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"Ansiedade na Era da Incerteza: Como a Psicanálise Explica?"

Atualizado: há 1 dia

"Por que a Incerteza Gera Ansiedade Segundo a Psicanálise?"

''Medo e Esperança, o Conflito Psíquico''
''Medo e Esperança, o Conflito Psíquico''

''A Incerteza, o Cérebro e o Divã''

A era da incerteza, um cenário onde o desconhecido virou rotina e o futuro, antes esperado com esperança e segurança passou a representar um espaço vazio. Ao me reunir frequentemente com pessoas que me relatam angústias sobre instabilidade emocional, crises, ansiedade e angústia diante do amanhã, sinto que vivemos um tempo histórico, marcado pela ambiguidade e hesitação existencial, com consequências clínicas reais. Neste artigo, trago a visão combinada da psicanálise, da neurociência do desenvolvimento e da análise social, para te ajudar a compreender, não apenas o que vivemos, mas o porquê, ainda mais importante: como podemos lidar com isso de forma consciente e criativa? Quando falo de "crise atual", me refiro àquela sensação difusa de desamparo coletivo, a volatilidade econômica, os conflitos culturais, tudo em polarização, ruído informativo aliado à sobrecarga emocional. Mas também falo da crise interna, do medo de errar, do receio de ser julgado(a), desta insegurança que invade os sonhos e corrói a confiança. Essa ansiedade social e angústia individual começam na intersecção entre o que o corpo sente, o que a mente tenta prever e o que a cultura nos oferece contemporaneamente como sentido.

'Como o cérebro e o inconsciente se entrelaçam na era da incerteza''
''Como o cérebro e o inconsciente se entrelaçam na era da incerteza''

"Na era da velocidade líquida, a ansiedade deixou de ser apenas um sintoma, se tornou a linguagem. É o corpo tentando escrever o que a cultura silenciou." - Dan Mena.

Ao longo desse texto, vou frequentar expressões como insegurança emocional, medo do futuro, ansiedade diante do desconhecido, neuroplasticidade adaptativa, inconsciente pulsional, mal-estar da civilização, termos não escolhidos por acaso, mas baseados em dados que buscam expor o que as pessoas mais procuram sobre saúde mental na modernidade, psicologia da dubiez, psicanálise aplicada e neurociência comportamental. Meu propósito é unir clareza e sentido amplo, de modo que qualquer leitor, seja leigo ou mais familiarizado com a matéria, se sinta incluído(a), abraçado(a) e desafiado(a).

Vou mencionar um caso de um paciente que chega a consulta relatando: “Sinto que estou sem chão, parece que a terra se move sob meus pés’’. “Vivo apreensivo, não sei o que vai acontecer amanhã em muitas direções. Vivo em alerta, ansioso, e não consigo dormir.” A partir desse relato, posso seguir abordagens clínicas e teóricas, desde o olhar psicanalítico onde enxergo um desamparo infantil, um traço que reverbera em formas atuais de produzir sentimentos de riscos e insegurança; e pela neurociência afetiva. Por essa via posso mapear os circuitos emocionais cerebrais ativados, demonstrando como o medo do incerto ativou nele padrões responsivos que estão se cristalizando em ansiedade crônica.

O inconsciente opera com pulsões, desejos, fantasias e fantasmas que se manifestam como uma agenda emocional para nos proteger do inexplorado. A incerteza aparece, então, como um sinal, é aquela tessitura invisível que nos empurra a simbolizar, nomear, dar sentido a tudo que configura nosso mundo. Se ignorada, ela se transforma em fobia, obsessão, compulsão, mania ou estado de insegurança permanente. Já pela neurociência, vemos que o sistema límbico, especialmente a amígdala, registra a ambivalência como ameaça, ativando respostas automáticas do tipo “lutar, escapar, fugir ou congelar”. Mas sabemos também que a neuroplasticidade permite formar novos caminhos e trilhas, ensinando o cérebro a tolerar e regular, ou seja, aprender com o erro é aquilo que pode ser incerto.


"O desamparo moderno não é ausência de futuro, mas o excesso de futuros possíveis sem sustentação simbólica, um verdadeiro colapso das escolhas que paralisou o desejo."

- Dan Mena.

Se cruzarmos esses mapas, o clínico, cerebral e simbólico para revelar uma hipótese transformadora, a dúvida, por mais desconfortável que nos seja, pode ser percebida como uma oportunidade maturativa, um espaço de criação inovadora. Levada ao ‘’setting’’ por essa perspectiva, abrimos grandes possibilidades para que o paciente e analista, possam juntos, elaborar novos significados, construir modos de habitar o tempo presente, reconstruir a narrativa pessoal e transmutar da passividade confusa para uma postura ativa, corajosa e icônica.

Mas por que chamo esta “era da incerteza” e não apenas “da insegurança”? Porque o que estamos vivendo não é simplesmente um desequilíbrio pontual, senão uma condição paradigmática. Nossos modos de trabalhar, relacionar, consumir, amar, querer e pensar estão, e foram drasticamente redesenhados. A cultura líquida representa um tempo em que nada é feito para durar, nem relações, nem instituições, nem identidades. Se soma, a revolução tecnológica e digital, que introduziu uma lógica de obsolescência acelerada, transformando tudo em fluxo, toneladas de informação, emoções, corpos e até vínculos. A pulverização do laço social, marcada pela perda dos espaços de convivência comunitária e pelo declínio das referências coletivas, intensifica ainda mais o sentimento de dispersão e isolamento.

Esses vetores não atuam sozinhos. O enfraquecimento das instituições tradicionais (como a educação, família, a escola e as religiões) deixam o sujeito entregue à própria sorte na construção de sentido e direção. A medicalização da vida, transformou sofrimentos existenciais em diagnósticos, inibindo o questionamento e promovendo o consumo de soluções instantâneas e prontas. A economia da atenção, por sua vez, sequestra nosso tempo psíquico com estímulos de telas constantes e algoritmos que reforçam bolhas, desejos, frustrações permanentes e ansiedades.

