Verification: 1b7a2f80a75f2be1 Verificação: 2b3722ae526818ec Retrato de uma Jovem em Chamas: Desejo, Lesbianismo e o Drama do Olhar
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Retrato de uma Jovem em Chamas: Desejo, Lesbianismo e o Drama do Olhar

 ''Retrato de uma Jovem em Chamas: Desejo, Lesbianismo e o Drama do Olhar* captura o instante em que o desejo lésbico e o olhar feminino se acendem como força psicanalítica e narrativa.''
''Retrato de uma Jovem em Chamas: Desejo, Lesbianismo e o Drama do Olhar* captura o instante em que o desejo lésbico e o olhar feminino se acendem como força psicanalítica e narrativa.''

Retrato de uma Jovem em Chamas: Desejo, Lesbianismo e o Drama do Olhar

Quando assisti pela primeira vez a Retrato de uma Jovem em Chamas (Portrait de la jeune fille en feu, 2019), dirigido por Céline Sciamma, algo se deslocou dentro de mim. Não era apenas admiração estética. Era o reconhecimento imediato de um desejo que não pede licença, que atuou livre, e que, por isso mesmo, atravessa qualquer corpo que ousa olhar. Dou este título ao artigo porque reúne esses 3 elementos conceituais para a psicanálise; Retrato de uma Jovem em Chamas: Desejo, Lesbianismo e o Drama do Olhar

O filme não conta uma história de amor lésbico “bonitinha”. Ele expõe, com frieza e calor ao ponto insuportável, como o desejo entre mulheres pode ser ao mesmo tempo um espaço de liberdade absoluta, e ao mesmo tempo, a mais cruel das prisões.

Marianne (Noémie Merlant), pintora contratada para fazer um retrato de casamento secreto, e Héloïse (Adèle Haenel), uma jovem prometida a um milanês que nunca viu, iniciam uma relação que começa pelo entrever proibido que termina em sublimação trágica. Ao lado delas, Sophie (Luàna Bajrami), a criada que carrega um aborto clandestino, completam o trio que reescreve, em silêncio, as leis do patriarcado.

“O olhar entre Marianne e Héloïse captura o desejo lésbico proibido e inaugura o drama visual que sustenta Retrato de uma Jovem em Chamas na sua leitura psicanalítica.”
“O olhar entre Marianne e Héloïse captura o desejo lésbico proibido e inaugura o drama visual que sustenta Retrato de uma Jovem em Chamas na sua leitura psicanalítica.”

Aqui não vou fazer crítica de cinema comum. Vou entrar no inconsciente do filme. Destrinchar, com Lacan, Freud, Kristeva e as vozes contemporâneas do feminismo o que realmente acontece quando duas mulheres se notam sem a mediação masculina. Vamos falar de gozo feminino que não se deixa domesticar, do ‘’objeto a’’ que escapa, do Real que irrompe no corpo, da melancolia que se torna arte. E, sobretudo, vamos tocar na dor invisível que tantas pacientes trazem ao meu consultório: “Eu desejei tanto que doeu, e mesmo assim tive que abrir mão.” “O desejo só mostra sua verdade quando dói, porque é justamente no ponto onde não alcançamos o outro que finalmente o encontramos.” - Dan Mena

Se prepare, este artigo tem quase 4.000 palavras porque o filme merece. É você, precisa entender que mesmo tantos anos depois de assistir a obra, ainda chora na cena final sem saber explicar. “O que não pode ser dito aparece como emoção.” - Lacan

Quando o Desejo Nasce da Falta

Tudo começa com uma contemplação que não deveria existir. Marianne pinta Héloïse sem que ela saiba. O ato de ver sem ser visto instaura imediatamente a estrutura do desejo lacaniano: há sempre uma falta, um furo, um ‘’objeto a’’ que causa o querer e que nunca será alcançado por inteiro.

Esse olhar furtivo é o falo ausente. Héloïse recusa posar porque sabe, inconscientemente, que ser vista é ser capturada pelo ‘’Outro’’ patriarcal. Quando finalmente aceita ser retratada, o desejo explode. O que era voyeurismo vira encontro, e o encontro em Lacan, é sempre traumático.

Por que o olhar tem tanto poder?

