O que é Autismo? Sintomas, Sinais e Tratamento Explicados de Forma Clara.
- Dan Mena Psicanálise
- 22 de out. de 2024
- 18 min de leitura

TEA na Contemporaneidade: Reflexões Psicanalíticas e Desafios Sociais. “O autismo revela a beleza da nossa diversidade.” Dan Mena.
O autismo, como o compreendemos hoje, surgiu pela primeira vez de forma sistemática através do trabalho inovador de Leo Kanner. Este psiquiatra austríaco, que se estabeleceu nos Estados Unidos, apresentou um marco essencial na compreensão do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em 1943. Em seu artigo intitulado “Autistic Disturbances of Affective Contact”, contribuiu com observações meticulosas de um grupo de crianças que apresentavam comportamentos inovadores e enfrentavam dificuldades extraordinárias nas interações sociais. Com essa pesquisa, ele não apenas redefiniu o termo “autismo” dentro do campo psiquiátrico, mas também moldou um padrão comportamental que incluía o isolamento social, interesses restritos e uma resistência marcante a mudanças. Com seu trabalho, destacou um distúrbio significativo na capacidade natural de se relacionar com o mundo social, revelando um impressionante desinteresse nas interações. Essa percepção inicial destacou o hermetismo do autismo, evidenciando que essas crianças não apenas se afastavam da socialização convencional, mas que opostamente tinham uma forma única de interagir e compreender o mundo ao seu redor.
À medida que essa caminhada de descobertas do autismo continua a se desdobrar, ela se torna autenticamente pessoal para muitas famílias, incluindo a minha. A condição de Davi, meu neto autista, nos ensinou a celebrar as pequenas vitórias — um sorriso radiante, uma nova palavra ou uma participação significativa. Esses momentos, muitas vezes, passam despercebidos na correria do cotidiano, mas para nós, cada um deles é uma conquista que merece ser celebrada. Aprendemos que, de uma maneira única, cada progresso é um
testemunho da resiliência e da capacidade de Davi se superar.
Minha filha e meu genro têm sido pilares gigantes nessa jornada, demonstrando uma dedicação admirável a Davi, e transformando seu amor em uma missão ainda maior. Como
professores de educação física, eles idealizaram e implementaram o projeto “As Estrelas de Davi”, um programa de atividades aquáticas inclusivas que visa criar um ambiente acolhedor e respeitoso para crianças com TEA. Essa proposta, que agora se concretizou brilhantemente como uma realidade de sucesso, simboliza o esforço coletivo para derrubar barreiras e preconceitos, oferecendo a outras famílias um caminho de esperança e empoderamento para seus filhos. No projeto, fornecem um espaço seguro para as crianças, que também funcionam como uma plataforma de aprendizado e transformação. Davi agora, não é apenas uma fonte de inspiração para nós; ele se tornou um farol que guia a prática e a transfiguração para muitas outras crianças e suas famílias. Por meio deste programa, estamos todos contribuindo para uma visão de mundo mais abrangente, onde cada criança, independentemente de suas condições, possam prosperar e serem aceitas na sua natureza particular. Essa experiência coletiva molda nossa missão familiar, promovendo um entendimento mais profundo e empático sobre o autismo na sociedade contemporânea. Ao olharmos para Davi, vemos não apenas um menino no espectro, mas um indivíduo completo, repleto de sonhos, interesses e uma essência que enriquece nossas vidas e a de muitos outros. Assim, convido todos a refletirem sobre a importância da integração, do afeto e do amor, comemorando as diversidades que enriquecem nosso convívio. Que esta leitura possa inspirar outros a se unirem, promovendo um futuro de afirmação e valorização. Boa leitura.