''O Cérebro Moldando-se frente ao Desafio do Incerto''
''O Cérebro Moldando-se frente ao Desafio do Incerto''

"Quando o medo do incerto se torna hábito, o cérebro não mais antecipa os perigos, mas fabrica realidades em ruínas, e é aí que a psicanálise precisa ser o chão." - Dan Mena.

Outro fator determinante é certamente a precarização do trabalho afetivo, vínculos amorosos se tornaram efêmeros e banais, relações são regidas por contratos tácitos de consumo emocional, e o outro é facilmente substituível e descartável com um deslize de dedo. A ainda a aceleração do tempo subjetivo, onde o ‘’timing interior’’ não acompanha mais o tempo da máquina, isso gera apreensão, agonia, tristeza, angústia, cansaço e a sensação crônica de estar sempre atrasado para cuidar e olhar para si mesmo.

Tem dois fatores adicionais que ampliam ainda mais esse cenário. A hipervisibilidade do eu nas redes sociais produz um narcisismo performático, onde o sujeito se fragmenta em imagens, likes e curtidas, perdendo a consistência de sua autoavaliação e narrativa interna. E, por fim, o colapso da autoridade simbólica, seja na figura do pai ‘’freudiano’’, do professor, do político ou do saber científico que afunda o sujeito num mundo sem referências sólidas, onde tudo é opinável, fluido, instável e volúvel.


A cultura líquida, a revolução tecnológica e digital, a fragmentação do laço social, tudo reforça essa vivência de descontinuidade. Dita instantaneidade, como já foi pensada por grandes teóricos, implica um sujeito que se constrói e se desconstrói constantemente: ‘’estaríamos como pedreiros, construindo uma parede que desmorona todos os dias’’. Assim, a incertidumbre se torna o ‘’ambiente existencial do amanha’’, não apenas como evento esporádico, senão diuturno. É o terreno onde nossas narrativas pessoais e coletivas precisam urgentemente emergir.


"A crise do nosso tempo não é a falta de controle, mas a ilusão de que um dia o poderíamos ter, viver é suportar a ambiguidade sem perder a inteireza." - Dan Mena.

Percebo sensivelmente que pacientes relatam não apenas medo do futuro, mas um vazio pulsional de sentido, uma dificuldade de ancorar projetos, de assumir riscos e de decidir suas questões. E o corpo reage, há insônia, taquicardia, dor de cabeça, enxaquecas, fadiga emocional. Vivemos num estado de hiperexcitação, onde a amígdala acende, o cortisol sobe, o hipocampo fica sobrecarregado, e o córtex pré-frontal, em consequência, falha em contemplar alternativas simbólicas. Qual o resultado? Ansiedade crônica, falta de foco, desenvolvimento de fobias, é uma insegurança emocional permanente e incomoda. Praticamente, uma epidemia ansiolítica oculta.

Destarte, essa não é uma sentença de desespero. Prefiro apresentar e propor a inquebrantável incerteza como sustento de criatividade e o amadurecimento. Possuímos um arsenal de recursos psicanalíticos, como a escuta ativa, a valorização do silêncio, interpretação dos sonhos e a importante reconstrução da diegese. Ao mesmo tempo, trago essas práticas baseadas e intercaladas com a neurociência, usando técnicas de regulação emocional, respiração, atenção plena, visualização, entre outras. Essa combinação permite que o sujeito aprenda a tolerar e enfrentar o novo, reorganize suas expectativas e volte a se sentir confiante para tomar decisões sem garantias.


"Sem uma autoridade simbólica que organize o tempo, o futuro deixa de ser promessa e passa a ser ameaça, o amanhã virá sendo abismo, quando o hoje não tem base." - Dan Mena. Podemos considerar seguir vertentes sociais e filosóficas. A angústia existencial, a liberdade de escolha diante do nada ou do muito, os dilemas éticos contemporâneos, tudo isso vai configurar um mapa de pesquisa e ponderação. O conceito de sociedade de risco nos mostra como antecipamos ameaças por vivermos em sistemas interconectados e instáveis.

  ''Fragmentos de uma Identidade Líquida''
''Fragmentos de uma Identidade Líquida''

A filosofia existencialista aclara que a incerteza só se dissolve na ação de comprometimento mediante escolhas autênticas. Toda essa abordagem precisa ser tratada com leveza, como uma conversa guiada, mas sem abdicar da sua relevância teórica.

Ao amadurecer dessa virada madura, podemos tecer a hipótese real de que aceitar a incertidumbre, ao invés de entrar em guerra com ela, pode ser combatida pacificamente, sendo o maior passo para recuperar sentido. Vou mostrar a vocês, que, ao acolher o que não sabemos, criamos um estado de presença, onde já não seremos mais reféns da ausência de respostas, mas sim, sendo co-autores das próprias perguntas e escritas. Nesse gesto simbólico de nomear e enfrentar o incerto, na intersecção da psicanálise, neurociência, filosofia e ciências sociais, surge um ser mais consciente e resiliente para viver o tempo presente.

Ao final: o que se move sob a incerteza?, como podemos transformar o medo em conhecimento?, onde repousa a expectativa e a esperança em meio à instabilidade?.

Quero afirmar algo essencial sob minha experiência: viver a incerteza não é sinal de fraqueza, é invertidamente uma condição de lucidez. Cada um na sua singularidade especialíssima, capaz de encontrar sua própria forma de dialogar com o imprevisível, se habilitando a construir pensamento após pensamento, uma era não de desamparo, mas de forte permanência.


"O colapso da autoridade simbólica não gerou liberdade, mas orfandade emocional, não sabemos mais para onde ir porque perdemos com quem sonhar." - Dan Mena.


O Desamparo e o Vazio: A Visão da Psicanálise sobre a Incerteza Humana

Já parou pra pensar como, no fundo, todos nós carregamos um pouco daquela criança que fomos? Pequena(o), frágil, dependendo de alguém pra sobreviver. Esse sentimento não some com o tempo, ele reaparece quando o futuro fica nebuloso ou quando a vida vira de cabeça pra baixo. Sabe aquela angústia que aparece antes de uma escolha importante, ou o peso de se sentir sozinho(a) em meio ao caos? Para mim, isso é um retorno a nossa origem primitiva, um lembrete de que nascemos vulneráveis. Vejo isso como algo natural, não como um defeito, é parte da nossa história e trajetória de raça. Não entendo como muitos de nós desconsideramos a historicidade, é impossível se compreender minimamente sem retroagir pelo menos alguns milênios para traçar compreensões básicas de como chegamos até aqui. Ou você é aquela pessoa que só se reconhece a partir do seu nascimento? Ainda, você nunca olha para o céu e tenta imaginar a grandeza da concepção universal?

