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  • O Estádio do Espelho e o Eu Ideal.

    Durante o percurso da nossa existência, vamos nos distanciando da realidade, aquilo nos separa entre o que construímos e o que ambiguamente ''imaginamos ser'' é ''aquilo que de fato somos''. Essa projeção fantasiosa, “perfeitinha de mim” que estruturamos, não vem sozinha, senão segue, carregada de convicções... Uma das contribuições mais brilhantes para a psicanálise dos últimos tempos: foi o “O ESTÁDIO DO ESPELHO E O EU IDEAL”. Com ela, Lacan expõe um acontecimento singular que tem lugar na criança entre os 6 e os 18 meses. Com efeito, o infante nesta fase passará por uma série de experiências, de natureza constituinte, quando será confrontada(o) com a sua imagem refletida no espelho. Uma enorme satisfação se aproxima dela(e), quando pela primeira vez se reconhece diante dele. Esse júbilo, corresponderia ao deleite e entusiasmo que experimentamos em algum ponto da nossa vida, ao fantasiarmos que somos seres ''completos''. O estádio do espelho, trata da função do ''Eu'', usando de maneira exemplar, a imagem do bebê diante do espelho, para exemplificar a relação primordial que temos com o nosso ''Eu''. O bebê, se reconhece no espelho num momento muito precoce, em que, ainda, não é capaz de se perceber como um ser inteiro, embora, a imagem que dele se reflita é exatamente a de um ser completo, inteiro e coordenado. Nesse encantamento da criança com sua imagem, visto como completude de si, agora cria uma identificação subjetiva, levando-a a acreditar que é de fato alguém completo, quando não é. Cria-se aqui, neste contexto, uma das grandes desarmonias do ser humano, entre, o que ''achamos que somos'' e aquilo ''que somos de verdade''. Essa divergência de leitura sobre o ''Eu'', como distorção primaria infantil, irá permanecer escrita em cada indivíduo, pelo resto da nossa vida. O corpo, é um protagonista fundamental deste processo, ao ser nele que se resolve o grave problema da “fragmentação corporal” em que a criança está imersa, até conseguir uma imagem de totalidade. Estas apreciações, permitem uma explicação de certos sintomas recolhidos em quadros clínicos de histeria e paranoia, entre outros. Provavelmente, você já viu que o seu bebe não prestava muita atenção à sua imagem no espelho, até uma certa idade, exatamente, porque não sabia que era ele(a). A fase do espelho, designa e ativa um gatilho para a fase do desenvolvimento psicológico da criança, o que também indica, uma superação desta fase de não-reconhecimento. O ciclo do espelho, é um conceito que envolve o ''Ego'', onde ele se desenvolve como instância psíquica. Este é um fenômeno universal, que pode ser verificado em todos os seres humanos, a criança reconhece-se ao espelho, antes de chegar a esta fase, reagem geralmente com medo ou curiosidade perante o espelho, ou simplesmente o ignoram. Quando uma criança se reconhece nele, celebra a aparência da imagem com um gesto de alegria. Este fascínio, é interpretado por Lacan como a identificação da criança com a sua imagem, que aí a encontra pela primeira vez, refletida na sua totalidade. Em vez de ver apenas partes do seu corpo, ele vê sua composição. O que antes eram apenas suas mãos, pernas, barriga, mas que nunca havia visto seu rosto, nem todo o seu corpo. A descoberta que ele(a) faz, nessa fase, é que estes fragmentos do corpo, que não pareciam estruturados ou relacionados entre si, não constituíam uma unidade, agora, com a experiência do espelho, formam um todo, o seu “Eu”. O que a criança olha e reconhece, o que o imita tão bem, e que mais cedo ou mais tarde descobrirá ser ele próprio, ou a sua imagem, para falar adequadamente, não é descoordenado, não tem um corpo fragmentado, daí o seu contentamento. Más tarde, Lacan observa, que a grande euforia ao experimentar a si própria(o) no espelho, é efêmera. Ele reconhece a si próprio(a) e não se conhece ao mesmo tempo, porque o que ele(a) discerne não é ele(a), mas apenas uma imagem de si. Uma reprodução separada, que não lhe pertence. É por isso, que a fase do espelho implica uma experiência de divisão e fragmentação do sujeito, uma dualidade que se produz traz o descobrimento de si. Esta primeira identificação é profundamente alienante: para começar, a criança reconhece-se naquilo que sem dúvida não é ela própria, mas outra pessoa; em segundo lugar, esta outra, mesmo que fosse ela própria, é afetada pela simetria do espelho, uma condição que mais tarde será reproduzida em sonhos. De acordo com esta teoria, quando a fase do espelho ocorre, o bebê deixaria de estar tão angustiado com a ausência da mãe, e seria capaz de se contentar ao perceber-se refletido, e, sobretudo, dotado de unidade corporal, com um corpo próprio. O pai, também é importante nesta fase, é a função paterna que lhe permitirá manter a noção de unidade corporal do sujeito e depois o desenvolvimento psíquico que provém desta primeira percepção de unidade. Entre às condições para que a fase do espelho tenha lugar, não mencionei a existência de espelhos. Logo, podemos imaginar que em locais onde os espelhos não são utilizados, às crianças de alguma forma também atingem esta fase do seu desenvolvimento, assim como os cegos, que o fazem sob outros mecanismos. Esta teoria psicanalítica, serve de apoio para a compreensão da estrutura do ''Ego'' e a identificação com os outros, não é um fato histórico pelo qual todo o ser humano tenha de passar. Em suma, a etapa do espelho, é a chave para a formação do Ego, é literalmente a origem fundadora da série de identificações que se seguirão, e continuará a constituir o ''Ego'' humano, com a companhia dos nossos pares. Durante o percurso da nossa existência, vamos nos distanciando da realidade, aquilo nos separa entre o que construímos e o que ambiguamente ''imaginamos ser'' é ''aquilo que de fato somos''. Essa projeção fantasiosa, “perfeitinha de mim” que estruturamos, não vem sozinha, senão segue, carregada de convicções, crenças, convencimentos, é totalmente destituída de oposições e contradições. Tal personificação dessa imagem encantadora, cativante, sedutora e irresistível que construí sobre mim, não dá conta adequadamente de poder me responder profundamente “Quem sou eu?”, é como de fato não responde, preferimos não aprovar dita verdade.   Você já parou para se perguntar o porquê preferimos suportar, essa falsa imagem de si? A resposta a esse enigma, pode ser encontrada no desconforto de termos que conviver com uma consciência ambígua, dividida, confusa, paradoxal, hesitante e contraditória. Somos, absolutamente, fascinados pela imagem encíclica e perfeita que erguemos de nós mesmos, por isso, distorcemos, deformamos a experiência subjetiva da nossa vida, moldando ela artificialmente, para não termos que renunciar e essa visão “perfeitinha de nós”. Como sustentamos essa postura por tanto tempo? Como grandes estrategistas que somos na manutenção das nossas falhas, hábitos é defeitos, na Psicanálise lhe damos o nome de “mecanismos de defesa”, são precisamente essas estratégias que utilizamos inconscientemente para tentar manter essa imagem perfeccionista de si, intacta. Quais são os mecanismos de defesa? Conhecidos e explicados pela psicanálise são: recalcamento, recalque ou repressão, negação, regressão, deslocamento, projeção, isolamento, sublimação, formação reativa e racionalização. Para Freud, são “processos inconscientes, realizados pelo Ego, que ocorrem independentemente da vontade do indivíduo.” Portanto, defesa é, na verdade, a operação pela qual o Ego exclui da nossa consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo dessa forma o aparelho psíquico. Ao final, então, cabe uma pergunta… Quantas verdades conseguimos negar sobre si mesmos, ao custo de sustentar a nossa imagem perfeita? Un poemita... ESPELHO — Roseana Murray Espelho, espelho meu: diga a verdade, quem sou eu? Se às vezes me estilhaço, se às vezes viro mil, se quero mudar o mundo, se quero mudar o rosto, se tenho sempre na boca um gosto de água e de céu. se às vezes sou tão-só quando me viro do avesso, se às vezes anoiteço em plena luz do sol ou então amanheço com vontade de voar, espelho, espelho meu: diga a verdade, quem sou eu? Entendendo o poema: Perceba que o primeiro verso do poema dialoga com outro texto, o Conto de Branca de Neve. Começa com uma dúvida, que está expressa em uma pergunta: Quem sou eu?, onde usa o sentido figurado da linguagem; “Se às vezes me estilhaço… Se às vezes viro mil.” Usa a hipérbole que consiste no exagero de uma expressão, para causar um efeito expressivo, “Quando me viro no avesso.” Expõe ideias opostas, para expressar seu estado de desorientação, “Se às vezes anoiteço — Em plena luz do sol.” O tema, possui um claro clamor da autora, em tentar descobrir quem é o ''Eu'' lírico da sua personalidade. Até a próxima… Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

  • Frustração e Conflito.

    A frustração é a mãe do desejo, e o desejo, é a energia que nos move e sustenta. De um ponto de vista psicológico, é uma resposta emocional que experimentamos quando temos uma excitação, uma necessidade, um impulso... e não conseguimos satisfazê-lo... Por que vivemos tão mal? O que é a frustração e como funciona? A frustração é a mãe do desejo, e o desejo, é a energia que nos move e sustenta. De um ponto de vista psicológico, é uma resposta emocional que experimentamos quando temos uma excitação, uma necessidade, um impulso... e não conseguimos satisfazê-lo, então, sentimos raiva e desilusão, um estado de certo vazio, onde quanto maior for a barreira ao propósito, maior será o naufrágio resultante. Uma força motriz para o desenvolvimento psíquico, é o desejo de recuperar a experiência da singularidade primordial e omnipotente através do Ideal do Eu. A ideia é, que este caminho seja encurtado, e o seu consequente sofrimento atenuado. Nesse contexto, a maturação e a evolução trazem como consequência a dor do crescimento. Este, não será alcançado pela negação da separação ou a busca de um ideal erótico, estético ou religioso, com o seu consequente autossacrifício. A frustração necessária ao desenvolvimento psicológico das crianças. O que está em jogo, a um nível profundo nas crianças, é que frustrá-las as ajuda a se separar dos pais e lança um impulso para a construção de um desejo que se pode expandir para um futuro próprio. Estabelecer limites ao seu desejo, tal como os adultos se impõem a si próprios ou como lhes são impostos por outros, e o caminho para que o indivíduo em progressão encontre a sua trilha de desenvolvimento, tal como o fizeram nossos pais. A criança terá de deixar a sua mãe e o seu pai para encontrar o seu próprio desejo, porque na sua família de origem estão condenados(as) a serem frustrados(as). Se a criança é tudo para os pais, tem tudo, recebe tudo, é mesmo assim, pede mais, é contínua a ser atendido(a)... viverá ameaçada(o) por impulsos mortais, que têm a ver com uma involução, um retrocesso de retorno ao ventre materno, tornando-se dependente, em vez de ser impelida(o) para o futuro libertador da sua necessária autonomia. Embora às emoções nos ajudem a compreender e a reagir ao nosso ambiente, não significa que todos saibamos como interpretá-las corretamente. Algumas pessoas podem aprender e refletir sobre experiências negativas, tirando conclusões positivas e superando-as, enquanto outras, simplesmente se deixam afundar nelas. É curioso que a palavra que acompanha a frustração seja a tolerância, pois implica que não é nada que possamos aceitar de bom agrado, e que talvez requeira alguma formação. Tolerar, é a capacidade de resistir e aceitar um lugar que envolve algum desagrado, dor ou impacto no nosso corpo. No seu livro “O Mal-estar na Civilização” Freud ensina, que se o homem se esforça incansavelmente pela sua perfeição perdida, nunca poderá verdadeiramente alcançá-la. Parece que esta busca é a base das nossas realizações mais sublimes, mas também dos erros mais nefastos que possa vivenciar o espírito humano. Quando o desenvolvimento habitual do nosso comportamento motivado é bloqueado por um obstáculo de qualquer tipo, tentamos adaptá-lo à situação, e procuramos alcançar o objetivo por outra via. O termo frustração, designa este tipo de situação, em que um contratempo ou acontecimento frustrante modifica o comportamento individual. O malogro e os reveses, podem ter consequências muito diferentes, dependendo de muitos fatores: a natureza do objeto frustrante, e a força da motivação, estão conectados a personalidade do sujeito que a experimenta, é como ele(a) lida com suas resoluções. Lutereau diz: "A resposta mais comum à frustração é agir, ou seja, sair para fazer algo rapidamente, em busca de satisfação para compensarmos a perda". São estas características visíveis da sociedade atual contemporânea, onde a questão da contrariedade torna muito difícil para os indivíduos tolerarem a tribulação, produzindo grandes doses de atuação e agressividade. Vivemos numa época em que o imediatismo e o excesso de objetos bloqueiam nossa capacidade de desejar, para além de uma posição de consumo. A resposta que criamos a esta dinâmica são os diferentes vícios: adições ao celular, ao trabalho excessivo, a múltiplos parceiros sexuais, à alimentação desenfreada, consumo de drogas, calmantes e uso descontrolado de psicotrópicos, aos jogos de vídeo, apostas compulsivas, etc. Os diferentes objetos enunciados, trabalham como pilulas de conforto, que tentam bloquear superficialmente a possibilidade do encontro com o vazio interior, com a perda, e tentam acalmar a angústia, a raiva e o mal-estar que a frustração diária produz. Para Freud, a insatisfação aparece como uma variação das satisfações parciais em torno de uma proibição que é simbólica, (a própria insígnia da castração), e se acha regulamentada nas leis da cultura impeditivas do acesso à satisfação irrestrita. É possível dividir os acontecimentos frustrantes em dois setores principais: — A frustração primária. Neste caso, o acontecimento frustrante é constituído pela ausência do objeto necessário fundamental para a satisfação do comportamento, tal é o caso da ausência de alimentos para alguém com fome. — Frustração secundária. Aqui encontramos um obstáculo que aparece no caminho para a satisfação da motivação. Este bloqueio pode ser interno ou externo ao indivíduo; pode ser passivo, atuando pela sua mera presença, ou ativo, sendo um componente dinâmico que opera na direção oposta ao impulso, e pode ter vários desdobramentos: A frustração tende a provocar uma agressão direta contra a fonte desse desgosto; O ato agressivo pode ser inibido. A inibição varia na proporção direta da punição esperada, caso o sujeito realize o ato; O objeto de agressão pode ser deslocado. Quanto mais forte for a inibição da agressão direta, mais intensa é a tendência para o deslocamento. Isto é constantemente observado na vida quotidiana: é o caso de um sujeito que é repreendido, é por sua vez, repreende aqueles que estão sob sua guarda ou proteção; A forma de agressão é mediada culturalmente, em geral, a agressão direta é inibida e assume formas indiretas e sutis. Este é o caso da ironia, que por vezes se esconde numa agressão modificada; Há também o recurso da automutilação, que aparece quando a agressão é mais fortemente inibida do que a própria agressão; Cada ato de hostilidade constitui, até certo ponto, uma catarse que reduz o incitamento a novas agressões; A psicanálise aprofundou o estudo das formas pelas quais os seres humanos tentamos resolver os conflitos e como tentamos nos defender do desconforto causado pela sua motivação; Eis que surge, em detrimento desta, a teoria dos mecanismos de defesa.   Mecanismos de defesa. Eles foram elaborados por Anna Freud, com base na estrutura da mente proposta pelo seu pai: Freud, ou seja, a mente dividida em três partes: o ego, o superego e o id. O Ego encontra-se numa posição de compromisso entre as exigências do impulso do Ego, os imperativos do Superego e as exigências da realidade. A sua posição não é uma posição fácil. É por isso que o Ego é frequentemente presa de angústia. A procura de equilíbrio não é fácil, tem de criar mecanismos de defesa para evitar impulsos excessivos. É aqui que encontramos a causa de muitos conflitos psicopatológicos. Os mecanismos de defesa são estratégias utilizadas pelo Ego para se manter equilibrado. Podemos também defini-los como recursos da mente destinados a resolver situações de ansiedade que geralmente atuam deformando a percepção, a memória, a motivação e o pensamento. São meios para combater a frustração, é, portanto, uma privação que implica renúncia, e esta desistência deve ser tolerada pelo sujeito, caso contrário pode produzir efeitos ou ações diferentes: Os principais mecanismos defensivos que utilizamos são: 1. —  Repressão: Este é um dos mais importantes, consiste em colocar uma barreira intransponível a sentimentos inconfessáveis, onde o Superego atua se sobrepondo ao Ego. Um tipo de repressão que consiste em esquecer uma situação emocionalmente forte, neste caso o esquecimento responde a motivações subjetivas; (esquecemos inconscientemente o que não nos convém recordar). 2. — Racionalização: Mecanismo normalmente utilizado na juventude e na vida adulta. O Ego tenta explicar ao Super-ego com argumentos racionais, o quê é uma desculpa para o Super-ego não ouvir às forças motrizes. 3. — Negação da realidade. Consiste em negar um fato como consequência da incapacidade do Ego poder assumir sua resolução. 4. — Fantasia: Outra forma de negar a realidade, fazendo que a imaginação trabalhe, para o que não se pode realizar. Um bom exemplo desta tendência são as mentiras que praticamos. 5. — Projeção: Consiste em refletir e espelhar os meus sentimentos, que pela sua natureza são insuportáveis para o Eu. A projeção ocorre frequentemente em situações sociais afetivas, um bom exemplo, podem ser os ciúmes. 6. — Retorno: Ato de regressão, voltar à origem. Psicologicamente significa recondução a uma fase anterior da vida, onde o meu Ego estava mais protegido, geralmente este subterfúgio trata de um fenômeno, na busca de um lugar típico da infância. 7. — Sublimação: Significa transformar algo impuro em puro, trata-se de transformar o instintivo, o impuro, em algo diferente, que pode ser uma expressão artística, algo moralmente valioso. 8. — Compensação: Tentativa de compensar o fracasso de uma atividade ou afeto importante, tentando substituí-la com o triunfo subjetivo de outra. 9. — Supercompensação: Tentativa de dar uma contrapartida, gerar contrapeso. Naquilo em que, segundo os outros, fracassarei. 10.— Reação: Quando aspectos pessoais entram em conflito com o Super-ego, sendo rejeitados como inadmissíveis, pode ocorrer um reflexo, uma resposta, que consiste no desenvolvimento de um comportamento externo contrário ao impulso ou sentimento de rejeição. 11— Deslocamento: Como um dos mecanismos defensivos mais utilizados e, como seu nome indica, consiste em deslocar, mover algo de um lugar para outro. Neste caso, um sentimento de afeto, é transferido de um lugar original para um substituto, que pode imaginariamente ser capaz de o acolher e receber para minimizar minha dor.             Como vimos, possuímos grande criatividade em gerar mecanismos de defesa, que representam a necessidade imperiosa de justificar a si próprios, mediante um arsenal de mentiras, a fim de preservar nossa harmonia psíquica. Objetivamente, qualquer um de nós, que experimente frustração como sistema, deve levar tempo se repensando, investindo em se conhecer mais profundamente. Isto é necessário para alcançar uma aceitação pessoal, mas não me refiro a uma anuência racional, senão uma emocional, que implica e contempla estar consciente dos fatos e realidades do passado, partes de mim que não conheço, ou que simplesmente não aceito que me componham. Acho extremamente importante que aprendamos a ser frustrados, é a lidar com isso verdadeiramente, porque só a partir dessa posição podemos ter um encontro consigo, podendo libertar-nos dos laços, dos múltiplos manequins que nos tomam como marionetes, dando alcance para acalmar a ansiedade e frustrações diárias, que normalmente nos desviam do desejo. Muitas das situações que enfrentamos têm uma recompensa tardia, pela qual vale a pena persistir e perguntar a si próprio: O que estou realizando; está me aproximando dos meus objetivos ou me afastam deles? Este questionamento pode servir para reforçar nossa capacidade de tolerância à frustração, uma vez que ajuda a identificar se estamos numa trilha positiva, caminhando no sentido da realização. Embora os desapontamentos, decepções e desencantos, sejam sentidos como dolorosos, são um estado emocional normal e provisório, razão pela qual, devemos reconhecer quando às coisas não estão correndo como desejado, e assim, atingir um estado de aceitação e resolução. A psicanálise nos mostra que é só mediante vivências que trazem algum tipo de frustração podemos formar um aparelho mental mais fortalecido, saber lidar com o sofrimento, faz com que as experiências de prazer e felicidade sejam intensas, apesar do “desprazer” e das frustrações da vida. Como lidar com a frustração? Desenvolva sua inteligência emocional; Seja resiliente; Analise a situação na totalidade; Alinhe suas expectativas; Foque em suas vitórias; Conte com uma ajuda profissional para lidar com suas frustrações. Un poemita... Frustração - Miguel Torga Foi bonito O meu sonho de amor Floriram em redor Todos os campos em pousio. Um sol de Abril brilhou em pleno estio, Lavado e promissor. Só que não houve frutos Dessa primavera. A vida disse que era Tarde demais. E que as paixões tardias São ironias Dos deuses desleais. Até a próxima! Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

  • A Relação Sexual.

