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- A Relação Sexual Não Existe.
Conflitos Sexuais da Psicologia e o Inconsciente. "O Outro, tão desejado, é sempre um lugar de projeção, um espelho onde nossas fantasias se materializam e nossos medos se escondem." — Dan Mena. A Inexistência da Relação Sexual: Laços Sociais, Fantasias e o Desejo no Imaginário. "Neste artigo vamos examinar como a psicanálise explica os conflitos e tabus na sexualidade, incluindo as relações sexuais, desejos reprimidos, e a teoria de Freud sobre a libido. Entenda como os complexos de Édipo e a repressão sexual influenciam as relações afetivas e o comportamento sexual." “A relação sexual não existe” — diz Lacan categoricamente. Para abordar esta questão um tanto complexa, podemos nos referir ao vínculo social, às relações que existem. Esse laço pode ser dimensionado a partir daquilo que conhecemos como estrutura. Se o tomarmos deste último ponto de vista, dizemos que o laço social é uma forma de ligação com o ''Outro'' . Uma forma de vínculo, uma das versões destas alianças que existem entre os sexos, homens e mulheres. Precisamos ter em mente, que para Lacan, que cunhou o termo no seu Discurso do Seminário 17 , “O Reverso da Psicanálise” — o que se pretende com a noção de ''discurso'', é formar uma ficção, uma fantasia. O que, em última análise, permite isso, entre o imaginário e o simbólico) na ligação da nossa sexualidade. No entanto, esta conexão entre estes dois elementos autônomos, difere das concepções biológicas, teológicas ou culturais. No campo Psicanalítico, este elo, homem-mulher, está situado em relação a uma lógica fantasmagórica, onde ambos estamos unidos pelo nosso fantasma, entendido isso, como uma singular modalidade de satisfação do impulso de cada um. "O Outro, tão desejado, é sempre um lugar de projeção, um espelho onde nossas fantasias se materializam e nossos medos se escondem." — Dan Mena. Existe uma teoria psicanalítica da sexualidade? Qual é o alcance da noção de sexo na Psicanálise? Como se articulam o desejo, amor e o gozo na experiência da análise? Porque mesmo que não haja relação sexual, como afirma Lacan, ainda existem relações sexuais no plural, numa sociedade que facilita cada vez mais orgasmos banais? Boa leitura. "O vínculo entre os sexos, para a psicanálise, é mais do que biológico; é o palco onde a linguagem e o inconsciente dançam em descompasso." — Dan Mena. "A inexistência de uma fórmula perfeita para o amor, é o que dá ao encontro dos laços afetivos sua complexidade e mistério." — Dan Mena. Antes de começar, se é um fato que para nós Psicanalistas é difícil ler, se chama Lacan, logo imagino para vocês, (juro que tento um humanês), uma das razões que dificulta a compreensão da obra é o seu modo de escrever. Ele o faz de uma forma que não leva a uma posição claramente definida, nos desafia a um pensar. Seu estilo de escrita, usualmente empregado, se diferencia muito da obra de Freud. Por outro ângulo, figura entre os mais importantes Psicanalistas do século XX, e a leitura da obra Freudiana, que a partir da filosofia Hegeliana, da linguística Saussuriana e dos trabalhos de Levi-Strauss, deram origem a uma das principais escolas da Psicanálise Francesa. "A inexistência de uma fórmula perfeita para o amor, é o que dá ao encontro dos laços afetivos sua complexidade e mistério." — Dan Mena. Aprendi assim: temos primeiro que quebrar a cabeça, abandonar nossa forma clássica de pensar, logo, para compreender sua magnífica obra, precisamos escapar da nossa própria retórica, fugir da armadilha do pensamento, para posteriormente se deixar prender na dele. Para captar as teorias de Lacan, especificamente neste tema, é preciso lembrar que na frase original, ele, de forma traduzida ao português, expressa: “Não há relação sexual” , aqui o analista francês utiliza a palavra ' 'rapport'' . Apesar de ser tradicionalmente traduzida como “relação” , na língua francesa, a palavra designa uma associação de complementaridade, de encaixe, onde os elementos, são mutuamente equilibrados e proporcionais. Seria esse um encaixe perfeito?. Nesse sentido, quando Lacan diz… que “não há relação sexual”, o que ele está dizendo, é que no campo do amor, não encontramos relações que se encaixem com perfeição. Em outras palavras, não se alcançam os pares perfeitos. Na sua leitura, a inexistência da relação sexual, significa que não perdura, não existirá, nunca existiu, uma fórmula mágica para termos relações amorosas harmônicas e plenamente satisfatórias. "Ao dizer que 'não há relação sexual', não se nega o amor, mas simboliza a impossibilidade de um encaixe absoluto entre os sujeitos." — Dan Mena. A imensa maioria dos animais está submetida a ciclos biológicos afetivos-sexuais pré-definidos, mas o mesmo não acontece conosco, os humanos, onde a ausência de um instinto sexual irracional faz com que a nossa maneira de desejar e de amar seja singular e única. O encontro entre duas pessoas também representa o encontro desses dois mundos, absolutamente diferentes, que não foram moldados ao longo da vida para se completarem, e dessa forma, o encaixe impecável é impossível. Por isso, é necessário, antes de mais nada, decidir amar, para começar a aprender a melhor forma de se adaptar ao outro. Portanto, onde há uma adaptação, existe algo fora do que seria natural. Lacan fala das fórmulas de sexuamento, para se referir a estas posições sexuadas. "Nosso desejo, por não ser regido por instintos pré-definidos, transforma o amor em uma escolha, uma construção contínua de adaptações." — Dan Mena. Assim, do lado masculino encontramos aquelas maneiras de gozo que são todas fálicas (ligadas ao pênis). Enquanto no lado feminino, o gozo seria desdobrado, sendo não só o gozo fálico, mas também um deleite suplementar. O que é obtido na modalidade de gozo é sempre o do próprio corpo. Por exemplo: o homem, para apreciar a mulher sexualmente, se liga a um objeto corporal dela, a uma característica, exemplo; os seios, a bunda, a boca, etc. Ele transforma esse elemento fetiche para o seu gozo, e assim desfrutar do seu órgão. Quanto ao lado feminino, algo mais acontece, por um lado, pode apontar para um assunto relacionado com a imaginação ou fantasia, uma vez que também existe uma relação com o falo, (pênis), mas por outro, trilha para algo diferente. Este ''algo'' é a palavra, para ela, (a mulher), exemplo: frases de amor, declarações, gestos, são importantes, e para poder desfrutar disso, ela precisa transpassar isso pelo amor. Assim, do lado masculino, o amor e o gozo estariam separados. Uma mulher pode ser amada como um sujeito para um homem, mas para a apreciar, ele a degrada um pouco, desfruta dela como um objeto, um símbolo da sua fantasia. "Nosso desejo, por não ser regido por instintos pré-definidos, transforma o amor em uma escolha, uma construção contínua de adaptações." — Dan Mena. "O homem separa o amor do gozo; a mulher os entrelaça, construindo um território onde o simbólico dá sentido ao prazer." — Dan Mena. Do lado feminino, porém, acha-se uma dimensão onde o amor e o gozo estariam unificados. Ela goza de amor, com amor. É nesta direção que não há correspondência entre os sexos, uma vez que cada um goza à sua maneira, do seu jeitinho, razão pela qual Lacan diz, que a relação sexual ''não pode ser escrita''. Não levar em conta estas diferenças estruturais, e querer colocar-se numa posição de igualdade imaginária, que resulta muitas vezes num mal-entendido entre os sexos. A diferença, não deve, nem pode ser confundida com a desigualdade, a dissemelhança deve ser combatida, a diferença não deve ser misturada, principalmente nas leituras psicanalíticas. “No campo feminino, o amor se torna condição para o gozo, atravessando o corpo e alcançando o território simbólico da palavra.” — Dan Mena. Poderíamos dizer então que não há nenhuma relação sexual? Significa que não existe no homem nenhum programa natural que lhe permita viver a sexualidade de uma forma harmoniosa? Alguns discursos tentam escrever a relação sexual com base numa relação com a natureza. A narrativa da religião se inscreve na sexualidade com base na procriação. Freud se encarregou de separar a naturalidade e a procriação do desejo da criança, de mostrar as primeiras experiências de satisfação e gozo que nada têm a ver com a procriação, embora a procriação e o gozo não sejam mutuamente exclusivos. No discurso "sadiano" também se tenta apelar à naturalidade, ao pensar sobre a sexualidade humana. "A tentativa de naturalizar a sexualidade, seja na religião ou no discurso sadiano, falha ao ignorar a complexidade do desejo, que vai além do biológico." — Dan Mena. A sexualidade é concebida por Sade, nas suas obras (The Boudoir, Juliette), como o direito de usufruir de todos os corpos, mesmo sem o consentimento do sujeito em virtude de uma lei natural. É o oposto do discurso da religião e de uma filosofia que leva a um pedido de desculpas, por tentar forçar aquilo que o corpo quer. Lacan fará uma interpretação do discurso Sadiano, mostrando que o Marquês de Sade, nos dá uma nova face do Superego, como uma exigência de gozo. Ele dirá no Seminário XX: “Nada obriga ninguém a gozar, exceto o superego. O superego é o imperativo do gozo: "Goza!” Lacan, situa neste aspecto o Superego no campo do gozo, que pode ser apresentado como um dever, que forçará o corpo empurrando-o. Nesta perspectiva Sadiana, o apelo à naturalidade pode estar ao serviço de uma exigência do gozar, que pode conduzir aos maus tratos dos corpos. A tese amplamente aceita de Lacan, inclui uma disfunção na sexualidade que se refere a três termos: amor, desejo e gozo, que se jogam papéis de forma diferente em homens e mulheres. Cada um, aspira a uma certa convergência entre estes três termos, mas o sintoma aparece onde existe um buraco ou talvez ausência, e pode ser a causa do sofrimento e do desconforto que muitas vezes experimentamos. A relação não sexual, tem a ver com o fato desse impulso não estar relacionado ao ''Outro'', ao contrário do desejo, que sim o acompanha. Lacan, confiará em Hegel para definir o desejo como desejo do ''Outro'', uma excitação que se articula com o sujeito, enquanto a pulsão, não o tem em conta, se satisfaz por si própria. Por fim, cabe ressaltar, que em cada encontro sexual que provocamos, o desejo é estruturado inconscientemente, mesmo antes de encontrarmos um parceiro idealizado ou não, lembre, através do fantasma singular citado anteriormente, ditando às regras da relação estão: o êxtase, a sedução, ciúmes, possessão, inibição, ódio, etc. Cada ato sexual, envolve pelo menos quatro pessoas, porque não só os amantes estão presentes nela, mas cada um deles, é assistido no seu inconsciente por seu fantasma correspondente, então, somos sempre quatro. "Cada ato sexual envolve não só os corpos dos amantes, mas também os fantasmas inconscientes que os governam, fazendo de cada encontro um jogo de quatro pessoas, num cruzamento de desejos e pulsões." — Dan Mena. “No campo feminino, o amor se torna condição para o gozo, atravessando o corpo e alcançando o território simbólico da palavra.” — Dan Mena. Vamos então efetuar uma síntese. É suficiente descrever o que acontece e o que não, é o que se imagina que possa acontecer. Há corpos, há inconsciência, há fantasias, fetiches e prazeres. Não nos encaixamos, isso vale de um para o outro, homem-mulher, (sem deixar de fora qualquer outra relação de gênero possível) o que demandaria de um capítulo à parte. Não nos complementamos, nem nos unimos, nem fundimos, isso independe das leituras específicas de cada relacionamento. Pelo menos não ao nível do gozo, que é, afinal de contas, e o que conta neste artigo. É através do encontro com o corpo do outro, que chegamos ao nosso próprio modo de gozo e prazer. E é a partir dele, dessa estrutura inconsciente, que articulamos nosso desejo, do qual certamente desfrutamos, cada um da sua maneira. Assim, nos beneficiamos de si próprios. Juntos, se necessário, mas cada um com sua parte, seu lugar. Mesmo que essa estrutura exista para satisfazer o outro, se pensarmos no que faz, veremos que não se pode realizar outra coisa, senão satisfazer a própria fantasia de saciar o ''Outro''. Abreviando… é sempre nosso próprio inconsciente que se satisfaz, um inconsciente do qual, é de resto por definição, também não sabe. Como vemos, não é a satisfação que se interpõe, porque podemos perfeitamente criar sua expressão e configuração, mas sim a complementaridade do seu encontro e entornos. O que de fato é um impossível, é falar na unificação, pois onde há dois sujeitos, haverá sempre duas máquinas particulares, singularmente desejantes, que só escutam a si mesmas. “A complementaridade, ou a tentativa de união total entre os sujeitos, é impossível, pois cada um, no fundo, é uma máquina particular e singular de quereres que escuta apenas a si mesma(o).” — Dan Mena. Para quem decide amar, o amor oferece riscos, assim o descreve Gibran no seu poema: O amor. “Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis. Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma No pão místico do banquete divino. Todas essas coisas, o amor operará em vós Para que conheçais os segredos de vossos corações E, com esse conhecimento, Vos convertais no pão místico do banquete divino”. Destarte Lacan, não desacreditemos do amor como vínculo, o amor, também oferece retornos, satisfação, felicidade e crescimento. Palavras-chave: #PsicanáliseESexualidade, #ConflitosSexuais, #TabusNaSexualidade, #RelaçõesSexuais, #FreudESexualidade, #DesejosReprimidos, #SexualidadeEInconsciente, #PulsãoSexual, #Libido, #RepressãoSexual, #SexualidadeNaPsicanálise, #ComportamentoSexual, #TraumaSexual, #RelaçõesAfetivas, #ComplexosDeÉdipo, #SexualidadeSaudável, #LibidoNaPsicanálise, #RepressãoDeDesejos, #TabusCulturais, #TeoriaSexualDeFreud. Fontes Utilizadas e Autores: Freud, Sigmund. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade . Lacan, Jacques. Os Escritos . Karen Horney. Neurose e Desenvolvimento Pessoal . Guilherme Reich. A Psicologia do Corpo . Erich Fromm. A Arte de Amar . Júlia Kristeva. Poderes do Terror . John Money. Identidade de gênero e sexualidade . Sigmund Freud. O Ego e o Id . Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Todo o conteúdo deste site, incluindo textos, imagens, vídeos e outros materiais, é protegido pelas leis brasileiras de direitos autorais (Lei nº 9.610/1998) e por tratados internacionais. 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- Exibicionismo: Desejo, Prazer e Vergonha.
