Psicanálise e Saúde Mental Moderna
- Dan Mena Psicanálise
- 25 de abr.
- 27 min de leitura

Como Entender a Alma Humana em um Mundo em Colapso
Imaginemos uma jovem de 27 anos, gerente de marketing digital, que passa 11 horas por dia conectada. Ela tem um apartamento, uma carreira de sucesso, e uma vida que, aos olhos de muitos, parece invejável. Mas, há seis meses, seu avô faleceu. Ela não chorou, não sentiu nada — ou pelo menos foi o que pensou. Até que, um dia, seu celular quebrou. E aí, sim, as lágrimas vieram, torrenciais, incontroláveis. Não pelo avô, mas pelo aparelho. Parece absurdo né? Talvez. Mas, se você parar para refletir, essa história revela algo muito maior sobre o jeito como vivemos hoje.
Nossas emoções estão entrelaçadas com a tecnologia de uma forma que nunca imaginamos. Não é que a jovem não sentisse a perda do avô; ela simplesmente não sabia como processar isso. O luto, que antigamente era vivido em comunidade, com rituais, reuniões familiares, conversas e tempo para digerir a dor, hoje se fragmenta, se dilui em pedaços minúsculos. Choramos em pílulas, não em ondas, esses sedativos provisórios e viciantes vêm disfarçados de vídeos de gatinhos fofos ou memes que nos arrancam um sorriso rápido, enquanto a tristeza verdadeira está ali, quieta, escondida, esperando a oportunidade para o seu próximo ataque.
''A jovem que chora pelo celular quebrado carrega o luto que não nomeou; a psicanálise me convida a acolher essas lágrimas como um portal para a reconexão com sua alma.''
- Dan Mena.
''O ‘Eu ideal’ das telas é uma ilusão frágil; a saúde mental começa quando ousamos atravessar a ponte até o ‘Eu real’, com todas as suas imperfeições.'' - Dan Mena.
Freud já dizia, em Luto e Melancolia, que a dor não some — ela se transfere. Para essa jovem, o celular virou o depositário dessa dor represada. Quando ele parou de funcionar, foi como se a barreira que ela havia construído para não encarar o luto desabasse. O digital, nesse caso, não é o vilão da história, é uma ponte intermediária para as emoções que nossa mente, sozinha, não dá conta de embater. Mas por que vídeos de gatinhos?
É uma injeção de dopamina, um alívio instantâneo. Já a psicanálise vai além do óbvio: o gato, com sua independência e mistério, pode ser um símbolo do que ela deseja ser — livre, sem as amarras emocionais que a sociedade tem cobrado dela.
Em Topologia da Violência - Byung-Chul Han espreme que a sociedade hiper-conectada trocou os rituais por essas descargas emocionais. Não temos mais tempo para sentir de verdade. Estamos sempre correndo, sempre online, sempre distraídos. E, enquanto isso, a dor vai se acumulando, escondida atrás de um consumo de bytes frenéticos, como se estivéssemos tentando tapar um vazio existencial com likes, stories e scrolls infinitos.'
'Em um século de conexões fugazes, a psicanálise é uma bússola, ela guia para os rituais de introspecção que resgatam a humanidade soterrada pelo frenesi online.'' - Dan Mena.
Agora, pense no que acontece com nosso inconsciente nesse cenário. Lacan usa o ''Estádio do Espelho'', aquele momento em que a criança se vê no reflexo e começa a construir uma ideia de si mesma, um ‘’Eu ideal’’. Hoje, esse espelho é a tela do celular, perfis nas redes sociais são como avatares, versões polidas, recortadas e fantasiosamente perfeitas de quem gostaríamos de ser. Mas a realidade bate à porta. Já ouvi de um influencer de 35 anos, com 200 mil seguidores: “Me sinto invisível”. Ou de uma mãe blogueira: “Minha família parece perfeita nas fotos, mas meu casamento está em pedaços”. Essas translações mostram que, por mais que tentemos projetar uma imagem impecável online, o que sentimos por dentro não acompanha essa missão fictícia. Tal descompasso entre o ‘’Eu ideal’’ das redes e o ‘’Eu real’’ estão separados por uma longa ponte — e é aí que a angústia do século XXI se instala, silenciosa, mutilante e avassaladora.
''O inconsciente, pode dançar entre carrusels e stories, mas é na solitude intencional que encontramos os símbolos que curam nossa saúde mental.'' - Dan Mena.
Então, como podemos sair desse ciclo? Como reconectar nossas emoções e resgatar um pedaço da autenticidade perdida? Não há fórmula mágica, mas algumas práticas podem ajudar. Escrever um diário à mão, por exemplo, sem filtros ou curtidas, só você e seus pensamentos. Ou reservar dez minutos por dia para uma “meditação da tela preta” — sem celular, sem notificações, apenas silêncio e o que vier à mente. Criar espaços de desconexão também funciona: uma caminhada, cantar no chuveiro; já fez isso?, qualquer coisa que te dê espaço para sentir sem interferências. E, claro, buscar conversas de verdade, daquelas em que você pode dizer o que realmente está sentindo, sem medo de ser julgado(a). Quando foi a última vez que você ligou para seu amigo(a) para tomar um café e jogar conversa fora?

Esses passos não resolvem tudo, mas abrem brechas importantes para que possamos voltar a nos ouvir. Porque a angústia deste século, não é só sobre internet e conexão o tempo todo — é sobre estar desconectado de nós mesmos. Freud tinha razão: a dor não desaparece, ela se transfere. Resta a nós decidir, se vamos transferir o problema para mais um vídeo de gatinhos ou se encaramos isso com coragem.
''Quando o celular se torna o espelho, a psicanálise te desafia a desligá-lo e olhar para dentro, onde sua verdadeira imagem espera ser reconhecida.'' - Dan Mena.
