O Superego.
- Dan Mena Psicanálise
- 14 de abr. de 2024
- 17 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
Desvende os segredos do seu inconsciente e liberte-se da tirania do Superego.
“Adota diversas formas, desde ser um mentor benevolente até um juiz implacável, conforme as experiências e influências que transitam pela nossa jornada pessoal.” Dan Mena. Por Dan Mena.

Poucos conceitos são tão substanciais e vitais para a compreensão da mente quanto a instância psíquica do Superego. Ele desempenha um papel relevante na formação da personalidade e na regulação do nosso proceder, atuação, práticas, hábitos e desenvolvimento de costumes. Como estrutura, se desenvolve a partir das identificações e introjeções das figuras genitoras e familiares. Essa invocação, que internalizamos na forma de regras, normas e proibições sociais, vão atuar, agir e operar como uma função crítica e avaliativa sobre o desempenho do Ego. Freud, em seu livro “O Ego e o Id”, o posiciona como herdeiro do complexo de Édipo, representando reivindicações e influências das gerações passadas e das tradições sociais recebidas. Seria esta uma exigência impositiva interiorizada, que nos guia em direção a uma trilha de conformidade e à moralidade obrigatória, forçosa e compulsória, como um conjunto, mas também, pode ser uma fonte de incertezas, conflitos e culpa. Seu hermetismo e escuridão intrínsecos, não apenas vai nos influenciar conscientemente, senão que, infiltrado no inconsciente, moldará nossas escolhas e desejos. Em sua manifestação prática, colide em diversas formas de sofrimento psíquico, desde ansiedade, crises de identidade, angústia e sintomas neuróticos.
Boa leitura.
Acho interessante antes de adentrar em leituras, dar dois exemplos lúdicos quanto a sua atuação e sua forma de manifestação;
Onde mora o Superego?
Imaginemos nossa mente como se fosse uma casa habitada por três pessoas muito especiais: o nome deles(as); Id, Ego e Superego. Cada um deles(as) tem uma função é um papel importante na maneira como essa casa é gerida e administrada.
Id é uma criança pequena, que só quer saber de se divertir, brincar e satisfazer seus desejos mais imediatos, como; comer doces o tempo todo, brincar sem parar e apenas fazer coisas que lhe proporcionem prazer. Ele(a) não se preocupa com regras, organização, horários ou com as consequências dos seus atos.
Ego, por sua vez, é um adulto responsável, ele(a) tenta equilibrar, harmonizar, adequar e articular os desejos de Id com a realidade. Ele(a) seria como o mediador da casa, tentando encontrar maneiras de satisfazer os desejos de Id seguramente, colocando tudo no caminho socialmente aceitável e ordenado.
Finalmente, entre os moradores da casa temos Superego, que seria como um professor ou tutor dentro dela. Ele(a) representa todas as regras, valores e normas que vamos aprendendo ao longo da vida, seja com nossos pais, professores, amigos e a sociedade. Superego está sempre muito atento(a), lembrando a Ego e Id o que é certo e errado, apropriado, oportuno, inadequado, pertinente, etc., muitas vezes, usando a voz da própria consciência.
Agora, vejamos um exemplo clínico:
Um paciente de nome João chega ao consultório se queixando de ansiedade extrema, sempre que precisa tomar decisões importantes em sua vida, como escolher uma carreira, se assume ou não um namoro, se continua a morar com seus pais ou sozinho, etc. Durante as sessões, descubro que ele tem um Superego muito escrupuloso e implicante, que o faz se perceber constantemente julgado e incapaz de satisfazer suas próprias expectativas. Ao longo do processo terapêutico, investigamos conjuntamente as origens desse Superego censurador e repreensor, descobrindo que ele foi internalizado a partir das expectativas elevadas de seus pais e da pressão social de familiares próximos que pressionavam para que ele atingisse sucesso nas suas empreitadas. Ele revela, que desde criança sempre foi cobrado pela perfectibilidade das suas ações, de ser bem-sucedido em tudo que fazia, o que gerou uma sensação constante de incoerência, dissonância e ansiedade existencial. Nas raízes desse Superego rígido e inflexível que o acompanha desde sua infância, ele pode gradualmente aprender a se libertar dessas expectativas irreais e a confiar mais em si e na tomada de decisões. Na terapia, João desenvolve uma voz interna mais compassiva e tolerante consigo mesmo, o que contribuirá para o reconhecimento das suas conquistas no seu tempo e forma, e a valorizar suas escolhas, independentemente do resultado, promovendo seu autoconhecimento e crescimento pessoal.