    A Relação Sexual. “Só se aprende a amar o outro, amando, é pela inédita experiência subjetiva de cada um”. Dan Mena. “A relação sexual não existe” — diz Lacan categoricamente. Para abordar esta questão um tanto complexa, podemos nos referir ao vínculo social, às relações que existem. Esse laço, pode ser dimensionado a partir daquilo que conhecemos como estrutura. Se o tomarmos deste último ponto de vista, dizemos que o laço social é uma forma de ligação com o ''Outro''. Uma forma de vínculo, uma das versões destas alianças que existem entre os sexos, homens e mulheres. Precisamos ter em mente, que para Lacan, que cunhou o termo no seu Discurso do Seminário 17, “O Reverso da Psicanálise” — o que se pretende com a noção de ''discurso'', é formar uma ficção, uma fantasia. O que, em última análise, permite isso, entre o (imaginário e o simbólico) na ligação da sexualidade humana. No entanto, esta conexão entre estes dois elementos autônomos, difere das concepções biológicas, teológicas ou culturais. No campo Psicanalítico, este elo, homem-mulher, está situado em relação a uma lógica fantasmagórica, onde ambos estamos unidos pelo nosso fantasma, entendido isso, como uma singular modalidade de satisfação do impulso de cada um. Existe uma teoria psicanalítica da sexualidade? Qual é o alcance da noção de sexo na Psicanálise? Como se articulam o desejo, amor e o gozo na experiência da análise? Porque mesmo que não haja relação sexual, como afirma Lacan, ainda existem relações sexuais no plural, numa sociedade que facilita cada vez mais orgasmos banais? Antes de começar, se é um fato que para nós Psicanalistas é difícil ler, se chama Lacan, logo imagino para vocês, (juro que tento um humanês), uma das razões que dificulta a compreensão da obra é o seu modo de escrever. Ele o faz de uma forma que não leva a uma posição claramente definida, nos desafia a um pensar. Seu estilo de escrita, usualmente empregado, se diferencia muito da obra de Freud. Por outro ângulo, figura entre os mais importantes Psicanalistas do século XX, e a leitura da obra Freudiana, que a partir da filosofia Hegeliana, da linguística Saussuriana e dos trabalhos de Levi-Strauss, deram origem a uma das principais escolas da Psicanálise Francesa. Aprendi assim: temos primeiro que quebrar a cabeça, abandonar nossa forma clássica de pensar, logo, para compreender sua magnífica obra, precisamos escapar da nossa própria retórica, fugir da armadilha do pensamento, para posteriormente se deixar prender na dele. Para captar às teorias de Lacan, especificamente neste tema, é preciso lembrar que na frase original, ele, de forma traduzida ao português, expressa: “Não há relação sexual”, aqui o analista francês utiliza a palavra ''rapport''. Apesar de ser tradicionalmente traduzida como “relação”, na língua francesa, a palavra designa uma associação de complementariedade, de encaixe, onde os elementos, são mutuamente equilibrados e proporcionais. Seria esse um encaixe perfeito?. Nesse sentido, quando Lacan diz… que “não há relação sexual”, o que ele está dizendo, é que no campo do amor, não encontramos relações que se encaixem com perfeição. Em outras palavras, não se alcançam os pares perfeitos. Na sua leitura, a inexistência da relação sexual, significa que não perdura, não existirá, nunca existiu, uma fórmula mágica para termos relações amorosas harmônicas e plenamente satisfatórias. ''Dito de outro modo, só se aprende a amar o outro, amando, é pela experiência subjetiva individual''. Dan Mena. A imensa maioria dos animais está submetida a ciclos biológicos afetivos-sexuais pré-definidos, mas o mesmo não acontece conosco, os humanos, onde a ausência de um instinto sexual irracional faz com que a nossa maneira de desejar e de amar seja singular e única. O encontro entre duas pessoas também representa o encontro desses dois mundos, absolutamente diferentes, que não foram moldados ao longo da vida para se completarem, e dessa forma, o encaixe impecável é impossível. Por isso, é necessário, antes de mais nada, decidir amar, para começar a aprender a melhor forma de se adaptar ao outro. Portanto, onde há uma adaptação, existe algo fora do que seria natural. Lacan fala das fórmulas de sexuamento, para se referir a estas posições sexuadas. Assim, do lado masculino encontramos aquelas maneiras de gozo que são todas fálicas (ligadas ao pênis). Enquanto no lado feminino, o gozo seria desdobrado, sendo não só o gozo fálico, mas também um deleite suplementar. O que é obtido na modalidade de gozo é sempre o do próprio corpo. Por exemplo: o homem, para apreciar a mulher sexualmente, se liga a um objeto corporal dela, a uma característica, exemplo; os seios, a bunda, a boca, etc. Ele transforma esse elemento fetiche para o seu gozo, e assim desfruta do seu órgão. Quanto ao lado feminino, algo mais acontece, por um lado, pode apontar para um assunto relacionado com a imaginação ou fantasia, uma vez que também existe uma relação com o falo, (pênis), mas por outro, trilha para algo diferente. Este ''algo'' é a palavra, para ela, (a mulher), exemplo: frases de amor, declarações, gestos, são importantes, e para poder desfrutar disso, ela precisa transpassar isso pelo amor. Assim, do lado masculino, o amor e o gozo estariam separados. Uma mulher, pode ser amada como um sujeito para um homem, mas para a apreciar, ele a degrada um pouco, desfruta dela como um objeto, um símbolo da sua fantasia. Do lado feminino, porém, acha-se uma dimensão onde o amor e o gozo estariam unificados. Ela goza de amor, com o amor. É nesta direção que não há correspondência entre os sexos, uma vez que cada um goza à sua maneira, do seu jeitinho, razão pela qual Lacan diz, que a relação sexual ''não pode ser escrita''. Não levar em conta estas diferenças estruturais, e querer colocar-se numa posição de igualdade imaginária, que resulta muitas vezes num mal-entendido entre os sexos. A diferença, não deve, nem pode ser confundida com a desigualdade, a dissemelhança deve ser combatida, a diferença não deve ser misturada, principalmente nas leituras psicanalíticas. Poderíamos dizer então que não há nenhuma relação sexual? Significa que não existe no homem nenhum programa natural que lhe permita viver a sexualidade de uma forma harmoniosa? Alguns discursos tentam escrever a relação sexual com base numa relação com a natureza. A narrativa da religião se inscreve na sexualidade com base na procriação. Freud se encarregou de separar a naturalidade e a procriação do desejo da criança, de mostrar as primeiras experiências de satisfação e gozo que nada têm a ver com a procriação, embora a procriação e o gozo não sejam mutuamente exclusivos. No discurso "sadiano" também se tenta apelar à naturalidade, ao pensar sobre a sexualidade humana. A sexualidade é concebida por Sade, nas suas obras (The Boudoir, Juliette), como o direito de usufruir de todos os corpos, mesmo sem o consentimento do sujeito em virtude de uma lei natural. É o oposto do discurso da religião e de uma filosofia que leva a um pedido de desculpas, por tentar forçar aquilo que o corpo quer. Lacan fará uma interpretação do discurso Sadiano, mostrando que o Marques de Sade, nos dá uma nova face do Superego, como uma exigência de gozo. Ele dirá no Seminário XX: “Nada obriga ninguém a gozar, exceto o superego. O superego é o imperativo do gozo: Goza!” Lacan, situa neste aspecto o Superego no campo do gozo, que pode ser apresentado como um dever, que forçará o corpo empurrando-o. Nesta perspectiva Sadiana, o apelo à naturalidade pode estar ao serviço de uma exigência do gozar, que pode conduzir aos maus tratos dos corpos. A tese amplamente aceita de Lacan, inclui uma disfunção na sexualidade que se refere a três termos: amor, desejo e gozo, que se jogam papeis de forma diferente em homens e mulheres. Cada um, aspira a uma certa convergência entre estes três termos, mas o sintoma aparece onde existe um buraco ou talvez ausência, e pode ser a causa do sofrimento e do desconforto que muitas vezes experimentamos. A relação não sexual, tem a ver com o fato desse impulso não estar relacionado ao ''Outro'', ao contrário do desejo, que sim o acompanha. Lacan, confiará em Hegel para definir o desejo como desejo do ''Outro'', uma excitação que se articula com o sujeito, enquanto a pulsão, não o tem em conta, se satisfaz por si própria. Por fim, cabe ressaltar, que em cada encontro sexual que provocamos, o desejo é estruturado inconscientemente, mesmo antes de encontrarmos um parceiro idealizado ou não, lembre, através do fantasma singular citado anteriormente, ditando às regras da relação estão: o êxtase, a sedução, ciúmes, possessão, inibição, ódio, etc. Cada ato sexual, envolve pelo menos quatro pessoas, porque não só os amantes estão presentes nela, mas cada um deles, é assistido no seu inconsciente por seu fantasma correspondente, então, somos sempre 4. Vamos então efetuar uma síntese. É suficiente descrever o que acontece e o que não, é o que se imagina que possa acontecer. Há corpos, há inconsciência, há fantasias, fetiches e prazeres. Não nos encaixamos, isso vale de um para o outro, homem-mulher, (sem deixar de fora qualquer outra relação de gênero possível) o que demandaria de um capítulo aparte. Não nos complementamos, nem nos unimos, nem fundimos, isso independe das leituras específicas de cada relacionamento. Pelo menos não ao nível do gozo, que é, afinal de contas, e o que conta neste artigo. É através do encontro com o corpo do outro, que chegamos ao nosso próprio modo de gozo e prazer. E é a partir dele, dessa estrutura inconsciente, que articularemos nosso desejo, do qual certamente desfrutamos, cada um da sua maneira. Assim, nos beneficiamos de si próprios. Juntos, se necessário, mas cada um com sua parte, seu lugar. Mesmo que essa estrutura exista para satisfazer o outro, se pensarmos no que faz, veremos que não se pode realizar outra coisa, senão satisfazer a própria fantasia de saciar o ''Outro''. Abreviando… é sempre nosso próprio inconsciente que se satisfaz, um inconsciente do qual, e de resto por definição, também não sabe. Como vemos, não é a satisfação que se interpõe, porque podemos perfeitamente criar sua expressão e configuração, mas sim a complementaridade do seu encontro e entornos. O que de fato é um impossível, é falar na unificação, pois onde há dois sujeitos, haverá sempre duas máquinas particulares, singularmente desejantes, que só escutam a si mesmas. Para quem decide amar, o amor oferece riscos, assim o descreve Gibran no seu poema: O amor “Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis. Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma No pão místico do banquete divino. Todas essas coisas, o amor operará em vós Para que conheçais os segredos de vossos corações E, com esse conhecimento, Vos convertais no pão místico do banquete divino”. Destarte Lacan, não desacreditemos do amar como vínculo, o amor, também oferece retornos, satisfação, felicidade e crescimento. Até a próxima, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

  • O Inconsciente.

