"Dentro da Mente, Neurociência e Psicanálise Trabalham Juntas"
- Dan Mena Psicanálise
- 17 de jul.
- 28 min de leitura
Atualizado: 23 de jul.
O Cérebro e o Divã, Fundamentos da Integração.

Falar da mente é como entrar num oceano, cheio de correntes invisíveis, formas mutantes e uma beleza misteriosa que fascina muitos, e, ao mesmo tempo, nos escapa. Como psicanalista, não raras vezes me pego pensando: o que é, afinal, esse “eu” que sente, pensa, sofre, lamenta, deseja e não se compreende totalmente? Por acaso minha própria análise ou profissão me livraria de novas contendas psíquicas e indagações? Absolutamente não.
Durante muito tempo, a ciência buscou respostas fragmentadas para essa pergunta impossível. De um lado, os neurocientistas tentando decifrar o cérebro como uma máquina sofisticada, cheia de fios e conexões elétricas. De outro, os psicanalistas, seguimos a alma e as emoções, sonhos e fantasias, tentando escutar aquilo que não se diz ou se fala em silêncio. Hoje, vivemos um novo tempo em que essas duas formas de olhar não só podem caminhar juntas, como de fato se encontram.
A ideia de unir psicanálise e neurociência pode parecer improvável à primeira vista. Afinal, uma se baseia na escuta clínica, na linguagem simbólica, nos processos inconscientes; a outra, em exames de imagem, sinapses e neurotransmissores. Mas ao invés de enxergarmos essas abordagens como opostas, podemos capturar seu estado como dois lados da mesma moeda. Ambos investigamos, dentro da nossa retórica, a mesma realidade: a mente. Como sabemos, ela é feita de carne, química, história e quereres, ao mesmo tempo que é corpo, linguagem e narrativa. E é justamente nesse lugar de encontro, onde o biológico encontra o simbólico que surge uma forma inovadora de compreender o funcionamento psíquico, o sofrimento, a angústia que nos atravessa e, sobretudo, as possibilidades de transformação que carregam.
Nos últimos anos, autores como Allan Schore, Mark Solms, Daniel Siegel e Norman Doidge têm se dedicado a construir pontes entre esses dois campos, e eu os sigo muito de perto. Recentemente concluí uma extensão acadêmica pela PUCRS em Neurociência do Desenvolvimento com a Professora Audrey Van Der Meer, e vejo, o quanto essas duas correntes estão jogando a mesma partida.
Não se trata de traduzir a psicanálise em linguagem científica, longe disso, nem de psicologizar os achados da neurociência. Falo de esse cruzamento a um lugar comum, onde a subjetividade do paciente, sua história de vida, afetos e dores, possam ser lidos também à transparência do que acontece, concretamente, em seu cérebro. Schore, mostra que a maneira como um bebê é acolhido, tocado, olhado e confortado nos primeiros meses de vida vai influenciar diretamente sua estruturação psíquica emocional adulta. Essa regulação afetiva precoce, que sempre consideramos como uma base capital na psicanálise, tem agora respaldo neurobiológico. O que antes era apenas sensível, agora é visível.

O cérebro, diferente de uma máquina que já nasce pronta, vai se formando nas relações intersociais. A neurociência já comprovou isso, os vínculos afetivos moldam a forma como os neurônios se conectam e como as emoções serão processadas no indivíduo. Esse dado científico extraordinário conversa diretamente com o que Freud dizia há mais de um século, que o sujeito se forma no laço com o outro. Portanto, não é apenas uma técnica ou um ritual clínico, é uma intervenção capaz de reorganizar e acomodar circuitos neurais. A palavra tem peso, o afeto transforma, a presença modifica. A ausência silencia, mas também grita, o toque acalma, mas evoca feridas, a escuta liberta, mas também confronta, o silêncio protege, mas pode aprisionar, o vínculo cura, mas exige renúncias que nem sempre sabemos nomear.
"No intrincado tecido da mente as conexões neurais tocam os afetos, unindo as narrativas da psicanálise às descobertas da neurociência, num balaio íntimo entre o que se sente e o que se denota." - Dan Mena.
Quando um paciente entra em análise, ele não leva ao divã apenas seus sintomas, seus pensamentos ou comportamentos. Ele(a) me traz sua biografia emocional. E o que fazemos, é ajudar esse sujeito a encontrar sentido para aquilo que o(a) faz sofrer, sem, nem mesmo que compreenda o porquê. A neurociência, permite esquadrinhar como esse incômodo tormento deixa marcas físicas, altera o funcionamento cerebral, impacta a memória, o sono, o apetite, a imunidade o amar. Mais do que isso, nos mostra que o cérebro é plástico, articulável, ou seja, ele pode mudar.
E é justamente desse espaço ao que me refiro, onde o encontro com a psicanálise se torna altamente promissora. Porque, se o cérebro pode se reorganizar e relocar, então o trabalho clínico que alimenta a elaboração simbólica do trauma, do afeto reprimido ou da dor sem nome, pode, sem sombra de dúvidas, gerar mudanças duradouras também no plano biológico.
Por estas razões, a neuropsicanálise, campo emergente que busca integrar essas duas perspectivas, vem ganhando forças visionárias nas últimas décadas. Ela não é uma nova teoria, nem uma substituição da clínica clássica, é uma abertura, uma janela. Um alargamento de fronteiras intermináveis. Ela nos convida a escutar o sintoma com ouvidos atentos, mas também a ser visto com olhos científicos. Quando um cliente deprimido(a) me procura e diz que perdeu a vontade de viver, eu escuto metaforicamente a perda de desejo, o recalque e culpa inconsciente. Mas também, posso compreender que há uma extensão naquele corpo, uma queda real de dopamina, alterações na amígdala cerebral, diminuição da atividade no córtex pré-frontal.
Essas leituras duplas, não anulam nosso método singular, senão o completam e enriquecem. Acredito firmemente, que Freud não teria a mínima excitação em dar mão destes recursos se estivessem disponíveis na sua época.
