Verification: 1b7a2f80a75f2be1 Verificação: 2b3722ae526818ec
top of page

A Criada: A Análise Psicanalítica Definitiva do Desejo, Fetichismo e a Construção da Feminilidade em Park Chan-wook - by Dan Mena

A Criada: O Convite ao Inconsciente e a Estética do Segredo
A Criada: O Convite ao Inconsciente e a Estética do Segredo

A Criada: O Convite ao Inconsciente e a Estética do Segredo

A tela se abre e, em vez de um conto de época polido, somos atirados em um turbilhão de seda sussurrante, olhares furtivos e segredos sussurrados. "A Criada" (The Handmaiden) não é um filme para ser assistido passivamente. Seu diretor Park Chan-wook, mestre da subversão, nos intima a um banquete visual onde a opulência esconde a podridão, e a beleza é a máscara da manipulação. Ambientado na Coreia sob o jugo japonês, o filme pulsa com uma energia de rebelião silenciosa, onde os corpos se tornam campos de batalha e o amor, uma arma muito afiada. Esqueça os filmes de época previsíveis. "A Criada" é um caleidoscópio de verdades distorcidas, um jogo de gato e rato onde os papéis se invertem sucessivamente a cada reviravolta. A trama seduz, envolve e, no momento em que pensamos ter compreendido tudo, nos joga de volta à estaca zero. Mais do que um ''thriller'' erótico, é um estudo da psique extremamente elaborado.

Essa dissecação psicológica que pretendo fazer da obra, está armada com as ferramentas da psicanálise e disposta a desenterrar os segredos mais bem guardados de seus personagens. Desvendar os nós da mente de Sookee, Hideko e Fujiwara é desenredar os nossos próprios. Está avisado(a): o que você encontrará pode mudar a forma como você vê o cinema, e a si mesmo(a).

O que eu proponho é uma Análise Psicológica Definitiva feita nas entranhas da narrativa e dos personagens, utilizando o rigor conceitual das principais correntes psicanalíticas. Longe de ser um simples resumo, quero derrubar as camadas ocultas do filme, aquelas que ressoam principalmente com as dores inconscientes, as fantasias e as obsessões que habitam o público. Em sua estrutura de três atos com pontos de vista alternados, cria uma metáfora da própria análise, onde a verdade emerge em partes fragmentadas, exigindo do espectador uma constante reavaliação de suas certezas. A trama central, que envolve a jovem batedora de carteiras Sookee, o golpista que se apresenta como Conde Fujiwara, e a rica herdeira japonesa Lady Hideko, é o palco perfeito da encenação para um jogo de manipulação que rapidamente se transforma em uma intensa e inesperada história de desejo e libertação.


A abordagem do filme é basicamente ligada a temas de altíssimo interesse e demanda cultural: Dinâmicas do Desejo, Fetichismo e a Construção da Feminilidade. Park Chan-wook utiliza o erotismo não como um fim em si, mas como uma lupa para expor a violência estrutural e a repressão. A mansão onde Hideko vive, um híbrido arquitetônico de estilos japonês e ocidental, é o útero do recalque repressivo, um espaço onde a tirania da perfeição e o voyeurismo sádico do Tio Kouzuki aprisionam o arcabouço da sexualidade e identidade da herdeira. Meu olhar crítico vai se concentrar em como o filme dialoga com a teoria de Freud sobre as pulsões e o trauma, a noção de Lacan sobre o desejo como falta e o gozo feminino, os arquétipos Sombra de Jung, e as dinâmicas de clivagem e falso self de Klein e Winnicott. Destarte, meu texto, busca incansavelmente a robustez teórica e o suporte acadêmico, se mantém acessível, poético e envolvente, transformando a leitura em uma oportunidade de aprendizado e autoconhecimento para todos os interessados.

analise-psicanalitica-a-criada-filme-park-chan-wook.jpg
analise-psicanalitica-a-criada-filme-park-chan-wook.jpg

Contextualização Histórica e Cinematográfica de A Criada


O filme se passa na Coreia da década de 1930, excelente ambientação, um período turbulento e de perda de identidade nacional sob o domínio japonês. Essa opressão histórica serve como pano de fundo para o despotismo pessoal e sexual sofrido por Hideko. O diretor Park, conhecido por sua "Trilogia da Vingança" (Mr. Vengeance, Oldboy, Lady Vengeance), mais uma vez abre a temática da revanche, mas a eleva a um novo patamar, a transformando em um ato de auto-libertação e solidariedade feminina. A estética trabalhada do filme é um personagem à parte, com o uso magistral da cor, da luz e do enquadramento para sublinhar a tensão psicológica e a dualidade entre a beleza e a perversão.


A Promessa de uma Análise Inquisidora do Filme


Ao longo deste artigo, vou apurar o perfil psicológico e analítico dos protagonistas, já adianto, a produtora (Moho Film), o ano de produção (2016), o diretor (Park Chan-wook) e os três principais protagonistas (Lady Hideko, Sookee e o Conde Fujiwara). A análise será um olhar original e inédito, usando a visão psicanalítica, o impacto social, e o olhar contemporâneo para traçar um perfil que vai além da superfície da trama. Essa imersão no lado inconsciente de "A Criada", descortina a erotização traumática e a tirania da perfeição, caminhos que se cruzam e encontram com a pulsão de vida e a potência da aliança feminina.