    “Não somos senhores em nosso próprio lar” Freud. Na nossa mente há algo inconsciente que intervém na forma como pensamos, agimos e sentimos. Freud desenvolveu um modelo da mente usando um iceberg como analogia, um exemplo lúdico, que pode ser facilmente compreendido. Por Dan Mena. Será que temos noção real do quanto o inconsciente afeta nosso comportamento consciente?. Neste artigo apresento seus efeitos, resultados, consequências e implicações, antecipando, que provadamente mais de 95% da nossa atuação perante a vida, se encontra nesse contexto. Mais existe um lugar para ele? Qual seria?. Um tema muito interessante, que toca intrinsecamente cada um de nós. Boa leitura. Na nossa mente há algo inconsciente que intervém na forma como pensamos, agimos e sentimos. Freud desenvolveu um modelo da mente usando um iceberg como analogia, um exemplo lúdico, que pode ser facilmente compreendido. Neste protótipo, ele indica às peculiaridades da estrutura, atribuição e papéis que ele desempenha. A nossa consciência psíquica, encontra-se na superfície, onde todos os pensamentos ocorrem, nesse espaço, e concentramos nossa atenção e foco, a fim de nos desenvolvermos, dar respostas e gerar ações. O pré-consciente, é onde tudo pode ser resgatado, agrupado, recomposto e lembrado com facilidade pela nossa memória. A seguir, a parte mais significativa é a chamada terceira região, nela, encontramos o inconsciente, amplo, enigmático, misterioso e sempre infindável. Acompanhando a representação que Freud faz, seria à parte do iceberg que não vemos, (submersa), mas, ocupa a maioria da mente. O inconsciente, num plano para além da consciência, é uma entidade viva, real, caótica e crucial para a mente humana. Obter um acesso direto a sua interpretação e leitura, é um impossível, (pelo menos até hoje), mas que se revela e exterioriza através dos sonhos, de nossos lapsos e dos atos falhos. (Os atos falhos, podem ser classificados da seguinte forma: a) Lapsos da língua; b) Esquecimentos; c) Equívocos na ação; e d) Erros. Podem acontecer combinados entre si, ou seja, mais de um tipo deles manifestado em conjunto. Diferem do erro comum, ao possuírem significado, resultando da formação de um compromisso entre o Inconsciente e o Consciente. São manifestações do que foi reprimido pela nossa consciência, e que, deste modo, como um “engano”, podem aparecer, revelando sua intenção inconsciente de serem satisfeitos). O inconsciente é externo e interno. Externo, porque afeta o nosso comportamento, interno porque se estende à nossa consciência. A vida psíquica é povoada de pensamentos eficientes, embora inconscientes, de onde se originam sintomas. O inconsciente, não é um lugar anatômico ou fisiológico, existe como um espaço sideral, psíquico, com conteúdos, mecanismos, e uma energia própria muito específica. Tornou-se um termo amplamente utilizado, referindo-se a algo bastante particular e singular. Freud, rejeitou a noção de que poderia ser uma “segunda consciência” e criticou a visão mística anterior, que os seres humanos estaríamos ligados a um inconsciente universal. Uma primeira definição poderia ser: ''Todo o conteúdo mental que não se encontra na consciência, dificilmente pode ser acessada pelo sujeito''. O inconsciente contém desejos, quereres, instintos, recordações e memórias, muitas, que reprimimos como inaceitáveis para a vida social. Isto pode ser entendido, como nossos efetivos julgamentos de si, avaliações morais e éticas. Sua localização, pode ser identificada na camada mais profunda da mente, caracterizada na psicanálise com o Id. Contudo, parte do super-ego, também pode ser incluída no inconsciente, enquanto nem sempre somos conscientes das próprias avaliações morais, e como elas impactariam nosso comportamento psíquico e suas decorrências. A mente não consciente, pode ser dividida em duas regiões: a não consciente, espontaneamente consciente, como recordações e memórias, e a não consciente, raramente consciente, porque existem forças que a impossibilitam e atrapalham. Como diferenciar os dois tipos de mente, não consciente? pode ser assim; “Pré-consciente” ou inconsciente como descritivo, e “Inconsciente” ou inconsciente no sentido dinâmico. Quais às razões que Freud apresentou para a existência da mente inconsciente? 1 - Fenômenos da hipnose, mostram que podemos saber de algo sem saber que o sabemos, que toleramos desejar alguma coisa, sem conhecer a verdadeira razão desse(s) desejo(s); 2 - A referência a uma motivação inconsciente, permite compreender os atos falhos que incorremos, porque são contrários à intenção de quem os empreende, com suas inerentes confusões verbais, algo que seguimos diariamente, sem a participação da nossa percepção; 3 - O mundo simbólico dos mitos, romances, paixões, em particular dos sonhos; sendo eles, a verdadeira intenção e caminho para a vida, que povoam o Inconsciente de cada um de nós. Os sonhos, só podem ser compreendidos com base num significado profundo, não consciente, distinto do significado explícito e superficial que geralmente queremos atribuir a eles; 4 - Experiências e motivações que determinam o nosso comportamento, assim como a saúde física, podem coexistir na mente, sem o efeito da repressão tomar ciência deles; assim, os efeitos da terapia Psicanalítica, neste campo, só pode ser compreendida com base na teoria da repressão, da descarga pulsional, como força emocional inconsciente. A mente não é translúcida para si mesma, já para a filosofia, a ''Razão” era uma das peculiaridades e traços característicos do ser humano. Muito popular na frase; “Penso, logo existo”, de René Descartes, seria, logo essa, uma expressão de afirmação filosófica neste sentido. Em contraste a essa perspectiva, a Psicanálise dá muito mais importância às dimensões não racionais da psique, como afetos, instintos, emoções, desejos, sensações ligadas ao corpo, com suas devidas defesas do inconsciente, que acredita ser possível ignorar tais causas verdadeiras do nosso comportamento. Da ótica tradicional superada, parecia impossível ter um desejo sem ter consciência dele, odiar e detestar alguém que acreditamos amar por exemplo. A Psicanálise se situa opostamente a este tipo de sombra do pensamento linear arcaico, sendo perfeitamente possível e aceitável tais dualidades na contemporaneidade. Psicanalistas, acreditamos e comprovamos isso na clínica, sabemos, que dentro de cada indivíduo, há elementos opostos, confrontantes, conflitantes. Podemos sim, amar e odiar a mesma pessoa, desejar e não querer o mesmo, conhecer, e não saber sobre alguma coisa. Em contraste com a concepção tradicional da psique, que declara a perfeita identidade do sujeito consigo mesmo, que nas versões metafísicas culminará na ideia de alma. Freud, parece compreender a subjetividade em termos de identidades difusas do ser, sempre prolixas e redundantes. Tais componentes constituintes da vida inconsciente, lutam entre si, uma guerra constante para dominar nossa vida psíquica, se intercalando com elos, alianças e ligações, nunca se integrando completamente, o que promoverá e dará origem a uma unidade no sentido transcendente. Precisamente, com base nestas teses altamente aceitas, que a Psicologia moderna evolui gradualmente na hesitação, cada vez mais questionada, sobre noções intransigentes e rígidas, que eram tradicionalmente aceitas, como a responsabilidade moral, independência, autonomia e liberdade. Vou citar algumas definições em frases de Freud: O que é o inconsciente? “É o círculo maior, que inclui em si o círculo menor do consciente; toda a consciência tem o seu passo preliminar no inconsciente, enquanto o inconsciente, pode parar com este passo adiante, e ainda reclamar todo o seu valor como uma atividade psíquica”. “O inconsciente de um ser humano pode reagir ao inconsciente de outro, sem passar pelo consciente”. “A interpretação dos sonhos, é o caminho real para o conhecimento das atividades inconscientes da mente”. Características do inconsciente; 1 - Permite a coexistência de ideias contraditórias lado a lado, entre si. 2 - O seu conteúdo não tem grau de certezas, da forma como ideias conscientes são elaboradas. 3 - As ideias inconscientes, não estão dispostas em nenhuma ordem, cronografia ou ''timing''. No inconsciente, uma ideia pode absorver a energia de várias outras através de um processo chamado de condensação, ou pode transferir a sua energia para uma ideia associada através de deslocamentos. Freud chamou a estes mecanismos de condensação e deslocamento, sendo processos primários, que contrastavam com os recursos secundários do pensamento consciente. Estas demandas capitais, permitem que os impulsos dos nossos desejos inconscientes sejam deturpados, procurando e encontrando saídas que não possuem qualquer ligação aparente com ideias reprimidas. Diferença entre inconsciente, subconsciente e consciente. Para compreender como funciona o nosso inconsciente, é vital conhecer as funções das outras duas partes da nossa mente. O Subconsciente Quando nos referimos ao subconsciente, estamos falando da nossa mente situada entre o consciente e o inconsciente. Ou seja, é uma informação gravada e salva no inconsciente, mas, à qual podemos aceder através de esforços psíquicos. Controlamos a entrada desta informação, mas quando não a utilizamos, permanecerá armazenada. Encontramos também dados que foram mecanizados. Por exemplo; o movimento para nadar, dirigir um automóvel, como segurar um objeto, etc. Esta memória automática, não necessita aceder a ditas informações para acontecer, porque os utilizamos corriqueiramente. Inconsciente O inconsciente, é constituído por dados que não se conhecem, nunca se encontraram conscientemente. O nosso consciente psíquico tem capacidade de armazenar 5.000 impulsos neurais num curto espaço de tempo, enquanto todos os outros, passam para o inconsciente, sem que nos apercebamos disso. Além de estes dados, o inconsciente tem uma natureza afetiva e emocional. No seu contexto, encontramos traumas, crenças, hábitos crônicos, com seus aspectos sombrios de si, traduzidos como atos que foram reprimidos intencionalmente. Consciente A consciência é o seu significado, e tudo o que experimentamos aqui e agora. Embora acreditemos que esta informação atualizada venha do consciente on-line, na realidade nossa consciência é composta 95% de memórias, tanto do inconsciente, quanto do subconsciente. Aprendemos no passado, mas utilizamos no presente, aqui, o cérebro nos joga uma armadilha ilusória. O inconsciente, é capaz de nos obrigar a agir ou de nos ver operando ações que não reconhecemos como autenticamente nossas. Desta forma, a parte inconsciente pode determinar como visualizamos a vida, mundo, ambiente, por essa razão, é essencial tratar dos problemas psicológicos, aqueles que possam derivar dos traumas ou experiências negativas. A compreensão do inconsciente, sempre foi um desafio na Psicanálise. Todos os autores, grandes Psicanalistas, contribuíram para esta questão com as suas teorias e pensamentos. Destarte, incriveis e acertadas, pertencem a diferentes escolas psicanalíticas, das quais não participo. Neste momento, não posso deixar de dar um grande destaque, para aquele que, na concepção mais generalizada dá o verdadeiro lugar ao inconsciente. O conceito de inconsciente a partir de Lacan. O inconsciente não é definido como o oposto da consciência, desse modo, tal definição não nos diz nada. Se seguirmos Freud, o inconsciente é o que dizemos, o que é dito, nossas narrativas. Como nos transmite Lacan, as leis da sua composição coincidem com a formação e constituição. do discurso. "O inconsciente é o discurso do Outro", fala Lacan. Somos, como temos sido falados, de acordo é inclusive com as palavras que não são ditas. Neste arranjo, estamos imersos, submersos e inscritos nessa circunstância. Para apresentar o inconsciente, Lacan usa uma fórmula, para a comunidade psicanalítica, a grande sacada, aquilo que complementa e estrutura de tudo o que Freud como percursor notou. Vou dar um destaque, porquê nesta frase está o discernimento maior... "O INCONSCIENTE É ESTRUTURADO COMO UMA LINGUAGEM" . Lacan. (sacou?). Desta forma, ele dá todo o crédito e valor à descoberta freudiana. O sujeito, quando nasce, recebe suas ferramentas na forma linguística. No seminário "Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise" Lacan diz; "A natureza fornece significantes e os designa pelo seu nome, estes, organizam às relações humanas de uma forma inaugural, dão suas bases e estruturas destas conexões que as modelam". Portanto, antes de qualquer formação do sujeito, algo importante vai contar como essencial nessa constituição. Podemos afirmar, que a compreensão do inconsciente, do seu desdobramento, é o lugar onde mora a base primordial do estudo Psicanalítico. Este, é o principal tema da nossa profissão, um convite ao estudo, uma paixão imparável. Investigar, porque somos utopicamente; ''SERES'' (como unidade). Mais ao mesmo tempo somos divididos? Sim, não somos "INDIVÍDUOS", porque há essa interpretação no sentido de não sermos mestres absolutos das nossas vontades, conforme Freud diz; “Não somos senhores em nosso próprio lar” (agora, acredito faça mais sentido a frase do cabeçalho). Lacan argumenta, que o sujeito do inconsciente está localizado no plano do sujeito da enunciação, para além do que ele diz. No cruzamento entre enunciação e anunciação, caímos no lugar de outra cena, de onde se é proferido o dizer. O objetivo do nosso trabalho como analistas, é fazer emergir o que não se diz, no que se diz, aquela palavra, a história, subjetividade, imaginário, fantasia, em que o sujeito do inconsciente se desarma, para fazer emergir o seu sujeito. Como o Psicanalista acessa o inconsciente? A associação livre é nossa tecnica, uma forma de aceder o inconsciente de modo mais amplo. Neste ponto, cabe ao Psicanalista fazer associações para interpretar o dizer do paciente. Um poema para terminar; E sendo assim, trago o poeta Ferreira Gullar e sua poesia, para fazer um fechamento do aprendido neste artigo. Uma parte de mim é todo mundo: outra parte e ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte linguagem. Traduzir uma parte na outra parte – que é uma questão de vida ou morte – será arte? O poema mostra o conflito humano entre “uma parte” e “outra parte” apresenta uma questão a ser respondida, diante da possibilidade de se “traduzir uma parte na outra”. Até a próxima, por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

  • Somos. (Poema) por Dan Mena

    Não somos aparências, senão essência, Nem matéria, apenas informação, Não somos daqui, estamos aqui, Não estamos para permanecer, viajamos. Estamos para aprender, logo, transmitir, Nada podemos levar, por isso compartilhar, Não viemos para julgar, é, sim, amparar, Nada para discriminar, nossa natureza é amar. Temos consciência, más a elevação é pelo espírito, Nossa inconsciência, domina a compreensão, Sem etiquetas, podemos viver sem rótulos, Quem olha para seu interior, desperta. Por Dan Mena.

  • A Hipocrisia.

    A Hipocrisia. “Um homem sem defeitos, é um tonto ou um hipócrita, do qual se deve desconfiar.” Joubert - Por Dan Mena. A concepção de Freud sobre o homem, mostrou que somos na realidade marionetas de cordas escuras, (até então desconhecidas), que não eramos, nem somos, totalmente racionais, que tal mínima racionalidade e vontade nos tornaram reféns de processos, na maioria das vezes completamente desconhecidos e alheios a nos mesmos. A estes, chamou de pensamentos inconscientes, de modo que a perspectiva dada ao homem como ser pensante foi caricaturada, enquanto se atestou, que consciência e pensamentos eram efetivamente apenas uma parte ínfima da condição humana, que não eram, sequer, importantes ou determinantes. Na minha opinião, a tarefa mais importante de Freud, não foi reduzir o silêncio dos segredos mais misteriosos que carregamos, senão insistir num processo e metodologia clinica, em que fossem expressos, sem a devida inclusão da hipocrisia que os escoltam. Assim, iluminar os infernos da nossa subjetividade, mostra, que só quem tem coragem de arrancar suas verdades do abismo onde foram repressadas, pode ser liberto da dupla expressão que a elas imprimimos, olhando cara a cara, onde podemos, sem dúvidas, dominar a desarmonia da verdade. Portanto, Freud propõe não haver realidade concreta e independente da nossa subjetividade; de fato, é ela mesma que se constrói e sobrepõe as coisas do mundo com o nosso olhar, de modo que determinadas instrumentalizações se transformam para nós em objetos que têm significado, aos quais damos uma relação, um laço com o mundo psíquico. Cada objeto e entrelaçado com outros, conectados, até formar uma (realidade). Estes, por sua vez, entram em associação com outras pessoas e com um mercado, onde se tornam mercadorias. Logo, atribuímos um valor a elas, e talvez um preço, numa trama simbólica muito complexa, como um manto de subjetividade colocado previamente, onde preferimos não encarar isso como real, queremos fugir à autenticidade, mascarar a responsabilidade dessa construção social de mundo. Preferimos pensar que somos vítimas passivas da própria natureza. Precisamente neste ponto de encontro, na participação ativa do destino que damos a nossa vida, Freud diz; que o encontro com nossa verdade e só acessível a quem ousa conhecer a sua própria. Nesta conjuntura não há verdade mais profunda do que esta, por tal razão, recorremos ao seu uso. O que é a hipocrisia? Todos nós já fomos hipócritas em algum momento, mesmo sem nossa percepção. Vivemos numa sociedade que nos obriga muitas vezes a camuflar reais interesses pessoais, para podermos progredir e evoluir. No entanto, há quem recorra a uma hipocrisia excessiva, e isso certamente irá nos afetar. Ela nasce da excitação de se encobrir; desejos, ideais, atos, etc., criando uma incoerência entre o que se diz e o que se faz, entre a crença e a conduta. Sua origem, vem do latim, de "hypocrisis" que significa atuar, disfarçar ou fingir. Logo entendemos, que uma pessoa hipócrita finge qualidades, encantos, atrativos, virtudes, opiniões e, muitas vezes, a moral, que não é aceita de si própria(o), o que resulta numa ambivalência entre o sentido dos princípios, e a efetiva pratica das suas ações. Algumas pessoas são hipócritas, porque a sua baixa autoestima as faz acreditar que o seu verdadeiro ''eu'', não é suficientemente bom e aceitável para si. Outras, a praticam com a intenção de receber aprovação, como uma resposta a uma marca defensiva de feridas emocionais infantis, amadurecimento incompleto ou um resultado de ditames sociais, (como exemplo; um bom refúgio, a religião), que exigem cumprimento de determinadas regras, atitudes ou comportamentos. Desta forma, transferimos tais atitudes para às relações interpessoais. Uma das teorias mais relevantes sobre o tema, é a da dissonância cognitiva, proposta por Festinger, que anota; quando uma pessoa tem dois ou mais pensamentos, ou crenças conflitantes, experimenta um estado de dissonância intelectiva, agindo inconsistentemente com suas crenças, quereres, aspirações e valores, a fim de evitar o conflito mental, que resultaria de uma ação consistente. Outra teoria, é a da autoimagem, que defende que pessoas projetam um ideal perfeccionista de si, procuram proteger e encapsular esse conceito. Quando ela(e) agem de forma contraditória a tal influência, sentem uma ameaça, agindo hipocritamente para evitar essa intimidação. Além disso, a Psicanálise estuda a hipocrisia agudamente, como um mecanismo de defesa, que permite às pessoas protegerem o seu Ego, evitando o sofrimento e dor emocional. De acordo com esta teoria, podemos agir de forma hipócrita para evitar enfrentar a verdade sobre si próprio ou sobre outros, driblando a angústia emocional que isso pode provocar. Embora a sociedade condicione comportamentos, é importante reconhecer quando estamos agindo desta forma, sendo positivo evitar essa conduta, quando conscientes, tanto quanto possível. Em suma, a hipocrisia é um comportamento humano complexo, por isso, requer uma compreensão profunda das relações e do ambiente social em que estamos inseridos. Dito proceder, se denota principalmente quando temos grandes preocupações quanto a figura que desejamos notabilizar para o entorno, é não necessariamente concretizar nossas vontades. Quais os 4 tipos de hipocrisia? Incoerência: uma pessoa percebe que sua ação, circunstâncias ou vida, não são coerentes com o ambiente, contexto, quereres, nos quais se movimenta, para se sentir integrada(o), precisa fingir algo que não é, mesmo negando seus verdadeiros desejos. Culpa: incita as pessoas a serem hipócritas, isto responde a um aspecto mais provocador de si, devido a ideias rígidas, imposições sociais, culturais e religiosas. Fingimento: é a terceira característica que mais influência a hipocrisia, devido à necessidade de se obter um benefício pessoal, fingindo ser algo fantasiado e mascarado. Complacência: pessoas hipócritas não medem esforços para agradar outros, são movidas(os) pela necessidade de aceitação alheia e baixa autoestima pessoal. A hipocrisia social não é uma patologia, mas uma qualidade cultural ocidental que nos foi inserida pela própria estrutura em que vivemos. Falar abertamente, é certamente muito mal visto, sendo preferível dizer apenas o que se espera ouvir. Essa construção humana, labiríntica, hermética e enigmática, desde que Freud diferenciou o consciente e inconsciente, expressar diretamente nossas verdadeiras expressões e desejos, parece ser um impossível linguístico. Podemos estar apaixonados por duas pessoas, odiar e apreciar a mesma pessoa. Todos os dias pensamos uma coisa, destarte, realizamos outra, completamente diferente e contrária ao querer. Por vezes, agimos assim para não magoar os outros, outras, por pura conveniência. Parece que o mais sensato agora seja maquiar o comportamento, adaptá-lo, esconder os verdadeiros sentimentos e palavras. Estamos presos ao arcabouço social moderador, amordaçados da nossa espontaneidade, em nome de uma convivência supostamente harmoniosa. Mas isso, nem sempre se traduz em bem-estar. Criar a liberdade da nossa própria personalidade, estar confortáveis com ela, e consolidá-la aos olhos dos outros e do mundo, faz parte da nossa aprendizagem. Imagem, moda, estruturas, protótipos, regras, parecem estar acima do exercício da individualidade. Para ''ser'' é preciso parecer, para “fazer parte”, seguir tendencias e normas impostas por quem seja. A Psicanálise nos mostra, que um ser humano “sozinho, isolado” não existe, para se identificar com pessoas e ideias, tem necessariamente que ser sinônimo de cópia, o que considero utópico. O que está em jogo aqui, é, como sermos nós próprios, implementar, nossos gostos, anseios, compromissos, etc. Freud afirmava, que; se duas pessoas pensam da mesma maneira, uma delas está submetida à outra. Como poderíamos minimizar essas mazelas?. Entendo que o primeiro passo para ser aceito e bem-visto, sem usar de artifícios, é considerar-se a si próprio(a). Nossa autoestima, se eleva automaticamente se estivermos à vontade com o que fazemos e queremos, colocando amor, dedicação e carinho nas coisas, obras, realizações e afazeres aos quais nos dedicamos. A diferença do que se pensa tradicionalmente, autoestima não é se ver, sentir-se bem frente ao espelho, é detectar que nossa vida funciona de fato, que venha ao encontro do lugar que a desejamos funcional.  A hipocrisia pode manifestar-se de muitas formas, pode ser difícil de detectar, se não conhecermos bem o indivíduo. As consequências de ser alguém hipócrita, mentirosa(o), falso(a), podem ser graves, tanto a médio, quanto a longo prazo, uma vez que dito comportamento pode levar a um declínio de saúde física, emocional e psíquica. Quando implementamos conjuntamente dois mecanismos opostos, contrários para cada comportamento, vontade, querer, aspiração, interesse, nossa energia e força serão afetadas, sugando e declinando como seres humanos. A hipocrisia existe também na forma inconsciente, podemos ter atitudes hipócritas sem nos apercebermos; Detectando hipócritas; 1. Realiza críticas excessivas ao comportamento dos outros: raramente se colocam no lugar do outro ou sentem empatia. 2. São exigentes com os outros, sem dar nada em troca, exigindo que façam determinadas coisas que eles não fariam. 3. São complacentes, quanto mais demonstram o seu desejo de parecer alinhados. Não há nada mais importante para eles do que ganhar a simpatia e confiança dos outros, se comportando dissimuladamente. 4. Tendem a ser superficiais, onde tudo é tratado com uma máscara para manipular o outro. Por isso, é normal terem o hábito de se fixarem muito na sua própria imagem, aparência e objetivos. 5. Sentem-se superiores, pelo que desenvolvem um sentimento de superioridade moral, acreditando serem melhores porque denunciam e apontam comportamentos errados de pessoas próximas. 6. São emotivos, quando precisam de um favor criam uma falsa proximidade. Em todos os outros momentos, pouco se importam em estar em contato com outros. 7. Estão ausentes em tempos de crise e dificuldades, como têm pouco interesse em estar perto das pessoas, não é de estranhar que quando os seus amigos estão em apuros, não apareçam para ajudar. No processo analítico há sempre uma tentativa incansável do dizer, embora permaneça sempre um resíduo daquilo que não podemos expressar e comunicar, do que, talvez, seja meu impossível de manifestar e revelar para mim mesmo. A palavra, é de alguma forma movida por esta tentativa improvável de articular o lugar da minha genuinidade, das possibilidades e impossibilidades. Isto, certamente, tem um recinto, nas fantasias, líbidos, lascívias e volúpias. A Psicanálise prova, que é possível viver toda uma vida enganada(o), ignorando, recalcando e frustrando a própria naturalização da verdade que o desejo implica, ou então, aceitar o desafio de analisar plenamente a nossa vida sob o espectro da franqueza. Ao poema; Hipocrisia Deixa cair o véu que é teu disfarce; Revela para o mundo os teus segredos; Não deixes de sonhar, ainda é tão cedo, E há muito o que viver quando o Sol nasce! Atira o corpo ao tempo e vai, sem medo; Sinta o vento beijando a tua face, Envolvendo teu corpo em doce enlace Feito raios de Sol entre arvoredos! Viva na vida um sonho a cada dia Pois que sonhar é dádiva divina, É poder que a razão se não nos tira... Deixa cair o véu da hipocrisia Que a vida é uma centelha pequenina No abismo em que o destino nos atira! Ciro Di Verbena Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

  • A Violência.

