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A Substância: A Tirania da Perfeição Estética, Narcisismo, Ideal do Ego | Análise Psicanalítica by Dan Mena

"Descubra como A Substância expõe o narcisismo patológico através de uma lente psicanalítica inovadora."
"Descubra como A Substância expõe o narcisismo patológico através de uma lente psicanalítica inovadora."

A Tirania da Perfeição Estética, Narcisismo, Ideal do Ego Imagine uma estrela cadente que, em vez de se extinguir no céu da noite, colide com a miragem da sua própria vaidade, logo, se despedaçando em partes grotescas de desejo e repulsa. Essa é a essência de ‘’A Substância’’, um filme que abre o espectro das rachaduras da alma, e as expõe com uma ferocidade ímpar. Esta obra de Coralie Fargeat, traz uma alegoria poderosa sobre o abismo entre o eu idealizado e a realidade indomada do envelhecimento. O enredo gira em torno de Elisabeth Sparkle, aqui interpretada por Demi Moore, uma apresentadora de TV em declínio que recorre a uma droga misteriosa para gerar uma versão mais jovem de si, Sue, que será vivida por Margaret Qualley. O que começa como uma promessa de rejuvenescimento se transforma em um pesadelo de duplicidade, onde o corpo vai se rebelar contra a mente, travando batalhas internas que desenvolvemos contra o tempo e as atuais expectativas sociais.

O filme ilustra o ''narcisismo patológico'', o ideal do ego e a tirania da perfeição. Não se trata de um resumo superficial, mas de uma inteligente introspecção que entrelaça o trauma infantil com a sexualidade reprimida, o desejo libidinal com a pulsão de morte. Elisabeth representa a ferida narcísica aberta pela indústria da vaidade e o entretenimento, onde o valor feminino é medido pela batalha indômita da juventude eterna. Sue, encarna esse investimento libidinal no self perfeito, uma onipotência perdida que a vai levar à autodestruição.

Narcisismo e o Espelho Quebrado: A busca incessante pela imagem idealizada.
Narcisismo e o Espelho Quebrado: A busca incessante pela imagem idealizada.

O fundo questionador radica na pergunta: até que ponto permitimos que o olhar alheio dite nossa essência?

Um ponto central da análise, inclui adentrar no trauma como catalisador da dependência química – aqui, a substância como metáfora para anestésicos emocionais contra o passar do tempo e o envelhecimento. A sexualidade surge não como simples atração, mas como o desejo voraz por validação, onde o corpo se torna objeto de consumo. O desejo, na leitura freudiana, impulsiona a narrativa para o barranco, evidenciando como a repressão leva à implosão da psique. Impacto social? O filme critica a sociedade patriarcal, onde mulheres são forçadas a guerrear contra si mesmas, internalizando o ‘’male gaze’’ (olhar masculino). Deste ponto de vista contemporâneo, dialoga muito com o #MeToo, expondo o abuso velado e mascarado na busca pelo acme.

A Tirania da Perfeição Estética: O peso invisível do Ideal do Ego na vida moderna.

Esta análise, propõe uma virada de página: e se a substância não for apenas uma droga fictícia, mas o veneno cultural que injetamos em nós mesmos diariamente? Vamos dissecar isso em camadas, onde convido você a pensar quanto às suas próprias sombras. O Narcisismo como Ferida Aberta e as Raízes no Trauma Infantil Em A Substância, o narcisismo não é puramente a peça do egoísmo, mas uma cicatriz oriunda de traumas precoces. Elisabeth, ao injetar a substância, revive sua onipotência infantil perdida, aquela fase em que o bebê se vê como centro do universo, isso revisto pelo narcisismo primário. Mas o filme eleva tal a um patamar clínico e patológico, o trauma de ser descartado pela indústria apresenta abandonos emocionais da infância, onde a validação externa supre a ausência de afeto primário genuíno. Sue emerge como o self grandioso, uma projeção que mascara sua vulnerabilidade, mas que, ao desequilibrar o ciclo de sete dias, desprotege a fragilidade do ego. Essa dinâmica expande para além do individual, tocando em como nossa sociedade fomenta ditas feridas, com redes sociais ampliando o retumbar de rejeições antigas, transformando o narcisismo em uma epidemia sutil.

Substância 2024: A dualidade entre o eu real e a persona social.
Substância 2024: A dualidade entre o eu real e a persona social.

