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Do Corpo ao Avatar.

"Do corpo físico à identidade digital: como os avatares moldam nossa presença nas redes sociais."
"Do corpo físico à identidade digital: como os avatares moldam nossa presença."

A Crise Identitária Digital

Em 2024, uma paciente me confessou, com os olhos fixos no chão: "Dan, meu Instagram tem mais vida que eu". Seu relato não era obviamente sobre inveja ou vaidade, mas sobre um luto — o luto de um ‘’eu real’’ abandonado em prol de ‘’um avatar’’. Essas palavras, que sempre lembro quando o assunto vem à tona, tocam numa verdade incômoda ao sujeito: a tela se tornou o novo divã. Se Freud analisava sonhos, hoje deciframos feeds. Se Lacan falava do espelho, hoje confrontamos algoritmos. Essa falsa migração do corpo físico ao ente digital não é apenas uma mudança de suporte — é uma revolução ontológica. Nas redes sociais, o desejo não se manifesta: é programado. Bytes convertem vulnerabilidades em produtos, corpos em transfiguração e intimidade em espetáculo.

A construção da identidade virtual não é totalmente inocente, se reconhecer em uma imagem é o primeiro passo para a ilusão de ‘’unidade do eu’’. Nas redes, porém, o espelho é infinito: cada postagem, um fragmento; cada like, um tijolo nesse edifício imaginário. O resultado? Um ‘’eu’’ disperso, refém da validação alheia.

Mariana, 22 anos, passa 6 horas por dia editando várias ''selfies'', e fala: "Se não posto, sinto que não existo", Seu caso ilustra a síndrome do "eu espectral": quanto mais se expõe, menos se reconhece. Na psicanálise, descobrimos que sua ‘’projeção imaginária do perfeito’’ era uma fuga da rejeição parental na adolescência. Por esta razão, pela importância e atualidade do tema, vou abrir este artigo com algo muito novo em termos de contexto narrativo: ''O AVATAR''.

"Algoritmos do desejo: entenda como as redes sociais reprogramaram sua mente."
"Algoritmos do desejo: entenda como as redes sociais reprogramaram sua mente."

O Avatar na Era Moderna — Entre o Espelho e o Algoritmo

Donna Haraway, em ‘’Manifesto Ciborgue’’ originalmente publicado em (1985) como parte do livro ‘’Simians, Cyborgs, and Women: The Reinvention of Nature’’. A obra foi escrita em um contexto de intensas transformações tecnológicas (como o surgimento da internet) posteriormente, o texto se tornou um marco teórico para os estudos de gênero, ciência e tecnologia. Tive a grande oportunidade de ler, onde já previa essa fusão entre humano e máquina. Para ela, o avatar não é apenas uma extensão, mas um organismo político — um campo de batalha onde lançamos medos e desejos reprimidos. Em sua essência, é uma metáfora da nossa condição em tempos tecnológicos. O termo ‘’AVATAR’’ é originário do sânscrito ‘’avatara’’ — que designava a encarnação terrena de divindades para restaurar a ordem cósmica —, hoje, descreve o arremesso de nós mesmos em pixels, algoritmos e perfis filtrados. Não foi por acaso que essa palavra migrou do sagrado ao eletrônico, o avatar contemporâneo cumpre uma função quase religiosa, pois oferece redenção através da reinvenção. Nele, buscamos não apenas interligações, mas expiação — uma chance de apagar falhas reais e reescrever narrativas em ''timelines'' imaculadas.

Como Lacan previu, a identidade se constroi na tensão entre o corpo real e sua imagem idealizada. Nas redes, esse estágio é revisitado quase diariamente. Cada selfie, post, atualização de perfil é um ato de reconhecimento: olhamos para esse novo ''Aladim'' como a criança olha para o espelho, buscando uma unidade que nunca se completa. A diferença cabal é que, enquanto ele falava de um ‘’espelho físico’’, hoje temos ‘’cânones algorítmicos’’ — plataformas que não apenas sugerem, mas distorcem, ampliando partes de nós que geram engajamento e apagando as que não se encaixam no feed. Como nota Byung-Chul Han em Psicopolítica (2020), ‘’o avatar é menos uma expressão de liberdade e mais um campo de batalha onde lutamos por visibilidade em uma economia de atenção que nos consome.’’

Assim chegamos a um paradoxo: quanto mais nos esforçamos para sermos autênticos online, mais nos tornamos prisioneiros de scripts pré-definidos. O Instagram, por exemplo, não é uma ‘’vitrine passiva’’, mas um roteiro cultural que dita desde filtros até horários ideais para postar. Shoshana Zuboff, em A Era do Capitalismo de Vigilância (2019), explica como as plataformas transformam nossa busca por identidade em dados comercializáveis. O avatar, nesse sentido, é um produto de dupla face: enquanto nos permite adentrar em novas versões de nós mesmos, simultaneamente nos reduz a pacotes de informações comercializados a anunciantes. A liberdade de ser "quem você quiser" encontra um esbarro na dura realidade de que, no universo digital, até a rebeldia é categorizada em hashtags.

Se vou pelo caminho da literatura filosófica, consigo encontrar outras respostas, principalmente chegando em Foucault, que ao questionar a noção de autoria em ‘’O Que é um Autor?’’ (1969), parece antever essa pulverização do sujeito neste ambiente atual. O avatar não tem um único autor: é co-escrito por algoritmos, seguidores, tendências e até por aqueles que nunca interagem, mas cujo olhar ‘’imaginado’’ nos obriga a performar. Logo, Haraway, em seu Manifesto Ciborgue, vai além: propõe que somos todos híbridos de carne e código, seres liminares para quem a distinção entre humano e máquina já não faz muito sentido. O avatar, seria então, não uma mentira, mas uma desejada verdade aumentada — uma extensão inevitável de um eu que já não cabe na pele.

