Psicodélicos: "A Nova Fronteira da Terapia".
- Dan Mena Psicanálise
- há 21 horas
- 18 min de leitura

Tendências de 2025: O Futuro da Psiquiatria - Psicologia e a Psicanálise
Enquanto a crise global de saúde mental atinge níveis epidêmicos, com milhões de pacientes fracassando em tratamentos convencionais para depressão, ansiedade e TEPT, um fenômeno científico surge ineditamente com respostas: a terapia assistida por psicodélicos. Distante de misticismos ou tendências passageiras, essa revolução é sustentada por evidências muito robustas, garanto que estudei o assunto muito a fundo: (leia bibliografia ao final do artigo). Pesquisas recentes conduzidas pelo Imperial College London, Johns Hopkins e pelo Instituto de Psiquiatria de São Paulo demonstram que compostos como psilocibina e MDMA alcançam taxas de remissão de até 70% em casos resistentes, desempenho que antidepressivos tradicionais levariam décadas para igualar. Estamos diante do surgimento de uma ferramenta acessória terapêutica inédita, no qual o rigor científico e avanços farmacológicos se alinham para confrontar os limites da psiquiatria contemporânea.
Você já ouviu falar em psicodélicos para depressão ou ansiedade?
Se tantos remédios não funcionam, por que não olhar para caminhos que a ciência está redescobrindo?
O Colapso do Modelo Tradicional e a Urgência de Alternativas
A psiquiatria atual enfrenta uma encruzilhada sem precedentes. Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), considerados padrão-top desde os anos 1980, falham em 30% a 50% dos casos, enquanto abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) demandam meses para obter resultados parciais. Nesse enquadramento, os pacientes não são meros "náufragos da alma", mas vítimas de um sistema fragmentado, que reduz diagnósticos a desequilíbrios químicos simplistas. A neurociência moderna, contudo, pode afirmar que transtornos mentais envolvem redes neurais hipercomplexas, memórias traumáticas consolidadas e padrões cognitivos inflexíveis – justamente, os alvos onde os psicodélicos atuam com precisão inusitada segundo as pesquisas.
Além da Serotonina, Rumo à Neuroplasticidade
Diferentemente de fármacos que regulam sintomas superficialmente, psicodélicos clássicos (psilocibina, LSD) e entactógenos (MDMA) induzem a uma reestruturação cerebral. Estudos de neuroimagem evidenciam que essas substâncias suprimem a atividade da rede de modo padrão (DMN), estrutura hiperativa em quadros depressivos crônicos e associada à ruminação autodepreciativa. Paralelamente, estimulam a neurogênese no hipocampo e ampliam a conectividade entre hemisférios cerebrais, mecanismos que fundamentam relatos de "reinicialização mental". Em ensaios clínicos de fase III, financiados por organizações como a MAPS e a Compass Pathways, ‘’sessões únicas de psilocibina combinadas à psicoterapia’’ produziram efeitos antidepressivos por até 12 meses – um avanço exponencial frente ao paradigma da medicação contínua.
"Os psicodélicos não são remédios, mas ‘ferramentas de reinicialização’ que reescrevem a arquitetura cerebral, dissolvendo padrões rígidos como ácido sobre uma placa de metal" (GOLDSMITH, Psychedelic Healing, 2011).
Será que estamos tratando doenças da alma apenas com química e esquecendo nossa complexidade?

Quantas pessoas você conhece que vivem medicadas, mas continuam sofrendo?
O Papel da Ciência na Mudança de Narrativa
A reinserção dos psicodélicos na medicina não é fortuita. Após meio século de proibição, impulsionada pela Guerra às Drogas, o ressurgimento dessas pesquisas se deve a três pilares: (1) Metodologia rigorosa: protocolos com dosagens controladas, ambientes sensoriais monitorados e integração psicológica pós-experiência; (2) Inovações tecnológicas: técnicas de ressonância magnética funcional permitem decifrar em tempo real a atividade cerebral durante as sessões; (3) Demanda social: iniciativas como o Decriminalize Nature e investimentos de US$ 2,5 bilhões em startups do setor, aceleram mudanças regulatórias. A própria Food and Drug Administration (FDA) - USA, concedeu status de "Terapia Inovadora" ao MDMA para TEPT.
