''Estou Pensando em Acabar com Tudo: Análise Psicanalítica da Solidão e a Fantasia em Charlie Kaufman.'' by Dan Mena.
- Dan Mena Psicanálise

- há 3 dias
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O Labirinto da Mente e o Cinema Inquisidor
Onde os fios da memória se emaranham e a tênue fronteira entre a realidade e os domínios oníricos se desfazem, surge o cinema como um farol incômodo. Ele apresenta nossas inquietações, desejos secretos e os medos que sussurram na consciência. Charlie Kaufman é um alquimista moderno da sétima arte, que se destaca por sua coragem em adentrar nesses recantos obscuros.
Em "Estou Pensando em Acabar com Tudo", Kaufman não se limita a contar uma história, ele orquestra uma experiência sensorial que transcende a tela. A narrativa se desdobra como uma distorção do real, tocando não apenas a psique dos personagens, mas a nossa própria. Questionando a maleabilidade da identidade, a fragilidade das relações e a inevitabilidade da entropia que corrói tudo, até mesmo a sanidade. Através de diálogos afiados e simbolismos enigmáticos, força a confrontar a natureza ilusória da realidade, nos deixando à deriva nas incertezas existenciais. O filme se torna, assim, um portal para o labirinto interior, onde a busca por significado é tão perturbador quanto revelador.

Poucos cineastas atuais conseguem navegar nessas águas agitadas com sua audácia. Em sua obra-prima de 2020, "Estou Pensando em Acabar com Tudo", em inglês, o título original (I'm Thinking of Ending Things), ele sobrepuja a mera narrativa, entrando de sola no visceral dos limites da percepção, questionando a própria natureza da existência.
Longe de ser uma simples história a ser consumida passivamente, o filme se apresenta como um enigma a ser decifrado, um quebra-cabeça psíquico que exige a participação ativa de um espectador atento. A trama, acompanha uma jovem mulher interpretada brilhantemente por Jessie Buckley, cuja identidade flutua como areia entre os dedos em uma viagem de carro com seu namorado, Jake (Jesse Plemons), para conhecer os pais dele em uma fazenda isolada.
No entanto, o que se inicia como um encontro familiar trivial, logo se transforma em um pesadelo surreal, onde as balizas entre o real e o imaginário se esgarçam, abrindo as fissuras que se escondem sob a superfície da normalidade.
"A fantasia é o último bastião do Ego que se recusa a aceitar a castração, transformando a falta em um cenário ilusório de completude." - Dan Mena.
A maestria de Kaufman reside em sua habilidade de manipular a linguagem cinematográfica como um instrumento de investigação psicanalítica. Cada cena e diálogo, cada detalhe aparentemente insignificante é carregado de simbolismos e significados dissimulados. Portanto, não é apenas um filme primoroso, mas um estudo assertivo sobre a depressão, a solidão e a busca desesperada por conexão em um mundo alienante.
Quero aventar essas camadas de "Estou Pensando em Acabar com Tudo", arrancando suas nuances e escancarando as verdades subversivas que se escondem em sua narrativa labiríntica.
Vou adotar uma abordagem acadêmica e profissional, mas com uma linguagem acessível e envolvente, buscando despertar em vocês meus leitores uma elucubração quanto a natureza da identidade, a fragilidade da mente e a busca por sentido em um universo caótico e imprevisível. Vamos embarcar através dos corredores da psique, onde a realidade se confunde com a fantasia, e a verdade se mistura em múltiplas e paradoxais abstrações.
"Na solidão radical, o ‘’Outro’’ é convocado não como parceiro, mas como uma distorção do self que implora por reconhecimento." - Dan Mena.
É um ‘’case’’ que também se debruça sobre a alienação contemporânea, a crise de identidade e o desejo irrealizável. A estrutura de sua diegese quebrada e a atmosfera claustrofóbica são ferramentas que Kaufman emprega para nos colocar diretamente no inconsciente do protagonista. A casa dos pais, com suas conversas repetitivas e a passagem de tempo acelerada, funcionam como um espaço psíquico onde o Superego (os pais, a moralidade social) e o Id (o porão, os desejos reprimidos) se manifestam de forma grotesca. A jovem, com sua constante hesitação sobre "acabar com tudo", não está pensando unicamente em terminar um relacionamento, mas sim em encerrar sua própria fantasia que sustenta a frágil existência de Jake, o zelador solitário. Vou dissecar os oito pilares temáticos que sustentam essa obra, desde a melancolia existencial até a função do objeto transicional na vida adulta. Meu objetivo é dar um novo olhar crítico, utilizando o ângulo analítico, o impacto social e o fundo psicológico para tornar este filme um marco na discussão sobre a saúde mental e a subjetividade.
Perfil Psicológico Analítico
(Lucy/Louisa/Cindy)
Jessie Buckley
Projeção Idealizada e Objeto Transicional. Não é uma pessoa real, mas a fantasia de um eu idealizado e de uma parceira que valida a existência de Jake. Sua inconstância de nome e profissão expõe a natureza fluida e não-integrada da fantasia. Ela é o ego auxiliar que Jake constrói para lidar com sua solidão e fracasso pessoal.