Você já desejou alguém que não podia ter e sentiu o corpo inteiro em chamas?

E se o proibido for exatamente o que nos mantém vivos?

“O desejo é o desejo do ‘’Outro’’, mas quando duas mulheres se olham sem terceiro, o desejo se torna puro gozo, insuportável e possivelmente libertador.” - Dan Mena

“O olhar feminino lacaniano revela o ‘objeto a’, núcleo do desejo que o filme transforma em fogo simbólico.”

O Estádio do Espelho Sexualizado

Certamente a cena mais comentada do cinema contemporâneo: Héloïse abre as pernas, coloca um pequeno espelho entre as coxas e pede que Marianne se veja ali. A pura representação de O ‘’estádio do espelho lacaniano’’ ganha carne, sexo, umidade. Não é mais a criança que se reconhece na imagem especular. São duas mulheres adultas que se reconhecem no sexo uma da outra.

Aqui o gozo feminino aparece como Não-Todo fálico. Não há mediador. Não há nada que regule. Há apenas o excesso, o infinito, o que Lacan chamou de “gozo Outro”. A vulva refletida é o Real do corpo que a linguagem não alcança.

Já se olhou no espelho e sentiu medo do que viu?

O que acontece quando o espelho nos devolve não uma imagem, mas um abismo de prazer? “Há um gozo dela… um gozo do corpo que está para além do falo. Um gozo que ela mesma nada sabe, e sobre o qual não diz nada.” - Lacan, Seminário 20 – Encore, de 20/02/1973.

E se o êxtase feminino for, por natureza, impossível de representar?

“Ao gozo da mulher não falta nada, ele é ausente ao significante, por isso assusta e fascina.” - Dan Mena

A Cena do Aborto: O Real Invade o Simbólico

Sophie engravida de um marinheiro qualquer. As três mulheres, sozinhas na ilha, realizam um aborto com ervas enquanto uma parteira desenha a cena. Em seguida, recriam o mito de Orfeu e Eurídice. O sangue escorre. Ninguém chora de dor. Choram de alívio. (Orfeu, o maior músico da Trácia, desceu ao Hades (“descer ao Hades” significa literalmente entrar no reino dos mortos governado pelo deus Hades e sua esposa Perséfone) para resgatar Eurídice, morta por picada de serpente no dia do casamento. Com sua lira, encantou Caronte, Cérbero e os próprios reis do submundo. Hades aceitou devolvê-la com uma condição, que Orfeu caminha-se à frente e não olharia para trás até saírem completamente das trevas. Quase na luz, consumido pela dúvida e pelo amor, Orfeu se virou, Eurídice, ainda na sombra, desmaiou para sempre com um último “adeus”. Assim, ele ganhou a amada de volta por um instante, mas a perdeu duas vezes: primeiro pela morte, depois pela impossibilidade de suportar a falta. Logo, o mito fala da tensão torturante entre desejo e proibição, entre ter e não ter.

Aqui o Real lacaniano irrompe com violência. O corpo feminino, grávido contra a vontade, é o lugar onde o simbólico patriarcal se ressalta mais cruel. Essa interrupção da gestação não é mostrada como tragédia, senão como ato de resistência coletiva. Três mulheres que reescrevem o destino. Lacan (Seminário 11 - Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise, 1964)

“O real não é do domínio da verdade. O real é o que escapa à simbolização. É aquilo que retorna sempre ao mesmo lugar. Por isso que o defino como o impossível: impossível de suportar, impossível de dizer, impossível de negar. Quando o simbólico falha, quando o imaginário vacila, é o real que irrompe — sem sentido, sem porquê, com a violência do que não pode ser integrado.”

“A paisagem costeira reforça a análise psicanalítica do Real lacaniano, onde o gozo feminino irrompe como excesso e ameaça à ordem patriarcal.”
“A paisagem costeira reforça a análise psicanalítica do Real lacaniano, onde o gozo feminino irrompe como excesso e ameaça à ordem patriarcal.”

Você já precisou interromper algo que crescia dentro de você sem ter escolhido?

O que significa cuidar do corpo do outro quando o mundo inteiro quer te controlar?