Psicanaliticamente, podemos usar Lacan que nos ajuda a entender isso pelo estádio do espelho. Elizabeth se vê em Sue como nessa fase formativa, elaborando um ideal do ego alienado, dependente do outro para existir. A tirania da perfeição estética se levanta quando essa imagem ideal se torna opressora, punindo o corpo real com muitas deformidades. Socialmente, o filme denuncia como a mídia perpetua no indivíduo esse ciclo perturbador, transformando mulheres em mercadorias descartáveis, onde o desejo por juventude é uma libido desviada conduzem ao autoerotismo destrutivo. Acrescentando um olhar neurocientífico, o trauma ativa o eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal, liberando cortisol que agrava essa dependência, similar à adicção à substância no filme. Estudos recentes em epigenética sugerem que tais marcas podem ser hereditárias, perpetuando fases e ciclos geracionais de insegurança.

Filosoficamente, convoco Nietzsche: a busca pelo super-homem (ou super-mulher) leva ao abismo. Aqui, o narcisismo patológico não é vilania, mas uma defesa contra o vazio existencial, e o filme nos lança a ponderar quanto se essa proteção, paradoxalmente, a maior ameaça à nossa integridade psíquica e mental.

O que acontece quando o espelho irradia não admiração, mas horror? Como o trauma infantil dita tal tolerância à imperfeição? E se a substância fosse o antídoto para uma sociedade que nos envenena com ideais inalcançáveis?

‘’Eco da alma fragmentada, o narcisismo não é vaidade, mas o grito mudo de uma criança abandonada no espelho do mundo.’’ Dan Mena

O Superego como Juiz: A voz interna que exige a perfeição inatingível.
O Superego como Juiz: A voz interna que exige a perfeição inatingível.

Ideal do Ego e a Ilusão que Devora o Self

No conceito lacaniano, o ideal do ego atua como um falso farol que guia e leva Elisabeth à ruína. Ela constrói Sue como encarnação desse ideal, jovem, bonita, desejável e impecável, mas ignora que ele é uma construção simbólica, que depende absolutamente do ‘’Grande Outro’’ (a sociedade, e o olhar masculino). O filme ilustra isso na alternância forçada, sete dias cada, simbolizando o equilíbrio precário entre o real e imaginário. Quando Sue usurpa medicamentosamente o tempo, Elisabeth envelhece grotescamente, o que personifica a punição por desafiar o ideal. Essa expansão assustadora, mostra claramente como o ideal não é estático, mas fluido, se adaptando às pressões culturais que evoluem com o tempo, como o culto à juventude eterna impulsionado tecnicamente por algoritmos de beleza.

Olhando pelo prisma psicológico e social, isso está para a trilha feminina da repressão à libido: Elisabeth reprime sua sexualidade madura, se projeta em Sue, que a explora e escraviza hedonisticamente. O desejo aqui é pulsional, freudiano, uma mistura de eros e thanatos, vida na juventude, morte no envelhecimento. A opressão e despotismo da perfeição se manifesta no ‘’body horror’’, um gênero do terror que abusa o corpo de forma gráfica, através de mutações, deformações, mutilações e doenças onde deformidades simbolizam a guerra interna contra a própria imagem. Contemporaneamente, o filme critíca subversivamente plataformas como Instagram, Facebook e cirurgias plásticas, onde o self é editado para validação externa, e pesquisas em psicologia social indicam que tal exposição constante eleva ao cubo taxas de ansiedade entre jovens mulheres, reforçando esse ciclo vicioso de dependência.

Clinicamente, isso evoca nitidamente o ‘’transtorno dismórfico corporal’’, agravado por traumas de rejeição, e concomitantemente sugere uma terapia possível, o confronto com o real, além do imaginário.

Por que permitimos que o ideal do ego nos escravize? Como a sexualidade reprimida explode em autodestruição? E se o verdadeiro desejo fosse abraçar a imperfeição?

‘’A ilusão do ego perfeito é o veneno doce que corrói nossa essência, deixando apenas sombras dançando no vazio.’’ Dan Mena

A Máscara Narcísica: Escondendo a vulnerabilidade por trás da fachada.
A Máscara Narcísica: Escondendo a vulnerabilidade por trás da fachada.

