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A infidelidade.

Atualizado: 22 de set. de 2024



''Infidelidade é a parte oculta de um desejo que age para desvelar a demanda reprimida do eu. Uma dimensão inconsciente, que usa o gozo como pretexto da transgressão'' Dan Mena. — Por Dan Mena.

O ser não é monogâmico por natureza, ao ser habitado pela inquietação e deambulação dos seus desejos, de um gozo, que mina sua estabilidade pulsional em relação a qualquer laço amoroso. Antes de falar em ''infidelidade'', vamos fazer um parêntesis necessário, para refletir numa pontuação que antecede sua análise… A relação sexual existe? A que podemos chamar de infidelidade?


A ideia da relação sexual como um “não existe a relação sexual” significa, segundo Lacan, o verdadeiro entrelaçamento erótico reconhecido, o qual seria impossível no sentido pleno da sua realização. Por quê? Estamos sempre mediados pela linguagem e pelo simbólico. O “simbólico”, por sua vez, se refere ao reino das palavras, da linguística, onde tais símbolos e significados moldam nossa compreensão de mundo. A expressão, como um sistema metafórico, nos separa da experiência puramente sensorial e coloca sobre ela uma camada de significantes entre esse ambiente perceptual e a nossa humanidade. Por outro lado, o “real”, sendo aquilo que nos escapa à tal simbolização, é a vivência direta e crua, muitas vezes traumática, que não pode ser integralmente representada no jargão da nossa narrativa e locução. A sexualidade, como um aspecto fundamental do traquejo do sapiens, está no limiar entre ditas dicotomias. O ''Desejo e a Castração'', onde a voluptuosidade é moldada pelo ''Complexo de Édipo'', no qual, quando crianças, experienciamos desejos incestuosos em relação aos pais do sexo oposto. A resolução desse complexo, envolve a aceitação da castração figurativa, ou seja, a captação cognitiva básica de que como crianças não temos total acesso ao ''objeto'' do desejo. Isso estabelece bases sólidas para a formação da identidade sexual primária do indivíduo e a entrada ao mundo emblemático da cultura. Ao ampliarmos essa ideia muito bem abalizada pela psicanálise, podemos afirmar que a excitação é um ''desejo do outro'' (o desejo do ''Outro'' significa que o sujeito se oferece, não como aquele que completa totalmente esse Outro, pondo fim à sua falta, mas sim, como aquele que constantemente suscita sua carência, condição precípua, para que a própria ausência do sujeito se reproduza). Isso implica, que nossa perpétua inegável ânsia por satisfação sexual esteja sempre relacionada e conectada com o que o Outro deseja, tornando essa relação sexual ainda mais complexa. Boa leitura.


Então, a que podemos intitular de infidelidade? Qualquer definição que se encontre é inexata e tendenciosa, vai sempre pender para uma predisposição moral, ética, religiosa, de objeto, de relação, de julgamento, da lei, etc.


Ausência de fidelidade.

Falta de fé religiosa?

No entanto, se procurarmos seu oposto, na palavra “fiel”, podemos encontrar respostas claras, para citar algumas;


Aquele que mantém a fé, ou é constante nos seus afetos, no cumprimento das suas obrigações e não defrauda a confiança do outro nele(a) depositada.

Exatamente, conforme a verdade bíblica é os mandamentos.

O que tem em si, condições e circunstâncias exigidas pelo uso a que se destina.

Pela lei, pelo pacto nupcial, etc.


Da sua indefinição se tange a fidelidade.