Mas olha só, nesse lugar frágil, entre o que somos e o mundo lá fora, tem um espaço mágico. É onde a incerteza mora, mas também onde a gente cria e cresce. Pensemos numa criança brincando sem roteiro, ela não sabe o que vem depois, mas inventa, se joga, se arrisca, encontra beleza. É nesse lugar que a vida pulsa com toda sua força. A vacilação, então, não é só um peso, ela é o que nos empurra pra frente.


"O desamparo não é uma falha humana, mas seu ponto de partida, é da falta que nasce o desejo, e do desejo, a possibilidade de nos reinventarmos." - Dan Mena.

E o vazio? Quem nunca sentiu aquele buraco no peito, a dor no estômago que não tem explicação? Mesmo quando tudo está bem, parece que falta algo. Com o mundo girando tão rápido, empregos que mudam, relações que se desfazem sem motivos aparentes, um planeta em crise, essa inércia fica ainda mais barulhenta. A gente tenta encobrir com distrações, mas ele sempre retorna como um pesadelo. Na minha visão, esse lugar despovoado é como um motor que nos inquieta, nos faz buscar sentido, criar a novidade. É desconfortável, eu sei, mas é o que nos mantém vivos. Já corri atrás de coisas achando que elas iam me completar, e você? Cheguei lá, e o vazio ainda estava comigo. É uma verdade dura, mas também um desafio. A gente não precisa, nem terá nunca todas as respostas, a graça divina está em viver o enigma, a pergunta, esse é o nosso destino. Agora, pensa no nosso cérebro, ele é esperto, mas não gosta de surpresas. Quando o desconhecido bate à porta, ele acende um alerta, como se dissesse “cuidado!”, se protege. Isso vem de longe, de quando precisávamos sobreviver a todo custo. Mas o legal é que ele também aprende. Com o tempo, podemos transformar esse medo em curiosidade, nossa mente é um parceiro, não um inimigo. Vivemos numa era louca. Tudo muda o tempo todo, crises, guerras, doenças fatais, riscos, incertezas. Isso mexe conosco, amplifica o desamparo. A incerteza é o ar que respiramos, e o desvalimento se tornou mais visível. Essa procura incansável pode nos levar a buscar respostas rígidas que nada ajudam. No fim, o que eu aprendi é simples, não dá pra fugir, dá pra encarar de frente. É no meio do caos que encontramos sentido, quando viramos protagonistas da própria vida.


"O vazio que nos assombra não quer ser preenchido, mas escutado, ele fala daquilo que ainda não fomos, e nos invita a continuar." - Dan Mena.

Pensadores do Abismo: O Que a Filosofia Diz Sobre Viver Sem Garantias


Viver sem garantias, eis a mais desconcertante condição a que estamos sujeitos. Quando olho para o mundo de hoje, vejo um cenário onde as certezas desmoronaram, onde o futuro se torna cada vez mais imprevisível, e a estabilidade emocional, existencial ou mesmo espiritual parecem um bem escasso. A sensação que temos é a de caminhar à beira de um abismo. E não falo de uma metáfora exagerada, um vão que até os existencialistas apontaram como a paisagem de fundo da liberdade do ser. A boa notícia é que a filosofia já esteve lá, ela voltou com ideias capazes de iluminar esse pensamento e passagem.

''  O Rosto do Desamparo''
''O Rosto do Desamparo''

Mas o que seria, afinal, essa cratera? Para mim, começa no instante em que percebemos que a vida não vem com manual de instruções. Que não há garantias de que tudo dará certo, que as fórmulas prontas falharam e que não existe um "destino traçado" esperando por nós. É o momento em que, diante da perda, da dúvida ou do próprio silêncio do mundo, olhamos para o nada e nos perguntamos: e agora? É aí que a filosofia pode deixar de ser teoria e passa a ser sobrevivência. Ela nos oferece uma linguagem para nomear aquilo que sentimos, e mais, nos invita a penetrar a incertidumbre não como inimiga, mas como condição da nossa suposta liberdade.


"A ausência de garantias não é uma maldição herdada, mas a mais crua liberdade. Viver é saltar de paraquedas no escuro e descobrir, no voo, que somos feitos de pura invenção."

- Dan Mena.

Jean-Paul Sartre dizia: estamos "condenados à liberdade". Parece uma incongruência, mas é um diagnóstico bastante preciso. Não temos franquias, isso significa que tudo depende de nós. O preço da liberdade é escolhas forjam a responsabilidade de construir sentido, de inventar trajetórias, de viver sem o conforto das verdades absolutas. Para muitos, isso é terrivelmente angustiante. Para mim, é também potência. Afinal, se não há um roteiro fixo, somos autores do próprio percurso, e isso, por mais desconfortável que pareça, é libertador.

Me lembro do momento em que isso me tocou pessoalmente. Eu fui pai muito prematuramente, naquele momento, vivendo num país com uma crise absurda tive que inventar meu futuro para não condenar minha jovem família, isso me impulsionou com apenas 15 anos a imigrar com apenas 1 peso no bolso. Foi uma fase de perda e desencontro, em que todas as respostas que eu conhecia falharam. Exatamente ali, como estrangeiro no vazio, que me deparei com a possibilidade de recomeçar. A filosofia foi minha companhia nesse percurso. Descobri, por exemplo, com Camus, que a vida pode ser absurda, mas isso não foi para mim um veredito de desespero. Foi um chamado à criatividade, à descoberta, se o mundo não me oferecia um sentido dado, me coube inventá-lo. Não foi fácil, mas foi belo.