A Tirania da Perfeição pelo olhar Externo como Prisão

A perfeição coercitiva em A Substância é imposta pelo olhar alheio, será habilmente encarnado por Harvey (Dennis Quaid), o produtor misógino que descarta Elisabeth. Isso é o superego punitivo de Freud, internalizado como auto-desprezo. Sue, ao ascender, reproduz e repete o ciclo, objetificando seu corpo para o público espectador, o que mostra em ação o narcisismo social como estrutura de construção atual. Expandindo esse fator, vemos como esse despotismo tirânico se infiltra em esferas profissionais além do entretenimento, como no corporativismo, onde aparência dita promoções, o que perpetua as desigualdades de gênero.

O trauma aqui é inerentemente coletivo, mulheres traumatizadas por padrões irreais e fantasiosos, levando a um desejo desviado para um auto aperfeiçoamento obsessivo e impossível de se sustentar. A sexualidade surge como ferramenta manipuladora de poder, mas, ao mesmo tempo, vazia, sem espremer uma conexão genuína. ‘’O panóptico da beleza vigia e pune, e em uma era de vigilância digital, câmeras e filtros ampliam esse controle, tornando a privacidade um luxo obsoleto.’’ Dan Mena

Dopamina como validação vicia, o que é similar à substância no filme. Socialmente, a peça delata o patriarcado, onde o valor feminino é epidérmico, e movimentos como ‘’body positivity’’ surgem como antídotos, mas ainda lutam contra narrativas dominantes na sociedade. A Positividade Corporal é um movimento que busca inspirar a aceitação, o amor-próprio e o respeito por todos os corpos, sem distinção de tamanho, comparação, forma, cor ou qualquer outra característica física. Sua proposta seria a de estimular uma visão saudável e acolhedora de si, rompendo com os padrões estéticos impostos como expectativas sociais relacionadas à aparência.

O que nos liberta dessa prepotência? Como o querer autêntico resiste ao olhar externo? E se a perfeição fosse uma ilusão coletiva?

‘’A tirania da perfeição é o carcereiro invisível que transforma o corpo em cela, sufocando a alma em nome do aplauso fugaz.’’ Dan Mena

Ideal do Ego vs. Realidade: O abismo entre o que somos e o que deveríamos ser.
Ideal do Ego vs. Realidade: O abismo entre o que somos e o que deveríamos ser.

O Trauma como Catalisador das Cicatrizes Invisíveis no Corpo Visível

Vejo que o trauma em A Substância não é explícito, mas subjacente, o acidente de carro de Elisabeth simboliza colisões emocionais passadas, o que ativa suas defesas narcísicas. Vemos aqui o ‘’retorno do reprimido’’, onde a substância é uma máscara das dores antigas, que se vem  amplificadas em horror corporal. A obra cinematográfica dialoga com várias teorias modernas do trauma complicado, onde experiências cumulativas, como micro agressões de gênero, se acumulam na psique levando a dissociações como a duplicidade que Elisabeth e Sue representam para a cena.

A sexualidade traumática está presente na duplicidade. Elisabeth reprime e estanca seus desejos maduros, enquanto Sue os hiperboliza, misturando prazer, redenção e punição. O desejo é ambíguo, trabalha na pulsão de vida contra a morte. Socialmente, crítica Hollywood, que traumatiza atrizes que envelheceram, somadas a estatísticas de saúde mental que apresentam altas taxas de depressão nesse meio, tudo isso se mistura ao enredo.

Clinicamente, temos o ‘’transtorno de estresse pós-traumático’’ agindo, com ''flashbacks'' simbólicos nas deformidades, intervenções como a psicanálise poderiam trabalhar tais feridas.

Como o trauma molda nosso desejo? Por que o corpo carrega as marcas da mente? E se curar significasse abraçar nossas cicatrizes?

‘’O trauma é o sussurro eterno que deforma o presente, transformando desejos em fantasmas que assombram a alma.’’ Dan Mena

Psicanálise e a Perfeição: Desvendando as raízes da autoexigência.
Psicanálise e a Perfeição: Desvendando as raízes da autoexigência.

Sexualidade e Desejo: Da Repressão à Explosão Libidinal

A sexualidade em A Substância é um percurso da contenção à voracidade. Elisabeth reprime sua libido, e projeta isso em Sue, que a consome em excessos e descomedimentos. Olha ae o id freudiano solto, onde os quereres são investimento libidinal no self, elevam inevitavelmente à castração simbólica, o corpo mutilado. Uma fluidez sexual em duplicidade que sugere identidades híbridas, desafiando binários tradicionais.