A Angústia do Século — Entre Redes e Lacunas
Nesta passagem do tempo, nossas ansiedades assumiram uma nova forma. “O sujeito moderno não tem mais medo do pai; teme o silêncio da própria tela em branco.” - Dan Mena. Não é apenas uma frase de efeito; ela aponta uma mudança em como nos percebemos. Antes, era não atender às expectativas de figuras de autoridade; hoje, nos angustiamos com nossa presença digital — será que somos vistos, curtidos, validados?
As velhas estruturas de disciplina — como fábricas ou escolas — deram lugar à auto-exploração. Não somos mais apenas conduzidos por ordens externas; agora, nós esgotamos voluntariamente, sempre performando, otimizando. Isso é especialmente visível na atualidade: cada postagem é uma apresentação, cada perfil, uma marca cuidadosamente construída. Não vivemos apenas; curamos uma versão de nós mesmos.
O conceito do Estádio do Espelho, nos ajuda a entender esse fenômeno. Ele sugere que nossa identidade se forma pelo reflexo do que vemos — primeiro no espelho, depois nos olhos dos outros. Hoje, esse retrovisor é a tela do celular. Nossos perfis refletem uma imagem idealizada, polida, mas nem sempre verdadeira. A distância entre esse “eu digital” e nosso ‘’eu real’’ gera angústia e vazio existencial.
Pense em um profissional que brilha no trabalho, sendo “o cara”, mas que, em casa, se sente perdido, sem saber quem é. Ou no influenciador que posta uma vida ideal, mas vive isolado e inseguro. Esses exemplos mostram um descompasso comum: nossas ‘’personas públicas’’ não refletem as vidas privadas. Essa ruptura não afeta só o indivíduo; ela tensiona relações e alimenta problemas emocionais. Focados na imagem online, podemos nos afastar de quem está ao nosso lado. Técnicas como a ‘’livre associação’’ podem mostrar que essa obsessão por curtidas esconde uma necessidade de validação, ou que nossas publicações mascaram fragilidades não enfrentadas.
''A tecnologia constrói casas virtuais e simula afetos frios, mas, apenas no vínculo humano, imperfeito e vivo, damos sentido ao lar da alma.'' - Dan Mena.
Atividades Reais: Um Antídoto para Cair Fora
Quando foi a última vez que você foi acampar, pescar ou caminhar sem destino? Atividades como essas nos re-conectam ao mundo físico e a nós mesmos. Acampar nos força a desplugar, a enfrentar o silêncio e a beleza crua da natureza. Pescar exige paciência, atenção focada e presença — algo que raramente praticamos, acelerados(as) e cheios(as) de notificações. Caminhar por uma trilha, subir morros ou montanhas, atravessar vales, podem ser uma metáfora para o próprio percurso da vida, com seus desafios e recompensas. Jardinar nos conecta à terra, ao ciclo de plantar e colher, oferecendo um senso de propósito tangível. Até uma simples conversa cara a cara, sem celulares interrompendo, sem conversas de whatsapp, reacendem a chama do elo fraternal, nos lembrando que o ‘’outro’’ é mais do que um avatar na tela. Essas experiências são um contraponto à superficialidade, nos ancoram no presente, exigem a presença física de corpo e mente, e nos afastam da curadoria constante de quem somos atrás da tela. ''Robôs podem imitar emoções, mas, é na escuta analítica que se encontra o que nenhuma máquina oferecer: a empatia que acolhe nossas fragilidades.'' - Dan Mena.

Quando a Máquina Toma o Lugar
A tecnologia não está apenas facilitando nossas vidas; está assumindo papeis que antes eram exclusivamente nossos. Veja o “pedreiro” da Tesla, um robô capaz de construir uma casa sozinho. Ele substitui trabalhadores em uma tarefa que já foi símbolo de esforço coletivo e habilidade artesanal. Mas o avanço vai além do trabalho físico. Robôs como o Paro, já possuem um selo terapêutico usado em lares de idosos, projetados para oferecer conforto emocional. Há também robôs sexuais, que prometem substituir parceiros em relações íntimas. Máquinas estão invadindo até os espaços mais pessoais da vida. O que isso significa para nós? Um androide pode construir uma casa, mas não entende o significado de lar. Pode simular afeto, mas não sente emoções. Pode estar ao nosso lado, mas não compartilha nossa história. Ao delegar essas funções a máquinas, corremos o risco de perder a base da humanidade: algo que demorou milhares de anos para ser elaborado, a imperfeição, a empatia, o vínculo genuíno. Estamos trocando relações autênticas por versões controláveis, mas vazias? ''Jardinar, pescar, acampar e conversar sem telas: são rituais simples, destarte, ancoram o real, onde a angústia digital perde sua força.''- Dan Mena.

Amigos Virtuais vs. Amigos Reais
Nossas relações sociais também estão mudando. Plataformas como Instagram, Facebook e Twitter nos permitem acumular centenas ou até milhares de “amigos”. Mas quantos deles realmente conhecemos? Quantos estariam ao nosso lado em uma crise? Um like ou um comentário rápido é fácil, mas não substitui o esforço de uma conversa longa, o apoio em um momento difícil ou o calor de um abraço. As conexões online são convenientes, mas muitas vezes superficiais, reduzidas a interações que cabem em 280 caracteres ou em uma foto filtrada. Já trocamos, em parte, os amigos reais pelos virtuais. Preferimos a validação instantânea de um estranho na internet à construção lenta e às vezes desafiadora de uma amizade verdadeira. Mas essa troca tem um custo: a solidão que sentimos mesmo estando “conectados” o tempo todo. Vai pagar para ver?
''Entre avatares e máquinas, a saúde mental nasce do imperfeito, dos laços afetivos, vínculos frágeis e histórias compartilhadas.'' - Dan Mena.