Dinâmicas de Poder, Voyeurismo e o Fetichismo em A Criada


O cenário de "A Criada" é um microcosmo orgânico da repressão e da perversão. A mansão de Kouzuki, é uma representação material do inconsciente de Hideko e da estrutura de poder que a aprisiona. A narrativa se inicia com a chegada de Sookee, a criada, que é, na verdade, uma batedora de carteiras infiltrada pelo Conde Fujiwara para manipular Hideko e roubar sua herança. Este triângulo inicial estabelece imediatamente uma enigmática dinâmica de poder, onde todos são, a princípio, manipuladores e manipulados.


A Arquitetura da Repressão


A mansão é o primeiro grande fetiche do filme, ela é um objeto de desejo e de horror. Sua biblioteca secreta, onde o Tio Kouzuki obriga Hideko a ler textos eróticos para uma plateia de homens, é o centro representativo da violência simbólica. O espaço é projetado para o voyeurismo, uma das perversões centrais que quero explorar do filme. Kouzuki não apenas deseja o corpo de Hideko, mas anseia sua submissão, a sua voz lendo a devassidão, a transformam em um objeto de consumo intelectual e sexual. O fetichismo, aqui manifestado na substituição do objeto sexual por um objeto - parte do corpo (os livros, a voz, as luvas de Hideko), carregam também a própria estrutura da opressão, onde a herança e a pureza forçada de Hideko se tornam os (prêmios) a serem possuídos.

voyeurismo-e-fetichismo-no-filme-a-criada.jpg

O Olhar Sádico e a Tirania da Perfeição (Kouzuki)


O Tio Kouzuki encarna claramente o ‘’superego sádico’’ e a ‘’tirania da perfeição’’. Ele exige de Hideko uma atuação performática impecável da dama japonesa, uma máscara social que esconde o trauma e a dissociação. Seu sadismo não é apenas físico, mas psicológico, ao forçar a sobrinha a reviver o trauma da mãe e a se tornar a leitora de seus legados textos pornográficos. O Conde Fujiwara, por sua vez, é o narcisista manipulador, que usa o charme e a promessa de liberdade como iscas de atração. Ambos, são genuínos delegados da figura masculina despótica que tenta objetificar e controlar o feminino.


A Erotização do Conflito


A relação entre Sookee e Hideko começa como uma estratégia de manipulação, mas rapidamente se transforma em uma conexão genuína e libidinosa. O conflito, a tensão da traição iminente, é erotizado. O desejo que surge entre elas é um querer de fuga, de cumplicidade e de reconhecimento mútuo, que se opõe ao desejo perverso e objetificador dos homens. O filme subverte a expectativa do espectador ao transformar a relação lésbica, que poderia ser vista como um fetiche masculino, em um ato de resistência e de amor verdadeiro, uma aliança contra a tradição do patriarcado.


De que forma a arquitetura da mansão funciona como um dispositivo de aprisionamento psíquico para Lady Hideko?

O desejo que surge entre elas é uma pulsão de vida autêntica ou uma reação traumática à opressão masculina?

Como o filme utiliza o voyeurismo para criticar a objetificação feminina em vez de apenas reproduzi-la?


"O fetichismo, no cinema de Park Chan-wook, não é a perversão do objeto, mas a corrupção da estrutura de poder que o cria, onde o desejo de posse se confunde com a pulsão de controle." Dan Mena.


Pulsões, Trauma e o Sintoma no Corpo da Narrativa


O prisma de Freud é indispensável para encurralar as forças motrizes inconscientes que operam em "A Criada". O filme é um campo aberto de conceitos como as pulsões, o trauma, o recalcamento e a compulsão à repetição. A narrativa é construída sobre uma base de violência e segredos que remetem diretamente à teoria da ''etiologia das neuroses''.


O Recalcamento e a Histeria de Hideko


Lady Hideko é a personificação do recalcamento com seu comportamento inicialmente frio, distante e sua aparente submissão ao Tio Kouzuki. São sintomas de um trauma: a morte de sua mãe, que se enforcou na árvore de cerejeira do jardim, e a subsequente escravidão sexual e psicológica a que é submetida. Esse embate, na visão freudiana, é um evento que a psique não consegue integrar, sendo expulso para o inconsciente (recalcamento), mas que retorna sob a forma de sintomas. A performance de Hideko como leitora de pornografia é o resultado que a aprisiona, um retorno forçado do choque que a impede de viver seu próprio desejo.


A Pulsão de Morte e a Repetição Traumática


A pulsão de morte (Thanatos), como tendência inerente do organismo a retornar a um estado inorgânico, se manifesta em Hideko através de sua ideação suicida e de sua passividade diante do plano de fuga. Ela está presa em uma compulsão repetitiva, revivendo o trauma de sua mãe e o seu próprio, como se o inconsciente tentasse, sem sucesso, dominar o evento. A pulsão de vida (Eros), por outro lado, emerge na relação com Sookee, o amor e a cumplicidade entre as duas são a força que se opõe à pulsão destrutiva, um ato de sobrevivência psíquica que busca a união e a integração. "No inconsciente, o trauma não é evento passado, mas o que molda o desejo, transformando a repressão em ato de libertação existencial." Dan Mena


O Complexo de Édipo Invertido e a Transferência


Embora a obra não se concentre no ''Complexo de Édipo'' clássico, a dinâmica familiar distorcida sugere um complexo invertido, onde a figura do Tio Kouzuki ocupa um lugar de poder paterno cruel. Mais relevante aqui é o ''conceito de transferência''. Sookee, a princípio, transfere para Hideko a compaixão e o desejo de proteção, enquanto Hideko projeta em Sookee a possibilidade de salvação e de um amor puro, não contaminado pela depravação masculina. A relação terapêutica e erótica que se estabelece entre elas é uma transferência positiva que permite a ambas a reescrita de seus destinos cruzados.