O herdeiro do complexo de Édipo.
Para fechar a didática, sendo o Superego herdeiro do complexo de Édipo, vamos a sua definição; Ele tem sua origem na fase fálica do desenvolvimento psicossexual, quando como crianças experimentamos desejos intensos em relação ao genitor do sexo oposto e o surgimento de uma rivalidade com o genitor do mesmo sexo. O termo “Édipo” é derivado da tragédia grega “Édipo Rei”, onde o protagonista, Édipo, mata o pai e se casa com a mãe, sem saber de sua relação de parentesco. Nesse contexto, o menino desejaria inconscientemente a mãe e se sentiria em competição com o pai pelo amor dela. Enquanto a menina, desenvolveria desejos pelo pai e competiria com a mãe pela atenção dele.
O sucesso dessa fase de resolução, será advinda do complexo de Édipo, fundamental para o desenvolvimento psicológico saudável da criança, pois permite a internalização das normas sociais e a formação do Superego.
O Superego não é uma entidade isolada.
Estabelecido na trama social e cultural em que estamos imersos, nossa moral elaborada individualmente, é também o reflexo das normas e valores que absorvemos da sociedade, que serão, adiante, reproduzidas pela influência do Superego coletivo. Essa interação entre o superego individual e o social, vão criar uma complexa rede de ícones, significados e simbolismos, que irão moldar, não apenas nossa vida interior, mas também, certamente, às interações relacionais, sociais e políticas. Para tanto, seguimos a acertada ideia freudiana de que o controle das pulsões, promovidas e impostas pela civilização moderna é prejudicial às prerrogativas e possibilidades de felicidade, devido às renúncias que tais nos exigem.
O conceito será, portanto, decisivo para compreender esse enigma da relação do sujeito com a lei e a origem da consciência moral. Visto, que não temos uma total disposição, muito menos inata para a tal da socialização, e que verificamos que uma criança não consentiria em domar por si suas pulsões autoeróticas e a agressividade característica para com seus pares, senão, que sua origem estará intimamente conectada ao medo de perder o amor e cuidados dos pais e cuidadores. Como dependentes que somos durante muitos anos das cautelas, atenções e prudências, estamos acampados inevitavelmente pelo medo do desamparo primitivo, um terror original ao nascimento, fato primário e impossível de ser eliminado pela própria concepção estrutural da existência da raça. Como tal, será ela a coluna vertebral pela qual naturalmente somos submissão à lei.
Porque nós submetemos?
No entanto, o medo primordial ao que me refiro não será suficiente, a verdadeira consciência moral surge quando estas ordens, limitações e proibições são interiorizadas sob a forma da instância superegoica. Quando isso acontece, não temos escapatória, porque é o próprio sujeito que se vigia a si, e não pode escapulir da sua patrulha pessoal. Mas há algo ainda mais surpreendente, sendo o fator preponderante dessa instância do Superego, em não distinguir entre a realização do ato real e o mero desejo pensado. Por outras palavras, como dizemos popularmente; não é crime pensar.
Será que é assim para o Superego?
Lamentavelmente isso não funciona desta maneira, ele produz um sentimento de culpa inconsciente em relação ao que não deveria passar de um devaneio ou desejo. Destarte, os quereres não podem ser eliminados pela nossa simples vontade, assim permanecemos inicialmente de causas a efeitos, todos culpados, mesmo por pensamentos, inclusive pelas elucubrações e ponderações das fantasias, que conforme o entendimento do Superego são absolutamente reais. Qualquer inclinação nossa ao imaginar, mesmo que seja tolhida, reprimida ou refreada, não irá se afastar da mente, permanecerá ativa e circulante no inconsciente. Por esta leitura, passamos a compreender o desarranjo que surge como uma comoção emocional de dívida diante do pecado original, que se hospeda em cada um de nós.