“O aborto clandestino é o ato político mais radical, pois corta literalmente o falo que quer se implantar.” - Dan Mena

Mito de Orfeu Reescrito por Mulheres Escolhem a Perda

Héloïse solta a frase que muda tudo: “Talvez Orfeu tenha virado para trás porque o poeta assim quis. Ele escolheu a memória da amada em vez da própria amada.”

Lacan diria que ‘’o amor é dar o que não se tem’’. Sciamma vai além: o amor entre mulheres é escolher a falta para preservar o gozo. Elas se separam conscientemente para que o desejo permaneça eterno. A sublimação vence o luto.

Você já abriu mão de alguém exatamente para poder continuar amando?

A memória dói menos que a presença? Quando penso em Orfeu reescrito por mulheres, percebo que há amores que só sobrevivem quando não se cumprem. Não é uma renúncia, é uma forma superior de cuidado. Há vínculos tão intensos que a presença os diminuiria, como se o cotidiano fosse incapaz de segurar o que o mito suporta. O gesto mais amoroso é precisamente esse ''virar para trás'', não para recuperar o que se perdeu, mas para dar ao outro a dignidade de permanecer irretocável. A ausência, nesse sentido, não destrói o amor, ela o amplia até onde o corpo não pode ser alcançado.

A presença fere porque nos lembra da falta?

“A verdadeira tragédia não é extraviar o amor. É perder a possibilidade de perdê-lo.” – Dan Mena

“O retrato queimado simboliza a destruição do falo significante e materializa o gozo Outro, tema central do filme e do meu artigo.”
“O retrato queimado simboliza a destruição do falo significante e materializa o ''gozo Outro'', tema central do filme e do meu artigo.”

Marianne e Héloïse, Perfis Psíquicos Aprofundados

Marianne – estrutura obsessiva com traços histéricos. Pintora, domina o significante (a arte), mas é atravessada pelo Real do desejo quando Héloïse a olha de volta. Seu gozo é fálico: quer capturar e dominar pela imagem. Só se liberta quando destrói o quadro.

Héloïse – elaboração perversa com fundo melancólico. Recusa o retrato de casamento porque sabe que ser vista é ser morta simbolicamente. Seu gozo é do lado do Não-Todo. Não quer possuir, quer ser invadida pelo vazio. Por isso aceita a separação.

Sophie – o sujeito barrado em sua total plenitude. O aborto é o ato que a faz passar de objeto a sujeito. Representa todas as mulheres que o patriarcado transformou em útero ambulante.

Qual das três você carrega dentro de si hoje?

Você domina ou se deixa dominar pelo olhar do ‘’Outro’’?

E se a liberdade for exatamente abrir mão do controle?

“O sujeito feminino não busca o falo. Ela sabe que ele nunca existiu.” - Dan Mena

O Gozo Feminino que Lacan Não Conseguiu Dizer

No Seminário 20, Lacan nos confessa: “A mulher não existe” e “o gozo feminino é suplementar”. Sciamma responde com imagens: o gozo feminino existe, é múltiplo, é coletivo, ele é isento de articulação. Não precisa do falo para acontecer. Se verifica a apesar dele.

Na dança da fogueira, nas risadas depois do aborto, no orgasmo silencioso da página 28, vemos o que a teoria só pôde balbuciar. O gozo ‘’Outro’’ não é místico. É político. A cena que ficou conhecida como “página 28” é, talvez, o momento mais radical do cinema contemporâneo. Héloïse, nua na cama, pega um pequeno espelho de mão, abre as pernas e o posiciona entre as coxas. Com calma, pede a Marianne: “Te Olha”.

Marianne se inclina e vê o próprio sexo projetado na vulva de Héloïse.

O nome “página 28” vem do roteiro original de Céline Sciamma, exatamente na página 28 do script que acontece essa sequência. Sciamma declarou em entrevistas que escreveu a cena pensando no ‘’estádio do espelho lacaniano’’, mas, pela primeira vez, totalmente sexualizado e entre mulheres.

Não há toque. Não há som. Apenas o olhar cruzado.

E, no entanto, ambas chegam ao orgasmo, de forma silenciosa, convulsa, apenas pelo ato de ver e ser vista. É a encenação mais literal do gozo ‘’Outro’’, o prazer que não precisa do falo, que se multiplica no espelho, que escapa à economia masculina.