Existe esperança nesse hibridismo?

Em jogos como Second Life, (esse eu joguei), ''avatars'' tem minorias marginalizadas — LGBTQIA+, pessoas com deficiência, sobreviventes de traumas — reivindicam espaços de existência que são negados, limitados ou fóbicos no offline. Um estudo da Universidade de Stanford (2022) mostrou que 62% dos usuários de ambientes virtuais se sentem mais confortáveis expressando sua identidade de gênero através de avatares do que no mundo físico. Aqui, a tecnologia não é vilã, mas ferramenta de emancipação: um espelho que, ao invés de refletir opressões, as subverte de alguma forma. Destarte, a mesma fluidez que liberta, também aliena. Žižek, em ‘’Bem-Vindo ao Deserto do Real’’ (2003), nos adverte que vivemos em uma era de "fantasias desmaterializadas", onde o corpo digital substitui o fisiológico como locus do desejo "locus do desejo" (do latim locus, "lugar") se refere ao espaço simbólico, psíquico ou material onde o querer se origina, se estrutura ou manifesta. Na psicanálise, essa ideia é central para entender como o desejo opera em contextos como os citados, onde esses novos códigos sociais reconfiguram nossa relação com o que desejamos.) Quando passamos mais tempo alimentando perfis online do que relações presenciais, arriscamos nos tornar estrangeiros de nós mesmos. A ‘’síndrome do impostor digital’’ — uma sensação de que o avatar é mais "real" que o eu offline — não é uma patologia individual, mas um sintoma coletivo de uma cultura que confunde existir com ser visto.

Penso aqui com meus botões, que a saída, talvez, esteja em resgatar o avatar como metáfora, não como prisão. Em ‘’O Brincar e a Realidade’’ (1971), Winnicott fala dos "objetos transicionais" — como um cobertor ou um ursinho — que ajudam a criança a sobreviver à ansiedade da separação. O avatar, nesta comparação com o infantil, poderia ser nosso objeto transicional adulto: um mediador entre o eu íntimo e o mundo externo, desde que lembremos que mediadores não são fins, senão meios. Como escrevi em versos recentes: "Na tela, sou heroi, vilão, poeta, / Mas na carne, sou um verso ainda inacabado. / Que o avatar não apague minha sombra: / Ela é o que me faz real, mesmo desfocado." - Dan Mena.

"Metaverso e psicanálise: o que Freud diria sobre avatars digitais?"
"Metaverso e psicanálise: o que Freud diria sobre avatars digitais?"

A ética do ente robótico, portanto, não está em que o neguemos, mas, em usá-lo com lucidez. Isso exige questionamento a cada postagem: "Estou me expressando ou me editando?". Também, isso requer reconhecer que, por trás de cada perfil, há um corpo que envelhece, cansa e deseja — uma alma que, no fim das contas, é a única capaz de sentir o abraço, o gozo e a dor que nenhum algoritmo pode simular. Afinal, como Lacan nos lembrava, "o real é o que resiste à simbolização". E é nessa resistência — teimosa, imperfeita, gloriosamente nossa — que reside nossa chance de equilíbrio entre o que somos e o que as telas nos convidam a ser.

"O avatar é a máscara que não oculta, mas expõe a ferida narcísica de uma geração que troca a intimidade por likes" - Dan Mena.

A Metamorfose do Desejo na Era dos Avatares

Se a jornada psicanalítica começa no inconsciente freudiano — território de pulsões reprimidas e fantasias cifradas —, ela termina, hoje, nos símbolos binários que regem nossos corpos digitais. Entre esses dois pólos, o erotismo vive uma metamorfose sem precedentes. Nas redes sociais, o desejo já não é apenas uma força íntima: é um script algoritmicamente otimizado, uma coreografia performática. A sexualidade, antes vivida como campus subjetivo, se tornou uma vitrine de corpos maquiados, relações líquidas e encontros descartáveis. Apps como Tinder e Instagram não mediam apenas conexões — reprogramam nossa libido, a transformando em dados navegáveis. Como escrevi em outro artigo: "O like é a moeda do desespero contemporâneo: compramos visibilidade com migalhas da alma." - Dan Mena.

Essa transição da pulsão carnal ao cenário digital não é apenas trivial. Freud, ao falar da sexualidade como motor psíquico, jamais imaginou que um dia a genitalidade seria substituída por swipes e emojis. O "locus do desejo", antes ancorado no corpo, migrou para as telas — um fenômeno que Byung-Chul Han descreve como "a pornificação da existência", onde até a intimidade vira conteúdo. Há uma ironia cruel nesse processo, onde a promessa de liberdade sexual via redes, esbarra na padronização de corpos e fetiches. Esses novos cupidos ‘’tecnos’’, nos empurram para nichos pré-definidos — fitness, geek, goth, etc —, reduzindo nosso hermetismo voluptuoso a categorias binárias.

Do ‘’OnlyFans’’ aos avatares hipererotizados da IA e o Metaverso, eu pergunto?: o que perdemos quando o prazer vira produto, e o corpo, um perfil? Como pegar de volta a autenticidade do desejo em um mundo onde até o orgasmo é mensurável em curtidas?

"Autoestima em colapso: o impacto das comparações digitais na saúde mental."
"Autoestima em colapso: o impacto das comparações digitais na saúde mental."