Por que tantos cientistas sérios estão investindo tempo e dinheiro nisso agora?
Você confiaria em um tratamento que já foi considerado perigoso, mas hoje é apoiado por grandes universidades?
Psicanálise e Psicodélicos: Diálogos no Labirinto Mental
A interseção entre psicanálise e psicodélicos oferece perspectivas interessantes para compreender os mecanismos simbólicos e arquetípicos ativados durante as sessões analíticas. Enquanto como psicanalistas adentramos no inconsciente através da ‘’associação livre’’ e ‘’da transferência’’, os psicodélicos funcionam como catalisadores que dissolvem as defesas do ego, expondo conteúdos reprimidos com intensidade cinematográfica.
Carl Jung, ao discutir o ‘’inconsciente coletivo’’ e os arquétipos, antecipou metaforicamente a experiência de universalidade relatada por usuários de psilocibina, que descrevem encontros com imagens mitológicas ou narrativas existenciais compartilhadas. Na prática da clínica moderna, tem muitos psicanalistas envolvidos em pesquisas com psicodélicos – como os protocolos da MAPS – destacam que a substância não substitui a escuta analítica, senão que amplifica o processo de elaboração. Durante a experiência, resistências são temporariamente suspensas, permitindo que traumas infantis, conflitos edipianos ou fantasias primárias possam emergir com clareza em sessões convencionais. A integração pós-experiência, etapa fundamental, se assemelha à interpretação de sonhos em escala ampliada, onde auxiliamos o paciente a tecer significados a partir do material bruto do inconsciente. Esse sincretismo entre farmacologia e hermenêutica psicanalítica pode inaugurar uma nova era de terapias ampliadas, onde ciência e subjetividade coexistem sem hierarquias.
"A experiência psicodélica é um convite, não uma resposta. Cabe ao analista evitar que o paciente confunda êxtase químico com iluminação" (FADIMAN, The Psychedelic Explorer's Guide, 2011). Afinal, como lembra Terence McKenna: "A cura está no caos, mas o sentido está na integração" (MCKENNA, Comida dos Deuses, 2010).
Será que os psicodélicos nos ajudam a ver o que escondemos até de nós mesmos?
O que você faria se pudesse acessar memórias e emoções que hoje estão adormecidas?
Ética, Acesso e Sustentabilidade
Apesar do cenário promissor, os dilemas críticos persistem. Como impedir a exploração comercial de substâncias sagradas para povos originários? Como assegurar acesso democrático em nações periféricas, onde 80% dos casos de depressão permanecem sem tratamento? Especialistas do Centro Global de Saúde Mental sugerem modelos híbridos: parcerias com comunidades indígenas para uso ético de conhecimentos ancestrais, aliadas a protocolos digitais de terapia de integração via plataformas online. O objetivo é transformar a "revolução silenciosa" em um movimento inclusivo, nos distanciando dos erros históricos da indústria farmacêutica, como a elitização de tratamentos.
Estamos assim, diante de um marco histórico. A psicodelia não é uma panaceia, mas pode simbolizar a mais disruptiva inovação em saúde mental desde a descoberta dos antipsicóticos nos anos 1950. Seu diferencial reside na capacidade de abordar não apenas sintomas, mas as raízes existenciais do sofrimento – promovendo não só sua remissão, mas ressignificação.
À medida que instituições como Harvard e a UNIFESP inauguram centros especializados nessa área, se torna cada dia mais evidente: o século XXI será definido pela ousadia de adentrar a mente em sua absoluta complexidade multidimensional, orientada não por dogmas, mas por empirismo. A odisseia transcende a metáfora – se consolida como empreendimento científico, ético e, sobretudo, necessário. Eu acredito firmemente que essa possível convergência entre psicanálise e psicodélicos não apenas enriquece a prática clínica, mas resgata um diálogo interrompido pela medicalização excessiva. Enquanto a ciência mapeia circuitos neurais, a nossa escuta decifra narrativas íntimas, nos lembrando que a (cura) de processos psicológicos exige tanto precisão farmacológica quanto coragem de iluminar as sombras do ‘’Self’’.