Como uma condição neurodesenvolvimental afeta significativamente a capacidade de comunicação e interação social. A diversidade de manifestações do autismo é ampla, o que justifica a inclusão da palavra "espectro" no nome. Os sinais de TEA podem surgir nos primeiros anos de vida e geralmente incluem dificuldades em manter contato visual, atraso no desenvolvimento da fala, interesses restritos e repetitivos, além de uma forte resistência a mudanças na rotina. No entanto, sua apresentação é variada, com alguns indivíduos
demonstrando habilidades cognitivas avançadas em áreas específicas, enquanto outros enfrentam desafios mais severos.
Avaliação e Diagnóstico
O diagnóstico do autismo requer uma avaliação clínica detalhada e multidisciplinar, que inclui observações comportamentais e, em alguns casos, testes neuropsicológicos. Esse
processo envolve uma equipe de profissionais, como pediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Devido à ampla variação na manifestação dos sintomas, o
diagnóstico pode ser desafiador, mas é crucial para garantir que os indivíduos recebam o apoio necessário desde cedo. Sua complexidade demanda uma abordagem integrativa.
Intervenções baseadas em evidências, como a Análise Comportamental Aplicada (ABA), são amplamente utilizadas para melhorar as habilidades de comunicação e socialização, bem como promover o desenvolvimento emocional e cognitivo. Terapias ocupacionais e fonoaudiológicas também são comuns para auxiliar no progresso do desenvolvimento. A intervenção precoce é fundamental para maximizar o potencial de desenvolvimento dos portadores. A psicanálise também oferece uma perspectiva valiosa na sua compreensão.
"O diagnóstico do autismo exige uma abordagem colaborativa entre diversos profissionais, uma vez que cada caso revela nuances únicas de comportamento, exigindo um olhar sensível e detalhado." Dan Mena.

Um legado Contemporâneo para o Autismo desde a Psicanalise.
Frances Tustin foi uma psicoterapeuta infantil britânica que fez contribuições significativas ao campo da psicanálise aplicada ao autismo. Seu trabalho se destacou especialmente por
desenvolver a teoria do "encapsulamento autístico". Em sua proposta observou que as crianças autistas, confrontadas com um mundo sensorial avassalador e confuso, desenvolviam um "encapsulamento" como mecanismo de defesa. Essa bolha comportamental se refere a um "mundo interior" que a criança desenvolve para se proteger dos estímulos externos que são percebidos como ameaçadores ou excessivos.
Esse comportamento resulta em respostas e condutas determinantes, como evitar o contato visual, apegos a rotinas específicas e o engajamento em atividades repetitivas. Poderiam ser então uma resposta a uma percepção sensorial opressora do mundo ao redor?. As crianças, na tentativa de regular essas experiências, desenvolvem comportamentos que ajudam a criar uma barreira protetora entre elas e o ambiente externo. Em suas sessões de terapia, ela adotava uma abordagem empática, buscando entender as necessidades emocionais das crianças, e acreditava que, ao fornecer um ambiente previsível, os terapeutas poderiam ajudar as crianças a reduzir suas defesas e a se engajar mais plenamente com o mundo social.
"O encapsulamento autístico, conforme proposto por Frances Tustin, é um refúgio silencioso onde uma criança tenta proteger-se de um mundo que invade seus sentidos com
intensidade desmedida." Dan Mena.
Esse legado importante de Tustin continua a ser relevante nos dias de hoje. Seu trabalho ajudou a mudar a percepção do autismo de uma condição meramente patológica para uma
outra que envolve uma gama complexa de experiências sensoriais e pungentes. Sua abordagem empática e centrada na criança continua a inspirar terapeutas e educadores, e criar ambientes que respeitem e valorizem as diferenças individuais.
"A teoria de Tustin transforma radicalmente o entendimento do autismo, revelando que, por trás do aparente isolamento e retraimento, há uma tentativa vital de criar um escudo contra estímulos sensoriais que são percebidos como insuportavelmente intensos e desorganizados, forçando a criança a se proteger por meio de mecanismos defensivos que permitem uma interação mínima com o mundo externo, preservando sua integridade emocional e cognitiva." Dan Mena.
A teoria das "mães geladeiras".