Amor Líquido e Vínculos Virtuais — A Crise da Intimidade
''Swipe à direita é o novo ‘fuja do Édipo’.” - Dan Mena.
Neste momento o amor se tornou tão fluido quanto as telas que deslizamos com os dedos. Nesta frase, aponto para uma verdade incômoda: o gesto de deslizar para a direita em aplicativos de namoro não é apenas uma busca por conexão, mas também uma fuga emocional que o amor verdadeiro exige. Bauman, com seu conceito de “amor líquido”, descreve relações frágeis e transitórias, onde compromissos são flexíveis e muitas vezes descartáveis. Essa fluidez é intensificada por plataformas que bombardeiam com um fluxo de potenciais parceiros, tornando os elos afetivos mais efêmeros do que nunca. Por outro lado, temos uma chave para entender essa dinâmica: “o excesso de opções paralisa o desejo”. Em um mar de escolhas infinitas ele não se perfaz — se congela. A crise da intimidade nasce deste paradoxo: quanto mais opções disponíveis, mais difícil é investir emocionalmente em uma única pessoa.
''Vejo que a intimidade moderna se dissolve em telas, precisamos construir laços que resistam à transitoriedade digital.'' - Dan Mena.
Amor Líquido na Era Digital
O “amor líquido” de Bauman captura a essência dos relacionamentos contemporâneos: são efêmeros, moldados por uma lógica de rapidez e descartabilidade. Aplicativos de relacionamento, como Tinder e Bumble, transformam a busca por um parceiro em um jogo de perfis, onde a próxima opção está sempre a um deslize de distância. Essa facilidade reduz as pessoas a imagens e textos curtos, dificultando o investimento emocional necessário para conhecer alguém de fato. A tecnologia, não só facilita esses encontros, mas também amplifica a transitoriedade das relações. Surge então o antagonismo da escolha: com tantas possibilidades, a satisfação diminui. Há sempre a sensação de que alguém melhor pode estar a um clique, alimentando o medo de perder algo = (FOMO) corroendo a capacidade de se comprometer. O resultado é uma intimidade frágil e fragmentada.
A Paralisia do Desejo
Como vimos, o excesso de predileções estaciona os quereres, e isso se torna evidente no universo dos relacionamentos virtuais. A abundância de perfis em aplicativos de namoro cria uma ilusão de possibilidades infinitas, mas, na prática, isso gera um ciclo de busca constante e vínculos pulverizáveis. A cada swipe, cresce a expectativa de encontrar a “pessoa perfeita”, mas essa procura impede a construção de laços fortes. Dita paralisia não se limita ao campo romântico. Amizades e relações familiares também são impactadas pela mesma lógica de escolha e transitoriedade. A facilidade da virtualização substitui o esforço necessário para sustentar relações reais. O custo psicológico é significativo: ansiedade, depressão e uma insatisfação crônica com as próprias escolhas. Apesar desses desafios, é possível cultivar intimidade. Outras estratégias podem incluir reservar tempo para conversas significativas, praticar a escuta ativa e se permitir ser vulnerável, pode ajudar na inversão do processo.
''A paralisia do desejo, nascida de escolhas infinitas, encontra alívio quando conectamos ao pulsar da intimidade genuína.'' - Dan Mena.
Entre o Coaching e a Análise
O coaching promete respostas; a psicanálise, perguntas que libertam.” — Dan Mena.
Na busca pelo autoconhecimento, dois caminhos se destacam: o coaching, com sua abordagem prática e orientada a resultados, e a psicanálise, que mergulha no inconsciente. Enquanto o coaching oferece soluções rápidas e diretas, psicanalistas oferecem perguntas que desafiam certezas, abrindo portas para uma compreensão mais rica de si.
A Moda do Mindset Positivo
A tendência do ''mindset positivo'' (se refere a uma forma de pensar e agir que se concentra no positivo, nas oportunidades e no crescimento, em vez de se centrar no negativo, nos obstáculos e nas limitações. É uma mentalidade que promove a confiança em si mesmo, a resiliência diante dos desafios e a busca por soluções criativas.), amplamente difundida no coaching que propõe técnicas para reprogramar a mente. Essa visão, embora atraente, ignora a costura labiríntica do inconsciente. Ela simplifica o ser a um conjunto de hábitos ajustáveis, desconsiderando as emoções, os traumas e os desejos reprimidos que moldam nossa construção. Citando Massimo Recalcati: “A felicidade não é um destino, mas um efeito colateral da verdade.” Esse prisma, sugere que a verdadeira realização não vem de um otimismo forçado, mas de um confronto honesto com nossa realidade interior.
''O mindset positivo pode prometer felicidade, mas, é na verdade interior que encontramos sentido, não em fórmulas prontas.'' - Dan Mena.

Diferenciação Clínica: Metas vs. Preço Emocional
O coaching e a psicanálise divergem em seus focos fundamentais, destarte detesto fazer comparações, agora necessárias:
Coaching: Orientado para metas, ele pergunta: O que você quer alcançar? e fornece estratégias práticas para chegar lá. Seu objetivo é o sucesso externo — seja na carreira, nos relacionamentos ou na produtividade.
Psicanálise: Questiona: Qual o preço emocional dessa meta? Em vez de apenas buscar resultados, exploramos as motivações inconscientes por trás dos desejos, revelando o que realmente impulsiona os atos.
Por exemplo, alguém pode buscar o coaching para conquistar uma promoção no trabalho. O coach oferecerá ferramentas para alcançar esse objetivo. Já a psicanálise pode perguntar: Por que essa promoção é tão importante? Talvez a resposta revele uma necessidade de validação ou um medo de fracasso enraizado em experiências passadas. Enquanto o coaching foca em “como”, a psicanálise investiga o “porquê”.
Neurodiversidade e Inclusão — A Clínica Ampliada
“O autista não é um quebra-cabeça a ser montado, mas um universo a ser decifrado.”
