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Sociopatologia e Socioterapia.

Atualizado: 28 de ago. de 2024




A grande contribuição que o gênio de Freud deu para o entendimento da psicopatologia foi quando ele percebeu que, por detrás da máscara que o ser humano usa, existe um “verdadeiro eu”, cheio de más intenções, mesmo muitas vezes inconscientes, e que essa hipocrisia é a causa das neuroses modernas.

A grande contribuição que o gênio de Freud deu para o entendimento da psicopatologia foi quando ele percebeu que, por detrás da máscara que o ser humano usa, existe um “verdadeiro eu”, cheio de más intenções, mesmo muitas vezes inconscientes, e que essa hipocrisia é a causa das neuroses atuais. Keppe, não menos genial, percebeu que o mesmo ocorre com a sociedade contemporânea — por trás das estruturas sociais, políticas e econômicas, de todas as leis que nos dirigem, aquelas que o povo tanto respeita e admira, existe uma grande doença, repleta de más intenções, inveja, desejo de poder, exploração e manipulação. Na verdade, descobrimos que, ao contrário do que se pensa, o homem tem que se defender das instituições, das leis, e dos sistemas dominantes ao serem, exatamente, a principal causa das neuroses, psicoses, doenças e problemas humanos na atualidade.


Por trás de cada teoria, de cada sistema, é mister se considerar a psicopatologia do(s) indivíduo(s) que o elaborou, pois ele será o reflexo de seu autor. Por isso, o cientista deve ser trilógico, ou seja, ele próprio deve estar ciente de sua psicopatologia para que ela não atrapalhe a sua obra. Nas suas mais recentes pesquisas, salienta a importância do estudo da doença da sociedade, a qual vê como basicamente doente em sua organização e valores, para que a doença individual, ou a psicopatologia, também possa ser corrigida. Por isso, criou a sociopatologia, ou o estudo da doença social, e lançou suas descobertas nos livros Libertação dos Povos — A Patologia do Poder e Trabalho e Capital. De acordo com ele, não é possível um indivíduo ser são, se é criado em família e sociedade que de tão patológicas, (contaminadas) o influenciam desde o nascimento, “deformando-o” definitivamente no processo de “educação” e “socialização”. Conforme o psicólogo americano Bandura: “Socialização é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve às qualidades essenciais para funcionar com eficácia na sociedade em que vive” (Bandura, Encyclophedia of Psychology, Continuum, Nova York, 1982).


Em outras palavras, desde a mais tenra infância, aprendemos e internalizar os valores da nossa família, escola e sociedade em que vivemos e percebemos que, caso não nos adaptemos, sofreremos às mais diversas formas de punição — desde a verbal, a afetiva, moral, econômica, social, até a corporal. De tal forma, esse processo de socialização é eficaz, no sentido que o controle social é internalizado e criamos um mecanismo de autocontrole, que dispensa o social. Isto é, cada ação é prejulgada por esse sistema regulador interno e o indivíduo só adotará formas de comportamento que são aceitáveis e apreciadas pelo meio em que vive, ao passo, que as atitudes e comportamentos que despertam reações negativas, de punição ou de indiferença, serão automaticamente evitadas com antecedência.


Se considerarmos que todas as regras e valores sociais são certos, o processo de socialização será saudável e necessário. Mas se percebermos que grande parte das regras, prêmios e proibições foi instituída para servir a um esquema sócio-econômico de corrupção, então poderemos chamar esse processo não mais de socialização, mas de “lavagem cerebral”, ou de mecanismo social de patologização. Nas sociedades humanas, somente um grupo de indivíduos detentores do poder estabelece regras e leis econômico-sociais, a fim de conservarem esse poder é oprimir e restringir a liberdade dos demais, e cada indivíduo é gradativamente corrompido, à medida que se “adapta” à estrutura social imposta. Ensinado a mentir, desconfiar de tudo ou de todos, a ser desonesto, a odiar o trabalho para “sobreviver”. Fator agravante é que grupos ditos revolucionários, que lideraram “as reformas sociais” aboliram de fato alguns sistemas déspotas do poder, mas acabaram por instituir formas ainda mais cínicas e refinadas de controle.


O que torna extremamente difícil a resolução destes problemas é que a maioria sofre esse processo de lavagem cerebral, não têm condições de conscientizá-lo por conta própria. Isto é, a pessoa é moldada a pensar de determinada forma; acredita-a como a única existente, a mais certa, mesmo que não se sinta feliz com a maneira que vive. Frequentemente, repudiamos possíveis alternativas, por temer que outras formas e comportamentos mais livres sejam causa de punições muito dolorosas (impressões colhidas de experiências anteriores). A maioria, acredita que os poderosos são necessários para manter a “ordem” e não que são justamente eles que causam todos os conflitos sociais, com as leis injustas e desonestas que elaboram. Será necessário, que aqueles mais conscientes, reavaliem essas regras sociais a que estamos submetidos geração após geração, selecionem o que realmente tem valor e é saudável do que é patológico e restritivo e tornem-se eles, agentes modificadores da estrutura social e econômica, dando soluções mais adequadas para a aquisição de uma qualidade de vida mais apropriadas para as próximas gerações.


O povo, deveria crescer totalmente livre de restrições internas ou externas para a realização do que é bom, belo e verdadeiro, e deve ser restruturado de agir contra esses princípios na sua vida ou na do próximo: de realizar sua inveja, teomania, preguiça, etc., quer seja, através do poder econômico, social ou de qualquer comportamento patológico.


ABC da Trilogia Analítica, siga outros artigos para saber mais.


Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

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