    A perseverança é mais eficaz do que a violência, e muitas coisas que, quando reunidas, são invencíveis, cedem a quem as enfrenta um pouco de cada vez. Plutarco Por Dan Mena. Freud explica que há duas forças internas: a que quer preservar a vida e criar a pulsão erótica e sexual, e, por outro lado, a que cogita destruir e matar, assinada como pulsão destrutiva.  “Ambas, são igualmente indispensáveis, pois a partir de sua ação combinada ou antagônicas que os fenômenos da vida acontecem”. A ocorrência que nos acompanha, aflige a humanidade ao longo de sua história, tal se tornou um relato das atrocidades e manifestações brutais que se sucederam ao longo da nossa evolução e existência. Qualquer época que observemos, está imersa em sangue, guerras, holocausto, perseguições religiosas, ataques, crimes, torturas, aniquilações, homicídios e crueldades. Esses traços, existem como uma narrativa verídica, histórica e primitiva. Embora sabemos, não ser uma estrutura biológica, porque tanto a psicose quanto a violência, podem ser verificadas na linguagem do universo simbólico, comum a toda a humanidade. Nossa inscrição nesse âmbito, se dá pela cultura, é violenta, enquanto também nos e imposta. Nesse sentido, é fundamental do ser e não pode ser eliminada. Quando surgimos, chegamos à vida, recebemos nomes, família que não escolhemos, batizados em religiões sem ter optado, incluídos em determinadas nacionalidades e tradições, assim por diante. Isso significa, que em nossa origem, somos atravessados(as) pela imposição, seja por meio de palavras ou pelo que o “Outro” realiza em nome do que seria nosso próprio bem. Podemos logo afirmar, que ditas concepções originais do nosso aparecimento como sujeitos, não se dá sem angústia. A visão Psicanalítica; Algo sensivelmente implicado é o gozo, intimamente relacionado ao ódio, essa paixão indestrutível e presente no inconsciente. Ele produz uma grande satisfação, mas que é nociva, visto que pode levar à aniquilação do próprio sujeito. Esse entusiasmo, incluído no ódio, está intimamente relacionado ao ego e às formações narcísicas, que determinam o que é próprio, e o que seria alheio. Ditos impulsos que nos habitam, geralmente encontram satisfação em causar danos e impor sofrimento ao próximo. Em seu livro "Unrest in Culture", Freud adverte: “A verdade oculta por trás de tudo isso, que negaríamos de bom grado, é que o homem não é uma criatura fofa, que precisa apenas de amor, que só ousaria se defender se fosse atacado, mas, ao contrário, é um ser, cujas disposições instintivas, também devem incluir uma boa dose de agressividade”. Observemos então, que dita ação, na prática, encontra seu objeto eixo precisamente naquele mais próximo, no vizinho, semelhante, no par, na família e amigos. Aqui devo anotar, que grande parte dessa fúria em relação ao “Outro”, é o ódio direcionado contra si. Desde tempos muito antigos, a ideia de força física e poder estão interligados. Os romanos chamavam de "vīs" essa energia, ou vigor, que permite que a vontade de uma pessoa se imponha sobre o querer e anelo da outra. “Vis tempestatis”, é o termo para associar essa palavra, como a “força de uma tempestade”. Foi assentada como aquela tensão agressiva que caracteriza todo vínculo com o outro. Lacan a conceitualiza, á partir de sua manifestação como pretensão agressiva no sujeito. Quando dize; “A intenção é expressa em palavras. Fala-se, desde que a palavra seja considerada eficaz, caso contrário, recorre-se ao ato. É um produto da evolução cultural, em que o indivíduo é moldado pelo aprendizado e pelo manejo de hábitos violentos. Não é uma doença. Portanto, para ser revertida, se faz necessária uma transformação cultural e educacional”. Qual é a diferença entre agressividade e violência? Na literatura científica, a violência é definida como o ato cometido com a intenção de causar dano físico a alguém ou a alguma coisa, enquanto a agressividade é concebida como um comportamento, com a intenção de prejudicar física ou psicologicamente. Já a violência, quando expressa em agressividade, é uma tentativa inconsciente de esconder nossas vulnerabilidades, defeitos e fraquezas. Gritar não é ser sincero, é um patamar baixo da linguagem. Falar tudo que der na cabeça com agressividade, não é ser autêntico, senão, descontrolado(a) emocional e suplementarmente. O que há por trás de uma pessoa agressiva? A manifestação da agressividade em uma pessoa é consequência de sua própria frustração ou da interpretação do que lhe aconteceu na sua caminhada, entendida como algo negativo. A intensidade dessa emoção, pode variar de irritação a raiva, seguida de hostilidade, culminando em uma emoção mais intensa, como raiva, ira ou fúria. Também devo falar, das forças motrizes opostas, as quais são parcialmente coordenadas na maioria das funções vitais, fora outras, que se opõem e lutam entre si. Freud, chamou essas duas forças de vida e morte. Para ele, a inclinação agressiva, “é uma disposição pulsional autônoma, originada no ser humano”, e a cultura, encontra nela sua fonte, onde acha seu obstáculo mais importante e poderoso. A cultura, é um processo a serviço de Eros, que visa unir e entrelaçar indivíduos apartados e isolados, para formar o que chamamos contemporaneamente de humanidade. Esse contraste com a pulsão de morte, busca a dissolução desses laços. Por sua vez, a destrutividade do ser humano, como uma expressão da pulsão de morte e voltada para o exterior. Esse é o cenário ideal, no qual ocorre e se desenvolve a luta entre Eros e Thanatos. "Ela está inscrita nos diferentes modos de expressão do ódio, que vão desde a rejeição do outro até sua destruição" (Tendlarz). Em “O porquê da guerra” de Freud, ele destaca, que a pulsão de morte não pode estar ausente de nenhum processo, ela confronta permanentemente Eros, com suas pulsões de vida. Cada uma delas é tão indispensável quanto a outra. “A ação eficaz, combinada e contraposta de ambas, é o que possibilita explicar os fenômenos da vida” (Freud).  Dou aqui uma explicação sobre o significado de Eros e Thanatos; (Da mitologia grega e romana; Freud se apropria dos nomes de Eros e Thanatos, para exemplificar as teorias das pulsões humanas, que explicam a formação psíquica de todos os indivíduos. Eros e Thanatos, correspondem ao desejo erótico e a atração pela morte, onde coexistem simultaneamente). Thánatos, “morte”), também referido como Tânatos, era a personificação da morte. Conhecido por ter o coração de ferro e as entranhas de bronze. Tânatos era filho de Nix, a noite, e Érebo, a noite eterna do Hades. Eros é apresentado nas mitologias grega e romana, em ambas, é considerado o Deus do Amor. Em representações ilustrativas, esta divindade aparece com asas, arco e flecha ou, algumas vezes, com um coração flechado. Vemos, portanto, que ditas pulsões apresentadas estão presentes concomitantemente nas diferentes atividades da nossa vida, sendo difícil identificá-las em seu estado original. Destarte, pulsões de vida sejam mais evidentes, ao contrário das de morte, que apresentam uma presença silenciosa, ao estarem sempre ligadas a uma certa extensão da outra, que modificam seus objetivos ou permitem que sejam alcançados. Por exemplo; às pulsões de preservação da vida, de natureza erótica, precisam ter agressividade para alcançar suas realizações. Embora a pulsão de morte, nem sempre venha acompanhada de fins benéficos, aparece como uma representante das forças de ruptura e fragmentação. Se tornam barreiras para o desenvolvimento cultural, “ela” trabalha dentro de todo ser vivo e se esforça para produzir sua decomposição, para trazer a vida de volta ao estado de matéria inanimada. Esses elementos, funcionam tanto no ser, quanto orientados para o exterior e seus objetos. A correlação de impulsos, também está presente nos vínculos sociais que formamos, razão pela qual, os agressivos, acompanham todas as junções, mesmo aqueles representados pelo amor e seus afetos, sendo difícil de renunciar a eles devido ao desprazer que nos provocam. Sob essa observação, Freud escreve: “O ser humano não é um ser manso e gentil, no máximo capaz de se defender se for atacado, mas é lícito atribuir à sua dotação pulsional uma boa dose de agressividade'”. Consequentemente, o outro não é apenas um possível objeto auxiliar e sexual, mas a tentação de satisfazer a agressividade nele composta; capaz de explorar a força de trabalho, sem pagamento, de usar o outro sexualmente, sem seu consentimento, de tirar seu patrimônio, sem esforço, de humilhá-lo(a), para produzir dor, martirizar e assassinar. Nesta linha, Lacan acrescenta; Essa relação erótica na qual o indivíduo humano se fixa em uma imagem que o aliena de si, onde tal é a energia e forma dessa organização apaixonada, que ele chamará de seu "eu", onde tem sua origem. Essa forma se estaciona, com efeito, na tensão conflitual interna do sujeito, que determina o despertar de seu desejo pelo objeto do desejo do “Outro”: aqui, onde a disputa primordial se precipita em uma competição agressiva, e dela nasce a tríade do outro, do ego e do objeto. Esse plano imaginário, no qual o ego se constitui, tem sua própria lógica, a da ausência de diferenças, encobrindo assim qualquer possibilidade de castração, de modo, que nessa relação narcísica há uma impossibilidade de aceitar ou assimilar, o diferente, estranho e (imperfeito). O ego imprime sua imagem na realidade, constrói o mundo à sua visão, num modelo de identificação narcísica (identificação narcisista é a forma de reconhecimento após o abandono ou a perda de um objeto. Essa experiência de perda começa na juventude), que determina a estrutura formal do ego, do homem e do registro de entidades características de seu mundo" (Lacan). Projetamos nossos próprios atributos de espaço, nós apropriamos do que confirmamos, e excluímos o que nos ameaça como uma estrutura narcísica, daquilo que é o “completo”, o improvável "perfeito". Esse valor, incentivado pelo objeto imaginário, deslumbra e aumenta a inveja, sua principal atração como aquele que encampa sob uma ilusão o desejo do outro, sem deixar resíduos. Essa sensação de plenitude, típica do eu ideal, e atacada quando o outro aparece com suas características imaginárias de perfeição. Na lógica fictícia, não há lugar para dois, é um ou outro, e assim, a agressividade típica dessa dimensão é um gatilho acionado pela ameaça da falta e ausência. Esse outro, que parece ser realizado e pleno, leva ao desejo de destruição, já que nele há um componente onde se percebe a própria e falsa virtude de completude, mas como algo estranho ao eu. Tal agressividade fantasiosa, ataca a integridade da imagem ideal, onde surge o desejo de aniquilar o oponente, para ficar com tudo. Colocada como aquela tensão que caracteriza todo vínculo com o outro, Lacan conceitua, partindo da sua manifestação, como uma intenção sempre agressiva no sujeito. "A intenção é expressa em palavras. Fala-se, desde que a palavra seja considerada eficaz, caso contrário, recorre-se ao ato. O ato ocorre quando a palavra cai, e se esgotam suas possibilidades" A psicanálise, como ética do desejo e não da pulsão, nos convida a refletir sobre o ciclo e tempo que estamos vivendo. Somos incitados a pensar, debruçarmos em como nos deixamos levar por uma cultura de pura satisfação, imediatismo, urgência e hedonismo, e não do desejo. Assim, em vez de pensar no sujeito como um ser social tende a nos destruir, é por força das suas consequências, todos os laços sociais que a compõem. Temos, portanto, de falar sobre o valor da esperança e do amor. Porque será pelas suas vias que nos permitiremos cumprir a função de vigiar essa falta. O amor cuida da ausência, que a apesar da inexistência de um objeto adequado para a satisfação do desejo, pode conciliar um encontro possível a qualquer momento. O vínculo social, o par, o parceiro(a), o amigo(a), o outro, nos salvam do processo de negação, fornecem companhia, nos tiram da solidão, do trauma e da exclusão, desativando o desejo de morte e restabelecendo o valor da existência. A psicanálise é realizada de forma pessoal com o psicanalista, a grande maioria das pessoas não tem acesso a esse tipo de ajuda. Ela nos permite adentrar a algumas diretrizes importantes, guiar o sujeito para entender a origem dessa paixão violenta e sombria. Nosso propósito clínico ideal, é sempre restaurar ao nível da consciência tudo o que descartamos, negamos ou rejeitamos. Ainda mais preocupante no meu entendimento, que a violência seja exercida silenciosamente contra aqueles que, por sua condição indefesa, estão mais expostos; sejam bebês, crianças, adolescentes, mulheres, idosos, doentes, que por vezes, não podem reagir ou enfrentar em pé de igualdade. É necessário serem oferecidos espaços e condições para a reabilitação psíquica, dando uma oportunidade para aqueles acometidos por esse desequilíbrio emocional. A terapia, é uma justa restituição de direitos do ser, especialmente, em uma sociedade que defendo, deve se esforçar em deixar para trás o sofrimento que instiga a violência. Que avance definitivamente em direção a uma cultura mais humanizada e democrática. Não posso deixar de mencionar que o tema possui centenas de desdobramentos específicos, que precisam ser tratados individualmente. Por exemplo; Violência autodirigida: que inclui pensamentos e atos suicidas, além de tentativas de automutilação; Violência interpessoal: envolve a violência no eixo familiar e também na comunidade em geral, entre pessoas que podem se conhecer ou não; Violência coletiva: que pode ser subdividida em violência social, política e econômica. Os atos estão relacionados a ações terroristas, guerras e ataques, que geram fragmentação econômica e social. Vamos ao poema da semana; Sabedoria da Não Violência. A vida verdadeira é como a água: Em silêncio se adapta ao nível inferior Que os homens desprezam. Não se opõe a nada, Serve a tudo. Não exige nada, Porque sua origem é da fonte imortal. O homem realizado não tem desejos de dentro, Nem tem exigências de fora. Ele é prestativo em se dar E sincero em falar, Suave no conduzir, Poderoso no agir. Age com serenidade. Por isto é incontaminável. Lao-Tsé Por Dan Mena, até a próxima. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

  • Amor e Obsessão.