- Dan Mena.
A psicanálise moderna está passando por uma transformação ao abraçar a neurodiversidade, um conceito que reconhece e valoriza as variações neurológicas como parte essencial da nossa experiência. Longe de se prender a padrões rígidos de aparente “normalidade” que por décadas moldaram práticas clínicas, propomos uma perspectiva mais acolhedora e inclusiva. Vou certamente muito inspirado por pensadores como António Damásio e Frances Tustin, onde a psicanálise moderna rejeita a ideia de que diferenças como AUTISMO, TDAH ou DISLEXIA sejam patologias a serem corrigidas. Em vez disso, as estamos contemplando como expressões únicas e singulares da mente, linguagens próprias que merecem ser compreendidas e respeitadas. ''Cada mente neuro divergente é um cosmos único, minha missão é ouvir suas estrelas, não forçá-las a brilhar como as demais.'' – Dan Mena.

Redefinindo a Normalidade
A neurodiversidade desafia a concepção tradicional de que existe um único modelo de funcionamento “normativo” para o cérebro. Pessoas diferentes — como aquelas com autismo — não estão incompletas ou quebradas; elas simplesmente percebem, processam e interagem com o mundo de maneiras distintas. Damásio, com sua visão neurocientífica, e Tustin, com sua expertise psicanalítica no autismo, nos lembram que essas diferenças não são déficits, mas formas de comunicação que refletem a heterogeneidade da psique. ‘’Cada indivíduo neuro-divergente é um universo singular, cheio de nuances e riquezas que escapam às tentativas de padronização.’’ - Dan Mena.

Essa mudança de paradigma exige que os terapeutas abandonem a busca por uma “cura” que force a adaptação aos moldes neurotípicos. O objetivo não é consertar, mas decifrar — ouvir atentamente as mensagens que surgem dessas mentes únicas e ajudá-las a florescer em seus próprios termos, condições e condutas. Essa clínica ampliada aparece como uma resposta prática a essa nova realidade. Se adapta aos princípios psicanalíticos para criar um espaço terapêutico que respeite as particularidades dos pacientes dessemelhantes. Mediante o uso de metáforas visuais, como infográficos, desenhos ou mapas mentais, especialmente úteis para indivíduos não verbais ou com dificuldades de abstração. O inconsciente, afinal, não se restringe às palavras — ele se manifesta em imagens, símbolos e sensações.
“O inconsciente fala todas as línguas, cabe ao terapeuta aprender quanto a sua interpretação.’’ - Dan Mena.
Além disso, vale incorporar ferramentas como objetos transicionais, inspirados em Winnicott, que ajudam a construir acessos entre o mundo interno e externo do paciente.
O ‘’setting terapêutico’’ também se torna mais flexível, permitindo movimentos ou interações que façam o paciente se sentir seguro e acolhido. Essas adaptações transformam a terapia em um processo criativo, onde a singularidade de cada pessoa é o ponto de partida. Trabalhar com diversidade exige uma postura aberta e adaptável.
Aqui estão algumas diretrizes práticas para terapeutas:
Escuta sensível: Evite julgamentos baseados em padrões neuro-típicos e busque compreender a lógica interna do paciente.
Metáforas visuais: Use infográficos, desenhos ou diagramas para facilitar a comunicação, especialmente com pacientes não verbais. Essas ferramentas ajudam a acessar o inconsciente de forma acessível e concreta.
Flexibilidade: Respeite o ritmo do paciente, permitindo que o processo terapêutico se desenvolva sem pressa ou imposições.
Colaboração: Trabalhe em conjunto com outros profissionais, como terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, para oferecer um suporte mais completo.
Abandonemos a rigidez da “normatização” e celebremos as diferenças como parte essencial da vida. Nesse cenário, sejamos os verdadeiros guias da curiosidade, e pelo respeito, estejamos prontos para decifrar os universos únicos que recebemos como um presente.
''Neuro-divergência não é defeito ou falha, mas uma melodia distinta; minha tarefa é aprender sua partitura, não tentar reescrevê-la para soar como as outras.'' – Dan Mena.
Quando o Morto Vive Online
“Perdi minha mãe, mas seu perfil ainda ‘curte’ minhas fotos. Como chorar um fantasma?” — diz uma paciente. Talvez você tenha dúvidas quanto a veracidade desta fala, mas, garanto a vocês leitores, é real. As redes sociais criam um limbo para o luto, onde a morte não é final, mas um perfil inativo. A presença eletrônica de falecidos transforma a perda em algo ambíguo, onde o conforto da memória colide com a dificuldade de aceitar o fim. Esse fenômeno, que chamo de ‘’luto digital’’, é uma realidade nova, que desafia as formas tradicionais de elaboração da dor. Freud argumentou, que o luto exige uma retirada gradual do apego emocional ao ente querido perdido, um processo que permite ao enlutado seguir em frente. Mas como realizar esse trabalho psíquico quando o falecido parece ainda "vivo" online para alguns?
"Os algoritmos são os novos oráculos, reencarnam fantasmas em pixels, desafiando nossa capacidade de sepultar o que já não respira." - Dan Mena.
O Limbo do Luto Tecnológico
Nas plataformas, os perfis de pessoas falecidas não desaparecem com a morte. Amigos e familiares continuam a interagir com eles, postando mensagens, compartilhando fotos ou até recebendo notificações automáticas que sugerem a presença do ausente. Para o paciente anônimo, ver o perfil da mãe “curtindo” suas fotos é um lembrete constante dessa presença fantasmagórica. Isso pode ser reconfortante em alguns momentos, oferecendo um espaço para manter a conexão emocional. No entanto, também pode dificultar a aceitação da morte, criando uma ilusão de continuidade que prende o enlutado ao passado.
