O Pessimismo.
- Dan Mena Psicanálise
- 3 de set. de 2023
- 14 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
“O pessimista, se queixa do vento; o otimista espera que ele mude; o realista ajusta as velas.” Nietzsche. Por Dan Mena.

A motivação para superar a nós mesmos é um dos motores impulsionadores que nos fazem avançar, que nos levam a evoluir. No entanto, em algumas ocasiões, nossa motivação é afetada, diminuída, após passarmos por uma sequência de infortúnios na vida, perder alguém querido, más notícias, tentativas fracassadas ou projetos não concluídos. A partir desse ponto, começamos a enxergar tudo ao nosso redor de maneira mais negativa. Então, como uma sombra, irrompe o pessimismo como uma atitude psicológica, uma forma de pensamento que pesa e julga tudo o que acontece ao nosso redor, transformando o conjunto para o plano desfavorável. Normalmente, esse fator tende a ser aplicado às crenças que temos sobre si, e não sobre os outros. Na verdade, nossa autoimagem negativa está sempre projetada, e costuma ser mais acentuada em detrimento da visualidade mais positiva que temos dos outros, o que inclui supervalorizar suas qualidades, supostas realizações e características admiráveis, ou até mesmo, um estilo de vida social invejado. Muitas vezes ele será potencializado e distante da realidade desse ''outro''. Eis o processo básico da comparação social, onde contrapomos o que percebemos ou acreditamos deduzir, com o que acreditamos ter ou não. O resultado desse trágico julgamento pode ser desastroso para nossa vida, em momentos em que vemos tudo que nos íntegra de maneira rebaixada e desvalorizada. Esse raciocínio comparativo, contextualizado sob uma percepção depreciada; tipo não sou tão bom, bem-sucedido ou feliz quanto outros, é contagiado, infeccionado por uma série de vieses subjetivos que acrescentamos a nossa realidade, onde introduzimos nela o produto do nosso estado emocional, que assumimos como sendo completamente verdadeiro, o que nem sempre é de fato. O pessimismo, pode ser entendido, confrontado como uma tendência a ver as coisas negativamente, esperando o pior dos resultado em situações futuras, muitas vezes, as quais carregam emoções como tristeza, desespero, angústia e desânimo. Na psicanálise, algumas ideias e conceitos podem ser relevantes para sua compreensão. É importante notar que não é uma abordagem clínica que se concentre especificamente nele, em vez disso, buscamos sua ilação, que se mistura por via de outros temas patológicos e postulados. Quais seriam então os elos por onde puxamos sua captação? Alguns aspectos da nossa técnica incluem observar:
A Teoria do Instinto de Morte: Em “Além do Princípio do Prazer” (1920), onde Freud introduziu a noção chamada de “pulsão de morte”, lugar que a psicologia se mostra ligada a um impulso intrínseco em direção à obliteração, o que poderia ser interpretado como um elemento pessimista da sua teoria.
Pulsão de Eros e de Destruição: A “pulsão de vida” (Eros), ou energia psíquica que nos impulsiona em direção à busca de prazer, sobrevivência e conexões emocionais. Representa o instinto construtivo e afirmativo, frequentemente associado à sexualidade, que desempenha um rol relevante na nossa ação e motivação comportamental.
A “pulsão de morte” (Thanatos), relacionada a impulsos autodestrutivos, portam uma certa tendência a nos conduzir em direção à agressão e à busca da inércia, que operam ativamente de forma contrária a Eros. Se configura como uma das principais forças que moldam o comportamento em conflito com o instinto de preservação e sobrevivência. Essa dualidade do ser, pode ser vista como uma ambiguidade entre forças construtivas e destrutivas que agem na psique. “O pessimismo é, em certo sentido, um excesso de otimismo. Uma vez que é uma posição daqueles que, de fato, buscam refúgio em uma vida que acreditam ser mais segura, mais verdadeira e mais significativa.” Freud.
A identificação.