Jake
Jesse Plemons
Sujeito Fragmentado e Melancólico. Representa o Ego que tenta manter a ficção de uma vida normal e conectada. É o eu que deseja, mas que é incapaz de lidar com a realidade de seu isolamento particular. Sua repressão e controle sutil sobre a narrativa são mecanismos de defesa contra a castração simbólica de seu fragor social.
O Zelador
Guy Boyd
O Eu Real e Desintegrado. É a realidade nua e crua de Jake, o Id que vive uma vida de rotina e solidão. É o ponto de origem do sujeito que falhou em se constituir plenamente no laço social e que se refugia na inventividade de uma estrutura psíquica defensiva para evitar a dor da existência.
"O objeto transicional, quando cronificado na vida adulta, é a prova de que na maturidade a ponte para a realidade foi quebrada pelo medo da perda." - Dan Mena.

A Falha na Constituição do Sujeito e a Gênese da Fantasia
A constituição do sujeito é um processo altamente complexo, marcado pela entrada na ordem simbólica e pela aceitação da castração, ou seja, da perda e da incompletude. Em "Estou Pensando em Acabar com Tudo", vamos testemunhar o desacerto catastrófico desse processo no personagem central, o zelador. Sua incapacidade de estabelecer laços sociais autênticos e de lidar com a rejeição o leva a um retorno ao imaginário, onde a fantasia se torna o único território de sobrevivência mental.
A jovem, com sua beleza e intelecto idealizados, é a personificação dessa incorreção. Ela é o ‘’objeto a’’ lacaniano, o ícone do desejo que preenche a falta estrutural no sujeito. No entanto, por ser uma criação da mente de Jake, é inerentemente instável e contraditória, mostrando a desintegração do Ego de seu criador. A constante mudança em seu nome, sua área de estudo e suas memórias é a prova inequívoca de que ela não possui uma identidade própria, mas é um mosaico de retalhos e idealizações que Jake colecionou ao longo de sua vida solitária.
"A melancolia não é a tristeza pela perda, mas a revolta subversiva e silenciosa contra a impossibilidade de ser o que se idealizou." - Dan Mena.
A viagem de carro, que ocupa grande parte do filme, pode ser interpretada como um percurso regressivo ao espaço potencial da infância, onde o devaneio ainda era forte e onipotente. O carro, quando isolado pela nevasca, é a bolha psíquica onde Jake tenta manter sua ilusão de completude e intimidade. A nevasca é o símbolo do isolamento e da barreira psíquica que o separa da fronteira da realidade externa.
A solidão encapsulada do zelador não é apenas um estado social, mas uma posição existencial de quem não conseguiu se inscrever plenamente no discurso do ‘’Outro’’. Ele é o sujeito não-reconhecido, cuja vida só ganha sentido através da construção de um mundo interno onde ele é o protagonista de uma história de amor, razão e intelecto. A depressão é a melancolia pela perda de um objeto que nunca foi real, o extravio da própria possibilidade de existir e ser.
"O cinema de Kaufman é a radiografia do inconsciente, um labirinto fantasma onde o tempo é circular e a identidade, uma miragem." - Dan Mena.
Se a identidade da jovem é banal e mutável, o que isso exibe sobre a estrutura do desejo de Jake e sua capacidade de reconhecer o ‘’Outro’’ como um ser autônomo?
A fantasia de Jake é uma neurose ou uma psicose? Em que medida a ruptura com a realidade no filme se assemelha a um mecanismo de defesa psicótico?
O que o silêncio e a repetição nos diálogos da viagem de carro nos dizem sobre a comunicação em um relacionamento que é, em sua essência, um monólogo interiorizado?
"O sujeito que falha em se encontrar no espelho do ‘’Outro’’ constrói uma trilha para a fantasia, onde o objeto idealizado será a única testemunha de uma existência que se recusa a ser incompleta." - Dan Mena.

O Objeto Transicional e a Idealização do ‘’Outro’’ no Adulto
O conceito de ‘’Objeto Transicional’’, primorosamente cunhado por Winnicott, se refere a um objeto, (tipo um ursinho de pelúcia, um cobertor, uma chupeta) que ajuda a criança a fazer a transição da dependência total da mãe para a relação com o mundo exterior. Em "Estou Pensando em Acabar com Tudo", a jovem assume o papel de um ‘’Objeto Transicional Adulto’’, uma figura emblemática que permite a Jake, o zelador, suportar a ausência e a solidão que o acometem.
A idealização do ‘’Outro’’ é o motor dessa construção elaborada. Jake projeta na jovem todas as qualidades que admira e sente falta em si: inteligência, sensibilidade, emotividade e profundidade artística. Ela recita poemas, fala sobre física quântica e critica o cinema de forma preparada e erudita. Essa projeção maciça serve para mascarar a inadequação e o vazio de Jake. A jovem não é amada por quem ela é, mas pela função que ela cumpre no mundo interno dele.
"O amor idealizado é a neurose que nos impede de amar o ‘’Outro’’ em sua falha, preferindo a segurança estéril da projeção." - Dan Mena.
No entanto, o objeto transicional é, por natureza, ambíguo, ele é parte da realidade (o corpo da atriz, sua presença física) e parte da ilusão (a inconstância e a idealização). É essa ambiguidade imprecisa que gera o mal-estar e a estreiteza na jovem. Ela está constantemente "pensando em acabar com tudo" porque a utopia é insustentável. O objeto transicional precisa ser desinvestido para que o sujeito possa, finalmente, se relacionar com a difícil realidade.
