A Melancolia.
- Dan Mena Psicanálise
- 26 de jul. de 2023
- 13 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
''A Melancolia é uma roda-viva entre o amor e a ausência do seu objeto''. Dan Mena.
Por Dan Mena.

Em “Luto e Melancolia: ''À sombra do espetáculo”, livro que examina a essência de melancolia e sua relação com o luto, escrito por Freud em 1917, ele investiga as diferenças entre o luto saudável e a melancolia patológica, analisando as emoções e processos psicológicos envolvidos nesses estados. A melancolia surge como uma emoção complexa e profunda, que tem sido objeto de estudo e reflexão na psicanálise. Neste artigo, explorarei o seu conceito angular pela visão psicanalítica, suas origens teóricas, como ela se manifesta no indivíduo e sua abordagem no contexto da terapia. Para isso, utilizarei diversas contribuições de autores e teóricos, somados a minha perspectiva pessoal. Boa leitura.
A relação dos estados emocionais na atualidade.
Falar de melancolia contemporaneamente é falar das depressões que chegam a clínica. O que seria então a depressão?.
Antes de tudo, um achado clínico, quando como psicanalistas falamos de depressão, nos referimos à mesma coisa que um psiquiatra? Digamos que sim, mas há um entrave a este entendimento na psicanálise: a depressão não é o motivo principal ou razão pela qual o paciente procura o terapeuta. ''A depressão é algo que o analista deve vislumbrar para além do que lhe é dito'', (Leguil 1996). Está identificada e descrita como um estado que se manifesta não necessariamente como uma queixa específica, sintoma, inibição ou angústia, diferentemente dos três motivos descritos por Freud em (1925) — inibição, sintoma ou angústia — a depressão desafia a clínica psicanalítica ao não reunir claramente ditos elementos. O termo, “depressão”, também é definido como uma mistura de tristeza intensa, culpa invasiva, angústia acima do habitual e risco de comportamento suicida. Pode ser enxergada como um abandono do sujeito, uma ruptura com o que anteriormente o sustentava na vida em relação a suas ações, identidade ou relações que mantém com outros. Essa degradação progressiva dos vínculos amorosos, principalmente na cultura atual, estaria no centro dos fatores relevantes que podem levar tanto à depressão quanto à melancolia, é, por essa razão, sinalizo. Destarte, também é associada à psicose, que por sua vez se opõe à mania. A melancolia psicótica, (ou depressão), pode ser acompanhada de elementos delirantes, quando o elo emocional do sujeito parece ter quebrado os laços que o uniam à vida. Freud prefere abordar a melancolia como uma forma de luto, a isola das depressões neuróticas, sugere que seria um tipo de aflição causada por uma perda de libido, decorrente de um empobrecimento do ''eu''. O(a) melancólico(a), pode se comportar como se tivesse uma aversão moral a si(a), com os sentimentos de autoria e culpabilidade voltados contra si. O ato suicida que pode estar presente, talvez seja o resultado do retorno do impulso assassino, dirigido inicialmente contra o ''objeto'' para o ''sujeito''. Assim entendo que; não existe de fato uma estrutura clara quanto ao quadro depressivo. A depressão é um sintoma, e não um diagnóstico, o que significa que pode aparecer como uma posição sem localização, revestida de diferentes formas de patologias. No caso da melancolia especificamente, estamos perante uma alteração complexa, difícil de delimitar e classificar, porque o seu diagnóstico diferencial requer uma precisão, que, na minha opinião, em teoria requer virtuosismo indefinido, e que na clínica, seria o resultado do mais exímio rigor e observação. Suas possibilidades envolvem se ater a dois aspectos; a possivel depressão biológica e a psicossocial. Onde iremos encontrar, termos e sinónimos atualizados, tais como;
psicótica | neurótica
Vital | pessoal
autônoma | reativa
somatológica | psicogênica
fisiológica | psicobiológica.
endógena | exógena
Em um vasto percurso bibliográfico, tanto psicanalítico, psicológico e psiquiátrico, nos deparamos com aparentes ambiguidades opositórias, pois a depressão pode ser melancólica ou não, e na melancolia existem traços obsessivos certamente. Para não desfocar, vou direto na relação desses estados emocionais com o luto, a perda, o narcisismo e a estrutura psíquica do sujeito, ressaltando sempre as contribuições de Freud e Lacan para a compreensão desses fenômenos. Eles apontam, que ambas condições podem se manifestar em diferentes estruturas clínicas, sendo um desafio facultativo a cada especialidade, fazer distinções precisas correspondente a técnica particular, para determinar estratégias terapêuticas adequadas.