Ao estudarmos o cérebro sem fundamentalismos academicistas, descobrimos que as emoções e a razão não são forças opostas, como acreditava o velho dualismo cartesiano. Pelo contrário, estão intimamente entrelaçadas. António Damásio foi um dos primeiros a demonstrar isso ao dizer que “não somos máquinas pensantes que sentem, mas sim engrenagens sentimentais que pensam”. Dita inversão de perspectiva é algo totalmente revolucionário. Ela dá razão à psicanálise quando coloca o afeto no centro da nossa experiência, o sujeito é, antes de tudo, um ser afetado. Sentimos antes de pensar, e pensar, é apenas uma tentativa de dar conta daquilo que chega até nós emocionalmente.
Tais implicações se fazem presentes na prática terapêutica. Um trabalho clínico que respeite essa estrutura labiríntica, precisa considerar tanto o que o paciente diz quanto o que seu corpo expõe. Nem tudo que é vivido pode ser verbalizado, há dores que se expressam no silêncio, no fisiológico, nos lapsos. A neurociência tem ajudado a entender como experiências traumáticas alteram o funcionamento do cérebro, tornando difícil o acesso à memória, à linguagem, ao tempo linear. E isso explica por que muitos pacientes, mesmo desejando melhorar, têm dificuldades em transpor determinados pontos conflitivos.
Não se trata da resistência natural ao trabalho analítico ou má vontade do cliente, mas de estruturas internas desorganizadas pelo sofrimento.
A boa notícia é que o cérebro também responde ao cuidado, à escuta. A atenção plena, muito bem abordada por Daniel Siegel, mostra que estados mentais de presença e conexão podem literalmente “curar” os circuitos cerebrais desregulados e desarmônicos. Destarte todas essas boas observações, continuamos pela psicanálise atravessando os séculos, sem deixar de lado aquilo que a torna uma matéria única: a escuta do desejo, do que resiste, do que não é explicável em nenhum manual.
Não se trata de fazer da psicanálise uma ciência exata, nem de reduzir o sujeito a um conjunto de reações químicas. Precisamos reconhecer que somos, sim, corpo e mente. Que o inconsciente tem base biológica, mas que não pode ser reduzido a isso. Que os afetos circulam entre sinapses e palavras, entender a mente exige, mais do que fórmulas, uma escuta atenta e um olhar ampliado.
Ao integrar a neurociência ao pensamento psicanalítico, ganhamos novas ferramentas para tratar o sofrimento. Mas, mais do que isso, reafirmamos a dignidade da experiência subjetiva, da história de cada um, daquilo que não pode ser medido, mas que pode ser sentido, narrado e transformado. E é nesse encontro, entre o invisível e o visível, entre a escuta e o cérebro que nasce uma nova forma de cuidar. Uma forma que, espero, este artigo ajude a esclarecer.

“A regulação afetiva na infância é o fundamento neurobiológico da formação do self, e seu funcionamento adequado depende da qualidade da relação entre o cuidador e o bebê” (Affect Regulation and the Origin of the Self, 1994) - Allan Schore. Essa frase deixa claro, que cada vez mais devemos escutar com o coração, pensar com o corpo e compreender com os dois lados do cérebro.
"A intersecção entre a mente e o cérebro se revela como um diálogo, onde as emoções moldam os caminhos neuronais e as histórias pessoais se entrelaçam com os achados científicos, proporcionando novas formas de entender e curar." - Dan Mena.
Regulação Emocional e o Surgimento do Self
O Afeto Modela a Arquitetura do Ser
Como se forma o “eu”? Esse enigma, que por vezes escorrega por entre os dedos da nossa razão, encontra respostas não em grandes eventos da vida adulta, mas no terreno aparentemente banal dos traquejos emocionais precoces, na qualidade do colo recebido, no olhar que nos reconheceu, na presença que nos nomeou antes mesmo das palavras. O self, esse núcleo íntimo da identidade subjetiva, não nasce pronto, o vamos construindo lentamente, entre choros acolhidos e desacolhidos, silêncios partilhados, o calor do toque e a previsibilidade dos gestos de cuidado que recebemos.
A neurociência, especialmente através das pesquisas de Allan Schore (1994), vem confirmando aquilo que a psicanálise intuiu há mais de um século: a mente se forma no vínculo. E mais ainda, o cérebro, sobretudo em seus primeiros anos de vida, é uma escultura viva, moldada pela qualidade das experiências afetivas encontradas no percurso.
O sistema límbico, responsável pela regulação das emoções, ainda imaturo nos primeiros meses, se desenvolve na dependência das interações com o ambiente, principalmente da mãe ou cuidador primário. A função destes, é, um verdadeiro “organizador neuro-emocional”, regulando os estados internos da criança até que esta possa, progressivamente criar seu norte regulatório.
"O self não é um dom da natureza, mas uma escultura afetiva lapidada no silêncio das primeiras respostas emocionais." - Dan Mena.
O desenvolvimento do cérebro emocional é inseparável das relações de apego, na mente do bebê, as redes neurais da amígdala, do hipotálamo e do córtex orbitofrontal vão sendo “afinadas” pela qualidade do afeto recebido, pela sintonia com os estados internos vivenciados. Quando eles choram e encontram uma resposta sensível, quando seu mal-estar é acolhido e decodificado por um outro mais maduro, ele(a) começa a formar não apenas um vínculo de confiança, mas, um verdadeiro mapa interno de previsibilidade, segurança e pertencimento. É nesse movimento de posição afetiva externa que nasce o embrião do autocontrole interior. Digamos que a partir dessa capacidade de acomodar nossos estados internos que o self começa a tomar forma.
Deduzimos logo, que, como bebês, não existimos “isoladamente”, nos tornamos sujeitos na medida em que somos acolhidos. Quando essa função é exercida com consistência, o bebê pode viver a ilusão de onipotência, se sentir o centro do mundo, e, aos poucos, se desiludir de forma saudável, dando lugar a um self coeso, real, com margem para a frustração e para a criatividade. A ausência dessa presença reguladora, ao contrário, produz falhas na constituição do self, não raro, encontramos pacientes adultos que vivem à mercê de seus afetos, sem nome para o que sentem, com uma angústia flutuante que os invade sem aviso. Pacientes diagnosticados com transtornos de personalidade, nem sempre sofreram grandes traumas explícitos, senão foram feridos naquilo que não é visível: na falta de um espelho afetivo confiável nos primeiros anos de vida. Isso nos leva a compreender claramente que o trauma nem sempre é um acontecimento, por vezes, é uma ausência, especialmente quando repetida, tem um peso enorme na formação da psique.