"A desconstrução da realidade é o preço que a mente paga para proteger o sujeito da verdade insuportável de sua própria incompletude." - Dan Mena.
A casa dos pais é o espaço transferencial por excelência, um lugar onde as regras da realidade são suspensas temporariamente, onde tudo se dobra e a identidade se dissolve. Os pais, com suas mudanças de idade e suas falas repetitivas, são figuras arcaicas, presas na memória afetiva de Jake, que se manifestam para validar ou condenar sua fantasia.
A destruição da imaginação é o ato de coragem que o filme deseja sugerir. Quando a jovem finalmente desce ao porão e encontra os uniformes de zelador, ela descobre a verdade sobre a origem de sua existência, ela é portanto, uma criação compensatória da identidade reprimida de Jake. Esse momento é a passagem ao ato real que força o zelador a confrontar a realidade de seu eu.
"A angústia da existência é o grito do ser que se descobre livre, mas paralisado pela responsabilidade de criar seu próprio sentido." - Dan Mena.
Qual é o custo psíquico de manter um objeto transicional na vida adulta, e como isso impede o amadurecimento emocional e a formação de laços verdadeiros?
Como a cultura contemporânea, com sua ênfase na idealização, redes sociais, dating apps, chats, contribuem para a criação de falsos relacionamentos como o de Jake?
Se a jovem é uma projeção, a dor e a angústia que ela sente são reais?O que isso implica sobre a natureza da aflição e ansiedade no mundo interno do sujeito?
"O objeto transicional, quando não desinvestido, se torna a prisão do sujeito, onde a ilusão de completude impede a coragem de habitar a realidade da falta." - Dan Mena.

A Depressão e a Melancolia Existencial
A depressão, soturnidade e melancolia são o pano de fundo emocional de "Estou Pensando em Acabar com Tudo". O filme não trata da tristeza passageira, mas de uma crise existencial que se manifesta na paralisia da vontade e na desconexão com o mundo. A frase-título, repetida pela jovem, é o sintoma que serve a vontade de aniquilação que habita o zelador.
Essa reação à perda de um objeto amado, mas com a particularidade de que ele não sabe o que perdeu, e a ausência internalizada no próprio Ego. O zelador extraviou a oportunidade de uma vida plena, de um amor real e de um reconhecimento social. A jovem é a tentativa desesperada de reparar esse descaminho inventando, esse percurso falho. "O subterrâneo da psique guarda os uniformes da verdade, a identidade que o Ego rejeita para vestir a máscara da performance." - Dan Mena.
A atmosfera sombria e a paisagem do inverno no filme são a objetivação da melancolia de Jake. O frio, a neve, isolamento e encapsulamento são a projeção de seu estado interior, criando um vazio afetivo que se estende ao cenário. A falta de calor humano na casa dos pais, com seus diálogos pobres e a desorganização temporal, reforçam a ideia de um ambiente psíquico frio e regressivo.
O existencialismo, que permeia completamente a obra de Kaufman, encontra na angústia seu ponto de convergência. A liberdade radical de escolha, tema central dessa vivência, se torna um fardo insuportável para o zelador. Ele é confrontado com essa absurdidade, e a de assumir a responsabilidade por sua própria solidão articulada. O pensamento de acabar com tudo é, paradoxalmente, um grito de liberdade em face de uma vida percebida como sem sentido.
A música do musical Oklahoma, é o último vestígio de esperança e, ao mesmo tempo, a confirmação do seu fracasso. A canção é sobre a idealização de um futuro que nunca se concretiza, que jamais chegará. O zelador, ao cantar essa trilha, aceita sua condição de eterno ‘’outsider’’, o Jud da vida real, que jamais conquistará a heroína.
"A falha na constituição do sujeito é a semente da qual brota e se desenvolve a fantasia, a única terra onde o desejo pode florescer sem a ameaça do Real." - Dan Mena.
Como a passagem do tempo e a memória distorcida no filme descortinam a estrutura temporal da melancolia, onde o passado se impõe sobre o presente?
A escolha de Charlie por um final ambíguo é uma forma de devolver ao espectador a responsabilidade de dar interpretação ao sentido de vida e morte?
De que maneira a estética do feio e do grotesco, os pais e o porco com larvas, funcionam como uma catarse para a angústia reprimida do zelador?
"A melancolia é o luto por uma perda que o sujeito não pode dar nome, ela se torna o peso insuportável da própria existência." - Dan Mena.
A Fantasia como Refúgio e a Crise da Realidade
Toda essa ilusão em "Estou Pensando em Acabar com Tudo" não é um devaneio, mas uma estrutura defensiva que substitui a realidade. A obra cinematográfica opera inteiramente dentro do espaço criativo da fantasia de Jake, o que explica suas inconsistências e as mudanças de cenário e identidade. A crise da realidade é o tema central. Seria isso na psicanálise lacaniana, a tela que mascara a falta no ‘’Outro’’ e no sujeito. Ela é o cenário perfeito e imaginário onde o sujeito tenta encenar seu desejo de encontrar um lugar no mundo. Para Jake, criar uma namorada inteligente e um jantar familiar é a tentativa de suturar a ruptura em seu ser.