Inconsciente: Postulamos a existência do inconsciente, uma parte da mente onde pensamentos, desejos e emoções reprimidos residem. Essa absorção subconsciente influenciam nossos afetos, emoções, sentimentos e atos, contribuindo para o envolvimento em situações negativas mal resolvidas, irresolutas.
Conflito intrapsíquico: A ideia de que a mente está em luta permanente consigo mesma, se deve a predisposições inconscientes, que se chocam com as normas e valores da sociedade, direcionando o sujeito ao surgimento de embates céticos, éticos e morais.
Defesa: Utilizamos estratégias defensivas para lidar com ditas emoções perturbadoras, algumas incluem a negação, a projeção e a repressão, que inseridos num panorama pessimista evitam a confrontação com aspectos dolorosos da vida que não queremos suportar.
A natureza do pessimismo.
O cenário conflagrado entre as pulsões são a fonte dessa contingência, que sobrenadam no seu próprio embate psicológico. As frustrações que surgem quando nossos desejos não são plenamente satisfeitos, seja devido às demandas da sociedade ou à realidade da mortalidade, podem levar a estados de angústia, ansiedade e negativismo. O ego, como uma das três estruturas da mente (com o id e o superego), age como mediador, buscando encontrar um equilíbrio entre às inclinações de vida e morte, muitas vezes através dos mecanismos de defesa acima anotados. Temos aqui dois players neste ambiente; o da repressão e o da sublimação. A ''repressão'' desempenha um giro na forma como o pessimismo é confrontado ao nível psicológico, sendo utilizado como gatilho pelo qual os desejos inaceitáveis ou ameaçadores que nos habitam são empurrados para o inconsciente. No entanto, uma vez reprimidos, podem encontrar expressão em formas disfarçadas, como sintomas neuróticos, sonhos, chistes, ou mesmo na visão pessimista de mundo. Já a ''sublimação'' é uma engrenagem que permite que os estímulos destrutivos da pulsão de morte sejam redirecionados para atividades socialmente aceitáveis e criativas, como a arte, trabalho, esportes; ou seja, transformados em realizações culturais, artísticas e intelectuais.
Depressão e autodestruição, exemplo de cases.
Uma paciente de nome fictício Andrea, mulher de meia-idade que busca tratamento devido a uma profunda depressão. Ela narra que se sente vazia, sem esperança e frequentemente tem pensamentos suicidas. Como qualquer indivíduo, possui uma pulsão de vida e deseja conexão, satisfação, amor e obter prazer na vida. No entanto, esses desejos não foram adequadamente satisfeitos devido a relacionamentos fracassados, opressivos, e traumas emocionais do seu passado sentimental. Os pensamentos suicidas, que neste caso representam a pulsão de morte, eis, Thanatos em ação, trabalhando como um impulso inconsciente em direção à sua autodestruição, sendo uma expressão clara dessa pulsão manifestada. A depressão que a acompanha, na nossa visão clinica, é uma luta entre Eros e Thanatos.
Outro exemplo; Criação artística como sublimação;
Consideremos um paciente chamado Carlos, ele enfrenta uma luta constante com sentimentos de raiva, ódio, frustração e um senso subjacente de pessimismo. Ele tem uma forte pulsão de vida direcionada para a criatividade artística, expressará suas emoções e experiências por meio de sua arte, o que lhe proporciona contentamento, alegria e prazer. No entanto, ele também lida com uma pulsão de morte interiorizada, seus sentimentos de ira, cólera, irritação, furor, agressividade e pessimismo podem ser interpretados como manifestações dessa pulsão. Ele se sente atraído por temas sombrios ou perturbadores no exercício e aplicação da sua arte.