"No ato de se exibir, o sujeito não expõe apenas sua imagem, mas também os anseios mais profundos de serem coletados em sua vulnerabilidade." – Dan Mena. Enquanto fenômeno psíquico e social, o exibicionismo ocupa um papel ímpar na interpretação das entrelaçadas dimensões do ser. Ele não pode ser minimizado a uma característica particular ou a um impulso isolado. Sua ampla manifestação heterogênea atravessa o desejo, o prazer e a vergonha, emaranhado nas estruturas do inconsciente e na formação dos laços interpessoais. Quando reflexiono quanto a ele, não posso evitar de levantar um questionamento elementar: o que leva alguém a buscar ativamente ser visto, a expor partes de si mesmo ao olhar do outro? Seria um grito de afirmação do ego ou uma tentativa desesperada de lidar com os sentimentos de inadequação e rejeição? E mais: por que essa dinâmica tão contemporaneamente diversificada provoca reações tão intensas e ambivalentes, desde a excitação até o repúdio? Ele pode ser lido como uma expressão do anseio de obtermos atenção, reconhecimento e valorização. Freud, em seus estudos sobre as pulsões sexuais o aborda como intimamente ligado ao prazer de ser observado(a) e à excitação que surge do ato de se mostrar e se exibir. Em "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" (1905), descreve o tema como uma pulsão parcial que pode se notar desde os primeiros estágios do desenvolvimento infantil, quando a criança experimenta prazer ao ser o centro das atenções. Jacques Lacan, por sua vez, expande essa compreensão ao destacar a importância do ‘’olhar do outro’’ na constituição do sujeito. Em seus seminários, enfatiza que não se trata meramente sobre ser visto, mas sim, como o indivíduo é captado pelo desejo do outro: "Ser olhado é uma maneira de existir no desejo do outro, e nisso reside o poder do olhar." – Lacan. "As plataformas digitais transformaram o desejo de se mostrar em um espetáculo coletivo, mas será que o aplauso virtual é capaz de preencher as lacunas existenciais e a solidão que habitam no íntimo do ser?" O ato da exposição não é uma novidade nos comportamentos tradicionais. Desde tempos imemoriais, tal aspiração se mescla na busca por identificação e afirmação pessoal. Vivemos no tempo onde a imagem e a visibilidade assumem papéis determinantes, entender essa fatuidade é também interpretar as nuances da psique moderna. Porém, o que distingue o exibicionismo enquanto conceito psicanalítico é sua capacidade de anunciar as tensões internas que habitam entre o prazer de se descortinar e a vergonha de ser percebido . Sendo assim: em que medida seria o exibicionismo uma catadura saudável da sexualidade e quando ele se torna patológico? Como essas elaborações se adaptam ou se transformam à medida que transitamos por um ambiente digital dominado por redes sociais e plataformas de compartilhamento de todo tipo? "O exibicionismo é a metáfora de uma sociedade onde a visibilidade é a moeda mais útil, mas, em seu fundo, esconde a inquietante realidade de um ser que nunca se sente realmente visto." – Dan Mena. Neste artigo, vou abordar não apenas seu comportamento consciente, mas também sua dinâmica inconsciente, que certamente pode evidenciar conflitos diversos. É essencial, portanto, desmistificar o prisma reducionista que frequentemente minimiza o tema a uma mera perversão ou desvio comportamental. Pelo contrário, podemos assimilar sua extensão como uma tentativa de integrarmos por sua via partes fragmentadas do self, que se articulam como uma linguagem simbólica, comunicando quereres, medos e aspirações. Como saber então interpretar o exibicionismo não apenas em sua exteriorização explícita, mas também em suas formas mais sutis e sublimadas? Desde a criança que busca atenção exibindo um desenho até o adulto que encontra prazer em se mostrar ao parceiro ou a uma audiência, ele percorre um contínuo de modelos expressionistas. Não é unicamente a exposição que importa, mas o impacto emocional e psíquico gerado pelo olhar do observador. Esse avistar que valida ou condena, acolhe ou rejeita, é nele que reside o poder transformador ou destrutivo do seu âmago. Poderíamos logo conceber sem equívocos, que o exibicionismo é, em sua natureza, uma busca pelo fitar que autentica? Ainda mais intrigante é a relação entre o exibicionismo e a vergonha. Enquanto o primeiro envolve um ato de descoberta, a segunda emerge como uma resposta à exposição. A vergonha é o lembrete de que o olhar do outro pode ser invasivo, crítico e até mesmo humilhante. No entanto, o aviltamento também pode funcionar como um mecanismo regulador, limitando seus excessos e mantendo o equilíbrio entre o desejo de se ostentar e a necessidade de preservar a privacidade. Qual seria então o papel da vergonha na formação do sujeito exibicionista? Seria ela uma aliada ou uma adversária em sua busca por reconhecimento? "No ato de se exibir, o sujeito não expõe apenas sua imagem, mas também os anseios mais profundos de serem coletados em sua vulnerabilidade." – Dan Mena. Boa leitura. A Sociedade do Exibicionismo. À medida que avançamos será inevitável tentar espremer como a sociedade modela e amplia suas manifestações. Numa era onde a visibilidade é uma moeda de valor, lugar em que as plataformas oferecem infinitas oportunidades para que as pessoas se exibam abertamente. Mas até que ponto essa perceptibilidade virtual atende às necessidades emocionais e psíquicas subjacentes a ela? Ou será que apenas intensifica os sentimentos de inadequação e vazio, perpetuando um ciclo de exposição e vergonha? Eis que surge outro questionamento relevante: como as tecnologias atuais reconfiguram as dinâmicas do desejo e do prazer, ao mesmo tempo em que criam novos contextos para a manifestação da vergonha? "As plataformas digitais transformaram o desejo de se mostrar em um espetáculo coletivo, mas será que o aplauso virtual é capaz de preencher as lacunas existenciais e a solidão que habitam no íntimo do ser?" – Dan Mena. Obviamente, que sob uma perspectiva psicanalítica mais ampla, suas intersecções vão cruzar inevitavelmente com conceitos como narcisismo, voyeurismo e fetichismo. Essas conexões ajudam a entender suas lateralidades, mostrando como se insere em uma rede mais dilatada de fantasias. Quero também considerar as implicações clínicas, analisando brevemente como se apresenta em contextos terapêuticos e quais estratégias podem ser empregadas para abordar os conflitos subjacentes a esse comportamento. Afinal, o que o exibicionismo nos transparece sobre nós mesmos e sobre os outros? E o mais importante: estamos prontos para enfrentar o espelho que ele nos coloca diante de nossos próprios olhares? "O exibicionismo não é apenas sobre o que mostramos; é também quanto o que esperamos receber em troca: validação, pertencimento, amor ou, talvez, uma tentativa de silenciar o vazio interno." – Dan Mena. O Desejo de Ser Visto. O desejo de ser visto(a) não é meramente uma manifestação do ego, mas um tipo de jogo entre as dimensões inconscientes da nossa psique, a construção da identidade e o reconhecimento social. Desde a infância, o olhar do cuidador primário não apenas confirma a existência do bebê, mas também o introduz a um universo de significados. Esse olhar inicial funciona como um espelho, estruturando a identidade e oferecendo validação, enquanto também sustenta as necessidades de aprovação que nos acompanharam ao longo da vida. Essa necessidade de exibição está presente como uma ferramenta de conexão, legitimação e controle. Atualmente, mediados que somos pelas redes sociais e pela cultura da superexposição, essa premissa se torna ainda mais evidente e presente. Como compreender esse desejo de ser visto(a)? Quais são os motores inconscientes que alimentam esse anseio e como impactam? "No desejo de ser visto, há um paradoxo: a euforia do reconhecimento e o medo do julgamento, pois, por trás de cada olhar que nos valida, se esconde a vulnerabilidade de sermos completamente expostos e mal compreendidos." – Dan Mena. "O exibicionismo não é apenas sobre o que mostramos; é também quanto o que esperamos receber em troca: validação, pertencimento, amor ou, talvez, uma tentativa de silenciar o vazio interno." – Dan Mena. Basicamente nasce no cerne da relação primária entre o bebê e o outro que o olha. Esse notar inicial não é apenas um ato de observação; ele é estruturante. A experiência de ser apreciado nos confere a sensação de existência, de ocupar um espaço no mundo. Porém, ao mesmo tempo que sermos avistados confirma essa presença, também anuncia nossas vulnerabilidades. Não é curioso que, regularmente, busquemos no olhar do outro tanto a abonação quanto o temor do julgamento? Como conciliar o prazer de ser reconhecido com a vergonha que pode emergir dessa mesma exposição? "Ser visto não é um luxo ou uma simples vaidade, mas uma necessidade visceral que conecta nossa alma ao vasto tecido das relações interpessoais, um desejo inconsciente que, em um mundo saturado de imagens, luta para encontrar significado." – Dan Mena. A dinâmica do desejo de ser visto adquire frequentemente contornos paradoxais. A visibilidade passou a ser moeda de troca e ferramenta de poder, mas também fonte de ansiedade e frustração, se manifestando de maneiras sutis e explícitas. Desde a pressão por likes e conformação nas redes, até a constante comparação com padrões idealizados de sucesso e beleza, muitas pessoas enfrentam uma sensação de incongruidade. A cada post ou interação, a ansiedade cresce diante do medo de não corresponder às expectativas ou de ser ignorado(a), enquanto o desencanto surge da discrepância entre a imagem projetada e a possível autenticidade que por vezes sacrificamos. Isso nos leva a ponderar: como podemos atravessar esse campo minado driblando detonar emocionalmente e perder nosso centro essencial? Essas vitrines permanentes, onde exibimos fragmentos cuidadosamente selecionados e recortados de nós mesmos(as), numa tentativa de ir ao encontro de expectativas de terceiros, enquanto buscamos preservar uma ilusória autenticidade relegada. Essa dinâmica é intensificada por algoritmos que priorizam interações de engajamento, criando uma realidade em que o valor pessoal parece ser medido por curtidas e compartilhamentos. Mas o que realmente mostramos é quem somos? ou apenas aquilo que acreditamos que os outros desejam ver? Até que ponto esse desejo de ser visto é um paradoxo da nossa própria subjetividade ou uma resposta à pressão externa de corresponder a padrões? Logo entra em cena um segundo protagonista desta peça, a vergonha, que nesse cenário se destaca. Esse sentimento pode ser abordado como uma ponte para o autoconhecimento e a transformação. Por exemplo, em situações terapêuticas, a vergonha surge como um sintoma da vulnerabilidade do paciente frente ao julgamento imaginário ou real. Trabalhar isso, implica ajudá-lo(a) a reinterpretar tais situações, ressignificando o confronto dessas experiências. Ela aparece como resultado do embate entre o desejo de ser admirado(a) e o medo de ser rejeitado(a). Esse sentimento emerge quando nos percebemos atravessados pelo olhar do outro, incapazes de controlar o que ele(a) vê e, mais ainda, como será interpretado o que se vê. Como lidamos, então, com a tensão entre a necessidade de mostrar-se e o medo de ser cancelado, reputado, excluído(a)? "Vivemos em um cenário onde ser visto parece ser inconsistente de existir, mas é nesse vazio da superexposição que nos perdemos, criando personas que nos distanciam de nossas desvantagens, enquanto a ansiedade de ser o melhor nunca desaparece, nos tornando reféns de uma identidade que não é nossa." – Dan Mena. Obcecados pela performance e pela imagem, alargamos essa apreensão. Ser visto, equivale hoje quase a existir, não ser percebido é uma condenação ao desvanecer. Essa realidade nos impele a construir ‘’personas’’ ou personagens cuidadosamente editados para o consumo público, o que leva inevitavelmente ao esvaziamento da nossa própria abstração. Não é isso intrigante? como a necessidade de sermos aceitos nos distancia de quem realmente somos? Até que ponto a busca pela visibilidade é um reflexo do nosso desejo autêntico ou uma imposição social mercadológica? Sob o prisma da psicanálise esse desejo de proeminência precisa considerar a dimensão do prazer. Exibir-se, em muitos casos, é fonte de satisfação, pois nos permite ocupar um lugar de destaque no imaginário alheio. Esse contento entretanto, está quase sempre a cavalo, acompanhado de angústia, uma vez que ser notado(a) implica também ser interpretado(a). Como suportamos portanto o fato de que o olhar do outro é sempre parcial e, muitas vezes, equivocado? Em que medida somos capazes de lidar com a insatisfação de não sermos vistos exatamente como gostaríamos de ser? "Quando somos consumidos pela necessidade de agradar, a nossa própria essência começa a se diluir, como se cada expressão de nossa individualidade fosse submetida a uma avaliação constante, nos tornando espectadores de nossas próprias vidas, enquanto outros nos observam de suas telas." – Dan Mena. A discussão sobre esse querer, nos leva a pensar no circuito que desempenham as novas tecnologias. As redes sociais, não apenas atendem à necessidade de uma visibilidade, mas também a transformam em uma exigência incessante. A lógica do like, do seguidor, cria um ciclo interminável de exposição, impactando diretamente a construção da identidade. Como essas telas afetam nossa saúde mental e emocional? Até que ponto a exposição digital contribui para a construção de um eu minimamente verdadeiro ou para a proliferação de identidades fragmentadas e artificiais? Acredito assim, que o desafio é encontrar um equilíbrio entre ser visto e preservar nossa integridade emocional. Isso implica um processo de autoanálise, no qual devemos nos perguntar: por que desejamos tanto ser vistos? O que buscamos no olhar do outro? E, mais importante, como podemos ser evidenciados sem nos perdermos de nós mesmos? "Na busca por visibilidade, aprendemos quem somos realmente." – Dan Mena. Circuitos de Recompensa do Comportamento. Posso começar este tópico com uma pergunta: por que o desejo de ser visto e reconhecido é tão marcante nas interações atuais? Será que esse impulso tem raízes em nossa biologia evolutiva?. Seria um reflexo da necessidade de obter status social e pertencimento no grupo tribal, que historicamente pode ter sido vital para nossa sobrevivência primitiva? Poderia ser uma estratégia plástica adaptativa, desenvolvida ao longo do tempo para garantir nossa existência? O prazer que se origina da validação social ativa áreas do cérebro responsáveis pela recompensa, são os mesmos ciclos que são acessos por comportamentos ligados ao prazer imediato, como o consumo de determinadas substâncias. A dopamina, um neurotransmissor fundamental para a sensação de jucundidade, exerce grande influência nesse processo. Quando recebemos atenção, reconhecimento ou somos admirados por ações, aparência ou habilidades, a liberação de dopamina nos proporciona uma sensação intensa de regozijo. Essa sensação de ser “visto” aciona um giro compensatório reforçando o dito comportamento. Entretanto, o ledice momentâneo derivado dessa exibição não é isento de contradições. Esses sentimentos de perceptibilidade sem controle geram um campo emocional conflituoso, que pode desencadear um decurso vicioso. O que começa como uma busca natural por prazer através de se mostrar, pode rapidamente se tornar uma obsessão, onde a auto afirmação externa passa a ser mais importante do que a busca por satisfação interna. Nesse ponto, surge uma indagação: até que ponto o prazer genuíno é substituído por uma compulsão? "Ser visto nos dá prazer, mas esse regozijo é tão efêmero quanto uma ilusão."