A fidelidade não é atribuída apenas aos seres humanos, mas também às coisas e a muitos outros conceitos na modernidade. A memória, uma foto, um relógio, uma religião, um compromisso, pacto, preferência por algo, uma marca, enfim, é usada recorrentemente. É interessante refletir sobre seu oposto, essa curiosa perspectiva, porque é como se dentro da mesma indefinição da palavra ''infidelidade'' existissem segredos, sem mais explicações, como se ela quisesse ser um fantasma, fugir da sua ilustração. Apesar das múltiplas coordenadas que podemos usar para entender seu politeísmo, o que é ou não deslealdade, pois também dependem da lei, da moral imposta, do contrato, do pacto escrito ou não que se estabelece com o outro, o qual é o(a) parceiro(a). Isso torna o tema absolutamente subjetivo, uma vez que cada casal tem seus próprios acordos e regras, e a transgressão deles, pode também evidenciar ser sinônimo de presumida infidelidade, não só como uma violação sexual. Embora as distorções que lhe pairam, o que mais manifestamente estabelece o seu caráter é o segredo e a mentira, a tentativa de desnortear, desencaminhar ''desbussolar'' rsrs, o par, em relação a criar uma ponte entre ambos, de promover o corte, a descontinuação e a divisão do acordo monogâmico da exclusividade. Os traídos podem de alguma maneira se colocar em uma posição de sentimento de culpa, porque acreditam que todo o desarranjo possa advir de algum descuido dele(a). Por isso é bom lembrar, que ninguém obrigou o parceiro a praticar o ato(os), o fez porque quis, pelas suas próprias convicções e desejos.


“O ser humano vive em constante medo de ser magoado e isso dá origem a grandes conflitos. Como nos relacionamos entre nós causa tanta dor emocional que, sem razão aparente, ficamos zangados e sentimos ciúmes, inveja e tristeza. Até mesmo dizer “eu te amo” pode ser assustador. Más, mesmo que ter uma interação emocional nos cause angústia e medo, continuamos a praticar, a nos relacionar, casar e ter filhos''. (Ruiz, 2015).


Implicações clínicas e sociais.


A inexistência da relação libidinosa, (sexual), tem implicações profundas na nossa clínica. Sugere que a busca por satisfação, é, em última instância, uma demanda por reconhecimento, e não somente uma interação unicamente integrada ao prazer físico. No mundo contemporâneo, onde a sexualidade é frequentemente objetificada, banalizada e comercializada. A psicanálise nos convida a olhar essa complexidade subjacente à nossa busca por intimidade e comprazimento. Ela incita a navegar como o desejo e a castração moldam nossas vidas sexuais e incursionar na linguagem e o simbólico que estão sempre presentes, mesmo nos momentos mais privativos e reservados. A questão da não existência da relação sexualizada, nos desafia a ir além das aparências e a considerar seu contexto como um fenômeno amalgamado, mesclado, combinado e composto entre o simbólico e o real. O entusiasmo que nos envolve no campo do erotismo está sempre presente em nossas vidas, rastreando esse sentido de riqueza intensa que na maioria da sua escala nos condiciona a uma sujeição. Já a infidelidade pode ser vista como uma manifestação complexa de desejos, identidade e linguagem. Seguem alguns pontos-chave sobre como discorremos no tema:


Triângulo Edípico: Lacan se baseou na teoria do Complexo de Édipo de Freud para entender a dinâmica da infidelidade. Ele argumentou que pode ser vista como uma tentativa de lidar com conflitos edípicos não resolvidos. Por exemplo, um indivíduo pode buscar uma relação fora do casamento como uma forma de satisfazer desejos não reconhecidos ou para escapar do sentimento de culpa associado a eles.


Desejo e falta: A ideia de que o desejo humano é intrinsecamente ligado à falta, como uma busca por algo que está ausente na relação existente. É uma tentativa de preencher uma lacuna emocional ou simbólica que não está sendo satisfeita na relação principal.


Linguagem e significante: O conceito de “significante” na psicanálise, se refere às palavras e símbolos que usamos para comunicar e atribuir significado. A falha de confiança, pode ser uma tentativa de encontrar novos significantes, novas formas de expressar desejos e identidades que não estão disponíveis na relação atual.


O Outro: É à figura do pai ou da autoridade que exprime o mundo simbólico e as regras sociais. A infidelidade pode ser uma maneira de desafiar ou subverter ditas normas impostas por esse “Outro”, e buscar uma identidade ou satisfação fora dessas regras rígidas impostas.