A Erotização Traumática e a Metáfora Libidinal


A erotização traumática se encaixa perfeitamente na análise do filme. A sexualidade de Hideko é despertada e moldada em um contexto de violência e opressão. O prazer que ela é forçada a simular ou a sentir durante as leituras eróticas é uma defesa, uma forma de controle sobre o incontrolável. O filme, ao expor essa dinâmica, transforma a violência em uma metáfora libidinal, onde a luta pelo poder e pela sobrevivência se confunde com a expressão sexual. A verdadeira liberação libidinal de Hideko só ocorre quando ela consegue redirecionar essa energia para a aliança com Sookee, assim, transforma a pulsão destrutiva em criativa.


Como a pulsão de morte se manifesta na estética visual do filme, especialmente nas cenas da biblioteca e do porão?

Qual o papel exato do recalcamento na construção da identidade de Lady Hideko antes de sua aliança com Sookee?

A vingança final das duas mulheres pode ser interpretada como uma superação da compulsão à repetição ou como um novo ato de violência catártica?


"O trauma não é o que aconteceu, mas o que a psique não conseguiu integrar; em 'A Criada', ele é o motor silencioso que impulsiona a narrativa em direção à catarse e à libertação." Dan Mena

mansao-como-simbolo-inconsciente-a-criada.jpg
mansao-como-simbolo-inconsciente-a-criada.jpg

A Falta, o Objeto a e a Estrutura do Gozo


O gozo e a linguagem que permeia "A Criada". O filme é um estudo de caso sobre a constituição do sujeito no campo do ‘’Outro’’ e a busca pelo objeto que, uma vez encontrado, se revela para sempre faltante.


O Desejo como Falta


Para Lacan, o desejo é a metonímia da falta-a-ser, a marca da perda primordial que constitui o sujeito. Em "A Criada", o desejo não é a simples atração sexual, mas a busca por algo que preencha esse vazio existencial. Hideko deseja a liberdade, o amor e a anulação da tirania do Tio. Sookee quer a riqueza e a ascensão social. O Conde Fujiwara foca na herança e no poder. No entanto, o desejo mais potente é o que surge entre as duas mulheres, uma pela outra, fundem uma aliança que as retire do campo do Outro (o patriarcado e a opressão). É um querer que se constrói na cumplicidade e na linguagem secreta, subvertendo a ordem simbólica imposta a elas.


O Objeto a e o Fetichismo como Suporte


O ‘’Objeto a’’ (objeto causa do desejo) é o resíduo inassimilável que cai do sujeito no processo de sua constituição primitiva. Em "A Criada", o fetichismo, central na trama, pode ser lido através desse conceito. Os livros pornográficos, as luvas, o sino de ouro, a própria mansão, são símbolos objetuais que servem como suporte para o desejo perverso do Tio Kouzuki. Eles são os fetiches que tentam tamponar a falta, a castração simbólica. Kouzuki tenta reduzir Hideko a um ‘’Objeto a’’ de seu gozo, a uma voz que lê a perversão. A revolução do filme ocorre quando Hideko e Sookee destroem esses ícones (os livros), simbolizando a recusa em serem reduzidas a fetiches e a rejeição do gozo do Outro.


O Gozo Feminino e a Ruptura com o Falo


A obra aborda o ‘’gozo feminino’’ como conceito lacaniano no que se refere a um gozo "Outro", não totalmente capturado pela função fálica (a ordem simbólica masculina). A sexualidade entre Hideko e Sookee é retratada como um prazer que se basta, que se constrói na reciprocidade e na cumplicidade, fora da lógica da penetração e da dominação. É um júbilo que rompe com a estrutura patriarcal, um ato de transgressão que as liberta. A cena final, com o sino de ouro, é a metáfora máxima dessa ruptura, onde o objeto de opressão é transformado em um objeto de prazer compartilhado, um símbolo da vitória sobre o gozo sádico do Outro. "A sexualidade, como pulsão freudiana, entrelaça o social e o poético, onde o corpo se torna tela para a narrativa da alma aprisionada." Dan Mena


A Triangulação Psíquica e a Lei do Pai


A estrutura da história, com o Conde Fujiwara e o Tio Kouzuki tentando controlar Hideko, estabelece uma triangulação psíquica insidiosa. O Tio, como figura da Lei do Pai distorcida, impõe uma ordem simbólica baseada na perversão e na opressão. O Conde atua como um falso mediador, um impostor que tenta se apropriar do lugar do Pai. A aliança entre Hideko e Sookee é a dissolução dessa triangulação, a recusa em se submeter à ‘’Lei do Pai Corrosiva’’. Elas criam uma nova ordem, uma ‘’Lei da Mãe simbólica’’, baseada na cumplicidade e no amor, que permite a emergência de um desejo autônomo.