O ''narcisismo patológico'' herege do outro, tornando o sexo autoerótico, destarte, socialmente denuncia a objetificação feminina, onde o desejo é mercantilizado, e o filme, se alinha a críticas pós-feministas sobre a pornificação e banalização da cultura.

O erótico como limite da morte, neurocientificamente, a libido ativa circuitos de recompensa, viciando na perfeição, estudos mostram como tal rejeição ativa áreas de dor física.

Por que reprimimos o desejo autêntico? Como a sexualidade cura ou destrói? E se o verdadeiro prazer estivesse na vulnerabilidade?

‘’A sexualidade reprimida é o fogo subterrâneo que irrompe em chamas, consumindo o ego em busca de um êxtase fugidio.’’ Dan Mena

A Guerra Interna Feminina

Socialmente, o filme desmascara o ‘’male gaze’’, com Harvey como ideal arquétipo do abusador. Elisabeth internaliza isso, guerreando contra si em Sue. Irrompe então a introjeção do opressor, onde narcisismo é defesa contra a humilhação. O impacto se estende a economias globais, porto das indústrias de beleza que lucram bilhões com inseguranças femininas. Esse ‘’olhar masculino’’, é um termo da teoria feminista contemporânea que descreve como as mulheres são representadas socialmente na arte, literatura e mídia sob um ponto de vista masculino e heterossexual. Essa articulação velada, as transforma por vezes em objetos sexuais para o prazer do espectador homem. O conceito analisa como essa representação inferioriza as mulheres, as diminui e as retrata principalmente por sua aparência física e valor sexual. Dito trauma coletivo das mulheres usa o envelhecimento como exílio. O desejo feminino é cooptado, tornando a sexualidade performática, dialogando com o feminismo interseccional, questionando padrões brancos e heteronormativos que intersecciona com questões raciais, onde beleza eurocêntrica agrava todo tipo de traumas.

A Sombra da Autoestima: Como o narcisismo afeta a relação consigo mesmo.
A Sombra da Autoestima: Como o narcisismo afeta a relação consigo mesmo.

Como combater o ''male gaze'' internalizado? Por que o desejo social nos aprisiona? E se a revolução começasse no olhar do espelho?

‘’O impacto social do olhar alheio é o veneno que infiltra a veia da identidade, transformando mulheres em prisioneiras de sua própria imagem.’’ Dan Mena

Fundo Psicológico das Pulsões e o Inconsciente Coletivo

O inconsciente em A Substância late diretamente com as pulsões, Eros na criação de Sue, Thanatos na sua destruição. Sue, é o lado escuro de Elisabeth, o arquétipo da juventude gulosa e devoradora. Se expandindo, toca no inconsciente coletivo, onde mitos como o de Narciso reverberam para a modernidade adaptados à era digital. Um chamado ao borderline; ‘’splitting’’ como cisão, divisão e rachadura em decomposição entre bom e mau self. Socialmente amparado na ansiedade coletiva pelo envelhecimento, com demografias envelhecidas enfrentando crises existenciais. Filosoficamente isso nos remete a Heidegger: ser-para-a-morte no horror corporal, onde terapias existenciais poderiam mitigar tais angústias.

O que o inconsciente abre sobre nossa finitude? Como as pulsões moldam desejos? E se abraçar a sombra libertasse?

‘’No abismo do inconsciente, as pulsões dançam, mostrando que a perfeição é mera máscara para o caos primordial da nossa existência.’’ Dan Mena

O Culto à Imagem: Reflexos da sociedade na construção do Ideal do Ego.
O Culto à Imagem: Reflexos da sociedade na construção do Ideal do Ego.
Adicção Cultural à Juventude Eterna

O filme ‘’A substância’’ representa e simboliza os filtros de apps e botox, vícios culturais ao ideal do ego e vaidade potencializada. Psicanaliticamente, isso é defesa contra a angústia existencial. Socialmente, critica o capitalismo que monetiza com inteligência nossas inseguranças. Ampliando isso exponencialmente, com o avanço da IA na edição de imagens, o filme prevê distopias e utopias, onde realidades virtuais aceleram e cavam narcisismos, borrando a fronteira tênue entre self e avatares.