– Dan Mena. "Ser visto(a) não é um luxo ou uma simples vaidade, mas uma necessidade visceral que conecta nossa alma ao vasto tecido das relações interpessoais, um desejo inconsciente que, em um mundo saturado de imagens, luta para encontrar significado." – Dan Mena. A neurociência explica bem a dinâmica desse processo. A ativação do sistema dopaminérgico, responsável pela sensação de prazer e recompensa, é clara quando analisamos comportamentos sociais. A expectativa de gratificação social liga os mesmos mecanismos de satisfação que ocorrem em comportamentos aditivos, como o uso de álcool, drogas, etc. O paradoxo da alacridade exibicionista, no entanto, reside em sua natureza efêmera. O prazer desse retorno é instantâneo, mas logo seguido por um vazio, o que motiva sua busca incessante e permanente por aclamação. Será que esse processo de busca contínua é realmente possível de ser sustentado emocionalmente? Plataformas como Instagram, TikTok ou Facebook funcionam como palcos intermináveis para essa exibição pública ou mesmo seleta. Cada foto, vídeo, comentário ou postagem, operacionalizam os circuitos administrativos da gratificação, mas também participam de uma dinâmica de reforço social. O prazer de ser ratificado(a) se repete, e se reitera, levando o indivíduo a buscar ainda mais interações para preencher o vácuo gerado pela ausência do seu oposto. O que inicialmente poderia ser visto como uma demanda por atenção se torna uma forma de dependência. Seria portanto a visibilidade uma consequência de uma sociedade que valoriza cada vez mais a superficialidade em detrimento das conexões reais? "A gratificação imediata da atenção é tentadora, mas é o vazio que nos ensina sobre seus limites." – Dan Mena. Essa conduta se torna não apenas um ato passageiro, mas uma premissa psicológica. Ela remete a um elo entre o prazer e a vergonha, que se retroalimentam e amplificam a cada interação digital. A resposta imediata das redes às ações, estimulam inconscientemente essa perpetuação, em que a validação externa se torna a principal fonte de prazer do sujeito. Cada vez mais interconectados e superficialmente olhados, podemos realmente falar de uma conexão real com os outros? Ou será que estamos construindo identidades pulverizadas e dependentes da imagem projetada artificialmente? Isso nos desafia a examinar se é possível interromper e quebrar esse paradigma contemporâneo. Existe um caminho para estabelecer uma relação mais saudável com a exibição? Onde o prazer não se baseia exclusivamente na validação externa, mas em uma forma de modificações internas, que respeite tanto o desejo de ser visto quanto à necessidade de preservar a própria identidade? Se a exibição tem raízes em nossas estruturas evolutivas: será possível modificar esses impulsos, treinando nossos cérebros para encontrar prazer em formas mais equilibradas, que não dependam do constante beneplácito? . Em última instância: como podemos redefinir nossa relação com o desejo de ser visto, para que a busca por prazer e reconhecimento não nos torne prisioneiros de um ciclo vazio e certamente insustentável? "Buscamos ser vistos para obter uma noção simbólica de existência, mas o que realmente desejamos é sermos compreendidos." – Dan Mena. Caminhos de Interseção - Exibicionismo, Voyeurismo e Fetichismo. Esse cruzamento inevitável entre o exibicionismo, o voyeurismo e o fetichismo configuram um campo psíquico denso, onde o desejo, o prazer e a vergonha se entrelaçam nas dinâmicas individuais, mas também em inter-relações que moldam a interação entre o eu e o outro. Este território é um espaço onde as manifestações não devem ser vistas apenas como expressões superficiais de prazer ou comportamentos isolados, mas como componentes de um conjunto muito mais amplo, imersos nas experiências psíquicas e sociais da vida. Esses mecanismos não são apenas disfuncionais ou patológicos, mas aspectos do ser, conectados no processo de construção da identidade. Uma Busca Idealizada. À primeira vista tudo parece uma simples procura pela exposição do corpo, mas, ao adentrar na sua análise passamos a compreender que ele se desvela como uma tentativa angustiante de recognição. Aquele que se expõe não deseja ser apenas visto(a); quer ser admirado(a), idealizado(a), até mesmo, se possível, venerado(a). A exposição do corpo se torna logo uma estratégia para a construção de uma foto filtrada de si, uma forma de preenchimento simbólico através do olhar alheio. Contudo, esse querer de ser desejado(a) não é isento de cavadas interações internas, como o medo da desvalorização e da destruição do ego. O exibicionista se vê num lugar entre o prazer de se expor e a angústia da sua possível retirada. Em sua marcha pela consolidação desse esquema psíquico, não está apenas mostrando sua constituição física, mas se entregando à observação, buscando assim uma confirmação essencial de sua identidade. No entanto, isto o(a) torna hesitante, dependente do reflexo, sem que consiga encontrar uma base sólida em si mesmo(a). "Se expor é um reflexo da fraqueza interna que nos atravessa; o corpo se torna o veículo para a validação de um eu que não se sente completo." – Dan Mena. O Campo de Batalha do Narcicista. O narcisismo se apresenta ao narcisista onde seu corpo se torna o campo de guerra. Essa batalha onde se travam suas disputas emocionais e psíquicas. Nesse terreno, o sujeito não apenas exibe sua imagem, mas se coloca vulnerável ao risco de ser destituído de sua identidade se esse olhar não vier com a mesma intensidade que imagina merecer. Luta por um intento de preencher um vazio interno, um desejo impossível de ser completo através da sua projeção arquetípica. A dúvida que se impõe a ele(a) é a de saber se, ao buscar incessantemente essa confirmação externa, não está elaborando uma identidade vazia, fundamentada apenas em um retrato fabricado. "Quem se transparece não apenas mostra a carne, mas oferece sua alma para ser julgada, validada ou descartada." – Dan Mena. "Buscamos ser vistos para obter uma noção simbólica de existência, mas o que realmente desejamos é sermos compreendidos." – Dan Mena. Voyeurismo: O Controle e o Medo da Vulnerabilidade. Em contrapartida ao exibicionismo, o voyeurismo surge como uma performance psíquica igualmente fascinante, onde o desejo é satisfeito pela observação, e não pela exposição. O voyeur, ao contrário do exibicionista, encontra prazer na posição de observador, se distanciando da desproteção e da fragilidade de ser visto. Prefere manter uma distância segura, em que possa consumir o desejo sem o risco de sua exclusão ou de entrega emocional. No entanto, essa busca pelo controle, pela preservação da posição de coletor, levanta questões sobre a verdadeira natureza do desejo. O que significa para ele(a) se evadir da experiência sensorial sem o envolvimento emocional? O voyeur se afasta do objeto de desejo, preservando seu espaço de controle: mas isso não revelaria um medo em si de entrar em contato com o outro de forma mais direta e vulnerável? Em sua postura de segurança e distanciamento, ele parece evitar o risco da exposição afetiva, o que configura uma dinâmica que pode ser vista como um ato de não se entregar ao outro. "O desejo do voyeur é distorcido pela sua necessidade de controle, transformando a intimidação em um objeto de consumo e não de compartilhamento." – Dan Mena. "Se expor é um reflexo da fraqueza interna que nos atravessa; o corpo se torna o veículo para a validação de um eu que não se sente completo." – Dan Mena. Fetichismo: Fragmentação do Desejo e Significados Simbólicos. O fetichismo se ostenta como uma das formas mais intrigantes de deslocamento do desejo, onde o foco não está mais no corpo como um todo, mas em objetos ou partes específicas dele. O fetiche, ao conter e promover um valor simbólico apenas a esses elementos, move a carga da sua aspiração, transformando o prazer em uma bagagem fragmentada, centrada não na totalidade, mas na fixação por algo parcial. Essa diluição pode funcionar como uma forma de modulação do prazer, onde o fetichista encontra uma maneira de experimentar o desejo sem a necessidade de um envolvimento com o outro. No entanto, isso não amplia sua excitação, mas, muitas vezes, o(a) limita, o deixando(a) restrito(a) a um interesse unilateral, em que as partes fetichizadas tomam o lugar do desejo integral. O fetichismo, nesse sentido, pode ser visto como uma tentativa de manipulação e comando, e ao mesmo tempo de evasão, onde o desejo é direcionado para algo de muita especificidade como forma de satisfação que evita o envolvimento total. "O fetiche carrega um valor simbólico que transforma o desejo em algo limitado, na medida em que persegue uma obsessão por algo específico." – Dan Mena. "O fetiche carrega um valor simbólico que transforma o desejo em algo limitado, na medida em que persegue uma obsessão por algo específico." – Dan Mena. A Busca pela Transcendência das Relações Interpessoais. A ponderação sobre essas três dinâmicas - exibicionismo, voyeurismo e fetichismo - nos leva a questionar como restaurar a possibilidade de uma vivência mais autêntica de desejo e intimidade. Como podemos resgatar formas de relação que não se baseiam apenas no prazer repartido da exibição ou da observação? Será possível, como sociedade, fomentar relações mais expressivas, que permitam ao sujeito se entregar ao outro sem o medo constante da exclusão ou do controle excessivo? Talvez a pergunta que mais cabe seria: como podemos, de forma mais saudável, lidar com a complexidade da nossa sexualidade, criando espaços em que o desejo seja livre de desagregações e em que o sujeito possa se encontrar, se relacionar com o outro de forma mais verdadeira. "O intrincamento da nossa sexualidade pede por relações que transcendam o controle e a superficialidade." – Dan Mena. Exibir-se para Pertencer. O pertencimento, além de oferecer segurança individual, é fundamental para a elaboração de um senso de valor e significado. No entanto, quando ameaçado pode gerar sofrimento psíquico, levando o indivíduo a desenvolver comportamentos compensatórios, como o caso do exibicionismo. A importância de equilibrar essa necessidade de remeter-se, passa por uma construção interna sólida, que permite ao sujeito se sustentar emocionalmente. Esse desejo de integração a um grupo e se sentir acolhido(a) e aceito(a), encontra suas bases no inconsciente, sendo essencial para a edificação da identidade, da autoestima e do equilíbrio emotivo. Desde os exórdios da vida psíquica, buscamos o outro como espelho, confirmando a própria existência por meio das interações, experiências e ratificações. Na psicanálise, a vinculação está ligada às primeiras relações objetais, esse laço inicial com a figura materna ou cuidadora constitui o protótipo de todas as relações futuras. Como união primordial fornece à criança a sensação de resguardo e amparo, elementos que se traduzem no adulto como a necessidade de se inserir em contextos sociais que reafirmam sua identidade. Quando essa base é danificada, o indivíduo pode recorrer a ditos comportamentos como tentativa de suprir essa carência emocional. Afinal, exibir-se é, em muitos casos, um pedido de aceitação. "Quando nos sentimos rejeitados, a exposição se torna uma tentativa de reconquistar nossa importância." – Dan Mena. O exibicionismo, possui uma manifestação ambígua e paradoxal: ao mesmo tempo que se deseja o destaque, ele busca pertencer. Como compreender, então, os limiares entre o pertencimento e a compulsão de ser notado(a)? Quais feridas emocionais estão ocultas por trás da necessidade de ser notado(a) e aceito(a)? Esse anseio não é unicamente consciente. No patamar inconsciente, esse impulso está associado ao medo da exclusão, ser parte de algo maior nos confere um sentido de continuidade, proteção e propósito. Já no contexto das relações interpessoais transcende a mera inclusão grupal e social; senão o de significado, a um nível mais fundo. Grupos familiares, círculos de amizade e até mesmo comunidades profissionais se tornam cânones de nossos anseios e conflitos internos. Quando o pertencimento é genuíno, ele não apenas nos sustenta, mas também fortalece a identidade e resiliência psíquica. "O impulso de pertencimento vem das primeiras relações afetivas, que se refletem claramente no comportamento adulto." – Dan Mena. É nesse âmbito que a psicanálise encontra sua valia, ajudando o indivíduo a diferenciar entre a necessidade autêntica de conexão e os desejos inconscientes que podem distorcer sua percepção de pertinência. Por que alguns grupos proporcionam acolhimento e outros suscitam ansiedade? Como as experiências de infância moldam essa assimilação na vida adulta? Assim, podemos compreender que esses fatores conferem ao sujeito uma estrutura simbólica que organiza sua intelecção de si e do mundo ao seu redor. Diante do prenúncio de um perigo ou ameaça, surgem sintomas que irão além do exibicionismo, incluindo a ansiedade, depressão e sentimentos de desconexão. Sobreexceder essa caçada pela aceitação imediata, nos remete a um processo complicado identitário, onde o desafio é harmonizar o desejo de integração com a preservação da singularidade. "Exibir-se para pertencer é uma estratégia de defesa contra o medo da solidão e do abandono." – Dan Mena. Do Prazer à Liberdade. Como psicanalista, vejo essa rede de significados que o exibicionismo traz, aflorando em meio às suas implicações sociais e culturais. Não como um comportamento meramente impulsivo ou transgressor, senão como uma manifestação heterogênea da psique, onde desejos, prazeres e vergonhas se cruzam em uma constante exposição e ocultamento. "A vergonha não apenas reprime, mas também convoca e provoca a reconfigurar nossa identidade." – Dan Mena. Ao longo de minha prática, noto que a busca por aprovação reflete antes que nada uma necessidade de construir e se afirmar frente às instabilidades e inseguranças que varam no dia a dia. Nesse cenário, o corpo se torna não apenas um veículo de prazer transitivo, mas uma extensão de lides internas, onde lutamos para negociar esse lugar necessário no mundo. A vergonha, por outro lado, paradoxal e simultaneamente reprime e intensifica o desejo de se expor. A internalização das normas e a constante vigilância do fitar alheio contribuem para o erguer de uma vergonha que, embora dolorosa, pode ser uma oportunidade de crescimento e maturidade. Quando meus pacientes enfrentam ela, reconhecem sua indefensabilidade, e podem reconfigurar suas noções de desejo, se libertando das amarras de uma moralidade repressiva. "A exposição do corpo se torna, então, uma busca incessante pela liberdade interior." – Dan Mena. Conclusivamente percebo, que o cabotinismo é uma tentativa de lidar com a angústia de não ser visto ou valorizado, uma precisão vital para o desenvolvimento saudável do self. Sabemos o quanto o mundo marginaliza, por esta razão, ele pode ser uma ferramenta da qual damos mão na maneira inconsciente, como forma de preencher o vácuo existencial e afirmar a própria existência. No entanto, reconhecer que a vergonha, embora vista como uma emoção negativa, pode ser transformada em um ponto de virada no processo de autocompreensão. Ao invés de ser como um fardo, incentivo meus clientes a vê-la como uma oportunidade para uma introspecção e para a superação de medos. Longe de ser uma expressão puramente egoísta ou destrutiva, como um mecanismo de resistência e afirmação da subjetividade. Em um mundo onde as relações se fragmentam e a busca por uma identidade coerente é cada vez mais desafiadora, a exposição do desejo e do corpo podem ser uma forma de recuperar a sensação de ser ouvido. A visibilidade pode ser um ato de resistência que desafia as normas opressivas e afirma a própria individualidade. "O verdadeiro significado da exposição do desejo e do corpo está na capacidade de sermos vistos sem medo do julgamento." – Dan Mena. Compreendo não somente sua dimensão patológica, mas enxergo sua faceta libertadora. Ao olhar para a vergonha não como um obstáculo, mas como uma chance de reinvenção, na qual podemos redefinir nossas relações com o corpo e o prazer, criando um espaço mais livre para sua expressão. Por fim, é na capacidade de lidar com todo esse conteúdo e aceitar o desejo sem medo da exposição que reside a verdadeira independência. A verdade também é subjetiva ao pensar quem somos, em todo nosso hermetismo, e sem as limitações impostas como sociedade. E, talvez, seja aí que o exibicionismo, longe de ser um ato de transgressão, se torne uma verdadeira forma de arbítrio. Uma maneira de reconquistar o prazer original, de ser vistos e desejados, e nos permitirmos ser minimamente autênticos, assim, finalmente encontrar a pacificação que tanto ansiamos. "A exibição do desejo, em sua forma mais pura, é uma busca por inovações, não pela simples aprovação externa." – Dan Mena. Palavras-chaves: #exibicionismo, #desejo, #prazer, #vergonha, #psicanálise, #narcisismo, #exposição, #erotismo, #comportamento, #autoimagem, #sexualidade, #identidade, #fantasia, #autoconsciência, #vulnerabilidade, #intimidade, #teoria_psicanalítica, #dinâmica_de_poder, #autoestima, #teoria_do_ego. Fontes Utilizadas e Autores: Exibicionismo: Psicanálise do Desejo e da Exposição - Donald W. Winnicott A Técnica Psicanalítica e os Fundamentos da Psicanálise - Melanie Klein Psicologia das Massas e Análise do Eu - Sigmund Freud O Estudo do Desejo: Exibicionismo e Narcisismo - Joan Riviere O Corpo e o Desejo - Jessica Benjamin A Psicologia do Eu - Heinz Kohut O Ego e os Mecanismos de Defesa - Anna Freud O Fetichismo - Sigmund Freud O Masoquismo e a Libido - Wilhelm Reich Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Todo o conteúdo deste site, incluindo textos, imagens, vídeos e outros materiais, é protegido pelas leis brasileiras de direitos autorais (Lei nº 9.610/1998) e por tratados internacionais. A reprodução total ou parcial, distribuição ou adaptação dos materiais aqui publicados é permitida somente mediante o cumprimento das seguintes condições: I - Citação obrigatória do autor: Daniel Mena ou Dan Mena II - Indicação clara da fonte original: www.danmena.com.br III - Preservação da integridade do conteúdo: sem distorções ou alterações que comprometam seu significado; a - Proibição de uso: O material não poderá ser utilizado para fins ilegais ou que prejudiquem a imagem do autor. b - Importante: O uso não autorizado ou que desrespeite estas condições será considerado uma violação aos direitos autorais, sujeitando-se às penalidades previstas na lei, incluindo responsabilização por danos materiais e morais. c - Contato e Responsabilidade Ao navegar neste site, você concorda em respeitar estas condições e a utilizar o conteúdo de forma ética. Para solicitações, dúvidas ou autorizações específicas: Contato: danmenamarketing@gmail.com +5581996392402
- Culpa e Perdão: A Jornada da Cura Emocional.