A busca por validação altera a percepção do próprio corpo e das lascivas, conduzem a um estado de alienação em relação à própria sensualidade. A promessa de encontros rápidos e descomplicados enfrenta a superficialidade da interação, transformando a busca amorosa em um jogo de descartes. Os ''crushs digitais'' deslocam o erotismo para a imediatez do aquisitivo: ''o outro'' não é mais um sujeito desejável, mas um ‘’objeto de satisfação momentânea’’. O impacto psíquico da ''hiper-exposição'' não pode ser subestimado. O aumento de transtornos como ansiedade e depressão tem sido correlacionado com a utilização acentuada dessas mídias, especialmente no que tange à autoestima e à percepção corporal. A comparação, seguida de relatos fictícios de prazer, geram uma distorção da realidade sexual e afetiva. Entretanto, não quero de forma alguma demonizar a tecnologia ou defender um retorno a um passado de telefones fixos. Pelo contrário, o que se faz necessário é uma educação emocional e digital que permita ao indivíduo usar esses espaços como ferramentas de expressão e autoconhecimento, e não como arcabouços psicológicos que se pretende.

Encontrar um equilíbrio entre a vida eletrônica e a autenticidade dos desejos é um desafio contemporâneo, mas também uma oportunidade de ressignificar o prazer. A chave para essa integração está no autoconhecimento e na capacidade de reconhecer que, apesar das inovações, a estrutura do desejo permanece imutável: buscamos, acima de tudo, ser vistos e compreendidos, dentro e fora das telas.

"A ilusão do eu virtual não é uma fuga, mas um sintoma contemporâneo: quanto mais nos mostramos, menos nos encontramos." - Dan Mena.

Projeção de Fantasias e a Busca por Validação

Navegamos por uma cisão primordial: de um lado, o consciente, território iluminado das escolhas racionais; de outro, o inconsciente, abismo onde residem os desejos recalcados, fantasias arquetípicas e pulsões que desafiam a lógica. Quanto mais buscamos controle sobre nossa identidade, mais somos governados por forças subterrâneas que escapam à razão. Nas redes sociais, essa dinâmica ganha contornos dramáticos. Elas não são meras ferramentas de angariar amizades, são teatros do inconsciente coletivo, onde projetamos, em tempo real, nossas sombras e anseios. A construção da identidade virtual, assim, não se limita à autorrepresentação: é um processo de transubstanciação psíquica. Nas plataformas, convertemos impulsos recalcados (a necessidade de ser amado, o medo da invisibilidade) em narrativas visuais. Instagram e TikTok operam como espelhos lacanianos amplificados — refletem não quem somos, mas quem desejamos que o ‘’Outro’’ acredite. Essa hiper-realidade simbólica, cria uma dupla incongruência: quanto nos aproximamos do ‘’ideal projetado’’, mais nos distanciamos do ‘’eu autêntico’’, gerando a fratura interna que Winnicott chamaria de divórcio entre o “verdadeiro self” e o “falso self”.

A compulsão à repetição — mecanismo psíquico que nos leva a reviver traumas na esperança inconsciente de serem dominados, nas redes, assumem forma algorítmica: rolamos infinitamente o feed, buscando em posts alheios a chave para preencher nosso vazio interior, enquanto a plataforma monetiza essa angústia. Portanto, não estamos simplesmente participando de um jogo social: é uma verdadeira economia libidinal, onde trocamos fragmentos afetivos por moedas de aprovação efêmera.

O resultado? Uma identidade em colapso, esfacelada entre a ânsia de autenticidade e a sedução da ‘’persona’’.

A Tirania do Tempo no Metaverso

Se Freud via na memória um "arquivo vivo" do inconsciente, o metaverso propõe um novo paradigma: a ‘’memória como commodity’’. Aqui, não apenas registramos experiências, mas as recriamos, editamos e monetizámos em loops infinitos. Um passeio romântico em Paris, uma conversa com um ente querido falecido, uma reunião de trabalho — tudo pode ser revivido, reescrito ou apagado com um clique. O que isso significa para a psique, estruturada em narrativas temporais lineares (passado, presente e futuro)?

A resposta está na crise do luto. No mundo físico, a morte impõe um limite à nossa identidade: somos o que lembramos, e o esquecimento é parte do processo de cura. Neste ambiente, porém, avatars de falecidos podem ser "ressuscitados" via IA generativa, mantendo conversas, enviando mensagens e até celebrando aniversários. Startups como ‘’HereAfter AI’’ já oferecem esse serviço, prometendo "eternizar" entes queridos como chatbots. O luto exige um trabalho de desapego; aqui, ele é sabotado por uma ilusão de imortalidade que Lacan chamaria de "gozo perverso" — o prazer mórbido de negar a falta que nos constitui. Essa distorção temporal vai além. Plataformas como ‘’Somnium Space’’ permitem que usuários "congelem" momentos em cápsulas de tempo virtual — um jantar, uma conquista, um trauma — para serem revisitados quando quisermos. É a realização extrema da pulsão de repetição freudiana: revivemos compulsivamente traquejos na esperança de poder domá-los, mas no metaverso, essa reiteração é literal, não simbólica. Qual o risco? A cristalização do eu: ficarmos presos em versões idealizadas de nós mesmos, como insetos arqueológicos em âmbar digital.

