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Inteligência Artificial e Psicanálise - Emoção em Colisão.

Desvendando a Singularidade — Ética e Emoção na Era da IA.

Inteligência Artificial e Psicanálise.

“A verdadeira harmonia não se encontra na ausência de conflitos.” — Dan Mena


Enquanto escrevia este artigo, me venho à mente uma passagem marcante da minha vida profissional, quando trabalhei na Ford. Durante as visitas que realizava a clientes, minha ferramenta indispensável era o Guia 4 Rodas. Todos os anos, eu comprava a versão atualizada, um ritual que tornava minha jornada mais simples. Me lembro de uma visita específica, em que, para encontrar o endereço, tive que parar e interagir com quatro ou cinco pessoas diferentes. Cada uma delas me dava uma dica valiosa, um apontamento, uma história. Essas trocas, não eram apenas sobre endereços; eram pequenos momentos de conexão com o outro, que enriqueciam minha experiência. Hoje, ao comparar essa realidade de 20 ou 30 anos atrás com o uso do GPS no celular, enxergo um paradoxo. Com a tecnologia atual, ja cheguei a centenas de destinos no Brasil e exterior, sem interagir com ninguém. A eficiência é inegável, mas o que perdi nesse caminho? Onde antes havia diálogo e percurso, agora existe um silêncio individual e digital. Esse distanciamento, me traz uma certa nostalgia pelo passado. Onde às interações, cheias de nuances e incertezas, foram substituídas pela certeza e precisão das máquinas. Essa transformação, levanta questões sobre o que significa ser humano em um mundo cada vez mais mediado pela tecnologia.


Esse é o contexto em que nos encontramos hoje ao explorar a relação entre a Inteligência Artificial e a Psicanálise: um mundo, onde a busca por eficiência pode, paradoxalmente, nos afastar das relações sociais que nos definem. Boa leitura.


“A busca por eficiência pode silenciar o desejo humano.” — Dan Mena


Explorando o Futuro dessa Relação Ambígua.


O filme Transcendence — A Revolução, dirigido por Wally Pfister, oferece uma reflexão instigante sobre a fusão da nossa inteligência com a artificial (IA). A trama, gira em torno do Dr. Will Caster — (Johnny Depp), no papel de um pesquisador renomado em IA que, diante da sua morte certa, transfere sua consciência para um sistema computacional, desencadeando eventos que desafiam os limites éticos e filosóficos da era tecnológica. Essa narrativa, ilustra o conceito de singularidade informática, onde as máquinas superam a nossa capacidade, e levanta questões cruciais: até que ponto a IA pode otimizar a vida contemporânea sem desumanizá-la?


A Dualidade do Progresso, seus Benefícios e Perigos.


Computadores quânticos exploram a suposta busca por um mundo melhor, que pode como está, paradoxalmente, levar à perda de postos de trabalho e da liberdade. Na trama, ao curar doenças e aprimorar a biologia, a IA-Caster, suprime a autonomia dos indivíduos, revelando um dilema central: a inteligência artificial é moralmente neutra ou seu poder será corrompido pelo desejo de controle? Essa questão se entrelaça com a psicanálise, que nos ensina sobre a complexidade do desejo e a inevitabilidade do sofrimento.