"Reparação e Reconciliação: Perspectiva Psicanalítica" Culpa e Perdão: A Jornada da Cura Emocional. Você já se perguntou por que a culpa parece ser um sentimento tão persistente e, muitas vezes, paralisante? Por que, mesmo quando desejamos perdoar do fundo do coração – tanto a si quanto aos outros –, encontramos barreiras, montanhas internas que parecem intransponíveis? Esses são dois lados de uma mesma moeda emocional, seguramente moldadas pela singular história pessoal e pelas dinâmicas inconscientes que governam nossa mente. No entanto, elas não são apenas questões privadas, mas sim, relevâncias universais que atravessam cada um, todas as culturas, épocas e contextos. "Perdoar é se libertar da prisão emocional construída pelas mãos do ressentimento e da dor." – Dan Mena. Vamos imaginar a seguinte situação: você está navegando pelas redes sociais e se depara com uma lembrança de um erro passado, algo que você preferiria ou gostaria de esquecer. Esse momento de exposição pública de uma falha pessoal pode desencadear uma espiral de remorso e autocrítica. Em um mundo onde a privacidade está se tornando cada vez mais escassa, lidar com tais emoções como a contrição se tornou um desafio quase diário para a maioria. Além disso, o ato de remir é assiduamente romantizado como algo simples, mas, na verdade, é um processo que exige muita pacificação, articulação e ponderação, um tripé sensível ao ser contemporâneo, lugar de difícil acesso quando se trata de relevar. Vivemos uma era em que as redes amplificam nossos equívocos e, simultaneamente, banalizam o ato de poupar o ‘’outro’’. A psicanálise – desde Freud até os pensadores atuais – nos mostram que essas expressões emotivas são mais intrincadas do que aparentam. Elas não residem apenas na superfície da nossa consciência, mas afloram das camadas sondas do inconsciente, carregando seus significados icônicos, simbólicos e arquetípicos. "A culpa não é um peso, mas uma bússola que aponta para os aspectos de nós mesmos que clamam por transformação." – Dan Mena. "A culpa não é um peso, mas uma bússola que aponta para os aspectos de nós mesmos que clamam por transformação." – Dan Mena. A culpa está enraizada na dinâmica do superego , uma das três estruturas psíquicas do modelo estrutural da mente, juntamente com o id e o ego . Desempenha o rol da instância moral e ética, representando as normas, valores e ideais internalizados a partir da convivência com figuras de autoridade, como os pais, cuidadores e com a sociedade como um todo, que internalizam essas regras impostas pela civilização, assim, elas julgam e regulam nossos comportamentos. Surgem portanto do conflito entre o id, que busca satisfação imediata dos desejos, e o superego, que impõe essas restrições e limitações aos princípios elaborados. Esse repto interno pode gerar angústia e desconforto psíquico, que muitas vezes é difícil de compreender e superar. Indivíduos que experimentam altos níveis de culpa são mais propensos a desenvolver transtornos mentais e emocionais. Essa carga adicional pode se manifestar em comportamentos autodestrutivos e dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Mas como podemos usar essas ferramentas para nosso benefício? Como conseguimos aliviar esse embaraço da culpa e alcançar o perdão genuíno? Vamos logo fazer a primeira parada no trem da vida e indagar: "Por que a culpa parece insuperável, invencível e irremovível?" ou "O que é necessário para perdoar de verdade?" Vou estimular sua reflexão, desmistificar conceitos e oferecer caminhos para a uma melhor assimilação do tema. "O transtorno da culpa é aliviado quando compreendemos que nossos erros não definem quem somos, mas como podemos evoluir com eles." – Dan Mena. Em sua essência, pode ser vista como um mecanismo de sobrevivência psíquica, formatado pelas interações com figuras parentais e pela internalização das normas culturais que absorvemos durante a existencia terrena. No entanto, quando não resolvida, ela pode se transformar em um fantasma obstinado, que bloqueia o crescimento emocional. Buscar a reconciliação interna não é apenas um ato de autocura, mas também um movimento de libertação das amarras do passado. Por essa razão Nietzsche afirmou com a seguinte perspectiva: "O perdão é a vingança dos fracos". É realmente um ato de fraqueza ou uma expressão de força? Qual seria sua opinião a respeito? "A culpa mal compreendida se transforma em corrosão emocional; quando acolhida, um alicerce para a maturidade." – Dan Mena. A experiência com a culpa e o perdão também é influenciada pelo contexto social. Em uma comunidade global que valoriza a perfeição e a meritocracia, pode ser exacerbada por expectativas irreais e pela constante comparação que fazemos com outros. Byung-Chul Han, em sua obra "A Sociedade do Cansaço" , (sempre aprecio suas reflexões), argumenta que vivemos em um tempo onde a autocobrança e a busca incessante pelo sucesso geram sentimentos de inadequação, logo a culpabilidade. Nesse quadro, ela emerge como um ato de resistência, uma escolha consciente de abandonar a rigidez do superego e abraçar a compaixão. A prática da autocompaixão é uma das estratégias mais eficazes para lidarmos com ela. Tratar a si mesmo com a mesma gentileza que oferecemos a um amigo pode romper esse ciclo vicioso de autocrítica e promover a tão libertadora cura emocional. Portanto, um caminho viável seria reconhecer que esse itinerário da culpa ao perdão é absolutamente pessoal e único para cada indivíduo. Seguindo aqui o que sabiamente Jung expressou: “O que negamos nos subjuga; o que aceitamos nos transforma.” – Jung. "Ao perdoar, não renunciamos à justiça, mas levamos tudo para o espaço restaurativo, onde a reconciliação é a mais nobre das vinganças." – Dan Mena. Assim caros leitores, espero que este artigo seja o começo de uma incrível releitura pessoal, na qual eu também me incluo, um excelente convite para refletir, questionar e, acima de tudo, encontrar esse percurso de redenção. Boa leitura. "A culpa nos aprisiona ao passado, mas o perdão abre suas portas para elaborar um presente de libertação." – Dan Mena. A Natureza da Culpa. Qual é a verdadeira natureza da culpa? Será que é apenas um sentimento de remorso pelas ações cometidas ou há algo mais entranhado nela? Melanie Klein, em seus estudos sobre posições esquizo-paranóides e depressivas, sugere que pode estar associada a fantasias inconscientes de destruição e reparação. Essa visão nos ajuda a entender por que pode ser tão persistente e difícil de lidar. Lacan, por sua vez, nos oferece uma perspectiva diferenciada. Para ele, está ligada ao conceito de "Grande Outro" – a instância simbólica que regula e julga nossas ações. Nesse sentido, é algo que não apenas sentimos, mas que também nos é imposto pelo contexto em que estamos inseridos. "Não carregamos a culpa apenas pelo que fizemos, mas pelo que o 'Grande Outro' espera de nós, moldando nosso ser no tribunal invisível do simbólico." – Dan Mena. A Natureza Interdisciplinar. Para compreender completamente ambos os termos, é muito adequado adotar uma abordagem interdisciplinar, incorporando a psicologia, sociologia, teologia e filosofia. Essa perspectiva maior permite que consideremos suas múltiplas dimensões. "A interdisciplinaridade nos ensina que a culpa e o perdão são entrelaçados, entre ética, religião e sociologia, elas moldam nossa existência." – Dan Mena. Por exemplo, a teóloga Miroslav Volf, em seu livro "Exclusion and Embrace" , discute o perdão como um ato de reconciliação que vai além da justiça, promovendo uma nova forma de coexistência pacífica. Volf expõe, não se resume à renúncia de um ato de vingança, mas envolve a criação de um espaço para a renovação das relações, onde a justiça restaurativa substitui a retributiva. "Ao perdoar, não renunciamos à justiça, mas levamos tudo para o espaço restaurativo, onde a reconciliação é a mais nobre das vinganças." – Dan Mena. Da mesma forma, Emmanuel Levinas vê o tema através da lente da ética da alteridade, onde o perdão é uma responsabilidade inalienável em relação ao outro. Para ele, a relação ética é a base da nossa humanidade, e a culpa emerge como um reconhecimento da intrínseca falibilidade e da obrigação para com o próximo. O perdão, nesse sentido, é um ato de transcendência que libera as amarras do decorrido e nos permite uma renovação. Na sociologia é vista como um mecanismo de controle social. Sociólogos como Émile Durkheim e Norbert Elias pesquisaram amplamente como a culpa funciona para manter a coesão social, internalizando essas normas e valores que regulam a conduta. Nesse âmbito, pode ser entendido como uma ferramenta de reintegração social, que permite a restauração das relações rompidas e a reconstrução do tecido social. "Durkheim nos lembra que a culpa não é apenas uma emoção pessoal, mas um mecanismo que reflete a necessidade de pertencimento em sociedades regidas por normas compartilhadas." – Dan Mena. A psicologia, por sua vez, nos fornece uma compreensão detalhada dos processos internos que geram a culpa e facilitam o perdão. Teorias como a da ''dissonância cognitiva'' de Leon Festinger explicam como o desconforto entre crenças e ações pode levar a esses sentimentos, e como a resolução de tal discordancia pode ser alcançada através de mecanismos de autojustificação ou da mudança comportamental. Destarte, as abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia Focada na Compaixão (TFC), oferecem estratégias práticas e eficientes. A psicanálise se beneficia enormemente dessa multiplicidade interdisciplinar, pois permite uma compreensão mais holística e integrada dos fenômenos psíquicos. A colaboração entre diferentes áreas do conhecimento enriquece a teoria e a prática da nossa clínica, sob novas perspectivas e métodos de intervenção. Ao integrar esses quadros, podemos abordar o tema de maneira mais abrangente, considerando não apenas os processos internos do indivíduo, mas também outros contextos subjacentes. "Perdoar não é esquecer, mas registrar com sabedoria, libertar o outro e a si mesmo da clausura da reprodução simbólica." – Dan Mena. A Dimensão Cultural. Diferentes culturas têm normas, valores e expectativas distintos que moldam a forma como os indivíduos percebem e lidam com esses sentimentos. A Culpa na Cultura Ocidental. Na cultura ocidental é internalizada como uma experiência pessoal e subjetiva. As normas religiosas e morais desempenham um elemento chave na formação do superego, que, por sua vez, regula essas vivências com a matéria. A tradição judaico-cristã, enfatiza a culpa como um reconhecimento do pecado e a necessidade de expiação. Esta concepção é sobremaneira enraizada na psique ocidental, que influencia tanto a prática religiosa quanto a ética secular. Autores como Freud e Erikson discutiram como a interiorização dessas normas podem levar a embates. Freud, em particular, associou a culpa ao desenvolvimento do superego. Erik Erikson, ampliou o tema freudiano ao considerar a importância das etapas do desenvolvimento psicossocial. Assim, assinala que ele surge especialmente durante a fase da "iniciativa vs. culpa" , que ocorre entre os três e os seis anos de idade. Nessa fase, a criança começa a desenvolver um senso de iniciativa, mas pode também sentir culpa ao perceber que certas ações ou impulsos são inaceitáveis para os padrões dos adultos. Essa lide entre a busca por autonomia e a necessidade de conformidade contribui para a formação da identidade e pode gerar persistente direcionamento. "A justiça restaurativa, ao substituir a retributiva, nos mostra que as verdadeiras reparações não são punitivas, mas relacionais, aquelas que promovem a paz." – Dan Mena. A Culpa na Cultura Oriental. Nas culturas orientais, a culpa é vista de uma maneira mais coletiva. As sociedades deste continente, como as japonesas e coreanas, valorizam a harmonia social e a interdependência dos indivíduos dentro da comunidade. Nesses âmbitos, tratar dela não é apenas uma questão