Proposta por Bruno Bettelheim, é uma das explicações psicanalíticas mais controversas sobre a origem do autismo infantil. Ela sugeria que as mães de crianças autistas eram
emocionalmente frias e distantes, o que contribuía para o desenvolvimento do autismo nos filhos. Essa ideia surgiu entre as décadas de 1940 e 1960 e foi amplamente discutida.
Bettelheim argumentava que o comportamento das mães, caracterizado por uma falta de afeto e conexão emocional, poderia ser um fator desencadeante do autismo. Ele descreveu
essas mães como "geladeiras" porque supostamente tratavam seus filhos com uma frieza que impedia o desenvolvimento emocional adequado. Em seu livro "A Fortaleza Vazia" ("The Empty Fortress"), ele chegou a afirmar que o desejo dos pais de que seus filhos não existissem era um fator precipitante do autismo.
"A teoria das 'mães geladeiras' revela não apenas uma falha crítica da psicanálise clássica, mas também uma tendência prejudicial de culpabilizar as mães, perpetuando estigmas que
desumanizam a experiência materna e obscureceram a verdadeira complexidade do autismo." Dan Mena.
Essa visão gerou um estigma significativo em relação às mães de crianças autistas, levando a uma culpa injusta sobre suas habilidades parentais. A partir da década de 1970, essa teoria foi amplamente contestada e desacreditada, especialmente com o avanço de pesquisas que destacavam fatores genéticos e neurológicos como causas do autismo. O movimento de neurodiversidade, surgido nas últimas décadas, também criticou a abordagem psicanalítica, enfatizando que o autismo deve ser visto apenas como uma variação natural da condição do ser, ao invés de uma patologia a ser curada. Representou um momento histórico na compreensão do tema, refletindo as limitações da psicanálise na época. Embora tenha sido uma tentativa de explicar um fenômeno complexo, suas implicações negativas para as mães e a percepção pública do autismo levaram a um afastamento dessa visão em favor de abordagens mais inclusivas e baseadas em evidências científicas contemporâneas.
"Embora a intenção de Bettelheim fosse entender o autismo, sua teoria refletia uma época em que a psicanálise priorizava explicações simplistas e morais, em detrimento de uma análise mais rica e multidimensional que a condição realmente exigia. Ele ignorou fatores neurológicos, genéticos e ambientais que afetam papéis cruciais na experiência vívida por indivíduos autistas." Dan Mena.
Winnicott e o Ambiente como Facilitador da Subjetividade Infantil.
Não posso deixar de me remeter à visão de Winnicott sobre o autismo e o desenvolvimento infantil, que amplia a compreensão sobre como o ambiente molda a subjetividade de uma
criança. O conceito de “mãe suficientemente boa” sublinha a importância da resposta adequada às necessidades emocionais do bebê, sem a pressão de perfeição, mas com
sensibilidade e presença. A falha nesse ambiente, especialmente nas fases iniciais da vida, pode gerar defesas emocionais, como estados autísticos, que protegem a criança de
ansiedades intoleráveis. O ambiente sustentador ou “holding” — como base teórica — reflete a importância da segurança emocional fornecida pela figura materna e pelo ambiente em geral. Este espaço de acolhimento não é apenas para atender necessidades imediatas, mas também para permitir que a criança explore suas emoções e experimente o seu próprio desenvolvimento.
"O autismo é uma forma singular de explorar o mundo, não um déficit." Dan Mena.
O “holding” na prática clínica pode ser entendido como mais do que uma resposta física. Na verdade, é um ambiente emocional onde as ansiedades primitivas podem ser contidas. Para crianças com autismo, onde a dificuldade de comunicação pode complicar o processo de expressão emocional, esse tema se torna ainda mais relevante. Um espaço terapêutico eficaz pode focar não apenas em decifrar comportamentos simbólicos, mas também em proporcionar um ciclo de suporte constante, físico e emocional, facilitando o progresso da identidade e das capacidades afetivas. A transferência, neste contexto, não se limita à interpretação, mas envolve a criação de um vínculo emocional entre o analista e o paciente, possibilitando um espaço de sustentação para o crescimento.