Em ambos os exemplos aqui apresentados, a análise psicanalítica ajuda a revisitar a dualidade entre Eros e Thanatos. Tanto Andrea precisa ponderar às razões por trás de sua depressão, incluindo os antagonismos internos entre o desejo de viver (Eros) e a pugna inconsciente de se autodestruir em (Thanatos). Carlos, por outro lado, pode se beneficiar ao compreender como suas criações artísticas funcionam como uma forma virtuosa de sublimação, canalizando sua energia destrutiva para algo positivo, produtivo e criativo. Esses exemplos clínicos simplificados obviamente, destacam como a psicanálise aborda a complexa interação entre as forças de vida e morte na psique, mostrando como o pessimismo pode ser uma manifestação dessa luta intrapsíquica que alimenta consequentemente uma depressão.
Conflitos entre o Ego e o Superego.
A formação de estados pessimistas;
Ego (Eu): O Ego é a parte da mente que lida com a realidade e age como um mediador entre os impulsos do Id (inconsciente) e os padrões morais do Superego. Ele equilibrará as demandas do Id por gratificação imediata com as expectativas sociais impostas pelo Superego.
Superego: Representa os valores, normas e moral internalizados do indivíduo na sociedade e das figuras de autoridade. Age como a ''consciência" e nos impõe padrões éticos e morais. Quando o Ego age de maneira contrária aos princípios do Superego, pode desencadear sentimentos de culpa e ansiedade largamente limitadores.
A constituição dessa colisão entre o Ego-Superego surge quando ambos se enfrentam numa disputa. Por exemplo; imaginem uma pessoa chamada Maria que cresceu com altas expectativas familiares de obter o suposto sucesso social. Se o Ego de Maria não consegue atender a essas expectativas pré formatadas devido aos desafios na vida, pode ocorrer uma peleja entre o desejo dela é os seus contemporâneos em cumprir ditas esperadas viabilidades do (Superego) e o seu julgamento, como uma incapacidade de realizá-las (Ego).
Sentimentos de culpa: Quando o Ego de Maria percebe que não está cumprindo os padrões do Superego, se levantam na sua mente sentimentos de opressão. Ela começa a se sentir culpabilizada por não estar à altura das expectativas dos seus pais e núcleos de atuação, mesmo que essas viabilidades e hipotéticas promessas sejam irreais ou excessivamente rígidas.
Estado de Pessimismo: Vemos portanto, que o conflito prolongado entre o Ego e o Superego, acompanhado de sentimentos persistentes de inadequação, pode levar ela a um estado dessa natureza. Maria pode começar a acreditar que nunca será boa o suficiente, e o fracasso inevitável, independentemente de seus esforços e competências empenhadas. A análise dessas vertentes na formação de estados pessimistas, destaca como as demandas internas e externas podem colidir, resultando nessas interpretações emotivas. Através da psicanálise, podem ser explorados e trabalhados para promover uma compreensão mais profunda e alargada, eventualmente, possam atingir uma resolução mais livre e saudável.
Psique e a subjetividade em Lacan.
Jacques Lacan, psicanalista francês, abordou questões relacionadas em sua obra de uma maneira que se diferencia de outros. Embora não seja considerado adentrado ao pessimismo no sentido clássico, suas ideias sobre a psique e a subjetividade indicam aspectos conectados ao assunto. Uma das caracterizações paira sobre o “desejo”, onde nossos quereres, sempre incompletos, estão a todo momento na direção de encontrar algo mais. Essa ideia pode ser interpretada como descrente, no sentido de que sugere que tal determinante pode levar à insatisfação crônica. Também falou sobre o “gozo” (jouissance em francês), que se refere a uma forma de prazer além da jucundidade experimentada como dolorosa. Essa noção pode estar relacionada a uma vivência negativa, ao explorar as complexidades do prazer e do amargor que compõem parte dessa experiência de vida. Seu foco nessa leitura se aproxima da falta e na castração, como uma sensação primitiva do indivíduo, algo sempre ausente ou perdido na nossa vivência, ideia que pode ressoar com a sensação pessimista de que algo está inerentemente incompleto na nossa existência. A relação entre o indivíduo e a linguagem, como estrutura da bagagem subjetiva é frequentemente alienante, levantando questões sobre a possibilidade de uma comunicação autêntica e de compreensão mútua entre as pessoas.
“O homem está condenado à liberdade.” Lacan.