    Amor y Obsessão. “Se amamos, sofremos. Senão amamos, adoecemos” Freud. Por Dan Mena. Quando me aprofundo no tema do artigo de hoje, minha admiração e paixão pelo trabalho do nosso querido mestre se expande. Como dito em outras oportunidades, o ponto de partida da psicanálise são os processos psíquicos inconscientes, cujas peculiaridades são evidenciadas através da análise. Assim, tais sistemas psíquicos primários, são regidos pelo princípio do prazer e do desprazer. Aqui, Freud, estabelece que estes processos originais visam a obtenção de satisfação, e que dos atos que podem suscitar desprazer, a atividade psíquica é retirada como repressão. É claro, que não devemos ser regidos absolutamente pelo seu princípio, negligenciando a realidade que nos rodeia do mundo externo. Já se vê, que ele é sempre um dualista, que recorre a conceitos antagônicos, como consciente e inconsciente, exterior e interior, prazer e desprazer, vida e morte. Tais duplicidades confirmadas na clínica, em vez de se contradizer, se complementam. No artigo de hoje, amor e obsessão, vamos juntos descobrir reveladas dualidades e suas particularidades. Boa leitura. Em nenhum outro lugar, a omnipotência do amor se manifesta com mais força, condição onde a sexualidade e colocada como sublime, e, ao mesmo tempo, como infeliz e catastrófica, aparecendo em todos os lugares da dependência íntima do ser. Nosso vínculo amoroso, e na realidade a geração de um espaço, onde todas as possibilidades imaginativas, inovadoras, engenhosas, férteis e conflituosas são observadas. Á partir delas, surge uma relação de complementaridade que podem nos conduzir a abandonar o círculo vicioso do narcisismo, transformando, a necessidade de satisfação pulsional em amor. Freud descreveu este processo em “Introdução ao narcisismo de (1914)”, dizendo: “Um forte egoísmo nos protege contra o adoecimento, mas no fim, é preciso começar a amar para não adoecer, e dita força de fato nos adoecerá, se por frustração não pudermos amar”. O amor, com seu hermetismo obscuro, pode prejudicar a visão perfeita e o ideal que dele projetamos. Obvio, que o mesmo não pode tudo, não é a única coisa necessária para nossa sobrevivência, mas, nem sempre estará apto a ser correspondido, e não virá necessariamente acompanhado de garantias, portanto, não significa completude. Nem mesmo o amor de mãe, que parece para a maioria ser um amor incondicional e suficiente. Destarte, é através dele que surge o desejo de vida, mas também, por sua experiência que poderemos assimilar e conceber nossa própria incapacidade de sermos imponderáveis na questão da nossa falta. Procuramos por aquilo que nos completa exteriormente, projetamos o ideal de completude no ''Outro'', para depois nos apercebermos que eles também não são completos, nem irrepreensíveis, principalmente, não podem dar o que não tem. Assim, parece que estamos presos a um eixo sequencial repetitivo, que nos empareda desde que surgimos como sujeitos. Bom dizer, (o sujeito, para a psicanálise, é aquele que se constitui na relação com o Outro, através da linguagem. É em referência a essa ordem simbólica, que se pode falar em sujeito e subjetividade a partir de Freud, em especial após a produção teórica de Lacan. O amor, entendido a partir da psicanálise, está ligado o ego do sujeito, que se coloca como objeto de amor, mediante uma idealização do próprio ego, que está ligado ao narcisismo universal de cada um dos sujeitos. Então?;  O que é o amor para Lacan?  Ele diz; ''O amor é a ilusão de fazer de dois, um só''. Diz também; que ele surge quando o outro ocupa um lugar essencial na própria falta. Diante da perda de um amor verdadeiro, a dor e o sofrimento estarão presentes, porque a ausência subsiste, da forma mais tocante, rude e áspera. O nome do sofrer por amor. A Limerência, é um estado cognitivo e emocional involuntário, resultante de um desejo romântico por outra pessoa (objeto da limerência), marcado por uma intensa e obsessiva necessidade de se ter o tal sentimento, absolutamente correspondido. Como uma existência psicológica, no qual a pessoa sente uma verdadeira obsessão pelo ser amado. É um estado cognitivo, afetivo e emocional involuntário. Seria, então, o estado inicial pelo qual atravessamos ao encontrar o amor, tipo aquela sensação maravilhosa que damos metaforicamente o nome de; estar no céu. Essa idealização do outro, assistida por uma alegria incompreensível, da sua companhia, são sintomas incontestáveis de limerência. A ausência de amor, implica muitas vezes em sofrimento, precisamente, essa maneira extrema de amar, que nos afunila para uma provável aflição. O amor, é um sentimento deslumbrante, magnífico e extraordinário, por ele, podemos mover montanhas, paralelamente, como fenômeno obsessivo em sua carga potencial ficamos expostos. É então, que falamos de limerência como mazela do amor, ela que nos afeta, sem nosso consentimento racional, e pode tornar-se um dissabor, que nega a possibilidade de aproveitar e curtir as benesses de amar e ser amado(a). A identificamos, quando a paixão se torna uma obcecação, como consequência de uma, atracão por alguém, associada a uma necessidade ansiosa de ser atendida. Clinicamente, podemos conectá-la a uma perturbação obsessivo-compulsiva, por se tratar de um estado inconsciente, estabelecido por atos, pensamentos e comportamentos intrusivos, notórios pela angústia e exasperação que irradiam. Suplementarmente dotada de medo, a rejeição e contornos emocionais negativos. Seu significado O termo limerência foi impresso contemporaneamente pela psicóloga Dorothy Tennov, no livro; ''Love and Limerence'' - The experience of being in love — ''A experiência de estar apaixonado'', onde apresenta suas descobertas sobre o amor romântico, após a realização de pesquisas e entrevistas com centenas de pessoas. Sua teoria trata o assunto além da paixão, da dependência do outro, adaptação aos gostos e o abandono de particulares aspectos da sua vida. Diferenças entre amor e obsessão. As diferenças entre amor e obsessão são muitas, parecem ser nitidamente compreensíveis, destarte, possam ser confundidos nas primeiras percepções. Como conformação de amor de fixação, inicia como uma paixão, mas, se manifesta na prática diária como um verdadeiro quebra-cabeça problemático. Assim, são muitos os que fazem críticas a Dorothy Tennov, no sentido que entendem que amor e limerência, como conceitos permutáveis, não pertencem um ao conjunto do outro. Tais opositores, fazem ou alegam uma separação clara entre ambos conceitos, onde tal entra como uma condição involuntária, necessariamente prejudicial. Ainda, defendem que o amor e a limerência podem sim ser embaraçados, difusos nas fases iniciais de uma relação, mas que ao passar do tempo, apresentariam perfis completamente dissemelhantes. No amor e na paixão, vivenciamos afetos e adaptações, tudo em nome de um laço estável e comprometido, embora possa descambar para condutas e atitudes desfavoráveis, como manias, perseguição, controle, ciumes desmedidos, enquanto no amor positivo, tudo flui para o bem positivamente. Na obstinação passional, coexiste uma conjuntura imaginária, que não corresponde à realidade, gerando conflitos negativos para a relação. Aqui podemos convocar um exemplo clássico da literatura, Romeu e Julieta, uma tragédia do escritor inglês Willian Shakespeare (1564 – 1616), escrita no final do século XVI. A obra de dramaturgia, relata a história de amor, onde ambos preferem morrer a separar-se. Muito interessante, que de obras do século XVI, possamos ter um exemplo ideal para ilustrar o hoje. Vejamos quais características acompanham os pensamentos obsessivos; Provocam a reavaliar atos e atitudes do passado, não para ser superados, mas para remoer culpas; Levam a um julgamento autocrítico, suscitando sentimentos de vergonha e baixa autoestima; Não desejam ou implicam inovações, ou soluções, senão acrescentar preocupações; São irracionais e de lógica duvidosa; Se implantam complexamente, sendo difícil substituí-los por outro assunto; São inoportunos, nos visitam antes de acordar, em momentos de alegria ou durante uma conversa; São diários e recorrentes no assunto, martelam; Querem e assumem o controle da psique, perturbando o foco e a concentração; Trazem interpretações ansiosas e angustiantes, que se validam na mente como cada vez mais reais; Resultam em impulsos repetitivos, como estrategia para silenciar temporariamente a ansiedade da obsessão; Geram medo e desconforto, nos fazem evitar lugares, objetos e situações, para se protegerem das consequências calamitosas da fantasia; Entre outros. ''O amor nos auxilia a analisar sobre uma perspectiva ampla e diferente, desta forma, podemos pensar um pouco mais. Já a paixão, pode ser curta, surda, cega, insensível e muda. Durante a convivência com esses impulsos biológicos, afetivos e emocionais, não existe trânsito para às descargas mentais se manifestarem. Ficando atentos quanto ao laço constituído, os sentimentos verdadeiros e factuais vencerão. Eles podem ser facilmente explicados e avaliados, usando de uma boa comunicação, alicerçada na experiência, no conhecimento e carinho recíproco''. Dan Mena. Sintomas da limerência As pessoas que sofrem de solidão podem desenvolver uma série de sintomas psicológicos e físicos. Por um lado, o desejo de que o sentimento de amor seja correspondido leva-as(os) a ter constantes pensamentos intrusivos, concentrando toda a sua atenção na pessoa que recebe a obsessão, esquecendo-se de si próprias. Este estado, pode provocar altos e baixos emocionais e instabilidade emocional, baixa autoestima, sentimentos de êxtase ou timidez quando o alvo responde a algum dos estímulos, podem surgir sintomas de raiva, ira, vergonha e depressão, quando rejeitados(as). Além disso, criam estrategias para atrair a sua atenção, mantêm um contato vigilante e constante, visando controlar todos os movimentos e reações da outra parte, chegando a interpretá-las exageradamente. Qualquer pequeno sinal, é motivo de ação por parte da pessoa responsável, e pode levar em casos muito extremos à manipulação e assédio. De fato, pessoas que sofrem desta obsessão, podem colocar seu desequilíbrio acima de qualquer outro ponto de vida. A limerência, provoca sintomas evidentes também na esfera pessoal, como o isolamento, baixa produtividade no trabalho, falta de concentração e um estado de ansiedade constante devido à incerteza. Os sintomas físicos podem ser os seguintes; Nervosismo intestinal; Problemas de apetite e náuseas; Insônias e pesadelos; Ansiedade, ataques de pânico; Depressão e angústia; Taquicardia; Elevada sensibilidade e afeto em relação à proximidade da pessoa; Gaguez e timidez; Suores e tremores. O amor saudável é um sentimento da espécie e da reprodução, sem ele, ninguém toleraria o diverso. Ele implica incluir o outro, vê-lo como ele(a) é, ouvi-lo(a), e aceitar, em determinadas margens, suas características e traços pessoais, como suas manias, virtudes e atributos. Estar apaixonado é essencial para a vida, precede como uma janela, ocasionalmente um amor muito poderoso. Nele podemos encontrar a pura energia sexual, que amplifica essa possibilidade e une duas pessoas, mesmo que seja à distância. Tal sua potência, que podemos cair na armadilha ilusória de que se é um só. Assim, é como se as fronteiras se atenuassem diante do laço, da união. Por isso, a separação de contextos é muito importante para aprender a mensurar o espaço necessário do outro. Temos de enxergar que o (homem-mulher) não vivem só de amor, é crucial separar-se, desprender-se, para ficar junto. Se o amor vem para unir, será imprescindível também aprender sobre essa divisão, para trabalhar, sair com os(as) amigos(as), para ir ao clube, a manicure, etc. Depois, voltar ao vínculo, como um exercício que se une e se separa, de tal forma que é necessário trabalhar para continuar e, talvez, para construir um amor, quem sabe para toda a vida.   É capital distinguir a divisão entre amor e obsessão, para os quais é aconselhável uma terapia psicanalítica, que pode pontuar o bom funcionamento da relação. A intervenção de um terceiro, como um terapeuta, ajuda no saber de perspectivas individuais, discutir ângulos diversos e alheios do outro. Porque para haver dois, tem de constar um terceiro que os separe, que lhes mostre o que é ser duas pessoas. Amar é falar, e poder expressar e dizer ao semelhante palavras importantes e necessárias em determinados momentos. ''O afeiçoamento é produção, não, é algo que um tem e o outro não, e antes que um afeto, um amor, uma doação. Se estrutura na própria relação, é algo novo, que não existia antes; por isso, deve se contemplar com tolerância, coexistir com sua incerteza, ser partícipe e apoiá-lo, como contínua construção''. Dan Mena. Elaborar um projeto de vida, de trabalho, ter uma estratégia, objetivos, cientes que isso mudará, vai se transformar com o passar do tempo. Uma pessoa que não consegue sair da visão egocentrista, será sempre vista(o) como alguém deprimido(a), doente, estagnado(a), que pode mesmo caminhar para a perda do desejo de viver, tornando-se um fator que tende de pôr fim a vida. A existência humana não tem sentido sem a impossível e indefinida esperança da busca da felicidade, não sem sonhos, sem ideais, com uniões e compartilhamento. “Quem ama, se torna humilde. Aqueles que amam, para dizer isso de alguma forma, renunciam a uma parte do seu narcisismo” Freud. Então, questiono… não deveriam estas frases, minhas ou dos ilustres mestres, nos fazer pensar e refletir quanto a nossas dificuldades e incapacidades para amar assertivamente? Nascem de um desvio psíquico ou são o resultado do nosso egoismo? Creio seja uma árdua tarefa amarmos, se estivermos obsessivamente comprometidos, nutrindo um ideal irreal e imaginário do Outro. Sobretudo, será improvável olharmos para o oposto se, por exemplo; focarmos excessivamente no trabalho, mas, sem ter ninguém com quem partilhar o fruto desse ganho, ou estar desmedidamente preocupada(o) em encontrar a mulher ou homem ideal, aquele(a) irrepreensível, impecável, perfeito(a) e que nunca encontrarei. A teoria freudiana vai ainda mais longe do que o princípio do prazer, suas indagações vão além. Onde começa e termina o exterior? Tem limites nossa vida interior? É o desprazer que dá origem ao prazer? Será que supostas facilidades da nossa época, nos oferecem oportunidades naturais de nos subtrairmos da virtualidade? Os pacientes, e aqueles que lutam contra o exagero sentimental, deveriam, além de identificar os padrões comportamentais destrutivos, trabalhar o objetivo principal, que se concretiza pela transformação em formas saudáveis de pensamento sobre si e dos outros. Deduzo, que o ser humano, enquanto sofrer com sua realidade imaginária, certamente, encontrará sempre uma forma de argumentar para se abstrair dela, somos ótimos nisso. Dita conduta está além desta época, da nossa condição, utilizaremos o que tiver à mão para enfrentar de costas o sofrimento. Recorrer como método, à livre associação de ideias, (técnica psicanalítica), nos permite descobrir às verdadeiras e profundas razões dos desconfortos que nos envolvem e circundam. Até a próxima! Passemos ao poema; Longe de ti! Não sinto o meu pulsar, Não há ar que entre, os meus pulmões, querem parar! Já não têm razão para trabalhar! Como se fosses a minha energia para neste vida estar, Longe de ti Amor... não quero ficar... Longe de ti! O Sol se esconde por entre o algodão que no céu paira, A Lua já não espelha como antes brilhara, A coruja já não aparece, já se esquece a noite que passara, Todos entristecem por ti! Que antes nos encantara! O espírito contente, que a melodia agora melancolia instalara... Longe de ti! Recuso-me a ficar! Prefiro mil mundos descobrir, investigar, Ser presa, roubar ou até matar! Talvez adoecer na esperança de tu meu Amor, não ires e quereres ficar... Aperceberes-te que é a mim e só a mim que vais eternamente amar! Longe de ti! Ah! Meu doce pecado! Amarro correntes no meu pescoço, enforco o coração apaixonado! Pois só assim me libertarei deste estado! Um louco demente e doido desenfreado... Longe de ti não fico, pertencerei sempre ao teu passado! Ghost Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

  • A Consciência.