De que maneira a destruição dos livros pornográficos representa a recusa em serem objetos do gozo do Outro?

Como a linguagem (o japonês formal, o coreano coloquial) é utilizada para demarcar o campo do Outro e a subversão da ordem simbólica?

O que o "gozo Outro" das protagonistas revela sobre a possibilidade de uma sexualidade feminina autônoma e não-fálica?

"O desejo é a metonímia da falta, mas em 'A Criada', a aliança feminina transforma a falta em potência, e o objeto de opressão no ‘’objeto a’’ de uma nova liberdade." Dan Mena

erotizacao-do-conflito-relacao-hideko-sookee.jpg
erotizacao-do-conflito-relacao-hideko-sookee.jpg

A Emergência do Feminino Selvagem


A perspectiva da Psicologia Analítica de Jung enriquece a análise de "A Criada" ao focar nos arquétipos, na Sombra e no processo de individuação. O filme é uma poderosa representação da emergência do feminino selvagem e da integração de aspectos reprimidos da psique.


A Sombra e a Projeção (Sookee e Hideko)


A Sombra é o lado obscuro da personalidade, tudo aquilo que o ego não reconhece em si e que é reprimido. Hideko, a dama refinada e submissa, projeta em Sookee, a batedora de carteiras, a sua soturnidade: a astúcia, a agressividade, a capacidade de transgressão e a sexualidade livre. Sookee, por sua vez, projeta em Hideko a fragilidade, a sofisticação e a possibilidade de uma vida de beleza e conforto. A atração inicial entre elas é, em parte, uma atração pela Sombra, um reconhecimento inconsciente do que falta em si mesma. O processo de individuação de ambas se inicia quando elas integram esses aspectos projetados, reconhecendo a astúcia em Hideko e a vulnerabilidade em Sookee.


O Arquétipo da Donzela e da Bruxa


Adentrando nos arquétipos femininos, Hideko é inicialmente a Donzela aprisionada, a vítima inocente, Sookee é a Bruxa (no sentido de mulher astuta e transgressora) que vem para dar sua libertação. O Tio Kouzuki e o Conde Fujiwara representam o modelo do Senhor Sombrio ou do Velho Sábio Pervertido, figuras masculinas que tentam manter o feminino sob controle. A reviravolta do filme é a subversão desses arquétipos onde a Donzela vira a Bruxa, a manipuladora, e a Bruxa se torna a heroína, a salvadora. Essa construção da aliança entre elas é a união do feminino ferido com o selvagem, um ato de individuação coletiva.


A Conjunção Anima/Animus na Relação


A relação entre as duas mulheres também pode ser vista como uma Conjunção Anima/Animus, a união dos opostos interiorizados. Hideko, com sua passividade e sensibilidade, representa a ‘’Anima’’ em sua forma mais reprimida. Sookee, com sua ação e determinação, manifesta um ‘’Animus’’ forte e ativo. A união erótica e emocional entre elas é a busca pela totalidade psíquica, onde cada uma complementa e ativa o potencial da outra. A liberdade que alcançam juntas é o símbolo da psique integrada, que superou a fragmentação imposta pelo trauma e pela opressão imposta.


O Simbolismo da Árvore e do Jardim


O jardim da mansão, com sua árvore de cerejeira onde a mãe de Hideko se enforcou, é um poderoso símbolo junguiano. Ela é o símbolo do Self e da vida, que aqui está ligada à morte e ao trauma. O jardim, que deveria ser um espaço sagrado, é um ‘’place’’de opressão. A fuga de Hideko e Sookee do jardim e da mansão é a rejeição do ícone arquetípico da Mãe Terrível e a busca por um novo espaço de autonomia e independência. A destruição do sino, que as aprisionava, é a quebra simbólica da coerção, permitindo que a energia psíquica antes ligada ao trauma seja liberada para a vida.


Como a integração da Sombra por Hideko e Sookee é visualmente representada na segunda e terceira partes do filme?

De que forma o Tio Kouzuki e o Conde Fujiwara falham em seu papel arquetípico de opressores, sendo superados pela astúcia feminina?

O que a Conjunção Anima/Animus entre as protagonistas sugere sobre a natureza do amor e da libertação em um contexto de trauma?


"A Sombra não é apenas o que se esconde, mas a potência que se recusa a ser vista; em 'A Criada', ela surgue como a força motriz da revolução psíquica e social." Dan Mena

recalque-e-histeria-lady-hideko-freud.jpg
recalque-e-histeria-lady-hideko-freud.jpg

Clivagens e o Falso Self: A Visão de Klein e Winnicott


A contribuição de Klein e Winnicott é a base de sustentação para entender as dinâmicas de fragmentação psíquica e a busca por um self autêntico, temas centrais em "A Criada". O filme é um estudo sobre a sobrevivência psíquica em um ambiente de privação emocional, corrupção e violência.