A temporalidade desta esfera também desafia a noção de presente. Em ambientes como ‘’Decentraland’’, o tempo é elástico: podemos participar de um show dos anos 70, depois de uma reunião corporativa em 2025, e terminar o dia em uma taverna medieval — tudo sem sair do avatar. Essa esquizofrenia cronológica, dilui a experiência do self, que já não se reconhece em uma linha narrativa coerente, sem ter um ‘’continuum temporal’’, o "verdadeiro self" perde seu chão existencial, flutuando entre realidades paralelas como um fantasma sem história. Aqui surge uma pergunta impertinente: o que acontece com o inconsciente quando o tempo vira um playground? Se para Jung, o ‘’inconsciente coletivo’’ seria um reservatório de arquétipos atemporais; no metaverso, ele se torna um banco de dados, onde memórias são armazenadas, indexadas e vendidas. Empresas como ‘’Neurogress’’ já testam interfaces que convertem pensamentos em avatares, transformando sonhos em NFTs. É a capitalização do imaginário, onde até nossos devaneios mais íntimos têm preço. (NFTs são certificados digitais únicos, registrados em’’ blockchains’’, que atestam a propriedade e originalidade de um ativo (arte, música, avatares, terrenos virtuais).

"Da selfie ao deepfake: a evolução da identidade na era tecnológica."
"Da selfie ao deepfake: a evolução da identidade na era tecnológica."

Diferente de criptomoedas, são insubstituíveis: cada NFT é um item exclusivo, conjecturando a busca por singularidade em um mundo de reproduções infinitas. No metaverso, eles simbolizam ‘’status’’: (roupas de avatar, propriedades virtuais) e alimentam a economia do desejo — onde "ter" substituí "ser". Como psicanalista, vejo nestas mecânicas dois caminhos. O primeiro é patológico: uma geração que substitui a elaboração psíquica pelo consumo de vivências pré-fabricadas, trocando a riqueza do conflito interno pela pobreza do entretenimento sem fim. O segundo é terapêutico: o metaverso como espaço de ressignificação, onde pacientes revisitam traumas com a mediação segura de ‘’avatars’’, ou se reconectam com memórias perdidas através de reconstruções digitais. A mediação, como sempre, está no uso crítico. Se o mundo virtual for apenas um novo shopping center de identidades, repetiremos os erros das redes sociais. Mas se o encararmos como uma lupa — que retrata não apenas quem somos, mas quem poderíamos ser —, talvez encontremos nele um aliado no espírito freudiano de "recordar, repetir, elaborar".

Hiper conexão, Isolamento e Narcisismo

Na era da hiper-globalização, a sensação que temos é que hoje tudo parece estar ao alcance de um clique. Isso determina um paradoxo crescente, pois o que se verifica na clínica é o aumento dos sentimentos de encapsulamento, isolamento e solidão. Essa contradição utópica, será muito bem detalhada por Byung-Chul Han, que de forma perspicaz em sua obra; “A Sociedade do Cansaço” de (2015) descreve. Apesar dessa aparente articulação conectiva proporcionada pelas redes, vivemos em uma sociedade exausta, onde a comunicação se tornou um fluxo incessante e frívolo de informações. Ele assevera, que a comunicabilidade não é mais do que simplesmente uma constante sequência de dados e elementos sem sentido, destacando como tal a proliferação de opiniões, pareceres e apreciações, que podem, incoerentemente, isolar mais do que ligar. Esses fatores alargam o narcisismo e amplia exponencialmente o egocentrismo, criando um ambiente onde o indivíduo se vê como um projeto contínuo de atuação. Observa Han: “O narcisismo reflete uma sociedade que valoriza a produtividade e o desempenho acima de tudo, resultando em uma desconexão emocional” (Han, 2015). Nesse universo, não apenas projetamos uma imagem produzida e pré-fabricada de si, mas também envolvemos sentimentos de corroboração. A exibição pública, e a necessidade de sustentar uma imagem impecável, podem obscurecer o verdadeiro eu, criando uma ruptura psicológica. Logo, posso convocar uma frase de Freud; “O narcisismo é a forma mais primitiva de amor que o ego pode ter por si.”

"O narcisismo virtual nos obriga a existir como personagens de nós mesmos, medindo nossa relevância por curtidas." - Dan Mena.

Plataformas Digitais Redefinem - Proximidade e Intimidade

Nesta era informática, a percepção de proximidade não mais se limita ao físico. Sabemos que interações genuínas envolvem trocas emocionais, afetos e empatia — elementos regularmente enfraquecidos no ambiente virtual. Elas criam a sensação de estarmos sempre conectados, mas essa proximidade virtualizada pode ser muito ilusória. Embora estejamos continuamente presentes nelas, a ausência de contato físico direto pode intensificar a sensação de solidão, ao invés de ser um atenuante. Essa nova forma de distanciamento íntimo, enseja compartilhar aspectos pessoais da nossa vida com um público vasto, sem a vulnerabilidade inerente ao contato presencial. Nessa dinâmica, exercemos controle sobre o que revelamos de si, e, ao mesmo tempo, expomos assuntos particulares para o olhar constante e crítico de outros, moldando imperceptivelmente a nossa identidade, conforme tais observações de terceiros.

Nesse sentido, a vizinhança é radicalmente transformada, o ''outro'' está próximo no campus virtual, mas permanece longe em termos de verdadeira vinculação. As interações oferecem encontros e cruzamentos rápidos, imediatos e instantâneos, mas carecem da necessária introspecção que caracteriza as relações autenticamente humanas. Essa redefinição das noções de proximidade e distância, mudam as fronteiras entre o real e o virtual. Redes, enquanto teatros de construção de identidades, intensificam, tanto a alienação quanto o desejo de reconhecimento. Destarte oscilamos, entre presença e ausência, autenticidade e interpretação, enfrentamos não apenas novas formas de ligação ao outro, mas também, sofremos severamente os desafios afetivos e psíquicos decorrentes dessa transição.