O trauma digital se apresenta em comparações constantes que geram narcisismo vulnerável. Sexualidade online, onde o desejo é performado para likes. Cientificamente, redes sociais se alimentam dessa dopamina, similar à droga, intervenções como detox digital surgem como soluções cosmopolitas.

Como resistir ao adicto cultural? Por que o desejo por eternidade nos destrói? E se o envelhecimento fosse uma celebração?

‘’A era contemporânea introjeta a ilusão da juventude como opiáceo coletivo, deixando almas envelhecidas em corpos falsamente renovados.’’ Dan Mena

Libertação da Culpa: Superando a pressão do Superego tirânico.
Libertação da Culpa: Superando a pressão do Superego tirânico.

Reflexões

Ao final desta análise pelas entranhas de A Substância, fica a ressonância de uma pergunta: e se a busca incessante pela inteireza estética não for senão um véu para o medo primordial da finitude? Este filme não é simplesmente um entretenimento passageiro; é sobre uma realidade social enraizada que nos obriga a confrontar-nos. Enxergo como psicanalista, uma catarse coletiva junguiana, um olhar sincero no tema para que abandonemos toda forma de intolerância, dominação, abuso, sujeição, repressão, jugo, prepotência, perseguição e injustiça externa e abracemos a autenticidade. Creio que usar determinados filtros e ferramentas não é necessariamente um desvio ou uma corrupção da veracidade, mas antes, uma tentativa de expressar nuances que o olhar cru da realidade nem sempre pode captar. O problema não está no uso dos artifícios que acho totalmente legítimo, mas na alienação que deles pode advir. Quando um sujeito se reconhece verdadeiramente na imagem que aprimora, quando compreende que esse comprazimento é apenas uma apresentação que pode beneficiar vários ângulos da sua vida, quando tais não personificam a substituição do seu eu real, não há adoecimento, vejo nisso, potência.

Em ‘’A Substância’’, o terror surge justamente neste ponto, quando a aparência se torna arcabouço e prisão da fantasia, se o ideal estético suplanta o indivíduo, o corpo vira território de guerra. O aterramento psíquico nasce do esquecimento de si, da confusão entre máscara e essência. Porém, quando se domina o artifício com consciência e senso crítico, ele o transforma em instrumento de comunicação, de arte, de linguagem simbólica.

O Preço da Imagem: A exaustão emocional da busca por validação externa.
O Preço da Imagem: A exaustão emocional da busca por validação externa.

Na psicanálise entendemos o símbolo como mediação entre o consciente e o inconsciente; assim também o elixir do filtro pode ser, em sua função mais saudável, uma metáfora do desejo de expansão da própria imagem, não sua negação. Há um paradoxo pungente que atravessa nosso tempo. Vejo mulheres belíssimas, plenas em sua expressão natural, arriscarem a própria vida em mesas cirúrgicas e clínicas estéticas em nome de uma perfeição que jamais se alcança. Essa busca compulsiva pelo corpo ideal revela o grau de violência simbólica que a sociedade exerce sobre o feminino ou que inclui muitos homens também. A pressão pela juventude eterna transforma o desejo de cuidado em autodestruição. O corpo, que deveria ser lugar da alma, se transmuta em campo de batalha entre o ser e o parecer.

Essas mortes, algumas silenciosas, outras ganham notoriedade jornalística, tratadas na maioria dos casos como fatalidades médicas, são na verdade sintomas de uma cultura doentia que não tolera a imperfeição. Mulheres e homens que talvez jamais precisassem de qualquer intervenção são levadas(os) a crer que precisam corrigir o incorrigível. O preço é alto: borrar a singularidade em troca de uma imagem padronizada. É nesse ponto que ''A Substância'' se torna um filme perturbador, ele denuncia a escarpa entre a aparência fabricada e a essência que clama por existir.

“A beleza não deve ser conquistada pela dor, mas reconhecida na verdade do ser.” Dan Mena Como psicanalista, não temo o artifício, mas o vazio que pode se instalar quando tomado como verdade. O uso de recursos  tecnológicos ou simbólicos pode representar não uma fuga, mas um modo de elaboração do eu contemporâneo, esse que dialoga com o tempo, com a velocidade, com as exigências da imagem, mas que ainda busca seu significado interior. A perfeição, quando compreendida como linguagem e não como tirania, pode se tornar libertadora. ‘’O narcisismo, o ideal do ego, o trauma, a sexualidade, todos se entrelaçam como vetores da nossa fragilidade.’’ Dan Mena 

Psicanálise: O Caminho para o Eu Real: Abandonando o Ideal do Ego opressor.
Psicanálise: O Caminho para o Eu Real: Abandonando o Ideal do Ego opressor.