"A repetição no trauma é a tentativa desesperada do inconsciente de reescrever toda uma cena, buscando um final que a realidade negou." - Dan Mena.

A relação entre a jovem e Jake é a pura encenação, diálogos repletos de citações e discussões intelectuais que não parecem orgânicos, mas sim textos decorados que Jake gostaria de poder praticar. A jovem, ao recitar o poema que está no livro de Jake, denota que suas palavras não são suas, mas sim vozes elaboradas e artificiais do zelador. A autoria e a originalidade são postas em xeque, mostrando claramente a crise de personalidade esvaziada na vida de Jake. O porão da casa dos pais é o núcleo da realidade reprimida, é o lugar do trauma e da verdade. O zelador tenta manter a jovem longe desse ambiente, pois a descoberta da verdade, os uniformes, a vida verdadeira destruiriam sua narrativa fictícia. A resistência em descer ao porão é uma defesa do Ego em confrontar o inconsciente.
A trama final entre a jovem e Jake, que se transforma em uma perseguição com o zelador, é a luta entre a ficção e a realidade. Caracteriza a expressão do desejo e a tentativa de união, mas a caçada é a impossibilidade desse laço existir de fato. Por fim, uma narrativa insustentável que precisa ser abandonada para que o sujeito possa, finalmente, morrer para o imaginário, emergir e nascer para o real.
"O silêncio no diálogo é uma incomunicabilidade, onde duas solidões se encontram sem jamais se tocarem de fato." - Dan Mena.
Qual é o limite ético da fantasia? Quando a construção de um mundo interno se torna uma negação da vida é uma patologia?
A inconstância da jovem é uma crítica de Kaufman à fluidez e superficialidade das relações contemporâneas, onde o parceiro é apenas uma projeção de nossos desejos?
Como o filme utiliza a linguagem do sonho, condensação e deslocamento, para construir a estrutura da fantasia e confundir o espectador?
"A fantasia é a moldura que o sujeito se impõe para suportar a vertigem da falta, mas é na fissura quebrada dessa moldura que a verdade do desejo irrompe." - Dan Mena.
O Complexo de Édipo Não Resolvido
A visita à casa dos pais de Jake é o ponto de virada do filme e o epicentro da minha análise. Os pais (Toni Collette e David Thewlis) são apresentados de forma grotesca, intensa, exagerada e anacrônica, uma memória afetiva distorcida e o ‘’Complexo de Édipo’’ não resolvido de Jake.
A idealização inicial dos pais, que a jovem tenta manter, rapidamente se transforma em desidealização, excentricidade e estranheza. Eles mudam de idade, de humor e posição e usam um carrossel da história de vida a cada corte, o que simboliza a natureza fragmentada da ‘’imago parental’’ na mente de Jake. Os pais não são pessoas reais, mas personagens internos que representam a lei (o pai) e o desejo (a mãe) que Jake não conseguiu integrar na sua infância.
A mãe, com sua histeria e sua preocupação excessiva com a higiene, limpeza e a aparência, pode ser lida como a figura materna castradora que impede o desenvolvimento autônomo das fases do filho. O pai, com sua debilidade, fragilidade e sua tentativa de usar a intelectualidade, é a figura paterna fraca, não consegue se impor como homem na lei simbólica de forma eficaz.
"A arte, no final, é o único objeto sobrevivente da destruição da fantasia, transformando a dor da existência em beleza trágica." - Dan Mena.

O jantar é a encenação sublime do trauma familiar. As conversas são lorotas, desguarnecidas, vazias e cheias de tensão, expondo uma comunicação falha e o lugar de ausência afetiva que marcaram a infância de Jake. A rejeição e a falta de reconhecimento que ele sentiu são projetadas na estranheza que a jovem sente por ele. A desidealização dos pais é um passo necessário para o amadurecimento psíquico, destarte, Jake, se esforça, mas está preso em sua fantasia, Assim, não consegue realizar nem avançar essa etapa. Ele congela a imagem dos pais em um tempo mental onde ele ainda é uma infante que busca aprovação e amor incondicional. A destruição da casa pela nevasca, é a tentativa de aniquilação desse cenário edípico que o aprisiona.
Como a mudança de idade dos pais elabora a atemporalidade do inconsciente e a permanência do trauma na vida adulta?
A relação bizarra entre os pais é uma projeção da visão distorcida de Jake sobre o casamento, privacidade e a intimidade?
O que a obsessão da mãe com a limpeza e a ordem evidenciam sobre a tentativa de controle em um ambiente familiar anárquico, caótico e desorganizado?
"O Complexo de Édipo não resolvido é uma âncora psíquica que prende o sujeito ao porto da infância, onde as ‘’imagos parentais’’, idealizadas, fantasiosas e aterrorizantes, impedem de avançar na autonomia." - Dan Mena.
A Busca por Sentido em um Mundo Absurdo
O existencialismo, com sua ênfase na liberdade, responsabilidade e absurdos, é a espinha dorsal filosófica de "Estou Pensando em Acabar com Tudo". É sem dúvidas uma meditação sobre a falta de sentido em um universo indiferente, onde o sujeito é condenado a ser livre. A jovem, com seus monólogos internos sobre a filosofia, psicologia e a literatura, é a voz do existencialismo. Suas ponderações sobre a morte, o tempo e a natureza da arte são a tentativa de Jake de dar um norte à sua existência. Ele usa o discurso filosófico como um mecanismo de defesa contra o vazio.