Entrando pela porta dos fundos, me pergunto: Por que a ciência, em seu incessante afã por desvendar os mistérios do universo, redescobre agora o que culturas ancestrais já cultivavam em seus rituais sagrados?

"Se o século XX medicaliza a alma, o século XXI corre o risco de espiritualizar a farmácia. Cabe a nós garantir que a revolução psicodélica não troque um reducionismo por outro" (POLLAN, How to Change Your Mind, 2018).
Esse tipo de tratamento vai estar disponível só para quem pode pagar caro?
Como garantir que não repitamos os erros do passado, o que é sagrado apenas para alguns?
Revisitando a História e Desvendando a Ciência dos Psicodélicos
Essa relação entre a humanidade e os psicodélicos se tece desde os primórdios da civilização, vem entrelaçada com a busca sempre infindável do ser pelo sagrado, pelo transcendente. Michael Pollan, em sua obra "Como Mudar Sua Mente", nos lembra que "a cronologia dos psicodélicos se confunde com a memória de uma queda e de um possível renascimento". Desde os rituais ancestrais com a ayahuasca nas entranhas da Amazônia, onde o espírito da floresta se manifesta em visões caleidoscópicas, até os laboratórios de Basel, na Suíça, onde Albert Hofmann sintetizou o LSD em 1943, essas substâncias sempre serviram como pontes entre o mundano e o transcendental, entre a realidade ordinária e as dimensões ocultas da consciência.
Na década de 1960, o LSD, que outrora foi tão celebrado como um portal para a expansão da mente, foi sendo tragado pelas sombras do pânico moral, estigmatizado e banido para a ilegalidade. No entanto, o tempo, esse grande mestre implacável, traz consigo a redenção. Hoje, neurocientistas visionários como Robin Carhart-Harris, munidos de ferramentas de última geração, mapeiam meticulosamente os efeitos da psilocibina no cérebro. Seus estudos revelam que essa substância é capaz de reduzir a atividade do ‘’Default Mode Network’’ (DMN) que traduzida seria algo como "Rede de Modo Padrão" ou "Rede Cerebral em Repouso". Trata aqui de um circuito neural interconectado, envolvendo regiões como o córtex pré-frontal medial, o córtex cingulado posterior, o lobo parietal inferior e o hipocampo. Essa rede é ativada quando o indivíduo não está focado em tarefas externas, funcionando como um "piloto automático" da mente durante estados de introspecção, devaneio ou autorreflexão, a região cerebral associada ao ego, à ruminação obsessiva e à incessante tagarelice psíquica.
''Será que o ‘reset cósmico’ é realmente novo?'' Ou é apenas a ciência, em sua lentidão burocrática, finalmente alcançando o que os curandeiros já sabiam há milênios?" (POLLAN, How to Change Your Mind, 2018).
É como se o cérebro, antes aprisionado em padrões rígidos de pensamento e comportamento, ganhasse um "reset cósmico", uma oportunidade de se reinventar, de se libertar das amarras do passado. Tais sinapses, antes enrijecidas pela repetição, se tornam maleáveis e abertas a novas conexões e possibilidades. A mente se torna assim uma terra fértil, pronta para ser cultivada com novas sementes.
"O ‘psicodélico’ não tem o poder de criar o novo; seu potencial reside em revelar o antigo que jaz soterrado sob as ruínas do eu, esperando o momento certo para ressurgir."
- Dan Mena.
Um Diálogo no Limiar do Inconsciente

Diante desse ‘’tsunami psicodélico’’, levanto uma pergunta que desafia a própria noção de cura: e se Freud, ao invés de seu charuto, segurasse um cogumelo? O que ele faria com uma molécula que não pede licença para arrombar os porões da mente, rasgando os véus que a fala que por vezes, apenas acaricia?
