar rapidamente o entendimento do conceito;
“A vida líquida é uma vida vivida em trânsito. Como uma viagem constante de um lugar a outro, de uma ocupação a outra, de um interesse a outro, de uma relação a outra.”
“No mundo líquido moderno, mudar, tornou-se a única constante.”
“Na era do 'líquido moderno', as certezas se dissolvem antes mesmo de se solidificarem.”
“No mundo líquido, nada é sólido, nada é permanente, e nada é confiável.”
“A fluidez é a norma, e a solidez se tornou a exceção.”
“Vivemos em uma época em que as formas sólidas de identidade, comunidade e moralidade, estão derretendo mais rápido do que conseguimos substituí-las.”
“No mundo líquido, o indivíduo se vê constantemente navegando em um mar de incertezas, sem pontos de referência fixos.”
“A modernidade líquida é uma era de liberdade individual sem precedentes, mas também de responsabilidade individual sem precedentes.”
“Em um mundo líquido, as fronteiras entre o público e o privado, o local e o global, o real e o virtual se tornam cada vez mais difusas.”
É sob essa perspectiva de diálogo entre a psicanálise freudiana e as análises sociológicas de Bauman, encontraremos boas respostas. Não pretendo apenas levantar questões provocativas, mas também viso oferecer caminhos para essa compreensão e a navegação dessas águas turbulentas.
Mais antes de fazer minha análise quero me fazer uma pergunta, e respondê-la numa síntese;
Seriam Freud e Bauman pessimistas sobre a época em que vivemos?
Creio que a visão paralela deles sobre este século possuí diversas nuances, pois embora ambos tenham expressado preocupações e críticas em relação à modernidade, não necessariamente devem ser considerados pessimistas irrestritos. Freud, por exemplo, em sua obra “O Mal-estar na Civilização”, discute os desafios e as tensões inerentes à vida em sociedade, destacando a inevitável conflituosidade entre os desejos individuais e as demandas impostas pela cultura. Ele identifica a civilização como um fator gerador de insatisfação permanente e sofrimento, principalmente, devido à necessidade imposta de repressão dos instintos, em prol da suposta pacífica convivência social, obviamente, o que vemos está desfigurado como uma utopia, guerras, fome, desigualdade, etc. No entanto, ele também reconhece aspectos positivos da atual civilização, como o progresso científico e tecnológico, que contribuem de alguma maneira para o bem-estar…(de alguns). Já Bauman, em sua teoria do “mundo líquido” também traz uma crítica da modernidade, enfatizando dita inconstância das relações sociais, culturais e institucionais. Ele aponta para os efeitos desestabilizadores da globalização, do consumo e da individualização, que geram sentimentos de alienação, ansiedade, depressão e incerteza. Destarte, reconhece nossa capacidade de adaptação e criatividade dentro desse amplo contexto, e sugere várias possibilidades de resistência e reinvenção necessárias. Portanto, embora Freud e Bauman tenham delineado críticas contundentes à modernidade, suas análises, das quais compartilho, não são meramente pessimistas, mas sim reflexivas, ponderadas e articuladamente complexas, reconhecendo, tanto os desafios, quanto às potenciais oportunidades oferecidas. Particularmente, vejo transformações dessa subjetividade em um ambiente marcado pela fragmentação, onde os impactos psicológicos da hiper conexão digital, os dilemas éticos da virtualidade, incluindo às implicações emocionais das irresoluções, ambiguidades e instabilidades constantes. Neste artigo, não me proponho oferecer respostas definitivas, claro que seria uma pura fantasia minha tentar, mas sim, pretendo, quero estimular questionamentos e gerar pensamentos. Ao final, espero que o meu leitor se sinta mais capacitado para enfrentar melhor os desafios do século XXI com mais clareza, discernimento e resiliência emocional. Claro, que não pretendo concordância.
“O mundo líquido desafia o ego a encontrar estabilidade em um mar de incertezas'' Dan Mena.
''As conexões da nossa espécie neste século, refletem o conflito entre o princípio do prazer e o da realidade'' Dan Mena.
''Na fluidez do mundo contemporâneo, enfrentamos a tarefa de encontrar estabilidade em um ambiente volátil, um desafio que ecoa sobre a vida em sociedade.” Dan Mena.