Objetificação: Envolve uma forma de objetificação, onde o parceiro ou amante é reduzido a um objeto de desejo, uma tentativa de lidar com a ambivalência e a complexidade das relações interpessoais.


A fidelidade pura do reino animal.


Os cisnes se destacam na natureza como um exemplo notório de animais que estabelecem vínculos conjugais sólidos, permanecendo com um único parceiro ininterruptamente ao longo da sua existência. Neles, não há espaço para traições de nenhuma índole. A atração sexual pelo parceiro(a), permanecerá imaculada e dedicada integralmente ao seu companheiro(a) que será único(a) e inseparável. Esta fidelidade, é uma manifestação direta do instinto dessa espécie, (embora existam outras), uma característica totalmente questionável aos seres humanos. De fato, conseguimos imitá-la? A resposta a essa indagação é inequívoca: não, não podemos replicar tal honradez do cisne, (sem generalizações), pois nossa natureza é regida não apenas pelo instinto, más também pelo desejo, (ausente neles), e isso muda todo o jogo. Sem questionar, julgar ou qualquer outro ponto que possa ser levantado quanto a moral… o que obviamente não excluem a possibilidade de sua existência singular oposta, em determinados casos muito particulares.


Nestes tempos, qual o indivíduo que uma vez selecionado seu primeiro parceiro(a), permaneceu até o fim da vida com o mesmo(a)?


Você conhece alguém?


A dança dos cisnes.


No reino animal, está completamente ausente, é a enérgica e movimentada experiência do desejo sexual, a qual é sempre turbulenta, buliçosa, assim como a frenética trilha do prazer pulsional, na hermética vivência da eroticidade. Esse exemplo de diferenciação, quando verificado provadamente que os cisnes aqui citados, acasalam costumeiramente porque não conhecem o gozo, a qual é uma característica específica da humanidade. Ao contrário do instinto de nos alimentarmos, para o ser humano não apenas o fazemos para satisfazer necessidades vitais, mas também, carregamos consigo um prazer que será potencializado e sexualizado. Esse fenômeno é evidenciado nas crises bulímicas, onde a pessoa não busca apenas se saciar do alimento, mas sim encontrar o deleite no ato em si. Consequentemente, essa relação que nutrimos com corpo é marcada por certas perturbações, que se diferenciam da harmonia instintiva encontrada em ditos animais. O elemento que nos afeta, e identificado nessa relação de gozo que nos habita, um componente mais potente do que as próprias necessidades naturais que regulam o tino essencial e original de autopreservação. Freud deixa muito clara essa posição intrigante pela noção da pulsão de morte, para evidenciar que seu poder, nos impulsiona a buscar a ledice do regozijo para além do princípio de sobrevivência e autopreservação, a qual transcende o hedonismo; (hedonismo, filosofia de vida que defende a busca por prazer como finalidade da vida humana. Sua perquisição move as paixões, os desejos e todo o mecanismo da vida, sendo, portanto, na visão de hedonistas, a primeira e mais completa ponte para a finalidade última da vida: a imaginada felicidade). Existe apenas um momento do qual estamos isentos de viver sob o domínio do gozo, durante o sono, que parece não perturbar o corpo. (O termo gozo em psicanálise não se refere a um prazer, mas sim a um mal para o sujeito, exatamente por implicar em sua destruição. Na transgressão o gozo consistiria no ultrapassamento das barreiras que fazem impedimento ao ''Objeto'', havendo a tentativa de encontrar a ''Coisa''). Durante esse período, separamos e desconectamos do mundo externo e do corpo físico, nos envolvendo narcisticamente, retirando a libido, que será transferida para o corpo em repouso. O desejo sexual do nosso ser, irrompe essencialmente como uma demanda impetuosa, há nele um excesso transbordante que abala e atravanca nossa serenidade. Em contraposição, será esta uma virtude rígida para os cisnes, que mantêm através de seus instintos uma inarredável posição de postura, dedicação, estima, lealdade, paixão e respeito, que infelizmente foge ao sapiens. Como psicanalistas, tocamos no tema sensível da infidelidade como uma dinâmica inconsciente, exercício inveterado das relações de objeto, que aparecem na infância, afetos escoltados e auxiliados por laços psicológicos agregados, como a projeção e a cumplicidade, este último, que se firma como um contrato, um acordo implícito entre o casal sobre a prática da sonhada exclusividade sexual. A traição sob uma visão psicológica é visualizada como um ato provocador dos ciúmes no parceiro, o que se traduz como um ''ato narcísico'' (seria um exibicionismo, um sentimento de indiferença em relação ao outro, a ausência de empatia e a incapacidade de se relacionar, são aspectos únicos que definem o ato narcísico). A deslealdade, falsidade, hipocrisia, fingimento, o ato em si, que escrito em todas suas possibilidades e formas, desloca dois aspectos funcionais da sua essência: a violação de um suposto compromisso cívico obrigatório, explícito ou implícito, e a quebra da confiança, que decorre na transmissão emocional da dor e decepção do parceiro(a).