O luto saudável depende da capacidade de reconhecer a realidade da perda e redirecionar a energia emocional para novos vínculos. Quando a presença on-line persiste, esse processo pode ser interrompido, levando a um estado de melancolia — uma tristeza persistente marcada pela incapacidade de soltar o laço. O luto digital, assim, não é apenas uma extensão, mas uma experiência distinta que exige novas formas de compreensão e enfrentamento. "Enquanto os mortos ‘curtem’ nas redes, os vivos se perguntam: como re-significar a dor quando a morte perdeu sua fronteira física?" - Dan Mena.

Historicamente, o luto era guiado por rituais claros e objetos tangíveis. Um enterro marcava o fim físico, enquanto cartas ou fotografias serviam como lembranças estáticas. Esses mementos, embora preciosos, não interagiam com o enlutado — eram finitos e imóveis. Já os perfis digitais são dinâmicos: algoritmos podem trazer à tona memórias antigas, amigos podem adicionar novos conteúdos, e notificações inesperadas podem reacender a dor. Essa interatividade constante dificulta o encerramento das fases, tornando a morte menos definitiva e mais fluida. Essa diferença tem implicações, o enlutado pode sentir alegria ao revisitar uma postagem antiga, mas também angústia ao perceber que a vida segue sem a pessoa amada. A pergunta do paciente — “Como chorar um fantasma?” — reflete essa tensão: o espírito tecnológico persistente é uma sombra que não pode ser plenamente abraçada nem totalmente deixada para trás.
Impactos Psicológicos e Sociais
O luto digital pode prolongar a dor de maneiras que o luto tradicional raramente fazia.
A exposição contínua à presença online pode manter a ferida aberta, impedindo a cicatrização emocional. Isso pode aumentar o risco de complicações, caracterizado por sintomas de depressão, ansiedade e dificuldade de retomar a vida cotidiana. Para o paciente anônimo, cada “curtida” da mãe é um gatilho que mistura saudade com confusão. Além disso, o aspecto público das redes sociais adiciona outra camada de problemas.
O luto, que antes era um processo íntimo, agora é performado diante de uma audiência online. Comentários de apoio podem ser bem-vindos, mas também podem vir acompanhados de expectativas sociais que pressionam o enlutado a parecer “forte” ou “superado”. Essa falta de privacidade pode inibir a expressão genuína da dor, transformando o luto em um ato público em vez de um processo pessoal.
"Memorializar um perfil é um ato de coragem, é necessário escolher e transformar a dor em legado, sem permitir que o passado colonize o futuro." - Dan Mena.
Ritual de Despedida Digital
Para enfrentar esses desafios, é possível criar um ritual que ajude a trazer o fechamento do quadro. Esse exercício envolve duas etapas:
Escrever um Comentário Final: O enlutado pode redigir uma mensagem final no perfil do falecido, expressando sentimentos não ditos, agradecimentos ou um adeus definitivo. Essa ação simbólica permite que a pessoa coloque em palavras o que precisa ser liberado, dando voz à dor e à saudade.
“Arquivar” o Perfil: Após a mensagem, o enlutado pode optar por deixar de seguir o perfil, silenciar notificações ou até criar um memorial offline (como imprimir uma foto ou salvar uma captura de tela). Isso não apaga a memória, mas reduz a exposição constante, ajudando a estabelecer um limite emocional. Esse ritual não elimina a presença digital do falecido, mas oferece uma maneira de reconhecê-la e, ao mesmo tempo, dar um passo em direção à aceitação. É um ato de equilíbrio entre honrar o passado e abrir espaço para o futuro.
O Papel das Plataformas e da Comunidade
As redes sociais também têm responsabilidade nesse processo. Recursos como contas memoriais — disponíveis em plataformas como o Facebook — permitem que perfis sejam preservados sem sugerir que o falecido ainda está ativo. Essas opções, porém, precisam ser mais acessíveis e amplamente divulgadas. Além disso, as plataformas poderiam oferecer ferramentas para que os usuários definam como desejam que suas próprias presenças digitais sejam gerenciadas após a morte, dando mais controle sobre esse legado.
Toda essa temática é um reflexo da era em que vivemos — onde a tecnologia redefine até mesmo as experiências mais fundamentais da existência. Ele nos força a repensar o que significa dizer adeus quando os mortos continuam a “viver” de formas subjetivas. O desafio é encontrar um equilíbrio: permitir que a memória digital console sem que ela se torne uma corrente que impede o movimento em direção à cura. Assim, podemos chorar nossos fantasmas — e, com o tempo, deixá-los descansar.
O Futuro da Psicanálise — Entre o Divã e o Metaverso
“O divã não será substituído, mas multiplicado em infinitas realidades.” - Dan Mena.
A psicanálise sempre foi um mergulho no invisível: os desejos reprimidos, as narrativas inconscientes, o peso do outro em nossas mentes. Em um mundo onde o real e o virtual se misturam, porém: o que significa confrontar o inconsciente? Em 2025, terapias em realidade virtual (VR) já são usadas para tratar fobias, transtornos de ansiedade e traumas. Pacientes enfrentam aranhas digitais, voam em aviões simulados ou revisitam memórias recriadas em ambientes controlados. A tecnologia oferece um palco seguro para o enfrentamento do medo. Contudo, a tecnologia pode simular a empatia, mas nunca substituir a presença física. Como analistas, desenvolvemos uma escuta rara e singular, não é um algoritmo de respostas calibradas — somos o espelho vivo que reflete o sujeito em sua vulnerabilidade.