de responsabilidade pessoal, mas também de manter o equilíbrio e a honra do grupo. A vergonha e a perda de face são componentes importantes na experiência deles. O sociólogo Erving Goffman aborda isso em seu estudo sobre a apresentação do self na vida cotidiana. Ele argumenta que, em sociedades orientais, a culpa e a vergonha estão intrinsecamente ligadas às normas sociais e à necessidade de preservar a imagem pública. Isso implica que também é uma experiência coletiva, envolvendo a restauração da honra e da harmonia no grupo. "A justiça restaurativa, ao substituir a retributiva, nos mostra que as verdadeiras reparações não são punitivas, mas relacionais, aquelas que promovem a paz." – Dan Mena. O Perdão nas Diferentes Culturas. Também varia amplamente entre culturas. No Ocidente, é visto como uma ação individual, uma escolha pessoal de liberar a raiva e a dor. Já nas culturas orientais, pode ser um processo comunitário, onde a reconciliação e a restauração das relações sociais são premissas fundamentais. "Perdoar, na perspectiva filosófica, é considerar no outro uma alteridade inalienável, um chamado que transcende os limites do ‘’eu’’." – Dan Mena. Perdão Segundo Miroslav Volf. Li "Exclusion and Embrace" deste autor, nas páginas deste livro fascinante, fui muito tocado pelas suas reflexões. Ele nos guia admiravelmente através de um terreno emocional e intelectual hermético, dando uma compreensão sobre o perdão como ferramenta que pode transformar tanto indivíduos quanto sociedades. "O perdão não é um ato passivo, senão uma revolução interna que desarma a exclusão e reconstrói caminhos para a dignidade compartilhada." – Dan Mena. Ele começa descrevendo a alienação como uma das maiores instigações que enfrentamos nas relações interpessoais. Ao tratar o outro como um indesejável, desumanizado, nós o excluímos de nossa esfera de compaixão e justiça. Esse popular ''cancelamento'' é uma conduta que não se limita apenas às interações, mas que se estende a estruturas sociais, políticas e culturais. Tal prisma me fez considerar sobre as formas sutis e não tão tênues de segregação que ocorrem ao nosso redor e percorrem dentro de nós mesmos. No centro da sua obra está a ideia de que o perdão é determinante para superar essa subtração social e promover a inserção. Ele nos desafia a enxergar o tema como algo muito mais alto do que simplesmente renunciar ao ressentimento. Entendi aqui, que perdoar é um movimento ativo em direção à reconciliação, não é apenas esquecer ou minimizar a ofensa, a traição, ou tudo aquilo que possa ser considerado como tal, mas sim aceitar plena e autenticamente o ofensor como um ser digno de compaixão e respeito. "Seguir o caminho da escusa é resistir à lógica do cancelamento, optando por uma ética de acolhimento." – Dan Mena. A aproximação teológica de Volf fundamenta essa prática na doutrina cristã, destacando que, assim como Deus perdoa incondicionalmente, nós também somos chamados a perdoar uns aos outros. Esse entendimento como uma imitação do amor divino, oferece uma nova chance sem exigir nada em troca. Certamente, ele foi amplamente inspirado pelo filósofo francês Emmanuel Levinas, pois aborda o assunto através da ética da diversidade. Portanto, vejo nisso uma espécie de responsabilidade que temos em relação ao outro, uma resposta ao chamado ético. É também um estímulo provocativo que afronta a tentação de desumanizar aqueles que nos feriram e os que ferimos, e nos convida a reconhecer o semelhante de forma fraterna. "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas." (Mateus 6:14-15). Ele não deve de forma alguma perpetuar a injustiça ou isentar os opressores de seus deveres. Em vez disso, devemos criar uma dimensão de justiça restaurativa, onde se abra o caminho para a reparação, restituição e a renovação das relações quebradas. Este é um conceito que ressoou intimamente em mim, pois lida diretamente com a possibilidade de reconciliação em um mundo imperfeito. "Ele não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui conforme as nossas iniquidades. Pois como os céus se elevam acima da terra, assim é grande o seu amor para com os que o temem; e como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões." (Salmos 103:10-12). Volf usa a imagem do abraço como uma metáfora poderosa para a inclusão radical do outro. Esse acolhimento requer que abramos nossos braços e coração, simbolizando a disposição de receber o outro integralmente, apesar das suas transgressões. Esse gesto não é apenas metafórico, mas prático, exige sim um compromisso ativo com a construção de uma comunidade baseada na consideração do semelhante. "A alegoria do abraço, tão poderosa em Volf, nos ensina que o perdão não exige conivência com o erro, mas presume coragem para acolher o ‘’outro’’, como um gesto de empatia." – Dan Mena. O perdão liberta o ofendido do encapsulamento emocional do ressentimento e da amargura, permitindo uma vida mais autêntica. No nível social, tem o potencial de romper ciclos de violência e retaliação, promover a paz e a justiça a longo prazo. Logo, praticado de forma genuína, pode ser uma força poderosa para a mudança positiva. Destarte ele seja um defensor firme do perdão, também reconhece seus quadrantes limitadores. Pode ser extremamente difícil sua aplicação, especialmente em casos de ilegalidades graves e traumas hediondos. No entanto, devemos insistir, que o perdão, embora exigente, é primordial para a cura em qualquer norte. "O perdão é a semente que, ao germinar, quebra as correntes do passado e liberta a alma. Sua verdadeira força reside na capacidade de restaurar o que foi perdido, sem jamais ignorar a justiça." – Dan Mena. O Impacto da Culpa e do Perdão. Tenho refletido bastante sobre o impacto da culpa, aprendi que ela não é simplesmente algo a ser superado, mas sim uma força psíquica, uma singularidade cravada na história pessoal das nossas interações e relações com o “outro’’ , logo, isso inclui um espectro muito personalizado. Quando me deparo com questões que envolvem o tema, percebo o quanto isso realmente atua em nossas vidas de maneira intensa e, muitas vezes, inconsciente. Quando não integrada ou resolvida, pode ser um arcabouço, que pode nos manter aprisionados a um passado que não conseguimos deixar ir. E, ao mesmo tempo, sinto que temos a chave para abrir a porta. Mas, ao contrário do que muitos acreditam, o perdão não é algo que simplesmente oferecemos ao outro. A reconciliação é sempre um processo que exige antes que nada, tempo, depois sim, trabalho, reflexão e renovação com nossas experiências mais dolorosas. "Perdão não é uma dádiva que oferecemos ao outro; é um processo interno que nos exige confrontar nossas próprias sombras, aceitar a dor e buscar a cura, para então estender um gesto de reconciliação legítima." – Dan Mena. Como analista fui além, entendendo que não é uma simples denúncia de atos, mas uma manifestação de desacordos internos. Como mencionei anteriormente, o superego, com sua necessidade de controle, cria uma vigilância constante sobre nossas ações e pensamentos. Cada erro, cada falha, é apontada em nosso nariz, criando uma oportunidade para a culpa se manifestar. Em algumas pessoas, essa sensação vira autocensura e autojulgamento. Mas, ao mesmo tempo, esse mesmo superego que aponta, é necessário para a formação da moralidade. O problema surge quando ele se torna excessivo, e se sobrepõe ao ego gerando aflição. A culpa, nesse caso, não está relacionada a um erro ou falha real cometidos, mas sim a uma percepção distorcida do que é “certo” ou “errado” , geralmente exagerados. "A culpa, em sua forma mais destrutiva, nasce da sobrecarga de um superego que não admite falhas e, ao se sobrepor ao ego, se perde na ilusão de perfeição." – Dan Mena. O perdão em relação ao outro segue mais ou menos uma dinâmica muito semelhante. Quando alguém nos machuca, a culpa não procede apenas do ato cometido, mas da nossa incapacidade de lidar com o desgosto causado. Perdão, nesse contexto, não seria assim uma simples concessão, mas uma escolha de se livrar da mágoa, de deixar de carregar aquele peso do rancor e o ódio. Para ser genuíno, exige uma conversão, ele não anula o erro do outro, mas permite que a relação se renove, que o vínculo seja arranjado de uma maneira saudável, então, a vida segue. Esse remendo, por assim dizer, não é fácil de aplicar, pois muitas vezes nos sentimos extremamente golpeados (as) e a mágoa toma conta. No entanto, ao admitir perdoar, estamos permitindo que o laço se restabeleça, seja qual for, e evolua positivamente. "Culpa real e fictícia se confundem no campo da psique, mas apenas a compreensão de ambas podem nos permitir distinguir o que realmente precisa de reparo e o que pertence à nossa própria projeção fantasiosa." – Dan Mena. É importante salientar também a diferença entre culpa real e fictícia. A culpa real está relacionada a ações ou omissões que, de fato, causaram dano a nós ou aos outros. Já a culpa ficcional impõe uma sensação, essa que surge sem uma base concreta, habitualmente originada de expectativas e pressupostos projetados ou de um superego demasiado crítico. "Perdoar não é esquecer, mas uma decisão de não permitir que o rancor dite a direção de nossas vidas; é um ato corajoso de buscar a evolução do vínculo, mesmo diante da dor." – Dan Mena. Ambos, culpa e perdão, são partes naturais e primitivas do homo sapiens. A culpa, quando entendida e integrada, pode se tornar uma mentora para o crescimento pessoal, enquanto o perdão, quando legítimo, oferece emancipação. "Sede bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo." (Efésios 4:32). "O perdão é a semente que, ao germinar, quebra as correntes do passado e liberta a alma. Sua verdadeira força reside na capacidade de restaurar o que foi perdido, sem jamais ignorar a justiça." – Dan Mena. O Poder do Perdão na Perspectiva Divina. O perdão não apaga a dor, mas a ressignifica; não elimina o passado, mas o reintegra à história pessoal de forma que ela possa ser vivida sem a destruir. E assim, o ciclo de culpa e perdão se tornam não apenas uma trilha individual, mas uma força coletiva. Ele existe como um lembrete de que somos todos, em última análise, interligados por nossas vulnerabilidades, fragilidades e imperfeições compartilhadas, e também, da nossa capacidade infinita de amar e recomeçar às fases. Este assunto é um atributo central do nosso criador, conforme escrito em inúmeras passagens bíblicas. Deus é misericordioso e compassivo, sempre disposto a poupar aqueles que se arrependem de coração. Esse ângulo, nos oferece uma penetração espiritual da fé ao ato de perdoar, sugerindo que, ao perdoarmos uns aos outros, estamos imitando o caráter divino e acolhendo a graça que nos é oferecida, gratuita e incondicionalmente. "Eu mesmo sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro." (Isaías 43: 25). Palavras-chave: #CulpaEmocional, #PerdãoGenuíno, #CuraEmocional, #ReconciliaçãoInterna, #Psicanálise, #Autocompaixão, #FreudeeCulpa, #JustiçaRestaurativa, #SociedadeeCulpa, #ByungChulHan, #MelanieKlein, #IdentidadeEmocional, #SuperaçãoEmocional, #PsicologiadoPerdão, #NietzscheSobreCulpa, #ÉticadaAlteridade, #SaúdeMental, #Terapia, #CrescimentoPessoal, #curaperdão, #culpa, #danmenapsicanalise, #psicanalista, #danmena Fontes Utilizadas e Autores: Byung-Chul Han, A Sociedade do Cansaço. Miroslav Volf, Exclusão e Abraço. Sigmund Freud, O Mal-Estar na Civilização. Melanie Klein, Inveja e Gratidão. Emmanuel Levinas, Totalidade e Infinito. Erik Erikson, Infância e Sociedade. Norbert Elias, O Processo Civilizador. Émile Durkheim, As Regras do Método Sociológico. Até breve , Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Todo o conteúdo deste site, incluindo textos, imagens, vídeos e outros materiais, é protegido pelas leis brasileiras de direitos autorais (Lei nº 9.610/1998) e por tratados internacionais. 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- Procrastinação e Autossabotagem.