"O 'holding' é um abrigo emocional contra ansiedades primitivas." Dan Mena.
Esse tipo de abordagem também valoriza interações não-verbais, fundamentais no tratamento do autismo. A capacidade de construir laços sensoriais, por meio do toque ou da presença física, ganha relevância. Intervenções como terapia assistida com animais reforçam essas conexões, exemplificam portanto o conceito winnicottiano de um ambiente suficientemente bom, onde o paciente autista pode encontrar segurança e desenvolução.
A ideia da “mãe suficientemente boa” também se aplica no contexto da terapia, onde o terapeuta assume um papel que vai além da interpretação para se tornar uma figura presente e disponível, facilitando a adaptação emocional da criança. Essa mãe “suficientemente boa” não precisa ser perfeita; ela precisa ser adequada e flexível às necessidades, o que, no caso do autismo, significa entender e adaptar-se à forma singular de expressão e interação.
Winnicott também sugeriu que os pais ''inventam''.
Essa visão nos convida, como psicanalistas, a expandir interpretações e ir além das normas. A psicanálise, nesse sentido, se torna uma ferramenta para dar voz ao que é inefável,
permitindo que o sofrimento ou a singularidade do paciente seja compreendido de uma maneira nova. Como Freud destacou, a psicanálise é uma maneira de “dar voz aos que não
podem falar”, uma missão que adquire um entendimento amplo no contexto do autismo, onde muitas vezes o sofrimento emocional não se expressa claramente.
A contribuição também nos lembra de que a psicanálise deve considerar o ambiente no qual a mãe está inserida. O “ambiente suficientemente bom” não é apenas um fator individual, mas também reflete o apoio que uma mãe recebe da sociedade e de seus relacionamentos, o que, por sua vez, influencia sua capacidade de cuidar do bebê. Essa abordagem na rede de cuidados e nas relações mais amplas sugere que na clínica precisamos ir além do cenário tradicional e olhar para a totalidade das influências que cercam a criança autista. Entretanto, como qualquer abordagem terapêutica, ela apresenta desafios práticos. Ainda existe uma lacuna significativa na formação de profissionais de saúde psíquica, o que impede que muitos terapeutas programem eficazmente essas abordagens. Em sistemas de saúde que privilegiam modelos tradicionais e mais rígidos, a flexibilidade emocional e o suporte necessário para eles(as) muitas vezes não são contemplados especialmente. Portanto, uma mudança na mentalidade e uma formação contínua dos terapeutas são essenciais para que a abordagem winnicottiana possa ser aplicada em sua totalidade.
"Para crianças autistas, o ambiente facilita a conexão sensorial." Dan Mena.

O foco na potencialidade do bebê, uma visão que retira a abordagem de deficiência ou falha, ressignifica o desenvolvimento. Como Winnicott coloca, o bebê descobre a realidade em vez de criar, o que implica que o papel do ambiente é facilitar essa descoberta e permitir que ela explore o mundo ao seu ritmo. Este é um conceito libertador, ao propor que cada forma de ser, incluindo as formas de ser autistas, sejam válidas e plenas de sentido. Isso nos convida a ir além dos parâmetros tradicionais de normalidade e a considerar sua riqueza singular. “Dar voz ao sofrimento não dito” é o que a psicanálise faz de melhor. É o que permite surgir com novas formas de compreender a vida. Seguindo a ideia de Winnicott e sua aplicação na compreensão do (TEA), inclue um ponto essencial que envolve uma mudança de perspectiva: deixar de enxergar o autismo apenas como um déficit ou um distúrbio a ser corrigido, e sim como uma maneira singular de estar no mundo, com suas próprias potencialidades e formas interativas.
"O ambiente terapêutico deve acolher tanto o dito quanto o não dito." Dan Mena.
A Dimensão Sensorial do Autismo: Sensibilidade e Sobrecarga.