As raízes teóricas.
A melancolia é uma resposta patológica à perda, se diferencia do luto saudável. Embora as teorias variem em nuances, há alguns aspectos gerais que podem ser encontrados ao discutir o tema. São suas variáveis;
— Reação à perda: É Geralmente associada a uma resposta emocional à perda significativa, seja a morte de um familiar, o fim de um relacionamento importante, o descaminho de uma posição social ou até mesmo, se perder de uma parte de si, como um ideal ou expectativa frustrada.
— Tristeza e vazio. Caracterizado por sentimentos intensos de tristeza, desesperança e vazio emocional, onde o indivíduo pode experimentar uma sensação de perda de sentido ou propósito na vida, o que pode levar a um estado de desânimo prolongado.
— Identificação com o objeto perdido. Em muitos casos a pessoa afetada pode se identificar profundamente com o objeto perdido ou ausente, mantendo uma conexão psicológica e emocional com ele(a), mesmo após a inexistência física desse ''Outro''.
— Culpa e autoacusação: Que pode ser em relação ao objeto perdido ou em associação de si, iniciando um processo de autodepreciação, da parte significativa do estado melancólico.
— Desconexão social e isolamento. Pessoas em dito estado de angústia podem se sentir desconectadas dos outros e tendem a se isolar socialmente, se impondo um sofrimento emocional intenso e negando a possibilidade na busca de apoio e compreensão dos outros.
— Perda de interesse e prazer. Cancelamento de predileções em atividades sociais e sexuais, que antes traziam prazer ou satisfação, onde impera a falta de motivação e entusiasmo como uma característica sintomática sempre presente nesse estado emotivo.
— Impacto na saúde mental: A melancolia pode ter um impacto significativo na saúde mental do indivíduo, levando a sintomas de depressão, ansiedade e, em casos mais graves, a ideação suicida.
— Abordagem terapêutica: A terapia psicológica, como a psicanálise, a terapia cognitivo-comportamental (TCC), e outras formas de psicoterapia, podem ser eficazes no tratamento. Através da exploração das emoções, das suas raízes e do desenvolvimento de estratégias de enfrentamento saudáveis, lugar possível para aliviar o sofrimento e buscar uma resolução positiva.
Sua compreensão pode atravessar variações, conforme a abordagem teórica e a perspectiva do analista ou psicólogo, mas nelas todas, o reconhecimento e o tratamento adequado são essenciais para promover o bem-estar emocional e psicológico do indivíduo afetado.
A contribuição de Jacques Lacan.
Em Lacan, sua exegese foi altamente influenciada pelas obras de Freud, mas ele também desenvolveu suas próprias ideias sobre o tema, onde suas principais revelações foram de acordo com estes 6 tópicos;
— Objeto Perdido e Identificação: A melancolia surge pela perda de um objeto significativo. Esse objeto pode ser uma pessoa, uma ideia, um ideal, ou até mesmo uma parte do próprio eu, vivida como perdida, e resultar em um sentimento profundo de vazio e desolação.
— A Imagem do Outro: Neste tópico vejo a importância do “Outro” na formação do ''self'', como sendo esse ''Outro'', a figura que reflete o indivíduo de volta a si mesmo, contribuindo para a construção da identidade. A perda do ''objeto'' ou do ''Outro'' pode levar a uma desintegração da imagem do self, resultando em sentimentos de falta de sentido e identidade.
— A Identificação Melancólica: Esse processo em que o sujeito internaliza o objeto perdido, pressupõe que o mesmo incorpora o objeto ou a imagem do ''Outro'', se tornando identificado com a perda, internalizando o vazio deixado pela ausência do objeto.
— A Lógica do Desejo e da Culpa: Assim, O melancólico sente culpa pôr em algum momento ter desejado a perda do objeto, mesmo que isso não seja consciente, lugar onde o desejo e a compunção dele(a) entraram em conflito, contribuindo para a sensação de angústia e desespero.
— A Função da Linguagem: Jogando um papel crucial na teoria de Lacan, a melancolia pode ser exacerbada pela incapacidade do indivíduo encontrar palavras que possam expressar seus sentimentos e experiências internas. A ausência desse canal verbalizado, a falta de linguagem para dar significado à perda pode intensificar o sofrimento melancólico.