    ''Não é apenas a razão, mas também a nossa consciência, que está submetida ao nosso instinto mais forte, ao tirano que habita em nós''. Nietzsche — Por Dan Mena. Para iniciarmos este artigo, entrando para o universo consciente, convoco Freud, que assegura que é próprio do indivíduo ter a sensação de permanência e coesão do eu, onde se apresenta à consciência “como algo independente'', unitário, bem delimitado frente a tudo o mais”. No entanto, esta percepção seria falsa, pois o Ego, tem uma parte enraizada no id, portanto, inconsciente. Os contornos do eu, estão bem demarcados em relação ao não eu, mas, existem situações em que esses limites se diluem, se tornam dúbios, incertos e imperfeitos, como, por exemplo; em certos estados patológicos ou relacionamentos, quando partes do próprio corpo e elementos psíquicos se apresentam confusos, não sendo fácil determinar a quem pertencem, se ao ''eu'' ou ao ''objeto''. Se supõe, que ela capte os estímulos internos, como se fossem externos, sob a forma de representações verbais, pois a palavra é o traço mnemônico, (mnemônico, é um conjunto de técnicas utilizadas para auxiliar o processo de memorização), da palavra ouvida. Portanto, mais que um tema, a consciência nos permite vivenciar, experimentar e compreender aspectos ou a totalidade de nossa existência, do mundo em que vivemos… vamos adentrar? Sejam bem-vindos e boa leitura. Neste artigo apresento algumas concepções gerais e outras perspectivas, tanto minhas, quanto de Freud e outros autores, sobre a consciência, visando entender como elas se articulam, seja no corpo de sua teoria e da prática tradicional e psicanalítica. A consciência é vista como percepção do mundo exterior, de sentimentos e processos do pré-consciente. Por sua vez, é o resultado da atividade de um sistema específico, o da percepção-consciência. Não é uma propriedade intrínseca de certos sentimentos e pensamentos, pois, não são necessariamente o que parecem ser para o próprio sujeito. A filosofia reduziu o poder da consciência, e a colocou no lugar do inconsciente, bem no âmbito central da nossa vida psíquica. Destarte dita anotação, por vezes, abusamos desta ideia e desvalorizamos a parte consciente, limitando-a. Evidentemente, que esse consciente, não é apenas isso, sabemos que ele é responsável por funções essenciais para o processo terapêutico e o seu sucesso. Reconhecida, entretanto como o elo intermediário entre esses mundos, e pelo comando e manejo da realidade dos processos mentais. Ao mesmo tempo, é responsável por sobrepor recursos de pensamento, logica, meditação, ponderação e raciocínio, entre uma exigência que procede do interior e sua potencial ação. Digamos que de alguma forma, visa diligenciar, na medida das suas limitações e possibilidades o comando das nossas pulsões. Com esta descrição pragmática, que não esgota de forma alguma todas as variantes, torna-se claro, que o Ego, que se apresenta na nossa consulta clínica, chega visivelmente afetado pelas neuroses modernas. Nosso trabalho, será sempre direcionado para o desdobramento de algumas das suas capacidades.  Como podemos explicar a consciência? A consciência é um dos tópicos mais complexos do estudo da fisiologia cerebral contemporânea. Em termos gerais, pode ser definida como a capacidade de um ser humano, “tomar consciência de… qualquer coisa”. Aquilo que um indivíduo, pode constituir como conteúdo psíquico e dos seus estados conscientes. Esta habilidade não é unívoca, (característica do conceito que, aplicado a coisas distintas se mantém com o mesmo significado), mas análoga, (que se pauta em analogias, que há correspondência entre elas). Onde é gerada a consciência? O córtex é a região do cérebro que gera a consciência do ambiente e de si próprio, segundo uma investigação que descreve pela primeira vez os mecanismos neuronais da psique humana. Quais são os tipos de consciência? Individual Social Emocional Temporal Psicológica Moral. O que define a consciência? Conhecimento do certo e do errado, que nos permite fazer juízos morais, sobre a realidade e as ações, especialmente, as próprias, seguindo acompanhadas do sentido moral e ético. O que é a consciência para a psicanálise? A consciência é uma qualidade psíquica especial do conhecimento, que implica um nível elevado de percepção humana em termos de organização mental. Constitui uma experiência subjetiva de recepção exotérica (que prepara o indivíduo para dar respostas inteligentes aos estímulos do ambiente). Para Lacan, não há consciência de si, o sujeito, não é totalmente transparente, ao ser, por definição, alienado, (indivíduos alienados, não têm interesse em ouvir opiniões alheias e apenas se preocupam com o que lhe interessa e seus objetivos). Ele argumenta; que a consciência não evolui da ordem natural, sendo totalmente incontínua, e sua origem estaria mais parecida com a criação do que com a evolução. Mostrou, como a realidade de cada um se constrói como uma montagem simbólica e imaginária, tendo o fantasma, (o fantasma na psicanálise, é o mecanismo de captura do corpo pulsional, (objeto perdido) no laço com o ''Outro'', portador de uma falta/ausência. Já num segundo tempo, Lacan formaliza o papel do ''Outro'' na constituição psíquica, por meio das operações de alienação e de separação, tidas como enquadramento. Em síntese, não é com a realidade que está em causa uma verdadeira franqueza. Freud a identifica em “para além do prazer” e Lacan, na diferenciação entre “realidade” e “real”. É muito significativa dita revelação lacaniana, de que o sujeito não é consciente de si, senão ignorante e inconsistente, submetido ao inconsciente, ou seja, que não há nele o entendimento e transparência total da sua consciência. O inconsciente consciente? Para Freud, tornar o inconsciente consciente, é um ato que nos liberta, porque permite compreender o significado de uma repetição fatigante e espinhosa da nossa vida, aquela, que nos frustra e machuca. É, abrir os olhos do nosso interior, para iniciar uma necessária insurreição pessoal. Só então, pela sua via, seremos capazes de nos curar, de nos desprendermos do que fere, que agride, e nos permite avançar em direção ao que de fato valemos. Conforme sua teoria metapsicológica, a consciência é a função de um sistema, um mecanismo de percepção-consciência, recôndito recinto, onde a existência do inconsciente sinaliza seu emprazamento. Seu local periférico no aparelho psíquico, recebe informações, por exemplo; ideias, memórias, lembranças; emoções, vivências, sensações de prazer-desprazer, provenientes da presença ou ausência de satisfação. Desempenha um papel importante na dinâmica do conflito, evitando o que detestamos, arremessando e separando seu conteúdo para o inconsciente, onde pode recobrar o aprazível e bem-vindo. Ao contrário do pré-consciente, que se esforça para lembrar o que vem do inconsciente, onde há uma barreira de censura entre os expedientes do consciente e pré-consciente. Assim, a consciência, realiza e executa um rol muito significativo, que chamamos de “insight”, (um termo teórico da psicanálise, que pertence à psicologia processual. Não seria à personalística, (teoria personalística ou teoria dos grandes homens, que interpreta que indivíduos escolhidos são únicos, por serem dotados de uma qualidade interna excepcional, permitindo que consigam fazer coisas extraordinárias), pois se refere ao processo mental de tornar consciente o inconsciente), quando o paciente se apropria do discernimento da sua angústia, desejos reprimidos, conflitos, desconsolos, ansiedades e sintomas, dos quais não tinha percepção. E para a psicologia? Sempre foi difícil para psicologia definir o conceito de consciência. Mesmo contemporaneamente, tal ciência não tem meios para estudar algo que não tem matéria, nem qualquer tipo de força ou energia mensurável. A ideia evoluiu com seu desenvolvimento, lado a lado com a neurofisiologia e paralelamente com a filosofia, que insistia no aspecto subjetivo, enquanto outras disciplinas se debruçavam sobre o comportamento e propriedades fisiológicas. Cada área, ofereceu até o momento, suas próprias definições, arbitrárias e consoantes ao seu campo clinico-investigativo. O filósofo David Chalmers, distingue entre o problema fácil, (considerar a consciência como uma capacidade mental, que inclui a concentração da atenção, foco e integração de novas informações) e o problema difícil, (como a ligação física entre neurônios, mediante impulsos elétricos, que constituem a experiência subjetiva, que denomina de consciência). No seu conceito, situa uma ponte, entre a inconsciência e os vários níveis de consciência, consoantes ao grau de inatividade ou de atividade neuronal do cérebro. O estado de vigília, que equivale à própria consciência (autoconsciência), por oposição ao estado fisiológico do sono. Segundo Chalmers, ela garante um processo contínuo de informação e de adaptação entre o nosso ''eu'' subjetivo, o sistema nervoso e o ambiente perceptivo. Além disso, assinala uma frequente distinção entre consciência sensorial primária, (comum no mundo animal), e a consciência de nível superior ou metacognitiva, (estar consciente da nossa consciência), que se imagina ser exclusiva da humanidade. Para a psicologia, a consciência é um estado cognitivo não-abstrato, permitindo que possamos interagir e interpretar os estímulos externos, constituída pelo que chamam de ''realidade''. Uma pessoa que não tenha consciência, tende a se desconectar do concreto, passa a não ter discernimento daquilo que advém do seu entorno. Também é referida; como a excitabilidade do sistema nervoso central aos estímulos externos e internos, do ponto de vista quantitativo, que estaria conectada a capacidade de integração e harmonia dos impulsos; passados e presentes, internos e externos, sob a concepção psíquica. Desenvolvimento da consciência Um provável nascimento da consciência, poderia ser quando abrimos os olhos pela primeira vez e enfrentamos o ambiente, este nosso brotar no mundo, momento em que experimentamos o pessoal, (o nosso eu) e o externo, (o ambiente), como duas naturezas diversas, dissemelhantes, que se afetam reciprocamente. Pouco a pouco, penetramos na nossa própria experiência, quando chegamos a diferenciar o imaginário do real, através da representação mental. Na nossa vigília, selecionamos estímulos ambientais que, através da atenção, serão armazenados na memória. É assim, que a nossa consciência se desenvolve: valorizando o nosso passado, abrindo e assimilando o presente, inserindo emoções, e, gradualmente, construindo a nossa própria identidade. A consciência nos permite criar representações, tropos, metáforas e translações, conceber possibilidades, alargar a nossa existência. Como interpretação da atuação simbólica da realidade, tiramos conclusões, elaboramos e estruturamos novos conhecimentos. A consciência existe na nossa voz interior, na qual indagamos, conjeturamos e realizamos perguntas, por exemplo; por que estamos aqui? Qual seria nossa origem? O que podemos construir? Como criar nossos interesses?, etc. Esse caminho perceptivo, dá sentido às nossas emoções, estimulando nossa compreensão de si, e projetando os ideais de bem-estar, felicidade e conforto. Algumas teorias da consciência, sob a visão de outros autores; Existem muitas teorias quanto a consciência, pregressas em parte, e historicamente vindas de outras. Citarei aquelas que são mais relevantes em distintos campos do conhecimento; Karl Popper, acreditava que a consciência surgiu com a linguagem, devido à necessidade de nos comunicarmos entre nós. É o último instrumento do processo evolutivo do Homo sapiens que o leva a tornar-se consciente de si próprio. Gerald Edelman, defende que a consciência surge como consequência da interação entre grandes grupos de neurônios que se coordenam entre si no cérebro, mantendo ligações contínuas com o corpo e o ambiente. A consciência surge quando o cérebro toma consciência de si próprio. William James, a definiu-a como uma função evolutiva, que encapsula uma sequência de experiências conscientes concretas. Sendo no seu entendimento a capacidade de registar na memória o que estamos vivenciando numa sequência temporal, de modo a podermos prever o futuro. António Damásio, diz; a consciência é um processo gradual, que está associado a uma sequência de três tipos de “eus” e constituem a nossa identidade: 1 — O Proto-Self: trata-se de uma sequência temporal inconsciente e coerente de padrões neurais que simbolizam o estado do nosso corpo momento a momento. É o que nos permite distinguir-nos do meio exterior, (uma faculdade inerente aos seres vivos). 2 — O eu central: temos consciência deste ''eu'', que pode ser ativado por qualquer elemento natural e que sofre pequenas alterações ao longo da vida. Só experimenta o presente, separando o nosso ''eu'' como entidade própria das outras coisas externas que nos afetam. 3 — O eu autobiográfico: é a memória biográfica, constituída por reminiscências implícitas de experiências passadas e também pela previsão de um futuro incerto. Esta memória, nos fornece a consciência de um “eu enriquecido” pelos arquivos da nossa experiência de vida. Michio Kaku, entendeu ser o fruto da evolução, alojada no córtex pré-frontal e ativada quando decidimos, pelo para ser captada temos de estudar o cérebro, é como ele se comporta no espaço-tempo. É a soma dos nossos conhecimentos e das emoções que evoluíram ao longo de milhares de anos. Peter Gardenfors, a vê como a linguagem, a última etapa do processo que conduz à consciência humana. Para ele, primeiro foram as sensações, depois a atenção, emoções, memória, pensamentos e o planejamento, o eu, o livre arbítrio, por fim, a linguagem. Joseph LeDoux, define a consciência como o conhecimento do que está na “memória de trabalho”, uma anamnese que contém representações mentais na forma de episódios que se manifestam no hoje. Para nos apercebermos de algo, esse algo, tem de ser representado mentalmente, depois relacionado com a representação mental do que estamos experimentando. Suzanne O'Sullivan, a apresenta como uma totalidade, composta por vários estados: atenção, percepção e memória. É a capacidade de escolher seletivamente a nossa experiência mental. A atenção seleciona algo, depois a percepção a identifica subjetivamente, em segundo plano nossas crenças memorizadas. O trabalho Verifico que meus pacientes sempre pensam que sabem o motivo do que lhes acontece, mas, apesar de se esforçarem livremente, não conseguem resolver o problema sozinhos, porque lhes são impostos(as), pensamentos que consideram insuportáveis, que vão contra suas próprias crenças. Sofrem, porque repetem os mesmos ciclos angustiantes, sentem, haver algo que escapa ao seu controle. Por vezes, estão perdidos(as), desmotivados(as), outras, cansados(as) e curiosos(as), esperam encontrar uma solução na análise para o seu desconforto. Este quadro inicial da maioria, se caracteriza por um Ego enfraquecido, consumido por conflitos internos, gerados pelas pulsões e exigências egoicas, (egoico; relativo à personalidade, que, no âmbito psíquico, determina a maneira de agir de alguém, partindo de suas próprias experiências que controlam suas vontades e impulsos), que não conseguem decifrar. Esgotados pelos sintomas que carregam e sustentam como parte de si. Sem forças, para enfrentar a realidade psíquica que atravessam, (muitas vezes imperativas), não encontram apoio no mundo real. O ''eu'', está identificado nessa construção, que inconscientemente, ''amam sem saber'', assim, só podem agir a partir da neurose. Quando surge o anseio de confrontação e choque, se mobiliza/m (o/os paciente/s) em várias direções, estimulados a alargar o conhecimento de si. Para isso, proponho um pacto, que, de antemão, sei que será difícil de cumprir com a seriedade exigida: pois devem prometer colocar à disposição todo o material que sua percepção disponibilize, e eu, o meu trabalho, experiência, compromisso, solidariedade e conhecimento, de lhe comunicar o inconsciente, aquele que apreendemos das suas associações, dos fracassos que produzem, dos sonhos que me relatam, é principalmente, tudo aquilo posto na transferência. Tais prerrogativas, permitirão abrir um espaço de interrogação sobre suas vidas afetivas, emotivas, lógicas, familiares, e, assim por diante, pelo que serão cientificados por si, como foram sendo encaminhados pelas veredas das neuroses e neuropatias. Vou encorajá-los a comunicar suas contradições, falarem sobre seus temores, aqueles sim que os horroriza, aterroriza e envergonham. Será como visitar um novo universo em que possam falar de si livremente, num planeta livre, sem julgamentos, com sua total lisura, sinceridade e franqueza. Finalizando, o carácter regressivo da pulsão, será um dos mais difíceis de penetrar e atravessar. Devido à satisfação obtida através dos sintomas e experiencias ao longo dos anos, mesmo que tenham se estabelecido novos modos de comprazimento, a pulsão tenderá a regressar às formas arcaicas, (anteriores), claramente, pela facilitação a qual lhe são familiares. Domar a pulsão, será o objetivo para caminhar em novas direções. O processo é suscetível de parar, estancar ou avançar muito lentamente. Outro obstáculo, é sempre a densidade libidinal, (libido é sinônimo de desejo sexual), quando muito densa, exigirá um grande esforço para a renúncia à satisfação, isso solicitará mais energia para produzir novas formas de prazer. No entanto, com uma libido flexível, deslocada, confrontarão com mais leveza os processos de elaboração, que podem levar a um deslocamento dos sintomas no lugar da sua extinção ou abolição. Conhecendo-se, os pacientes terão de avaliar em que círculos de pensamento devem parar, e em quais circuitos não deverão entrar. Colocando a consciência e vontade no centro da análise, onde estaremos ambos, involucrados no processo. Neste ponto, serão certamente abertos e desvendados os olhos para esse conhecimento completo de si. Que mais podemos esperar da análise? Senão a conscientização. Esse dever moral, de tomar tal decisão voluntária de escapar da neurose, de desejar algo diferente do que se viveu até então, deve trabalhar como uma imposição psíquica do próprio proponente, não só para o seu próprio bem, mas também, para o bem de todos os outros. Ao poema de hoje com Alberto Caeiro; Consciência Dizes-me: tu és mais alguma coisa Que uma pedra ou uma planta. Dizes-me: sentes, pensas e sabes Que pensas e sentes. Então as pedras escrevem versos? Então as plantas têm ideias sobre o mundo? Sim: há diferença. Mas não é a diferença que encontras; Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas: Só me obriga a ser consciente. Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei. Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos. Ter consciência é mais que ter cor? Pode ser e pode não ser. Sei que é diferente apenas. Ninguém pode provar que é mais que só diferente. Sei que a pedra é a real, e que a planta existe. Sei isto porque elas existem. Sei isto porque os meus sentidos me mostram. Sei que sou real também. Sei isto porque os meus sentidos me mostram, Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta. Não sei mais nada. Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos. Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhuma. Mas é que as pedras não são poetas, são pedras; E as plantas são plantas só, e não pensadores. Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto, Como que sou inferior. Mas não digo isso: digo da pedra, «é uma pedra», Digo da planta, «é uma planta», Digo de mim «sou eu». E não digo mais nada. Que mais há a dizer? Dedução; Caeiro acredita, que ter consciência não o obriga a tecer teorias sobre a mesma. Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

  • A Realidade.