A Substância, original (The Substance, 2024), dirigido por Coralie Fargeat, produzido por Working Title Films em coprodução franco-britânico-americana. Protagonistas

Elisabeth Sparkle (Demi Moore): Uma mulher traumatizada pelo declínio, cujo perfil psicológico expõe seu narcisismo vulnerável, com investimento libidinal no self idealizado, a levando a autodestruição por incapacidade de tolerar suas falhas.

Sue (Margaret Qualley): A versão jovem, encarna a onipotência narcísica, com desejo hedonista e repressão das conexões, simbolizando a tirania da perfeição como defesa contra o vazio.

Harvey (Dennis Quaid): O antagonista misógino, cujo ego inflado mostra o abuso de poder, com traços narcísicos patológicos que externalizam desprezo por imperfeições alheias.

Que essa análise inspire você a ver ou revisitar o filme e, quem sabe, questionar novas perspectivas sobre a vida.

Palavras chaves A Substância 2024, narcisismo patológico, ideal do ego, tirania da perfeição, análise psicanalítica, trauma infantil, sexualidade reprimida, desejo libidinal, ferida narcísica, onipotência narcísica, guerra interna imagem, valor externo, jornada sexualidade feminina, repressão libido, Freud cinema, Lacan espelho, poder abuso, comportamento humano, vingança identidade, saúde mental filmes. #ASubstancia2024 #NarcisismoPatologico #IdealDoEgo #TiraniaDaPerfeicao #AnalisePsicanalitica #TraumaInfantil #SexualidadeReprimida #DesejoLibidinal #FeridaNarcisica #OnipotenciaNarcisica #GuerraInternaImagem #ValorExterno #JornadaSexualidadeFeminina #RepressaoLibido #FreudCinema #LacanEspelho #PoderAbuso #ComportamentoHumano #VingancaIdentidade #SaudeMentalFilmes Referências Bibliográficas utilizadas Bandura, Albert. Autoeficácia: O Exercício do Controle. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2008.

Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

Baumeister, Roy F. O Mal: Dentro da Mente Humana. Rio de Janeiro: Record, 2001.

Bourdieu, Pierre. A Distinção. Porto Alegre: Zouk, 2007.

Erikson, Erik H. Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

Foucault, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1987.

Freud, Sigmund. Introdução ao Narcisismo. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Giddens, Anthony. Modernidade e Identidade. São Paulo: UNESP, 2002.

Kant, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.

Klein, Melanie. Inveja e Gratidão e Outros Trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

Kohut, Heinz. Formas e Transformações do Narcisismo. Porto Alegre: Artes Médicas 1984.

Lacan, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

Lasch, Christopher. A Cultura do Narcisismo. São Paulo: Best Seller, 2023.

Maslow, Abraham H. Motivação e Personalidade. Rio de Janeiro: Harper & Row, 1970.

Nietzsche, Friedrich. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

Platão. A República. São Paulo: Martin Claret, 2000.

Sartre, Jean-Paul. O Ser e o Nada. Petrópolis: Vozes, 1997.

Sennett, Richard. A Corrosão do Caráter. Rio de Janeiro: Record, 1999.

Twenge, Jean M. A Epidemia do Narcisismo. São Paulo: LeYa, 2010.

Winnicott, D. W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.


FAQ "A Substância (2024): Narcisismo, Ideal do Ego e a Tirania da Perfeição | Análise Psicanalítica by Dan Mena"

O que é o filme A Substância (2024)?

A Substância (The Substance, 2024), dirigido por Coralie Fargeat, é um filme de horror corporal que segue Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma apresentadora de TV em declínio que usa uma droga misteriosa para criar uma versão jovem de si, Sue (Margaret Qualley). O enredo explora o eu idealizado e a realidade do envelhecimento, se transformando em um pesadelo de duplicidade.

Qual é a análise psicanalítica do narcisismo em A Substância?

Na análise psicanalítica, o narcisismo no filme é retratado como uma ferida aberta oriunda de traumas infantis, não como mero egoísmo. Elisabeth revive sua onipotência infantil perdida ao criar Sue, uma projeção do self grandioso que mascara suas vulnerabilidades, mas a leva à autodestruição quando o equilíbrio é rompido.