A neurociência reforça essa leitura, crianças expostas a ambientes afetivos instáveis, negligentes ou imprevisíveis mostram alterações significativas na atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, responsável pela resposta ao estresse. Essas mudanças se perpetuam ao longo da vida, tornando o indivíduo mais suscetível à ansiedade, depressão, impulsividade ou dificuldades de vinculação. Na clínica, aportamos esse “fio narrativo” que costura esses dados, sem a possibilidade de nomear o que se sente, o acometido(a) permanece cativo de afetos brutos e repetições inconscientes.
Promover vínculos seguros nos primeiros anos de vida não é apenas uma questão de afeto, é um imperativo de compromisso social. Um bebê que experimenta uma presença sensível, constrói dentro de si a crença de que o mundo é habitável, e que ele tem valor. Esse sentimento de pertencimento e dignidade subjetiva é a base do que chamamos de saúde mental.

Eu sei, que quando escuto um adulto em sofrimento, estou na realidade, ouvindo sua infância falando, não como uma lembrança, mas como um afeto que ainda pulsa, um circuito que não se fechou. Uma parte do nosso trabalho é guiar o(a) mesmo(a) a criar novos circuitos, novas formas de nomear, sentir e existir. Isso é o que chamamos de reorganização subjetiva.
Por isso, a sistematização emocional não é apenas uma função psíquica, é um ‘’interview’’ entre cérebro e afeto, biologia e cuidado, mediados entre a pele e o olhar que nela repousa. E o self, essa entidade tão delicada e frágil que nasce desse entrelaçamento sutil, onde o corpo sente, o outro traduz, a mente aprende, pouco a pouco, a ser.
"Toda infância renegada, não ouvida, ressurge no adulto como um grito sem nome, pedindo reorganização psíquica." - Dan Mena.
Neurobiologia das Relações Interpessoais
Somos moldados pelo olhar do outro, essa é uma verdade comprovada, que tanto a neurociência quanto a psicanálise, cada uma a seu modo, confirmam com contundência. Não nascemos prontos, somos um processo em construção que acontece no encontro. Cada vínculo, troca afetiva, gesto de reconhecimento ou indiferença se inscreve na psique. Logo, a subjetividade não emerge isoladamente, se molda na relação. E é nesse entre bordas que a neurobiologia das relações interpessoais vai ganhar sua real potência.
As experiências emocionais que vivemos nas primeiras relações afetam diretamente os circuitos cerebrais responsáveis pela empatia e a cognição social, logo, o cérebro é um órgão socializado. Áreas como o córtex pré-frontal medial e a ínsula, que estão envolvidos no reconhecimento dos estados mentais próprios e alheios, são formatadas por meio da repetição de experiências de contato e reciprocidade, principalmente através do espelhamento emocional.
"É no espelho emocional do outro que o cérebro aprende a ser mente, e o afeto descobre que pode virar linguagem." - Dan Mena.
Na mesma linha, na psicanálise contemporânea, reafirmamos a centralidade da intersubjetividade na constituição do sujeito. Aquilo que chamamos de ser olhado, nomeado, tudo isso não apenas nos dá um lugar no mundo, mas também permite que sintamos que existimos de maneira inteira metaforicamente. O self se fortalece quando encontra um outro capaz de conter e metabolizar a angústia, destarte, se fragiliza quando deparado com a ausência ou com o excesso intrusivo, ambos são igualmente desorganizadores.
Neste diálogo entre cérebro e afeto, corpo e linguagem, a noção de neuroplasticidade relacional se torna especialíssima para nós. Mesmo na vida adulta, continuamos transformando e articulando as relações. A qualidade dessas interações pode promover reparações significativas em circuitos afetivos marcados por negligência ou trauma. Essa ideia tem implicações poderosas tanto para a psicoterapia quanto para a educação infantil, onde, em ambos contextos, será a qualidade da presença do outro que vai operacionalizar a mudança.
Escutar o paciente não é apenas interpretar o que ele diz, é oferecer uma interação de relação nova, mais estável e segura. A escuta empática e não invasiva tem o poder de reorganizar padrões de vinculação que, um dia, falharam. Um exemplo clássico disso podemos ver na escola: uma criança que encontra em um educador alguém que a(o) reconhece, experimenta transformações que vão além do aprendizado, ela se sente viva(o) e pertencente.
O que aprendemos, então, é simples, nossas relações e conexões sociais não são puramente contextos onde crescemos. Elas são os próprios instrumentos fundamentais do crescimento, onde cada vínculo autêntico vai formar um espaço possível de renascimento do sujeito.

"Todo vínculo verdadeiro é um laboratório de neuroplasticidade, ele reescreve aquilo que o trauma tentou silenciar." - Dan Mena.
O Inconsciente e Seus Correlatos Cerebrais
Há algo em nós que sabemos, antes mesmo que possamos pensar. O corpo se antecipa à consciência, e o inconsciente habita essa anterioridade.
Desde os tempos de Freud, o inconsciente foi compreendido não como um lugar oculto, mas como uma instância viva e operacional, digamos, um campo onde os desejos se escondem, os afetos se deslocam e as lembranças se condensam fora do tempo linear da nossa consciência. Hoje, com o avanço das neurociências, começamos a vislumbrar esse território invisível por uma nova via, não para criar qualquer substituição, mas para o encontrar por outros caminhos.