Nietzsche também me ensinou algo valioso naquele momento, com ele aprendi quanto a coragem de criar os meus próprios valores. Quando tudo ao meu redor perdeu solidez, me restou perguntar o que realmente importava, não aos outros, mas a mim. Nesse exercício de autodefinição, emergeu uma ética radicalmente pessoal, uma vida que não se guiava pelo "dever de ser", mas pelo desejo de ser. Foi uma virada íntima, onde a angústia já não me paralisava, mas me movia. É claro que enfrentei o medo. Sempre há. Foi a tal da “angústia ontológica”, o desconforto diante do fato de que existimos, mas poderíamos não existir também. Naquele momento, quando peguei um ônibus em direção a Buenos Aires, ao total desconhecido, não havia nenhuma prerrogativa, e essa percepção me colocou diante do real em seu estado mais bruto. Mas também me aproximou de algo mais essencial, a autenticidade. Quando não tive mais asseverações para me esconder, abri caminho onde não tinha estrada.


"O abismo não é o fim, mas o espaço onde as certezas desabam para que a autenticidade possa nascer, é ali que deixamos de repetir e começamos a criar de fato." - Dan Mena.

''A Abertura para Criar Novos Significados''
''A Abertura para Criar Novos Significados''

Viver ou nascer sem regalias não é uma falha existencial, é o solo sagrado da própria razão de ser. O que nos resta é aprender a andar, muitas vezes pela lama, esse solo instável, destarte com coragem e firmeza. Não há mapa nem GPS. Não há bússola. Mas há algo enigmático, uma espécie de orientação interna, talvez uma intuição ou uma escuta cavada de si que pode nos guiar. A filosofia, nesses momentos, pode não ser a resposta, destarte, foi excelente companhia para mim. É essa quem caminha ao lado, murmurando no ouvido:

“Você pode não saber o destino, mas você é capaz de encontrar o caminho .”

Por isso, quando penso nos pensadores do abismo como Kierkegaard, Nietzsche, Camus, Heidegger, Sartre, entre outros, não os vejo como profetas do desalento. Enxergo eles como alquimistas da liberdade. Eles olharam para aquilo que era sem-sentido e escolheram não fugir, mas pensar. E isso, por si só, já é um gesto de bravura, humanidade e esperança.


"Quando tudo se desfaz ao nosso redor, o pensamento não serve para nos consolar, mas para nos empurrar a pensar, como respirar, é uma forma de não se afogar." - Dan Mena.

Para Onde Vamos? Estratégias para Viver em Tempos Incertos

O desamparo já não é mais uma experiência episódica, mas uma constante atmosférica. A incerteza se tornou a moldura do existir, e o vazio, antes temido, agora se apresenta como o pano de fundo sobre o qual pintamos nossas identidades. Mas, afinal, como viver em tempos tão desordenados sem sucumbir na desesperança?

Nascemos dependentes, lançados num mundo estranho, sem saber como decifrar seus códigos. Essa experiência inaugural deixa marcas, que nos acompanham ao longo da vida sob a forma de angústia, medo da perda e busca por um Outro que sustente nosso desejo. Não há neste momento grandes narrativas, nem promessas coletivas de futuro. Estamos isolados em uma bolha emocional, dependendo cada vez mais de estratégias individuais para suportar o insuportável. Mas sem o laço, sem a alteridade, a técnica vira sobrevivência, não é vida.

''O Labirinto da Incerteza ''
''O Labirinto da Incerteza''

Frente a isso, precisamos mais do que respostas prontas, requeremos de uma escuta de reconstruções simbólicas e de ferramentas psíquicas que nos ajudem a habitar o incerto para cultivar sentido;

Aceitar a Incerteza como Condição Ontológica

A tentativa de controlar o incontrolável é fonte de sofrimento, quando Freud nos fala da "angústia sem objeto", ele se refere a essa tensão sem rosto que nos consome. Ao aceitar a incerteza como constitutiva, deixamos de lutar contra fantasmas e passamos a dialogar com nossos próprios limites.

Transformar o Vazio em Espaço Criativo

O vazio, muitas vezes visto como ausência, pode ser também um espaço útil. Aprender quanto a capacidade de estar só é uma conquista psíquica. No silêncio do vazio, algo novo pode emergir, seja uma ideia, uma imagem, um gesto de inovação. É nesse intervalo que podemos nos reinventar.

Buscar Coerência Interna em vez de Controle Externo

Em tempos de hiperconectividade, há uma ilusão de que o mundo pode ser previsível, porém, o sentido da vida não é algo dado, mas construído. A coerência interna, mediada pelos valores, afetos e ações vale mais do que qualquer segurança prometida externamente.

Cultivar Laços Autênticos

A fragmentação do laço social, tem nos empurrado para relações líquidas e efêmeras. Reatar o fio com o outro, mesmo que em poucos vínculos, é um antídoto contra o niilismo. Somos seres de linguagem e relação, sem o outro, vamos adoecer.

Revisitar Narrativas Pessoais

Somos falados antes de nos percebermos, de darmos conta. Carregamos histórias que não nos pertencem, revisitar essas explanações com um olhar simbólico pode abrir um espaço interessante para novos significados. Não se trata de negar o passado, mas de fazer sua releitura no desejo.

Investir em Experiências Sensorialmente Plenas

Inegavelmente o corpo é parte essencial da mente, em tempos de dissociação e automatismo, práticas que nos reconectam com a sensibilidade, a arte, o toque, a respiração, vão restaurar o presente.

Dar Lugar à Falta, não ao Preenchimento

As soluções rápidas que tanto prezamos geram o mal-estar, sejam: likes, ansiolíticos ou consumo. Mas a falta é sempre estruturante. Quando a tentamos entulhar, adoecemos. Quando lhe damos lugar, nos tornamos sujeitos. Portanto, é da falta que brota o desejo, e é o desejo que move nossa vida.

"Não há mapa para o futuro, mas há bússolas internas. Elas só funcionam se silenciarmos o barulho da promessa de controle. Viver com sentido não é ter todas as respostas, é suportar as perguntas sem se perder de si." - Dan Mena.

A Ansiedade como Bússola. O papel Evolutivo da Incerteza

Diagnósticos apressados e tentativas frenéticas de eliminar qualquer forma de sofrimento psíquico, esse é o tom da atualidade. Entretanto, é preciso resgatar uma noção esquecida pela lógica da eficiência, a ansiedade, em sua origem, é uma resposta primitiva, original e funcional, um vestígio da nossa luta ancestral pela sobrevivência. Longe de ser apenas um transtorno a ser combatido, ela pode ser compreendida como um norte que aponta para o que é significativo e urgente de fato.