    ''Não avistamos as coisas como são, senão como somos; como indivíduos agimos e sofremos a ação, encontrando um limite para nossos desejos, onde usamos de meios para realizá-los, isso é realidade para o sujeito contemporâneo''. Dan Mena. Por Dan Mena. A realidade, em todos os seus aspectos, registros, formas e possibilidades, regem o princípio da existência humana. Não é surpreendente, portanto, que encontremos na busca da sua concepção diferenças de leitura tão distantes uma da outra, onde a subjetividade desempenha seu principal papel. Neste caso, a imaterialidade e a abstração tem um relevante papel nisso. E é, precisamente, porque neste aspecto temos uma realidade diferente dos outros, geralmente baseada em certos princípios simbólicos e particulares, que se constituem como o principal obstáculo à sua verdadeira compreensão. As observações históricas feitas sobre o conceito de realidade provém da Grécia, com seus principais expoentes como Platão. Ele desenvolveu em suas escritas, diferenças básicas em termos de realidade real e humana. O ''mito da caverna'', é talvez a abordagem mais clara sobre o tema: (O Mito da Caverna resumido). Certa vez, uma das pessoas presas (escravos), que viviam numa caverna, um deles conseguiu se libertar das correntes e escapou para o mundo exterior. A princípio, a luz do sol, a natureza e sua diversidade de cores e formas, assustaram o agora ex-prisioneiro. Livre pelo mundo, se admira com as inúmeras novidades e descobertas que faz. Assim, tomado pela compaixão dos seus companheiros escravos, decide voltar para a caverna e compartilhar com os outros prisioneiros todas as informações sobre o esse mundo exterior que presenciou. As pessoas que estavam na caverna, porém, não acreditaram nas coisas que ele contava, e o chamaram de louco. Para evitar que suas ideias contaminassem e atraíssem outras pessoas para os “perigos da insanidade”, os cativos matam o fugitivo solidário. Para Platão, a caverna simbolizava o mundo onde todos os seres humanos vivem. As sombras projetadas pelas tochas em seu interior, representam a falsidade dos sentidos, enquanto as correntes dos escravos, os preconceitos que carregamos, que por sua vez, nos aprisionam sobre à escuridão da ignorância e o senso comum. Este conto, chama a atenção por se manter atual. A alegoria de Platão, pode ser interpretada como uma crítica, aos que por preguiça ou desinteresse não questionam a realidade, aceitam ideias impostas socialmente por um grupo qualquer, dominante sobre outros. O mundo das sombras e das aparências, é o resultado da projeção real das ideias, visto como o bem. Segundo o filósofo, o ambiente em que vivemos, é esse lugar que impede o nosso acesso à luz. A sua teoria do conhecimento, parte da distinção entre a percepção sensível, que proporciona um conhecimento relativo da realidade, e o saber científico e racional, que se aprofunda no verdadeiro ser das coisas e das ideias. Estas, são entidades universais, essenciais e subjetivas, exteriores, imutáveis, um universo à parte das coisas, que não são mais do que cópias escuras. Graças às ideias que atuam como princípios ontológicos, podemos tomar consciência sobre elas. Dita concepção, pensou o conhecimento das coisas como um processo de síntese, em que o indivíduo, contemplando a realidade através dos seus sentidos, sabe, ou pensa que sabe, o que elas são. A antropologia platônica, descreve o homem como um ser constituído por dois elementos, alma e corpo, cuja união é puramente acidental. A alma é anterior ao corpo, e sobrevive à sua união. Posteriormente, Rene Descartes repensou os postulados de Platão, partindo do que chamou de “dúvida metódica”, que suspende o julgamento diante de tudo o que não se apresenta ao espírito com a clareza e a distinção para ser considerado evidente, procura assim, o caminho de uma verdade. Questiona as aparências sensíveis, e mesmo às verdades matemáticas. No entanto, consegue encontrar veridicidade na própria dúvida, uma vez que não pode duvidar sobre o que está mesmo questionando, em outras palavras, pensar… onde entra o aforismo “penso, logo existo”. O reconhecimento da verdade, da intuição sensorial, o conduz a estabelecer, juntamente com a substância pensante em que ocorre a intuição, a existência da substância extensa. Com a afirmação desta última, funda o dualismo cartesiano, colocando o problema da existência real na “substância extensa”.  Assim, num breve histórico chegamos a época moderna, Freud retoma esses postulados, e formula uma nova teoria da existência, sob um novo princípio e olhar, onde seguindo parâmetros científicos, propõe uma visão diferente sobre o assunto. Até aonde seria possível afirmar uma realidade autêntica, original, legítima e pura? A visão psicanalítica Existem realmente fundamentos suficientemente firmes, nos quais poderíamos edificar as bases da realidade, e de todos os nossos hipotéticos conhecimentos? Se nossos pressupostos saberes, que sempre serão reestruturados por outros que virão, não passam, portanto, de água que escorre pelas mãos, esses mesmos, que mal resistem ao tempo, com às vagas idealizações do ceticismo e do próprio relativismo humano. Assim realidade, está mais para o imaginário, quanto para um ato concreto da existência. A sua perspectiva tem uma posição curiosa na psicanálise, ao encampar, tanto o terreno no qual o sujeito age e sofre a ação, quanto o de encontrar um limiar para seus desejos indispensáveis e onipotentes, usando os meios necessários para, justamente, realizá-los. Isto é, torná-los contextos da realidade. O panorama psíquico é uma construção capaz de abrigar o desejo, na mesma medida em que o toma como causa das suas associações e representações passíveis de consumação, e toda dita atividade, absolutamente mediada pela fantasia. Juntamente se conecta com o princípio da realidade, base do rumo dos acontecimentos mentais e suas formas de funcionamento. O princípio do prazer, que a acompanha, caracteriza-se pela procura de satisfação, quanto coadjuvante ao mesmo tempo, da evitação da dor, sofrimento, estresse, angústia e tensão, por parte do sujeito. Se por um lado, o princípio de realidade busca a satisfação no dito (real), por outro, o princípio do prazer continua regendo a nossa instância inconsciente, a qual funciona conforme as leis dos processos primários, e apresenta outra realidade, isto é, as fantasias. A realidade psíquica nasce com a psicanálise, que, através das suas investigações, toma consciência e constata a necessidade de dar importância ao nosso mundo mental, criando assim uma caracterização de cenário panorâmico para a conjuntura psíquica da veridicidade. Realidade primordial ''A realidade primária da vida é a sensação, mas, como somos conscientes, a nossa atitude superior é de criaturas conscienciosas dos efeitos e impressões que coletamos. Isto é, se transladam diretamente em favor das nossas ideias, pela via dos sentimentos, comoções, emoções, vivências e experiências''. Dan Mena. Qual a estrutura que nos coloca em contato com a realidade? Freud construiu a estrutura do aparelho psíquico; suas bases nos colocam em diálogo com a realidade, com o mundo externo, sendo elas: o superego, pré-consciente, recalque, ego e id. A prova da existência, é um conceito freudiano, que se pode traduzir como a possibilidade de um indivíduo distinguir estímulos provenientes do mundo exterior e impulsos do mundo interno, sem produzir confusão ou gerar conflitos, entre aquilo que percepcionamos e o que circunstância (seu entorno), dita, realidade. Esse contexto, é o conjunto dos corpos físicos existentes, suas manifestações e formas de relação em torno dos acontecimentos, cuja percepção recai sobre a subjetividade do conhecimento de cada pessoa, (sua experiência e interpretação), capazes de elaborar e construir. Se desenvolve assim como o Ego, a partir do amadurecimento da personalidade e da vida social. Portanto, os aspectos culturais vão falar alto sobre esse conteúdo que preencherá o Ego, ainda que sua função seja fixada. Assim, podemos afirmar que o Ego se guia pelo princípio da realidade, regulando os impulsos inadequados do Id. Essa instância psíquica, também age como mediadora entre as vontades do Id e as limitações do superego. Ou seja, o Ego nos ajuda a manter o equilíbrio e a sanidade da nossa personalidade. Definimos para compreender melhor; O Ego faz parte da tríade do modelo psíquico, formado pelo Ego, Superego e pelo Id. O Ego é considerado o defensor da personalidade, logo responsável por impedir que os conteúdos inconscientes passem para o campo da consciência, acionando assim os gatilhos dos seus mecanismos de defesa. Id é responsável pelos instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes. O id não tem contato com a realidade, pode se satisfazer na fantasia, mesmo que não realize uma ação concreta referente aquele desejo específico. Superego é o aspecto moral da nossa individualidade, responsável por domar o Id, ou seja, sua função é reprimir os instintos primitivos originais do indivíduo, com base nos valores morais e culturais da época. ''A realidade externa, constitui a antíteses da realidade psicológica''. Freud. Quais são as 4 ideias de Freud? Os principais conceitos que inauguram a psicanálise de Freud são: a noção de inconsciente; a teoria sexual e o princípio do prazer e desprazer; a teoria das pulsões e a noção de aparelho psíquico. O que é a realidade para Lacan? O real, o imaginário e o simbólico, é um conceito misterioso e enigmático, difícil de definir na teoria lacaniana, uma vez que para o fazer são necessários os outros dois registros, por ser aquilo que não é imaginário e não pode ser simbolizado. Real, é tudo o que tenha presença e existência própria, e, ao mesmo tempo, não é representável. Ele demonstrou como a realidade de cada um se constrói como um lego, uma montagem simbólica e imaginária, tendo o fantasma como enquadramento. Em suma, não é com a realidade que está em causa uma verdadeira franqueza do pensamento. Freud a sinaliza em “para além do prazer” e Lacan, diferenciou a “realidade” do “real”. O simbólico implica uma profunda reflexão crítica, de um ponto de vista filosófico e sociológico, de todos os elementos que compõem a nossa realidade, bem como do poder que dita e delimita nossa vida, concretude e liberdade. Definições; O Simbólico é uma dimensão que nos marca, nos nomeia e reconhece na condição de sujeitos falantes, que por sua via nos leva a verificar algo de importância clínica: antes de falarmos, de termos capacidade de manejo linguístico com seus efeitos de sentido, somos falados. O termo Imaginário, designaria o campo da relação dual com a imagem do ''Outro''. Deste modo, seria um conceito mais amplo que o estádio do espelho, (O estádio do Espelho é um momento particular da vida psíquica da criança, processo de maturação, no qual ela vive uma experiência de identificação fundamental e faz a conquista da imagem de seu próprio corpo), uma vez que diz respeito às consequências do fato, de que o ''eu'' é fundado numa relação de pressupostos e conjeturas. O que é a realidade externa? A realidade psíquica é regida pelo princípio do prazer e a veracidade externa, que pode ser definida como uma condição de visão compartilhada, a mesma ganha traços para o que é desagradável, insuportável, e pode gradualmente, ser tolerado pelo nosso psiquismo. Tenho que acrescentar o princípio da constância, que se refere a uma expressão que surge na segunda teoria das pulsões de Freud. A mesma, designa a tendência do aparelho psíquico em manter uma quantidade de excitação num nível baixo ou pelo menos, a mais equilibrada e constante possível. Realidade científica, pela visão psicológica. Concepção científica da realidade se baseia precisamente nas hipóteses modernas do pensamento filosófico clássico, segundo as quais, a percepção da realidade externa é fragmentada, devido às limitações dos sentidos, em segundo lugar, pelas deficiências dos mesmos, visto não ser possível captarmos os objetos na sua essência. Darei um exemplo dessa deformação; Fiquei sentado confortavelmente na lateral de uma estrada, suponha que tenho um amigo, que conta com um veículo que pode ser impulsionado a altas velocidades (N) e topa, realizar a experiência que proponho. Pedi que passasse a minha frente pela primeira vez dirigindo o carro a 100 km por hora, e solicitei, que a cada nova passagem do automóvel no ponto que me encontrava, dobrasse a velocidade. Na primeira passada que foi há 100 km por hora, minha percepção era absolutamente clara quanto ao conjunto velocidade/veiculo/contexto. Na medida que tais passagens se alteraram para 300 km, 600 km, etc., o meu senso de realidade e percepção, tanto do veículo, cor, ruídos, todo o conjunto sensorial foi se alterando, esmorecendo, perdendo-se, ao ponto de que num determinado momento do aumento da aceleração, não percebo mais tal objeto passando a minha frente, e ao final, literalmente desaparece. Posso dar centenas de modelos para essa experiência, mais este, me parece muito lúdico e facilmente compreensível. Então, qual séria a essência dos objetos? O conhecimento científico se fundamenta no suporte do dito quantificável, e desta forma o seu método evolui para implantar sua metodologia. Para a ciência, a realidade das coisas é apenas aquela que permite a observação mediante um sistema de registros observáveis, tal se adapta às leis que a própria ciência propõe. No entanto, o objetivo do pensamento científico é avançar para além do tangível, da experiência sensível. Segundo Descartes, como demonstram as teorizações da matemática, da física e da astronomia, há uma vontade de pensar o universo a partir do abstrato, para que o sistema de registro seja útil, enquanto nos permite conceitualizar um dado fenômeno por meio da sua descrição. Esta forma de “conhecer” a realidade, baseia-se particularmente no método científico. A este respeito, Bunge e Ardila, formulam alguns princípios filosóficos da investigação científica, a qual são a base anatômica do conceito de realidade.  Princípios ontológicos (metafísicos); — O mundo existe por si. — É composto exclusivamente por coisas, objetos concretos. — As formas são propriedades das coisas, não são ideias coexistentes. — Nada surge do nada, e nada se reduz ao nada. — Existem diferentes níveis de organização: físico, químico, biológico, social e tecnológico. — Todos os sistemas, com exceção do universo, têm origem no agrupamento e formação de sistemas, que por sua vez, são subsistemas de outros sistemas. Princípios sobre o conhecimento humano; — Podemos conhecer o mundo, a realidade, embora de forma parcial, imperfeita, deformada e gradual. — Cada ato de conhecimento, é um processo inserido no sistema nervoso de um ser. — O ser humano, só pode conhecer dois tipos de objetos; os materiais e os conceituais, proposições e teorias. — Só é possível conhecer uma coisa, se ela, é a outra, puderem ser ligadas, conectadas por sinais que o primeiro deve detectar e decodificar. — Existem diferentes modos de conhecimento: pela percepção, pela concepção e pela ação; e eles são combinados de diferentes maneiras em muitas investigações. Como se pode observar, há uma evidente semelhança entre o modelo psicanalítico e o científico do materialismo, sendo o protótipo científico da materialidade emergente, enquanto ambos, admitem a preexistência das coisas numa realidade, digamos, física, em que uma série de objetos ou coisas se agrupam, formandos níveis de organização, complexamente articulados, que formariam uma realidade simbólica, a partir da articulação dessa existência física. Atualmente, e sobretudo no campo da comunicação e da psicologia, existe uma controvérsia entre a tese de que há um maior ou menor realismo nos sistemas de representação, e a ideia de que isso é o resultado de uma interpretação sem importância, porque a relação de uma imagem ilusória com a realidade é sempre, em qualquer caso, resultado de uma operação de codificação e descodificação por parte do observador. Na primeira tese, se defende que uma vez que não existe um olho inocente, tudo o que o visionamos não passa da própria invenção imaginária. A segunda proposta, mais discreta, insiste que não podemos nos considerar construtores do nosso peculiar e intrínseco mundo, enquanto representar, é apenas ilustrar a si. Por essa leitura, seríamos conduzidos à impossibilidade de propor um realismo, mesmo para falar de um surrealismo menor ou maior, conforme diz; (Maldonado,1994). Essa crítica ao modelo científico, de que toda realidade não passa de uma construção falsa dos sentidos, leva à impossibilidade de se propor um realismo dos sentidos, que traz implícito um problema básico: pensar que tudo é subjetivo. “A percepção visual não funciona com a fidelidade mecânica de uma máquina fotográfica, que registra tudo imparcialmente: todo o conglomerado de pequenos pedaços de forma e de cor que constituem os olhos, a boca da pessoa que possa para uma fotografia. Ver, significa apreender alguns traços salientes dos objetos: o azul do céu, a sombra das montanhas, a corcova do camelo, a retangularidade do livro, o brilho de uma peça de metal, a retidão do cigarro” (Arnheim, 1995). Para ir fechando, podemos afirmar que, da enorme quantidade de informações e dados produzidos pela experiência sensorial; luz, sombras, escuridão, calor, som, impressões táteis, etc., retiramos apenas a informação que pode ser agrupada na consciência para gerar uma representação mental. A percepção, segundo a Gestalt, não está sujeita à informação proveniente dos órgãos sensoriais, mas regula nossa sensorialidade. O fato de recebermos indiscriminadamente dados permanentemente da realidade, implicaria em nossa perplexidade constante, onde teríamos que permitir ser dominados pelo seu imenso volume de estímulos, oferecidos pelo meio ambiente. A Gestalt definiu num primeiro momento, a percepção como uma tendência à ordem mental, lugar onde a sensibilidade determina a entrada de informação; numa segunda fase, assegura, que ditos recolhimentos do meio, permitem formar abstrações, juízos, julgamentos, categorizações, formação de conceitos, etc. Assim, o que move profundamente o nosso ser é o real, (com todas suas impossíveis interpretações, hehehe), aquilo ao que poderíamos chamar do sentido forte da nossa vida. Invocar o real então, seria o nosso ponto de vista particular?. Desde que ditas concepções acrescentassem de alguma forma um forte impacto na nossa vida?. A realidade é, deste o ponto de vista não teórico, o mesmo que intensidade, potência ou força? Que ao contrário da transitoriedade e instabilidade não dizem respeito a ela. Para Platão, o espírito matemático e a realidade estão nas ideias, porque tais vivem nelas. No polo oposto, a realidade coincide com os afetos, sensações e sentimentos, como o suposto concreto. Às ideias, podem ser sentidas tão intensamente quanto sensações, pois no fim das contas, estes dois termos tão opostos e equidistantes, estão unificados ao se chocarem. Diz o provérbio popular que as ''aparências enganam''. Defraudam, precisa e rigorosamente, diante do nosso descontentamento com o que enxergamos como verdade. Possuímos o desejo natural do saber e do desvelo, logo quando algo se apresenta para nós pela via dos sentidos, pretendemos logo saber. Como funciona? Qual sua origem? Qual sua composição? Isso é determinante da espécie, desde que somos ''Homo sapiens''. Nosso diletantismo se amplia e expande, inclusive, para outros limites além do atualmente possível de ser verificado. Estamos sempre sob a ótica interpretativa de impor uma ordem cronológica por trás do que desponta. Será que o que visualizamos descende de uma mera fantasia ilusionista? Que tudo ao que damos crédito acoberta uma segunda realidade e verdade dissimulada?, como afirma a física quântica. Por quê?… Na antiguidade, nossos ancestrais seguiram por uma resposta sempre transcendental, metafísica, conectada a religiosidade. Qual o princípio de tudo? O que seria o tudo?. Com a ampliação do conhecimento contemporâneo em várias direções, e desde o surgimento dos primeiros filósofos, iniciamos o pensamento da própria razão existencialista, questionamos, se tal razão humana de ser, não poderia ir além da resposta à grande questão. Existe o princípio de tudo?. É o que subsiste no universo observável, é verdadeiramente concreto?. O que de fato não conseguimos compreender da criação e da criatura? Por que existe algo ao invés do nada? Creio que esse questionamento final, seja um argumento muito razoável neste ponto evolutivo para a existência de Deus. Será que o criador nos legou sabiamente a busca da “explicação”, precisamente para procurarmos por ele?.  Ao poema com Alberto Caeiro; A Realidade. A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias. Cada coisa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Tenho escrito bastantes poemas. Hei-de escrever muitos mais, naturalmente. Cada poema meu diz isto, E todos os meus poemas são diferentes, Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto. Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, Gosto dela porque ela não sente nada, Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo. Outras vezes oiço passar o vento, E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido. Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço, Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar; Porque o penso sem pensamentos, Porque o digo como as minhas palavras o dizem. Uma vez chamaram-me poeta materialista, E eu admirei-me, porque não julgava Que se me pudesse chamar qualquer coisa. Eu nem sequer sou poeta: vejo. Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho: O valor está ali, nos meus versos. Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade. Por Dan Mena, até a próxima. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

  • Autoerotismo Feminino.