Solms & Turnbull (2002), em The Brain and the Inner World, foram pioneiros ao mostrar que há no cérebro processos subconscientes que se alinham notavelmente às descrições freudianas do inconsciente. Estamos falando de sistemas cerebrais que trabalham abaixo do limiar da nossa percepção consciente. Entre esses esquemas, podemos nomear a memória implícita, o condicionamento emocional, reações automáticas e os afetos que aparecem sem que saibamos sua motivação. A neurociência não dá nome a esses processos como o “inconsciente freudiano”, senão, as descreve, com detalhes, o que parece ser sua forma fisiológica.
A memória implícita, armazena experiências emocionais precoces que não foram registradas simbolicamente, mas que permanecem influentes. São aqueles sinais e marcas deixadas por uma ausência, susto, impacto ou um toque que faltou, vão ser os gatilhos que mais tarde surgirão como sintomas, padrões de comportamento e sensações sem explicação implícita. Como se o corpo se recordasse de algo que a mente não consegue nomear. Freud chamaria isso de retorno do recalcado; a neurociência, de reativação de redes neuronais subcorticais. Mas ambas falam da mesma coisa, cada uma em sua retórica, algo que insiste sem ser lembrado.
Ao integrarmos os modelos psicanalíticos e neurocientíficos, pressupomos com bastante assertividade que o inconsciente pode ser lido como uma instância distribuída em múltiplos sistemas cerebrais, com um destaque especial para o tronco encefálico, o sistema límbico e partes do sistema de recompensa. Essa proposta não reduz o inconsciente ao cérebro, mas afirma que há uma materialidade que sustenta o que antes era apenas escutado. A psicanálise, nesse sentido, permanece insubstituível, é ela quem dá linguagem ao indizível. Esse diálogo ganha força, usando técnicas terapêuticas que trabalham com o acesso não verbal, como a associação livre, (nossa matéria prima) os lapsos de linguagem, sonhos, e até mesmo a atenção flutuante do analista, que aqui ganha novo valor quando compreendemos que há processos psíquicos que operam fora da lógica racional, mas com coerência emocional e base neurobiológica. O inconsciente não é um erro, nem um ruído. É um modo de funcionamento. Hoje, podemos dizer também que o inconsciente é sustentado por circuitos que, mesmo sem palavras, falam, gritam, sussurram, quando escutados com afeto e atenção.
Linguagem, Comunicação e Desenvolvimento
É pela palavra que o mundo se organiza, e é nela que o sujeito se encontra ou se perde. A linguagem não apenas comunica: ela funda. Desde os primeiros balbucios que experimentamos como crianças não estamos unicamente aprendendo sons, somos convocados à criação da existência simbólica. Muito antes de falar, escutamos. E, antes de entender, tal linguagem é falada pelo desejo do outro. A expressão não é um instrumento que iremos adquirir, mas um campo no qual vamos nos constituir. A neurociência, mostra que o cérebro nasce preparado para a linguagem, destarte, sua ativação depende da experiência viva da comunicação. É o afeto que vai laçar, ligar a palavra ao corpo. É o olhar que sustenta esse som, é o diálogo que se arma, que por mais rudimentar que seja sacode e acorda o cérebro para a vida social e psíquica.
"O inconsciente é o corpo que se lembra antes que a mente possa entender, a neurociência apenas confirma o que a escuta já sabia." - Dan Mena.
As áreas cerebrais responsáveis pela linguagem, como a área de Broca, a de Wernicke, o giro angular e o córtex pré-frontal, não irão amadurecer isoladamente, mas em sincronia com os estímulos afetivos e comunicativos do ambiente. Quando crianças, somos estimulados com palavras, gestos, sons, expressões e narrativas, não é apenas o vocabulário que se expande com tais incentivos, o cérebro está se reorganizando em sua subjetividade estrutural. O ato de nomear e simbolizar o que se sente, tem um efeito direto sobre os circuitos neuronais emocionais da memória, regulando o estresse.
Do nosso ângulo psicanalítico, a linguagem não é apenas meio de enunciação. Ela é também limite e estrutura. Como nos lembra este meu querido professor Christian Dunker, o sujeito é atravessado pela linguagem antes mesmo de possuir consciência dela. Quando crianças somos inseridas(os) em campos simbólicos que a antecedem, o nome, o lugar que nos foi reservado, o desejo dos pais, as palavras ditas (ou silenciadas) ao redor. Tudo isso forma um campo de significantes que moldam a forma como vamos sentir, agir, pensar e se relacionar. A linguagem, portanto, não é só aquilo que se aprende na escola, ela é a estrutura mestre que funda o inconsciente.
Esse cruzamento de via férrea entre neurociência e psicanálise revela um ponto vital, a comunicação, quando rica e afetiva, desenvolve o intelecto e reorganiza a psique. Crianças que vivem em ambientes silenciosos, negligentes ou excessivamente digitais, tendem a apresentar atrasos não apenas linguísticos, senão afetivos, cognitivos e sociais. Isso nos obriga a dar um passo atrás, repensando determinadas práticas clínicas e educacionais. Falar com uma criança é um ato de cuidado que transforma sua arquitetura neural e sua identidade emergente.
Estimular a linguagem, não é só ensinar palavras, é oferecer lugar no mundo a esse infante, abrir espaço para que ele se escreva no enredo da construção da própria história. É por meio da comunicação que o bebê se torna criança, e a criança, sujeito. E é nesse gesto simples que vai se nomear, sentir e ser ouvido(a), um chão que a mente encontra onde poderá, finalmente, crescer e se desenvolver.

"Mesmo sem linguagem, o inconsciente opera com precisão, é um código afetivo inscrito na carne e decifrado no silêncio do divã." - Dan Mena.
Neuroplasticidade e Transformação Psíquica
A mente não é destino fixo, mas travessia. O trauma fere, mas não encerra. O cérebro aprende a resistir, e o sujeito aprende a se refazer.
Até poucos anos muitos acreditavam que o cérebro era uma estrutura rígida, que era determinada pela genética e imutável na idade adulta. Esse paradigma, no entanto, foi abalado por descobertas científicas e clínicas: o cérebro pode mudar sim. E muda. Sempre que há encontro, ruptura, trauma, dor ou cuidado, novas conexões são possíveis e de fato se formam. É esse fenômeno que a neurociência chama de neuroplasticidade, a capacidade que o sistema nervoso tem de se reorganizar e adaptar, quanto a criação de novos circuitos e sinapses diante da experiência.