A promiscuidade, tanto em homens quanto em mulheres casados(as), é examinada como uma busca por satisfação emocional além da euforia sexual. Aqui preciso fazer um parêntesis, para não incitar o mal-entendido técnico;


A psicanálise aborda a promiscuidade como um comportamento sexual que possui raízes no funcionamento psicológico e emocional. É importante notar que nossa matéria não julga, muito menos a promiscuidade como certa ou errada, más, visamos compreender suas dinâmicas. Portanto, algumas perspectivas sobre o assunto inferem:


Infância e relações de objeto: Experiências na infância desempenham um papel medular na formação do comportamento sexual adulto. As relações entre a criança e seus cuidadores, especialmente os pais, podem influenciar a maneira como o indivíduo se relaciona com os outros mais tarde. Traumas, abusos ou negligência na infância, cooperam e participam para o desenvolvimento de comportamentos sexuais licenciosos, como uma tentativa de preencher lacunas afetivas e buscar validação de fragmentações infantis.


Mecanismos de defesa: Comportamentos dissolutos também podem ser versados como mecanismos de defesa psicológica. Indivíduos com dificuldade em lidar com emoções intensas, como a ansiedade ou o medo do abandono, podem recorrer à suposta promiscuidade como uma maneira de evitar o envolvimento emocional profundo. Isso permite que eles(as), mantenham uma certa distância afetiva e emocional do possível par, acionando um gatilho de fuga para evitar sua presumível exposição das vulnerabilidades que carrega.


Busca de autoestima: Estarei sendo muito assertivo em dizer que, geralmente, a libertinagem sexual pode ser uma inquirição por validação. Indivíduos que se sentem carentes de amor tem sua autoconfiança abalada, portanto, se entregam a relações pobres sexualmente, como uma forma de obter e angariar temporariamente esses sentimentos de apreciação e importância que se negam.


Compulsão sexual: A existência de compulsões, onde o controle total sobre impulsos sexuais tem um certo comprometimento psíquico, leva necessariamente a comportamentos sexuais heterogêneos e repetitivos, que certamente serão prejudiciais para a pessoa e seus relacionamentos.


Conflitos internos: Confrontos psicológicos não resolvidos, como aqueles relacionados à orientação, identidade sexual, questões de autoimagem, favorecem a promiscuidade. Buscar múltiplos parceiros(as), pode ser uma maneira de lidar com esses duelos e conflagrações como uma tentativa de encontrar sua resolução mental e emotiva.