Esta frase destaca a ideia de que a liberdade do ser humano, particularmente em relação ao seu próprio psiquismo e à sua busca de sentido, pode ser uma carga pesada e desafiadora. Embora não seja uma afirmação direta de pessimismo, sugere a complexidade e as responsabilidades inerentes à condição da nossa essência primitiva como sapiens.
Pessimismo na filosofia.
Visto por uma corrente filosófica e psicológica, tem raízes tanto na filosofia quanto na psicologia, e se desenvolveu ao longo da história como uma dimensão que enfatiza o aspecto negativo da vida e da nossa condição.
Na filosofia antiga: Foi um tema explorado pelos estoicos e os epicuristas na Grécia antiga. Os estoicos, por exemplo, enfatizaram a necessidade de aceitar o destino e as adversidades da vida como inevitáveis, buscando a tranquilidade através da virtude e da indiferença às emoções. De outro ângulo, os epicuristas, enquanto não necessariamente pessimistas, promoveram a busca do prazer moderado e a minimização da dor como uma maneira de alcançar uma vida mais satisfatória.
Filosofia moderna: Floresceu durante o período da filosofia pôs-moderna, com pensadores como Schopenhauer e Nietzsche. Schopenhauer via a vida como permeada pela aflição, argumentava que a vontade de viver era a própria causa do sofrimento. Nietzsche, muitas vezes interpretado como um filósofo pessimista, apresentou uma visão mais complexa, explorando ideias de superação e transformação pessoal.
“O pessimismo pode ser uma maneira de proteger a si mesmo contra a possibilidade da desilusão, mas também pode ser uma prisão que impede o crescimento e o desenvolvimento pessoal.” Winnicott.
Existencialismo: Movimentos posteriores como o existencialismo abordaram o derrotismo de várias maneiras. Sartre e Albert Camus percorreram a ideia do absurdo da vida e a falta de sentido inerente, o que pode ser interpretado como cepticismo.
Sartre, tinha uma perspectiva existencialista única sobre a vida e o pessimismo. Uma de suas frases mais notáveis sobre esse tema é:
“O homem está condenado a ser livre.” Sartre.
Nesta citação, destaca a liberdade fundamental do ser para fazer escolhas e determinar o próprio destino. No contexto existencialista, esse arbítrio espelha uma representação da responsabilidade esmagadora que pode nos levar ao pessimismo, ao implicar que somos responsáveis por nossas próprias vidas e decisões, mesmo em um mundo aparentemente sem significado. Explorou a angústia existencial, a liberdade e a responsabilidade em suas obras, como; “O Existencialismo é um Humanismo”, suas reflexões abordam questões relacionadas ao otimismo e ao pessimismo na busca de significado em um mundo aparentemente absurdo. Escrito por Sartre e publicado em 1946, este livro é uma transcrição revisada de uma palestra que ele deu em 1945, na qual ele defende os princípios fundamentais do existencialismo e responde às críticas que essa filosofia havia recebido na época. O livro começa com ele declarando que o existencialismo é uma filosofia que coloca o ser humano no centro de todas as preocupações filosóficas. Ao contrário de outras filosofias, não é uma forma de determinismo, mas enfatiza a liberdade e a responsabilidade individual. Afirma que somos condenados à liberdade, o que significa, que somos livres para fazer escolhas, mas também nos tornamos incumbidos por ditas escolhas, o que pode ser angustiante. Discute o conceito de "má-fé", que é quando as pessoas negam sua liberdade e tentam se esconder atrás de desculpas ou normas sociais. Critica a ideia de que podemos jogar culpa na sociedade ou a natureza por nossas ações, argumentando que, mesmo em circunstâncias difíceis, ainda somos agentes das nossas predileções, preferências e seleções. A questão da "essência" e da "existência", que, ao contrário de objetos inanimados, não têm uma substância pré-determinada; em vez disso, nossa presença precede a essência, o que significa, que somos livres para criar nosso próprio sentido de vida. Ao reconhecer nossa liberdade e abraçar nossa consciência, podemos viver vidas autênticas e significativas. "O Existencialismo é um Humanismo" é uma obra importante que contribui para a compreensão da filosofia existencialista.