O cérebro não apenas responde ao ambiente, mas é moldado por ele. Verificamos isso com muita frequência, nos casos clínicos de reabilitação neurológica após traumas e abcs, acidentes ou transtornos emocionais graves expõem o quanto a mente pode reaprender, recriar, reconfigurar caminhos e trajetórias quando sustentadas por vínculos significativos e práticas terapêuticas adequadas. A plasticidade cerebral não é só um fenômeno biológico, é a base para a esperança clínica, que nos diz que nem tudo está perdido, mesmo quando um caso possa parecer irremediável.
"Cada fala ouvida com presença é uma sinapse possível, o que parecia fixo se curva ao poder do encontro." - Dan Mena.
Na psicanálise, a noção de transformação psíquica se dá, sobretudo, no manejo da elaboração. O trauma não é puramente o que aconteceu, mas aquilo que não pôde ser simbolizado. O que adoece não é o fato integral é bruto, mas a ausência de um outro que possa fazer sua escuta e colocá-lo em palavras. A fala, nessa circunstância, não é apenas descarga, é reorganização. Falar sobre o que vivemos no espaço analítico, permite reinscrever o afeto voltado para outra lógica, e com isso, somos capazes de estabelecer novos sentidos e caminhos. O sujeito não se liberta do passado, mas o ressignifica, faz uma releitura.
Quando um paciente, ao longo da análise, reconstrói sua narrativa e reinventa sua posição subjetiva frente ao sofrimento, não é apenas a psique que se transforma, o cérebro também acompanha esse movimento de integração. Estudos recentes demonstram que a psicoterapia, especialmente quando sustentada por vínculos estáveis, pode modificar redes neurais relacionadas à regulação emocional, empatia, tomada de decisão e até reconfigurar a memória autobiográfica.
A plasticidade, portanto, não é apenas cerebral, é também psíquica. E é nessa dupla capacidade de transformação que reside o poder terapêutico. Em um mundo onde muitos se sentem aprisionados por diagnósticos, rótulos, clichês e histórias de dor, poder dizer “isso pode mudar” é um ato ético e clínico de extrema potência.
A reabilitação, seja física ou emocional, exige tempo, confiança, presença e fé na transformação. Não se trata de apagar a cicatriz, mas de fazê-la falar, porque toda dor que encontra a linguagem se torna menor, se debilita, e todo sujeito que se escuta, mesmo pela primeira vez, reencontra algo de si que ainda pulsa e deseja viver com qualidade e força.
"Não é o trauma que sela o destino, mas a ausência de quem o traduz, porque onde há escuta, há plasticidade e articulação." - Dan Mena.

Emoção e Cognição no Desenvolvimento
A razão foi celebrada historicamente como o ápice da mente, enquanto a emoção era vista como obstáculo, barreira, ruído e interferência. Essa dicotomia, herdada de um racionalismo cartesiano, começa a desabar estrondosamente com as novas descobertas da neurociência e com os alicerces da psicanálise. Não seria mais a luta entre o pensar e sentir, mas de reconhecer que todo pensamento nasce atravessado por um afeto.
Sem emoção não temos escolha, nem consciência plena. Pacientes com lesões no córtex pré-frontal ventromedial, a área de integração entre os sistemas emocionais (límbicos) e os cognitivos, são capazes de raciocinar logicamente, mas não conseguem tomar decisões na vida cotidiana. Isso agrega uma verdade inquietante, é a emoção que dá cor, pinta a urgência e direciona o pincel da razão. Sem ela, o pensamento se esvazia de sentido, a emoção, logo, não é ruído no pensamento senão seu alicerce silencioso.
"Sentir é o primeiro gesto do saber, todo pensamento nasce com um coração batendo dentro de si." - Dan Mena.
Já temos essa compreensão desde Freud, ele já apontava os afetos como núcleo originário do aparelho psíquico. Sejam os sonhos, sintomas ou os atos falhos, todos nascem de conflitos entre desejos e defesas, estados emocionais intensos que buscam liberação simbólica. O inconsciente não é feito apenas de palavras recalcadas, esse tecido é costurado por afetos que escapam à ordem lógica, mas que se organizam e dão sentido à existência.
Ampliando essa ideia, verificamos que o cérebro opera a partir de um ciclo de integração afetivo-cognitiva. Não existe pensamento sem emoção, porque o cérebro é, por natureza primitiva, um órgão afetivo. A consciência emerge dessa sinfonia de coordenação rítmica em diferentes áreas cerebrais, onde circuitos emotivos influenciam a forma como percebemos, decidimos e atribuímos valor ao mundo.
Essa visão integrada, amplificada, tem implicações importantes para a educação, para a clínica e as relações como um todo. Na infância, não basta ensinar conteúdos, é preciso ser lúdico com nossas crianças, criar ambientes afetivamente seguros, onde elas se sintam vistas, acolhidas, escutadas e principalmente, valorizadas. Só assim vão desenvolver um pensamento autêntico, curioso, investigador, inquisidor e criativo. O equilíbrio emocional não é um luxo para o ser, mas, a base sólida sobre a qual o saber se assenta e sustenta.
Na clínica, esse entendimento tem muitas facetas, é no afeto que escapa, no choro contido, na pausa carregada e na palavra engasgada que aparece o núcleo do sofrimento.
Escutar o afeto é escutar a história antes que ela possa se organizar em discurso.
A mente, afinal, não é um tribunal da razão, mas uma casa onde o sentir e o pensar convivem, inclusive na sua desordem, outras em harmonia, por vezes, em conflito. E é nesse diálogo polivalente e ambíguo, entre emoção e cognição que se constrói, dia após dia, o sujeito que deseja, escolhe, aprende, edita e se transforma.
"A emoção não atrapalha o pensar; ela o inaugura, o pinta, e lhe dá norte." - Dan Mena.