Estou certo que muitos já nos perguntamos; porque dessa submissão voluntaria a punições, escarmentos, castigos, obrigações e servidões desnecessárias.?
A resposta fica clara quando essa reflexão passa por esta jurisdição da constituição do ser como uma instância característica e distintiva do Superego, que produz tal suposta dívida pre-existente. Essa ponderação, responde inequivocamente ao fato de termos e estarmos sempre numa posição cativa e subjugada, concedendo complacência a dominações tirânicas ao longo da história.
O Superego não diferencia pensamento, ato ou desejo.
A verdadeira consciência moral se insurge quando ditas ordens, negações e impedimentos são interiorizadas pela instância superegoica; (é uma parte da mente que age como uma voz interior, ela internaliza as regras sociais e morais que aprendemos desde a infância. Um compartimento psíquico que nos faz sentir culpados quando violamos essas regras, e ironicamente nos orgulham quando as seguimos a rigor). Ela estaria numa posição de supervisor moral, controlando, dando nota, aplaudindo ou reprovando.
Desta mecânica não há escapatória, é um arcabouço, porque o próprio sujeito passa a se vigiar e não pode fugir da sua auto-observação e patrulha. Ainda, posso mencionar algo mais impensado, nesse campo ou premência, o Superego não consegue diferenciar entre o ato executado e o mero desejo; o que pode ser metaforicamente desenhado assim; o pensamento em si não é um crime, não é verdade?. Destarte, não funciona desta maneira para o Superego, que produz um sentimento de culpa inconsciente em relação ao que não passa verdadeiramente de um desejo. Como tal, eles (os desejos), não podem ser ignorados ou simplesmente descartados, logo, todos somos culpados a princípio. A tendência será, que mesmo conscientemente reprimida não vai desaparecer, vai permanecer ávida no inconsciente procurando sua realização.
É por isso que a psicanálise, detentora da descoberta e averiguadora da dinâmica do inconsciente, compreende como nenhuma outra ciência esse sentimento de pressuposto débito em relação ao pecado original. A existência no psiquismo da instância do Superego, produz a culpa, a dívida, e a necessidade de punição, o que verticalmente, embora muitas vezes encoberta ou negada, é sim uma grande quimera utópica para nós.
“O Superego não discrimina entre pensamentos transitórios, ações concretizadas ou desejos latentes; ele os examina a todos com sua rigidez inclemente.” Dan Mena.
O Superego obscuro.
Lacan, por sua vez, oferece uma perspectiva provocativa do Superego, desafiando as concepções convencionais de sua natureza e função. Ele introduz a noção de “superego obscuro”, uma faceta sombria e muitas vezes opressiva do Superego, que nos confronta com a inevitabilidade do sofrimento.
“O superego obscuro é como uma sombra que paira sobre a mente, uma presença silenciosa e poderosa que influencia nossos pensamentos e ações sem que estejamos plenamente conscientes de sua presença.” Lacan.
Pois então, pensemos no Superego como uma espécie de “juiz interno” atuando em nossa mente, dizendo e ditando o que é certo e errado, com base nas regras que aprendemos desde pequenos. Normalmente, o indivíduo alerta consegue perceber esses preceitos interagindo, pela via das prescrições e moralidades que assomam. Agora, o Superego obscuro, é como uma parte desse juiz que fica escondido, lá, no fundo da mente. Ele é meio misterioso, e nem sempre sabemos o que está planejando. Isso acontece porque é alimentado por coisas e situações que não lembramos muito bem. Usa desses artifícios articuladamente, seja como experiências da infância ou sentimentos profundos que tentamos ignorar, negar ou esconder de si.
Basicamente, o Superego obscuro é como um ninja mental, que opera nas sombras da consciência e influencia sutilmente nossas ações de forma que não apercebemos. Não é apenas um guardião das normas sociais, mas também uma força interna que nos confronta com a angústia existencial inteligentemente.
“O Superego é verdadeiramente a encarnação do dever de gozar” Lacan.
Em essência, essa frase sugere que o Superego é a personificação do dever ou a obrigação que sentimos de buscar e experimentar o gozo de acordo com certas regras e expectativas. Ele molda não apenas nossos comportamentos externos, mas também nossa experiência interna de prazer e satisfação, exercendo uma interferência cavada e inconsciente sobre nossas vidas.