A viagem é a metáfora da marcha existencial, um caminho sem destino claro, sob uma nevasca que obscurece a visão, simbolizando a incerteza e a angústia da nossa condição atual. A decisão de "acabar com tudo" é a escolha radical que o existencialismo coloca sobre a autenticidade em face da morte.
"O Complexo de Édipo não resolvido é o fantasma persecutório que assombra a vida adulta, transformando o parceiro em uma ‘’imago parental’’." - Dan Mena.

O zelador, em sua solidão, é o sujeito que falhou e bugou em construir seu próprio sentido. Ele se torna o Jud do musical Oklahoma, esse que não consegue se integrar à comunidade. Sua fantasia encontra amparo na má-fé sartreana, na tentativa de fugir da responsabilidade por sua própria liberdade.
A cena final, com o zelador cantando no palco, é a aceitação desse absurdo. Ele se torna o ator principal de sua tragédia grega, o herói melancólico que, ao reconhecer sua solidão, atinge uma suposta forma de autenticidade. A morte simbólica do zelador, é a destruição deste traje, é o último ato cenográfico de soberania nesse mundo que ele não conseguiu habitar.
"A busca por um final é a busca por um norte, e o pensamento de acabar com tudo é a última escolha de quem se sente sem escolha e sem saída." - Dan Mena.
A ilusão de Jake é uma tentativa de criar sentido em um mundo incongruente, ou é a negação da responsabilidade pela construção desse sentido?
Como a estética do filme, com seu ritmo lento, os diálogos medíocres, contribuem para a sensação de tédio e alienação que são base central do existencialismo?
O que a morte do porco com larvas, mencionada por Jake, simboliza em termos de corrupção e a inevitabilidade da decadência nessa visão do ser?
"A ansiedade é o preço da liberdade de escolha, e a fantasia, o refúgio covarde de quem se recusa a ser o autor de sua própria essência." - Dan Mena.
Símbolos, Arquétipos e o Retorno do Reprimido
Ao cavar isso psicanaliticamente "Estou Pensando em Acabar com Tudo", vejo uma rica temperança de símbolos, ícones e arquétipos que emergem do inconsciente de Jake. Uma viagem ao self, onde o reprimido retorna de forma distorcida e onírica.
O porão, funciona como símbolo arquetípico do inconsciente (o Id freudiano). É o lugar escuro onde a verdade (os uniformes de zelador) e o trauma (o porco com larvas) estão nas sombras, escondidos. A descida ao porão é a tentativa de análise, o confronto com a penumbra que Jake tenta evitar. A jovem é o ‘’Arquétipo da Anima’’ na psicologia junguiana, a projeção feminina do zelador. Ela é a ponte entre o inconsciente e o Ego, a figura mediadora que tenta integrar os aspectos reprimidos e recalcados da personalidade de Jake. Sua inconstância mostra a natureza não-integrada da Anima em um homem que vive no exílio mental e emocional.
O porco com larvas é o símbolo da corrupção e da morte, o trauma original que Jake não consegue processar, a decadência da vida e a inevitabilidade do fim. A fantasia que articula é a tentativa de negar essa realidade biológica e existencial do ser.
"A alienação contemporânea é a fábrica de zeladores solitários, onde a invisibilidade social é o preço da não-conformidade." - Dan Mena.
O musical é o símbolo da cultura popular e a idealização do ‘’American Dream’’. Jake, o zelador, é o Jud, o ‘’eterno outsider’’ que não se encaixa nesse ideal social. A canção final é a aceitação da marginalidade e a rendição final ao inconsciente.

Como a nevasca que provoca o isolamento do cenário funciona como uma insígnia da regressão a um estado uterino e protegido do inconsciente?
O que a figura do zelador como trabalhador invisível, expõe sobre o impacto social da alienação e da falta de reconhecimento na saúde mental?
A morte no filme é um ato de aniquilação ou uma tentativa de integração do Eu?
"O Inconsciente não fala a língua da lógica, mas a dos símbolos; e o filme, como os sonhos, são a via para a verdade que o Ego se esforça em recalcar." - Dan Mena.
O Impacto Social e a Crítica à Alienação Contemporânea
Além da minha análise individual, "Estou Pensando em Acabar com Tudo" funciona impecavelmente como uma crítica social contundente à alienação e à solidão na sociedade moderna. O filme traz a fragilidade dos laços sociais e a crise de sentido que permeiam de forma contundente a vida atual.
A solidão de Jake não é um caso isolado, mas um sintoma fidedigno da leitura social. A incapacidade de conexão autêntica, a idealização projetada e excessiva do parceiro(a) e a fuga para a fantasia, são mecanismos de defesa comuns em uma sociedade que valoriza a performance e a imagem em detrimento da subjetividade.
Às vezes percebo que, em meus escritos, retorno insistentemente ao tema dos mecanismos de defesa psíquicos que se manifestam em uma sociedade marcada pela valorização da performance, da eficiência e da imagem em agravo a subjetividade.