Desregulação Afetiva e Transtornos
A emoção, quando não encontra contorno, explode ou adoece. O corpo sente o que a psique não pôde digerir, e os sintomas falam aquilo que o afeto não soube nomear.
Emoções não reguladas não desaparecem, elas se alojam. Quando o ambiente falha em oferecer um espaço confiável onde o afeto possa ser metabolizado, a mente faz o que pode, recalca, fragmenta, repete, move de lugar, silencia ou grita. No campo do neurodesenvolvimento infantil, a desregulação afetiva aparece como um dos fatores centrais para a emergência de diversos transtornos psíquicos, comportamentais e somáticos. Ela é tanto sintoma quanto causa, seria aquilo que denuncia o excesso, e, paradoxalmente, a carência de contenção.
Essa desregulação emocional precoce afeta a organização dos circuitos neurais ligados à afetividade, ao controle de impulsos e à integração das experiências interiorizadas. Quando o sistema límbico, especialmente a amígdala e o córtex orbitofrontal, se desenvolve em um ambiente imprevisível, caótico ou então emocionalmente negligente, a capacidade dessa criança de se organizar mediante seus próprios estados internos é comprometida. A consequência disso é muito expressiva, surgem quadros de ansiedade persistente, explosões emocionais, dificuldades de se relacionar e criar vínculos, inclusive, possível aparecimento de traços dissociativos de personalidade.
"Toda criança desregulada é um afeto à deriva, buscando um corpo que a possa traduzir sem julgamento." - Dan Mena.
Os transtornos infantis não são problemas isolados no sujeito, mas sintomas que denunciam impasses no laço, no discurso do ‘’Outro’’, nas narrativas familiares, no excesso ou na ausência de significantes que possam sustentar a subjetividade emergente neles. A criança não se expressa apenas por palavras, falam com seus corpos, gestos, gritos, sintomas e silêncios.
É por essa razão que pensar em um modelo exclusivamente médico para os transtornos infantis é empobrecer seu verdadeiro intrincamento da clínica. Fonagy, Gergely e colaboradores (2019), ao propor o modelo da mentalização, mostram que muitos transtornos têm como eixo central a falha na capacidade do sujeito de compreender seus próprios estados mentais e os dos outros. A criança que não foi “pensada”, aquela que não teve seus afetos lidos, espelhados e traduzidos, vai se desenvolver e crescer sem um mapa interno claro quanto a si. Isso vai certamente comprometer sua identidade e a possibilidade de autorregulação. O sintoma, então, vai criar seu espaço como uma tentativa desesperada de organização.

Intervenções baseadas em mentalização oferecem uma saída delicada, porém potente. Elas não visam apagar o sintoma, mas escutá-lo. Não apressam a normatividade, mas reconstroem o campo relacional onde o sujeito pode, pouco a pouco, se reconhecer. O terapeuta vai funcionar como um segundo espelho, não para corrigir o que provocou a falha, mas para oferecer um guia, alocar com novas experiências de presença, nomeação e elaboração de confiança.
A clínica do nosso tempo exige um olhar que una o rigor das evidências neurobiológicas com a escuta do inconsciente e do laço. Diagnosticar não basta, etiquetar vai ser pouco. Precisamos voltar ao essencial, à velha base, apostar na qualidade do vínculo e sua capacidade de sustentar a dor sem pressa de ser sufocada ou apagada. Porque todo sintoma, no fundo, esconde um pedido de tradução, e cada criança desregulada está dizendo ao seu modo, do seu jeito, que não encontrou ainda um lugar onde possa ser ela mesma sem entrar em colapso.
A neuroplasticidade afetiva existe, mas só se realiza quando encontra um outro disposto a sustentar a travessia. E nessa cruzada, o afeto reencontra contorno, o sintoma perde sua urgência e o sujeito começa, enfim, a viver com menos medo de si mesmo.
"O sintoma é a linguagem do afeto que não encontrou espelho nem reflexo, não quer punição, senão leitura e tradução." - Dan Mena.
Uma História Que Me Marcou
Um pequeno relato sobre uma paciente, Josi, mudou minha forma de ver essa integração. Ela chegou carregando uma angústia sem nome, um aperto constante no coração, fruto de uma infância marcada pela ausência. Na análise, desvendamos esse vazio, mas foi ao trazer a neurociência que algo se transformou. Expliquei para ela como seu cérebro, moldado por anos de solidão, havia se tornado hipervigilante, sempre à espera de um perigo que não vinha. Ao compreender que sua ansiedade era um grito biológico de sobrevivência, não uma fraqueza, ela caiu em prantos, não de tristeza, mas de alívio. E, aos poucos, com cada palavra trocada, re-organizamos juntos, não só sua história, mas os circuitos que a sustentavam.
"O paciente ao entender que sua dor é uma resposta e não um defeito, pôde, enfim, descansar de si mesmo." - Dan Mena.
Consciência e Construção do Self
Deixei a construção do self para o fim do artigo por ser um dos processos centrais no desenvolvimento do ser. Ela não ocorre de forma isolada, se eleva da interação entre cérebro, corpo, linguagem e vínculos afetivos. Não é uma entidade estática, se constrói ao longo do tempo, na relação com o outro, nas experiências internas e nas marcas psíquicas inscritas no corpo e na memória. A consciência e subjetividade caminham lado a lado, compondo assim os delineamentos de quem somos e como nos percebemos diante do mundo.
Neurociência e as Redes Neurais da Consciência
No ângulo neurocientífico, a consciência é sustentada por circuitos específicos, especialmente pela integração entre estruturas subcorticais, como o tronco encefálico e o tálamo, regiões do córtex pré-frontal. Como já disse antes, não há consciência sem emoção, e as estruturas mais antigas do cérebro estão envolvidas na regulação afetiva, por isso são fundamentais para o surgimento do self consciente. A consciência é, antes de tudo, sentida, o que nos torna conscientes não é simplesmente a fantasia, o pensamento abstrato, mas a experiência emocional encarnada e vivenciada. Memória autobiográfica, linguagem interna e capacidade de refletir sobre nós mesmos são componentes essenciais da consciência de self, e todos dependem da plasticidade cerebral e das interações precoces.