Em Lacan, vemos a concepção freudiana se alterar, ela privilegia a interiorização da lei, que ocorre no ser de forma infalivelmente patológica, como um mal-estar estrutural infundado e sem relação com um ato efetivamente praticado. É sobre este fator do direito que se debruça, como ordenado em relação ao dever e à proibição, ou que será, portanto, construído. A constatação lacaniana de que o sujeito é, à partida, largando completamente indefeso perante a montanha de palavras que chegam do outro e que ainda não conseguimos elaborar e compreender. É esta voz que nos fala sem algum sentido que está na origem do Superego, uma reivindicação na forma de murmulho, que comanda algo sem significação, sem norte, enquanto está fora da simbolização. O Superego é um dos nomes do inconsciente, que tem duas faces: a face amigável dos sonhos ou lapsos cuja mensagem pode ser decifrada e a outra opaca, aquela do barranco abaixo, para algo sem direção ou contexto.
"O superego é o resultado da identificação com o agressor."
Desta forma, Lacan sugere que o Superego se forma através da identificação com figuras de autoridade ou modelos parentais, muitas vezes aqueles que exercem controle ou autoridade de forma intimidadora.
Neste ponto, se faz uma ponderação inédita: a necessidade de punição também satisfaz a pulsão. Ou seja, que aqueles que se julgam os mais virtuosos, ao renunciarem à satisfação da pulsão estão de alguma forma realizando suas pulsões, tanto ou mais do que aqueles que se entregam à libertinagem, porque a renúncia e a privação, assumem também o caráter de um prazer paradoxal, a que irá chamar de ''gozo''.
Lendo Lacan a partir do gozo, eu concluo que; “O gozo é como um labirinto psíquico, um complicado emaranhado de prazeres proibidos e dores ocultas, onde nos perdemos na busca pela completude, uma trajetória tumultuada do ser, marcada pela incessante tentativa de saciar desejos que, por sua própria natureza, resistem à plenitude.” Dan Mena.
Esse lugar pode ser encontrado no sacrifício, castigo, humilhação e no suplício. O Superego tem esta faculdade desconcertante de transformar os ideais mais benéficos em imperativos mortificantes, que por sua vez, se voltam contra o próprio sujeito e os seus semelhantes. Assim, o transmissor da lei acaba por se tornar ele próprio o instrumento da pulsão de morte, infringido ao outro, como agente do gozo sádico contra aqueles que finge dirigir moralmente e por satisfazer a sua pulsão masoquista, ou que pode ser verificado, por exemplo, nos rituais religiosos, na prática da autoflagelação, etc., que consistem em infligir dor a si.
“A pulsão de morte em Lacan é como um sussurro de sombras, um eco que reverbera nos abismos da nossa psique, tecendo uma dual trama enigmática entre a busca pelo prazer e a ânsia silenciosa pela autoaniquilação.” Dan Mena.
“A tirania do Superego pode nos levar a um estado de autocrítica constante, alimentando um ciclo de autocondenação e insatisfação.” Dan Mena.
Esta força obscura do Superego é o que encontramos também nos sintomas, é o lado do gozo inconsciente. O campo inconsciente, não é apenas o encontro com uma verdade escondida que nos liberta quando é decifrado, mas a existência de uma lei sem sentido, uma espécie de princípio melindroso, puro e opaco, aquele que condena o sujeito a ser rejeitado, punido, maltratado, a se sentir culpado ou a ter constantemente o pressentimento de que algo de mau vai ou possa acontecer, porque, claro, ele merece, mesmo ignorante, o que não saiba o porquê. Também encontramos essa perspectiva nas pessoas que parecem ser objeto de um destino trágico, aquelas(es) que se sentem perseguidas para além das suas ações reais ou que parecem ser tocadas(os) pelo destino, de serem vítimas repetidas dos desejos perversos de um terceiro agressor. Na psicanálise, nossa meta terapêutica é apaziguar e diminuir a potência dessa voz interiorizada inconsequente que condena, coage, constrange, compele o sujeito para um destino hipoteticamente funesto e infeliz.