O (TEA) é caracterizado por uma ampla gama de sintomas e comportamentos, sendo a ''hipersensibilidade sensorial'' uma das dimensões menos compreendidas. Esse prisma do autismo envolve como as pessoas no espectro percebem, processam e reagem aos estímulos do ambiente, o que pode variar enormemente de uma pessoa para outra. Alguns indivíduos podem ser extremamente sensíveis a sons, luzes, cheiros, sabores e texturas. Isso significa que determinados influxos que para a maioria das pessoas são comuns e inofensivos podem ser críticos para aqueles com autismo. Por exemplo, o som de uma sirene pode ser intolerável, uma luz fluorescente pode causar desconforto extremo, ou a textura de certos alimentos pode ser insuportável ao ponto de evitar a alimentação.
Esta hipersensibilidade é muitas vezes descrita como descomedimento, onde os sentidos são amplificados e, em muitos casos, perturbadores. Segundo Temple Grandin, uma famosa cientista autista, "É como ter um amplificador em nossos sentidos, e é difícil lidar com todas as informações de uma só vez."
Eles ocorrem quando a quantidade de provocações perceptuais recebidas pelo cérebro é excessiva e difícil de processar. Isso pode resultar em uma resposta de "luta ou fuga", onde a única maneira de lidar com a energia das incitações é evitá-las completamente. Em situações de superabundância, comportamentos como se cobrir, fugir do local ou se isolar podem ser vistas como estratégias de enfrentamento. Para lidar com esses fatores, várias estratégias e intervenções podem ser adotadas. A Terapia de Integração Sensorial é uma abordagem comum que busca ajudar as pessoas a processar melhor ditos eventos. Essa terapia envolve atividades que podem ajudar a "organizar" o cérebro, de modo que as respostas aos motivadores se tornem mais reguladas.
"Quando o cérebro é inundado por uma exorbitância sensorial, a resposta pode ser a busca por refúgio, ilustrando como os comportamentos de isolamento são, na verdade, estratégias de sobrevivência em um ambiente repleto de estímulos incômodos." Dan Mena.
Outras estratégias incluem a criação de ambientes controlados, como salas de terapia sensitiva, onde compensações como luzes, sons e texturas podem ser ajustados para ajudar
autistas a se sentirem mais confortáveis. Pais e educadores também podem aprender a identificar os gatilhos específicos e implementar ajustes, como o uso de fones de ouvido para bloquear sons altos ou óculos de sol para reduzir a exposição à luz intensa. Ao reconhecer ditas diferenças e adaptar os ambientes e interações, é possível reduzir o fardo sensório e promover um ambiente mais acolhedor. Além disso, essa compreensão pode ajudar a desmistificar comportamentos que muitas vezes são mal interpretados como resistência ou desinteresse, quando na verdade são respostas a uma experiência negativa do entorno.
"Para os indivíduos no espectro autista, a hipersensibilidade pode ser comparada a viver em uma sinfonia descontrolada, onde cada nota, cada luz e cada textura se intensificam,
tornando a harmonia da vida diária um desafio constante." Dan Mena.
Construção da Identidade Pessoal no (TEA).
A ''construção da identidade pessoal'' é um processo complexo e contínuo que envolve a formação de um sentido de si mesmo, englobando características, opiniões, valores e
experiências. Esse processo é ainda mais intrincado, uma vez que é moldado por fatores e desafios únicos que influenciam não apenas a forma como se percebem, mas também como são percebidos pela sociedade.
A formação da identidade em indivíduos autistas enfrenta desafios devido a várias dificuldades associadas ao enunciado, como problemas de comunicação, desafios na interação social e na compreensão das normas sociais. Essa articulação pode levar à percepção de ser "diferente", afetando profundamente a autoestima e a autoimagem. A Dra. Laura Meranda observa que; “os indivíduos autistas frequentemente enfrentam um dilema de identidade, onde precisam conciliar sua percepção interna de si mesmos com as expectativas e visões externas da sociedade”. Essa tensão interna pode resultar em sentimentos de isolamento e incompreensão, criando uma luta constante para o autoconhecimento e aceitação.