A Metáfora de Bauman
Essa concepção sob o olhar intrigante e penetrante da natureza da modernidade e suas complexidades se debruçam em uma obra prolífica. A translação desse “mundo líquido” é uma forma de descrever uma transitoriedade fragilizada nas diversas relações. Ao invés de estruturas estáveis, Bauman enxerga uma realidade frouxa, onde certezas são efêmeras, e suas fronteiras permeáveis. Nesse contexto, normas e valores são moldados pela volatilidade e pela mudança incessante. Uma das principais características dessa essência, radica na velocidade com que ditas variações ocorrem. Conversões, transições e reformas andam a um ritmo acelerado, nunca vistas, quase alucinantes. Desafiam às bases tradicionais e exigem de nós uma adaptação constante e impossível de ser absorvida e acompanhada integralmente, sejam pelos indivíduos quanto das instituições. Essa imprevisibilidade que geram, torna difícil a formulação de projetos de longo prazo e alimentam a cultura do descartável, onde tudo é facilmente substituível e nada é duradouro. Além disso, tais características apontam para a desintegração crescente da sociedade, na medida que laços comunitários e as ligações se enfraquecem, dando lugar a uma cultura do ''eu'', centrada no consumo e na busca pelo prazer imediato e urgente. Essa atomização social conduz à solidão e à alienação, à medida que como sujeitos nos vemos isolados em um mar de conexões frívolas. Por outro ângulo, o mundo líquido oferece possibilidades de liberdade e inventividade sem precedentes. O escoamento das fronteiras, e a quebra das normas tradicionais permitem a emergência de novas formas de identidade e expressão, desafiando as hierarquias estabelecidas, quebrando paradigmas e possibilitando a criação de novos caminhos e narrativas de vida. Essa ambivalente emancipação, também traz consigo responsabilidades, pois somos concatenados com a necessidade de construir o próprio sentido de identidade e pertencimento em um mundo agressivamente mutante.
O Inconsciente e os Dilemas da Sociedade Atual.
Desde o advento da psicanálise, as teorias de Freud sobre o inconsciente exercem uma influência cavada no entendimento que temos sobre às multiplicidades da mente, por extensão, devemos incluir dinâmicas sociais e culturais da sociedade. Logo, estou falando dos processos psíquicos que ocorrem abaixo do nosso nível consciente, lugar que Freud ofereceu como uma revolução ao respeito dos impulsos, desejos e conflitos que moldam ditos comportamentos. Esses princípios, continuam a ser fundamentais para compreendermos os dilemas contemporâneos. A concepção do inconsciente como uma região da mente onde os desejos reprimidos atuam, os traumas não resolvidos e os impulsos instintivos primitivos da espécie. Estes, por sua vez, se alocam exercendo uma influência poderosa sobre nossas condutas, atitudes, maneiras, modos, procedimentos, hábitos e procederes conscientes. As tensões entre o id, o ego e o superego, continuam a ser importantes para entendermos os embates internos e as escolhas que fazemos. A noção de que o inconsciente é, na maioria, desconhecido para o sujeito consciente, tem implicações para nossa compreensão das motivações e das interações práticas do dia a dia. Em um mundo cada vez mais digitalizado, interações acontecem de forma virtual e rasas, nos alertando de alguma forma sobre a dimensão e magnitude de olhar para além das aparências, máscaras utilizadas e das representações utilizadas. Por isso, devemos saber interpretar as verdadeiras dinâmicas psicológicas em jogo. Outro aspecto central dessas observações, reside na ideia de que a sexualidade desempenha um papel fundamental na formação da personalidade e na estruturação das relações sociais. Tal prisma, tem sido objeto de críticas e revisões ao longo do tempo, partindo da percepção de que nossos desejos sexuais e afetivos, têm um papel considerável na sua idiossincrasia, continuando a ser relevante para entendermos os enredos das conexões íntimas, bem como as normas e tabus que regem a expressão do erotismo.
A Identidade Desconstruída na Era Digital.
Dominados pela tecnologia e pela mídia digital, a questão da identidade e personalidade, assumem uma importância ainda maior. A fragmentação do self, ou seja, a divisão da identidade em múltiplos papéis, personagens e personas online, se tornaram uma característica marcante da nossa experiência interativa. Nessa paisagem virtual, onde as fronteiras entre o público e o privado são agora correntes, e as interações ocorrem banalmente, somos confrontados com a tarefa de construir e manter uma identificação coerente em meio a uma miríade de influências manipuladoras e expectativas sociais, geralmente fantasiosas, desonestas e maquiadas. Somos alvos inconscientes de uma pressão que exige projetar uma imagem idealizada de si nas redes, que nos empurram e levam à alienação e ansiedade, na medida que nos esforçamos para se encaixar em padrões surreais, imagens irreais de felicidade, sucesso forjado, modelos artificiais de beleza e participar de afinidades indesejadas. Além disso, a exposição constante a uma torrente de informações e estímulos, sobrecarregam nossos mecanismos de defesa psicológica, nos tornando pessoas vulneráveis à influência emocional. A falta de privacidade e a exposição constante ao julgamento e avaliação dos outros, podem minar nossa autoestima, pois vivendo uma mentira, afundamos facilmente a confiança do self autêntico. Por esta razão, os mecanismos de defesa psíquica continuam a ser pertinentes para entendermos os enredos da identidade na era informática. Ao examinar às maneiras pelas quais os desejos reprimidos se expressam, os traumas não resolvidos e as ansiedades inconscientes que se manifestam nas interações eletrônicas, podemos ganhar dicas valiosas, estudando sobre os desafios necessários na busca por uma identidade autêntica e significativa em pró de um mundo que se mostra cada vez mais disfarçado, dissimulado e osco.
Relacionamentos Líquidos - Amor, Intimidade e Conexão.