“A relação entre o Ego e o Superego em Lacan é marcada por um conflito constante entre o desejo de autonomia do sujeito e a pressão para se conformar às normas sociais.”
Dan Mena.
Neste caso seria pertinente te dar alguns exemplos de estudos de caso que ilustram a interação entre o Superego e outros elementos da mente:
Interatividades do Superego.
Caso de Anna O. (Bertha Pappenheim):
Anna O. sofria de histeria, e seu caso foi estudado por Breuer e Freud. Durante o tratamento, ela desenvolveu uma série de sintomas físicos, como paralisia e problemas de visão, que os médicos acreditavam serem causados por conflitos psicológicos. Uma das questões centrais no tratamento dela foi o papel do Superego, representado pelas expectativas sociais e morais impostas a Anna, especialmente por sua posição na alta sociedade. Seu Superego, fora influenciado por essas expectativas, contribuindo para a repressão dos seus desejos e emoções, levando-a ao desenvolvimento de sintomas físicos, que não tinham causa alguma em patologias físicas.
“O caso de Anna O, continua envolto em mistério e controvérsia, permanece como um marco emblemático na história da psicanálise, destacando os paradoxos, caminhos da mente e inspirando inúmeras reflexões sobre a natureza do sofrimento psíquico.”
Dan Mena.
Caso do Homem dos Lobos (Serguei Pankejeff):
Este paciente, estudado por Freud, tinha uma fobia de lobos e sofria de neurose obsessiva. O Superego desempenhou um papel importante neste caso, se manifestando na forma de proibições e exigências internas que o Homem dos Lobos sentia. Essas limitações eram tão poderosas que ele se sentia culpado por seus desejos e impulsos naturais, o levando a um conflito interno intenso que contribuía para sua neurose.
“O Homem dos Lobos, com suas nuances de angústia, dor, desejo e trauma, ressoa como um relato contundente dos conflitos internos, nos instigando clinicamente a adentrar nos insights da sua verticalidade e possíveis curas.” Dan Mena.
Caso de Dora (Ida Bauer):
Dora foi tratada por Freud devido a uma série de sintomas neuróticos, incluindo tosse crônica e depressão. Durante o tratamento, ele identificou o papel do Superego dela na internalização de expectativas sociais, particularmente em relação à sexualidade. Seu Superego estava em conflito com seus desejos inconscientes, resultando em sintomas neuróticos que foram expressões indiretas desses embates emocionais.
“Com sua trama intricada de desejos reprimidos e conflitos não resolvidos, o Caso de Dora, continua a fascinar como um convite a adentrar nas profundezas do inconsciente em busca de compreensão e resolução.” Dan Mena.
Os dois mecanismos de defesa ligados ao Superego.
Mecanismos de defesa nos ajudam a proteger o Ego contra ansiedades e conflitos internos, eles desempenham um papel importante na regulação do comportamento e das emoções. No entanto, quando usados de forma excessiva, podem levar a distorções na percepção da realidade e dificultar o enfrentamento saudável dos desafios emocionais a que estamos expostos.
Formação reativa:
A formação reativa é um mecanismo de defesa pelo qual expressamos comportamentos ou sentimentos opostos aos verdadeiros desejos, ou impulsos que nos abordam. No contexto do Superego, isso ocorre quando adotamos atitudes exageradamente moralistas ou virtuosas para esconder ou negar os verdadeiros desejos que consideramos inaceitáveis. Por exemplo; alguém que tem desejos de práticas violentas, pode desenvolver uma atitude excessivamente pacífica ou de cuidado extremo com os outros, como uma forma de mascarar esses impulsos agressivos.
Projeção:
A projeção é um segundo mecanismo de defesa ao qual atribuímos, lançamos para um terceiro. Pensamentos, sentimentos ou desejos indesejados que não suportamos nos habitarem. No contexto do Superego, isso pode ocorrer quando projetamos esses sentimentos de culpa, vergonha ou inadequação em outras pessoas. Por exemplo; alguém com um Superego muito crítico, pode tentar transferir esses sentimentos para o outro, os enxergando e apontando como críticos, abusivos, impertinentes, implicantes e incontentáveis, quando, de fato, e ele(a) mesmo(a) quem se sente assim, sendo, aquele(a) que acusa e argumenta o portador real de tal incômodo.