Influências sociais e culturais: Influências sociais e culturais desempenham rol preponderante na devassidão. Normas, regras, pressões sociais, moda, internet, mídias e acesso facilitado a encontros, incentivam consciente e inconscientemente, subliminarmente, a construção de um universo polígamo. Sob outros ângulos, a infidelidade pode se manifestar como o desejo de manter a atratividade, experimentar a emoção da novidade ou mesmo, como uma exteriorização inconsciente de oposição, rivalidade e hostilidade em relação ao parceiro, que se transpõe como uma vingança, sob a máscara da deslealdade. Quando a promiscuidade é explícita, frequentemente reflete conscientemente a aspiração de conquista nos homens e o de se sentirem desejadas no caso das mulheres. Embora a maioria concorde, que a intimidade e a afirmação de confiança recíproca são elementares para um prazer sexual fantasiosamente completo, a desordem que emana desse vínculo persegue escuros objetivos, como deslumbrar, impressionar, sobressair em relação ao parceiro(a), sobretudo, no que diz respeito a consistência, sensualidade e aspecto projetivo dessa sexualidade. É possível identificar claramente, que esses encontros que se articulam nas sombras das atividades extra conjugais ou que transbordam as relações, são mais do que simples aventuras sexuais. Destarte, se constroem em pró de metas pessoais e processos psíquicos planificados, preparados meticulosamente, com objetivos resolutos, que podemos dar o nome de envolvimentos de conquista.


“A civilização é uma tentativa de instalar uma forma de vida na qual a necessidade de defesa contra os instintos agressivos possa ser suficientemente satisfeita sem restringir muito a satisfação dos instintos eróticos.” Freud, em ''Totem e Tabu''.


Don Juan e Messalina.


Personagens como “Don Juan”, A síndrome de Don Juan — é um transtorno caracterizado pela compulsiva necessidade de seduzir, se envolver facilmente em relacionamentos amorosos e criar laços tênues, pouco duradouros ou quase inexistentes. Pessoas com donjuanismo, não se interessam pelo sexo em si, são mais comprometidos com o processo do cortejo sentimental. Podemos convocar também o caso de “Messalina” (Messalina foi uma imperatriz que viveu entre o ano de 20 e 48. Terceira mulher do imperador romano Cláudio, não à toa, teve seu nome associado à infidelidade e traição. Certa vez, ela teria desafiado uma prostituta, Scylla, para uma competição de sexo por 24 horas), frequentemente, ambos os casos literários, personificam aqueles, que, ao tentar sustentar um ego desconfortável e inseguro, pretendem se convencer do antagônico e recorrentemente aos outros, de sua imaginária segurança e falso domínio. Seja na conquista, quando se trata dos homens ou na capacidade de serem cobiçadas e fêmeas desejáveis para as mulheres. Para os tipos Don Juan, o ponto alto do prazer não está no ato sexual em si, mas na obtenção de realizações emocionais, que pela sedução e flerte levem ao orgasmo que hipoteticamente consigam provocar. O que de fato representa o verdadeiro êxito da sua glória alcançada, o troféu, que indica sua bem-sucedida empreitada. Destarte, pode o sedutor ser frustrado, se a sua missão falhar, quando a mulher não atingir o êxtase no ato sexual, (ou simular), o que será percebido por ele como um ato falho, visto esvaziado do seu propósito, pois não atendeu às expectativas psicológicas do seu destino. Ao contrário do que se pressupõe do universo masculino, mulheres que mantêm uma postura reservada e menos acessível, são vistas como desafios mais atraentes, fascinantes e cativadoras, muitas vezes, assustadoramente sensuais do ponto de vista sexual para os homens. Enquanto a mulher preserva uma certa distância e se recusa a manter intimidade sexual, ela permanecerá encantadora e admirada. No entanto, ao ceder seus encantos, ou mesmo pela exposição do corpo, perderá parte do seu valor, pois após a consumação sexual ou perca do interesse visual. Homens com ditas características partem imediatamente para a próxima é necessária realização da manutenção da sua vulnerabilidade e fraqueza emocional. Contemporaneamente, em nossa cultura, quando um casal mantém um vínculo afetivo consistente e uma relação sexual recompensadora, a monogamia se sustenta; (podemos dizer que apresenta relação direta com dois afetos, discutidos de forma mais abrangente, quais sejam o amor e o ciúme, enquanto se constituem como um arranjo afetivo, cuja principal característica é a exclusividade), estes, preferem à fidelidade como caminho da satisfação sexual. No entanto, essa unigamia possível pode em alguns casos não satisfazer os desprovimentos narcísicos de um, que estão relacionados à insegurança do eu, é, sustentados sem uma resolução, sem um saber de si, que vão se mover na forma de outros indicativos sintomáticos.


