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A Inveja pela Trilogia Analítica.

Atualizado: 28 de ago. de 2024




Freud deu o nome de instinto de morte (Tânatos) a essa conduta, que via como proveniente de um inconsciente natural, já havia percebido que, nos doentes mentais mais graves (os psicóticos), havia um componente particular e patológico.

Freud deu o nome de instinto de morte (Tânatos) a essa conduta, que via como proveniente de um inconsciente natural, já havia percebido que, nos doentes mentais mais graves (os psicóticos), havia um componente patológico de inveja muito forte. Melanie Klein, outra psicanalista genial, aprofundou-se um pouco mais no estudo da inveja, atuando nos processos psicológicos doentios. Norberto Keppe alargou ainda mais essa compreensão, verificando que a inveja é a raiz de toda a problemática humana, tanto no sentido psicológico, individual, como no social. O sentido da inveja, para Keppe, difere do sentido que o povo normalmente dá para esse termo. Inveja, como diz a origem da palavra, em latim (invidere), quer dizer: não ver. Portanto, o entendimento verdadeiro da palavra inveja deve ser retirado da sua origem etimológica — invejoso é o indivíduo “que não quer ver”. Não quer ver o quê? Não quer ver o que é bom, belo e verdadeiro: não quer ver o que é — pois tudo o que é, por si, é bom. A realidade original era somente boa, bela e verdadeira até que o ser humano começou a estragá-la pela inveja, pois, o bem do outro, o bem que nos é exterior, traz a consciência dos nossos males, como uma dialética automática (comparação). Desejamos destruir essa consciência, assim como o feio quer quebrar o espelho que lhe mostra a feiura; o ser humano quer brilhar sozinho e com isso acaba destruindo não somente a beleza a sua volta como a própria.


Na Trilogia, nós vemos a inveja como a base de todos os problemas psicológicos que dela decorrem e são imediatamente ligados: a teomania (desejo de ser como um deus); a megalomania (ideias de grandeza, que estão englobadas na teomania); o narcisismo (adoração de si mesmo, do próprio corpo, da própria personalidade); a arrogância (achar-se sempre certo, o dono da verdade); a alienação e a inversão, que seriam as mais graves de todas as consequências. O invejoso é aquele que é contra, que diz “não” para o que ele próprio, no fundo, mais gosta — o que é bonito, o que é veraz. Essa negação é feita sem que a pessoa a perceba claramente e ela pode direcionar toda a sua vida para a infelicidade, levada por essa patologia não conscientizada. Alguns chamam a isso masoquismo, outro sadismo — o desejo de sofrer e fazer os outros sofrerem. Estamos sempre querendo estragar nossos bons momentos e os bons momentos dos outros. Essa é uma atitude tão grave e tão infernal, que mal podemos nos livrar dessa trama. A isso nós chamamos de inveja universal. Universal, porque ela é característica de todos os indivíduos, de todas as raças, e porque é dirigida a todo o universo, obra magistral de criação divina.


Cada qual justifica essa inveja universal por meio de um sistema de ideias (filosofia de vida). O cristianismo, o judaísmo, por exemplo, sempre apregoam a necessidade de sofrer para alcançar-se o céu, como se Deus fosse um carrasco querendo o nosso sacrifício que estivesse aguardando a primeira oportunidade para promover uma punição. O ser humano quer brilhar sozinho e com isso acaba destruindo não somente a beleza à sua volta como a própria. Podemos dizer dos indivíduos poderosos que, pela inveja não conscientizada, não permitem nem a felicidade do povo e nem de si mesmos, pois também pisam na própria vida e não somente na de seus escravos. Fomos presenteados com tudo, em abundância, para vivermos na riqueza, na saúde, na descontração, na alegria, na usufruição e na realização; enfim, o Criador quer que vivamos na felicidade e nós permitimos que um pequeno grupo de doentes mentais, que detém todo o poder em suas mãos, rouba-nos o que nos é de direito.


Eles criaram uma sociedade doentia e invejosa, com guerras, fome, pobreza, doenças, destruição, um caos no planeta, e ainda se queixam da vida, mas, tudo isso, com a nossa convivência. Vivemos num inferno “dialético”, ou seja, recebemos, como herança de nossos antepassados, uma civilização baseada na “filosofia dos problemas”, e, por outro, alimentamos e passamos para a frente o mesmo engano.


A grande maioria dos problemas humanos foi criada pelos indivíduos mais doentes e pela sociedade, que está muito doente, com a nossa conivência e omissão. Estão todos aí, e ignorar a consciência dos mesmos não vai nos ajudar em nada. Mas é preciso notar que nós não temos tido realmente a intenção de acabar com os problemas. No Brasil, existe um ditado que diz: “Por que simplificar se podemos complicar?” Isso mostra bem que não aceitamos nada bom sem, fazermos algo para estragar. O homem com poder é perito em criar sistemas sociais complexos e problemáticos, que acabam sempre por criar dificuldades incríveis para todos. Hoje, penso na loucura que é essa atitude dos seres humanos — e quanto mais neuróticos o indivíduo e a sociedade, mais são contra a felicidade. Obviamente, isso não é perfeitamente consciente para nós e, principalmente, que a causa mais profunda desse fenômeno seja a inveja universal. Nós acreditamos que o desejo maior na vida é a felicidade. E, o que mais desejamos, é justamente o que mais rejeitamos.


Por exemplo: o desejo que muitos têm de mudar de vida, que se viajarem para este ou aquele lugar, se mudarem de país, emprego, situação, namorada, então serão felizes; mas isso acontece devido à inveja e à ingratidão, pois, assim como a pessoa não é grata e feliz com o que tem de bom na vida agora, não se sentirá bem e feliz aonde quer que vá e com o que quer que faça. Sim, os seres humanos, homens e mulheres sofrem, têm neuroses, psicoses, por simplesmente serem incapazes de aceitar a felicidade que a vida lhes oferece, com o agravante de que os mais loucos, poderosos, e a sociedade que formaram fazem tudo para roubá-la. Tenho a esperança de que, conscientizada a verdadeira causa da questão, a humanidade mude de atitude, passando a usufruir todo o bem que lhe foi destinado.


ABC da Trilogia Analítica O Salmo 41, por exemplo, é um dos mais lembrados quando o assunto é inveja, já que inspira força e proteção.


1. Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o SENHOR o livrará no dia do mal.

2. O Senhor o livrará, e o conservará em vida; será abençoado na terra, e tu não o entregarás à vontade de seus inimigos.

3. O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu o restaurarás da sua cama de doença.

4. Dizia eu: Senhor, tem piedade de mim; sara a minha alma, porque pequei contra ti.

5. Os meus inimigos falam mal de mim, dizendo. Quando morrerá ele, e perecerá o seu nome?

6. E, se algum deles vem me ver, fala coisas vãs; no seu coração amontoa a maldade; saindo, é disso que fala.

7. Todos os que me odeiam murmuram a uma contra mim; contra mim imaginam o mal, dizendo:

8. Uma doença má se lhe tem apegado; e agora que está deitado, não se levantará mais.

9. Até o meu próprio amigo íntimo, em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar.

10. Porém, tu, Senhor, tem piedade de mim, e levanta-me, para que eu lhes dê o pago.

11. Por isto conheço eu que tu me favoreces: que o meu inimigo não triunfa de mim.

12. Quanto a mim, tu me sustentas na minha sinceridade, e me puseste diante da tua face para sempre.

13. Bendito seja o Senhor Deus de Israel de século em século. Amém e Amém.


Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

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