A Posição Esquizo-Paranóide


Como a fase inicial do desenvolvimento, onde o bebê cliva o objeto (a mãe) em "bom" e "mau" para lidar com a ansiedade de aniquilamento. Em Hideko, essa cisão é evidente, o mundo é dividido em opressores (o Tio, o Conde) e salvadores (Sookee, a princípio). A própria Sookee é clivada: ela é a criada leal e a traidora em potencial. A clivagem é um mecanismo de defesa contra a ansiedade persecutória gerada pelo ambiente sádico da mansão. A superação dessa posição, a integração dos objetos parciais em objetos totais (a aceitação da sofistificação de Sookee e de si mesma), é o que permite a Hideko a ação e a fuga.


O Falso Self (Winnicott) como Defesa


Vou usar este conceito para descrever essa máscara de conformidade que o indivíduo desenvolve para proteger o Verdadeiro Self em um ambiente que não oferece o holding (sustentação emocional) necessário. Hideko é o exemplo máximo do Falso Self. Sua performance como Lady Hideko, a herdeira dócil e culta, é uma adaptação patológica às exigências perversas do Tio Kouzuki. Ela vive para satisfazer o ‘’olhar do Outro’’, lendo os textos eróticos e mantendo a fachada de perfeição. O Verdadeiro Self de Hideko, sua capacidade de amar, de desejar e de ser astuta, está escondido, esperando o momento de brotar. "O falso self winnicottiano emerge da tirania patriarcal, mas na aliança sororal, o verdadeiro eu floresce, poetizando a resistência." Dan Mena


O Holding e o Espaço Transicional da Liberdade


A relação entre Sookee e Hideko oferece o holding controlador que faltou a Hideko em sua infância. O holding seria aqui a capacidade do ambiente (ou do analista) de sustentar o indivíduo, lhe permitindo ser e existir. Sookee oferece a Hideko um lugar seguro, um espaço transicional (Winnicott), onde ela pode brincar, experimentar a sexualidade e, finalmente, planejar sua soberania. A cumplicidade e o cuidado mútuo são o âmbito facilitador que permite a Hideko abandonar o Falso Self e manifestar seu Verdadeiro Self, que é, ironicamente, tão astuto e manipulador quanto o de Sookee.


A Reparação e a Posição Depressiva


A aliança entre as protagonistas pode ser vista como um movimento em direção à ''Posição Depressiva'' (Klein), onde a culpa e a capacidade de reparação surgem. Sookee, ao se arrepender de sua traição inicial, busca reparar o dano que causou a Hideko. Ela, ao expor sua verdadeira natureza e seu plano, busca reparar o dano que a opressão causou a si mesma. A fuga e a destruição dos instrumentos de tortura são atos de reparação que visam restaurar o objeto (o self e o outro) que foi danificado pela violência.


De que forma a falta de holding na infância de Hideko a levou a desenvolver um Falso Self tão elaborado e convincente?

A aliança entre as duas mulheres pode ser vista como um ato de reparação (Klein) das fantasias destrutivas geradas pela opressão?

Qual o momento exato na narrativa em que o Verdadeiro Self de Hideko se manifesta de forma irreversível, rompendo com a tirania do Tio?


"O Falso Self é uma defesa desesperada contra a aniquilação, mas o holding do amor e da cumplicidade é o que permite ao Verdadeiro Self emergir e transformar a submissão em soberania." Dan Mena

alianca-feminina-subversao-patriarcado-a-criada.jpg
alianca-feminina-subversao-patriarcado-a-criada.jpg

A Construção da Feminilidade e a Crítica Social


"A Criada" é um poderoso comentário sobre a construção social da feminilidade e a crítica às estruturas patriarcais, especialmente em um plano de opressão histórica. O filme desmantela a ideia de fragilidade feminina e a substitui por uma narrativa de resiliência, astúcia e solidariedade.


O Papel da Mulher na Coreia Ocupada


O cenário da Coreia dos anos 1930, sob o domínio japonês, amplifica a opressão de gênero. As mulheres, especialmente as de alta classe como Hideko, eram tratadas como objetos de troca, símbolos de status ou meras reprodutoras. A mansão é um símbolo da sociedade patriarcal que as aprisiona. A feminilidade é reduzida a uma performance de submissão e pureza forçada, enquanto a sexualidade é espoliada e mercantilizada (os livros pornográficos). O filme critica essa estrutura ao mostrar que a verdadeira força reside na capacidade de subverter as expectativas e de criar laços de cumplicidade.


A Violência como Metáfora Libidinal


A violência no filme não é gratuita; ela é uma alegoria da agressão libidinal e estrutural. A opressão do Tio Kouzuki é uma brutalidade que tenta anular o desejo e a subjetividade de Hideko. A hostilidade que as mulheres exercem (a traição de Sookee, a manipulação de Hideko, a vingança final) é uma resposta, um ato de resistência. É a pulsão de vida que se manifesta através da agressividade necessária para a sobrevivência. A cena em que Sookee e Hideko destroem a biblioteca é puramente simbólica, que destrói o falo opressor (os livros, a linguagem do Tio).


A Subversão da Norma e a Aliança Feminina


O ponto de reversão do filme é a descoberta de que as duas mulheres estão, na verdade, em uma aliança secreta. Esse pacto é a subversão máxima da norma. Elas usam as regras do jogo masculino (a manipulação, a traição) para se evadirem. A relação lésbica, que poderia ser lida como um fetiche, é ressignificada como um ato político e emocional de resistência. É a criação de um mundo só delas, um espaço onde o desejo é mútuo e a cumplicidade é inabalável. O filme celebra a potência da solidariedade feminina como a única via para a superação do jugo.