Estamos sendo vertiginosamente substituídos por máquinas e sistemas automatizados, é uma tendência crescente em diversas áreas. Darei alguns exemplos; robôs em fábricas desempenham funções como montagem, soldagem e embalagem, no setor de transporte, o Uber revoluciona a maneira como nos deslocamos, conectando motoristas e passageiros por meio de uma plataforma digital, diminuindo a necessidade do táxi tradicional. No setor de turismo e hospedagem, o Airbnb permite que proprietários aluguem suas casas diretamente aos hóspedes, diminuindo sensivelmente a figura do corretor de imóveis, transformando o mercado imobiliário. A automação, também se faz presente em serviços de atendimento ao cliente, onde chatbots e assistentes virtuais, como Siri e Alexa, assumem funções que antes eram desempenhadas por secretárias. Além disso, caixas automáticos em supermercados, têm se tornado cada vez mais comuns, permitindo que os clientes realizem suas compras sem a necessidade de um caixa humano. Robôs de limpeza, como o Roomba, são uma alternativa prática para a manutenção de ambientes, assumindo o espaço dos serviços de limpeza tradicionais. Em ambientes corporativos, máquinas de café automáticas permitem que os funcionários preparem suas bebidas com facilidade, sem depender de uma copeira. A entrega de encomendas, também está passando por uma transformação com o uso de drones. Empresas como a Amazon, estão testando essa tecnologia para tornar a logística mais ágil e eficiente, reduzindo a necessidade de entregadores. Por fim, entre outros, técnicas de diagnóstico e intervenção cirúrgica robotizada por software, estão revolucionando o campo da medicina.


Por esta razão, o filme Transcendence serve como um alerta sobre os desafios que a inteligência artificial nos impõe, ressaltando a necessidade de equilibrar esse progresso tecnológico. Nesse contexto, a fusão entre psicanálise e IA se torna essencial para poder compreender as implicações emocionais dessa suposta evolução, sugerindo, que, ao enfrentar ditos avanços, devemos lembrar da riqueza da nossa experiência, que não pode ser reduzida ao bel-prazer da tecnologia.


“A automação pode ser um convite ao vazio emocional.” — Dan Mena


O Paradoxo da Eficiência e o Perigo de Suprimir a Imperfeição.


No final do século XIX, Freud revolucionou a compreensão da mente ao fundar a psicanálise. Pela primeira vez na história, os mistérios do inconsciente ganharam um papel, é um lugar de fato, até então renegados. Com a introdução de conceitos como desejo, repressão e o significado dos sonhos, transformou a maneira como enxergamos hoje o sofrimento psíquico, abrindo caminho para uma compreensão da subjetividade, do ser, e dos conflitos internos que nos moldam. Mais de um século depois, enfrentamos uma nova revolução: a era da inteligência artificial (IA). Assim como a psicanálise propôs e lançou um confronto para às visões dominantes da época Vitoriana, a IA, nos instiga hoje a estabelecer quais são os limites do que é cognitivo, emocional e comportamentalmente possível.


Freud pontuou, percebo que “o Eu não é senhor em minha própria casa”. Nossas ações e desejos são na maioria guiados por forças irracionais e desconhecidas. No âmago da nossa existência, ele habita o que nos escapa à razão: desejos reprimidos, impulsos inconscientes e uma constante luta interior. Marcados que somos por uma pressão constante entre os estímulos primitivos e as exigências da sociedade. Eis, que aqui surge uma questão: será que uma máquina, por mais avançada que seja, pode compreender essa tensão? Uma IA, pode encampar e abarcar aquilo que nem nós mesmos conseguimos decifrar? Podemos então também nos perguntar: como a tal, movida pela lógica e previsibilidade, pode lidar com esse lado irracional que é tão característico da nossa fantasia? Como um algoritmo poderia entender o que nem sempre pode ser verbalizado?


A promessa da IA, com seu apelo à eficiência, controle e previsibilidade, parece sugerir que nossos problemas, erros, falhas e sofrimentos — podem ser eliminados. Mas, como Freud nos alertou, o sofrimento é parte integrada a nossa condição. Ao tentar escapar dele, corremos o risco de nos distanciar de nós mesmos. Será que, ao buscar suprimir a imperfeição a IA não estaria tentando nos desumanizar?


“A ausência de falhas desumaniza a nossa existência.” — Dan Mena


Lacan nos diria que o desejo nunca é totalmente satisfeito, e que qualquer tentativa de suprimir esse aspecto da psique nos leva inevitavelmente à alienação. A promissão de uma IA que otimiza e controla tudo, cria a ilusão de um mundo sem falta – mas, se eliminarmos a carência, a falta, o que aconteceria com o desejo? E sem ele, o que restaria da nossa humanidade?