Quando Freud falava da compulsão à repetição como um rio subterrâneo que arrastava o sujeito de volta à cena traumática ou um retorno, que é ao mesmo tempo seria uma prisão na tentativa fracassada de restauração. Mas, eis o paradoxo dos psicodélicos: eles não desviam o rio, mas o transbordam. Como observou Grof, pacientes em estados alterados não relembram traumas — eles os reencarnam, reverberados em memórias pré-verbais, quase mitológicas, onde o corpo é palco e a consciência, espectadora atordoada. É a recorrência elevada ao potencial do ritual, onde o sofrimento, antes enclausurado, ganha asas de fênix. A psicanálise, com sua paciência arqueológica, varre camada por camada. Os psicodélicos, são como alquimistas que transformam essa escavação em erupção: derretem as muralhas do ego, e expõem fósseis psíquicos sob a luz crua de uma lanterna química. Mas cuidado — como argumenta James Fadiman, a substância é a chave, mas o terapeuta é o ladrão, aquele que sabe roubar segredos do caos e deve ter a proficiência de poder devolvê-los como narrativas conciliadoras.
Como escreve Stanislav Grof, “as experiências psicodélicas frequentemente trazem à tona memórias perinatais e transpessoais, ampliando a consciência para além da biografia individual” – LSD Psychotherapy, 1980).
E aqui, Lacan sussurra nos ouvidos da ciência: o Real não é um tesouro enterrado, mas o terremoto que revela que o chão sob nossos pés sempre foi ilusão. Os psicodélicos não "mostram" o Real — eles são o Real, uma erupção que dissolve a fantasia de controle, deixando o sujeito nu diante do espelho quebrado de si mesmo.
Será que a psicanálise, em nosso rigor interpretativo, não teme justamente essa nudez? Ou será, afinal das contas, a única capaz de costurar uma nova roupagem para o rei desnudo, transformando delírio em diálogo?
"O inconsciente não é um baú de segredos, mas um teatro em chamas. Os psicodélicos são os incendiários. Nossa tarefa? Aprender a dançar nas suas cinzas." - Dan Mena.

Enquanto a ciência mede os neurotransmissores, a psicanálise pergunta: quem é o dono desse laboratório interno? E quando a química derruba as portas, será que o sujeito encontra o trauma ou apenas uma distorção de sua própria sede de infinito?
"O Real não é aquilo que se esconde atrás do véu; é o véu que se dissolve quando o sujeito ousa olhar sem medo de ser despedaçado, quando se permite encarar a verdade nua e crua de sua própria existência." Dan Mena.
Você acredita que algumas dores emocionais são tão cavadas que só podem ser acessadas por vias diferentes do diálogo ou da escuta?
Quando a Química Se Encontra com a Alma
A depressão resistente, aquela que teima em persistir apesar dos tratamentos convencionais, é um labirinto implacável, onde o Minotauro não é uma criatura externa, mas a própria escuridão que habita o interior do indivíduo. No entanto, a esperança renasce com os estudos promissores da MAPS (Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies), que demonstram que uma única dose de psilocibina, combinada com terapia de apoio, é capaz de reduzir os sintomas da depressão em até 80% dos casos, com efeitos duradouros por até 6 meses.
Por que essa substância possui um poder tão transformador? A resposta reside na neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de se reorganizar, de formar novas conexões sinápticas. Enquanto os antidepressivos tradicionais atuam como "amortecedores químicos", aliviando os sintomas sem abordar a causa raiz, os psicodélicos parecem promover uma reconfiguração sináptica, permitindo que o indivíduo construa novas estradas neurais, caminhos e estradas para a Disney e o bem-estar. É a diferença entre tapar um buraco na estrada e reconstruir a estrada por completo.