Psicanálise e Formação do Ego
Do ponto de vista psicanalítico, a formação do self passa pelo desenvolvimento do ego, que organiza as experiências internas e estabelece uma coerência identitária. Essa série de estágios psicossociais vão contribuir para a construção do ego saudável, desde a confiança básica no início da vida até a integridade do eu na velhice. O ego, como uma instância mediadora entre os desejos pulsionais do id, as exigências do superego e a realidade externa, não nasce pronto, se forma no traquejo com os cuidadores, no espelho dos olhares e das palavras. O self surge quando o sujeito consegue se reconhecer como autor de suas ações e emoções, em um processo gradual de simbolização e elaboração.
O self verdadeiro emerge quando há um ambiente suficientemente bom, que sustenta a espontaneidade e a expressão emocional autêntica. Quando isso falha, o sujeito pode desenvolver um self adaptativo, moldado para atender expectativas externas e alheias ao seu querer, mas desvinculado de seu núcleo subjetivo.
"O self não nasce pronto, vai sendo elaborado é esculpido na inscrição do afeto, ele dança entre o olhar do outro e o silêncio que nos forma." - Dan Mena.
Cérebro e Subjetividade

Rodrigo Llinás propõe que a consciência é uma função do cérebro como sistema dinâmico, onde os processos subjetivos são inseparáveis das redes neurais. Ele afirma que “somos aquilo que nosso cérebro faz”, mas também ressalta, que a subjetividade emerge da complexidade e capacidade simbólica que possuímos. A integração entre psicanálise e neurociência revela que o self não é apenas uma abstração, mas um processo neuropsíquico ancorado no corpo, na história e na nossa linguagem.
Fortalecimento do Self
Na prática clínica, o fortalecimento do self implica em que possamos promover a consciência de si, o reconhecimento dos afetos e a capacidade de elaborar narrativas coerentes sobre a própria vida. A escuta terapêutica funciona como um espelho, onde devolvemos o sujeito a si mesmo, favorecendo a integração do self.
“O self se revela não quando pensamos sobre quem somos, mas quando sentimos que existimos na presença de alguém que nos reconhece.”
Um Convite ao Futuro que já Chegou
Enquanto fecho estas linhas, penso em Freud, que sonhava com um dia em que a ciência confirmasse suas intuições, e em Jung, que via na transformação mútua o coração do encontro humano.
A reunião de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas, se houver alguma reação, ambas são transformadas. Assim é o encontro da neurociência com a psicanálise, um ricochete reativo que nos muda, potencializa e eleva.
E agora, eu pergunto a você meu leitor(a): o que mais poderíamos descobrir se continuarmos a escutar a mente com a precisão da ciência e a ternura da empatia? Que novos acordes poderiam soar nessa sinfonia? Que vidas seriam tocadas, que dores aliviadas, que futuros redesenhados? Que venha o amanhã que já chegou, e que nós, juntos, possamos descobrir.
"Entre a precisão dos neurônios e os labirintos do inconsciente, é o afeto que guia o verdadeiro mapa da humanidade." - Dan Mena.
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FAQ: Principais Questões Sintetizadas do Artigo
1. O que é a neurociência do desenvolvimento e como ela se conecta à psicanálise?
A neurociência do desenvolvimento estuda como o cérebro se forma e evolui desde a gestação, com foco nos primeiros anos. Ela se conecta à psicanálise ao oferecer uma base biológica para conceitos como os estágios psicossexuais de Freud, validando-os neurobiologicamente.
2. Quais são os principais processos do desenvolvimento cerebral nos primeiros anos?
Nos primeiros anos, ocorre a maturação do sistema límbico, responsável pela regulação emocional, e o crescimento de redes neurais que sustentam a cognição e o comportamento, altamente influenciados por experiências precoces.
3. Como os estágios psicossexuais de Freud se relacionam com o desenvolvimento cerebral?
Os estágios (oral, anal, fálico, latência e genital) refletem conflitos psíquicos que, segundo a integração, correspondem a períodos de maturação cerebral, como o desenvolvimento da regulação afetiva e da cognição social.
4. O que é regulação emocional e por que ela é essencial no início da vida?
Regulação emocional é a capacidade de gerenciar emoções, dependente da maturação do sistema límbico. É essencial para formar o self e promover relações saudáveis.
5. Como a teoria do apego de Winnicott contribui para o desenvolvimento do self?
O papel do apego seguro na constituição do self, neurobiologicamente falando envolve circuitos de recompensa e regulação de estresse, moldados por interações precoces.
6. O que são circuitos de cognição social e como eles afetam as relações interpessoais?
São redes neurais que processam informações sociais, como empatia e reconhecimento de intenções. Eles sustentam a intersubjetividade, essencial para a formação relacional.
7. Qual é o papel do inconsciente na perspectiva integrada?
O inconsciente psicanalítico é relacionado a processos neurais como memória implícita e atividades subconscientes, oferecendo uma ponte entre psique e cérebro.
8. Como a linguagem influencia o neurodesenvolvimento e a psique?
A linguagem, processada por áreas como Broca e Wernicke, molda a subjetividade e o desenvolvimento cognitivo, funcionando como elo entre cérebro e psique (Fernández Peña, 2024; Dunker, 2013).
9. O que é neuroplasticidade e como ela apoia a transformação psíquica?
Neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se adaptar. Ela sustenta a resiliência e a elaboração de traumas, sendo uma base biológica para a cura terapêutica.
10. Como a emoção e cognição interagem no desenvolvimento?
Emoções, mediadas pelo sistema límbico, influenciam o córtex pré-frontal, integrando afeto e razão, o que é fundamental para o pensamento e a tomada de decisão.
11. O que é desregulação afetiva e como ela leva a transtornos?
Desregulação afetiva é a dificuldade em modular emoções, ligada a disfunções límbico-pré-frontais. Pode resultar em transtornos como ansiedade ou autismo.
12. Como a consciência emerge na integração entre neurociência e psicanálise?
A consciência surge de redes neurais complexas, enquanto o self se forma por experiências afetivas e sociais, unindo biologia e subjetividade.