O Que é “Amor Líquido”?
Esse termo, introduzido por Bauman, descreve a natureza instável dos relacionamentos atuais. Na era da modernidade líquida, as relações são caracterizadas pela falta de consistência e permanência, se assemelhando a líquidos que se adaptam, escorrem e fluem, em contrapartida, das estruturas sólidas de outrora, regulares e uniformes. Nas redes sociais, chats e aplicativos de namoro, os diálogos se tornaram descartáveis, indivíduos são tratados como mercadorias que podem ser trocadas por opções mais atrativas. Relacionamentos na era digital oferecem oportunidades únicas para a auto exploração e reinvenção pessoal, permitindo que os indivíduos experimentem diferentes formas de conexão e identidade. Se examinamos essas tendências sociais atuais, podemos ver como o conceito de “amor líquido” se manifesta nos relacionamentos atuais, onde a volatilidade é predominante. Isso nos permite analisar como essas dinâmicas afetam a vida cotidiana, influenciando nossas escolhas e experiências emocionais. Ao entender melhor o conceito, podemos antecipar e responder aos desafios dos relacionamentos na era digital, buscando maneiras mais autênticas e significativas de se conectar com outros.
Desejo e Satisfação Instantânea.
Essa análise crítica da modernidade líquida que faço apoiado, expõe a dinâmica da cultura do consumo e sua influência na sociedade. Abordar dito contexto é destacar o papel do desejo e da satisfação momentânea na formação dessa cultura muito atual. Vejamos suas principais características;
1. Cultura do Consumo: Vivemos uma era onde a demanda consumista se tornou central na organização da vida social. Sua cultura se caracteriza pela busca incessante de novas vivências, produtos e prazeres intermináveis, alimentada por uma constante insatisfação e pela promessa de gratificação súbita e passageira. “A cultura do consumo nos leva a gastar dinheiro que não temos, para comprar coisas que não precisamos, a fim de impressionar pessoas que não nos importam.” Hamilton.
2. Desejo e Insatisfação: O motor que impulsiona essa dinâmica é o desejo, constantemente estimulado pela mídia, publicidade e cultura popular, nos levam a buscar interruptamente novas formas de impossível satisfação. No entanto, essa procura infindável pelo próximo produto ou experiência leva à insatisfação crônica, já que a satisfação é sempre provisória e temporária. “O homem só pode chegar ao gozo por meio do desejo, mas o desejo é estruturado como uma falta, e é essa falta que o constitui como sujeito.” Lacan.
3. Satisfação Passageira: Na premissa do consumo, a gratificação súbita se tornou praticamente uma exigência. Com a proliferação de produtos e serviços acessíveis com apenas alguns cliques, esperamos gratificação imediata para os desejos e necessidades. No entanto, essa busca leva à superficialidade e à falta de significado nas experiências de compra. “O homem é um ser incompleto, buscando incessantemente a completude, mediante objetos e relações fugazes que apenas proporcionam uma satisfação temporária.” Fromm.
4. Consequências Sociais e Individuais: Socialmente, ela perpetua a desigualdade e a exclusão, já que o acesso aos bens e serviços desejados muitas vezes é restrito a uma minoria privilegiada. Individualmente, sua busca leva à alienação, ansiedade e falta de sentido na vida. “A mente do indivíduo é um reflexo da sociedade em que ele vive.” Horney.
5. Possibilidades e Resistência: Apesar dos desafios apresentados, há espaço para alternativas e pertinácia. Através da reflexão crítica e da ação coletiva, podemos desafiar essas estruturas pré-estabelecidas, quebrando normas e valores dessa manipulação, buscando formas mais autênticas de satisfação e realização pessoal, pleiteando uma vida mais significativa e autêntica. ''As possibilidades são sementes de potencial que residem em nós, esperando serem nutridas pelo solo fértil da autoexploração e do crescimento pessoal''. Dan Mena - ''A resistência é o escudo que erguemos contra as mudanças, uma defesa contra o desconhecido e o desconforto que vem com a transformação''. Dan Mena.
A Dicotomia entre a Hiper conectividade e a Solidão Existencial.
“A solidão é parte integrante e indissociável da experiência humana.” Freud
Freud explora a solidão existencial como uma condição inerente à psique humana, resultante do conflito entre os desejos individuais e as demandas sociais. Ele enfatiza como os conflitos internos e traumas podem levar à alienação e desconexão emocional.
“Vivemos em uma era onde as conexões são abundantes, mas a intimidade é rara.” Bauman.
“Mesmo em um mundo hiper conectado, muitos de nós nos sentimos sozinhos.” Dan Mena.
A presença de conexões virtuais não conseguem preencher os vazios emocionais. A exposição de vidas aparentemente perfeitas dos outros nas redes aumenta a sensação de inadequação e isolamento. “A conexão digital pode ser uma forma de evitar a confrontação com a solidão, mas raramente é uma solução.” Esses mecanismos de defesa são utilizados para lidar com a solidão existencial, como uma forma de evitar a confrontação com a solidão.