Página 28 não é erotismo. É uma revolução para ser entendida.

Você já sentiu prazer que não cabia em palavras?

Essa volúpia te assustou ou libertou?

E se o medo do gozo feminino for o último bastião do conservadorismo?

“O gozo da mulher não é falta. É excesso que transborda todos os copos.”- Dan Mena

28 Segundos de Gozo Puro e Traumatismo

Anos depois. Héloïse já casada, mãe, na plateia de um concerto. Começa a tocar a Primavera de Vivaldi. Um ''close-up'' fixo de 28 segundos. O rosto dela se desfaz em lágrimas, o corpo inteiro treme. Não é tristeza. É prazer puro, retornando como traumatismo. O Real volta sempre ao mesmo lugar. O amor por Marianne nunca foi simbolizado por inteiro. Permaneceu icônico como um furo. A música funciona aí como significante-mestre que faz a excitação irromper.

Você já chorou em público sem saber o motivo?

E se essas lágrimas forem a única forma de dizer o indizível?

O que acontece quando o gozo atravessa o véu da civilização?

“O choro de Héloïse não é luto. É a fruição que finalmente encontra sua passagem.” - Dan Mena

“O encontro silencioso entre Marianne e Héloïse revela o desejo não domesticado, sustentando a tese de que o filme é uma revolução do ''female gaze''.”
“O encontro silencioso entre Marianne e Héloïse revela o desejo não domesticado, sustentando a tese de que o filme é uma revolução do ''female gaze''.”
Retrato de uma Jovem em Chamas e o Feminismo

O filme não é só lésbico, é anti-capitalista, anticolonial e anti-patriarcal. Três mulheres de classes diferentes unidas contra a mesma lei. O retrato do casamento é destruído porque nenhuma delas aceita ser objeto-mercadoria. Vemos então a arte virar ato revolucionário.

O desejo entre mulheres sempre foi ameaça ao sistema? Você sente que seu desejo ainda precisa de permissão?

O que faria se pudesse amar sem retrato de casamento?

“O amor entre mulheres não pede licença. Ele simplesmente acende o que precisa ser queimado.” – Dan Mena

O Fogo que Não Apaga

Termino este texto com alguns questionamentos;

O que você faria se pudesse olhar alguém sem medo de ser visto?

Até onde você iria para preservar um amor que o mundo inteiro condena?

E se a separação for a forma mais radical de fidelidade ao desejo?

Eu, que passo muitas horas ouvindo histórias de desejo proibido, de corpos que doem de tanto querer, sei que este filme cura e fere ao mesmo tempo. Cura porque nomeia. Fere porque lembra que nomear nem sempre basta.Talvez o que mais persiga em Retrato de uma Jovem em Chamas não seja o amor que se consome, nem o gozo que escapa, nem o trauma que retorna, mas algo ainda menos confortável. Vejo uma perspectiva, a constatação de que aquilo que surge entre duas mulheres não é uma exceção narrativa, senão uma chaga na história do desejo. É como se Sciamma tivesse roubado uma brasa antiga e colocado na mão de cada espectador(a) é dito: agora lide com isso, veja o que faz com o fogo que não pediu.

Enquanto escrevia este texto, voltei inúmeras vezes à imagem final de Héloïse ouvindo o movimento Presto do “Verão”, do conjunto ‘’As Quatro Estações de Vivaldi’’. Esse instante musical tem um peso simbólico, é a mesma peça que Marianne toca no início do filme. A música se transforma na trilha sonora do desejo, da memória, da perda e do impossível amor entre as duas. Já não me parece apenas recordação nem saudade. Nem sequer um querer. É outra coisa, mais desobediente, rebelde, uma espécie de testemunho. Como se aquela lágrima dissesse, “eu sobrevivi ao que senti, mas não saí ilesa”. Talvez ninguém saia. Quem sabe o amor entre mulheres exponha aquilo que os séculos gastaram tentando encobrir. 

    “A cena da fogueira encena o gozo feminino Não-Todo, e explica por que Retrato de uma Jovem em Chamas se tornou um marco do cinema lésbico e feminista.”
“A cena da fogueira encena o gozo feminino Não-Todo, e explica por que Retrato de uma Jovem em Chamas se tornou um marco do cinema lésbico e feminista.”