A Crítica à Mercantilização do Corpo e da Arte


O filme estende sua crítica para a mercantilização do corpo e da arte. O Tio Kouzuki transforma a literatura em pornografia e a sexualidade em um espetáculo sádico. A arte, que deveria ser um veículo de transcendência, é reduzida a um objeto de consumo perverso. A libertação das protagonistas é também a libertação da arte e da sexualidade de sua função manipuladora. Ao queimarem os livros, elas purificam o espaço simbólico e resgatam a possibilidade de uma expressão sexual autêntica.


Como a opressão da ocupação japonesa na Coreia se reflete na opressão de gênero sofrida por Lady Hideko?

A aliança entre Sookee e Hideko pode ser considerada um ato de sororidade ou é uma estratégia de sobrevivência mútua?

De que forma o filme desmantela a visão tradicional da mulher como vítima, transformando-a em agente de sua própria história?


"A verdadeira revolução feminina não está na negação do desejo, mas na sua reescrita, onde a cumplicidade se torna a arma mais potente contra a tirania do patriarcado." Dan Mena

gozo-feminino-lacan-relacao-lesbica-hideko-sookee.jpg
gozo-feminino-lacan-relacao-lesbica-hideko-sookee.jpg

Perfil Psicológico e Analítico dos Protagonistas


Para uma análise completa, vou traçar o perfil psicológico e analítico dos três protagonistas, entendendo suas motivações inconscientes e seus arcos psíquicos.


Lady Hideko: O Falso Self e a Astúcia da Sobrevivente


Lady Hideko, interpretada por Kim Min-hee, é a personificação do Falso Self winnicottiano. Sua performance inicial como a herdeira dócil e frágil é uma máscara de conformidade, uma defesa elaborada para proteger seu Verdadeiro Self da exploração sádica do Tio Kouzuki. Sofre de um trauma e forte recalcamento de sua pulsão de vida. O Tio tenta lhe impor um Ideal do Ego perverso, a dama perfeita que lê pornografia para homens. Sua curva psíquica é a mais dramática: da passividade suicida, ela se torna a agente de sua própria libertação, integrando a Sombra (a astúcia e a capacidade de manipulação) que ela inicialmente projetava em Sookee. Sua caminhada culmina na reescrita de seu destino, um ato de soberania sobre o trauma.


Sookee: O Ego Forte e a Transformação pelo Amor


Sookee, interpretada por Kim Tae-ri, é a batedora de carteiras com um Ego Forte e pragmático, voltado para a sobrevivência. Inicialmente, ela é a agente do plano masculino, motivada pela ascensão social. Eu vejo em seu perfil uma Sombra de vulnerabilidade e a capacidade de amar, que ela projeta em Hideko. A transferência positiva que se estabelece entre as duas é o catalisador de sua transformação. Ela abandona o plano de traição e se torna a protetora e amante de Hideko. Sua metamorfose moral e emocional é substituída pela lealdade e o amor, provando que a verdadeira riqueza reside na autenticidade do vínculo.


Conde Fujiwara: O Narcisismo e a Perversão


Fujiwara, interpretado por Ha Jung-woo, e o Tio Kouzuki (Kouzuki, interpretado por Cho Jin-woong) são as figuras masculinas que encarnam o Narcisismo Patológico. O Conde é um golpista que projeta uma imagem de nobreza, mas que vê os outros como meros objetos para a satisfação de seu desejo de riqueza e poder. Sua perversão é a manipulação e a objetificação. O Tio Kouzuki, por sua vez, é o sádico que impõe a degeneração a Hideko. Ambos representam o Falo Opressor que tenta anular o desejo feminino. Eles não possuem um propósito de mudança, apenas de punição, que é a metáfora da castração simbólica e da anulação do poder patriarcal pela astúcia feminina. A vitória das mulheres é a destruição desse ideal tirânico e a aceitação de um self imperfeito, mas autêntico.


Como a relação de Hideko com o Tio Kouzuki moldou seu Ideal do Ego e sua percepção de si mesma?

A punição final do Conde Fujiwara é um ato de vingança ou uma necessidade psíquica para o fechamento do ciclo traumático?

O que a complexidade moral de Sookee (manipuladora e salvadora) revela sobre a natureza da heroína contemporânea?


"A máscara do narcisista é a sua prisão, mas a astúcia da sobrevivente é a chave que abre a porta para a liberdade e a reescrita do destino." Dan Mena

tirania-da-perfeicao-tio-kouzuki-analise.jpg
tirania-da-perfeicao-tio-kouzuki-analise.jpg

Colisões Internas e a Erotização do Conflito


A estrutura narrativa de "A Criada" é uma obra-prima de engenharia psicológica. O filme é dividido em três partes, cada uma recontando os eventos sob a perspectiva de um personagem diferente, o que espelha a natureza variada da verdade psíquica. Essa estrutura não é um mero artifício de roteiro, mas uma ferramenta para expor os diagramas psíquicos das protagonistas e os embates internos que definem suas escolhas.