Além disso, o dilema de identidade pode ser agravado por experiências de ''bullying'', discriminação e exclusão social, frequentemente relatadas por eles. A pressão para se conformar às expectativas sociais pode levar à internalização de uma autoimagem negativa, contribuindo para questões de saúde psíquica, como ansiedade e depressão. Assim, é primordial que os esforços para apoiar a formação da identidade deles sejam focados não apenas no desenvolvimento de habilidades sociais, mas também na promoção da aceitação.
“À medida que os indivíduos autistas navegam por um mar de desafios sociais e emocionais, a promoção de um ambiente inclusivo se torna essencial para cultivar uma identidade que celebre suas diferenças e fortaleça sua autoestima.” Dan Mena.

O Papel da Família.
A família desempenha um papel vital na formação da identidade, núcleos familiares que criam um ambiente de liberdade, apoio e incentivo ajudam a fortalecer a autoestima. O suporte do laço deve incluir uma compreensão das suas particularidades, promovendo uma comunicação aberta e respeitosa. Um ambiente familiar que valide as experiências emocionais dos indivíduos autistas pode ajudar a mitigar os sentimentos de inadequação e solidão. Além disso, grupos de apoio e programas comunitários oferecem espaços onde indivíduos autistas podem se conectar com outras pessoas que compartilham experiências semelhantes. A inclusão em atividades escolares, esportivas e sociais proporciona oportunidades de autoexploração e crescimento, contribuindo para uma construção de identidade positiva e saudável. O papel da família, aliado ao suporte da comunidade, pode ser um fator determinante na formação de força e resiliência.
Narrativas Positivas.
A representatividade na mídia e na literatura são essenciais para a construção da identidade. Ver pessoas autistas retratadas de maneira autêntica ajuda a normalizar suas vivencias e promover uma autoimagem favorável. Isso permite que eles reconheçam que suas lutas e triunfos são válidos e fazem parte de uma comunidade mais ampla. A ativista autista Amy Gravino destaca que "ter modelos de comportamento e exemplos positivos é capital para que indivíduos autistas possam visualizar o que é possível em suas próprias jornadas". A mídia, seja em filmes, livros ou programas de televisão — desempenham um papel importante na formação da percepção pública. Narrativas inclusivas podem desafiar estereótipos negativos e oferecer uma visão mais abrangente, mostrando não apenas os desafios enfrentados, mas também as conquistas individuais e grupais.
A Importância do Diagnóstico Precoce.
Para garantir intervenções eficazes e melhorar a qualidade de vida das crianças afetadas, se faz necessário identificar os sinais de autismo nos primeiros anos de vida, o que não apenas
potencializa as chances de progresso das habilidades sociais, comunicativas e cognitivas, mas também, permitem que famílias e profissionais de saúde implementem estratégias de
apoio adequadas. Compreender a importância desse diagnóstico é essencial, pesquisas indicam que intercessões iniciadas antes dos três anos podem resultar em melhorias
significativas nas habilidades de comunicação e interação social. A neuroplasticidade, que se refere à capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar, é especialmente pronunciada durante os primeiros anos de vida. Portanto, quanto mais cedo as interposições forem realizadas, maiores serão as chances de um desdobramento positivo. Estudos demonstram que crianças que recebem suporte adequado desde cedo apresentam melhor desempenho acadêmico e social ao longo da vida.
Os sinais de alerta para o TEA podem ser observados desde os primeiros meses de vida. É importante que os pais estejam atentos a comportamentos que podem indicar a necessidade de avaliação profissional:
Ausência de sorrisos ou expressões faciais em resposta a interações sociais.
Atrasos na fala ou na capacidade de manter contato visual.
Foco intenso em objetos ou atividades específicas, muitas vezes desconsiderando o contexto.
