A Pedofilia.
- Dan Mena Psicanálise
- 24 de out. de 2023
- 14 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
Desvendando os Mistérios da Mente de um Predador Sexual.
As Raízes Psicanalíticas da Pedofilia com Uma Análise Completa.
“Às perversões sexuais na maturidade tem raízes nas experiências traumáticas da infância.” Dan Mena. Por Dan Mena.

Um pouco de história.
A palavra perversão, que deriva do latim “perversio”, significa mudança do bem em mal e corrupção dos costumes e hábitos. Ela não é uma questão da atualidade, existe desde a Antiguidade onde podemos mesmo pensar nas relações sexuais entre adultos e jovens que já existiam na Grécia. Podem ser alargadas e pensadas como aquilo que hoje conhecemos como pedofilia onde o contato homossexual entre homens e adolescentes era frequente. Algo semelhante também ocorria no Império Romano, onde filhos de escravos podiam ser destinados ao uso pedófilo e recebiam nomes como “pueri meritorii”. Em Esparta era considerada parte da educação, uma vez que o professor iniciava o aluno na vida social, acadêmica, militar e sexual. Estas relações, intimas entre um homem adulto e um jovem, eram respostas aos valores culturais das sociedades guerreiras da época. Indo adiante, a psiquiatria e a psicologia adotaram os termos “disfunções” para designar ditas situações atuais. Os manuais de diagnóstico de perturbações mentais (DSM-IV e DSM-IV) não utilizam o termo “perversão”. Nestas classificações internacionais estão apontadas como turbações que não afetam a resposta sexual e que consistem num desvio da escolha sexual. Para as classificações de Ebing (1965), a perversão se caracteriza pela excitabilidade das funções sexualizadas por estímulos inadequados. No entanto, até chegarmos ao século XIX, se publica a obra ''Psychopathia Sexualis'', logo muitas mudanças irão advir para os perversos e suas perversões: ora consideradas influências demoníacas, doença, bruxaria, crime, de modo que a sociedade em diferentes épocas, solucionou a questão ora na fogueira, na guerra cultural e religiosa, com manicômios ou colocando atrás das grades aqueles considerados inadequados pelas suas práticas libidinosas. Se refere ao interesse direcionado a crianças pré-púberes ou adolescentes menores de idade. Considerada uma patologia amplamente condenada pela sociedade devido aos sérios danos que pode causar, traumas e no desenvolvimento psicossexual saudável. Freud, abordou questões relacionadas à perversão sexual em suas obras, embora não tenha se concentrado especificamente no assunto. Em termos gerais, consideram-se as devassidões como distorções libidinosas, nas quais o indivíduo canaliza suas libido de uma maneira socialmente inaceitável. Um fenômeno cada vez mais comum, o abuso sexual de menores e um ato cruel e desumano, que se enquadra clinicamente nas parafilias. (Parafilias são fantasias ou comportamentos frequentes, intensos e sexualmente estimulantes que envolvem objetos inanimados, crianças ou adultos sem consentimento, mediante a imposição de sofrimento ou humilhação de si próprio, parceiro ou outro.) Cogito promover uma leitura não somente a partir do lugar habitual, mas utilizando a proteção ética que a psicanálise me oferece para fazer uma leitura ao nível subjetivo, partindo do lugar do pedófilo e suposto abusador, para além do discurso apenas moralista, porque não se trata dele, não apenas de fazer juízos ou justificar o injustificável, mas sim de escutar o que é evidente no ato de servir-se sexualmente de alguém normalmente indefeso. Essa é a nossa tarefa enquanto analistas, escutar o que a clínica revela, o que a sociedade produz e trabalhar precisamente naquilo que nos é revelado confidencialmente, sem dar nomes ou referências. Ouvir aquilo justamente que emana da narrativa do indivíduo que está prestes a se tornar ou aquele que não quer se transformar em um. Boa leitura.
Psicose, neurose e perversão.