Essa amálgama entre ambas, nos coloca diante de outra reflexão inquietante: até aonde a tecnologia pode ir sem apagar aquilo que nos define? Ao tentar solucionar nossos dilemas emocionais e psíquicos, a IA pode estar apagando o que há de mais essencial em nós: a imperfeição, a busca, e a incompletude que nos move e impulsiona.


“A conexão autêntica resiste à lógica fria dos algoritmos.” — Dan Mena


A Fragilidade Humana e o Perigo da Superação.


Os desafios para a psicanálise se tornam cada vez mais evidentes; qual é o lugar da subjetividade em um mundo onde os algoritmos podem prever comportamentos? Lacan, ao discutir o desejo, lembra que; “o desejo é o desejo do Outro”, significando, que ele nunca pode ser completamente satisfeito ou previsto. A IA, por sua vez, opera com dados e previsões, tentando preencher lacunas com respostas prontas e soluções imediatas. Esse paradoxo, levanta outra questão: se a tecnologia visa eliminar o desprovimento, o que aconteceria com o intangível, o desejo e a subjetividade?


A Psicanalista Elisabeth Roudinesco, levanta preocupações sobre nosso futuro. Ela menciona; que “ao tentar transcender os limites do corpo e da mente, podemos perder o que fundamentalmente nos torna humanos”. Esse pensamento se alinha aos debates pós-humanistas, que defendem a criação de uma nova espécie, uma reformada “raça pós-humana”, que seria imune à imperfeição. Mas o que transcorreria com a dimensão do inconsciente nesse cenário? O sofrimento e a falta, como elementos constitutivos do ser e sua tentativa de serem apagados, poderia resultar em uma alienação ainda maior. Nesse cenário, a IA pode substituir a abstração, ou há algo inerentemente nosso que as máquinas nunca poderão replicar?


Contudo notemos, que ao contrário das revoluções anteriores, que visavam facilitar a vida em termos de materialidade e produtividade, a atual, está interferindo diretamente na sociedade, criando a faculdade de alterar a biologia, usando biotecnologia, nanotecnologia, nanomateriais e principalmente; a CRISPR-Cas9: uma engenharia de edição genética que permite a modificação precisa de sequências de DNA. Más, até onde essas transformações podem ou devem ir? O que está em jogo não é apenas o desenvolvimento cientifico, senão a nossa natureza, se embaralhando com questões éticas que emergem nesta nova era.


“A IA não pode compreender a complexidade do eu.” — Dan Mena


Definindo a Quarta Revolução Industrial.


Estamos diante da Quarta Revolução Industrial, conhecida como 4.0, caracterizada pela combinação de avanços que está borrando as fronteiras entre os mundos físico, digital e biológico. Ela envolve áreas como (IA), robótica, nanotecnologia, biotecnologia, internet das coisas (IoT), impressão 3D, computação quântica e outras inovações. Ás anteriores, que se basearam na mecanização, eletrificação e automação, diferem desta, que foca na automação avançada e na integração de sistemas inteligentes, capazes de realizar tarefas complexas de maneira autônoma.


Essa transformação promete subverter o modo como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, criando novas articulações e modelos de negócios, cadeias produtivas e dinâmicas sociais. Um dos seus aspectos centrais é o uso massivo de dados, interconectando dispositivos e processos em tempo real, e a capacidade de máquinas tomarem decisões com base em grandes volumes de informações. No entanto, também traz desafios éticos e sociais, como a substituição dos postos de trabalho por sistemas digitais autômatos e a reconfiguração das relações econômicas e sociais.


Assim, questiono: até que ponto podemos nos permitir acreditar que a IA pode nos libertar de nossas limitações? E se, no final das contas, a desumanização da tecnologia for apenas o reflexo de nossa própria incapacidade de enfrentar o que nos constitui?


“O controle é uma ilusão que ignora o inconsciente.” — Dan Mena


A Promessa do Pós-Humanismo: Libertação ou Autodestruição?