No metaverso, a psicanálise enfrenta uma oposição: a promessa de um espaço infinito para a subjetividade e o risco de dissolver o sujeito em avatares desprovidos de história. Plataformas já oferecem “terapeutas-IA” baseados em modelos de linguagem avançados, prometendo insights instantâneos. Mas o inconsciente não se deixa enganar. Ele não é um banco de dados a ser minerado; é um fluxo caótico, um labirinto de significantes que exige tempo, silêncio e relação. Como Lacan nos lembra, o analista é o “sujeito suposto saber” — uma figura que sustenta a transferência, algo que nenhuma máquina pode replicar. "A transferência no metaverso é um fio de voz em meio ao ruído digital, frágil, mas capaz de costurar presença mesmo onde os corpos são hologramas." - Dan Mena.
A Psicanálise em um Mundo Descentrado
Em 2030, a psicanálise não será mais sobre “curar ou guiar” a mente, mas sobre ensiná-la a caminhar em um mundo sem centro — onde a própria noção de “saúde mental” será redescoberta. Em um planeta saturado de narrativas e pulverizado por realidades paralelas, o sofrimento psíquico não será definido por categorias diagnósticas rígidas, como depressão ou ansiedade, mas por uma nova angústia: a incapacidade de encontrar sentido em um real que se dissolve. A tarefa do analista será menos reparadora e mais cartográfica — ajudar o sujeito a mapear seus desejos em um território onde as bordas e fronteiras entre o eu, o outro e a máquina vão se tornam indistintas.
No futuro não abandonaremos o divã, mas o reinventaremos. Poderemos ver “divãs virtuais”onde analistas e analisados se encontram em espaços oníricos projetados para evocar o inconsciente. Interfaces cérebro-máquina, como as desenvolvidas por empresas como a Neuralink, poderão captar sinais neurais em tempo real, permitindo acessar estados emocionais com uma precisão nunca antes vista. Dispositivos vestíveis, já em uso para monitoramento de saúde, poderão evoluir para mediar intervenções psicanalíticas em tempo real, ajustando o ambiente virtual com base em respostas fisiológicas do paciente. Contudo, essas tecnologias trazem tanto possibilidades quanto perigos.
A Ética da Presença Virtual
Como manter a autenticidade da relação analítica em ambientes digitais? A transferência, motor da análise, pode operar em um espaço onde corpos não se encontram? Wilfred Bion, com seu conceito de “continência”, nos oferece uma pista: ''o analista deve ser um continente capaz de acolher e transformar os afetos brutos do paciente''. No virtual, essa moderação pode ser desafiada pela ausência do corpo físico, mas também ampliada por ambientes projetados para amplificar a ressonância emocional. Precisaremos desenvolver uma ética para lidar com a desmaterialização do encontro, garantindo que a presença, mesmo mediada permaneça humanística.
Lembro agora que Jean Baudrillard, com sua noção de hiper-realidade sinalizou que o metaverso não seria uma extensão do real, mas uma simulação que substitui o real. As IAs que analisam padrões de comportamento já tentam prever nossos desejos antes que os reconheçamos, criando uma ilusão de transparência. Mas o inconsciente é o que resiste à lógica do capital e da tecnologia. Ele é o “real” que insiste em aparecer, mesmo em um mundo de signos digitais. A psicanálise deve se posicionar como uma prática de resistência à redução humana, ao calculável, lembrando que o desejo sempre irá escapar às previsões algorítmicas.

Seria este o Fim da Psicanálise?
Nem todos são otimistas sobre o seu futuro. Críticos como o filósofo tecnológico Evgeny Morozov argumentam que estamos condenados tecnicamente em um mundo dominado por soluções rápidas e tecnológicas. Para ele, terapias cognitivo-comportamentais (TCC) mediadas por IA, que oferecem resultados mensuráveis em semanas, tornarão a análise freudiana ou lacaniana obsoleta: argumenta, “Por que passar anos no divã quando um algoritmo pode estruturar seus padrões de pensamento em meses?” Além disso, a crescente dependência de interfaces digitais levanta preocupações éticas: se o inconsciente pode ser “lido” diretamente por dispositivos, a privacidade psíquica estará em risco, e a psicanálise, com seu respeito pelo mistério do sujeito, pode parecer anacrônica.
No entanto, esses argumentos subestimam a força centenária da psicanálise. A TCC e suas IAs podem tratar sintomas, mas não abordam a complexidade do desejo. Painéis digitais podem mapear sinais neurais, mas não interpretam o significado singular de uma fantasia ou trauma. A psicanálise, com sua aposta no tempo e na relação, oferece algo que a tecnologia não pode: um espaço para o sujeito se reinventar, não como um produto de software otimizado, mas como um ser em constante transformação.
"Enquanto a IA busca otimizar mentes, a psicanálise celebra a arte imperfeita de existir, com suas fendas e rachaduras onde a luz do desejo penetra." - Dan Mena.
Como Bion sugeriu, a análise é um ato de contenção; entanto Baudrillard nos provoca.
É uma resistência à hiper-realidade; como Žižek insiste, um confronto com o real. O divã, seja de couro ou de pixels, continuará sendo o espaço onde o sujeito se encontra com sua verdade — não para eliminá-la, mas para aprender a dançar com ela. Em 2030, nossa técnica será menos uma cura e mais uma navegação: um mapa para atravessar a matrix do metaverso sem perder o seu lado humano.
Minha Defesa Implacável da Psicanálise
A ideia de que a psicanálise seria um extemporâneo em face dos avanços tecnológicos, como interfaces cérebro-máquina e terapias mediadas por inteligência artificial, não é apenas uma leitura míope, mas uma capitulação ridícula. Tratar a psicanálise como obsoleta é sucumbir à ilusão narcísica de que a tecnologia pode domesticar o inconsciente, como se o real pudesse ser capturado por sensores ou se rebaixar ao reducionismo positivista que ameaça reduzir o humano a um amontoado de linhas de código. Tal perspectiva não apenas subestima a resiliência de uma disciplina que atravessou um século de revoluções epistemológicas, mas também ignora sua capacidade singular de confrontar “o traumático do real” — aquele núcleo irredutível da subjetividade que resiste à lógica do capital e da simulação. Este adendo que faço, é uma defesa provocadora sim, necessária para desmontar as críticas banais com o rigor acadêmico que merecem, reafirmando sua pertinência em um mundo que se afoga na hiper-realidade, hipnotizando sujeitos que nada entendem do ser humano. "Reduzir o humano a linhas de código é não apenas uma arrogância cientificista, mas uma fuga covarde àquilo que Lacan chamou de 'o não-todo': o vazio estruturante que nos define." - Dan Mena.