Na psicanálise nos afastamos do conceito de ''parafilia'', senão entendemos a questão pelas três principais estruturas nosográficas, psicose, neurose e perversão, que se diferenciam dela. O pervertido depende de condições não convencionais ou de parceiros sexuais específicos para se excitar. Deste ponto a origem dessa perturbação é inconsciente, o que implica que não pode ser controlada pela vontade consciente do indivíduo, pelo qual demonstra notável resistência às técnicas de psicoterapia. Ele se torna compulsivamente ligado a estímulos e rituais sexuais peculiares que servem como impulsos irresistíveis para sua ação, mesmo quando essas possam contradizer seus próprios interesses, morais, éticos e digníssimos. Seus atos podem variar de inofensivos como o fetichismo, prejudiciais e ilegais como o estupro, a mortais, dos ''serials killers'' como o caso do assassinato sádico. Durante muito tempo, as diferenças entre a sexualidade vista como normal e aquela não eram, tidas como naturais e arbitrárias, destarte, influenciadas por ideologias religiosas em vez de critérios científicos e assertivos. A homossexualidade e certas práticas sexuais foram histórica e anteriormente rotuladas como luxuriosas, que ao seu tempo com o avanço da sexologia, foram reexaminadas, atual e contemporaneamente ao desenvolvimento de disciplinas investigativas, cultura, liberalidade, etc. Assim comportamentos como masturbação, sexo oral, anal, homossexualidade, lesbianismo, pornografia, e prostituição não são mais considerados sintomas patológicos. O significado e caráter anormal, excessivo e imoral associado às práticas foi retirado, indicando uma mudança significativa na aceitação da diversidade sexual na sociedade moderna.
Lacan, fundamenta na linguagem e na simbolização os insights sobre os mecanismos do desejo e das perversões sexuais. Embora não tenha especificamente discutido a pedofilia, seus estudos oferecem um terreno fértil para analisar esse comportamento à luz da psicanálise, por essa razão é interessante compreender essa base;
"O perverso goza da lei, encontra seu prazer na transgressão."
"A perversão não é uma patologia, mas uma organização subjetiva que se afasta do modelo normativo da sexualidade."
"A perversão não é uma negação da sexualidade, mas uma variação da mesma, frequentemente baseada em fantasias e desejos particulares."
Desejo e linguagem.
O desejo é estruturado pela linguagem, que por sua vez e mediados por símbolos e significados, eles formam a base para a compreensão dos desvios e perversões sexuais. O indivíduo busca satisfação fora dos padrões socialmente aceitos. A pedofilia pode ser vista como uma dessas inclinações, onde o desejo é direcionado a crianças.
Configuração perversa do desejo:
Representa uma conformação particularmente grave do tema, envolvendo a sexualização de crianças, tal comportamento reflete uma falha no processo de simbolização, levando a uma satisfação distorcida do desejo.
Considerações éticas no tratamento:
Requer uma abordagem ética e sensível. É fundamental proteger as vítimas potenciais e, simultaneamente, oferecer ajuda aos agressores. A terapia deve focar na compreensão das raízes do desejo pedofílico, promovendo a empatia e a responsabilidade.
Considerações legais e jurídicas:
Do ponto de vista legal, é imperativo um equilíbrio entre a proteção da sociedade e a reintegração dos infratores após tratamento. A aplicação de medidas preventivas e punitivas deve ser cuidadosamente calibrada para garantir a segurança da comunidade e, ao mesmo tempo, respeitar os direitos do indivíduo.
Embora a psicanálise forneça ferramentas valiosas, deve ser integrada a uma abordagem multidisciplinar que considere questões éticas, legais e clínicas. Tratar a pedofilia requer uma compreensão profunda das psicologias envolvidas, bem como um compromisso inabalável com a segurança e o bem-estar das vítimas. Impõe a necessidade de um diálogo contínuo entre teoria, prática clínica, ética e lei para enfrentar eficazmente esse desafio delicado e perturbador. Tem sido um tema de preocupação e debate tanto na sociedade quanto na comunidade psicanalítica. Ao examinar o assunto a partir da perspectiva teórica e ética, podemos iluminar sobre as dinâmicas que subjazem a esse particular comportamento.