— O Acesso ao Simbólico: Sua superação envolve o acesso ao mundo simbólico da linguagem e do significado, que permite que a dor da perda seja simbolizada e expressa em palavras, o indivíduo pode começar a elaborar o luto, encontrando maneiras de lidar com o desaparecimento do objeto de forma mais saudável.
Fica claro que há um destaque nessa função fundamental da linguagem, e sua necessidade de simbolizar, expressar essa experiência interna para superar a melancolia. A contribuição de Lacan para tal compreensão é valiosa para a psicanálise, oferecendo uma perspectiva e ferramentas clínicas únicas.
Mecanismos psicológicos na melancolia
A melancolia envolve uma série de mecanismos psicológicos substanciais, incluindo a identificação introjetiva, idealização e internalização. Esses dispositivos estão relacionados à experiência melancólica, e podem influenciar o funcionamento psicológico. A Identificação Introjetiva internaliza o objeto perdido, tornando-o parte de si, resultando em uma ligação psíquica profunda, mantendo sua presença no ''eu'' do indivíduo, mesmo após a perda real. Lembrar sintomaticamente do objeto distorcidamente, como se ele fosse a personificação de tudo o que é desejável e valioso, aumentando o sofrimento pela perda. Isso envolve uma projeção de raiva e hostilidade que são direcionados de volta para o próprio sujeito, provocando sentimentos de recriminação. Outra particularidade inclui a fixação emocional, gerando dificuldade em se desligar emocionalmente, impedindo que sejam encontrados novos significados ou que se concretizem investimentos afetivos em outras áreas da vida. O conjunto sintomático norteia a pessoa a uma regressão, descendo a padrões de pensamento e comportamento típicos de estágios de desenvolvimento anteriores, dificultando a adaptação saudável à realidade vivenciada, potencializando a sensação de impotência e desespero. Como consequência se percebe geralmente o desenvolvimento de uma autoimagem negativa, sentindo-se culpado(a) e inferiorizado(a), depreciando o seu ego,' que será retroalimentado pela identificação com o objeto ausente. Esses dispositivos psicológicos interagem entre si, criando um ciclo repetitivo prolongado que sustenta o estado melancólico. A identificação consciente desses expedientes pode permitir ao indivíduo encontrar maneiras mais adaptativas de lidar com sua dor emocional e redirecionar suas energias afetivas para uma vida mais satisfatória e significativa.
Manifestações nos relacionamentos.
A melancolia impacta os relacionamentos interpessoais, afetando significativamente como ele se relaciona. Além disso, padrões melancólicos influenciam na dinâmica da intimidade.
Algumas das manifestações mais comuns incluem:
— Dificuldade em Estabelecer Vínculos Profundos: Impasse do sujeito em afirmar vínculos emocionais duradouros, insegurança e desconfiança em relação aos outros, seguidos do medo da rejeição e o abandono.
— Idealização e Desvalorização dos Parceiros: Exaltação excessiva do(s) correspondentes(s), os(as) enxergando como perfeitos(as) e incapazes de cometer erros. No entanto, quando ocorrem desentendimentos ou confrontos, a pessoa melancólica pode rapidamente desvalorizar o parceiro(a), jogando a culpa no outro por suas decepções emocionais.
— Vazio e Solidão: Mesmo estando em um relacionamento, a pessoa melancólica pode se sentir vazia e solitária emocionalmente. Ela(e) podem experimentar desmedida sensação de descontentamento, como se algo estivesse faltando em sua vida afetiva.
— Autodepreciação e Culpa: Desenvolvimento de uma visão negativa de si, baixa estima e autoacusação constantes, que interferem na capacidade de se sentir merecedor(a) de amor e afeto.
— Medo do Abandono: Pavor intenso de ser abandonada(o) pelo parceiro, o que pode levar a comportamentos de controle, perseguição, violência e ciúme patológico.
— Dificuldade em Expressar Emoções: Bloqueio da expressão adequada de afetos positivos, como amor, carinho, afeto, amizade e gratidão, tornando os relacionamentos frios e distantes.
— Relacionamentos Conturbados: Leva ao desassossego nos envolvimentos emocionais, os tornando conturbados, conflitivos, contenciosos e instáveis, passando por picos de altos e baixos extremos, o que pode dificultar a construção de conexões saudáveis.