Identificar esses sinais precocemente pode ser determinante para buscar ajuda profissional e iniciar intervenções apropriadas. O diagnóstico tardio pode ter sérias implicações, crianças que não recebem o diagnóstico e a intervenção adequadas correm o risco de enfrentar dificuldades escolares, problemas emocionais e sociais, além de baixa autoestima. Mediações demoradas muitas vezes resultam em oportunidades perdidas para o progressão de habilidades, como a comunicação efetiva e a formação de laços afetivos. A importância do diagnóstico precoce é inegável. Ele não apenas abre portas para intervenções eficazes, mas também fornece às famílias as ferramentas necessárias para apoiar seus filhos, onde cada indivíduo tem a oportunidade de alcançar seu pleno potencial.
"Modelos de comportamento inspiradores ajudam a validar as experiências dos autistas, mostrando que suas vidas são repletas de potencial e não se resumem apenas às suas
dificuldades." Dan Mena.
Caminhos para Novas Descobertas.
A pesquisa sobre o (TEA) tem evoluído significativamente nas últimas décadas, impulsionada por avanços nas ciências biomédicas, tecnológicas e comportamentais. O futuro da pesquisa em autismo ainda reserva muitas oportunidades e provocações para desvendar os mistérios dessa intricada condição. Neste contexto, vejamos alguns dos caminhos promissores que podem levar a novas descobertas e transformar a vida deles.
Genética e Genômica.
A genética é um dos campos mais promissores para a pesquisa em autismo. Recentemente foram identificados centenas de genes associados ao TEA, oferecendo novos prismas sobre
suas causas biológicas. Com o advento do sequenciamento genômico de nova geração, os cientistas agora podem analisar grandes volumes de dados genéticos para identificar
variantes que contribuem para sua manifestação. O projeto ''Simons Foundation Autism Research Initiative'' (SFARI) é um dos líderes nesse campo, financiando pesquisas que exploram a base genética do autismo. A esperança é que, com a identificação de variantes de genes específicos, seja possível desenvolver terapias personalizadas que possam atenuar os sintomas do autismo e melhorar sua qualidade de vida. Como afirmou Stephen Scherer, diretor do Centro de Genômica Aplicada em Toronto: "A genética nos permite entrar na caixa preta do autismo e entender suas raízes biológicas."
Neuroimagem e Neurociência.
Outra área em crescimento é a neuroimagem, que utiliza tecnologias como ressonância magnética funcional (FMRI) e tomografia por emissão de pósitrons (PET) para estudar a estrutura e a função do cérebro. Esses conteúdos têm revelado diferenças significativas na conectividade neural e na ativação de áreas cerebrais específicas em comparação com indivíduos neurotípicos. A neurociência computacional também está emergindo como uma ferramenta poderosa para modelar e entender os circuitos cerebrais envolvidos no autismo. A combinação de neuroimagem e modelagem computacional pode ajudar a identificar ''biomarcadores cerebrais'' que poderiam ser utilizados para diagnóstico precoce e monitoramento do progresso terapêutico. Como ressalta a Dra. Elizabeth Torres, neurocientista da Rutgers University:
"A tecnologia nos dá uma janela para o cérebro autista, nos permitindo ver padrões e conexões que antes eram invisíveis."
Além disso, novas terapias, como o uso de realidade virtual (VR) e tecnologias assistivas, estão sendo levantadas para melhorar a comunicação e as habilidades sociais, por exemplo, e possível criar ambientes controlados e seguros para praticar interações, proporcionando uma plataforma inovadora para o aprendizado. O Dr. Matthew Belmonte, pesquisador de autismo, observa: "A realidade virtual oferece uma oportunidade impar para as pessoas com TEA praticarem habilidades sociais em um ambiente sem julgamentos." A identificação de biomarcadores é uma área crítica para o diagnóstico preciso e a personalização do tratamento. Biomarcadores biológicos, como perfis proteômicos e metabólicos, estão sendo investigados para melhorar a precisão diagnóstica e prever respostas terapêuticas. Essa combinação, somadas a avaliações comportamentais pode resultar em uma abordagem de diagnóstico mais holística e precisa, permitindo intervenções direcionadas. Estudos longitudinais que acompanham indivíduos ao longo do tempo também são essenciais para entender a progressão alcançada. Como destaca a Dra. Joanne Kurtzberg, especialista em neurobiologia:
"Biomarcadores podem revolucionar a maneira como diagnosticamos e tratamos o autismo, permitindo abordagens mais personalizadas e eficazes."