Profundezas do Psiquismo. “A autossabotagem é um cenário onde o inconsciente ensaia os conflitos não resolvidos entre o querer e o merecer.” – Dan Mena A procrastinação e a autossabotagem são elementos que se entrelaçam em um enigma psicológico, eles refletem os paradoxos internos que permeiam nossas decisões, ações e inações. Como é possível que desejemos ardentemente alcançar um objetivo e, ao mesmo tempo, boicotar esse querer de forma inconsciente? Por que o adiamento constante de tarefas significativas se torna para muitos de nós um padrão persistente, mesmo quando estamos plenamente conscientes das consequências negativas que isso pode acarretar? Essas questões não apenas intrigam a maioria, estudiosos de diversos campos descortinam o quanto essas evoluções impactam nossa sociedade, onde a produtividade é medida por resultados rápidos e sucesso tangível. Particularmente, pode ser vista como uma simples falta de organização ou disciplina, mas essa análise falha em capturar seu emaranhado lateral. Da mesma forma, a autossabotagem é tratada como um comportamento auto imposto e irracional, isso quando não oferecemos uma parada para uma apreciação de seus vínculos com o inconsciente e a formação do ego. É justamente neste limiar que se torna essencial decodificar tais mecanismos que nos levam a empurrar para baixo do tapete aquilo que mais queremos realizar. “A autossabotagem é um cenário onde o inconsciente ensaia os conflitos não resolvidos entre o querer e o merecer.” – Dan Mena. A sociedade em que vivemos, com sua ênfase em ganhos, coloca em nossos ombros uma pressão imensa, cobrando a eficácia a todo custo. Esse contexto global cria uma tensão particular: enquanto somos impulsionados a agir, também permanecemos paralisados por forças interiores que nos prendem em ciclos de adiamento e autodestruição. Mas será que esse comportamento é apenas fruto de nossas escolhas conscientes? Ou seria ele, uma expressão de desejos reprimidos e medos que permanecem como fantasmas ocultos no inconsciente? Se entendemos que normalmente o nosso corpo não é um obstáculo, mas sim um aliado no processo de autocompreensão, se desafia então a lógica de que predominantemente a procrastinação é puramente mental ou comportamental. Assim, ignorar os sinais do corpo é, em essência, desprezar os laços da protelação, cravados em nossos traumas e desejos subconscientes. Essas ligações entre o inconsciente e as manifestações físicas oferecem pautas transparentes sobre como a insustentabilidade da execução pode se manifestar fisicamente e impactar fortemente nosso proceder. Quando escolhemos adiar uma tarefa, o que realmente estamos postergando? Seria o medo do possível fracasso ou o fracasso em si? Refletir sobre como os processos interpessoais moldam nossas escolhas mais íntimas nos esclarece quanto ao seu deferimento, o que pode ser interpretado como uma defesa contra a ansiedade, associada à expectativa de sucesso ou à própria coação social, certamente, uma resposta ligada a certos melindres e escrúpulos que nos habitam. "A resistência ao fazer ou realizar não é um sinal de adinamia, mas uma mensagem do inconsciente para revisitar os porquês que sustentam nossos desejos." – Dan Mena. As histórias que contamos a nós mesmos sobre nosso valor e competência estruturam e elaboram nossas atividades. Quais narrativas inconscientes portanto estão moldando nossa ação? E como podemos reescrever essas resenhas para superar os padrões de adiamento e autossabotagem? Uma dica pode ser olhar para nossas lutas interiorizadas, isso pode ser muito útil para decifrar a procrastinação como uma forma de resistência ao crescimento, assim, quebrar o ciclo, achando caminhos que nos conduzam a uma prosa mais positiva e capacitadora. "O adiamento constante não é apenas uma fuga do fazer, mas um grito interior que se recusa a ser limitado a máquinas de produtividade." – Dan Mena. Devemos considerar que impulsos inconscientes nos levam à repetição compulsiva, que, à primeira vista, parecem autodestrutivos. Por que, então, insistimos em repisar os mesmos equívocos e erros? Haveria por acaso uma recompensa mental fictícia oculta em atrasar o desejado? Posto isto, é válido considerar que, às vezes, o sofrimento é uma escolha inconsciente motivada por forças que estão além da nossa percepção consciente, para tanto, seria sim um convite a olhar mais detidamente os motivos que nos levam a auto sabotar- nos. Acredito firmemente, que estes aspectos que abordo, não são meramente questões de falta de disciplina ou organização, mas reflexos de dinâmicas instituídas psiquicamente. Meu objetivo neste artigo é oferecer caminhos práticos para enfrentar essas tendências, utilizando as expressões de nosso inconsciente, lembrando, que a verdadeira transformação só pode vir através da coragem do enfrentamento. Boa leitura. "O sintoma é o corpo falando a linguagem que o ego teme traduzir, expondo aquilo que a mente deseja esconder de si mesma." – Dan Mena. "Na protelação, o Minotauro é o terror de descobrir que o nosso desejo talvez nunca seja suficiente para nos saciar." – Dan Mena. A conexão entre corpo e mente é amiúde um reflexo das nossas emoções, traumas e inconformidades, ignorar os sinais físicos é desconsiderar a riqueza de informações que a matéria que nos constitui pode nos fornecer sobre nossa saúde psíquica e emocional. Não pense que é apenas um fenômeno mental; ela está absolutamente conectada às sensações que nos atravessam, e à forma como reagimos aos estímulos emotivos. Quando nos deparamos com uma tarefa difícil, podemos reagir com tensão, agressividade, fadiga ou outros sintomas que espelham claramente nossos receios. Esses sinais, podem ser elementos identificatórios reais para entender e vencer. "Sabotamos nossos sonhos porque, no fundo, temos o peso de carregá-los nas mãos; o sucesso exige determinação para enfrentar não apenas o fracasso, mas a própria transformação." – Dan Mena. A Guerra Invisível na Análise Psicanalítica. O trabalho na psicanálise nos estimula a questionar a relação com a mente e a forma como nossa psique lida com a resistência. Em "Inibição, Sintoma e Ansiedade" Freud detalha sobre como esses fenômenos se manifestam e inquietam nossas vidas. "A resistência na análise não é a recusa da cura, mas a dança tensa entre o desejo de mudança e o apego às zonas de conforto estabelecidas." – Dan Mena. O Significado de Inibição e Sintoma. O conceito de inibição parte de como uma limitação ou bloqueio do potencial psíquico de uma pessoa ocorre, quando a energia libidinal ou os impulsos são reprimidos e desviados para outra forma ou direção. Isso resulta em uma sensação de incapacidade ou de paralisia emocional e mental, sendo um dos principais motores da procrastinação. A inibição não se limita apenas à incapacidade de agir, mas também se reflete via um desconforto interno, como se estivéssemos presos a um estado de tensão constante. Ela surge como uma defesa do ego contra a percepção de uma ameaça interna – a de que o ato de agir geraria uma angústia maior do que a própria procrastinação. Quando tentamos evitar uma dor emocional ou angústia psíquica, geralmente relacionadas a experiências passadas ou a uma colisão inconsciente não solucionada, aparece como uma forma de evitar essa ansiedade – assim, ao procrastinarmos, evitamos chocar com a causa da aflição, perpetuando logo esse decurso de adiamentos. Portanto, se observa que o sintoma, como expressão simbólica da refrega psíquica, pode ser interpretado como uma compensação, logo, um mecanismo de defesa. "O sintoma é o corpo falando a linguagem que o ego teme traduzir, expondo aquilo que a mente deseja esconder de si mesma." – Dan Mena. O Processo do Diferimento. Ele envolve muito mais do que o adiamento de tarefas ou responsabilidades; é uma estratégia de enfrentamento inconsciente, uma tentativa de evitar a ansiedade associada à necessidade de agir. Geralmente aparece muito claramente quando estamos debatendo com um conflito interior se degladiando entre desejos opostos. A ansiedade gerada pela expectativa de realizar uma atividade ou incumbencia pode ser insuportável para o ego, que então dilata o certame. Essa tardança pode se tornar recorrente, uma vez que a mente inconsciente se acostuma com o ciclo de evitar o desprazer e prefere comportamentos mais fáceis de lidar. "O ciclo da procrastinação é uma prisão forjada pelo ego, que prefere a ilusão do rompimento imediato ao esforço de eclodir com a ansiedade." – Dan Mena . O Medo do Fracasso. O receio de naufragar nas águas das nossas empreitadas, de não atender às expectativas ou de não estar à altura dos desafios propostos, são motores vigorosos para a manifestação da procrastinação. Quando nos deparamos com uma atribuição ou objetivo, podemos ser tomadas(os) pela sensação de não estarmos preparados devidamente, assim, gerando uma resposta de apavoramento e ansiedade. O adiamento da ação serve como uma engrenagem para nos proteger dessa sensação de inadequação para tal. Nesse quadro, não é apenas uma sinalização falha do gerenciamento de tempo, mas uma estratégia psíquica defensiva altamente arraigada no ser. Como procrastinadores, estamos sempre tentando evitar um duelo emocional com o medo do revés ou do julgamento alheio. Assim, a procrastinação acaba sendo uma forma de salvaguarda e proteção, mas também um instrumento de boicote, pois nos mantém amarrados e restritos a um ciclo vicioso de postergação. "O medo de falhar paralisa, mas é na vulnerabilidade da ação que descobrimos a coragem que tanto nos falta." – Dan Mena. A Luta Interna - o Boicote. Nossa psique é enlaçada à ambivalência, exemplo: dinâmica entre desejo e culpa. A frustração deliberada ocorre quando propositalmente vedamos as próprias tentativas de sucesso ou realização. Essa tendência, está associada a pugnas internas e sentimentos de desmerecimento e vergonha. Destarte, sabemos perfeitamente que esses comportamentos autossabotadores muitas vezes têm raízes em experiências passadas, especialmente aquelas que envolvem a infância, relacionamentos familiares ou situações que geram hesitação ou sensação de não ser digno de tal sucesso. Por esta razão, surge uma expressão de uma crença inconsciente de que o acerto é indesejável ou perigoso. Esse sentimento de culpa que muitos carregamos em relação à felicidade e prosperidade que desejamos alcançar. No fundo, o próprio boicote é uma maneira de garantir que não alcancemos o êxito de nossos projetos, pois, na mente inconsciente, isso representaria uma ameaça à própria identidade. "O boicote interno é uma estratégia psíquica que nos mantém protegidos do sucesso que tanto perseguimos, mas o tememos, como se isso pudesse nos roubar a essência." – Dan Mena. Autossabotagem é uma maneira que usamos como escudo para lidar com a ambiguidade primitiva, dividida entre as querenças de triunfo e o temor de sermos expostos ao fracasso. Esse conflito interno gera uma tensão constante, que se manifesta em ações que retardam o progresso ou minam a autoconfiança. Essa auto traição defensiva que praticamos, nos mantém dentro de uma zona de conforto mental, onde não precisamos encarar a possibilidade da derrota ou lidar com juízos e críticas de conquistas que podem nos deixar ansiosos(as) e inseguro(as). "Enfrentar o boicote interno é encarar o espelho do nosso passado, aprendendo a temer aquilo que na verdade deveria nos libertar." – Dan Mena. Relação Entre Ansiedade e Procrastinação. A ansiedade é um tema central na nossa teoria psicanalítica. A descrevemos como uma reação emocional a uma percepção de ameaça ou sinal de alerta. Em um nível mais aprofundado, consideramos que ela está ligada a antagonismos internos não solucionados. No caso da procrastinação, ela se torna a chave para entender o comportamento de adiamentos. A tarefa ou situação a ser enfrentada é percebida como uma ameaça à estabilidade psíquica, e o ego, na tentativa da nossa preservação ou equilíbrio, retarda a ação. A procrastinação, assim, não é apenas uma questão de não querer realizar uma tarefa, mas de não desejar enfrentar a ansiedade que a realização dela pode provocar. "A procrastinação exibe um paradoxo psíquico: ao evitarmos o desconforto, cultivamos sua perpetuação." – Dan Mena. Freud faz uma distinção importante entre a ansiedade real e a neurótica, sendo a última ligada a processos inconscientes que geram uma percepção exagerada da possível ameaça. Em muitos casos de procrastinação, a ansiedade não é proporcional ao real nível de dificuldade da ação a executar, mas sim, uma ocorrência inflada, originada por uma dissidência psíquica subjacente. Essa angústia neurótica, nos conduz a evitar a atividade, adiando indefinidamente a tomada de decisão e a resolução de problemas, resultando em um ciclo interminável de inoperância que perpetua seu poder mental. "Procrastinar é o reflexo de uma ansiedade desproporcional, onde o medo se transforma em uma intransponível muralha imaginária." – Dan Mena. A Sabotagem Pessoal como Fenômeno Psíquico. Em minha análise sob a visão clínica do tema, considero a procrastinação e a autossabotagem como manifestações amplas, que envolvem não apenas os sintomas já citados, mas também uma desmedida angústia existencial diante da responsabilidade e da exigência interna de realização. Ambas, estão conectadas ao estiramento tenso entre os impulsos inconscientes, os mecanismos de defesa do ego e a necessidade de enfrentar as tibiezas e temores. Não são apenas falhas de caráter ou questões de "administração do tempo" , mas sim, expressões de uma digladiação entre preocupações e assuntos emocionais. “A luta contra a autossabotagem é também uma batalha pela acessibilidade de nossas imperfeições e pelo encontro com nossa frágil humanidade.” – Dan Mena. Todas essas manifestações são observadas como obstáculos, mas também são pontos de acesso para compreendermos as questões dramáticas que envolvem a emoção, acrescidas das psíquicas, que em seu conjunto nos movem. Transforme a Autossabotagem em Força Pessoal. Ao me aprofundar na obra de Brianna Wiest - "A Montanha É Você" , percebo uma riqueza maravilhosa de toques essenciais para o discernimento e superação da autossabotagem. Desde o início, Wiest utiliza a montanha como uma metáfora para desafiar nossas tibiezas e meandros. "Assim como a montanha desafia o corpo, a resistência interna nos encoraja a transcender nossas inseguranças e limitações." – Dan Mena." Ditas provocações da vida, não se levantam apenas para tratarmos de superar dificuldades emblemáticas externas, mas de reconhecer que a maior batalha que iremos travar é contra nós mesmos.” – Dan Mena. A autora justifica o tema como uma forma de resistência, uma manifestação inconsciente de nossa tentativa de nos proteger da dor, do insucesso ou da vulnerabilidade. Entretanto, essa teimosia se transveste em um obstáculo para a realização pessoal. “O ciclo da autossabotagem começa onde a mudança é mais assustadora do que a própria frustração do status quo.” – Dan Mena. "A procrastinação exibe um paradoxo psíquico: ao evitarmos o desconforto, cultivamos sua perpetuação." – Dan Mena. O Ciclo da Autossabotagem. Padrões recorrentes sustentam a autossabotagem, descrevendo um ciclo comportamental muito singular e característico: Reconhecimento do desejo de mudança. Resistência interna causada por limitações. Comportamentos autossabotadores, como procrastinação, autocrítica e medo do sucesso. Frustração e reafirmação da crença de que não somos capazes. "O medo do sucesso é um paradoxo cruel: ansiamos pelo brilho, mas tememos o peso da sua sustentação." – Dan Mena. Quebrar esse circuito exige consciência e esforço deliberado. Isso me faz pensar sobre as ideias de Lacan, que ensejam que o desejo é totalmente influenciado pelo inconsciente. Para transformar a autossabotagem em autodomínio, é básico poder encarar os desejos inconscientes, geralmente disfarçados por racionalizações ou negações. "O desejo é o desejo do ‘’Outro.’’ – Lacan. Esta citação pode ser entendida no contexto de como nossos desejos estão gravados no inconsciente, formados por um elo com os ‘’outros’’ e com o que não conseguimos verbalizar ou compreender completamente. A autossabotagem, reflete uma desconexão entre os desejos inconscientes e a realidade, isso exige que enfrentemos essas forças internas, muitas vezes ocultas. Lacan esclarece, que o desejo nunca é puramente individual, mas sempre mediatizado pelas normas e pelas ausências do ‘’outro’’ , o que faz com que nossa busca por autodomínio exija uma reflexão sobre eles para caminhar em direção ao autodomínio. "Cada padrão autossabotador elaborado é um apelo inconsciente para compensar nossas crenças sobre capacidade e merecimento." – Dan Mena. Percebendo seus vínculos. As origens desses comportamentos destrutivos derivam de: Traumas passados. Medo do sucesso. Falta de autoconsciência. Nesse ângulo, a autoanálise se torna imprescindível. Compreender os motivos por trás de nossos comportamentos é determinante para avançar. Como Freud propôs, a cura começa quando trazemos à consciência o que está no inconsciente. "Nossos comportamentos mais destrutivos têm vínculos históricos em dores não resolvidas; se curar depende de uma arqueologia emocional que exige paciência ao cavar a alma." – Dan Mena. Convertendo a Autossabotagem Positivamente. Quais seriam as melhores estratégias? Aceitação Radical - Para promover mudanças, é necessário aceitar nossa condição atual. Ao considerarmos hipoteticamente a montanha como parte de nós, nos libertamos do ciclo de autocrítica. Destarte, aceitação não significa resignação, mas representa um passo adiante para a mudança. Desenvolvimento da Autoconsciência - Práticas como registro em diário, meditação e terapia são recomendadas para identificar padrões autossabotadores. Como psicanalista, sei que essas ferramentas são acessórios de valor para acessar o inconsciente e trazer à tona os fatores que nos limitam. Ação Consciente e Intencional - Rasgar a autossabotagem requer um compromisso ativo com a conversão. Se faz necessário renovar o ajuste com as rotinas e hábitos que alinhem nossos comportamentos com nossos objetivos. Pequenas ações diárias podem levar ao êxito de grandes reformas. “Aceitar a si mesmo não é capitular diante das falhas, mas reconhecer que a renovação psíquica e emocional começa quando paramos de lutar contra quem somos verdadeiramente.” – Dan Mena. O Rol do Autodomínio. Quando pensamos no conceito de autodomínio, é relevante se afastar da ideia de controle rígido sobre nós, se equilibrar é um estado de estabilidade em que conseguimos agir em sintonia com nossos valores, isso deve estar isolado das adversidades. Se governar neste sentido não significa eliminar o medo, mas aprender a coexistir com ele. O que me lembra Winnicott sobre a importância de tolerar a frustração e a ambivalência como parte do desenvolvimento saudável. "Tolerar a nossa primitiva ambivalência é uma prova de maturidade emocional, um elo elementar para a soberania da legítima governança." – Dan Mena. Muitas Oportunidades. Dentro do prisma de Wiest, a montanha não é um inimigo, mas um professor. Cada desafio que enfrentamos é uma oportunidade de auto descoberta e progresso. Concordo amplamente com essa visão. Na psicanálise, entendemos que o sofrimento, embora doloroso, é também uma janela para a reconstrução. Quando defrontamos nossos gigantes internos, não apenas derrotamos entraves, mas nos tornamos versões mais autênticas e resilientes de nós mesmos. Uma tarefa que exige coragem, autoconsciência e ação. É um percurso escabroso, mas recompensador. Afinal, como ela bem nos lembra: "A montanha não está no caminho. A montanha é o caminho." – Brianna Wiest. "Enfrentar nossos gigantes internos não é sobre como os podemos vencer, mas sim aprender com eles para moldar os danos legados." – Dan Mena. Sabedoria e Consciência. Prudência e reflexão são princípios capazes de desconstruir os condicionamentos que nos aprisionam. Esses compromissos não são apenas boas práticas comportamentais, mas orientações para um estado de presença e consciência. "Assim como a montanha desafia o corpo, a resistência interna nos encoraja a transcender nossas inseguranças e limitações." – Dan Mena. Como podem ser aplicados para promover uma transformação pessoal genuína? "A verdadeira consciência não apenas observa, mas questiona, desconstrói e refaz o tecido psíquico de nossas opiniões e atitudes." – Dan Mena. Conclusões Precipitadas. Assumir algo sem compreender o todo de forma completa cria muitos mal-entendidos que geram embates e sofrimentos por vezes desnecessários. É natural que busquemos previsibilidade, apresentemos hipóteses. Porém, quando elas são tratadas como verdades absolutas estamos perdendo a oportunidade de enxergar a possível realidade. O nosso inconsciente adora preencher lacunas com narrativas distorcidas. Essas histórias geralmente projetam medos ou desejos reprimidos, criando uma realidade ilusória ou inverdades. O ato de não fazer desfechos impulsivos nos força a pausar, questionar e buscar clareza antes de agir ou reagir. Essa prática não só evita guerras psicológicas, mas também promove conexões genuínas e transparentes. "A pausa entre o estímulo e a resposta é onde reside o poder de transformar conflitos em compreensão." – Dan Mena. O Melhor de Si. Dar o nosso melhor não denota exatamente perseguir a perfeição, mas sim, atuar com presença, esforço e intenção sincera, independentemente das situações. O “melhor” varia de ‘’momento para momento’’; em um dia cheio de energia, o nosso supremo ‘’realizar’’ será diferente de um em que estamos cansados, fragilizados ou doentes. Isso nos instrui a aceitar nossas limitações. A autocompaixão é um componente deste acordo, pois nos permite respeitar nossos processos sem julgar ou exigir excelência e maestria. Ao dar asas ao nosso potencial, também nos libertamos do arrependimento, culpa e autocrítica. Não há espaço para remorsos quando sabemos que trabalhamos com integridade e dedicação. "Aceitar nossas insuficiências é um ato de bravura, pois nos ensina que o 'melhor' não é estático, mas sim tão mutável quanto a vida." – Dan Mena. Seja Bom(a) com Suas Palavras. A palavra é uma das forças mais poderosas do ser. Ela detém a autoridade suprema de criar e destruir, de inspirar ou aprisionar. Ser impecável com a linguagem significa saber usá-la com integridade, sempre em conformidade com o máximo de sinceridade possível e incluir a fraternidade e o amor. Esta práxis, vai além da ética comunicativa; se trata de um valor espiritual. Quando verbalizamos algo, estamos materializando nossos pensamentos e intenções. Muitas vezes falamos sem plena consciência, replicando padrões herdados de julgamentos, pensamentos ou medos. O primor com o uso da palavra exige que enfrentemos esses condicionamentos, adotando uma postura de vigilância e autoconsciência, ela é uma ferramenta forte para a transformação pessoal. "Adotar uma postura cuidadosa com nossas palavras é honrar o impacto que elas têm na criação de nossa identidade e das relações que alargamos." – Dan Mena. Nada para o Lado Pessoal. Falemos então de desapego emocional. O ego tende a buscar validação externa e, com isso, nos tornamos reféns de terceiros, logo vulneráveis ao arbítrio de outros. Ao transcender essa tendência, reconhecendo que a percepção do outro é também limitada por suas próprias experiências, dores e condicionamentos. Ao internalizar essa convenção, criamos um espaço, lugar da autonomia emocional. Isso não significa ignorar as críticas ou deixar de lado conexões interpessoais, mas sim compreender que nossa paz não deve depender de autenticações, chancelas ou da opinião alheia. Esse entendimento nos liberta das expectativas projetadas pelo meio, e nos permite viver de maneira mais integral. “Ao internalizar a compreensão de que a opinião do outro é limitada, criamos espaço para nossa própria verdade e pacificação.” – Dan Mena. Cultive a Autoconsciência. Laborar essa representação envolve o desenvolvimento de uma compreensão cavada de nossos pensamentos, sentimentos, afetos, condutas e comportamentos. Ela nos permitem identificar padrões de comportamento autossabotadores e tomar medidas para sua reconstrução. Ao semear uma consciência reflexiva podemos tomar decisões mais informadas e alinhadas com nossos valores e objetivos. "A autoconsciência não é apenas perceber o que fazemos, mas entender o 'porquê' por trás das nossas condutas, sentimentos e equívocos." – Dan Mena. Visão Integrada. Crenças e normas sociais nos condicionaram desde a infância. Esses agrupamentos não são apenas regras, mas práticas para alcançar a liberdade emocional e espiritual. Liberdade é a capacidade de criar uma realidade compatível com nossos conceitos mais autênticos, desconstruindo as ilusões fantasiosas impostas pelo mundo. Essa moção é revolucionária, pois desafia o conformismo e nos coloca como co-criadores conscientes de nossa existência. O que é necessário para viver de acordo com esses princípios? Quais desafios você enfrentará no caminho? Como eles podem servir como oportunidades para aperfeiçoar e potencializar o fortalecimento pessoal e espiritual? Reconstruindo Nossa Narrativa. Esses comportamentos que nos acompanham de maneiras sutis e silenciosas como elementos poderosos, por vezes devastadores, são manifestações que operam dentro das sombras do inconsciente. Quando adiamos tarefas ou sabotamos nossos esforços, estamos de alguma forma respondendo a medos colados de experiências passadas e expectativas malogradas. Por que adiamos nossos sonhos? Por que tememos tanto o sucesso quanto o fracasso? A resistência à ação é uma defesa primitiva do nosso ego, que tenta nos proteger de sentimentos de inadequação, mesmo quando sabemos que precisamos avançar e progredir para sobreviver a esta sociedade. Superar essas condutas exige uma reconfiguração psíquica, uma nova narrativa sobre quem somos e o que merecemos. Isso requer reflexão, sabedoria e paciência. Vamos lembrar das palavras de Freud: "O sintoma é o corpo falando a linguagem que o ego teme traduzir." A psicanálise nos dá as ferramentas para decifrar esses códigos internos: Como seria nossa vida se pudéssemos finalmente nos ouvirmos e superar esses comportamentos limitantes? O que poderíamos alcançar? Afinal, a verdadeira liberdade está em enfrentar e sobrepujar nossos próprios medos, os transformando em força, inteligência e sapiência. E você, está pronto(a) para reescrever sua história? "Redizer nossa escrita pessoal começa com a valentia de olhar para as inseguranças e transformá-las em aliadas, não inimigas." – Dan Mena. Palavras-chaves : #procrastinação, #autossabotagem, #psicanálise, #inconsciente, #ego, #resistênciapsíquica, #procrastinaçãoCrônica, #ansiedade, #medodofracasso, #autossabotagemInconsciente, #culpa, #bloqueiosemocionais, #estratégiaspsíquicas, #comportamentoautodestrutivo, #desenvolvimentopessoal, #trauma, #procrastinaçãoeansiedade , #superaçãodebloqueios, #sabotageminternaprocrastinação, autossabotagem, psicanálise, inconsciente, ego, resistência psíquica, procrastinação crônica, ansiedade, medo do fracasso, autossabotagem inconsciente, culpa, bloqueios emocionais, estratégias psíquicas, comportamento autodestrutivo, desenvolvimento pessoal, trauma, procrastinação e ansiedade, superação de bloqueios, sabotagem interna, autocompreensão. Fontes Utilizadas e Autores: "O Ego e o Id" de Sigmund Freud "O Mal-Estar na Civilização" de Sigmund Freud "Inibição, Sintoma e Ansiedade," de Sigmund Freud "Escritos sobre a Psicose" de Jacques Lacan "Vidas Emaranhadas": de Donald Winnicott "A Coragem de Ser Imperfeito" de Brené Brown "O Inconsciente e os Mecanismos de Defesa" de Anna Freud "Psicologia do Inconsciente" de Carl Jung "O Medo da Liberdade" de Erich Fromm "A Montanha É Você" de Brianna Wiest Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Todo o conteúdo deste site, incluindo textos, imagens, vídeos e outros materiais, é protegido pelas leis brasileiras de direitos autorais (Lei nº 9.610/1998) e por tratados internacionais. A reprodução total ou parcial, distribuição ou adaptação dos materiais aqui publicados é permitida somente mediante o cumprimento das seguintes condições: I - Citação obrigatória do autor: Daniel Mena ou Dan Mena II - Indicação clara da fonte original: www.danmena.com.br III - Preservação da integridade do conteúdo: sem distorções ou alterações que comprometam seu significado; a - Proibição de uso: O material não poderá ser utilizado para fins ilegais ou que prejudiquem a imagem do autor. b - Importante: O uso não autorizado ou que desrespeite estas condições será considerado uma violação aos direitos autorais, sujeitando-se às penalidades previstas na lei, incluindo responsabilização por danos materiais e morais. c - Contato e Responsabilidade Ao navegar neste site, você concorda em respeitar estas condições e a utilizar o conteúdo de forma ética. Para solicitações, dúvidas ou autorizações específicas: Contato: danmenamarketing@gmail.com +5581996392402
- Cinco Mitos Sobre a Saúde Mental.