Da vítima a criança imaginária.
Abordagens de Freud, Lacan e outros psicanalistas nos permitem confrontar esse sujeito sui generis com o ''Espelho do Outro''. A teoria dos espelhos sugere que conseguimos reconhecer em outras pessoas características que de alguma forma também existem ou já existiram em nós. Isso se deve à natureza intrínseca de nossa jornada na terra, na qual aprendemos sobre nós mesmos por meio das relações interpessoais. Esta teoria ressalta a importância das interações sociais como veículos para a autorreflexão. No entanto, quando se trata da questão da pedofilia surge um aspecto que transcende as discussões sobre ela. Não aqui discutindo desde a posição da criança como vítima, mas sim a criança imaginária que habita na mente do pedófilo, na posição de sujeito imaginário. Lacan, postula que; “a relação sexual não existe” (Lacan, 1977). Essa afirmação significa que, ao contrário de muitos outros animais cujo comportamento afetivo sexual é regulado por ciclos biológicos, o ser humano não está preso a tais padrões. No entanto, para ele, a dinâmica é singular, uma vez que lida com um vazio, há uma ausência de sentido em sua busca por uma relação amorosa fictícia. Essa lida se origina na fantasia e na ilusão, como uma tentativa de alcançar a totalidade do “outro”, um estado anterior à diferenciação sexual. Nesse cenário, o sujeito é confrontado com a impossibilidade de realizar e obter uma verdadeira relação, em vez disso, é forçado a renunciar ao seu próprio prazer em prol do desejo, (Kristeva, 1980). Nesse processo, o “outro” é aniquilado, e a criança deixa de ser sujeito, tornando-se um objeto nas mãos do agressor. As teorias que envolvem o desejo, a linguagem e as perversões fornecem uma base sólida para compreender as raízes psicológicas dessa manifestação perturbadora. Além disso, é crucial considerar as implicações éticas e legais ao lidar com seus portadores.
Origens da pedofilia: A horda ancestral.
A pedofilia não é uma condição com a qual se nasce, é uma consequência de um desenvolvimento inadequado na educação da criança pelos pais ou do ambiente familiar. Essa afirmação sobre a complexa interação entre fatores de desenvolvimento, sociais e familiares moldam o comportamento pedofílico. Embora esses fatores externos desempenhem um papel importante, ela transcende causas puramente externas. Se manifestam de diversas maneiras, alguns recorrem à violência para perpetrar seus atos, enquanto outros adotam uma abordagem mais suave e terna. Os que utilizam a aproximação aprazível, criam uma ilusão de relacionamento protetor com a criança, expressando seu desejo de serem amados. No entanto, essa fachada de ternura não é menos prejudicial, uma vez que essa máscara se baseia em uma sedução narcisística destrutiva e intimidante. Pela configuração desse aliciamento e da “Cena Primitiva”, (a cena primária) “foram, em determinada época, ocorrências reais dos tempos primitivos da família original, e que as crianças, em suas fantasias, simplesmente preenchem os claros da verdade individual com a verdade pré-histórica” (FREUD, 1917/1996, p. 373; 1918/1996), ao nível inconsciente, ele pode ver a criança imaginariamente amada como uma extensão idealizada de si, situação formada sob o olhar da mãe. Essa dinâmica, remonta à unidade prima de mãe e filho, onde o mesmo pode estar em busca de uma reconexão com uma singularidade que teme perder, embora essa demanda traga consigo trágicas consequências para a vítima. A preferência do pedófilo por infantes pode ser encontrada pela presença de características físicas femininas nas crianças, como pele lisa, ausência de pelos, lábios bem delineados, cabelos sedosos, fala suave, etc. Essas particularidades, propriedades e peculiaridades, respondem à retenção de uma estrutura egotista que o pedófilo anseia em manter, mas que, infelizmente, impõe ao sofrente sob o peso do seu desejo distorcido. Esse portento da captura especular e a depressão que geralmente o acompanha, envolvem esse evento, no qual o pederasta exerce um poder de sedução que aprisiona o outro no seu narcisismo agressivo. Essa tomada se torna mais intensa e sedutora quando há um alto risco envolvido. No entanto, é importante reconhecer a debilitação e enfraquecimento depressivo lateral dessa corrupção, onde o ofendedor utiliza esse mecanismo como uma tentativa desesperada de evitar um vazio existencial no qual se desencontra na sua representação simbólica. Em termos da dinâmica familiar, a constelação dos pedófilos se amplia, onde a criança violada muitas vezes desempenha o papel de um fetiche onde a imagem do pai é idealizada. Além disso, ele assume simultaneamente os papéis de uma mãe incestuosa, um pai que lembra o da horda ancestral, de um filho rei poderoso, esses elementos aparecem e geralmente compõem essa cena primitiva narcísica pré-histórica. A análise das raízes psicológicas do problema não justificará ou absolve de qualquer forma o comportamento, em vez disso, aprofunda e destaca a necessidade premente de intervenções éticas e sociais.