A primeira parte, contada do ponto de vista de Sookee, estabelece a premissa da traição e a crescente atração. A segunda, sob o olhar de Hideko, desvenda o controle reverso de seu plano. A terceira fase, que une as perspectivas, é a síntese da verdade e a celebração da aliança. Essa alternância de ângulos é a própria dialética da análise, onde a verdade é construída pela confrontação de diferentes narrativas. "Fetichismo, corrupção do poder simbólico, desvela a sexualidade como campo de batalha social, onde o humano busca integração." Dan Mena


A erotização do conflito é central. O desejo entre Sookee e Hideko não é um luxo, mas uma necessidade, uma arma contra a articulação. O conflito com o mundo externo (os homens) e a disputa interna (a traição, o medo) são os combustíveis para a paixão. O filme nos ensina que, em um ambiente de violência estrutural, o amor e o desejo podem ser os atos mais radicais de resistência. As rupturas traumáticas do passado de Hideko são reescritas no presente pela metáfora central da fuga e da cumplicidade, transformando a dor em potência.


Como a estrutura narrativa de três partes reflete a natureza fragmentada da memória e do trauma?

De que forma a erotização do conflito entre as protagonistas serve como um mecanismo de defesa e de libertação?

Qual a importância da reescrita do passado de Hideko (o plano de fuga) para a sua saúde psíquica e a superação do trauma?


"A narrativa é a cura, e a reescrita do próprio roteiro de vida é o ato mais corajoso de individuação que o sujeito pode empreender." Dan Mena

metafora-libidinal-violencia-estrutural-filme-a-criada.jpg
metafora-libidinal-violencia-estrutural-filme-a-criada.jpg

A Criada e a Inquisição do Inconsciente Coletivo


A obra de Park Chan-wook, com sua estética visceral, nos força a confrontar temas universais de opressão, desejo e libertação. A trilha de Hideko e Sookee é uma poderosa alegoria da luta pela autonomia em um mundo que tenta constantemente nos reduzir a objetos.


A Catarse e a Libertação


O clímax do filme, com a punição dos opressores e a fuga das protagonistas, é um momento de intensa catarse para o espectador. A destruição dos livros e a anulação do Tio Kouzuki e do Conde Fujiwara são atos emblemáticos que libertam não apenas as personagens, mas também quem assiste à tensão acumulada. A cena final, com as duas mulheres em um navio, livres e em um ato de prazer compartilhado, é a celebração da pulsão de vida (Eros) que triunfa sobre a de morte (Thanatos). É a vitória do amor e da solidariedade.


O Legado de Park Chan-wook


O diretor consolida seu lugar como um mestre do thriller psicológico, utilizando a violência e o erotismo com um propósito social e político. Nos mostra que a beleza pode coexistir com o horror, e que a libertação exige em alguns momentos alguma transgressão. O filme é um legado de como a arte pode ser um veículo para a crítica contemporânea e a ponderação da psique.


Encerro por aqui, mas a inquisição do inconsciente continua. O filme nos deixa com miragens que incitam a perpetuar o pensamento.


O que o fascínio do público por histórias de vingança e subversão feminina trás sobre as insatisfações e as repressões do nosso próprio inconsciente coletivo?

Em que medida a nossa sociedade contemporânea ainda impõe a "Tirania da Perfeição" e o "Falso Self" às mulheres e a todos os indivíduos?

Qual o nosso papel, como espectadores e sujeitos, na desconstrução das estruturas de poder que continuam a objetificar o desejo e a sexualidade?


"A Criada" é um funil para olhar para dentro, para confrontar a nossa ''Sombra'' e celebrar a potência do desejo autêntico. É um filme primoroso que não se esgota em uma única visão, mas que se renova a cada análise, a cada camada de significado que o inconsciente nos permite decifrar. 


E assim, quando a última cortina se fecha, não somos prontamente devolvidos à nossa realidade, mas permanentemente alterados por terem habitado o universo transicional que Park Chan-wook arquitetou em nossa mente. O que parece um desfecho, é um portal para onde carregamos as perguntas que o filme plantou em nosso inconsciente. A chama que consome os livros pornográficos na biblioteca não é o fogo destruidor, mas labaredas alquímicas que transformam o voyeurismo em olhar mutualizado, a narrativa imposta em história reinventada, o corpo objetificado em território soberano.

sombra-junguiana-personagens-a-criada-analise-psicologica.jpg
sombra-junguiana-personagens-a-criada-analise-psicologica.jpg

A verdadeira revolução não está na vingança executada, mas na metamorfose interior. Sookee e Hideko não fogem da mansão, a extrapolam simbolicamente. O que resta dos escombros não é a inocência restaurada, senão, uma consciência expandida. Compreendo que a principal mensagem radica em assimilar que a liberdade não se conquista destruindo o passado, mas dando releitura do seu real significado. Park Chan-wook também deseja nos mostrar que ‘’a vida tem vida própria", que não somos senhores(as) em poder controlar nossa trajetória. Destarte, mostra que temos ferramentas de edição e que podemos lutar por reconfigurações. Da biblioteca ardendo, nasce uma nova linguagem, onde o desejo deixa de ser verbo conjugado por outros para se tornar poesia escrita pelas próprias mãos.