Como o ideal do ego é representado no filme The Substance?

Inspirado em Lacan, o ideal do ego é mostrado como um falso farol que guia Elisabeth à ruína. Sue encarna esse ideal jovem e impecável, dependente do "Grande Outro" (sociedade e olhar masculino), resultando em punição grotesca quando o equilíbrio de sete dias é violado, simbolizando o conflito entre o real e o imaginário.

O que significa a tirania da perfeição estética em A Substância?

A tirania da perfeição estética se refere à opressão imposta pelo olhar externo, como o do produtor Harvey, que internaliza o superego punitivo freudiano. O filme critica como essa pressão transforma o corpo em prisão, perpetuando desigualdades de gênero e fomentando um ciclo de autodesprezo e busca obsessiva por juventude.

Qual o papel do trauma infantil na narrativa de A Substância?

O trauma infantil atua como catalisador para o narcisismo patológico. Elisabeth, ao injetar a substância, revive abandonos emocionais da infância, onde a validação externa supre a ausência de um afeto genuíno. Isso se expande para críticas sociais, como redes sociais ampliando rejeições antigas e transformando o narcisismo em epidemia.

Como a sexualidade e o desejo são explorados no filme A Substância?

A sexualidade vai da repressão à explosão libidinal: Elisabeth reprime sua libido madura e a projeta em Sue, que a consome em excessos. Inspirado em Freud, isso mistura Eros (vida na juventude) e Thanatos (morte no envelhecimento), denunciando a objetificação feminina e a mercantilização do desejo em uma cultura pornificada.

O que é o male gaze e como se aplica à análise de A Substância?

O male gaze, conceito feminista, descreve como mulheres são representadas como objetos sexuais sob o olhar masculino heterossexual. No filme, Harvey encarna isso, descartando Elisabeth e forçando-a a guerrear contra si mesma em Sue, internalizando o opressor e perpetuando traumas coletivos de gênero.

Qual a crítica social do filme The Substance (2024)?

O filme critica a sociedade patriarcal e capitalista que monetiza inseguranças femininas, alinhando-se ao #MeToo ao expor abusos velados na indústria do entretenimento. Ele denuncia plataformas como Instagram, cirurgias plásticas e o culto à juventude, promovendo movimentos como body positivity como antídotos.

Há elementos neurocientíficos ou filosóficos na análise psicanalítica de A Substância?

Sim, a análise integra neurociência (ativação do eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal por trauma, liberando cortisol) e filosofia (Nietzsche e o super-homem levando ao abismo; Heidegger e o ser-para-a-morte). Isso enriquece a visão do narcisismo como defesa contra o vazio existencial.

Como o filme A Substância relaciona o inconsciente coletivo e as pulsões?

Inspirado em Jung, o inconsciente coletivo reverbera mitos como Narciso na era digital. As pulsões freudianas em Eros na criação de Sue e Thanatos em sua destruição que mostram Sue como o lado escuro de Elisabeth, tocando em ansiedades coletivas pelo envelhecimento e ‘’splitting borderline’’.

Qual a mensagem sobre a adicção cultural à juventude eterna em A Substância?

A substância simboliza vícios culturais como filtros de apps e botox, defesas contra angústia existencial. O filme prevê distopias com IA borrando self e avatares, criticando o capitalismo que lucra com inseguranças, e sugere detox digital como solução para o narcisismo vulnerável.

Qual a ponderação final da análise psicanalítica de A Substância feita por Dan Mena?

A busca pela perfeição estética é um véu para o medo da finitude. O filme promove catarse coletiva, incentivando o abandono de máscaras e o abraço à autenticidade. Artifícios como filtros são legítimos se não alienam o eu real, mas se tornam tóxicos quando confundem essência e aparência.

Artigos ligados ao tema com links internos do blog https://www.danmena.com.br/post/medos-ocultos-que-sabotam-a-vida-sexual


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Dan Mena – Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise (CNP 1199, desde 2018); Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise (CBP 2022130, desde 2020); Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University – Florida Department of Education, EUA (Enrollment H715 / Register H0192); Pesquisador em Neurociência do Desenvolvimento – PUCRS (ORCID™); Especialista em Sexologia e Sexualidade – Therapist University, Miami, EUA (RQH W-19222 / Registro Internacional).




 
 
 

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