Ao contemplarmos o transumanismo, esse sonho moderno de transcendência, somos inevitavelmente levados a reconhecer um desejo que, desde tempos imemoriais, reside no âmago do nosso pensamento primitivo: o anseio de superar limitações. Nas entrelinhas de cada progresso científico, encontramos um eco freudiano das pulsões inconscientes. A fusão entre o ser e a máquina, não é senão, a tentativa contemporânea de curar a falta essencial que permeia nossa condição. Ao exaltar a IA como uma extensão natural do progresso, os defensores desse conceito nos apresentam uma miragem. O que Lacan rebate em sua análise do desejo, e nos adverte, que nada poderá preencher essa lacuna, os quais, são particularmente constitutivos da nossa premissa existencial. Tal como o inconsciente, ele é uma força que escapa à lógica, à previsibilidade — é a sombra que nos persegue além do alcance da razão.


“A busca pela imortalidade reflete o medo da morte.” — Dan Mena


Se avançarmos para outra visão, o pós-humanismo tenta transcender a própria biologia do homem, a de criar uma “raça pós-humana”, livre das fraquezas que portamos. Creio que de uma outra forma já assistimos o resultado desse horror no ''Holocausto''. Sob esse prisma e que prometem nos libertar do sofrimento e a imperfeição? Em seu texto; ''O Futuro de uma Ilusão'' de (1927), Freud alude; que a religião emerge como uma forma de lidar com a angústia existencial e a impotência diante das forças incontroláveis da natureza. O homem primitivo, incapaz de entender ou controlar os fenômenos naturais, criava então às divindades, que lhe ofereciam suposta proteção e sentido em meio ao caos ancestral. Essa crença, se elabora como uma espécie de defesa psíquica, uma tentativa de encontrar conforto em uma ordem maior que se preocupasse com seu bem-estar e sobrevivência. Assim como a criança recorre à figura paterna para se sentir protegida(o), o homem originário, projetava essa imagem em uma potestade, uma entidade que de alguma forma lhe desse explicações para esse mundo incerto e ameaçador que habitava. Contudo, o desejo de escapar da dor está inextricavelmente ligado ao impulso de morte — o que traduzido na psicanálise, está para o “instinto de retorno ao inorgânico”; (reflete o desejo inconsciente de retorno ao estado original de “não-vida”, quando não havia dor, conflitos ou tensões. Isso se manifestaria por meio de comportamentos autodestrutivos, agressivos ou repetitivos que parecem desafiar a lógica da autopreservação, como no caso de tendências destrutivas, suicídio, violência e, em última instância, o desejo de "descanso" absoluto que a morte proporcionaria. O pós-humanismo, ao propor essa ruptura radical com nossa natureza, evoca então essa pulsão de morte, que nos revisita disfarçada sob o manto da evolução digital.


“O que nos torna humanos pode ser eclipsado pela ambição tecnológica.” — Dan Mena


Destarte há uma dimensão da nossa experiência que a máquina jamais poderá alcançar: o Real. Este é o campo do indizível, do que escapa à simbolização, o território onde residem nossos traumas e aquilo que é, por natureza, irrepresentável. A imaterialidade, abstração, e impalpabilidade da nossa natureza, com seus labirintos de desejos, medos e fantasias, não pode ser reduzida a algoritmos. A IA, por mais avançada, permanecerá enclausurada no mundo do simbólico — enquanto nós, em nossa essência, somos atravessados pelo Real, por aquilo que não pode ser codificado, calculado ou previsto.


“As emoções não podem ser codificadas em algoritmos.” — Dan Mena


E assim, analisando; o que restaria do humano quando eliminada sua vulnerabilidade? Se a IA nos promete uma vida sem erro, sem angústia, não seria essa a negação da própria experiência que nos constituí? Ao tentar domesticar o caos que habita em nosso interior, arriscamos perder nossa própria definição: a imperfeição, o desejo inatingível, e, sobretudo, a capacidade de sonhar. Por isso entendo, que a dita virtuosidade prometida pela máquina, é uma ilusão, que pode no fim, nos alienar de nossa razão de ser e existir.