O Preço de ser Objeto.
Então aqui, faço uma pausa; A contrapartida que podemos pagar é alta e irreparável. A OMS estima que mais de 264 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de depressão e que a ansiedade afeta cerca de 489 milhões de pessoas. Além disso, as taxas de suicídio, muitas vezes associadas a transtornos como ansiedade e depressão, aumentam em várias regiões do mundo, indicando uma crise crescente de saúde mental. É razoável supor, que os comportamentos e condições associadas estejam funcionais a essa condição. É essencial refletir sobre nossas escolhas e ações ao longo da vida, buscando cultivar relacionamentos significativos que possam oferecer apoio, conforto e sentido em todas as fases da existência. Somente assim, podemos mitigar os impactos negativos da fluidez moderna e encontrar verdadeira satisfação e realização na jornada da vida.
“O preço de ser um objeto é perder a capacidade de se reconhecer como sujeito.” Jessica Benjamin.
O que podemos enfrentar?
Solidão e Isolamento: Ao nos colocarmos como objetos de relações líquidas, arriscamos enfrentar uma transitoriedade marcada pelo insulamento, dado que usamos as conexões superficiais que não serão base sólida para relacionamentos resistentes. “A solidão não é meramente a ausência de outros, mas a profunda incapacidade de nos comunicarmos significativamente com os outros.” Winnicott.
Falta de Suporte Social: A falta de laços interpessoais significativos pode resultar em uma ausência de suporte social na medida que a idade avança, dificultando lidar com desafios físicos, emocionais e financeiros. “A ausência de apoio social é como estar em uma ilha cercada por tempestades, onde a solidão e o desamparo são as únicas companhias.” Lowen.
Perda de Identidade: Ao se basear em conexões efêmeras ao longo da vida, o indivíduo pode perder sua identidade autêntica e senso de pertencimento, o que pode se agravar, quando a busca por significado e propósito seja mais intenso. “A perda de identidade é como estar em um labirinto sem mapa, onde cada passo parece distanciar ainda mais o indivíduo de si.” Rollo May.
Dependência de Tecnologia: Acostumados com o uso da tecnologia como meio principal de comunicação e interação, podemos nos encontrar em desvantagem em algum momento da vida que se perca o trem da informática, quando as habilidades tecnológicas necessárias nos superarem, assim como aconteceu com nossos pais. “A dependência de tecnologia é a ilusão de conexão, enquanto, na verdade, estamos nos desconectando cada vez mais de nós mesmos e dos outros.” Turkle.
Vulnerabilidade Financeira: A falta de segurança financeira pode resultar em dificuldades econômicas e vulnerabilidade social futuras. “A vulnerabilidade financeira não se limita apenas à escassez de recursos materiais, mas também à fragilidade da autoestima e da segurança emocional.” Suze Orman.
Fragilidade Emocional: A ausência de conexões reais ao longo da vida, deixarão o sujeito emocionalmente vulnerável, aumentando o risco de depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental. “A fragilidade emocional é como uma ferida aberta na alma, exigindo cuidado e atenção constante para evitar que se torne uma cicatriz permanente.” Winnicott.
Desamparo Institucional: As estruturas sociais vão esmorecer inevitavelmente, sem um suporte adequado ficaremos à mercê de sistemas institucionais que nem sempre priorizam o bem-estar individual. “O desamparo institucional é o vazio deixado quando as estruturas que deveriam ser um porto seguro se tornam fontes de desespero e desconfiança.” Judith Herman.
Desafios de Saúde: A falta de apoio social e emocional pode agravar os desafios de saúde, dificultando lidar com doenças crônicas, incapacidades físicas e outras questões relacionadas à idade avançada. “Os desafios de saúde não são apenas físicos, mas também emocionais e psicológicos, exigindo uma abordagem holística que considere o bem-estar do corpo, da mente e da alma.” Rogers.
Falta de Propósito e Significado: A ausência de conexões sólidas ao longo da vida, vão afunilar em sensação de vazio e falta de propósito, quando desejemos encontrar significado e sentido nas experiências do passado. “A falta de propósito e significado na vida é como viver em um livro sem título, onde cada página parece vazia e sem sentido.” Fromm.
Arrependimento e Remorso: Ao refletir sobre uma vida marcada por relações superficiais, irão surgir sentimentos de arrependimento e remorso, questionando as escolhas feitas e os relacionamentos perdidos. ''O remorso é a sombra persistente do passado, uma lembrança dolorosa das ações que gostaríamos de desfazer''. Dan Mena.
A Ética na Era do Relativismo Moral.
''A ética na era do relativismo moral requer coragem para resistir à pressão da conformidade social e defender aquilo que acreditamos ser verdadeiramente justo e humano''. Dan Mena.