Essa minha recorrência talvez mostre, não apenas um interesse teórico, mas também um sintoma coletivo evidente e corriqueiro, uma tentativa de compreender o mal-estar que atravessamos. No enquadramento psicanalítico, posso interpretar essa repetição como uma forma de elaboração, um modo de dar sentido ao conflito entre o desejo de autenticidade e as exigências de adaptação que nos são impostas pelo social. A repressão da verdade, as emoções, a negação das fragilidades e a formação reativa que fazemos de uma persona idealizada. Tudo isso engloba expressões desse mesmo movimento defensivo.
Assim, ao retornar ao assunto, meu inconsciente talvez busque simbolizar aquilo que a cultura insiste em recalcar: a vulnerabilidade, a angústia, o sofrimento e o limite que enfrentamos diante de um mundo que nos exige uma impossibilidade, que sejamos impecáveis e perfeitos.
"A verdade é sempre um objeto traumático, e a ficção o curativo que o Ego aplica sobre a ferida aberta do Real." - Dan Mena.

Seguindo com o tema, a casa dos pais, com sua atmosfera de falsidade e conversas vazias, é a metáfora da família disfuncional e da comunicação superficial que marcam a vida social. O jantar é a encenação do ritual doméstico que perdeu seu sentido e se tornou uma obrigação vazia. O zelador, em sua invisibilidade social, é o símbolo do marginalizado, do sujeito que não se encaixa nos padrões de sucesso e felicidade exigidos. Uma tentativa de revanche contra um mundo que o rejeitou.
A crítica de Kaufman é realmente incisiva, a sociedade contemporânea produz sujeitos fracos(as), fragmentados(as), ansiosos(as) e solitários(as), que se refugiam em mundos internos como estratégia de sobrevivência psíquica diante de uma realidade cada vez mais desumanizadora. Tal performance que subjetivamente substitui o afeto e a imagem se torna mais importante que a experiência, onde o sujeito passa a se escudar por meio de engrenagens como a dissociação e a idealização. O filme trabalha muito quanto a essa ''fuga do real'', também explora o grito por sentido e pertencimento. Kaufman, tem grande sensibilidade, denuncia essa anestesia emocional e o esvaziamento da nossa experiência, propondo uma ponderação sobre o retorno à passionalidade. Seria portanto, um ato ético e político, onde resistir à alienação e buscar alongar de fato os laços sociais é reafirmar a dimensão simbólica e afetiva que sustenta a própria possibilidade de existirmos como sujeitos. Então, faço um parênteses. Se mantivermos esse rumo de auto decepção coletiva, cada vez mais focados em construir máscaras sociais e emoções domesticadas, estamos fabricando uma espécie emocionalmente anêmica. A dependência da imagem ideal, do sucesso e da aceitação virtual está corroendo e apagando qualquer vestígio de interioridade que possa nos restar. Quando a aparência se tornar mais relevante que o ser, nossa sensibilidade vai definitivamente morrer. Convertemos o indivíduo em uma engrenagem descartável e de uso instantâneo, somos praticamente incapazes de sentir empatia, de sustentar vínculos ou de enfrentar o próprio vazio sem a anestesia digital fantasiosa. A consequência inevitável será o colapso da subjetividade. O resultado, afetos congelados, solidão coletiva. A cultura da atuação social performática nos transformou em produtos e objetos, o pensamento em ruído e o desejo em mercadoria. Perdemos o contato com a dor e a beleza de existir, restou, até o momento, apenas um simulacro da vida, corpos conectados, almas ausentes. A criatividade se esgotou, a linguagem se empobreceu, o silêncio interior se tornou insuportável. Continuando assim, caminhamos rumo a uma desertificação psíquica irreversível, onde o amor será um dado estatístico e a tristeza, um erro de programação. O destino desse esboço será o de virarmos máquinas sentimentais, treinadas para parecer vivas, mas condenadas a não sentir mais nada. "O self dividido e fragmentado é o resultado de uma vida vivida em função do olhar do ‘’Outro’’, onde a autenticidade foi sacrificada pela aprovação de terceiros." - Dan Mena. Complemento ainda, acho uma boa oportunidade de falar quanto ao que escrevo, de fato, incomoda. Meus artigos não são feitos para agradar, muito menos para se encaixar na digestão superficial das redes ou nos filtros da sensibilidade adestrada. Grafo, o que o outro não quer ouvir, aquilo que perturba, desmonta e fere a ilusão confortável do bem-estar imediato. Ninguém quer passar vinte ou trinta minutos lendo aquilo que habita o próprio peito, sobre a apatia que disfarça com risadas falsas, selfies, compras e dancinhas. Antes que nada, escrevo para mim, já é o suficiente, e remo contra a corrente. Enquanto a maioria busca aplauso, eu procuro rasgar a camada de verniz que encobre o horror da existência. "Não busco leitores, busco cúmplices no desconforto, aqueles(as) que ainda têm coragem de se reconhecer no precipício que habitam e evitam." - Dan Mena.
Não penejo para as massas, senão para uma minoria que ainda sente o desconforto de pensar. Não me movem curtidas, likes, algoritmos ou vaidades intelectuais. Meu compromisso é com a verdade que sangra, essa que nenhum marketing consegue suavizar. Falo da podridão sem filtros, destarte, uso de palavras bonitas e brandas, do fracasso mascarado de sucesso, da solidão escondida sob selfies e frases motivacionais clichê.