Pessimismo na psicologia:
Da Personalidade: Frequentemente estudado nesse contexto do ego, a teoria da personalidade pessimista sugere que as pessoas têm tendência a ver as situações negativamente e esperar por resultados desfavoráveis. Esse traço pode ser uma característica estável e influenciar a maneira como interpretamos e respondemos às experiências de vida.
Psicologia Clínica: Associado a distúrbios como a ansiedade e depressão, às tendências negativas são persistentes e desfavoráveis de si mesmas, do mundo e do futuro, agravando determinadas condições de saúde mental.
“O pessimismo pode ser considerado, psicanaliticamente, como a forma mais sutil de autodestruição.” Erik Erikson.
Schopenhauer: O pioneiro do pessimismo filosófico.
Nascido em 1788, o filósofo alemão foi conhecido por seu olhar pessimista da vida e da existência, influenciou o pensamento existencialista e a filosofia do século XIX, considerado um dos pioneiros no tratado filosófico do tema. Ele apresentou sua teoria embaçado na vontade como fonte de sofrimento, uma das ideias centrais consta de que ela é a força motriz por trás de toda ação, é a origem de toda angústia. A vontade insaciável por satisfação de desejos e necessidades nos leva inevitavelmente ao sofrimento, pois raramente conseguimos o que desejamos duradouramente. O desejo é repetitivo, levando a uma sensação de vazio e descontentamento. Como uma força cega que opera em nós, não é guiada pela razão, mas sim, pelo impulso de sobrevivência e reprodução. Isso, segundo ele, torna a vida guiada pela vontade inerentemente caótica e muitas vezes cruel por gratificações que conduzem ao conflito e à competição desenfreada. Argumenta, que a única maneira de escapar do dissabor causado pela vontade é através da negação do próprio querer. Isso pode ser alcançado por meio da contemplação estética, da renúncia aos desejos e da elevação espiritual. A arte, em particular, desempenha um papel crucial na capacidade de transcender a vontade, e intervém no sentido de permitir que apreciemos momentos de alívio a esse tormento. No pensamento existencialista, filósofos como Nietzsche foram inspirados por suas reflexões.
“A vida oscila como um pêndulo para a frente e para trás entre a dor e o tédio.” Schopenhauer.
Essa frase encapsula sua visão de que a vida é marcada por sofrimento e insatisfação, e que essas experiências muitas vezes alternam entre momentos de dor intensa e um tédio apático.
Perspectivas ceticistas em um mundo em constante mudança.
Em um mundo em acelerada evolução, a busca determinante pelo progresso e bem-estar parece ser o objetivo predominante das massas, onde as dimensões negativas continuam a ter uma relevância duradoura. Embora possam parecer desencorajadoras à primeira vista, oferecem insights valiosos sobre a nossa condição e natureza. A crítica da ilusão, a sociedade moderna nos encoraja a perseguir uma falsa felicidade por meio do consumismo, o sucesso material e o individualismo desenfreado. Neste ponto, os pessimistas nos lembram, de que essa persecução leva a um inevitável vazio materialista existencial, de constante insatisfação gerada pela busca de prazeres efêmeros e objetos descartáveis que nos afastam da verdadeira realização. A aceitação da condição do indivíduo, também nos convida a enfrentar a realidade crua de uma vida composta é até marcada de certa forma pela incerteza e impermanência do ser. Destarte, essa seja uma mensagem difícil de aceitar para todos nós, a confrontação com nossas fragmentações e vulnerabilidades, o que inclui a finitude, pode nos levar a uma apreciação mais profunda dos momentos de alegria e significado do agora em diversas áreas. Enquanto algumas visões otimistas nos vendem que o sentido particular da vida está ligado à busca da suposta ventura, os pessimistas sugerem que sua essência está na aceitação das provações e autenticidade, o que nos desafia a repensar nossas prioridades e considerar o que realmente importa. A resiliência, por paradoxal que pareça, reconhece o sofrimento e a adversidade como partes inevitáveis da vida, somos incentivados a desenvolver nossa capacidade de enfrentamento e superação. Em vez de nos iludirmos com uma busca constante por prazeres banais, podemos aprender a cultivar a adaptabilidade emocional a compaixão por nós mesmos e fraternidade pelos outros. Ditas abstrações aqui apresentadas, nos convidam a olhar para além das ilusões da sociedade contemporânea, e a explorar questões mais angulares sobre o seu significado, o sofrimento e a invulnerabilidade que nos afeta indistintamente. Portanto, a relevância contínua dessas perspectivas residem na nossa capacidade de nos provocar a abraçar a totalidade da experiência de viver, que inclue a dor, encontrando acepção mesmo em meio às dificuldades que ela inevitavelmente nos expõe.