A melancolia não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas, as experiências individuais podem variar, além disso, não deve ser confundida com a tristeza ocasional ou períodos de baixo humor que são normais. Quando seus sintomas afetam o bem-estar emocional, a qualidade deles decaem, sendo importante trabalhar com suas questões subjacentes.
“A melancolia é, em termos gerais, o mesmo que o luto, só que é muito mais intenso, atingindo nossos elos narcísicos mais poderosos. Nessa condição, a compreensão da realidade não leva à superação do objeto perdido, mas sim a uma identificação com ele.” Freud.
Outra figura importante na psicanálise foi Melanie Klein, que também contribuiu para o seu entendimento, em sua teoria do desenvolvimento emocional, embora ela tenha abordado a proposição de forma menos detalhada. De acordo com ela, esse estado emocional surge a partir da posição depressiva no desenvolvimento infantil. Assim, descreveu duas posições emocionais iniciais que as crianças atravessam durante o desenvolvimento: a posição esquizo-paranoide e a posição depressiva. Na posição depressiva, que ocorre por volta dos 6 meses, a criança começa a perceber o objeto (geralmente a mãe) como uma entidade completa e independente, com qualidades boas e más. Nesse momento percebe que ela própria também pode ser uma fonte de angústia para o objeto, e aí começa a surgir um sentimento de culpa. A criança sente-se culpada pela hostilidade e raiva que teve em relação ao objeto, e como resultado, ela se depara com sentimentos de tristeza e pesar. Essa posição infantil pode ser considerada um precursor do que Freud mais tarde descreveria como “superego”, sendo a parte da mente que internaliza os valores, normas e regras da sociedade. Klein via a melancolia como um aspecto importante do processo de desenvolvimento emocional da criança, pois, através desse sentimento de culpa, a criança pode desenvolver empatia e compreensão emocional. Na terapia psicanalítica de orientação kleiniana, o terapeuta pode trabalhar com o paciente para explorar os sentimentos de melancolia e ajudá-lo a elaborar e processar essas emoções. Ao fazer isso, o indivíduo pode desenvolver uma compreensão mais profunda de si e de suas relações interpessoais, promovendo um desenvolvimento emocional mais saudável. Dita parte natural do crescimento emocional da criança está conectada e relacionada ao surgimento dessa posição depressiva, que envolve sentimentos de perda e culpa como elementos importantes também para a formação da personalidade. O entendimento da melancolia a partir da perspectiva de Klein enriquece o campo da psicanálise e oferece uma compreensão mais abrangente da complexidade das emoções humanas. “Na melancolia, o sujeito internaliza o objeto perdido em seu eu e, assim, continua a viver a dor e a hostilidade em relação ao objeto, mas agora direcionadas para si mesmo.”
Jacques Lacan: “Na melancolia, o sujeito experimenta a perda do objeto, não, como algo externo, mas como uma perda interna. Ele carrega essa ausência internamente, causando uma dolorosa identificação com o objeto perdido.”
Para Winnicott: “A melancolia surge quando o indivíduo não consegue tolerar e superar a dor associada à perda do objeto. A fixação impossibilita o crescimento emocional e a busca por novas experiências.”
Winnicott, abordou a melancolia em seu trabalho como parte de sua teoria sobre o desenvolvimento emocional e os estágios iniciais da vida. Embora ele não tenha escrito especificamente um trabalho inteiro sobre a melancolia como Freud, suas ideias sobre o tema podem ser encontradas em diferentes trabalhos e palestras. Ele a concebia como um sentimento de desesperança profunda e uma sensação de perda do próprio sujeito. Destacava a importância da experiência de uma “falha ambiental” durante a infância como uma causa potencial para o desenvolvimento na vida adulta, onde, a mãe ou cuidador primário tem um papel fundamental na criação de um ambiente facilitador para o desenvolvimento emocional saudável da criança. Se essa relação de cuidado e atenção não fosse adequadamente estabelecida, a criança não se sentirá amada e compreendida, experimentando um sentimento de desolação e vazio, coadjuvando para o surgimento da melancolia. A importância radica na capacidade do indivíduo ser autêntico e espontâneo em suas emoções e comportamentos, quando a criança não pode expressar livremente seus sentimentos autênticos e verdadeiros, passa a internalizar um senso de falsidade e vazio, o levando ao desenvolvimento de uma angústia latente na vida adulta. A importância da construção dessa ambiência psicológica, facilitadora, possibilitando ao indivíduo encontrar suporte emocional, autenticidade e empatia, como formas criativas de expressão para processar emoções difíceis e experiências de perda. Uma vez instaurado, é um estado dramático, que pode ser relacionado a essas falhas da estrutura infantil, afetando a capacidade de promover sua autenticidade, expressão genuína, mediante um ambiente pungente e adequado.