Panorama de atitudes sociais.
Ao longo da história se revela um complexo panorama de atitudes sociais, entendimentos científicos e respostas legais em relação a esses comportamentos. No contexto contemporâneo, as perversões são estudadas de diversas perspectivas, incluindo a psicanálise, psicologia, sociologia e a criminologia. “A palavra perversão, que deriva do latim ''perversio''…”, nos remete à sua antiquíssima existência, cujas manifestações podem ser traçadas até civilizações antigas, como a Grécia e o Império Romano, onde práticas tidas como degeneradas na contemporaneidade eram parte da cultura e da educação. Essas observações são cruciais para a compreensão de como a sociedade e a ciência lidaram com o tema ao longo do tempo. Foucault, em sua obra; “História da Sexualidade”, destaca como as sociedades modernas passaram de uma repressão direta à sexualidade para uma intensificação da vigilância e controle sobre as práticas sexuais, o que ele denomina de “biopoder”. A sexualidade se tornou um campo de saber e controle social, onde normalidade e a anormalidade são constantemente definidos e redefinidos. Em sua obra “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, Freud discute a natureza diversa dos desejos e como eles podem se manifestar de formas consideradas atípicas. Ele introduz o sentido de sublimação, argumentando que os impulsos sexuais podem ser redirecionados para atividades socialmente aceitáveis. Laplanche, como psicanalista, expandiu as teorias freudianas ao explorar as fantasias sexuais e suas raízes na infância, nas quais enfatiza a importância da linguagem na formação dos desejos sexuais, destacando como as experiências precoces moldam as inclinações perversas. No campo jurídico, a abordagem também evoluiu. O direito penal moderno, conforme expressa em obras como “Crime e Castigo” de Cesare Beccaria, evidencia a importância da proporcionalidade na punição dos delitos, questionando a abordagem punitiva excessiva em relação às perversões. Também expõe que o castgo deve ser justo e proporcional ao crime cometido, considerando a utilidade social e a reabilitação do infrator. Margaret Mead, acrescentou; “não podemos subestimar a complexidade da sexualidade e devemos abordá-la com sensibilidade, conhecimento e compaixão para promover uma sociedade verdadeiramente inclusiva e justa.”
Nem todo abusado, será um abusador.