A Ilusão da Harmonia e às Emoções Suprimidas da Ordem Artificial.


No filme ''O Doador de Memórias'' — (The Giver, 2014), dirigido por Phillip Noyce, a sociedade utópica apresentada na longa-metragem, eliminou às emoções intensas do ser, às memórias dolorosas e a liberdade de escolha foram suprimidas para garantir uma aparente harmonia social. Um dos seus protagonistas, o jovem Jonas, é escolhido para receber as memórias do passado e, ao experimentar o que foi perdido, questiona a excelência desse mundo, agora totalmente controlado. Isso pode ser interpretado como uma analogia à relação contemporânea entre nós e a atual (IA). Na obra cinematográfica, a comunidade vive sob uma estrutura que suprime o imprevisível, semelhante aos algoritmos modernos, que visam controlar e prever nosso comportamento. Assim como a IA visa otimizar nossas vidas, removendo incertezas, a sociedade de Jonas reprimem a bagunça emocional em nome da ordem.


Somos governados por forças inconscientes, e o controle completo sobre elas é uma absoluta ilusão. Em ''O Doador de Memórias'', a eliminação das emoções e memórias, reflete a tentativa de se criar uma sociedade onde o “Real” é ignorado, substituído por um sistema que suprime a imaterialidade em prol de uma ficção tecnológica. No entanto, assim como Jonas descobre ao receber as memórias a vida sem dor, percebe o esvaziamento de uma vida sem significado. Logo, ao removermos o sofrimento, se perde o amor, a beleza, contemplação e a profundidade da nossa experimentação. A IA, apesar de sua eficiência, não pode substituir o que é nosso essencialmente, a capacidade de sentir, tocar, errar e desejar, eliminando assim às nuances de uma vida autêntica. Isso nos lembra, que o verdadeiro ser que nos habita, não pode ser totalmente capturado ou regulado por máquinas.


A Conexão Humana: Em Busca de Relações Autênticas na Era Digital.


A diferença essencial entre a IA e a psicanálise reside na forma como cada um lida com o desejo. Por sua natureza a IA, responderá para resolver demandas. No entanto, ao tentar satisfazer todas as necessidades imediatamente, elimina a possibilidade de que o desejo floresça e se espalhe. A psicanálise, por outro lado, não oferece respostas prontas, apenas permite que o sujeito entre em contato com sua própria singularidade, assim, o guia. Essa distinção é básica quando se pensa o nosso papel como analistas. Estamos numa posição ou lugar, não para fornecer soluções, mas para criar um espaço onde o sujeito confronte o Real e elabore realmente seu querer. IA, está programada para resolver problemas eficientemente, mas não consegue lidar com a nossa complexidade subjetiva.


Em um artigo publicado na revista Time, intitulado; “Cuidado com o que desejas”(2013), Sherry Turkle, destaca nossa entranhada conexão com o inconsciente, provocando uma reflexão sobre a interseção entre tecnologia e intangibilidade. Em sua afirmação de que “somos criaturas da história, da psicologia profunda e das relações complexas”, ela nos lembra que nossa substância, reside não apenas nas capacidades racionais, mas também nas emoções, nas histórias que vivemos e nas interações que moldam nossas vidas. Neste contexto, o “momento robótico” que Turkle menciona, não é apenas um fenômeno técnico, mas uma chamada à consciência. Ao nos confrontar com as tribulações e os prazeres da era digital, nos convida a não nos tornarmos meros espectadores passivos dessa transformação. O desafio, portanto, é duplo: precisamos reconhecer os benefícios da artificialidade, enquanto nos mantemos alerta para os riscos de uma desumanização progressiva.


“O hermetismo da passionalidade humana escapa à lógica da IA.” — Dan Mena


A questão que surge é: até que ponto estamos dispostos a sacrificar nossa rica complexidão em nome da eficiência? Pode certamente a tecnologia oferecer facilidades e soluções impressionantes, mas isso não deve nos levar a uma renúncia das emoções e afetos que nos caracterizam. Como bem lembra o psicanalista Paul Verhaeghe, “a saúde mental não é apenas uma questão de funcionalidade, mas de conexão genuína com os outros e consigo mesmo”. Assim, a luta pela manutenção dessa ligação se torna imperativa.