Estamos diante de um cenário ético marcado pelo fácil escoamento das normas tradicionais e dos valores, estes, desafiam nossas concepções consuetudinárias do certo e errado. O consonante moral parece prevalecer, onde as novas fronteiras entre o que é considerado ético e o que não é se tornam cada vez mais tênues. Surgem assim dilemas probos, que nos obrigam a repensar nossos fundamentos morais e a refletir sobre o significado da ética nestes tempos. Para compreendermos sua dinâmica é fundamental explorar o conceito de relativismo moral em si. Nesta linha entendo que essa proposta propõe que não existam verdades morais objetivas e universais, se argumentando que tais variam conforme o contexto cultural, social e individual. Esse ângulo, desafia as estruturas permanentes que fundamentam nossos sistemas honrados, colocando em questão a ideia de uma moralidade absoluta e imutável. Essa discussão das origens dos padrões morais são internalizados através do nosso processo de socialização, onde como indivíduos absorvemos os valores e regras da sociedade em que estamos inseridos. No entanto, Freud também destaca a existência de impulsos e desejos inconscientes que podem entrar em conflito com essas normativas, gerando sentimentos de culpa e ansiedade moral. Assim, sob a ótica freudiana, ética é entendida como resultado de uma interação entre as demandas sociais e os impulsos individuais.
Por outro lado, Bauman, oferece uma perspectiva igualmente relevante sobre os desafios éticos contemporâneos. Justifica, logo, que às normas morais regentes, se tornaram flexíveis e mutáveis, dificultando a definição de um conjunto estável de valores. A liquidez social promoveu uma sensação de incerteza moral, onde as pessoas são confrontadas com a tarefa de criar suas próprias éticas em meio a constantes transfigurações e metamorfoses. Um dos principais dilemas sobre o tema, diz respeito à noção de responsabilidade individual, numa aldeia, onde as fronteiras entre o certo e o errado são difusos. Sem uma base moral sólida para orientar nossas ações, somos correferidos com a difícil tarefa de tomar decisões éticas em situações ambíguas e relativas. Além disso, a rápida evolução da tecnologia e das mídias sociais levanta questões urgentes desta ordem, principalmente aquelas relacionadas à privacidade, à autenticidade e à disseminação de informações prejudiciais (fake news). Em face desses desafios, é imperativo refletir sobre o papel da ética, embora o relativismo moral possa nos desafiar a questionar nossas próprias crenças e valores, também, nos oferece a oportunidade de promover um diálogo ético mais inclusivo e plural. Ao reconhecer a diversidade de compreensões, interpretações e experiências, podemos desenvolver uma elasticidade possível, e caminhar para uma ética adaptável e adequada aos tempos, capazes de responder positivamente ao mundo moderno.
Portanto, a ética na era do relativismo moral apresenta desafios e dilemas significativos que exigem uma reflexão cuidadosa e uma abordagem crítica. Ao integrar ditas contribuições podemos desenvolver uma compreensão mais profunda dos fundamentos da moralidade e encontrar maneiras de promover uma ética mais responsável e compassiva em um mundo cada vez mais complexo e interconectado. Vejamos algumas citações em livros;
''A psicanálise nos leva a questionar se a civilização nos afasta ou nos aproxima de nossa verdadeira natureza, enquanto lidamos com as tensões entre o eu e o coletivo''.
''Ansiedade Revelada'' (2022) - Dan Mena.
“A civilização é um processo artificial e, portanto, capaz de ser modificado em qualquer direção, e de ser submetido a mudanças extremas. Na verdade, o próprio destino da civilização depende se os sucessos dos indivíduos em fazer ajustes éticos e sociais suficientes.”
“O Mal-Estar na Civilização” (1930) - Freud.
“A humanidade não renunciou a prazeres. Ela simplesmente adiou seu prazer, os substitui por outros que serão obtidos mais tarde. [...] A busca por satisfação ilimitada é o motor principal de nosso comportamento.”
“Totem e Tabu” (1913) - Freud.
“As normas morais dos indivíduos são determinadas pela sociedade na qual estão inseridos, e a violação dessas normas pode levar a sentimentos de culpa, conforme demonstrado pela teoria do complexo de Édipo.”
“Modernidade Líquida” (2000) - Zygmunt Bauman.
“Na modernidade líquida, os valores são fluidos e as fronteiras são permeáveis. Isso gera uma sensação de incerteza moral e uma falta de referências sólidas para orientar a conduta humana.”
“Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos” (2003) - Zygmunt Bauman.
“Em uma sociedade líquida, as relações humanas se tornam descartáveis e substituíveis. A rapidez das conexões digitais pode levar a uma superficialidade nos relacionamentos, onde os laços são facilmente rompidos.”
“Ética Pós-Moderna” (1993)-Ética Pós-Moderna” (1993) - Zygmunt Bauman.