Nietzsche, em sua obra "Assim Falou Zaratustra", antecipou: "É preciso ter caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante". Poderíamos dar a essa frase esse peso em relação ao psicodélicos, esse caos organizado, uma força disruptiva que pode impulsionar para romper com o ‘’status quo’’, questionando crenças limitantes e a sua própria reinvenção.
"A cura não reside na fuga da sombra, mas na coragem de dançar com ela sob a luz de um sol para cada um, abraçando nossos demônios internos e os transformando em aliados." - Dan Mena.
O que aconteceria se, ao invés de esconder nossos traumas, os percebêssemos com intensidade ritual? Na sua opinião: isso ajudaria a curar?

Ayahuasca e o Renascimento do Sagrado
Esse ''chá ancestral dos povos amazônicos'' foi sempre um portal para o sagrado, um facilitador de experiências de morte e renascimentos simbólicos. Francisco Londoño, em sua obra "Trippy: The Awakening of Ayahuasca", descreve cerimônias onde pacientes confrontam "fantasmas intergeracionais", traumas transmitidos de geração em geração, que aprisionam o indivíduo em padrões de sofrimento.
"O sagrado não habita a substância; ocupa o espaço entre o que foi vomitado e o exposto, entre a purgação do sofrimento e a iluminação da compreensão." - Dan Mena.
Ética, Risco e os Limites Psíquicos
As palavras de Foucault batem com força: "Todo poder clínico carrega o risco de uma nova disciplina". A comercialização desenfreada de retiros de ayahuasca e o uso recreativo descontrolado de psicodélicos são armadilhas perigosas. Rick Strassman, em sua obra "DMT: A Molécula do Espírito", advertiu: "Experiências místicas não são atalhos para a maturidade espiritual". A terapia psicodélica exige (preparo mental), ‘’setting’’ (ambiente seguro) e ‘’guidance’’ (acompanhamento). Sem essa tríade, o que poderia ser um facilitador terapêutico se transforma em um pesadelo, um gatilho para psicoses latentes.
“As experiências psicodélicas têm o poder de desarmar os mecanismos de defesa do ego, permitindo acesso direto ao inconsciente profundo, onde reside não apenas a dor, mas também a sabedoria arquetípica” – Psychology of the Future, 2000.) - Stanislav Grof.
É básico que o terapeuta possua uma formação sólida, um conhecimento assertivo dos efeitos psicodélicos e uma sensibilidade aguçada para lidar com as emoções raras que surgem, sem dúvidas durante a experiência.
"A banalidade do mal reside também na ilusão de que a transcendência pode ser engarrafada e vendida como mercadoria, de que a iluminação pode ser alcançada através de um atalho químico." - Dan Mena.
Será que estamos preparados para ver tudo o que o inconsciente guarda, de forma tão direta como os psicodélicos permitem?
Reconstrução do Trauma (TEPT)
O MDMA, conhecido popularmente no Brasil como "ecstasy", surge como alternativa medicamentosa para aqueles que sofrem com o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Temos relatos de psicanalistas americanos que em sessões controladas, essa substância reduz o medo e aumenta a confiança, permitindo que os pacientes revisitem memórias traumáticas sem se dissociarem da realidade. Ben Sessa, em sua obra "The Psychedelic Renaissance", defende que o MDMA "não apaga o trauma, mas desarma sua carga emocional". É uma reprogramação do arquivo cerebral, onde o evento permanece, mas perde o poder de definir quem somos. O trauma deixa de ser uma sentença de condenação perpétua e se torna uma cicatriz, uma marca de superação.

Democratizando o Acesso à Cura
Enquanto clínicas de elite cobram somas exorbitantes por tratamentos psicodélicos, comunidades periféricas continuam à margem dessa revolução terapêutica. A psicologia ambiental nos ensina que contexto é destino. Negar seu acesso é perpetuar uma violência epistêmica, uma injustiça social. Projetos como o Santo Daime no Brasil demonstram que é possível integrar tradição e ciência, mas a regulamentação ainda caminha a passos lentos aqui no Brasil. Como diz Byung-Chul Han, "a sociedade do cansaço prefere anestesiar a questionar", a perpetuar o sofrimento em vez de buscar soluções inovadoras.