"Na sociedade do cansaço, onde a produtividade define o valor do indivíduo, até o amor se tornou uma atuação, e o descanso, um ato de resistência." - Dan Mena.

"Privacidade vs. Exposição: qual o preço de ser visto nas redes sociais?"
"Privacidade vs. Exposição: qual o preço de ser visto nas redes sociais?"

Identidades Despedaçadas

A autoestima, outrora ancorada na congruência interna, agora flutua na instabilidade das métricas externas — "você é suficiente" ou "falhe melhor na próxima tentativa". Destarte, o espelho digital tem uma duplicidade perversa. Enquanto nos mostra corpos esculpidos, vidas perfeitas e conquistas irreais, ele nos devolve uma imagem fragmentada de nós mesmos. O paradoxo do descuido é coreografado, o "espontâneo" é ensaiado e a autoexploração substituiu a disciplina externa. Caçamos falhas como se fôssemos curadores de um museu que nunca aceitará nossa própria exposição. Identifico aqui uma mutação da pulsão de morte: não mais dirigida à autodestruição física, mas à compulsão por editar, apagar e retocar. A medicalização da autoimagem é o desdobramento mais sombrio dessa lógica. Cirurgiões plásticos relatam pacientes que exigem "nariz de influencer" ou "lábios de avatar", trazendo prints de filtros como referência. Um estudo da Faculdade de Medicina de Boston (2023) noticiou que 68% dos jovens entre 18 e 25 anos consideram realizar procedimentos estéticos para se assemelhar a suas versões editadas online. A fronteira entre o real e o virtual se dissolveu, e o corpo físico se tornou uma tela a ser corrigida. Nem tudo, porém, é distopia. Movimentos como #NoFilter e #FaceCheck desafiam a ditadura da perfeição, enquanto artistas como Lauren Lee McCarthy expõem a vigilância algorítmica em instalações que escancaram como nossos rostos são rastreados, categorizados e vendidos. São atos de desobediência ontológica, no espírito de Haraway, que lembram que a tecnologia pode ser ferramenta de emancipação, não só de opressão.

‘’Nem tudo está perdido, — podemos a qualquer momento reatar com a desconexão, retomando o diálogo entre corpo e self.’’ - Dan Mena.


Efeitos na Identidade Juvenil e nas Gerações Digitais

Olhando agora para os jovens que crescem nesse mar digital, a identidade é como uma embarcação no estaleiro, em constante construção. A crise identitária na adolescência é um período de grandes questionamentos e estabelecimento de definições. Essas tribulações se intensificam, à medida que os adolescentes amadurecem tentando se adaptar a uma identificação frouxa, onde a autenticidade é incessantemente sacrificada pela busca dessa validação. Às reflexões íntimas que deveriam se desenvolver naturalmente pelo contato físico — são substituídas por uma ininterrupta troca de mensagens e interações virtuais. A elaboração da personalidade e individualidade dos pubescentes, se transformaram em um jogo de ‘’playstation’’, onde o objetivo é se tornar visível, pop, famoso, popular e curtível, muitas vezes, à custa de explorar verdadeiramente quem se é.

"Como os avatars redefinem a identidade humana no metaverso: uma análise psicanalítica."
"Como os avatars redefinem a identidade humana no metaverso: uma análise psicanalítica."

Ciberbullying e outros Tipos de Violência Digital

Onde a conexão parece à primeira vista uma ponte que nos une, se esconde a sua sombra a importunação, uma forma progressista e sorrateira de atentado. Se no passado recente, as agressões precisavam de proximidade física, hoje, por trás de uma tela, o agressor encontra um disfarce perfeito, envolto num manto de invisibilidade que facilita suas investidas. Se bem que Freud nos recorda, que a agressividade é parte inerente da nossa condição, agora, ela encontra outro espaço manifestado no anonimato, sem a necessidade de enfrentar sua vítima de frente, diretamente. É uma investida ofensiva, que surge como um grito no vazio, sem a culpa de ver as consequências imediatas de suas palavras. Para melhor compreender esse comportamento nada melhor que Lacan. Ele introduz o conceito de gozo, que revela o ''prazer inconsciente'' que o sujeito pode carregar, ao extrair do sofrimento alheio seu próprio deleite.

Onde tudo é instantâneo, o júbilo da arremetida digital é multiplicado, especialmente, porque o invasor sente que está distante, seguro e imune às repercussões diretas de seus atos. Essa violência online, é muitas vezes mascarada de chistes, sarcasmo, humor, piadinhas e brincadeiras, mas pode deixar grandes cicatrizes e feridas emocionais nas suas vítimas. Viver esse mundo virtualizado, onde tudo está sempre à vista, é como habitar uma casa feita de vidro. Um cenário expresso, escancarado, transparente e exposto à constante crítica, onde não importa qual a natureza delas, ao poder provocar efeitos devastadores sobre o bem-estar psicológico do seu habitador. Vale aqui lembrar, trecho inerente da psicanalista Nancy McWilliams, que destaca como nossa autoestima se constrói na maioria com base em como imaginamos sermos vistos.

Na internet se forma essa visão distorcida, que por ângulos extraordinários e prismas diáfanos transpassa uma constante competição pela atenção. A cada curtida, há um impulso de validação, mas sua ausência pode desencadear sentimentos de incongruência. Não tenha dúvidas, o uso excessivo das redes pode levar ao apagão emocional, criando uma sensação paradoxal. Podemos estar cercados de pessoas virtualmente, mas, nos sentimos mais sozinhos do que nunca. Uma comunicação que foca na quantidade, e carece de qualidade, o que esvazia a fundura das relações e interações interpessoais, gerando uma busca perene por abonação, que nunca será o suficiente, é não é mesmo. A vítima de ''ciberbullying'', pode ser atacada(o) justamente na importância que dá ao seu corpo, na formação da identidade, na aparência, hábitos e gostos. Desta forma, encontra o agressor um ambiente propício, com informações particulares e detalhadas da sua provável e próxima vítima. Isso pode gerar depressão e ansiedade, e, em casos extremos, levar ao isolamento ou até mesmo a pensamentos suicidas.