20 Paralelos entre “O Mal-estar na Civilização” de Freud e; “Tempos Líquidos” de Bauman.
Sintetizando estes dois proeminentes pensadores, cujas obras transcendem as barreiras disciplinares, e, apesar das diferenças temporais e metodológicas, vejo o quanto ambos compartilham uma preocupação central com os dilemas e desafios que se nos apresentam. Neste ensaio, destaquei suas semelhanças, diferenças e contribuições para a compreensão da condição que atravessamos. Apesar das divergências em enfoques e conceitos, Freud e Bauman convergem em suas análises, reconhecem as tensões entre o indivíduo e a sociedade, bem como os efeitos nocivos da racionalidade excessiva, do consumismo desenfreado e da fragmentação social. Enquanto Freud se concentra nos conflitos intrapsíquicos e nas dinâmicas das relações sociais, Bauman, amplia o escopo para incluir as dimensões políticas, econômicas e culturais da vida. No entanto, há um fator afluente em seus discernimentos e críticas, à alienação, à ansiedade e o vazio existencial gerados pelo desenraizamento e pela desorientação da modernidade. Desta forma, nos convidam a repensar nossas premissas e valores, buscando caminhos para uma vida mais autêntica, significativa e solidária em meio às vicissitudes da modernidade.
Ao analisar suas obras em conjunto, fui realmente instigado a refletir sobre nossa existência, em um mundo marcado pelos seguintes diagnósticos que resumo abaixo;
Reflexão sobre a natureza da sociedade. Ambas as obras exploram as características fundamentais da sociedade moderna e suas consequências para os indivíduos. ''A psicanálise da sociedade contemporânea revela uma teia intricada de relações interpessoais, onde conflitos de poder e dinâmicas de dominação se entrelaçam com a busca por identidade e pertencimento'' Dan Mena.
Abordagem psicanalítica: Adotam uma abordagem psicanalítica para analisar os dilemas e conflitos que nos acometem na vida contemporânea. ''Ao investigar a natureza da sociedade atual, a psicanálise nos relembra da importância de examinar não apenas suas superfícies, mas também as camadas mais profundas e inconscientes que moldam nossas experiências e a dinâmica social'' Dan Mena.
Conceito de mal-estar. Discutem o fenômeno do mal-estar na sociedade atual, embora abordem de maneiras diferentes.'' O mal-estar na modernidade é alimentado pela incessante necessidade de aprovação externa, resultando em uma sensação de vazio existencial apesar das conquistas materiais'' Dan Mena.
Exploração do indivíduo: Esquadrinham brilhantemente como somos moldados pelas pressões sociais e culturais. ''A exploração do indivíduo nestes tempos, conforme evidenciada pela psicanálise, é uma manifestação da assimilação inconsciente de valores impostos pela sociedade, muitas vezes relegando nossa autenticidade em prol da adaptação e aceitação social'' Dan Mena.
Crítica à cultura consumista: Criticam a cultura do consumismo e seu impacto nas relações e na formação da identidade. ''Na nossa visão psicanalítica, a cultura consumista é criticada por fortalecer uma mentalidade narcisista e individualista, que mina os laços comunitários e contribui para a deterioração das relações interpessoais autênticas'' Dan Mena.
Análise da alienação: A abstração é o sentimento de desconexão que muitos experimentam na sociedade atual. ''A investigação que fazemos na psicanálise, evidencia como a falta de integração dos diversos aspectos da psique pode gerar um sentimento de estranheza em relação a si e ao mundo'' Dan Mena.
Discussão sobre a liberdade: Abordam a noção de independência, autonomia, emancipação, livre-arbítrio individual e como ela é limitada e distorcida na atualidade. ''A discussão sobre a liberdade vai além da mera ausência de restrições externas, abrangendo também a capacidade de nos libertarmos das amarras internas do passado e das ilusões que nos impedem de viver de forma autêntica e realizada'' Dan Mena.
Exame da felicidade e satisfação pessoal. Discutem as fontes de felicidade e contentamento pessoal em uma sociedade marcada pela incerteza. ''O exame que faço da felicidade e a satisfação pessoal é, um convite para uma jornada de autoconhecimento e autodescoberta, reconhecendo que a verdadeira realização reside na aceitação plena de nós mesmos, com todas as nossas contradições e imperfeições'' Dan Mena.
Abordagem crítica da cultura: Postulam uma abordagem depreciativa à cultura dominante e às suas normas e valores implícitos. ''Fazer uma abordagem crítica da cultura, é, para mim, enfatizar a necessidade de questionar as normas e valores dominantes, buscando assimilar como podem se perpetuar nas relações de poder e reproduzir de alguma forma às injustiças sociais'' Dan Mena.
Ênfase nas relações sociais: Destacam a importância das relações inter-sociais na formação da identidade e no bem-estar emocional.
''As relações sociais representam um componente essencial para o desenvolvimento emocional saudável, proporcionando um espaço para expressão genuína, compreensão mútua e apoio recíproco'' Dan Mena.
Discussão sobre a natureza do amor. Inquirem abertamente a natureza do amor e das relações afetivas em um mundo caracterizado pela instabilidade e transitoriedade. ''A natureza do amor, como um processo natural de busca por intimidade e conexão, refletem não apenas nossos desejos conscientes, mas também, necessidades emocionais profundas'' Dan Mena.