"Quando a ansiedade fala, não é apenas o medo que grita, mas o desejo que sussurra no ouvido, algo em mim quer nascer." - Dan Mena.

Medo e ansiedade são reações vitais, fazem parte do chamado "sistema de alarme", que prepara o corpo para enfrentar o desconhecido. A ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é um mecanismo evolutivo que visa garantir nossa continuidade diante de ameaças reais ou simbólicas. Embora, na sociedade contemporânea, onde a ameaça já não é mais o predador, mas sim a instabilidade afetiva, o fracasso social, a hiper-exposição ou a exclusão digital, essa transmutação moderna se desloca, se torna difusa, crônica e geralmente desproporcional. A incerteza, que antes era localizada e concreta, se tornou permanente, agressiva, flutuante e global.

Essa clara tendência que nos acompanha, à repetição do sofrimento não é meramente patológica, mas ensina algo básico quanto ao psiquismo: o desejo. "A angústia não engana", diz Lacan, ou seja, ela é o afeto mais verdadeiro, pois surge quando algo do real irrompe, esmagando a fantasia que sustenta o nosso ego.


"A ansiedade não é só alarme do perigo, é também o som do real batendo à porta, dizendo: sua vida merece uma escuta." - Dan Mena.

  ''Entre o Real e o Simbólico''
''Entre o Real e o Simbólico''

A ansiedade, neste ângulo, não é unicamente quanto ao medo do que pode acontecer, mas um sintoma do confronto com o que falta, com o que escapa à previsão e ao suposto controle que possamos ter. Ela nasce do intervalo entre o que se espera e o que de fato se apresenta. É o sinal claro de que estamos diante de algo desconhecido. Logo, Isso nos remete a desejar, a interpretar e construir direção e sentido.

Ao invés de patologizar a ansiedade, precisamos integrar essa parte da nossa experiência de ser. O cérebro possui uma extraordinária capacidade de adaptação, mesmo diante de traumas e mudanças, podemos criar novas conexões, rotas e narrativas. A incerteza, portanto, pode ser terreno bom para a criação de novos modos de vida. Viver em tempos incertos exige uma mudança de paradigma, em vez de buscar o impossível controle absoluto sobre o futuro, talvez devamos desenvolver uma ética da confiança em si mesmo(a), e outros, no processo da vida. A ansiedade nos alerta sim sobre o que está em jogo, sobre o que importa. Quando escutada, vai nos colocar em movimento, abrir possibilidades e afinar nossa percepção de mundo.


"A incerteza que fere é a mesma que germina, toda ansiedade carrega o parto de uma nova versão de si." - Dan Mena.

Neuroplasticidade e Adaptação. Como Lidamos com o Imprevisível?

Marcados que somos pela quebra das continuidades e pela substituição de certezas por probabilidades, está no centro dessa instabilidade o nosso cérebro. Este órgão, não vai somente registrar o mundo, mas o vai interpretar, o irá reconstruir ao seu bel prazer e, sobretudo, se adaptar a ele. A neuroplasticidade, definida como sua capacidade de modificar sua estrutura e funcionamento em resposta a nossas singulares experiências, se tornou uma das mais importantes descobertas do século XXI para compreendermos como lidamos com o inexato.

Essa capacidade de adaptação neurológica é, ironicamente, um antídoto contra o colapso, e também, para o sofrimento. Diante do caos, o cérebro não se paralisa, ele reorganiza rapidamente seus circuitos. Essa reestruturação das emoções não são resquícios arcaicos, mas mapas vivos de sobrevivência, ativando regiões cerebrais que vão moldar articuladamente comportamentos frente ao novo. Assim, a hesitação, por mais angustiante que seja, é também um chamado à flexibilidade.


"Diante do imprevisível, o cérebro não recua, ele acompanha o caos, redesenha caminhos, e nos ensina que viver é também reaprender continuamente." - Dan Mena.

A plasticidade neuronal é mais intensa na infância, mas nunca cessa. Com os estímulos certos, diante de traumas persistentes, o cérebro altera conexões sinápticas, recria narrativas internas, muda padrões perceptivos num piscar de olhos. Isso tem enormes implicações clínicas e existenciais, diante que, somos seres cuja identidade está sempre em mutação, moldados(as) tanto pelo afeto quanto pela sua ausência. Essa repetição e compulsão dos quais já me referi, intuem que o aparelho psíquico, como o neurológico, cria trilhas de funcionamento que, uma vez reforçados, se tornam hábitos.


Digamos, que uma certa ressignificação biológica contínua acontece, que frente ao imprevisível, o cérebro age como um radar emocional detectando o novo, fazendo comparações com memórias anteriores e acionando os sistemas de resposta: medo, ansiedade, evasão, retirada, enfrentamento. As amígdalas cerebrais, associadas às emoções de alerta, são ativadas diante da incerteza. O córtex pré-frontal, por sua vez, tenta frear respostas impulsivas, ponderando, pesando riscos, gerando raciocínios mais estratégicos. Mas há um limite para essa sobrecarga emocional que pode inibir a capacidade racional. Daí o colapso subjetivo, os ataques de pânico, as paralisias diante das possíveis escolhas.


"A plasticidade não é um luxo do cérebro, é seu lado humilde, ele se refaz porque sabe que o mundo nunca é o mesmo duas vezes." - Dan Mena.

A neuroplasticidade, é sem dúvidas uma chave evolutiva, nos permitindo a criação de novos significados para o que, antes, era apenas ameaça. Mas não basta o tempo, precisa de contextos, segurança, afirmações, laços e vínculos. A plasticidade requer afetos confiáveis para prosperar em direção à saúde. Sem isso, se adapta ao trauma, o consolida em sintomas como defesas adaptativas, não por escolha, mas por necessidade.