"A convergência entre genética e neurociência promete não apenas desmistificar o autismo, mas também fornecer caminhos valiosos para desenvolver terapias inovadoras que atendam às necessidades individuais." Dan Mena.
O futuro da pesquisa em autismo é promissor e diversificado, abrangendo desde avanços em genética e neurociência até a implementação de práticas inclusivas. À medida que
continuamos a explorar esses caminhos, é essencial que a pesquisa seja guiada por uma abordagem interdisciplinar e colaborativa, envolvendo cientistas, médicos, terapeutas,
educadores, famílias e as próprias pessoas portadoras. Investir em pesquisa é fundamental para descobrir novas maneiras de apoiar e empoderar eles(as). Com um esforço conjunto,
podemos avançar no entendimento e na aceitação do autismo, promovendo um futuro onde todos possam alcançar uma vida feliz e satisfatória. Como diz Stephen Shore, professor e autista:
"Se você conhece uma pessoa com autismo, você conhece uma pessoa com autismo."
Finalmente quero explicar essa citação incrível dita por quem vive na pele o espectro, ninguém melhor para dizer:
A frase pode parecer um jogo de palavras à primeira vista, mas carrega um significado mais reflexivo sobre a diversidade e a individualidade das experiências autistas.
Rejeição de Generalizações;
Enfatiza que o autismo não é uma característica única ou homogênea. Cada pessoa no espectro apresenta um conjunto distinto de traços, habilidades e desafios. Portanto, conhecer uma pessoa com autismo não implica conhecer todas, pois suas experiências e formas de se relacionar com o mundo podem variar amplamente.
Experiências Diversificadas;
O (TEA) é um espectro amplo que abrange uma variedade de manifestações e níveis de funcionalidade. Desde a comunicação até as habilidades sociais e interesses, cada indivíduo traz sua própria história e perspectiva. Essa diversidade nos lembra que não podemos fazer suposições ou julgamentos baseados em estereótipos.
Valorização da Individualidade;
Destaca a importância de ver a pessoa em sua totalidade, em vez de rotulá-la apenas por sua condição. Ela incentiva a valorização do indivíduo como um ser completo, que possui
interesses, paixões, medos e esperanças além do seu diagnóstico. Isso promove uma visão mais humana, onde a identidade da pessoa não deve ser limitada.
Desmistificação do Autismo;
Ao afirmar que conheço uma pessoa com autismo, reconhecemos que o tema é cercado por mitos e mal-entendidos. Essa frase ajuda a desmistificar o transtorno, promovendo uma
compreensão mais clara e realista sobre o que significa ser autista. Isso pode contribuir para reduzir o estigma e aumentar a aceitação na sociedade.
Incentivo ao Relacionamento;
Por último, essa afirmação nos convida a construir relacionamentos significativos com pessoas autistas. Ao reconhecer que cada um terá suas próprias experiências e dimensões, somos incentivados a nos conectar de maneira mais empática. Isso vai certamente enriquecer nossas vidas.
Assim, a frase "Se você conhece uma pessoa com autismo, você conhece uma pessoa com autismo" nos lembra da importância de reconhecer e valorizar a individualidade dentro da
diversidade. Ela nos encoraja a ir além das generalizações, promovendo uma compreensão mais rica desse universo singular. Ao adotarmos essa abordagem, contribuímos para um
mundo onde todos são respeitados, independentemente de supostas diferenças. Até breve, Dan Mena.
Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199.
Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.
Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.
Commentaires