Vejamos algumas frases, principalmente de psicanalistas, que ajudam a compreender a temática;


“A infidelidade não é um sinal de falta de amor, mas sim uma indicação de que algo na relação está quebrado.” Freud.


“A infidelidade é muitas vezes um grito por autonomia. É a maneira de um parceiro dizer: 'Preciso de algo que não estou encontrando em nosso relacionamento.” Esther Perel.


“A traição é um sintoma de um problema mais profundo, muitas vezes relacionado às partes ocultas e não resolvidas do eu.” Jung.


“A infidelidade pode ser vista como uma busca por completude, uma tentativa de preencher vazios emocionais que estão enraizados na infância.” Lacan.


“Trair não é apenas quebrar uma promessa, é também quebrar um vínculo de confiança e uma parte do eu.” Rollo May.


“A traição pode ser um chamado para explorar questões de identidade, desejo e autenticidade em um relacionamento.” Irvin Yalom.


“A traição deixa uma ferida que é difícil de curar porque destrói não apenas a confiança no parceiro, mas também a confiança em si.” McLaughlin.


“A traição é muitas vezes uma expressão do desejo reprimido. Pode ser vista como uma manifestação do inconsciente buscando satisfação.” Ferenczi.


Nas sociedades modernas há uma tentativa plausível de alcançar a monogamia nas relações de casal, visto que nas antigas a poligamia era fortemente predominante. Destarte, esse aspecto biológico do nosso ser animal, a evolução e o inconsciente, agem, e podem trair tudo aquilo que tentamos alinhar neste tempo, nesse norte. Continua sendo um fenômeno intricado e melindroso que suscita indagações sobre suas causas e impactos nas relações amorosas. Seja então analisado como um evento isolado ou crônico, é um sintoma, afinal, que reflete a fragilização dos laços afetivos no seio dos relacionamentos. Isso ocorre devido ao aumento de mecanismos de defesa psicológicos levantados, tal como a cisão, (no processo de ''cisão'', ocorre um mecanismo de integração entre psique, soma e meio ambiente. A cisão ajuda a organizar o que antes estava desorganizado, separando o bom do mau, e mais adiante evoluirá para a ambivalência, passando então a existir o “e”, que se aplica ao mesmo objeto. Bom “e” mau, a identificação projetiva com um ou ambos os parceiros). Simultaneamente, o indivíduo tenta manter inalterada e preservar uma parte do vínculo com seu par, onde os aspectos da relação são percebidos como essenciais para a continuidade pessoal e conjugal. Embora essa, digamos, incorreção do sujeito, possa ser examinada no âmbito do par, não podemos deixar de lado ou excluir a responsabilidade do ''infiel aos pactos''. Nesta investigação psicodinâmica do indivíduo, é preciso incorporar e considerar sua história de vida, desenvolvimento evolutivo da identidade, seu ego e a internalização dos modelos pelos quais de identificou nas figuras paternas. Observar a influência dos padrões e arquétipos sociais, arcabouços culturais e morais, quanto a visão das condutas sexuais, que devem ser reputadas e classificadas, já que encarnam um papel relevante na formação das alianças que estabelecemos na caminhada para a maturidade.


O que podemos falar então quanto a pessoa traída?


Responderei a essa pergunta, não sem antes fazer outras…


Quantas formas de traição existem? Acredito que hoje, com a ampliação dos meios de comunicação, centenas. Então, no típico julgamento do padecente, (vitima) há uma certeza de nunca ter traído? Seria apenas a junção carnal ou ato sexual a única maneira justamente configurada e interpretada de uma perfídia infidelidade? Para não ficar apenas no subjetivo, darei nome a outras.


Os 10 pontos de atenção sobre infidelidade.


Conjugal: Esta é a forma mais comum de traição na qual um parceiro rompe um compromisso de exclusividade sexual ou emocional em um relacionamento amoroso.


Emocional: Quando um parceiro desenvolve uma conexão emocional com alguém fora do relacionamento, mesmo que não haja envolvimento físico. Isso pode incluir compartilhamento de sentimentos e confidências íntimas com outra pessoa.