Por essa razão, quando Bauman fala em “mundo líquido”, devemos lembrar que o cérebro é, por natureza, líquido também. Seus mapas são redes flutuantes, as certezas, sempre provisórias. Nesta conta, também entra o excesso de positividade e da pressão por desempenho, que leva a um esgotamento que também é neurofisiológico onde não há plasticidade possível sem descanso, sem pausa e sem o necessário silêncio interior. Precisamos do espaço de ressonância onde memórias rígidas encontram outras possibilidades de leitura. Um lugar onde o imprevisível da fala pode romper com o previsível da dor repetida.

O cérebro e o psiquismo não são lados opostos, senão camadas de uma mesma experiência de mundo, a chamada adaptação. Somos, no fundo, sistemas abertos, como ‘’códigos open source’’ biológicos, psíquicos e simbólicos, tentando encontrar um eixo num mundo sem uma superfície sólida.


"O cérebro, assim como a alma, só evolui no improvável. É no susto que ele encontra novos sentidos para aquilo que parecia o fim." - Dan Mena.

O Declínio da Autoridade Simbólica e a Crise do Futuro

Falemos em tempos não tão distantes, onde o amanhã era uma promessa sustentada por pilares simbólicos sólidos: a família, a religião, a escola, o bairro onde passávamos a maior parte da infância e adolescência, os amigos reais, a namorada(o) que esperávamos por anos, a empresa que trabalhávamos por décadas, o Estado-nação e a ciência moderna. Esses eram basicamente os grandes organizadores de sentido, instâncias de autoridade simbólica que nos forneciam uma estrutura narrativa confiável, e à experiência subjetiva de vida. A hierarquia em todas suas organizações eram bases importantes para a sustentação da estabilidade que hoje está ausente.


Sabíamos “quem mandar”, “quem obedecer”, “o que esperar” “o que entregar”. Havia um lugar adaptado simbolicamente coerente e relevante para cada papel. Porém, na contemporaneidade, todas essas instituições e rols centenários perderam sua força performativa e foram pulverizados pela nova cultura. O icônico, como estrutura organizadora do desejo e do laço social, entrou em colapso irreversível.


"Quando o simbólico desestrutura, não é apenas o pai que é silenciado, é o tempo que perde suas amarras e o sujeito seu espelho." - Dan Mena.

''A Prática Clínica como Espaço de Reconstrução''
''A Prática Clínica como Espaço de Reconstrução''

Essa autoridade não desapareceu repentinamente, ela foi corroída, silenciada, apagada ou substituída por simulacros de arbítrio, frágeis, débeis e descartáveis. Em vez da tradição, temos o algoritmo, no lugar do pai simbólico, o “influencer”. No espaço do saber construído, temos o suposto-saber instantâneo do Google, agora da inteligência artificial. A maioria, nem lembra como escrever num papel, deixamos de pensar e questionar, fomos totalmente polarizados, viramos verdadeiros papagaios e queremos que robôs executem nossas tarefas cognitivas. Vivemos a transição de uma sociedade da disciplina para uma encapsulada no desempenho, onde a figura do sujeito aprendiz cedeu lugar ao sabe tudo, inclusive de si mesmo. E, nesse novo cenário apocalíptico de trombar as fases, de ignorar estratos, ninguém mais nos diz o que fazer, e isso, paradoxalmente, nos paralisa.

A crise do futuro que já chegou, está presa e enraizada na falência do simbólico como promessa de continuidade. O metafórico, representativo, emblemático, figurativo como campo estruturante da linguagem e da Lei, se foram, a ausência de uma autoridade espelhante e consistente gerou uma vivência de tempo flutuante, onde o presente se tornou o absoluto, e o que virá foi colonizado por ansiedades. Como não há mais o “Grande Outro” que garanta uma ordem desejante, como sujeitos, nos vemos desorientados diante do excesso de liberdade como uma angústia, e não como potência.


"O amanhã deixou de ser destino coletivo e partilhado para virar um algoritmo ansioso. Cada um está perdido em seu próprio mapa, sem bússola, gps nem norte." - Dan Mena.

Não podemos ignorar tudo isso, fizemos nossas escolhas, somos todos, totalmente responsáveis. Portanto, quando você se pergunta para onde estou indo e não encontrar respostas, quem sabe possa lembrar das minhas palavras, o que me inclui no contexto.


Nosso cérebro reage com intensa atividade em regiões como a amígdala e o córtex pré-frontal diante de situações imprevisíveis, ou seja, a incerteza desorganiza nossas expectativas de recompensa e mobiliza circuitos de defesa. Quando não há um mapa simbólico claro, o sistema nervoso entra em estado de alerta prolongado, favorecendo respostas impulsivas, comportamentos de evitação e crises de sentido. O futuro, nessa perspectiva, deixa de ser uma construção simbólica coletiva e se torna um objeto de consumo ansiolítico e personalizado. As promessas de autoajuda, das metas, dos hacks de produtividade ou da "espiritualidade de resultado" são apenas tentativas falsas e desesperadas de re-encontrar um tempo que deixou de ser orientado por narrativas partilhadas. Em vez do amanhã, temos atualizações constantes de um presente fragmentado.

Olhando pela clínica, esse teatro gera zumbis estonteados, tomados por uma mistura de libertinagem e desamparo. Como construir um projeto de vida se não há horizonte confiável? Como desejar se o desejo não encontra ancoragem simbólica? A ausência de metáforas orientadoras transforma a experiência de viver em um esforço contínuo de reinvenção fracassada, o que, embora possa ter parecido emancipadora, foi um tiro no pé, que foi se traduzindo em exaustão psíquica, essa que experimentamos e vemos todos os dias.


"O futuro sem metáforas virou tarefa individual, e nesse esforço solitário, o sujeito se dobra, se esgota, tentando construir sentido com palavras que já não o fazem." - Dan Mena.

As crianças, outrora moldadas pelo “não” da autoridade parental, hoje crescem num ambiente onde o excesso de permissão substitui o limite. E isso, trouxe consequências no aparelho psíquico: o supereu se transformou em um tirano do desempenho: “você pode tudo, logo deve tudo”, e o futuro se transformou em um campo de batalha contra o fracasso pessoal.

"O amanhã perdeu sua espinha dorsal, restou ao indivíduo a tarefa impossível de construir o futuro com peças soltas do presente." - Dan Mena.