Análise da ansiedade e do medo. Analisam a ansiedade e o medo que permeiam a vida moderna e suas causas subjacentes. ''A ansiedade e o medo nos direcionam a averiguar os mecanismos psicológicos pressupostos, contidos e ocultos nessas emoções, destacando que podem surgir como uma resposta a ameaças reais ou mesmo imaginárias'' Dan Mena.
Exploração do conceito de civilização: Revisitam o conceito de civilização e suas implicações para o indivíduo e a sociedade na totalidade. ''A essência da concepção civilizatória moderna nos leva a meditar sobre os embates intrínsecos entre os nossos impulsos mais primitivos e as demandas da vida em sociedade, revelando grandes ambiguidades existentes na nossa condição'' Dan Mena.
Crítica à racionalidade excessiva: Desaprovam a ênfase excessiva na racionalidade e no progresso material em detrimento das necessidades emocionais e espirituais. ''À racionalidade excessiva contemporânea, impõe a urgência de que valorizemos a singularidade de cada indivíduo, nos afastando de uma visão estreita e uniformizadora da experiência singular'' Dan Mena.
Discussão sobre o papel do Estado: Discutem o papel do Estado na regulação da vida social e suas limitações na promoção do bem-estar da sociedade. ''O rol do Estado é uma oportunidade para interpretarmos como as estruturas de poder e autoridade afetam não apenas a organização da sociedade, mas também a subjetividade e a saúde mental dos cidadãos, exigindo uma abordagem sensível e integradora'' Dan Mena.
Análise da violência e da agressão. Examinam as raízes da violência e da agressão na sociedade contemporânea e suas manifestações individuais e coletivas. '' Sob a ótica clínica, devemos também compreender a violência e a agressão como expressões simbólicas de angústia emocional e desequilíbrios psicológicos laterais, demandando abordagens terapêuticas sensíveis e integrativas'' Dan Mena.
Crítica à cultura do individualismo: Centram críticas a cultura do individualismo e egoísmo que caracteriza os dias atuais. ''Realizar críticas à cultura do individualismo, impõe incluir a necessidade de equilibrar a autonomia individual com a interdependência social, reconhecendo a importância das relações interpessoais para o bem-estar psicológico do indivíduo'' Dan Mena.
Reflexão sobre a mortalidade: Discursam sobre a natureza da necrologia e suas implicações para a vida em sociedade. ''Refletir sobre a finitude da vida não é apenas aceitar o fim dela, mas também, poder encontrar significado e plenitude na vida, transformando nossa relação com a morte em uma fonte de sabedoria e gratidão'' Dan Mena.
Abordagem interdisciplinar: Adotam uma abordagem interdisciplinar, combinando insights da psicanálise, sociologia, filosofia e outras disciplinas para entender os desafios contemporâneos. ''Na perspectiva psicanalítica, uma abordagem multi clinica não apenas aprimora a nossa compreensão dos transtornos mentais e das dinâmicas sociais, senão que enriquece as intervenções terapêuticas e promove um diálogo mais amplo e inclusivo sobre as questões relacionadas à saúde mental e ao bem-estar psicossocial dos pacientes” Dan Mena.
Proposta de alternativas: Apesar de suas críticas à sociedade atual, oferecem reflexões sobre possíveis alternativas e caminhos de futuro para a transformação social e pessoal. ''Ao propormos alternativas para a vida moderna, na psicanálise ressaltamos a importância da conexão com a criatividade, da expressão artística e do contato com a natureza como elementos essenciais para nutrir a alma e restaurar o equilíbrio emocional em um mundo cada vez mais tecnológico e frenético'' Dan Mena.
Dualidade de Pensamentos
Embora abordem temas distintos e empreguem metodologias diferentes, Freud e Bauman compartilham uma preocupação comum com a condição humana e a sociedade moderna. Ambos os autores reconhecem as tensões entre o indivíduo e a sociedade, bem como os efeitos corrosivos da racionalidade excessiva, do consumismo desenfreado e da fragmentação social. Enquanto Freud se concentra nos conflitos intrapsíquicos e na dinâmica das relações sociais, Bauman amplia o escopo da análise para incluir as dimensões políticas, econômicas e culturais da vida contemporânea. No entanto, ambos convergem em sua crítica à alienação, à ansiedade e ao vazio existencial gerados pelo desenraizamento e pela desorientação da modernidade líquida. ''A carência existencialista que nos habita, pode ser transformada em uma jornada de autoexploração e crescimento pessoal, por meio do processo terapêutico analítico, que permite ao indivíduo reconhecer e integrar suas necessidades mais profundas'' Dan Mena.
O Papel da Psicanálise na Conscientização.
Como um campo plurifacetado estuda às complexidades da mente, desempenha logo um papel crucial na promoção da conscientização e na catalisação da mudança social. Através das lentes teóricas de figuras proeminentes como Jacques Lacan, Carl Jung e Melanie Klein, podemos ampliar e compreender a sua importância e abordagem na busca por uma sociedade mais justa e compassiva. ''O papel da psicanálise na conscientização vai além do consultório terapêutico, o fazemos extensivo à sociedade como um todo, ao desafiar padrões culturais e sociais arraigados, e ao fomentar um pensamento crítico e reflexivo sobre questões fundamentais da existência'' Dan Mena.