Financeira: Envolve esconder ou gastar dinheiro sem o conhecimento, ou consentimento do outro, o que pode levar a conflitos significativos em um relacionamento.


De Confiança: Quando alguém quebra a crença de fiabilidade ao mentir, enganar, violar acordos estabelecidos ou divulgar segredos íntimos.


De Amizade: Quando um amigo próximo ou confidente se revela desleal, compartilhando informações pessoais, fofocando ou tomando ações que prejudicam a relação de amizade.


Profissional: Se um colega ou superior de trabalho age de maneira desleal, como roubar ideias, receber crédito indevido pelo trabalho de outra pessoa ou sabotar as oportunidades de carreira de alguém.


Familiar: Membros da família que quebram a fiúza confiança ou agem contra os interesses de outros membros de maneira prejudicial.


Traição a Si: Às vezes, a infidelidade pode ser voltada para o próprio indivíduo, quando age contra seus próprios valores, necessidades ou objetivos, comprometendo seu próprio bem-estar.


Cultural ou Social: Que envolve a quebra das normas ou expectativas sociais, como agir contra crenças religiosas, éticas ou morais de uma comunidade.


Eletrônica: ? Neste ponto, não vou nem fazer citações dada a amplitude, deixarei que cada um faça sua própria análise.


E agora? Nesta concepção mais abrangente, como deve ser avaliado, pela dimensão, extensão, grandeza, largueza, lateralidade, amplitude, etc., podemos afirmar conclusivamente que nunca traímos e fomos infiéis? Que a dita traição ou infidelidade estariam, portanto, apenas no campo da sexualidade?


Quanto as consequências, uns a podem vivenciar como um trauma, outros, serem motivados a vingança, enquanto alguns, ainda podem experimentar grande desilusão e raiva, por fim, uma pequena parcela, humildemente perdoar. A escolha de continuar ou encerrar o relacionamento dependerá, na maioria, dos mecanismos de defesa individuais e das circunstâncias específicas a cada caso. Uma verdade precisa ser apresentada, o apontador, (sofrente), geralmente apenas julga o infrator(a), nunca o faz sobre um crivo que o inclua, é uníssono, está sempre com a caneta na mão, é apenas sabe escrever sobre o ''Outro''.


Logo, o traído pode se dizer isento se observar os 10 pontos da infieldade acima discriminados?


Finalmente, a dor é um elemento central na infidelidade, ao representar uma ferida narcísica, temos a consciência do quão pouco podemos diante de um destino que parece, sejamos sinceros, aleatório e inclemente conosco, ao ver que quase nada podemos controlar. Nossa incapacidade de, às vezes, aliviar a nossa dor nos revela o quão diminuta e nossa própria condição humana, frágil, insondável, misteriosa e hermética. No entanto, quero concluir com uma palavra de otimismo, aventando que, apesar das nossas multiplicidades, heterogeneidades e desafios conectados a essa infidelidade que ninguém escapa, nosso mundo também comporta e acomoda pares, que se esforçam para construir relacionamentos duradouros baseados no afeto e no amor mútuo, em contraposição a uma cultura de consumo, descarte, mediocrização e vulgarização.


Ao poema;


A Podenga Portuguesa — Infidelidade.


Ai que vontade tenho eu

que sejas de vez, só meu

e possa por fim assumir o meu erro

de querer quem não preciso

mas que me dá sempre um sorriso

depois de me fazer sofrer.

Ai que vontade que eu tenho

dar-te um beijo de todo o tamanho

à frente de quem quiser ver

nesse momento vou querer

que me agarres com força

que me deixes louca

até que o corpo me doa

e os olhos voltem a ver.


Ai como queria

ter-te um dia

mesmo depois de ver o que fizeste

e que podes fazer comigo também

eu sei

mas esta vontade é tão grande

que ultrapassa aquilo que antes

eu criticava e não entendia

talvez já aí sabia

que o que via

seria eu.


E em vez de aprender julguei

e agora que cá cheguei

não sei como sair.


Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

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