"Cyberbullying: quando a violência migra para o mundo virtual."
"Cyberbullying: quando a violência migra para o mundo virtual."

"O paradoxo do mundo digital é cruel: ele oferece conexões, mas nos devolve uma solidão aprimorada, onde somos vistos, mas nunca verdadeiramente compreendidos." - Dan Mena.

Educação Digital e os Paradoxos da Privacidade

Meu texto não é um manual de instruções para usar nas redes sociais, mas um tratado de sobrevivência psíquica em um mundo onde a linha entre o real e o virtual se esfarela. Ensinar alguém a "navegar com segurança" vai além de evitar golpes ou senhas fracas: é prepará-lo(a) para decifrar as sombras que projetamos e as que nos são impostas. Nas redes, como escrevi certa vez, "o excesso de conexões virtuais não compensa a ausência de vínculos reais; a solidão moderna é a ironia de estarmos sempre cercados, mas nunca visíveis". Esse exílio não é falta de likes, mas a desconexão de um eu que se perdeu entre performances e algoritmos.

A conscientização sobre comportamentos tóxicos começa com um ato radical: reconhecer que o ódio online é sempre autorretrato. O troll que ataca anonimamente, o influencer que humilha para ganhar views, o ex-parceiro que expõe ‘’nudes’’ — todos são sintomas de uma cultura que transformou a agressividade em mercadoria. Plataformas como o Twitter (X) ‘’pagam pela polarização’’, ‘’premiando posts inflamatórios’’ com viralidade. A educação digital precisa ser descolonizadora: não basta bloquear perfis, é preciso questionar por que a crueldade vende.

Como promover autoconhecimento em um ambiente que glorifica a autoficção? A resposta está em pedagogias do imperfeito. Projetos como o ‘’Digital Mindfulness’’ (EUA) ensinam usuários a mapear padrões emocionais: "Você posta por impulso ou por necessidade?", "Sua timeline reflete quem você é ou quem teme ser?". Na prática, é a aplicação do "conhece-te a ti mesmo" socrático ao universo digital — um mergulho nas próprias motivações para escapar da armadilha da comparação.

Nestes termos, a privacidade deixa de ser um direito abstrato e se torna o útero simbólico — espaço íntimo onde o self pode existir sem curadoria. Lacan sugere que o olhar do ‘’Outro’’ nos constitui, mas nas redes, esse ‘’mirar’’ é pervertido em vigilância constante. Cada check-in, cada foto íntima, cada busca no Google é rastreada, vendida e usada para alimentar algoritmos que nos conhecem melhor que nossos psicanalistas. Startups como a ‘’Spyware’’ já oferecem serviços para monitorar parceiros via app, normalizando a violação como prova de "amor". Seria logo a patologização do controle, onde ciúme vira recurso?

A privacidade não é sobre esconder segredos, mas preservar a soberania sobre a própria narrativa. Quando um adolescente expõe sua sexualidade no TikTok antes de se assumir em casa, ou quando um funcionário é demitido por posts políticos antigos, vemos o preço dessa prática: o eu é reduzido a um quebra-cabeça de dados, onde peças íntimas viram armas. A solução? Ferramentas como criptografia de ponta a ponta e autocuidado digital (ex.: dias sem postar) devem andar de mãos dadas com políticas públicas. Na UE, o GDPR tenta frear a coleta predatória, mas enquanto a educação não ensinar que "não postar" é tão válido quanto "postar", continuaremos reféns. A oposição final é esta: a mesma tecnologia que nos permite existir em múltiplas identidades é a que ameaça apagar nossa humanidade. Como escrevi em outro contexto, "a imagem é a máscara moderna: feita para impressionar, programada para esconder, condenada a nunca revelar o que realmente somos". ‘’A educação no convívio com a tecnologia deve ser um ato de resistência — não contra as máquinas, mas contra aquela parte de nós que acredita que valemos mais filtrados do que crus.’’ - Dan Mena.

A geopolítica da privacidade revela outra ponte: enquanto países ricos debatem ética na IA, na periferia global, dados são extraídos como minérios. No Brasil, comunidades são mapeadas por câmeras de reconhecimento facial, e trabalhadores de apps têm seus movimentos vigiados por algoritmos. Essa instrução digital, muito presente em países latinos precisa ser antirracista e decolonial, denunciando como corpos afrodescendentes, indígenas e periféricos são hipervigilados. Projetos como o Tecnopolítica (UFBA) já conectam segurança digital a direitos humanos, ensinando comunidades a usar VPNs e criptografia para proteger seus legítimos protestos. Já a psicologia das redes mostra que a dependência digital não é vício, mas sintoma de vazios. Um estudo da Universidade de Cambridge (2023) associou o uso compulsivo do Instagram à carência de espaços de pertencimento offline. A educação, portanto, deve ir além do "controle de tempo de tela" e criar oásis de acolhimento — oficinas de arte, grupos de diálogo, etc. Mas, há luz nesse cenário, ONGs como a ‘’SaferNet’’ oferecem mentoria para vítimas de ‘’cyberbullying’’, enquanto influencers usam plataformas para discutir saúde mental e auto-aceitação. Essas iniciativas são atos de desobediência pedagógica, provando que as redes podem ser humanizadas.