O Superego na cultura contemporânea.
Atualmente, o Superego é moldado por uma variedade de influências, incluindo os valores predominantes da sociedade, as normas sociais, as expectativas familiares e as pressões culturais e midiáticas contemporâneas. Vivemos num mundo cada vez mais conectado e globalizado, onde essas intervenções e manifestações rotineiras, podem ser ainda mais ambíguas e contraditórias. Por um lado, vemos um aumento da ênfase na autenticidade, na autoexpressão e no individualismo, o que nos leva a uma desafiadora relação de embate entre o Superego e o desejo de autoafirmação. Persistem assim incessantemente, aplicação de normas sociais e culturais que demandam e requerem de nós uma conformidade, implicando adesão a padrões e preceitos de toda ordem, sempre pré-estabelecidos. Originam grandes conflitos internos entre o desejo individual e as expectativas externas. Contemporaneidade. A sociedade moderna nos apresenta uma série de desafios para a lida com o Superego individual e coletivo. A rapidez das mudanças politicas, sociais e tecnológicas, dificultam nossa adaptação a esses padrões morais e éticos, nos levando a um sentimento de incerteza em relação ao que seria certo ou errado. Enfrentamos a pressão por sucesso, realização material e perfeição, que intensifica os modelos e arquétipos impostos pelo Superego, levando a um aumento nos casos de ansiedade, depressão e distúrbios alimentares. A cultura do consumo também manipula, alimenta inegavelmente um Superego ambicioso e absolutamente incontentável, baseado na comparação social e na busca ininterrupta e contínua por posição, poder, fama e reconhecimento externo.
Diante desses desafios apresentados, é importante desenvolver uma relação saudável com o Superego, buscando um equilíbrio entre a conformidade social e a autenticidade pessoal.
A psicanálise pode oferecer um espaço interessante para explorar e compreender as origens e as influências do Superego, promovendo uma maior consciência e aceitação das próprias motivações e desejos. Acredito ser muito relevante, o cultivo da autocompaixão e da resiliência emocional, como chave fundamental para enfrentar às instigações e provocações impostas por um Superego altamente perscrutador e implicante. Buscar sempre, um equilíbrio entre as demandas internas e externas, semeando uma relação mais saudável conosco e com os outros.
“Explorar e compreender as origens do Superego é essencial para promover uma relação mais saudável e equilibrada entre a conformidade social e a autenticidade pessoal.”
Dan Mena.
“O Superego é a parte da personalidade que reflete as normas e valores internalizados da sociedade.” Freud.
“O Superego é o guardião da moralidade em nós, se confrontando com sentimentos de culpa e autojulgamento.” Lacan.
“O Superego é a voz crítica em nós, que nos faz sentir inadequados quando não cumprimos padrões sociais ou pessoais.” Horney.
“O Superego pode ser uma fonte de conflito interno, causando angústia quando nossos desejos pessoais entram em conflito com as expectativas sociais.” Jung.
“O Superego é como um ditador interno, impondo suas regras e julgamentos sem piedade.” Winnicott.
Como identificar o Superego?
Discernir e reconhecer o Superego pode ser um processo difícil, uma vez que na sua instância psíquica opera principalmente no nível inconsciente da mente. No entanto, darei umas dicas práticas para verificar suas manifestações;
Autojulgamento excessivo: Se você se encontra constantemente criticando suas próprias ações ou pensamentos, mesmo quando não há motivos claros para isso, pode ser um sinal da influência do Superego. Essa autocrítica muitas vezes reflete as normas e expectativas internalizadas impostas pela sociedade.
Sentimentos de culpa e vergonha: Frequentemente ele induz sentimentos intensos de culpabilidade e constrangimento quando suas normas são violadas, mesmo que racionalmente não haja motivo para surgirem tais sentimentos.
Conformidade excessiva: Se você se sente compelido(a) a seguir rigorosamente as normas sociais e as expectativas e desejos dos outros, mesmo que isso vá contra seus próprios desejos e valores pessoais, pode ser um sinal de um Superego dominante.