"A descolonização da mente exige mais que discursos; exige soluções que quebrem as algemas invisíveis da angústia internalizada, que permitam ao indivíduo se libertar das opressões arcaicas." - Dan Mena.
O Futuro da Terapia – Integração ou Ilusão?
Estamos no limiar de um novo paradigma. A ketamina, já aprovada para depressão resistente nos EUA, é apenas a ponta de um iceberg. Mas a pergunta seria: "O que queremos dessa nova realidade?" A resposta pode estar na integração. Uma sessão psicodélica sem acompanhamento pós-experiência é como ler um livro sem sua interpretação, como assistir a um filme sem refletir sobre sua mensagem. Neal M. Goldsmith fala: "A trilha psicodélica é 10% experiência e 90% assimilação". A integração é o processo de dar sentido a esse traquejo, e, traduzir as visões acolhidas em ações concretas e mudanças positivas.
Você já sentiu que seu corpo “lembra” de coisas que sua mente esqueceu?
"Na modernidade, até a cura deve aprender a se inserir entre a efemeridade do êxtase e a solidez do sentido, entre a promessa de transformação instantânea e a necessidade de um trabalho contínuo de autoconhecimento." - Dan Mena.
Essa capacidade de romper com padrões mentais cristalizados remete ao conceito de “campo mórfico” de Rupert Sheldrake, onde “mudanças sondas em um indivíduo reverberam no campo coletivo, permitindo que outros também encontrem novas formas de ser” (The Presence of the Past, 1988).
Minha Visão Psicanalítica da Terapia com Psicodélicos
Apesar de Freud não ter vivenciado diretamente os efeitos dessas substâncias, lançou bases para uma teoria da mente que se mostra surpreendentemente relevante no contexto da amostragem psicodélica. Seguindo seus passos por exemplo, na noção de recalque, central na teoria freudiana, Aqui descreve o mecanismo pelo qual impulsos e memórias dolorosas são banidos da consciência, relegados ao reino obscuro do inconsciente. Os psicodélicos, ao diminuírem a atividade do ‘’default mode network’’, parecem afrouxar ditas amarras do recalque, permitindo que conteúdos inconscientes afloram à consciência com maior facilidade.
Essa emergência pode ser tanto libertadora quanto desafiadora. Por um lado, o indivíduo tem a oportunidade de confrontar traumas e conflitos não resolvidos, de elaborar emoções reprimidas e integrar partes de si mesmo que haviam sido negadas. Por outro, a avalanche de conteúdos inconscientes pode ser desestruturante e até mesmo traumatizante, caso não haja um terapeuta qualificado para guiar o processo.
Ouvindo Lacan, outro mestre gigante da psicanálise, ao introduzir o conceito de "Real", como dimensão da vivência que transcende a linguagem e a representação. O Real é o indizível, o traumático, o que resiste à simbolização. Dita experimentação psicodélica, em sua intensidade e estranheza, pode levar o sujeito a confrontar o ‘’Real’’ de maneira abrupta, vislumbrando sua fragilidade da realidade construída, e a questionar a própria identidade.
Como psicanalista nesta posição, não sou apenas um guia, mas também uma testemunha, um ouvinte atento e compassivo, capaz de acolher o sofrimento do paciente e de ajudá-lo(a) a dar sentido à sua singularidade. O terapeuta, à semelhança do ‘’analista lacaniano’’, deve se situar como um "objeto a", um objeto causa de desejo, que impulsiona o paciente a buscar sua própria verdade, e construir sua narrativa particular.
Assim como o poeta Arthur Rimbaud proclamava: "É preciso ser absolutamente moderno", a terapia com psicodélicos nos convida a desafiar o novo, a questionar o estabelecido e a nos aventurarmos nos territórios desconhecidos da consciência. No entanto, é um percurso que deve ser amplamente discutido e guiada pela ética, pela responsabilidade e pelo respeito à integridade do indivíduo.