Contribuições de Lacan.
Influente psicanalista francês, destacou a interconexão entre a psique individual e a estrutura social mais ampla. Para Lacan, o sujeito é formado por meio do complexo processo de identificação com as normas e valores culturais dominantes, que por sua vez moldam as dinâmicas sociais e políticas. Seu conceito de “o outro” como agente formador da identidade ressalta a importância das relações interpessoais na construção do self. Assim, as teorias lacanianas fornecem uma base sólida para compreender como as questões individuais se entrelaçam com questões sociais, impulsionando a mudança em níveis múltiplos. ''A estrutura social não apenas molda os processos psicológicos individuais, mas também é moldada por eles, criando um ciclo dinâmico onde as percepções, emoções e comportamentos individuais se entrelaçam com o contexto sociocultural'' Dan Mena.
Perspectivas Junguianas.
Carl Jung, por sua vez, enfatizou a importância da individuação, o processo pelo qual o indivíduo íntegra aspectos inconscientes de si para alcançar um estado de totalidade psíquica. Em suas visões, a sociedade reflete o estado coletivo da psique e vice-versa. Ao explorar os mitos, símbolos e arquétipos presentes na cultura, Jung ofereceu uma compreensão profunda das forças subjacentes que impulsionam a mudança social. Ele nos lembra que a transformação individual é intrinsecamente ligada à transformação coletiva, sugerindo que a cura psicológica e a evolução social são processos interdependentes. ''A importância da individuação como uma jornada de diferenciação e autonomia, permite ao indivíduo se distanciar das influências externas e dos padrões sociais preestabelecidos, se tornando mais autêntico em sua essência'' Dan Mena.
Melanie Klein, por uma Sociedade mais Equilibrada.
Klein, se concentrou na compreensão das dinâmicas emocionais desde os estágios mais precoces da vida. Suas teorias sobre o desenvolvimento infantil e a importância das relações primárias na formação da personalidade nos oferecem conceitos valiosos sobre as raízes psicológicas das desigualdades sociais e injustiças. Ao explorar os processos de introjeção e projeção. Desta forma ilumina como os traumas individuais podem se manifestar em dinâmicas sociais prejudiciais, incluindo opressão e marginalização. Assim, suas contribuições ressaltam a necessidade de abordar não apenas as questões externas, mas também as internas, na busca por uma sociedade mais equilibrada e justa.''Ao reunirmos às necessidades de percorrer origens dinâmicas emocionais desde a infância do indivíduo, entendemos que as experiências de vinculação e apego na primeira infância estabelecem os alicerces dos padrões emocionais e de relacionamento na maturidade e ao longo da vida'' Dan Mena.
Estratégias para Enfrentar os Desafios Contemporâneos.
A psicanálise oferece uma variedade de estratégias para promover a conscientização e a mudança social. Através da psicoterapia individual e de grupo podemos explorar e transformar padrões de pensamento arraigados que contribuem para a perpetuação de injustiças. Além disso, a psicanálise política e a aplicada à cultura, fornecem ferramentas para analisar e intervir nas estruturas sociais que perpetuam a desigualdade e a opressão. A promoção da empatia, da compaixão e do diálogo aberto, também são componentes essenciais na construção da sociedade sensata. Vislumbramos, então, possíveis caminhos para reconciliar as tensões e contradições do mundo, sejam das instituições quanto da comunidade, na construção de um futuro mais sustentável e emocionalmente saudável para todos. ''A psicanálise visa identificar os mecanismos de defesa e as distorções cognitivas que perpetuam padrões disfuncionais, oferecendo introspecções, para desafiar e reestruturar os pensamentos de forma mais adaptativa e saudável'' Dan Mena.
Ao poema; Fluidez Urbana - por Dan Mena.
No fluir das ruas, na cidade imensa,
Ondas de concreto, vida que dispensa,
Raízes profundas, em solo baldio,
Na modernidade líquida, há muitos desafios.
Relações tão ágeis, como correntezas,
Emaranhado de redes, entre muitas mesas,
Afetos que passam como ventanias,
Na liquidez do tempo, floresce a agonia.
Em cada esquina, uma nova conexão,
Virtualidade da tela que domina,
Laços que se estreitam e logo terminam,
Fluidez do mundo, onde relações se esvaziam.
Marinheiros solitários em mares digitais,
Nas profundezas da tela, desafios banais,
Vidas que se entrelaçam, a agua desfaz,
Na era líquida, tudo é urgente, fugaz.
Em cada esquina, histórias se cruzam,
Vidas e destinos se conduzem,
Mas na multidão o vazio persiste,
A fluidez do tempo, a alma não resiste.
Assim seguimos, navegantes sem rumo,
Em um mar de incertezas, em constante prumo,
Da contemporaneidade nascemos espectadores?
Vivendo num mundo sem amarras, sem valores.
Até breve, Dan Mena.
Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.
Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.
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