Idealização e perfeccionismo: Um Superego forte e extremado leva à busca implacável pela impossível perfeição, ideais de beleza, culto ao corpo, sucesso a qualquer custo, e à idealização de um padrão inatingível ou copiado superficialmente de comportamentos e realizações de outros.
Repressão de desejos e impulsos: Se você se observa reprimindo, recalcando ou negando continuamente seus desejos e impulsos naturais com base em normas morais internalizadas, isso pode indicar a influência atuante do Superego na sua vida.
Conflitos internos: Pugnas internas entre o que você quer fazer e o que acha que deveria realizar, podem ser um sinal de uma luta aferrada entre o Superego e outras partes da psique, como o Id e o Ego.
Inflexibilidade mental: Uma tendência clássica para quem pensa de forma rígida e inflexível. Pessoas com dificuldade em considerar outros ângulos e perspectivas, refletem a influência inegável do Superego na maneira como processamos informações e tomamos decisões unilaterais que não consideram o outro nem o social.
O Superego não é uma entidade tangível que pode ser diretamente observado, mas sim, uma construção teórica que nos ajuda a entender melhor determinados aspectos das funções comportamentais e mentais. Quando identificamos e observamos suas manifestações é importante requerer o autoconhecimento, a reflexão, ponderação, e em alguns casos, a supervisão e orientação de um profissional qualificado para realizar interpretações precisas.
Finalizando.
Por fim, o Superego é estruturado segundo a introjeção das normas e a identificação das nossas figuras parentais. Ele entra em conflito, ao funcionar em detrimento do bloqueio do Ego. Por sua vez, o Ego representa nossas paixões, a libido sem discriminação do real, da fantasia e do imaginário, enquanto o Superego, representa as normas e leis que severamente interiorizamos. Daí que o conflito seja constante, pelo que será necessária a intervenção do Ego, já que uma forte e absurda imposição das normas geraria uma ativação massiva dos mecanismos de defesa para controlar a investida de um Ego cativo e enclausurado. Por outro lado, um ''eu'' superior fraco, daria concessão para um desempenho indiscriminada dos impulsos libidinais com pouca ou nenhuma mediação, dificultando a nossa adaptação social. Podemos logo reconhecer tal fator em sujeitos com determinadas perturbações de personalidade, como o antissocial e o psicopata. O que escapa então ao domínio superegóico e à regulação cultural, é uma caligrafia que determina o que há de mais ''sui generis'', diferente, imaginativo, inovador e criativo no ser, más, e também, um elemento subversivo que pode se instalar como fonte de angústia, provocando o retorno do recalcado via manifestações, sintomas e pulsões.
Analisados ambos pontos de vista, concepções e entendimentos, tanto freudianos quanto lacanianos, posso concluir acertadamente, que está o Superego similarmente, tanto quanto mestre e déspota. Carregamos sua ambiguidade ativa e inconsciente, destarte plena, mesmo quando nos acreditamos fantasiosamente livres das nossas escolhas. Sua exigência produz angústia, e esta, por sua vez, nos mobiliza em múltiplas direções quanto sintomas, atos destrutivos e excessos de satisfação pulsional, falhas de todos os tipos, entre outros.
Ao poema; Guardião da Consciência.
Por Dan Mena.
No recôndito da mente, ele faz morada,
O Superego, com sua voz tão severa,
Impõe regras, numa trajetória ordenada,
Ditando o que é certo, o que nos espera.
Como um juiz implacável, de olhar austero,
Julga cada ato, cada pensamento inteiro,
Cobra padrões e regras num ciclo verdadeiro,
Nos fazendo sentir o peso do seu intento.
No âmago do ser, uma sombra se faz,
Refletindo normas na sociedade, incapaz,
Nos impõe cumprir um ideal, difícil de alcançar,
Como uma obrigação, difícil de suportar.
Entretanto, nos leva a questionar,
A legitimidade dessas normas observar,
Nos recorda a urgência de encontrar,
Equilíbrio entre razão e sentir, sem vacilar.
É uma parte essencial, mesmo que duro,
Em sua sombra densa, nos faz pensar,
É elemento regulador, ainda que denso,
Na jornada do ser, o que é imenso.
Até breve, Dan Mena.
Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199.
Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.
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