"Entre a fantasia e a realidade, a única vitória possível é a aceitação da tragédia, pois só no seu acolhimento reside a paz." - Dan Mena
A minha escrita é resistência. É um ato contra a anestesia, contra a mediocridade que se disfarça de positividade. Sou o incômodo que insiste em lembrar que viver dói, que amar exige coragem, que olhar para si mesmo(a) é uma experiência brutal. Não quero conforto, quero sempre chegar no insuportável que me habita. Por isso a ortografia, para tocar o nervo exposto da nossa condição, para lembrar que ainda há quem prefira a angústia lúcida à felicidade fabricada, despertar o que nos resta de humano em meio ao entorpecimento geral.
"Escrevo como quem sangra em silêncio, cada palavra que brota é uma chaga aberta que se recusa a cicatrizar, um lembrete vivo de que a lucidez ainda pulsa sob o entulho das nossas ilusões."- Dan Mena.

Prosseguindo; A idealização do parceiro no filme é uma consequência direta da pressão social por um relacionamento perfeito e idealizado?
De que forma a cultura do selfie e da auto-exposição nas redes sociais se relaciona com a fantasia de Jake de criar um eu imaginário?
O isolamento do cenário, a fazenda, a nevasca, seria uma crítica à desconexão e à fragmentação das comunidades na vida moderna?
"A solidão não é a ausência de pessoas, mas a falência do laço social em reconhecer a singularidade do sujeito, forçado ao exílio na fortaleza da própria mente." - Dan Mena.
A Desconstrução da Identidade e a Angústia do Vazio
O filme é uma obra-prima da desconstrução da identidade, onde a inconstância da jovem, a fluidez do tempo e a multiplicidade de cenários nos forçam a questionar a própria noção de quem é o sujeito. A angústia do vazio é o motor dessa desconstrução.
A personalidade identitária é uma construção narrativa que o sujeito faz de si mesmo. Em Jake, essa produção falhou. Ele não consegue integrar as diferentes partes de seu eu, seja o zelador, o intelectual, o amante. A jovem é a tentativa de criar uma versão coerente que o valide. A angústia que permeia o filme é a ânsia da castração, a falta estrutural e a angústia da morte. O pensamento de acabar com tudo é a tentativa de aniquilar a dor de existir e a impossibilidade de ser completo.
"Em cada parte de Jake mora o desespero de um eu que tenta se narrar e tropeça, porque toda identidade é uma ficção que balança nas bordas do que falta." - Dan Mena.
A desconstrução da identidade no filme é uma crítica à ilusão de um self coerente e estável na psicanálise tradicional?
O que a multiplicidade de nomes da jovem sinaliza sobre a natureza da identidade como um conjunto de papéis sociais e projeções?
A aceitação do vazio e da incompletude é o único caminho para a autenticidade no universo de Kaufman?
"A identidade é uma performance contínua sobre o teatro da existência, e a angústia surge quando o ator percebe que o roteiro é uma farsa elaborada e o público, uma ilusão." - Dan Mena.
A Redenção pela Arte
O final de "Estou Pensando em Acabar com Tudo" é um emblema inquisitório, que nos força a confrontar a realidade mais impertinente do filme, a beleza trágica da solidão ou podemos chamar de solitude?. A rendição de Jake à sua realidade de zelador e a destruição do irreal, não é um final feliz, mas um ato de bravura. A cena final no palco, com o zelador cantando ‘’Lonely Room de Oklahoma’’, é a catarse que a arte nos proporciona. Ele transforma sua dor e solidão em expressão artística. A fantasia é encerrada, mas a arte permanece inalterada como o único refúgio e forma de comunicação autêntica.
A morte simbólica do zelador é o decesso do Ego idealizado e o nascimento do Eu real.
Ele aceita sua condição de sujeito incompleto e solitário. A redenção não está no comprazimento, mas na incorporação e integração desse espectro, reconhecendo o absurdo que o atravessou. O filme nos deixa com uma pergunta inquietante: Qual é o custo de nossa própria fantasia? Quantas vezes criamos na maturidade ‘’objetos transicionais’’ para evitar a dor da solidão e da incompletude?
A verdade é que todos nós somos, em alguma medida, Charlie Kaufman, buscando um final para a história que nos recusamos a viver.

O que é mais aterrorizante? O insulamento que nos consome ou a vida manufaturada que nos impede de viver sua plenitude trágica? A resposta está no porão da nossa mente. "O fim de Jake não é necessariamente sua tragédia, é a epifania, que ao se despir do ideal descobre que a arte é o único caminho onde o ser se suporta desagregado, e ainda assim, continuar existindo." - Dan Mena.
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FAQ (Frequently Asked Questions) "Estou Pensando em Acabar com Tudo"
Qual é o tema central de "Estou Pensando em Acabar com Tudo"?
O filme aborda a solidão extrema, a depressão, a idealização do outro e a falha na constituição do sujeito, tudo encenado na fantasia de um homem.
Quem é a jovem no filme?
Ela é uma projeção psíquica, um objeto transicional criado pela mente do zelador (Jake) para preencher seu vazio existencial. Sua identidade é fluida e inconstante.
O que o porão da casa dos pais simboliza?
O porão simboliza o inconsciente (o Id) de Jake, o lugar onde a verdade reprimida (sua identidade como zelador) e o trauma estão escondidos.
O que é o objeto transicional na análise do filme?