Até que ponto o nosso "eu" é uma construção frágil que teme ser desfeito?
Você já teve alguma experiência onde sentiu que perdeu o controle, mas ao mesmo tempo se encontrou?

A Última Fronteira É o Próprio Humano
Ao longo deste artigo, desafiei, me arrisquei a abordar um tema que muitos psicanalistas nem ousam tocar na primeira letra. É portanto uma trilha tênue, uma corda quase invisível, como linha de pesca, que separa o ceticismo da crença, o racional do místico. A nova fronteira da terapia mental não se encontra nas moléculas em si, mas na nossa ousadia em redescobrir que a mente é um território incógnito ainda, vasto e inexplorado, repleto de mistérios e potencialidades.
Os psicodélicos não representam a panaceia universal, a solução mágica para os males da alma. Eles são, antes de tudo, um repensar nossa concepção do que significa ser, questionando nossas crenças limitantes e provocando expandir a percepção da realidade. Como escrevi no início, citando Jung:
"O psicodélico revela o antigo". Talvez o "antigo" que ansiamos resgatar seja a capacidade de nos maravilharmos com o infinito que reside em nosso interior, de nos conectarmos com a essência primordial, e a capacidade inata de amar, criar e nos transformar.
"A única maneira de lidar com um universo absurdo é se tornar um revolucionário da própria existência — e nisso, os psicodélicos são tanto espelho quanto martelo: espelho que reflete nossa sombra e luz, martelo que quebra as correntes do conformismo’’ - Dan Mena.
O que te parece mais curativo: calar a dor com medicamentos ou entender o que ela quer dizer?

Por fim, quero fechar com duas citações pertinentes: “Não exploramos o mundo externo porque o conquistamos, mas porque temos medo de entrar em nós mesmos” - Clarice Lispector. E talvez, como sabiamente diz Lacan: ‘’não é o inconsciente que nos assusta, é o fato de que ele sabe demais sobre nós’’.
Referências Bibliográficas
POLLAN, Michael. How to Change Your Mind: What the New Science of Psychedelics Teaches Us About Consciousness, Dying, Addiction, Depression, and Transcendence. 2018. Penguin Press.
POLLAN, Michael. Como Mudar Sua Mente: O Novo Poder da Psicodelia. 2018. Companhia das Letras.
FADIMAN, James. The Psychedelic Explorer's Guide: Safe, Therapeutic, and Sacred Journeys. 2011. TarcherPerigee.
GROF, Stanislav. LSD Psychotherapy. 1980. Grove Press.
GOLDSMITH, Neal M. Psychedelic Healing: The Promise of Entheogens for Psychotherapy and Spiritual Development. 2011. MAPS.
SESSA, Ben. The Psychedelic Renaissance: Reassessing the Role of Psychedelic Drugs in 21st Century Psychiatry and Society. 2012. Muswell Hill Press.
LEVINE, Stephen M. The Ketamine Papers: Science, Therapy, and Hope. 2020. Synergetic Press.
Não disponível.
KRIPPNER, Stanley; PITCHFORD, Daniel B. Psychedelic Psychotherapy: The Healing Potential of Expanded States. 2019. Inner Traditions.
STRASSMAN, Rick. DMT: The Spirit Molecule: A Doctor's Revolutionary Research into the Biology of Near-Death and Mystical Experiences. 2000. Park Street Press.
STRASSMAN, Rick. DMT: A Molécula do Espírito: Uma Pesquisa Revolucionária sobre a Biologia das Experiências de Quase-Morte e Místicas. 2010. Cultrix.
SHRODER, Tom. Acid Test: LSD, Ecstasy, and the Power to Heal. 2014. Blue Rider Press.
LONDOÑO, Francisco. Trippy: The Awakening of Ayahuasca. 2023. Celadon Books.
BROWN, David Jay. Maps of the Mind: Interviews with Researchers, Therapists, and Designers of Consciousness-Altering Drugs. 2006. MAPS.