Como afirmou o psicanalista Donald Winnicott, “a experiência de um vazio existencial, essa tal de ''agonia primitiva'', muitas vezes leva indivíduos perturbados a buscar formas de escapismo e fugas desesperadas.” É sob essa ótica que podemos compreender os intricados mecanismos além das aparências superficiais. Aqueles associados a uma estrutura perversa que coexistem com uma sexualidade heterossexual adulta, frequentemente carente de prazer. Assim, buscam se conectar a profissões que os coloquem em contato constante com crianças e expressam um desejo manifesto de cuidar e amar. Se observarmos atentamente essas manifestações de preocupação excessiva podem parecer muito benevolentes e normais, no entanto, sob a lente perspicaz de um psicanalista, essas demonstrações revelam ambiguidades inquietantes que caracterizam a personalidade narcísica, sugerindo que por trás desse frontispício aparente do concreto, cerceado de benevolência, podem residir atitudes hostis e agressivas. Freud cita: “Muitas vezes, aquilo que parece ser bondade é, na verdade, uma forma disfarçada de agressão.” Essas incursões do sujeito tem raízes em atividades traumáticas infantis, como molestar, abuso sexual ou estupro. No entanto, analisar a pedofilia como uma mera consequência de trauma de causa e efeito seria uma forma simplista de tratamento na perspectiva da psicanálise. O sintoma não pode ser reduzido ao ato infligido pelo abusador na infância, pois envolve uma interação de fatores traumáticos que impactam o funcionamento mental, e é aqui, que uma dimensão metapsicológica se torna útil e relevante. Dize Miller; “o trauma não reside nos eventos, mas nas lembranças que são negadas, suprimidas ou dissociadas da consciência.” O trauma sexual do passado, incluindo a idade da criança no momento do abalo, a qualidade do ambiente e a relação com o agressor, é avaliado de maneira distinta. Nem todas as vítimas de perturbação sexual se tornam agressores na vida adulta, a ferida emocional tem efeitos variados e depende de muitos elementos; “o impacto do trauma é determinado não pela natureza do evento, mas pela experiência subjetiva do indivíduo.” Herman.
A Imago Paterna e a relação com a Mãe.
Um aspecto crucial da psicanálise e pedofilia se cruzam na relação entre o pedófilo e a figura paterna. O portador expressa que seu progenitor não lhe transmitiu a capacidade de ser pai. Isso aponta para a ausência de uma internalização da imagem paterna. Como salientou Nancy Chodorow, “a qualidade da relação mãe-filho influencia diretamente a capacidade do indivíduo de internalizar a função paterna.” Esse déficit na internalização, em parte, se deve a um dos efeitos do trauma. A aflição traumática sofrida na infância não se limita ao ato do abuso, mas também interfere na construção do objeto interiorizado, algo fundamental para a capacidade de ser pai sem a necessidade de copiar a imago-imagem do pai de referência. A ausência dessa faculdade intra é como descreveu Winnicott: “um vazio interno que precisa ser ocupado, mas que frequentemente leva a comportamentos destrutivos na tentativa de preenchê-lo.” Portanto, a relação com a mãe é outra área significativa que afeta a psicodinâmica do pedófilo. A maioria deles reluta em discutir essa relação real que mantiveram com suas mães na infância, muitas vezes, devido a uma forte repressão que impede a expressão de sentimentos, afetos e sensibilidades. Essa relutância aprofunda o mistério oculto em torno da influência da mãe na sua formação. O desaparecimento temporário ou permanente da mãe é uma variável importante, o afastamento dela, seja por escolha própria ou por circunstâncias alheias ao querer, provoca reações emocionais na criança que vão além da indiferença proclamada. Para citar Melanie Klein, “o trauma da separação é profundamente enraizado na psique, afetando a capacidade do indivíduo de estabelecer relacionamentos saudáveis.”
Citações abaixo são voltadas para uma compreensão psicológica do tema, sem minimizar a gravidade dos atos relacionados à pedofilia. O tratamento, a prevenção e a proteção das vítimas devem ser prioridades em qualquer discussão sobre este assunto.
“A psicanálise reconhece a necessidade de lidar com o sofrimento emocional de indivíduos pedófilos e ajudá-los a buscar alternativas saudáveis.” Dan Mena.
“A pedofilia é uma manifestação extrema de uma perturbação psicológica que requer intervenção profissional. É fundamental entender suas raízes e buscar maneiras de prevenir e tratar essas perturbações.” Freud.