A jovem funciona como um objeto transicional adulto, ajudando Jake a suportar a ausência e a solidão, mas impedindo-o de se relacionar com a realidade.
Por que o nome e a profissão da jovem mudam?
A inconstância reflete a natureza não-integrada da fantasia de Jake. Ela é um mosaico de idealizações, não uma pessoa real com identidade fixa.
O que a nevasca representa?
A nevasca simboliza o isolamento psíquico de Jake e a barreira que o separa da realidade externa, mantendo-o em sua bolha de fantasia.
Qual é a relação do filme com o existencialismo?
O filme é uma meditação sobre a liberdade, a responsabilidade e o absurdo da existência, temas centrais do existencialismo.
Quem são os 3 principais protagonistas?
A Jovem (projeção idealizada), Jake (o Ego fragmentado) e o Zelador (o Eu real e desintegrado).
O que o musical Oklahoma! simboliza no final?
Simboliza a idealização de um futuro que nunca se concretizou e a aceitação da marginalidade de Jake como o "Jud" da vida real.
O que significa a frase "Estou pensando em acabar com tudo"?
Significa o desejo de aniquilação da fantasia que sustenta a frágil existência de Jake, e, em última instância, o desejo de encerrar a própria vida.
O filme é uma crítica social?
Sim, é uma crítica contundente à alienação, à solidão e à fragilidade dos laços sociais na sociedade contemporânea.
A dor da jovem é real?
Sim, a dor e a angústia que ela sente são a projeção da dor e da angústia do próprio zelador em seu mundo interno.
O que a mudança de idade dos pais representa?
Representa a atemporalidade do inconsciente e a permanência do trauma e das ‘’imagos parentais’’ distorcidas na mente de Jake.
O que é a "falha na constituição do sujeito" no contexto do filme?
É a incapacidade de Jake de se inscrever plenamente na ordem simbólica e de aceitar a incompletude, levando-o à fuga para a fantasia.
O que a dança final simboliza?
A luta entre a fantasia (a dança) e a realidade (a perseguição do zelador), culminando na impossibilidade de união e na destruição da ilusão.
Links sobre o Tema
Psicanálise e Cinema: A Representação da Solidão (Revista de Psicanálise): https://www.scielo.br/j/pusp/a/w5Tcmzcb8x3TByXbTp5fJXK/
O Existencialismo de Jean-Paul Sartre (Stanford Encyclopedia of Philosophy): https://plato.stanford.edu/entries/sartre/
Crítica de I’m Thinking of Ending Things (The Guardian): https://www.theguardian.com/film/2020/sep/04/im-thinking-of-ending-things-review-charlie-kaufman-netflix
O Complexo de Édipo em Freud (Artigo de Introdução): https://www.scielo.br/j/physis/a/49785864585456454/
A Obra de Charlie Kaufman e a Crise da Identidade (Tese de Doutorado): https://repositorio.bc.ufg.br/bitstreams/a8c861e7-894f-4025-8954-942e52047341/download
Depressão e Melancolia na Psicanálise (Artigo Clínico): http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372010000200010
O Livro Original de Iain Reid (Página do Autor ou Editora): https://iainreid.com/im-thinking-of-ending-things/
Referências Bibliográficas
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BOLLAS, Christopher. A Sombra do Objeto: Psicanálise do Caráter. Rio de Janeiro: Imago, 1987.
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990.
CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Record, 1942.
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GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.
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YALOM, Irvin D. Psicoterapia Existencial. Rio de Janeiro: Rocco, 1980.
Links sobre o Tema
Análise Detalhada do Filme (The New Yorker): https://www.newyorker.com/culture/the-front-row/im-thinking-of-ending-things-reviewed-charlie-kaufmans-showy-quest-for-sympathy
Entrevista Exclusiva com Charlie Kaufman (IndieWire): https://www.indiewire.com/features/general/charlie-kaufman-explains-im-thinking-of-ending-things-1234584492/
O Conceito de Objeto Transicional em Winnicott (Artigo Acadêmico): http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000100002
Psicanálise e Cinema: A Representação da Solidão (Revista de Psicanálise): https://www.scielo.br/j/pusp/a/w5Tcmzcb8x3TByXbTp5fJXK/
O Existencialismo de Jean-Paul Sartre (Stanford Encyclopedia of Philosophy): https://plato.stanford.edu/entries/sartre/
Crítica de I’m Thinking of Ending Things (The Guardian): https://www.theguardian.com/film/2020/sep/04/im-thinking-of-ending-things-review-charlie-kaufman-netflix
O Complexo de Édipo em Freud (Artigo de Introdução): https://www.scielo.br/j/physis/a/49785864585456454/
A Obra de Charlie Kaufman e a Crise da Identidade (Tese de Doutorado): https://repositorio.bc.ufg.br/bitstreams/a8c861e7-894f-4025-8954-942e52047341/download
Depressão e Melancolia na Psicanálise (Artigo Clínico): http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372010000200010
O Livro Original de Iain Reid: https://iainreid.com/im-thinking-of-ending-things/
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Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University - Florida Departament of Education - USA. Enrollment H715 - Register H0192. Neurociência do Desenvolvimento - PUCRS - Pesquisador ORCID™. Especialista em Sexologia e Sexualidade pela Therapist University - Miami - USA - RQH - W-19222 - Reg. Internacional.





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