MCKENNA, Terence. Food of the Gods: The Search for the Original Tree of Knowledge. 1992. Bantam Books.
MCKENNA, Terence. Comida dos Deuses: A Busca pela Árvore do Conhecimento Original. 2010. Cultrix.
GROF, Stanislav. Realms of the Human Unconscious: Observations from LSD Research. 1975. Viking Press.
NARANJO, Claudio. The Healing Journey: New Approaches to Consciousness. 1973. Ballantine Books.
WINKELMAN, Michael J.; ROBERTS, Thomas B. (Eds.). Psychedelic Medicine: New Evidence for Hallucinogenic Substances as Treatments. 2007. Praeger.
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FAQ - Perguntas Frequentes para a Escuta Psicanalítica
O que é terapia com psicodélicos?
→ É o uso de substâncias como psilocibina e MDMA em sessões clínicas controladas, com o objetivo de tratar transtornos mentais e promover experiências terapêuticas profundas.
Quais substâncias são usadas na terapia psicodélica?
→ Psilocibina, MDMA, LSD, ayahuasca e ketamina são as mais utilizadas, cada uma com propriedades específicas que facilitam diferentes formas de acesso ao inconsciente.
É seguro fazer terapia com psicodélicos?
→ Quando realizada em ambientes clínicos controlados e com acompanhamento profissional, é considerada segura. Fora desse contexto, há riscos físicos e psíquicos importantes.
Quais transtornos a terapia psicodélica pode tratar?
→ Depressão, ansiedade, TEPT, dependência química e transtornos relacionados a traumas são as indicações mais comuns, com resultados promissores em estudos clínicos.
Como a psilocibina funciona na terapia?
→ Ela altera a percepção e diminui as barreiras do ego, permitindo o contato com conteúdos emocionais profundos e reprimidos, favorecendo insights e reestruturações internas.
O que é MDMA na terapia?
→ O MDMA facilita o processamento de traumas ao reduzir o medo e aumentar a empatia, sendo especialmente eficaz no tratamento do TEPT, segundo estudos internacionais.
A terapia com psicodélicos é legal no Brasil?
→ Ainda não é regulamentada, mas existem pesquisas em andamento, como as desenvolvidas pelo Instituto Phaneros, que buscam embasamento científico e respaldo ético.
Como a neurociência apoia a terapia psicodélica?
→ Estudos demonstram que psicodélicos alteram redes neurais e aumentam a plasticidade cerebral, o que favorece novas conexões e formas de pensar, sentir e agir.
Qual é o papel do inconsciente na terapia psicodélica?
→ Os psicodélicos facilitam o acesso a conteúdos inconscientes, como memórias reprimidas e emoções não verbalizadas, permitindo que sejam ressignificados terapeuticamente.
Psicodélicos podem melhorar o bem-estar?
→ Sim. Muitos relatos e pesquisas apontam para aumento na sensação de conexão, felicidade e propósito de vida após sessões terapêuticas bem conduzidas.
O que é psicologia positiva e como se relaciona?
→ É uma abordagem que valoriza aspectos como resiliência, gratidão e felicidade — dimensões que também emergem nas experiências com psicodélicos, ampliando seus efeitos.
Como a terapia online se conecta aos psicodélicos?
→ A psicoterapia online pode ser uma aliada na preparação para sessões com psicodélicos e, especialmente, na integração das experiências vividas, tornando-as mais transformadoras.
Por que a inclusão é importante na terapia psicodélica?
→ A inclusão garante que pessoas de diferentes origens e culturas tenham acesso seguro e ético ao tratamento, respeitando suas histórias e singularidades.
Como o meio ambiente afeta a saúde mental?
→ A crise climática e a degradação ambiental geram angústias existenciais e ecológicas, que podem ser acolhidas e transformadas em processos terapêuticos com psicodélicos.
O que são vieses cognitivas na psicologia?
→ São distorções inconscientes do pensamento que afetam decisões e percepções. Na terapia psicodélica, esses vieses podem ser revelados e trabalhados com mais clareza.
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Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199.
Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Department of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.
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