“As causas da pedofilia são multifacetadas e envolvem fatores biológicos, psicológicos e ambientais. Uma abordagem holística é necessária para compreender e tratar eficazmente essa condição.” Winnicott.
“A pedofilia não é uma escolha, mas sim uma condição psicológica complexa. É vital diferenciar entre a atração sexual a menores e a ação criminosa. A sociedade deve se concentrar em prevenir o abuso e fornecer tratamento aos pedófilos em busca de ajuda.” Anna Freud.
“O abuso sexual infantil é uma tragédia que causa danos duradouros nas vítimas. Os pedófilos devem ser responsabilizados por suas ações, mas também é essencial entender as causas subjacentes e buscar maneiras de prevenir o abuso.” Alice Miller.
A perversão é realmente intratável?
Como um tema delicado requer tratamento e prevenção, protegendo a sociedade e as potenciais vítimas dos seus opressores. Seu hermetismo é determinado por diversos elementos que precisam ser examinados minuciosamente. O foco, é o amor entre uma criança e um adulto em quem ela(e) confia, e do qual se espera cuidado e proteção. Envolve a percepção maliciosa e vigilante dos responsáveis em distinguir entre um gesto afetuoso e um ato incômodo realizado, tanto pela criança, pelo pedófilo e pela sociedade. Seria esta uma janela para questionarmos, porém, o que talvez defina visões pós-modernas na conexão com frases como; "nada é impossível”… posso ter tudo o que desejo?; e transformar assim também as crianças em meros itens de consumo, objetos, nisso que aparentemente tem se transformado tudo em nosso tempo. Também creio muito pertinente, interrogar por que a psicanálise não abordou esse problema frontalmente, de forma mais profunda e séria, já que há um silêncio que permeia historicamente os casos de abuso sexual infantil. Ao se fazer uma investigação aguda do tema, é muito escasso o material objetivo e menções diretas à pedofilia, mesmo durante nossa formação profissional. Poucos psicanalistas como Winnicott e Klein enfrentaram esse desafio em seus trabalhos com crianças. Na discussão sobre o desvio como organização mental, surgem barreiras e inflexões doutrinárias, exegeses; (Exegese é uma análise, interpretação ou explicação detalhada e cuidadosa de uma obra, um texto, uma palavra ou expressão. Etimologicamente, este termo se originou a partir do grego que significa dar interpretação ou levar para fora expondo os fatos”.). Esses que comprometem a apuração, resultando em preconceitos que restringem a abordagem terapêutica com indivíduos que se movem dentro desse circuito. Muitos acreditam que não seja viável realizar intervenções clínicas com tais sujeitos, consideram isso uma perda de tempo e dizem; ''a pedofilia não tem cura''. No entanto, discordo, Freud demonstrou claramente em suas pesquisas que todas as pessoas operam a repressão. Como resultado desta, desenvolvem estruturas psíquicas distintas, como uma forma de se atrincheirar em defesa contra a realidade De acordo com nossa teoria, se há repressão, o inconsciente assoma, da sua cara de forma inevitável, e é esse o ponto central no contexto da clínica psicanalítica. Todo aquele portador de um inconsciente é passível de análise, basta considerar o seu desejo e trabalhar a verdade por trás do seu sintoma. Assim, é necessário questionarmos: a perversão é realmente intratável? O interesse vem do esforço de uma análise entranhada do quadro perverso, onde tanto os estudos freudianos e de outros autores, quanto reflexões e considerações sobre o trauma, nos outorgam credenciais multidimensionais que podem ser muito úteis para o seu tratamento e desdobramento.
Dilema - António Cícero
O que muito me confunde
é que no fundo de mim estou eu
e no fundo de mim estou eu.
No fundo
sei que não sou sem fim
e sou feito de um mundo imenso
imerso num universo
que não é feito de mim.
Mas mesmo isso é controverso
se nos versos de um poema
perverso sai o reverso.
Disperso num tal dilema
o certo é reconhecer:
no fundo de mim
sou sem fundo.
Até breve, Dan Mena.
Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
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