Julia Kristeva: acrescenta; “A melancolia é um fenômeno complexo que revela uma luta entre o desejo de se apegar ao objeto perdido e sua aspiração de se libertar da dor associada a essa perda. É uma dança entre o amor e a perda.”. Em seu livro “Pulsões de Signos”, explora a melancolia, a definindo como um estado de “afeto pesado”, onde o indivíduo se sente mergulhado em tristeza, muitas vezes sem uma causa aparente. A perda dolorosa afeta a identidade, que pode ser simbólica, como a extinção ou privação, seja de um ideal ou de um objeto de amor, mesmo se tratando de uma perda real, como a morte de alguém querido. Sua relação se aproxima do conceito de abjeção, o qual é o sentimento de repulsa e horror que experimentamos em relação ao que é considerado impuro, estranho ou inaceitável. Na melancolia, existe uma profunda aversão a si mesmo, como uma ameaça abjeta para o mundo externo. A melancolia não é apenas um estado emocional, mas também uma oportunidade para uma exploração profunda do ''eu'' e da identificação.
“Na melancolia, a pessoa sente-se vazio(a), sem identidade e autoestima. O objeto perdido era uma fonte importante de autoafirmação e, ao perdê-lo(a), o indivíduo sente que também perdeu uma parte de si.” Kohut.
Essas citações utilizadas de autores psicanalistas nos ofereceram uma visão profunda sobre a natureza complexa e as implicações emocionais da melancolia. Cada teórico, aborda a melancolia a partir de diferentes perspectivas, mas todas elas convergem em destacar a importância da sua relação entre o indivíduo e o objeto perdido, bem como os mecanismos psicológicos envolvidos nesse processo e seu estado emocional. Podemos agora compreender melhor a profusão deste tema na teoria psicanalítica, quanto também alargar estas distinções ao temperamento do caráter melancólico. Por fim, poderíamos situá-lo como uma forma um tanto estereotipada do sentimento normal de tristeza. Por sentimento, incluí neste artigo tanto seu componente afetivo como as representações de ideação concomitantes, ou seja, aquilo a que hoje chamamos habitualmente de componente cognitivo. Poderíamos também o intitular como uma patologia de caráter, que pode ocorrer tanto numa subjetividade neurótica como na psicótica, cuja psicose não tenha ainda sido desencadeada. Em qualquer um destes casos, continua a ser decisivo, pelo menos do ponto de vista da terapia psicanalítica, distinguir tais discernimentos entre a ordem da neurose e da psicose. Concluindo; para nós psicanalistas é útil não apenas explorar a capacidade de enfrentamento ao luto do paciente, mas sim, identificar a parte do ''eu'' que se foi com o objeto afetivo agora ausente. Por essa razão deixo aqui duas reflexões;
Na melancolia, o que realmente perdemos que tanto nos assola e atormenta?
Porque usamos de tanta agressividade contra si, podendo destruir-nos juntamente com o objeto perdido?
Ao poema; Rabindranath Tagore
A tristeza.
Senhor! Dá-me a esperança, leva de mim a tristeza e não a entrega a ninguém.
Senhor! Planta em meu coração a sementeira do amor e arranca de minha alma as rugas do ódio.
Ajuda-me a transformar meus rivais em companheiros, meus companheiros em entes queridos.
Dá-me a razão para vencer minhas ilusões.
Deus! Conceda-me a força para dominar meus desejos.
Fortifica meu olhar para que veja os defeitos de minha alma e venda meus olhos para que eu não cometa os defeitos alheios.
Dá-me o sabor de saber perdoar e afasta de mim os desejos de vingança.
Ajuda-me a fazer feliz o maior número de possível de seres humanos, para ampliar seus dias risonhos e diminuir suas noites tristonhas.
Não me deixe ser um cordeiro perante os fortes e nem um leão diante dos fracos.
Imprime em meu coração a tolerância e o perdão e afasta de minha alma o orgulho e a presunção.
Deus! Encha meu coração com a divina fé... Faz-me alguém realmente justo.
Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
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