O estilo explicativo pessimista pode ser uma armadilha perigosa em nossa caminhada, nos levando a acreditar que não há saída, que tudo dará sempre errado, que nunca conseguiremos mudar determinada realidade. No entanto, en toda arapuca sempre há uma saída, e, neste caso em particular, esse escape seria aprender a ser mais otimista. A boa notícia e que é possível, apenas precisamos estar dispostos a adotar uma interpretação diferente em relação às causas motivadoras. Devemos cultivar a esperança, aprender a nos respeitar e cuidar de nós mesmos. Ser supostamente feliz, embora não seja uma estação é algo possível.
Frases que ajudam na compreensão do conceito;
''Utopicamente o pessimismo carrega uma overdose de otimismo, ao procurar na anulação do sofrimento um impossível e perfeito lugar seguro para o significante da vida.'' Dan Mena.
“O pessimismo é o reflexo da decepção interna que temos em relação às nossas próprias expectativas não atendidas.” Melanie Klein.
“O pessimismo é uma tentativa de evitar o sofrimento, mas, paradoxalmente, muitas vezes leva a um sofrimento ainda maior.” Anna Freud.
“O pessimismo, quando não é apenas uma expressão da depressão, pode ser um mecanismo de defesa contra a ansiedade e o medo do desconhecido.” Karen Horney.
“O pessimismo pode ser uma resposta à sensação de impotência diante de eventos traumáticos, mas é importante lembrar que a psique humana também possui uma incrível capacidade de resiliência.” Irvin D. Yalom.
Estes quatro ensaios esquadrinham o pessimismo em várias disciplinas, incluindo a psicanálise;
"O Mal-Estar na Civilização" Sigmund Freud.
Neste livro clássico, Freud explora o conflito entre as demandas da sociedade civilizada e os instintos individuais, o que pode levar a sentimentos de pessimismo e insatisfação.
Outros;
“Pessimismo: Filosofia, Ética e Psicanálise” Ehud Lamm e Raz Chen-Morris (Editores).
“O Pessimismo na Psicanálise: Uma Reflexão sobre o Sofrimento Humano” Marco Werle.
“Pessimism: Philosophy, Ethic, Spirit” Joshua Foa Dienstag.
Ao poema; por Giacomo Leopardi — Pessimismo.
“[…] Enquanto é rubra a flor
De nossa idade acerba,
A alma oca e soberba
Cem doces pensamentos cria em vão,
Morte e velhice ignora; nada adverso
Supõe no corpo o homem galhardo e são
Mas louco é quem não vê
A asa veloz da juventude voar
E como junto ao berço
A pira e a urna estão”
Minha crítica. Desde Platão sabemos que é efêmera a vida. O que Leopardi amplia é a extensão da consciência do efêmero, na ausência de uma esperança no futuro porvir. Por isso, é um poeta que recomendo, apenas para ser lido por quem amadureceu o pensamento é sua própria existência, para aqueles que não lhe faltam degraus necessários para continuar firme, otimista apesar das adversidades, das angústias, seguindo na aceitação universal da nossa divina finitude.
Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
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