A saída? Reescrever o contrato social digital. Exigir que plataformas priorizem bem-estar sobre engajamento (como o Modo Bem-Estar do TikTok), ensinar crianças a codificar para entenderem a manipulação algorítmica, e, sobretudo, lembrar que — "nenhum feed captura o cheiro da chuva, o tremor das mãos em um primeiro encontro, ou o silêncio que acolhe".

Impactos Positivos e Negativos das Redes

Este mundo digital que herdamos é palco sem limites geográficos, no fundo da nossa essência busca seus objetos de amor, recompensa e satisfação. Assim, fica fácil compreender por que nos parecem tão sedutoras, ao criarem laços e comunidades, Elas nos conectam com pessoas ao redor do globo, oferecendo oportunidades para moldar e expressar com bastante liberdade, inclusive aquilo que não somos. Por vezes, encontro certo paradoxo, como se estivesse em um grande parque de diversões, saltando de um perfil para o outro, absorvendo o fluxo de informações, validando experiências e ampliando um repertório de relações. Porém, ao mesmo tempo, elas trazem uma provocação. Jacques Lacan, ao falar sobre o ''Grande Outro'', ressalta o papel da alteridade na formação do sujeito.

Presença Virtual: Acredito que muitas pessoas, das quais me incluo, mantêm inúmeras conexões por motivos variados, como curiosidade ou desejo de visibilidade. Esses contatos, são mais uma forma de manter uma presença digital do que de engajamento ativo. Essa rede que vamos formando com o tempo, funciona como uma vitrine, onde a quantidade pode ser mais valorizada do que a profundidade das interações.

"O gozo da exposição online é tão sedutor quanto traiçoeiro – na ânsia de sermos vistos, abrimos mão do direito de sermos protegidos." - Dan Mena.

''O gozo da exposição online pode ser tão sedutor quanto traiçoeiro."
''O gozo da exposição online pode ser tão sedutor quanto traiçoeiro."

Função: Redes funcionam como plataformas para partilhar atualizações pessoais, acompanhar atividades de outros e manter uma presença online.

A manutenção de muitos contatos, pode ser uma forma de reafirmar a própria identidade em diversos contextos, mesmo que a interação real seja limitada ou nula.

Diferenças na Participação: O nível de engajamento varia significativamente entre os usuários. Alguns preferem uma postura mais observadora, enquanto outros se envolvem de maneira mais ativa. Essa disparidade entre o número de conexões e a angariação real pode refletir essa diversidade no comportamento dos amigos.

Psicologia das Conexões: Do ponto de vista psicológico, manter um extenso número de conexões pode ser uma forma de lidar com inseguranças ou mesmo buscar validação.

Valor das Interações: A qualidade das interatividades deve superar a quantidade. Ter um círculo menor, mas genuinamente significativo, pode ser mais gratificante do que possuir milhares de contatos com pouca interação real. Isso destaca a importância de focar em conexões autênticas e valiosas.

Refletir e Avaliar: O que esperamos delas e como essas expectativas estão sendo atendidas pode nos ajudar a ajustar nossas práticas, promovendo uma maior qualidade nas trocas.

"A comparação é a nova prisão do sistema; quanto mais olhamos para o outro, mais nos afastamos de nós mesmos." - Dan Mena.

Navegando pela Pressão dos Padrões Sociais

Freud, em sua análise que faz sobre o mal-estar na civilização, observa que a sociedade impõe restrições que sufocam nossos impulsos. Essa tensão se reflete na constante atuação de um ''eu performático'', sempre em busca de aplausos. Para fechar, diante desse cenário, a questão que surge é: como encontrar o equilíbrio entre a vida digital e a preservação da saúde mental?

Winnicott fala; ao desenvolver o conceito de espaço transicional, descreve um lugar intermediário onde o indivíduo pode se expressar criativamente sem ser consumido pelas exigências do mundo exterior. Esse espaço é cada vez mais necessário. Precisamos de um ponto de fuga, um lugar onde possamos nos reconectar com nossas raízes, longe das pressões modernas. Navegar nelas, exige também a habilidade de se afastar e olhar com distância crítica, usando o autoconhecimento como chave para manter o equilíbrio. Em um ambiente que nos convida constantemente a nos comparar é importante a autopercepção como ferramenta indispensável para evitar a armadilha de medir nosso valor com base em padrões alheios.

"A verdadeira conexão não acontece nas curtidas, mas nos encontros fora da tela, onde não há filtros nem edições." - Dan Mena.

Gratificação Instantânea e o Encontro Fiel Consigo Mesmo

Assim como no balé, onde o aprumo entre força e leveza é a base da bailarina, nas redes, precisamos de uma coreografia cuidadosa. Não se trata de abandonar as plataformas, pelo contrário, devemos aprender a dançar com elas, sem perder o compasso da nossa vida interior. Estarmos atentos, e trabalhar entre o princípio do prazer e da realidade, pois o verdadeiro contentamento não vem da gratificação imediata que possam fornecer os vínculos, mas do encontro fiel consigo mesmo. Para escapar das armadilhas que suas propostas podem criar e apresentar, é vital adotar uma postura crítica e consciente. Pensar sistematicamente sobre como a tecnologia nos transforma em consumidores passivos. Não sermos arrastados pela correnteza de conteúdos infinitos, ficar ligados para não se perder nessa imensidão eletrônica de ‘’fake news’’, em vez de criar nosso próprio texto. Essa abordagem consciente começa com a aceitação de que a vida digital é uma articulação positiva, não uma realidade definitiva. Precisamos de um espaço, sim, onde possamos brincar e criar, longe das críticas e julgamentos. O que pode ser entendido como um retorno à autenticidade — uma maneira de engajamento sem sermos absorvidos completamente por elas.