A Transferência como Ato de Subversão
Críticos como Evgeny Morozov celebram a eficiência da terapia cognitivo-comportamental (TCC) mediada por IA, como se a psique pudesse ser reprogramada. Essa visão tecnocrática que pretende antes que nada reduzir o ser a um autômato comportamental, desprovido do aprofundamento que a psicanálise, em sua ousadia, insiste, e tem demonstrado ser efetiva. A transferência, como conceito central na obra de Lacan, não é uma mera técnica, mas um evento ontológico: um encontro intersubjetivo que desestabiliza as certezas do ego e abre o sujeito ao abismo de seu inconsciente. Nenhum algoritmo, por mais avançado que seja, pode replicar a presença viva do analista — menos ainda, podem captar o peso de um silêncio, a ironia de um lapso ou a densidade de um sonho. A psicanálise sobrevive gloriosamente a qualquer tecnologia, enquanto a desafiamos.
Somos o que escapa ao cálculo, a equação, o que resiste, o que insiste por natureza em ser singular, único e irreplicável.
Contexto Histórico
Que tal mencionar Einstein, que como o maior físico da historia, valorizava métodos empíricos e matemáticos, enquanto via a psicanálise como uma disciplina interpretativa, não quantificável. Sua postura refletia o debate da época entre ciências "duras" e "humanas". Apesar disso, reconhecia que Freud havia aberto caminhos para entender a subjetividade — ''algo que a física jamais alcançaria''. Portanto, vemos aqui que sua crítica era menos sobre Freud e mais sobre os ''limites do reducionismo'': para ele, (o chefe de vocês), que certas dimensões humanas (como a ética e a subjetividade) exigiam abordagens distintas das equações físicas. Uma outra citação poderosa nessa tensão entre ciências exatas e a subjetividade vem do matemático e filósofo Henri Poincaré, pioneiro da ''teoria do caos'' e crítico do reducionismo positivista:
"A ciência é feita de fatos, assim como uma casa é feita de pedras. Mas um amontoado de fatos não é ciência, assim como um monte de pedras não é uma casa. [...] O que distingue o verdadeiro cientista não é apenas seu método, mas sua capacidade de contemplar o invisível — aquilo que os números não podem medir."

Por que essa citação se alinha ao debate?
Poincaré, como Einstein, questionavam a ideia de que tudo pode ser reduzido a dados ou equações, algo diretamente relacionado às críticas à tentativa de "domesticar o inconsciente" com tecnologia.
Valorização do intangível: A frase ressalta que há dimensões humanas (como o inconsciente freudiano) que escapam à métrica científica, mas não perdem validade por isso, é neste sentido estou totalmente de acordo.
Diálogo com a psicanálise: A menção ao "invisível" clarifica a noção lacaniana de Real — aquilo que resiste à simbolização, seja por algoritmos ou linguagem técnica.
Para sintetizar esta minha defesa, convoco, Werner Heisenberg (físico quântico). Heisenberg, em "Física e Filosofia", também refletiu sobre os limites da ciência frente ao humano:
"A cada passo, descobrimos que o mundo não pode ser totalmente objetificado. O observador sempre pertence ao sistema, e isso inclui suas dúvidas, seus desejos — tudo que a psicanálise chamaria de 'inconsciente'."
Todas as citações reforçam que, mesmo em campos como a física e a matemática, incluindo a quântica, há reconhecimento de que a imaterialidade desafia a lógica empírica. Isso não invalida a ciência, mas mostra que ela coexiste com outras formas de conhecimento — como a psicanálise — para explorar o que Heisenberg chamou de "o território inacessível às equações".
''O 'sujeito suposto saber' agora é um avatar, mas os quereres ainda escapam, intocáveis pelas frestas do código." - Dan Mena.
O Inconsciente como Resistência ao Controle Algorítmico
A fantasia de que o inconsciente pode ser “lido” por interfaces é ''uma expressão do delírio totalitário que Baudrillard descreve''. Não somos um banco de dados a ser minerado, mas um campo de rupturas, contradições e desejos que se manifestam em sintomas, atos falhos e narrativas fragmentadas. Em uma era de vigilância digital, onde a privacidade é mercantilizada e a subjetividade reduzida a padrões previsíveis, a psicanálise se equilibra como uma prática ética, salvaguardando o mistério do sujeito contra a tirania do transparente. Chamar isso de anacronismo é endossar uma distopia que se ilude ao tentar descartar o ser de sua opacidade, tentando o transformar em um produto consumível.
Outra crítica vazia é de que a psicanálise é lenta demais em comparação com a TCC mediada por IA, isso reflete a lógica perversa do que Byung-Chul Han chama de “sociedade do desempenho”. Nesta cultura, o sofrimento é um defeito a ser eliminado, e a felicidade, um mandato neoliberal. Vamos continuar nos recusando obstinadamente de prometer ''curas rápidas'' ou oferecer uma alternativa radical: a validação do conflito, da falta, do imperfeito como elementos constitutivos. Longe de buscarmos a “otimização” do sujeito, o convidamos a habitar sua singularidade, a confrontar o que o torna ímpar — habitar seus desejos, romper com seus traumas, revalidar suas contradições. Avatares padronizados e ''nudges algorítmicos'' ameaçam dissolver a individualidade em simulacros, a psicanálise é o ato puro de subversão ética. Ela não promete eficiência, mas transformação; não oferece respostas, mas a coragem de perguntar. Essa é sua força: em um mundo que exige conformidade, defendemos o direito de sermos incompletos.