O triunfo final não está na punição dos opressores, mas na sagrada ‘’magnus opum’’ que transmuta trauma em potência, submissão em cumplicidade, segredo em intimidade. Nesse novo pacto, descobrimos a verdade mais radical: que a psique não é uma prisão, mas um caleidoscópio onde cada pedacinho de sombra, quando corajosamente integrado, compõe o mosaico infinito da liberdade do ser. "Desejo como falta primordial no social opressivo, transforma o trauma em verso, onde a sexualidade reivindica liberdade." Dan Mena


O inconsciente coletivo agradece, pois Park não quer nos entregar respostas simples, mas espéculos. Nestes reflexos, somos condenados à liberdade de refazer nossas narrativas com a ousadia de quem aprendeu que toda revolução começa quando alguém ousa trocar as regras do jogo pela autoria do ‘’game’’ inteiro.


Clique para ler outros artigos do BLOG ligados ao tema; 


Referências Bibliográficas utilizadas


FREUD, Sigmund. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 20: Mais, Ainda. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000.

KLEIN, Melanie. Inveja e Gratidão e Outros Trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1991.

WINNICOTT, Donald Woods. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

MULVEY, Laura. Prazer Visual e Cinema Narrativo. In: XAVIER, Ismail (Org.). A Experiência do Cinema. Rio de Janeiro: Graal, 1983.

FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. São Paulo: Penguin Classics, 2011.

LACAN, Jacques. O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu. In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

JUNG, Carl Gustav. O Eu e o Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 2015.

WINNICOTT, Donald Woods. Desenvolvimento Emocional Primitivo. In: Da Pediatria à Psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2000.

KLEIN, Melanie. O Desenvolvimento de uma Criança. In: Amor, Ódio e Reparação. Porto Alegre: L&PM, 2016.

BATAILLE, Georges. O Erotismo. São Paulo: Arx, 2004.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1995.

SAFATLE, Vladimir. O Circuito dos Afetos: Corpos Políticos, Desamparo e o Fim do Indivíduo. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

FAQ - A CRIADA: ANÁLISE PSICANALÍTICA

O que significa a "Tirania da Perfeição" no filme? É a exigência sádica do Tio Kouzuki para que Hideko performe uma feminilidade idealizada, anulando seu verdadeiro eu.

Como a mansão funciona como dispositivo psicológico? A arquitetura híbrida representa o inconsciente reprimido, onde cada espaço físico corresponde a uma tensão psíquica.

O desejo entre Sookee e Hideko é autêntico? Sim, evolui de estratégia de manipulação para pulsão de vida que desafia a ordem patriarcal.

Como o filme subverte o voyeurismo? Transforma o olhar masculino em instrumento de crítica, expondo a violência por trás do desejo de controle.

O que representa a biblioteca secreta? É o útero simbólico do trauma, onde a sexualidade é transformada em espetáculo para consumo masculino.

Como funciona o "Falso Self" de Hideko? É uma máscara de submissão que protege seu Verdadeiro Self até encontrar ambiente seguro para emergir.

Qual o papel do fetichismo na narrativa? Os objetos (livros, luvas, sino) representam a tentativa falha de preencher a falta estrutural do desejo.

Como a aliança feminina opera psicologicamente? Funciona como uma holding terapêutica, oferecendo o acolhimento emocional que ambas foram privadas.

O que a queima dos livros simboliza? A destruição da linguagem patriarcal e a libertação do desejo feminino da estrutura de opressão.

Como o trauma é superado? Através da reescrita narrativa as mulheres recontam sua história, transformando dor em potência.

Qual a importância da estrutura em três atos? Espelha o processo psicanalítico onde a verdade emerge gradualmente através de perspectivas múltiplas.

Como a Coreia ocupada reflete na trama? A opressão colonial amplifica a opressão de gênero, criando camadas sobrepostas de dominação.

O final é uma vitória ou nova ilusão? É uma vitória real pois mostra a primeira vez que as mulheres agem por desejo próprio, não reativo.

O que é "gozo feminino" na perspectiva lacaniana? Prazer que existe fora da lógica fálica, representado pela sexualidade não-genital das protagonistas.

Como a Sombra junguiana se manifesta? Cada um projeta na outra qualidades reprimidas - Hideko vê em Sookee a liberdade que lhe falta. Palavras Chaveanálise psicanalítica A Criada, filme A Criada Park Chan-wook, temas desejo The Handmaiden, fetichismo no filme A Criada, construção feminilidade Handmaiden, análise psicológica The Handmaiden, vingança feminina A Criada, erotismo cinema coreano, male gaze Park Chan-wook, queer themes Handmaiden, postcolonialism gender analysis, lesbian romance The Handmaiden, trauma repressão filme, pulsão freudiana A Criada, desejo lacaniano Handmaiden, sombra junguiana personagens, falso self Winnicott análise, voyeurismo sádico filme, aliança feminina subverção, gozo feminino lacaniano



Dan Mena – Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise (CNP 1199, desde 2018); Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise (CBP 2022130, desde 2020); Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University – Florida Department of Education, EUA (Enrollment H715 / Register H0192); Pesquisador em Neurociência do Desenvolvimento – PUCRS (ORCID™); Especialista em Sexologia pela – Therapist University, Miami, EUA (RQH W-19222 / Registro Internacional).


 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page