Vaidade.
- Dan Mena Psicanálise
- 3 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de nov. de 2024
A vaidade produz a hermenêutica da regra social atual, ou seja, a interpretação permanente, onde fica a todo instante esta característica surgida no renascimento e estimulada habilmente hoje pelo mundo capitalista, como a necessidade de sermos únicos e especiais, fortes, quase Deuses.

A vaidade produz a hermenêutica da regra social atual, ou seja, a interpretação permanente, onde fica a todo instante esta característica surgida no renascimento e estimulada habilmente hoje pelo mundo capitalista, como a necessidade de sermos únicos e especiais, fortes, quase Deuses, onipresentes a nosso narcisismo contemporâneo. Queremos eliminar a falha, não dar lugar a tristeza, nem consentimos que possamos falhar sexualmente, porque tem o azulzinho. Não admitimos a angústia, porque podemos dar mão de auxílios químicos, com inibidores seletivos que simplesmente congelam superfluamente que vivamos os necessários fracassos, nos transformando em zumbis ambulantes. O intuito e barrer àquelas experiências de antigamente, conhecidas como tônicas fundamentais da vida, fortalecedoras do caráter, que estimulavam o crescimento e nos colocavam no caminho do aprendizado. Não tem mais espaço para a queda, subir a montanha deve ser sem tropeços, porque eu não suporto a dor, a todo instante e essa personalização que aumenta com a sensação de urgência, acompanhados da inseparável e absoluta vaidade, que há muito tempo deixou de ser um defeito, e passou a ser uma virtude sólida, talvez, o atributo mais esperado de todos.
O novo nome da existência humana é a super autoestima, zero crítica, mal-estar e choro, não podem nos coabitar, a qualquer custo devem ser eliminadas, mais conviver com essas coisas que animaram e impulsionaram a humanidade em tempos passados devem ser banidas para baixo do tapete. Para evitar os desprazeres, não consertamos mais coisas, muito menos restauramos as relações afetivas, agora é mais fácil trocar, achincalhar a calça, sapato, celular, computadores.
Substituir as pessoas por outras, cancelar ficou mais prático, vamos transfazendo a dor do desgaste pela vaidade da novidade, pois ao intercalar minhas relações, posso me re-iniciar, acredito imediatamente em estar me tornando alguém mais interessante, e não percebo que aquele espelho, espelho meu… continua sendo o drama da minha ufania. Não tolero a pessoa anterior, porque provavelmente ela me mostrou que estou envelhecendo, que o tempo não pára, ou não consigo ser verticalmente interessante. No arcabouço que construí, na minha capsula de presunção, o novo pode ser melhor manipulado, explorado com mais facilidade, o quanto aspiro ser interessante, excitante, apaixonante, e assim permanecer nessa gangorra de fantasias que, no fundo, fragilizam nossas habilidades e nos adoecem. Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
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