13. Quais são as aplicações práticas dessa integração na terapia?
A integração permite intervenções mais eficazes, como psicoterapias que promovem regulação emocional e reestruturação neural, baseadas em mentalização.
14. Como essa abordagem pode impactar a educação infantil?
Ela sugere práticas educacionais que estimulem a regulação afetiva e a neuroplasticidade, criando ambientes que favoreçam o desenvolvimento emocional e cognitivo.
15. Quais são as implicações futuras dessa integração?
Futuramente, pode haver avanços em intervenções precoces, tratamentos personalizados e uma compreensão mais cavada da mente, unindo ciência e subjetividade.
Links sobre o Tema
PSICOANÁLISIS Y NEUROCIENCIA (Dialnet – PDF): Explora como Freud e Luria anteciparam uma “psicologia de ciência natural” e a parceria entre neurociência e psicanálise desde a fundação do campo moderno English at PennDialnet+1Topía+1
Psychoanalysis and Neuroscience: The Bridge Between Mind and Brain (PMC): Revisão que explica a reconexão entre psicanálise e neurociência, com foco no princípio da energia livre e no Default Mode Network DialnetPMC
Linking neuroscience and psychoanalysis from a developmental perspective: Why and how? (ScienceDirect / ResearchGate): Argumenta por que unir neurociência e psicanálise durante o desenvolvimento infantil traz ganhos clínicos e epistemológicos PMCResearchGate+1ScienceDirect+1
The Neurobiological Underpinnings of Psychoanalytic Theory and Therapy (Frontiers in Behavioral Neuroscience): Artigo de Mark Solms que elucida as bases neurológicas de conceitos psicanalíticos centrais como necessidades emocionais e processos inconscientes rgsa.openaccesspublications.org+4ResearchGate+4ScienceDirect+4frontiersin.org+1English at Penn+1
Neuropsychoanalysis (Wikipedia): Visão geral do campo que combina psicanálise e observações em neurociência, citando desde Freud (1895) até redes neurais modernas e a DMN frontiersin.orgen.wikipedia.org+1PMC+1
Bibliografia
Schore, A. N. (1994). Affect Regulation and the Origin of the Self: The Neurobiology of Emotional Development. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum.
Obra seminal que articula neurociência afetiva e psicanálise para compreender como o self se organiza nas experiências emocionais precoces.
Schore, A. N. (2003). Affect Dysregulation and Disorders of the Self. New York: W. W. Norton.
Explora a desregulação emocional e sua relação com transtornos psicológicos, oferecendo um modelo psicodinâmico fundamentado na neurobiologia.
Siegel, D. J. (1999). The Developing Mind: Toward a Neurobiology of Interpersonal Experience. New York: Guilford Press. Integra vínculos afetivos, cérebro e desenvolvimento da mente, sendo referência para compreender a formação da subjetividade.
Siegel, D. J. (2007). The Mindful Brain: Reflection and Attunement in the Cultivation of Well‑Being. New York: W. W. Norton. Aborda a atenção plena como ferramenta para o equilíbrio emocional e a reorganização neural, com profundas implicações clínicas.
Solms, M. & Turnbull, O. (2002). The Brain and the Inner World: An Introduction to the Neuroscience of Subjective Experience. New York: Other Press. Introdução acessível e profunda à neuropsicanálise, mostrando como o inconsciente pode ser compreendido à luz da neurociência contemporânea.
Fonagy, P., Gergely, G., Jurist, E. L. & Target, M. (2019). Affect Regulation, Mentalization, and the Development of the Self. New York: Other Press. Texto essencial sobre mentalização, vinculação e desenvolvimento emocional, ancorado em dados neurobiológicos e teoria psicanalítica.
Doidge, N. (2007). The Brain That Changes Itself: Stories of Personal Triumph from the Frontiers of Brain Science. New York: Viking Penguin. Relatos de neuroplasticidade que ilustram como o cérebro pode se reorganizar após traumas, conectando ciência com escuta clínica.
Zamorano, S. (2024). Cimientos invisibles de la primera infancia. Madrid: Cuatro Hojas.
Reflexão sobre os primeiros três anos de vida como fundação invisível do cérebro e da afetividade, com diálogo entre neurociência e desenvolvimento emocional.
Llinás, R. (2002). El cerebro y el mito del yo. Barcelona: MIT Press (ed. esp.).
Discute como o cérebro constrói a noção de “eu” de maneira integrada, desconstruindo o dualismo cartesiano e abrindo espaço para leituras psicanalíticas do self.
Damasio, A. (1994). El error de Descartes: La emoción, la razón y el cerebro humano. Barcelona: Destino. Clássico que reposiciona a emoção como base da razão, tornando-se leitura essencial para pensar os afetos no processo de subjetivação.
Fernández Peña, L. (2024). Enséñame a comunicar. Madrid: [Editora].
Manual prático para estimular a comunicação emocional e empática em crianças, baseado em evidências neuropsicológicas e psicoeducativas.
Pinto, J. M. de M. (2022). Psicanálise e Neurociência: Um encontro do corpo e da intersubjetividade. Lisboa: Climepsi. Propõe um diálogo profundo entre a neurociência do desenvolvimento e a clínica psicanalítica contemporânea, especialmente na relação corpo–outro.
Schmidt, E. (2023). Neuro‑psicanálise. Porto Alegre: Clube de Autores. Investiga os pontos de contato entre Freud, a neurociência moderna e a subjetividade, com implicações clínicas e epistemológicas.
Marques, J. F. (2024). O Inconsciente na Neurociência e na Psicanálise. Porto Alegre: Clube de Autores. Explora como o inconsciente se manifesta no cérebro, articulando a linguagem lacaniana com evidências empíricas da neurociência.
Dunker, C. (2013). A psicose na criança: tempo, linguagem e sujeito. São Paulo: Zagodoni.
Obra densa e refinada que cruza a constituição do sujeito infantil, a linguagem e os marcos neuropsíquicos da psicose.
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"Open Researcher and Contributor ID"
Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199.
Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.
Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Department of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.