Devemos refletir muito enquanto há tempo sobre as consequências de permitir que a tecnologia substitua interações autênticas. É um trabalho muito sério desafiar essa tendência. Implica em criar espaços onde o diálogo e a empatia possam frutificar, onde possamos partilhar nossas vulnerabilidades, em vez de apenas consumirmos ou delegarmos a máquinas. O equilíbrio entre tecnologia e essência, não é apenas desejável; é um requisito para a preservação desse mundo que herdamos do nosso criador. Como moldaremos e transmitiremos aos nossos filhos e netos esse futuro? A responsabilidade está em nossas mãos: seremos protagonistas ou meros espectadores de uma narrativa que pode nos levar a um abismo de desumanização?


Essa ponderação não é apenas uma crítica, mas um convite à ação. Que possamos, então, nos empenhar em cultivar um amanhã em que a tecnologia sirva como aliada na promoção da nossa história, ao invés de um fator que a comprometa. A escolha está diante de nós: o que queremos realmente para nossa jornada como indivíduos e coletividade? Que possamos buscar respostas e sabedoria que reafirmem nossa condição em meio a uma revolução que está apenas começando.


“O 'momento robótico' nos chama à consciência, não à passividade.” — Dan Mena


Ao poema; Algoritmos e Sonhos.

Por Dan Mena.


Enquanto escrevo, minha mente aflora,

O paradoxo da eficiência, tão frio, tão certo,

Esconde um silêncio que deixa o coração incerto.

Onde antes havia diálogo e nuances a pulsar,

Agora, um eco digital, a solidão parece reinar.


Transcendence nos mostra um futuro desconexo,

Entre máquinas e humanos, o dilema é deserto.

A IA avança, curando, mas a que custo,

Ao suprimir a autonomia, o que é justo?


Na dança da automação, o homem se esvai,

Na busca por controle, que destino nos traz?

O desejo é um labirinto, repleto de dor,

Mas ao errar, ao sentir, encontramos o amor.


Freud nos ensina sobre o inconsciente profundo,

Entre impulsos e normas, nossa luta no mundo.

Será que uma máquina pode entender a confusão,

Dos desejos ocultos, da nossa condição?


Na Quarta Revolução, o que estamos criando?

Um futuro em que a conexão vai se apagando?

A promessa do pós-humanismo é sedutora,

Mas será que perdemos a própria trajetória?


No filme "O Doador de Memórias", a harmonia é fria,

Sem dor e sem amor, a vida é só melancolia.

Entre controle e emoção, a linha é tênue e sutil,

A IA não preenche o vazio do nosso perfil.


Que possamos então refletir e ponderar,

Sobre as relações que podemos cultivar.

Em meio a máquinas, que não nos façam olvidar,

Que ser humano é pensar, sentir, amar e ensinar.


Assim, a tecnologia pode ser aliada,

Mas nunca em detrimento da vida amada.

Que o amanhã nos reserve um espaço sincero,

Entre emoção e razão, um caminho em direção a Deus.


Até breve, Dan Mena.


Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199.

Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.

Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University - Florida Departament of Education - USA. Enrollment H715 - Register H0192.

 
 
 

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Cassia Norton
Cassia Norton
18. Okt. 2024
Mit 5 von 5 Sternen bewertet.

Reflexão muito interessante, que certamente será objeto de muitas discussões dentro e fora do universo acadêmico. Parabéns e obrigada pelo artigo tão bem elaborado e perspicaz. O poema é uma evocação às nossas emoções, que foram impactadas durante esta leitura admirável! A IA tem o privilégio de unir várias inteligências, e a atuação dela já tem sido uma explosão de possibilidades. É um caminho sem volta, no qual não podemos esquecer que mais vale quem no caminho caminha conosco, sempre. Até breve.

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