A Psicanálise como Máquina de Guerra Epistemológica
A acusação de arcaico, presume a psicanálise como artefato imutável, mas nossa história é opostamente uma reinvenção contínua. Desde Freud, que dialogou com a nascente neurociência, até os analistas contemporâneos que exploram a realidade virtual como espaço para o inconsciente, demonstra adaptabilidade que desmente qualquer obituário prematuro como alguns poucos pretendem. Longe de ser ameaçada por tecnologias, estamos nos apropriando delas, nos servindo ao bel prazer do seu uso, utilizando dados fisiológicos para enriquecer a escuta analítica sem sucumbir ao simplismo. Como Deleuze e Guattari poderiam sugerir, a psicanálise é uma “máquina de guerra” de última geração, epistemológica, capaz de desterritorializar os discursos dominantes — sejam eles científicos, tecnológicos ou mercadológicos — e reafirmar com toda certeza a primazia do sujeito. Sua relevância não está em competir com ''terapias de curto prazo'', mas em oferecer uma crítica equilibrada às ideologias que sustentam essas abordagens. Essa polarização pretendida, bem instrumentada, muito articulada e camuflada de propósitos puramente capitalistas não vai nos contaminar. Antes de matar a psicanálise, vão precisar exterminar um exército poderoso de seres pensantes e preparados para elucidar tentativas de manipulação. "Contra a ditadura da transparência erguemos um altar ao opaco, o inconsciente é nossa última trincheira contra a colonização do ser." - Dan Mena.

Um Antídoto Filosófico à Hiper-Realidade
Os defensores da superioridade da IA ''caem como patinhos'' no que Žižek identificaria como uma armadilha ideológica: a crença de que a tecnologia pode abolir o real. A psicanálise, ao contrário, confronta o real em sua forma mais crua — ''o desejo que não se submete, a falta que não se preenche, o trauma que retorna''. Baudrillard avisou, que o metaverso substitui a experiência vivida por simulacros, e a psicanálise é a prática que resgata o sujeito desses buracos negros de signos vazios. Não apenas vamos confrontar o simplismo tecnológico, mas, ''vamos cair de pau'', oferecendo uma crítica filosófica à lógica do capital que pretende transformar a psique em mercadoria.
''Não seremos sob qualquer argumentação: ‘’inputs e outputs’’. - Dan Mena.
Somos o Farol Cultural e Político
Além de potência clínica que a psicanálise representa, é um holofote intelectual que ilumina os dilemas de nossa era. Conceitos como repressão, pulsão de morte e estádio do espelho não são apenas ferramentas terapêuticas; são chaves para decifrar a cultura, a política e a subjetividade em um mundo saturado por narrativas binárias ou quânticas. Enfrentamos com realismo as questões existenciais da inteligência artificial e da realidade virtual, a psicanálise oferece sua linguagem única para articular as tensões entre o’’ eu e o outro’’, o ‘’real e o simulado’’. A capacidade analítica de diagnosticar as patologias do presente — do narcisismo coletivo à alienação tecnológica — e de propor uma ética do desejo que transcende as promessas triviais, vulgares, genéricas e vazias do progresso.
A Técnica da Insistência do Real
Tal falácia da psicanálise como um resquício do passado expõe da forma mais ridícula uma cegueira voluntária para sua potência disruptiva. Ela não é uma relíquia; é uma força viva que desafia a hegemonia do mensurável, do otimizado e controlado. Maquinas podem oferecer soluções paliativas, mas apenas a psicanálise ousa confrontar o sujeito com sua verdade mais incômoda: ele é dividido, incompleto, desejante. Como Bion nos legou, a análise é um ato de continência; como Baudrillard nos provoca, é uma resistência à hiper-realidade; e como Žižek insiste, é um enfrentamento do real. Façam suas apostas, a psicanálise vai responder aos avanços tecnológicos com mais um século de reinvenção.
Até lá, nenhum de nos estará aqui para reclamar seu prêmio, mais uma coisa é ''certa e liquida'', estaremos os psicanalistas, muito bem representados para receber.
‘’A psicanálise moderna é uma arqueóloga do caos, escavando sentido onde vemos apenas ruínas.’’ - Dan Mena.
Referencias Bibliográficas HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Vozes, 2015.
FREUD, Sigmund. Além do Princípio do Prazer. Companhia das Letras, 1920.
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RECALCATI, Massimo. O Complexo de Telêmaco. Paz e Terra, 2014.
SAFATLE, Vladimir. O Circuito dos Afetos. Autêntica, 2016.
WINNICOTT, Donald. Tudo Começa em Casa. Martins Fontes, 1989.
BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido. Zahar, 2004.
DAMÁSIO, António. O Erro de Descartes. Companhia das Letras, 1996.
TUSTIN, Frances. Autismo e Psicose Infantil. Imago, 1990.
HAN, Byung-Chul. No Enxame. Vozes, 2018.
JUNG, Carl. O Homem e Seus Símbolos. Harper Collins, 1964.
ŽIŽEK, Slavoj. Bem-vindo ao Deserto do Real, 2003.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade. Graal, 1988.
REICH, Wilhelm. Análise do Caráter. Martins Fontes, 1933.
KLEIN, Melanie. Inveja e Gratidão. Imago, 1957. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: 2010.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia (Vol. 1). Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: 1995. BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Tradução: Maria João da Costa Pereira. Lisboa: Relógio D’Água, 1991. Edição Brasileira da Loyola, 2003.
BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Tradução: Artur Morão. Petrópolis: Editora Vozes, 2021.
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Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.
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