Quando elas se desejam, o mundo treme porque se perde a referência. Não há falo para ordenar, não há narrativa para disciplinar, não há linguagem para controlar. É por essa razão que no seu fundo, este filme causa algum terror. Ele devolve a audiência uma pergunta que não admite resposta rápida: o que fazer com um desejo que não se dobra a nenhuma lei conhecida? O feminismo dá coragem, mas não dá garantias. A arte dá forma, mas não fecha a ferida. Sciamma faz o oposto do que se espera tradicionalmente de um romance ao não oferecer futuro. Apenas solta uma faísca que insiste em queimar, mesmo depois do fim.

Talvez seja isso que nenhum outro discurso crítico ousou dizer. O amor entre Marianne e Héloïse não fracassa. Ele permanece justamente porque não se concretiza nos moldes esperados. Se sustenta na falta, mas uma ausência ativa, criadora, um vácuo que produz sentido. A separação não é obviamente para mim uma derrota, é o único modo de conservar vivo o que elas tocaram. Amar, aqui, não é possuir: é atravessar o incêndio sem tentar apagar a fumaça.

Se você chegou até o fim deste artigo, carregue essa pergunta; não pára para dar resposta, mas, deixá-la roer.  Do que você abriria mão para não matar o próprio desejo? Que verdade você teme descobrir quando alguém finalmente te olha de volta sem medo?

Talvez seja aí, nesse instante impronunciável, que cada um de nós se torne, por um segundo, pura labareda.

  “O mito de Orfeu reescrito pelas personagens ganha corpo nesta imagem, onde a escolha da perda preserva o desejo e subverte o amor romântico.”
“O mito de Orfeu reescrito pelas personagens ganha corpo nesta imagem, onde a escolha da perda preserva o desejo e subverte o amor romântico.”
FAQ – Retrato de uma Jovem em Chamas (Portrait de la jeune fille en feu, 2019)

O que significa gozo feminino em Retrato de uma Jovem em Chamas?

O gozo feminino é o prazer excessivo que não passa pelo falo e aparece nas cenas de orgasmo silencioso, dança coletiva e choro final.

Por que a cena do aborto é tão importante no filme?

Ela mostra três mulheres realizando um ato político de autonomia corporal, reescrevendo o mito de Orfeu como resistência ao patriarcado.

Qual o significado da página 28 no filme?

Héloïse usa um espelho para que Marianne veja sua própria vulva, é o estádio do espelho sexualizado e a revelação do gozo ‘’Outro’’.

O que Lacan quis dizer com “a mulher não existe”?

Que não há significante universal para a mulher, o gozo feminino é suplementar e escapa à lógica fálica, exatamente como o filme mostra.

Por que Héloïse chora na última cena?

É o retorno traumático do Real: a música faz o gozo reprimido irromper após anos de sublimação.

Retrato de uma Jovem em Chamas é filme lésbico ou feminista?

É ambas as coisas e muito mais: anticapitalista, anticolonial e antipatriarcal em sua essência.

O que é o ‘’objeto a’’ no filme?

O olhar roubado de Marianne sobre Héloïse, que causa um desejo que nunca será plenamente capturado.

Qual a relação entre o mito de Orfeu e o filme?

Héloïse sugere que Orfeu escolheu a perda para preservar o amor na memória, as mulheres do filme fazem o mesmo.

Por que o filme se chama Retrato de uma Jovem em Chamas?

Porque o desejo lésbico queima tudo ao redor, inclusive o retrato que tentava aprisioná-la.

O filme tem final feliz ou triste?

Nem um nem outro. É um final sublime onde a separação consciente preserva o desejo eterno.

Palavras Chave

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Dan Mena – Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise (CNP 1199, desde 2018); Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise (CBP 2022130, desde 2020); Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University – Florida Department of Education, EUA (Enrollment H715 / Register H0192); Pesquisador em Neurociência do Desenvolvimento – PUCRS (ORCID™); Especialista em Sexologia e Sexualidade – Therapist University, Miami, EUA (RQH W-19222 / Registro Internacional).

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