"Como escapar da gratificação instantânea das redes sociais e reencontrar sua autenticidade?"
"Como escapar da gratificação instantânea das redes sociais e reencontrar sua autenticidade?"

"Usar a internet de forma consciente é a arte de equilibrar presença e ausência, interação e solidão, visibilidade e privacidade." - Dan Mena.

Identidade e Ilusão - Dan Mena.

Na era digital, ser lúcido é urgente

Navegar com clareza, seguir consciente

Não só para evitar o perigo voraz

Ver no espelho o que a tela traz.

A bússola é o saber que nos orienta

Distinguir o que fere, o que nos alimenta

Aceitar-se por inteiro, sem disfarçar

É o passo mais nobre para se equilibrar.

Na rede, a visibilidade é tentadora

Sua moeda cobra em dor duradora

O “olhar do Outro” com precisão

Na tela nos fere sem compaixão.

Viver exposto é viver vigiando

Privacidade? Um fio se esvaindo

Cuidar da imagem é gesto vital

Para não naufragar no digital.

Luzes e sombras formam esse palco

Onde o “eu” se exibe sob brilho opaco

Likes seduzem, mas não preenchem

E as máscaras caem quando não se entende.

Seguidores mil, mas a troca é vazia,

Por que tanta gente, se falta harmonia?

Buscamos o olhar, a aprovação

Mas o afeto real mora fora da mão.

Como num balé, oscilamos no ar

Entre o “ser” e o “parecer” a nos empurrar

A gratificação é veloz, viciante

Mas nos tira o centro, nos torna errantes.

A vida online não é a verdade

É só ferramenta, não identidade

Brinque, crie, sem medo ou prisão

A liberdade nasce da expressão.

Contentamento não vive em curtida

Mas no silêncio que pulsa a vida

Na era da imagem, o maior labor

É ser fiel ao que vibra no interior.

Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. São Paulo: L&PM, 2011.

LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.

HARAWAY, Donna. Manifesto Ciborgue: Ciência, Tecnologia e Feminismo-Socialista no Final do Século XX. São Paulo: Ubu, 2020.

BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

TURKLE, Sherry. Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other. Nova York: Basic Books, 2011.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1987.

WINNICOTT, Donald. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

ZUBOFF, Shoshana. A Era do Capitalismo de Vigilância. São Paulo: Intrínseca, 2019.

ORBACH, Susie. Bodies. Londres: Profile Books, 2009.

DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Contraponto, 1997.

RECALCATI, Massimo. O Complexo de Telêmaco. São Paulo: Ideias & Letras, 2015.

BUTLER, Judith. Corpos em Aliança e a Política das Ruas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

VIRILIO, Paul. O Espaço Crítico. São Paulo: Editora 34, 1993.

KEEN, Andrew. O Culto do Amador. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

LANIER, Jaron. Dez Argumentos para Você Deletar suas Redes Sociais Hoje. São Paulo: Intrínseca, 2018.

MATHELIN-VANIER, Catherine. O Silêncio nas Crianças. Lisboa: Climepsi, 2005.

ŽIŽEK, Slavoj. Bem-vindo ao Deserto do Real. São Paulo: Boitempo, 2003.

MCWILLIAMS, Nancy. Psychoanalytic Diagnosis. Nova York: Guilford Press, 1994.

CHOMSKY, Noam; HERMAN, Edward. Manufacturing Consent. São Paulo: Futura, 2004.

Palavras Chaves

FAQ - Perguntas Frequentes

O que é a crise identitária digital?

→ É a fragmentação do "eu" entre o mundo real e o virtual, gerada pela busca de validação online.

Como as redes sociais afetam a autoestima?

→ Através da comparação constante e da dependência de likes como métrica de valor.

O que é FOMO?

→ Medo de ficar de fora (Fear of Missing Out), ansiedade causada pela idealização de vidas alheias nas redes.

Como o metaverso impacta a identidade?

→ Permite criar ‘’avatars’’, mas pode aprofundar a cisão entre o "eu real" e o virtual.

O que são NFTs e como se relacionam com a identidade?

→ Tokens digitais únicos que transformam aspectos do eu em produtos comerciais.

Como proteger minha privacidade online?

→ Use criptografia, evite ‘’oversharing’’ e reflita antes de postar.

O que é a "sociedade do cansaço" de Byung-Chul Han?

→ Cultura que substitui a disciplina externa pela autoexploração compulsiva.

Como o cyberbullying afeta a saúde mental?

→ Gera ansiedade, depressão e, em casos extremos, pensamentos suicidas.

Qual a relação entre Lacan e os algoritmos?

→ Ambos moldam o desejo através do "Outro" (seja humano ou inteligência artificial).

O que é um "falso self" digital?

→ Persona criada para agradar algoritmos, em detrimento da autenticidade.

Como equilibrar a vida online e offline?

→ Estabeleça "dias de detox digital" e priorize interações presenciais.

Por que o corpo virou uma "vitrine" nas redes?

→ A pressão por padrões estéticos transformou a imagem física em moeda social.

O que Freud diria sobre o Instagram?

→ Que é um palco para a pulsão de morte disfarçada de busca por perfeição.

Como a educação digital pode ajudar?

→ Ensinando a criticar algoritmos e a usar redes como ferramentas, não vícios.

Qual o futuro da identidade no metaverso?

→ Será definido pela ética: ou nos libertamos dos avatares ou nos tornamos seus reféns.

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Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199.

Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.

Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Department of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.

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