    ''Todo prazer é erótico''. Freud - por Dan Mena. Havelock Ellis em 1910 foi o primeiro a introduzir e cunhar o termo autoerotismo, este vocábulo que envolve a mente e o corpo, consegue produzir pensamentos ou sensações sexuais, sem a necessidade de estímulos externos. Assinalado como um aspecto natural de cada indivíduo, inclui todos os comportamentos que geram e provocam prazer sexual, isso compreende, orgasmos durante o sono, também o narcisismo, (conceito da psicanálise que define o ser que admira exageradamente a sua própria imagem, e desse modo nutre uma paixão excessiva por si). Assim, o autoerotismo, é apresentado como uma possibilidade autogerida de prazer individual, que alberga a excitação, tesão, líbido, volúpia, fantasias, sonhos, explorações, desejos e liberdade, uma possibilidade de satisfação mental ou física, que não provém imperiosamente de um estímulo externo, não se reduz à masturbação, mas, pode também estar ligado ao narcisismo e a atividades conectadas a prazeres autônomos. Felizmente, falar hoje sobre este assunto, já não carrega o mesmo peso do tabu arcaico, onde não é raro nas publicações periódicas se tratar abertamente sobre esta abordagem. É habitual… a que se deve? É o meu tema da semana. Por Dan Mena. A gaudibilidade, (capacidade de experimentar prazer), um termo bem recente, portanto, é natural que nem tenha ainda tradução para o português, particularmente dei este entendimento que pondero bem adequado. Considerando a formação da palavra, a versão mais natural, a meu ver; que fala do desfrute, que no se limita ao sexual ou autoerótico, senão a possibilidade de obter satisfação em diferentes situações. Padrós, Herrera e Gudayol (2012), a definem como; ''aquilo que engloba todos os processos mediados entre estímulos e o gozo que as pessoas experimentam, ou seja, um conjunto de moduladores que regulam sensações subjetivas de experiências gratificantes em maior ou menor grau de intensidade, por períodos mais ou menos prolongados''. Assim, quanto maior for a gaudibilidade, súpera a probabilidade de entretenimento, satisfação e entusiasmo. Um nível elevado dessa prática, implica numa experiência frequente e intensa de prazer, que, por sua vez, aumenta e melhora outros moduladores do comprazimento sexual, gerando um espiral positivo em direção ao bem-estar, segundo releio, (Fredrickson e Joiner, 2002). Onde tudo começa. Em 1905, Freud, na sua obra “Três ensaios sobre uma teoria sexual”, salienta como as primeiras impressões sexuais do nosso desenvolvimento deixam traços profundos na vida anímica, condição circunstancial para se tornarem determinantes para a evolução e avanço sexual posterior, e que o eclipse evasivo ou a fuga dessas impressões infantis, se deve a uma mera retirada da consciência, conhecida como a repressão, (a repressão é um mecanismo mental inconsciente, pelo qual as ideias ou os impulsos indesejáveis e inaceitáveis para a consciência são suprimidos por ela e impedidos de entrar no estado consciente). Este material indesejável não está geralmente sujeito à recordação voluntária consciente. Esta espécie de desmemória dos traquejos sexuais infantis, leva o (homem) a realizar esforços para esclarecer o mistério da sua sexualidade, recorrendo a intuições, experiências e conhecimentos pré-concebidos, para tentar dar sentido à sua experiência sexual subjetiva, conforme (Jaida 2001). O autoerotismo, é afinal um conceito desenvolvido por Freud, para descrever um tipo de sexualidade orientada para o próprio corpo, sem dispor do objeto externo. O que é o autoerotismo para Butler (2017); Neste ano, ele define o autoerotismo como; ''a excitação e satisfação que se relacionam com a euforia e frenesi sexual, gerado pela própria pessoa, muitas vezes, através da masturbação''. Clinicamente o autoerotismo é considerado um método de prevenção, uma vez que médicos e sexólogos o defendem como uma forma de sexualidade segura, que proporciona liberdade sexual e reduz o risco da gravidez indesejada, enquanto, ao mesmo tempo, preserva da contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, (Espitia e Torres). A educação sexual mais abrangente, não deve ser direcionada para a proibição e o medo. Se faz necessário separar o prazer das questões da sexualidade, matéria que tem gerado muito debate, sobretudo nas questões de gênero, onde os corpos das mulheres e homens estão no palco das principais discussões, através dos mandatos de gênero, sobretudo das mulheres, que tem visto negado seu espaço de prazer, como se o acesso ao próprio corpo fosse forçado a obter satisfação apenas se vier de um terceiro. ''O autoerotismo, é uma ferramenta válida como elemento emancipatório, forma um elo de transformação das reclusões que foram socialmente geradas como consequência dos estereótipos de gênero''. (Galán e Macías, 2019; Macías e Luna, 2018). Um tabu que começa na infância. Nos primeiros anos de vida, surgem às sensações corporais, recepcionadas através da estimulação genital, seja de forma involuntária ou indireta, acontecem, seja atritando partes íntimas com objetos, almofadas ou simplesmente utilizando o impulso muscular das coxas. Nesta fase, pais ou cuidadores, podem se incomodar com ditos gestos, sobretudo, quando tais comportamentos não ocorrem de forma privada ou na presença de estranhos. Este desconforto, carrega uma falsa implicação popular, na crença de que crianças e idosos não possuem sexualidade. Neste processo de crescimento e conhecimento do corpo, presenciamos a primeira forma de discriminação, onde a autoestimulação masculina é mais bem tolerada do que a feminina. No entanto, críticas negativas, reprovação e censura, vão repercutir na forma de culpa e vergonha, criando uma extensão projetada de medo e temor do prazer sexual. Nas últimas fases do crescimento, adolescentes são muitas vezes educadas para se absterem de si, em qualquer tipo de exploração sexual. De qualquer forma, será inevitável que vasculhem sua sexualidade, confrontando-se com seus pares, procurando informações na internet, indagando nos seus grupos sociais, em cursos de educação sexual, pedindo dicas para amigas mais íntimas e experientes, para construir assim a sua identidade sexual e erótica. Do ponto de vista prático, conceber que a sexualidade não é um evento instantâneo, e, portanto, necessita de integração a vida, e não deve ser radicalizado. Um ponto de equilíbrio, pode ser encontrado no acolhimento como um processo natural do indivíduo, que evolui com seus ciclos e etapas ligadas ao crescimento. Assim, se considerarmos o entendimento e sua compreensão, será muito salutar para às partes involucradas. Abrir o dialogo, principalmente a escuta, propiciam ao processo, uma mansidão de imperturbabilidade sobre o tema da masturbação na fase precoce desse progresso. Na adolescência, pode ser importante lembrar; Dissipar os falsos mitos sobre as razões que levam mulheres a se masturbarem. Saber explicar os benefícios da masturbação feminina. Dissipar ideias erradas, como a de que demasiada masturbação causa infertilidade feminina. Configurar o senso de equilíbrio entre prazer e patologia. Nos casos em que o autoerotismo, perde o seu carácter prazeroso ou em que, apesar de o praticar, ocorre anorgasmia feminina, (transtorno do orgasmo feminino, ou anorgasmia, nome dado ao sintoma, onde mulheres possuem dificuldades de atingir o clímax durante a relação sexual ou o sentem em baixa dimensão, diminuída). Dita ausência de prazer, demora em atingir o orgasmo ou atenuação da intensidade, quando mesmo desejante e contando com a excitação e estímulos adequados. Portanto, vale a pena indagar o que está errado? Que tipo de insatisfação envolve, como é sentida tal decepção? É, o que seria necessário para alcançar a conciliação consigo mesma. Existe um motivo consciente ao qual atribui a frustração? Qual? O termo sexualidade contém uma dimensão fundamental para o ser humano, ancorado e baseado no sexo, incluindo o gênero, a sexualidade e identidades, a orientação sexual, o erotismo, a ligação, o laço, o amor e a reprodução se fundem. O vivemos sob uma extensa e variada expressão polimórfica, na forma de pensamentos, cultura, valores, papéis, relações, fantasias, atividades, práticas, desejos, crenças, atitudes e afetos. É o resultado da interação psicológica, biológica, social, familiar, econômica, ética, religiosa e espiritual. Já o erotismo, sensualidade e voluptuosidade, não são exercícios idênticos na concepção de desempenho para homens e mulheres, suas diferenças acarretam e causam efeitos distintos em ambos, originam hierarquias e valores desarmônicos, com ações aceitáveis e inaceitáveis de parte a parte. Para a psicanálise, sem a investigação, não é possível pensar essa constituição da sexualidade no sujeito, sem antes, o psicanalista configurar um claro panorama das relações que o(a) mesmo(a) estabeleceu ao longo de sua história emocional, familiar e sexual. Desde suas primeiras teorizações, Freud situa e posiciona o inconsciente em um lugar de matriz medial na compreensão da sexualidade. Aqui sinaliza claramente, que a inserção do indivíduo na sociedade exige abdicações, desistências e abandonos pontuais, dotados sob circunstanciais congêneres aos nossos desejos sexuais originais e mais primitivos. Desta forma, estabelece a constituição do desejo no lugar alto do conflito psíquico moderno. A existência de obstáculos e barreiras, se traduzem inevitavelmente mais tarde em sintomas, pela mediação de uma série de recursos sistemáticos e afetivos, que transfigurados e mascarados de afetos e expectativas daquilo que foi negado, como acesso à sua transformação em atividade consciente pela repressão, (Freud, 1905). Consequentemente, os sintomas que deslizam pelo desejo e o impulso sexual, rivalizam com a repulsa sexual. A masturbação feminina e o autoerotismo, pela ação voluntária intrínseca na procura pelo prazer sexual através da estimulação de zonas erógenas, esta deixando para trás os modelos estereotipados culturais anacrônicos. Para as mulheres, a masturbação pode ser uma prática sexual de autoconhecimento, que ao ampliarem na sua consciência corporal, se apropriam devidamente de benefícios psicológicos, comportamentais e físicos, ensejando aumento da qualidade de comunicação com os laços sociais. Na sua livre percepção da dinâmica do ato, poderão decidir se é uma atuação desejável, querida, positiva ou não, que permanecerá além das experiências alheias. ''Na masturbação feminina, o que importa é o grau de satisfação sexual e a percepção de bem-estar, sendo que o autoerotismo, também é visto como um facilitador da satisfação quando se opta por estabelecer algum tipo de relação sexual com outra pessoa''. Cavendish. A OMS Europa, no documento standard for sexuality, afirma: ‍ “A educação sexual também faz parte de uma instrução mais abrangente, e influência o desenvolvimento da personalidade da criança. O carácter preventivo da didática sexual não só ajuda a evitar possíveis consequências negativas relacionadas com a sexualidade, como também pode melhorar a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar, contribuindo assim para a promoção da saúde em geral”. Por que o tabu sobre o autoerotismo feminino? Numa sociedade fálica (se refere ao falo; relativo ao órgão reprodutor masculino: símbolo fálico), onde as mulheres eram vistas como passivas no que diz respeito à sexualidade, particularmente ligadas à sua função reprodutiva e familiar, uma crença conectada à ideia de ser uma parceira dedicada aos homens, e onde a masturbação era percebida como uma atividade puramente masculina. Durante muito tempo, foi inimaginável que mulheres obtivessem prazer individual. Nesta leitura, a masturbação feminina era recebida como uma forma de ocupação de vazios emocionais, usada para lidar diligentemente com situações estressantes. Por volta de meados do século passado, foram surgindo bases conceituais liberais para a melhor compreensão do prazer feminino, reposicionado tanto o papel social da mulher, quanto seu desembaraço do suposto rol dependente de um terceiro na sua experiência sexual, partindo então para a ação exclusiva e irrestrita da sua escolha e opção. É porque as mulheres se masturbam? Quando uma mulher se masturba, promove a libertação de dopamina, que melhora o humor, a qualidade do sono e aumenta a gratificação sexual. Os benefícios da masturbação feminina podem ser fisiológicos e psicológicos ou ambos combinados. A masturbação é boa para as mulheres? Por quê? Reduz a probabilidade de infecções do trato urinário, uma vez que ajuda a expulsar e eliminar colonias de bactérias do colo do útero; Alivia a tensão e reduz consideravelmente o stress; Mantém os tecidos elásticos e saudáveis; Diminui as dores musculares; Reduz a probabilidade de perdas involuntárias de urina; Reforça o tônus muscular nas zonas pélvica e anal. Um efeito positivo importante no ato, é que o autoerotismo implícito, ajuda a libertar e a desinibir a mente, permite à mulher ter mais confiança em si própria, na elevação da autoimagem e no seu corpo. Mulheres e a masturbação. — As mulheres se masturbam segundo pesquisas recentes, em média, dois dias por semana, enquanto a média dos homens é de quatro. — Quarenta por cento, admitem utilizar brinquedos sexuais, enquanto 60% utilizam apenas as mãos. No caso dos homens, apenas 10% utilizam brinquedos sexuais. ‍Quando é que a masturbação feminina pode ser um sintoma de problema psicológico? A masturbação pode se qualificar como uma forma de lidar com o rancor, a raiva, frustração e ansiedade, e ser usada para confrontar dificuldades. Com o tempo, pode se tornar uma ferramenta instrumental que responde a outros aspectos psicológicos para além da necessidade de prazer. Pode ser vivida e experienciada como um sedativo natural e, na sua psique ser associada entre a ansiedade e suas preocupações, desencadeando por vezes, um círculo vicioso perigoso de extravasão. Quando a autoestimulação assume características obsessivas e compulsivas, afetam a esfera relacional da pessoa em várias direções, por exemplo; se transforma num sintoma de dependência sexual, que no aspecto feminino está para a ninfomania, (incapacidade de controlar o impulso sexual. Embora não esteja oficialmente listado como uma perturbação mental, a hipersexualidade pode adquirir um lugar incapacitante para o indivíduo. A compulsão sexual pode ser determinada quando existe uma necessidade imperiosa, urgente e irracional, introduzido por um ciclo assiduamente repetitivo, que conduz a mulher a masturbar-se reiterada e sistematicamente durante o dia. Quais seriam as consequências desta disfuncionalidade? Diminuição do desejo sexual; Isolamento social; Fadiga crônica; Evitar ter relações sexuais; Ansiedade progressiva. A sexualidade pela nossa visão psicanalítica. A vida sexual concreta de um adulto não é, normalmente, aquilo que os psicanalistas trabalhamos num tratamento com um cliente, a não ser, que seja o sintoma para o qual o paciente recorre, se queixa, ou que a forma específica de expressão da sexualidade dessa pessoa dificulte e crie problemas em outras áreas da sua vida. No tratamento psicanalítico, as formas como um indivíduo experimentou as satisfações e frustrações da sua sexualidade na infância, irão aparecer nas suas formas de sentir, pensar e agir. De outro ângulo, Guerreschi (2007), aborda a distinção entre uso e abuso, entre normalidade e patologia. O tema é dividido em várias direções: quando trata das consequências físicas das adicções, como distúrbios do sono, fadiga, baixa imunidade, alimentação irregular, sexo virtual, masturbação excessiva e perversões nocivas. Guerreschi, situa a questão como uma combinação dos modelos sistêmico-relacional e cognitivo-comportamental, vindo em oposição à abordagem psicanalítica. Uma personalidade dependente, diz o autor; ''onde propõe centrar a atenção na relação estabelecida entre o sujeito e o objeto, como um processo único e particular''. Ao definir a dependência, entre o poder da substância e o que lhe é atribuído pelo sujeito. Ele afirma que ''a dependência se constrói numa circularidade de necessidades e significados''. Propriedades da experiência de uso do objeto que retroalimenta suas causas, reestruturando a autopercepção; assim, um sujeito com suas necessidades, vive no encontro com o objeto, uma experiência particular de reestruturação de si. A partir deste ponto, surge uma certeza individual de ter encontrado um lugar a resposta fundamental das suas carências e desejos essenciais, que não podem ser satisfeitos de outra maneira. (GUERRESCHI, 2007). Cada uma das zonas erógenas tem associada a si determinadas formas de relacionamento consigo, e com os outros que têm a ver especificamente com o prazer e o desprazer, associados a esse espaço e extensão. Num desenvolvimento saudável, nenhuma destas áreas terá sido tão prazerosa ou negativa, que o indivíduo tenha se fixado a essa forma de obter prazer, porque era o máximo que conhecia pela sua experiência ou porque nunca tinha o suficiente. No entanto, se tiver havido dificuldades de desenvolvimento, pode não ser capaz de se mover livremente entre as muitas formas de obter satisfação, ficando preso num sistema sexualmente empobrecido. O mesmo acontece com a relação de amor, identificação e hostilidade com os pais ou cuidadores. Se a pessoa não pôde amar, rejeitar, renunciar, aproximar, emparelhar, alcançar a identidade paterna num grau satisfatório, permanecerão fortes os desejos retidos nesse nível de desenvolvimento, que irão sobrecarregar suas relações pessoais, de trabalho, amizade e afetos. No tratamento psicanalítico, o analista e paciente, formam uma aliança previamente pré-estabelecida, (transferência), (a psicanálise se utiliza do fenômeno da transferência para, e através da mesma, conhecer e interpretar as fantasias de conflitos do inconsciente nele contidos e expressos, promovidos via técnicas legadas por Freud, são elas; Associação Livre, como regra fundamental; Atenção flutuante; Abstinência; Neutralidade. Assim, sob esta metodologia, procuramos a dissolução dos fenômenos transferenciais primários que adoecem nossos vínculos, onde serão convocados ambos, (cliente-analista) a um trabalho conjunto, para libertar o paciente destas limitações, através da sua compreensão profunda, e para ela ou ele, possam desfrutar de uma sexualidade mais alargada, rica, diversa e prazerosa, tanto no sentido psicanalítico como na acepção habitual. A masturbação é mais uma prática nas relações sexuais, que não deve substituir em hipótese alguma às relações de casal. Se isso acontecer, é necessário consultar um profissional, visto ser muito provável que tal comportamento esconda outro tipo de patologias, como a dependência, depressão, baixa autoestima, esgotamento e estresse, entre outras diversas possibilidades. Concluindo, ditas descobertas freudianas no campo da mulher, (feminilidade), são altamente relevantes, definitivas até este ponto atual, visto que é fonte primária de referências de consulta científica, onde continuam sendo sustentáveis como base fundamental de estudo das problemáticas psíquicas contemporâneas. Quando ele aborda essencialmente suas pesquisas sobre a feminilidade, lhe atribui o termo “continente obscuro”, o que demonstra que nem para ele o tema foi esclarecido e elucidado. Claramente, Freud denota sua insatisfação com a natureza inconclusa das suas explorações. Em seus “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, de 1905, anotado no início do meu artigo, onde escreveu; ''a vida sexual dos homens somente se tornou acessível, enquanto a das mulheres, ainda se encontra mergulhada em impenetrável obscuridade'' (1972). Observa ainda mais tarde, bem posterior aos ensaios originais, que a vida sexual das mulheres adultas e maduras, permanecem no manto das trevas para a psicologia, e diz; ''que nunca encerrou a questão sobre a sexualidade feminina''. Acentua e enfatiza, na XXXIII Conferência sobre feminilidade que “através da história, as pessoas não encaixam perfeitamente o enigma da natureza da feminilidade” (1932), acrescentando: “aquilo que constitui a masculinidade ou a feminilidade é uma característica desconhecida, que foge do alcance da anatomia”. Na sua proposta crítica e visionária, na observação da feminilidade como existência em si, até a puberdade, a infere de um monismo sexual, (o monismo sexual, seria a hipótese de existir um só e mesmo aparelho genital, como a primeira das teorias sexuais, que carrega em sua concepção a importância da particularidade para a feminilidade, é, que o único órgão sexual reconhecido pela criança nos dois sexos, é o órgão masculino, ou seja, o pênis). Outra importante contribuição faz Lacan, que dá uma extensão ao processo de estruturação feminina, que na decorrente falta de um ''significante'' capaz de nomear a mulher, vai definir a sexualidade em termos de posições, feminina e masculina, repassando a todo ser falante sua decisão de ocupar uma das duas posições, as quais, não se encontram de fato vinculadas ao sexo biológico. Pela leitura lacaniana da feminilidade, podemos interpretar melhor o que Freud tentou dar uma definição, ao dizer que; “O desejo que leva a menina a voltar-se para o seu pai é, sem dúvida, originalmente o desejo de possuir o pênis que a mãe lhe recusou e que agora espera obter do seu pai” (1933). A partir desta interessante releitura que faço, entendo claramente, que a hábil posição feminina se caracteriza fundamentalmente por sua capacidade de se dirigir a um ''Outro'', inclusive inqualificável, capaz de fazer com que algo ou alguém, se torne presente na sua fantasia ou mesmo torná-lo/a real. Nas entrelinhas descubro como homem, o quanto há de divino ou maquiavélico no universo feminino, como competente que é, a mulher, de se satisfazer com um gozo definido ao seu bel-prazer. Sendo mística e ascética, em pró de si mesma, pode individualmente, simultânea ou independentemente, ainda lançar seu descortinar para o campo masculino. ''Não posso ver mérito algum em se ter vergonha da sexualidade''. Freud. Vamos ao poema de Maria Teresa Horta; Masturbação Eis o centro do corpo o nosso centro onde os dedos escorregam devagar e logo tornam onde nesse centro os dedos esfregam - correm e voltam sem cessar e então são os meus já os teus dedos e são meus dedos já a tua boca que vai sorvendo os lábios dessa boca que manipulo - conduzo pensando em tua boca Ardência funda planta em movimento que trepa e fende fundidas já no tempo calando o grito nos pulmões da tarde E todo o corpo é esse movimento que trepa e fende fundidas já no tempo calando o grito nos pulmões da tarde E todo o corpo é esse movimento em torno em volta no centro desses lábios que a febre toma engrossa e vai cedendo a pouco e pouco nos dedos e na palma. Por Dan Mena, até breve. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

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