Essa crise que enfrentamos, exige, mais do que respostas técnicas, reivindica de todos uma reconstrução, a reinvenção do laço social e da escuta subjetiva. O desafio ético da contemporaneidade está em reencantar o simbólico sem recorrer ao autoritarismo, reimaginar o que virá, não como uma mercadoria, mas como uma tessitura coletiva e compartilhada.


"Quando ninguém mais nos diz ‘não’, o desejo não cresce livre, cresce órfão, e o excesso de permissão que tanto prezamos se transforma em prisão performática." - Dan Mena.

  ''Caminhos Complexos da Mente Diante da Crise''
''Caminhos Complexos da Mente Diante da Crise''

A Grandeza que Resiste ao Caos

Sombras líquidas, cenário de colapso da autoridade simbólica, enquanto a neurociência observa um cérebro sobrecarregado, tentando dar sentido a um mundo desagregado. A ansiedade se tornou o novo oxigênio, e a angústia uma silenciosa epidemia. E, ainda assim, talvez exatamente por isso, é necessário olhar para o alto.

O céu estrelado não apenas nos fascina, ele nos lembra do que somos feitos, de poeira das estrelas, consciência em meio a desordem. O universo, com seus trilhões de galáxias e sextilhões de estrelas comprovadas, não nos diminui, nos engrandece. Somos frágeis, sim, mas também capazes de encontrar coerência e razão, mesmo sob as tempestades da oscilação.

A fé, nessa circunstância, não se opõe ao saber, mas o transcende. Ela toca onde a lógica não alcança, no desejo de permanência e pertencimento. Não busquemos certezas absolutas, mas uma fortaleza interna. Um eixo.

E é aqui que o antigo texto sagrado nos traz uma resposta maior:

“Os céus declaram a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra das suas mãos.”

(Salmo 19:1)

Não como dogma, mas como lembrete, há algo maior certamente. Mesmo quando as estruturas simbólicas ruem, mesmo quando o ego vacila ou os neurotransmissores disparam, há uma força que nos empurra à contemplação. A grandeza está, antagonicamente sustentada na humildade de reconhecer que não controlamos tudo, e que justamente por isso, podemos confiar.

A incerteza é real, mas não é o fim. É a condição que nos abre à transformação. Diante do silêncio das galáxias, a alma encontra seu espaço. Nesse silêncio cósmico, habita a resposta que nenhuma ciência pode dar por completo, a convicção de que somos parte de algo que pulsa, que cria, que sustenta e sobreexcede.

“Os céus declaram a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra das suas mãos.”
“Os Céus Declaram a Glória de Deus, e o Firmamento Proclama a Obra das suas Mãos.”

Palavras Chaves



FAQ: Principais Questões Sintetizadas do Artigo

O que é a era da incerteza e por que ela afeta a saúde mental?

A era da incerteza refere-se a um período marcado pela instabilidade social, econômica e emocional, que gera insegurança e ansiedade em indivíduos. Essa instabilidade impacta diretamente a saúde mental ao aumentar o medo do futuro e a sensação de desamparo.

Como a psicanálise entende a crise existencial provocada pela incerteza?

A psicanálise interpreta a crise como um reflexo do desamparo interno e da dificuldade de simbolizar o desconhecido, onde o inconsciente manifesta medos e angústias que afetam o equilíbrio emocional e a construção do self.

De que forma a neurociência explica a resposta do cérebro à incerteza?

A neurociência demonstra que a amígdala e outras estruturas límbicas ativam reações de estresse e ansiedade diante da incerteza, enquanto a neuroplasticidade permite a adaptação e regulação emocional com o tempo e o aprendizado.

Quais são os sinais clínicos mais comuns da ansiedade causada pela incerteza? Insônia, tensão muscular, irritabilidade, sensação de vazio, medo do futuro e dificuldades cognitivas como falta de concentração são manifestações frequentes associadas à ansiedade da incerteza.

Como o conceito de sociedade líquida está relacionado à era da incerteza?

Sociedade líquida, termo que descreve a fluidez e instabilidade das relações e estruturas sociais modernas, reforça a sensação de insegurança e dificulta a construção de identidades sólidas em um mundo em constante mudança.

Qual o papel do inconsciente na experiência da incerteza?

O inconsciente atua como um reservatório de desejos, medos e conflitos que influenciam nossa forma de lidar com o desconhecido, podendo tanto gerar resistência quanto abrir caminho para o autoconhecimento e a resiliência.

De que maneira a neuroplasticidade pode ajudar a lidar com a ansiedade da incerteza?

A neuroplasticidade permite que o cérebro forme novos circuitos para regular emoções e lidar melhor com situações imprevisíveis, possibilitando o desenvolvimento de estratégias adaptativas e maior equilíbrio emocional.

Como a psicanálise clínica pode ajudar no enfrentamento da crise atual?

A psicanálise oferece ferramentas para explorar os conteúdos inconscientes, reconstruir narrativas pessoais e desenvolver a capacidade de simbolização, promovendo maior tolerância ao desconhecido e autoconhecimento.

Quais técnicas neurocientíficas auxiliam na regulação emocional em tempos incertos?

Técnicas como mindfulness, exercícios de respiração, biofeedback e terapias baseadas em neurofeedback ajudam a regular o sistema nervoso, reduzindo a hiperexcitação causada pela incerteza.

Por que aceitar a incerteza pode ser um caminho para a saúde mental?

Aceitar a incerteza transforma o medo do desconhecido em oportunidade para crescimento, criatividade e adaptação, promovendo uma postura mais consciente e resiliente diante das mudanças.

Qual a relação entre ansiedade coletiva e instabilidade social?

A ansiedade coletiva surge quando grandes grupos são impactados por eventos instáveis, como crises econômicas ou políticas, reforçando o medo e o desamparo que refletem na saúde mental individual.

Como a construção do self é afetada na era da incerteza?

O self, entendido como a identidade e o sentido de ser, fica fragilizado diante da falta de segurança e de narrativas estáveis, exigindo maior trabalho psíquico para manter coesão interna.

Quais são os principais desafios clínicos na abordagem da ansiedade contemporânea?

Os desafios incluem a complexidade dos sintomas, a sobrecarga informativa, a dificuldade em reconhecer e nomear emoções e a necessidade de integrar abordagens clínicas e neurocientíficas.

Como a neurociência do comportamento humano complementa a psicanálise?

A neurociência oferece uma base biológica para os processos emocionais e cognitivos estudados pela psicanálise, enriquecendo o entendimento do funcionamento psíquico e ampliando as possibilidades terapêuticas.

De que modo o medo do futuro influencia decisões e comportamentos?

O medo do futuro pode levar à paralisia, evitamento ou comportamentos impulsivos, prejudicando o planejamento e a construção de projetos de vida consistentes.

O que é a psicodinâmica da incerteza?

É o estudo das forças internas e conflitos psíquicos que surgem na relação do sujeito com o desconhecido, influenciando emoções, pensamentos e comportamentos frente à instabilidade.

Como a subjetividade é impactada em tempos incertos?

A subjetividade, ou experiência interna do indivíduo, sofre fragmentação e instabilidade, tornando-se mais vulnerável a distúrbios emocionais e dificuldades na construção de sentido.

Quais estratégias terapêuticas favorecem a resiliência diante da incerteza?

Promover a escuta ativa, o fortalecimento do vínculo terapêutico, a construção de narrativas simbólicas e o uso de técnicas de regulação emocional são estratégias eficazes.

Como o trauma pode se relacionar com a experiência da incerteza?

Traumas pré-existentes podem potencializar a sensibilidade à incerteza, intensificando respostas ansiosas e dificultando a adaptação, exigindo atenção clínica específica.

Qual a importância do diálogo entre psicanálise e neurociência na clínica contemporânea?

Esse diálogo amplia a compreensão do sujeito, integrando aspectos biológicos, emocionais e simbólicos, possibilitando tratamentos mais eficazes e humanizados frente aos desafios da era da incerteza.


Links sobre o Tema

PSICOANÁLISIS Y NEUROCIENCIA (Dialnet – PDF): Explora como Freud e Luria anteciparam uma “psicologia de ciência natural” e a parceria entre neurociência e psicanálise desde a fundação do campo moderno English at PennDialnet+1Topía+1


Psychoanalysis and Neuroscience: The Bridge Between Mind and Brain (PMC): Revisão que explica a reconexão entre psicanálise e neurociência, com foco no princípio da energia livre e no Default Mode Network DialnetPMC


Linking neuroscience and psychoanalysis from a developmental perspective: Why and how? (ScienceDirect / ResearchGate): Argumenta por que unir neurociência e psicanálise durante o desenvolvimento infantil traz ganhos clínicos e epistemológicos PMCResearchGate+1ScienceDirect+1


The Neurobiological Underpinnings of Psychoanalytic Theory and Therapy (Frontiers in Behavioral Neuroscience): Artigo de Mark Solms que elucida as bases neurológicas de conceitos psicanalíticos centrais como necessidades emocionais e processos inconscientes rgsa.openaccesspublications.org+4ResearchGate+4ScienceDirect+4frontiersin.org+1English at Penn+1


Bibliografia


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Obra seminal que articula neurociência afetiva e psicanálise para compreender como o self se organiza nas experiências emocionais precoces.

Schore, A. N. (2003). Affect Dysregulation and Disorders of the Self. New York: W. W. Norton.

Explora a desregulação emocional e sua relação com transtornos psicológicos, oferecendo um modelo psicodinâmico fundamentado na neurobiologia.

Freud, S. (1927). O Futuro de uma Ilusão. Imago.

Freud discute a incerteza humana diante da existência e a função das crenças religiosas como forma de apaziguar a angústia.

Winnicott, D. W. (1971). O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago.

Investiga o espaço potencial onde a incerteza da realidade externa e a subjetividade interna se encontram na experiência do brincar.

Kernberg, O. (1998). Ideology, Conflict, and Leadership in Groups and Organizations. Yale University Press.

Analisa como a incerteza em grupos pode levar à rigidez ideológica e às dinâmicas inconscientes de poder.

LeDoux, J. (1996). The Emotional Brain: The Mysterious Underpinnings of Emotional Life. New York: Simon & Schuster.

Explica os mecanismos cerebrais do medo e da incerteza emocional, explorando os circuitos da amígdala e suas implicações para o trauma.

Damasio, A. R. (1994). Descartes' Error: Emotion, Reason, and the Human Brain. New York: Putnam.

Mostra como a emoção é fundamental para a tomada de decisões em contextos de incerteza, desafiando o paradigma racionalista cartesiano.

Sapolsky, R. M. (2017). Behave: The Biology of Humans at Our Best and Worst. New York: Penguin Press.

Uma ampla abordagem biológica e social sobre os comportamentos humanos, especialmente em situações ambíguas e incertas.

Bauman, Z. (2000). Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar.

Aborda a fluidez da vida contemporânea, marcada por relações frágeis, identidades instáveis e o colapso das certezas sólidas.

Han, B.-C. (2012). A Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes.

Analisa como a hiperprodutividade e a autoexploração emergem da tentativa de suprimir a incerteza e o vazio existencial.

Sartre, J.-P. (1943). O Ser e o Nada. São Paulo: Vozes.

Fundamental na filosofia existencialista, examina o ser humano como liberdade radical, condenado à incerteza de suas escolhas.

Heidegger, M. (1927). Ser e Tempo. Petrópolis: Vozes.

Uma investigação filosófica sobre o ser, o tempo e a angústia diante do nada — que revela a condição essencial da incerteza.

Beck, U. (1992). Risk Society: Towards a New Modernity. London: Sage.

Introduz o conceito de sociedade do risco, onde o futuro é permeado por incertezas fabricadas pela própria modernidade.

Giddens, A. (1991). Modernity and Self-Identity: Self and Society in the Late Modern Age. Stanford: Stanford University Press.

Explora a construção do self em um mundo onde as estruturas sociais tradicionais colapsam e reina a incerteza identitária.

Kahneman, D. (2011). Thinking, Fast and Slow. New York: Farrar, Straus and Giroux.

Descreve como tomamos decisões sob incerteza e os vieses cognitivos que afetam nosso julgamento.


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"Open Researcher and Contributor ID" Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199.

Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.

Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Department of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.




 
 
 

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