"Não existe cura para a alma que não passe pelo reconhecimento e aceitação dos nossos próprios sentimentos e experiências." — Dan Mena. A saúde mental é um tema que, cada vez mais, ganha relevância na nossa sociedade. No entanto, ainda existem muitos mitos e equívocos que dificultam a compreensão e o tratamento adequado das condições que afetam a psique. Com base nesses ângulos multifacetados da psicanálise , psicologia e da neurociência , vamos deslindar sobre as principais crenças sobre o tema para promover um entendimento mais embasado. Você já se perguntou por que a saúde mental ainda está cercada por tantos desvios e preconceitos? Mesmo no século XXI, com os avanços científicos e a disseminação de informações pelas diversas mídias e internet, por que tantas alegorias persistem? Talvez você já tenha ouvido ou até acreditado em frases como: "Depressão é falta de força de vontade" ou "Terapia é coisa de louco" . Quantas dessas ideias são verdadeiras? E mais importante, como essas crenças afetam nossa inscrição ao bem-estar mental, tanto a título pessoal quanto de quem nos cerca? "Não existe cura para a alma que não passe pelo reconhecimento e aceitação dos nossos próprios sentimentos e experiências." — Dan Mena. Portanto, vamos desmistificar e bater forte nos mitos mais comuns, utilizando leituras e entendimentos consolidados de várias vertentes. Vou apresentar respostas fundamentadas em estudos científicos e nas análises de grandes pensadores como Freud, Jung e Byung-Chul Han, além de contribuições recentes da ciência moderna. Meu objetivo é proporcionar uma ponderação sobre como essas crenças foram moldando nossos preceitos e comportamentos, muitas vezes nos afastando de uma existência mais consciente dos fatos reais. "Uma psicanálise cavada nas camadas ocultas da psique, desmistifica preconceitos e traz à tona verdades incômodas mas necessárias." — Dan Mena. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 970 milhões de indivíduos em todo o mundo vivem com algum transtorno mental. Mesmo assim, menos de 25% deles recebem o tratamento adequado, principalmente, devido ao estigma social ou à falta de informação. Em muitos casos, o problema não está na ausência de recursos, mas nas concepções desvirtuadas que desencorajam a busca por ajuda. Quantas vezes você hesitou em pedir apoio por medo do julgamento alheio? Ou deixou de motivar alguém próximo porque acreditava que "não era nada sério"? Essas dúvidas, que muitas vezes parecem pequenas, refletem um problema maior que este texto se propõe a esclarecer. Afinal, não basta identificar os princípios que os acompanham; é preciso que sejam compreendidos e enfrentados com conhecimento. Vou te ajudar a responder perguntas que talvez você nem soubesse que deveria se fazer: "Como as narrativas sobre saúde mental impactam minha forma de lidar com as emoções?", "Quais são os prejuízos de acreditar em ideias falsas sobre terapia e transtornos psicológicos?" e "Como posso contribuir para desmistificar essas lendas na minha comunidade?". Essas questões, embora simples, são elementares para transformar nossa relação com a mente e, consequentemente, com a vida. "O equilíbrio entre emoção e razão é conquistado ao compreender que cada pensamento equivocado deixa cicatrizes no corpo e na alma." — Dan Mena. Para enriquecer essa discussão, vamos usar dados estatísticos e análises diversas. Vou formar minhas próprias citações como a de Freud: “A voz do intelecto é suave, mas não descansa até ser ouvida” , para meditarmos sobre como o saber pode derrubar barreiras. Além disso, vamos verificar a visão da neurociência, que mostra como juízos equivocados podem afetar negativamente o funcionamento do cérebro, gerando ciclos de sofrimento e desinformação. "Enquanto o saber ilumina, o desconhecimento perpetua os ciclos de dor e estagnação; o despertar intelectual é, por si só, uma forma de cura." — Dan Mena. Caro leitor(a), se você chegou até aqui, é porque acredita na importância de interpretar e dominar este tema tão relevante. Mais do que isso, sabe que uma vida equilibrada começa com investigação, referências de valor e autoconhecimento. Vamos logo, não apenas desconstruir lendas e utopias, mas construir pontes sólidas sobre um dos conteúdos mais desafiadores e urgentes da atualidade. Boa leitura. Mito 1: Saúde mental é ausência de transtornos. Um dos equívocos mais comuns é acreditar que estar mentalmente saudável significa apenas não apresentar limitações psicológicas. Essa visão simplista ignora o hermetismo do assunto, que é muito mais do que a ausência de doenças. A saúde psíquica abrange um estado de harmonia emocional, psicológica e social. Isso significa ter capacidade de lidar com o estresse do dia a dia, manter relacionamentos saudáveis e tomar decisões niveladas. Saúde mental é: "um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, lidar com os estresses normais da vida, trabalhar de forma produtiva e ser capaz de contribuir para sua comunidade." Estudos recentes da neurociência indicam que o cérebro está constantemente regulando emoções e processando informações. Isso significa que a saúde psicológica não é estática, mas sim um espectro em que todos nós experimentamos flutuações em diferentes momentos. Essas transições ocorrem mesmo sem o desenvolvimento de uma patologia específica. Por exemplo, podemos passar por períodos de estresse ou tristeza intensa sem que isso signifique um desarranjo mental, mas ainda assim nos impactam de alguma forma. "A mente dialoga incessantemente consigo mesma; a verdadeira saúde psíquica está em compreender esse colóquio como uma busca contínua por integração." — Dan Mena. Freud, nos lembra: "A voz do intelecto é suave, mas não descansa até ser ouvida." Aplicando esse prisma, podemos entender que a mente está em constante diálogo consigo mesma, tentando processar e lidar com as diversas demandas emocionais e cognitivas do cotidiano. Ditas flutuações e os mecanismos que utilizamos para manter nosso eixo emotivo é enfatizado por Jung, que denota que quando integramos e agregamos diferentes partes de nossa psique alcançamos grande potencial. Em suas palavras: "Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma, seja apenas outra alma humana." Ao desmistificar o mito apresentado é apenas considerar a ausência de tribulações, percebemos que se trata de uma caracterização muito mais abrangente. A verdadeira saúde mental envolve reconhecer e aceitar nossas emoções, entender os pensamentos e comportamentos, e assim por diante buscar um estado de firmeza e estabilidade que nos permita viver de forma significativa. "Ser uma alma saudável é ter a coragem de se tornar íntimo dos próprios abismos e transformar sombras em aprendizagem." — Dan Mena. A saúde mental é um tema que, cada vez mais, ganha relevância na nossa sociedade. No entanto, ainda existem muitos mitos e equívocos que dificultam a compreensão e o tratamento adequado das condições que afetam a psique. Com base nesses ângulos multifacetados da psicanálise , psicologia e da neurociência , vamos deslindar sobre as principais crenças sobre o tema para promover um entendimento mais embasado.É fundamental ressaltar, que atuar positivamente implica em práticas proativas de autocuidado e desenvolvimento pessoal. Isso inclui atividades como a meditação, a prática regular de exercícios físicos, a alimentação saudável e o cultivo de relacionamentos sadios. Esse conjunto de implicações fortalecem nossa resiliência e a capacidade de lidar com desafios e conjunturas complicadas. Lacan menciona que o desejo está no coração da nossa existência, isso significa que tais aspirações e motivações pessoais desempenham um baluarte na manutenção da saúde psíquica. A busca por realização e satisfação em diversas áreas da vida, seja no trabalho, nos hobbies ou nos laços, contribuem indubitavelmente para o ciclo psicológico. Nesse cenário, tal circuito se torna vital, pois nos capacita a movermos com maior agilidade e adaptabilidade. Reconhecer e compreender essas nuances são chaves codificadas para viver de forma satisfatória. Distinguir que estamos sujeitos a altos e baixos emocionais, e, que isso faz parte da experiência natural da vida, diminui o estigma e incentiva a busca por apoio quando necessário. "Harmonia interna não é a ausência de conflitos, mas a arte de acolher cada parte de si mesmo com compaixão e respeito." — Dan Mena. Mito 2: Pessoas com saúde mental comprometida são perigosas. Um dos estigmas mais prejudiciais é a crença de que indivíduos com transtornos mentais são inerentemente perigosos. Esta visão torta não só perpetua a discriminação, mas também promove a exclusão social, isolando ainda mais aqueles que já enfrentam grandes reptos. Na realidade, a maioria das pessoas com condições como esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressão não apresentam comportamento violento ou agressivo. Pesquisas indicam que essas condições resultam em sofrimento interno, não em risco para os outros. Para ilustrar melhor, um estudo publicado no "Journal of American Medical Association" concluiu que a maioria das pessoas acometidas com perturbações mentais são mais propensas a serem vítimas de violência do que perpetradores. Esses achados, subvertem a narrativa errônea de que a saúde mental comprometida está diretamente ligada como um perigo para a sociedade. "Estigmatizar quem sofre é desumanizar; o perigo real não está na mente fragilizada, mas na exclusão que a sociedade perpetua." — Dan Mena. A psicanálise enfatiza a importância da consideração e compreensão em vez do julgamento. "A mente é como um iceberg; apenas uma pequena parte é visível" - Freud. Essa metáfora ilustra como muitos dos nossos processos mentais estão fora da nossa consciência imediata, moldando condutas, afetos e emoções de maneira que nem sempre os compreendemos. Carl Jung, insistia na necessidade de integrar a "sombra" - os aspectos desconhecidos ou negados da nossa psique - como uma parte crucial do desenvolvimento psicológico. Assim dizia: ‘’Aquilo que você resiste, persiste." Isso significa que estigmatizar e rejeitar aqueles que sofrem de transtornos mentais apenas perpetua seu sofrimento, em vez de promover a cura e a sua integração’’. A verdadeira ameaça, portanto, não reside nas pessoas com entraves psicológicos, mas no estigma e na ignorância que continuam a cercá-los. Romper com esses ícones é criar uma sociedade mais inclusiva. Em vez de perpetuar o medo, precisamos fomentar o suporte adequado para aqueles que lutam contra esses percalços. Ao desmistificar esse círculo vicioso, informando e educando o público sobre essa realidade, podemos garantir acesso a tratamentos de qualidade e apoio contínuo. "Cada preconceito reforçado é um muro a mais na solidão de quem já luta para compreender sua própria mente." — Dan Mena. "Uma psicanálise cavada nas camadas ocultas da psique, desmistifica preconceitos e traz à tona verdades incômodas mas necessárias." — Dan Mena. Erich Fromm contribui: "Amar alguém é permitir que ele seja quem ele é." Essa máxima pode ser aplicada à nossa abordagem do assunto. Ao aceitarmos as pessoas como elas são, com todas suas implicâncias, particularidades e embates, podemos criar um ambiente onde elas se sintam seguras para buscar assistência, lugar onde a cura se torna possível. "É mais provável que uma pessoa mentalmente fragilizada seja vítima do que vilã; o inimigo real é o estigma que nos alimenta." — Dan Mena. Mito 3: Terapia é apenas para pessoas com problemas graves. Uma crença amplamente difundida é que a terapia seria indicada apenas para aqueles que enfrentam crises severas ou problemas graves. No entanto, essa visão restrita ignora o vasto potencial da psicoterapia como uma ferramenta poderosa para qualquer pessoa que deseje melhorar sua qualidade de vida, aprofundar o autoconhecimento e desenvolver habilidades emocionais sólidas e duradouras. "O maior presente da terapia é a redescoberta do poder que temos para transformar nossas histórias pessoais." — Dan Mena. A psicoterapia, em suas diversas formas, pode beneficiar todos os indivíduos, independentemente de estarem enfrentando uma crise imediata. Além disso, as abordagens cognitivas comportamentais (TCC) ajudam a identificar e estruturar padrões de pensamento disfuncionais. Aaron Beck, um dos pioneiros da TCC, destacou que "pensamentos negativos automáticos" podem levar a emoções negativas e condutas prejudiciais. A terapia oferece um espaço seguro e não julgador para explorar emoções e experiências. Carl Rogers, um dos fundadores da abordagem centrada na pessoa, acreditava que "quando alguém realmente ouve você sem julgar, sem tentar assumir a responsabilidade por você, sem tentar moldá-lo, é algo notável" . "Uma psicanálise cavada nas camadas ocultas da psique, desmistifica preconceitos e traz à tona verdades incômodas mas necessárias." — Dan Mena. Esse ambiente de aceitação pode ser amplamente curativo e transformador. Pode inclusive, ajudar a aumentar a autoconfiança, incentivar a capacidade de tomar decisões equilibradas e promover um maior senso de propósito e direção. "A escuta sem julgamento, como propôs Carl Rogers, é uma das forças mais transformadoras da psicoterapia: um abraço invisível à alma." — Dan Mena. Portanto, ao desmistificar a convicção de que a terapia é apenas para pessoas com problemas severos, podemos reconhecer seu valor universal. Ela não é um recurso de conflagração, mas um expediente vital para o crescimento pessoal contínuo. Não importa se o problema é grande ou pequeno, se é uma alteração aguda ou uma busca por experiências de autoconhecimento. "A mente é um labirinto; a terapia psicanalítica nos dá o mapa para navegá-la com compaixão e lucidez." — Dan Mena. Como sociedade, devemos nos afastar do estigma que a limita ao controle de crises e reconhecer sua vasta utilidade em melhorar todo o contexto psicológico. Freud nos lembra, "A mente humana é um iceberg; a maior parte está abaixo da superfície" Mito 4: Medicamentos resolvem tudo. Medicamentos são a solução completa para os transtornos, é outra afirmação bastante comum, mas muito simplista. Embora relevantes e necessários no tratamento de condições como depressão severa ou transtornos de ansiedade generalizada, entre outros, eles não representam uma solução definitiva isoladamente. "A ciência avança ao nos mostrar que o cérebro é moldável; estimular essa mudança exige mais do que a farmacologia." — Dan Mena. A neurociência nos ensina que a neuroplasticidade cerebral — a capacidade do cérebro se adaptar e mudar — pode ser estimulada por intervenções psicoterapêuticas. Isso significa que ela promove sim arranjos positivos, ajudando a desenvolver novas formas de pensar e regulação de comportamentos saudáveis. Portanto, o tratamento mais eficaz, geralmente combina medicamentos com os recursos terapêuticos. Esta abordagem integrada permite que os remédios aliviem os sintomas mais graves, enquanto a terapia ajuda a entender e trabalhar as causas subjacentes do sofrimento acometido. Carl Jung já dizia: que "o conhecimento não reside somente na verdade, mas também nos erros" . Focar apenas numa medicação pode ser um erro que impede um tratamento mais global e eficaz. "A neuroplasticidade nos lembra que somos arquitetos de nossas próprias mentes; os remédios são uma das ferramentas possíveis do processo." — Dan Mena. É igualmente importante considerar fatores adicionais que desempenham rols no processo de recuperação. Um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta balanceada e exercícios físicos regulares, agem significativamente, liberando endorfinas e outras substâncias químicas no cérebro que melhoram o humor e reduzem o estresse. O suporte social também é agregador, construir uma rede de apoio com amigos, familiares e grupos comunitários oferece o apoio emocional necessário para enfrentar os desafios: "A amizade é um recurso terapêutico formidável." Freud. "O equilíbrio entre emoção e razão é conquistado ao compreender que cada pensamento equivocado deixa cicatrizes no corpo e na alma." — Dan Mena. Mito 5: Crianças não podem ter problemas de saúde mental. Vejamos outra falsa afirmação…crianças são imunes a transtornos mentais devido à sua aparente inocência e simplicidade emocional. Destarte, esse prisma subestima a complexidade da mente infantil e a vulnerabilidade das crianças que estão sujeitas a uma variedade de problemas emocionais e psicológicos. Transtornos como (TDAH), ansiedade infantil e depressão também cercam crianças e adolescentes. Esses problemas podem ter uma implicação substantiva no desenvolvimento, desempenho escolar e nas relações sociais dos infantes. "Reconhecer os desafios emocionais das crianças é plantar as sementes para uma vida adulta mais equilibrada e resiliente." — Dan Mena. Intervenções precoces minimizam ditas colisões na vida adulta. Quanto mais cedo os problemas são identificados e tratados, melhor é o prognóstico. Tanto crianças quanto adultos, enfrentam conflitos internos que influenciam seu comportamento. Klein desenvolveu técnicas específicas para trabalhar com crianças, utilizando jogos e desenhos como formas de expressão e comunicação dos sentimentos inconscientes. "As brincadeiras infantis não são apenas diversão; são elos para o inconsciente que nos convidam a ouvir o que as palavras ainda não oferecem dizer." — Dan Mena. Além da psicanálise, a TCC ajuda as crianças a identificar e modificar padrões de pensamento negativos, desenvolvendo habilidades de enfrentamento. Outro aspecto precípuo do tratamento é o envolvimento dos pais e cuidadores. A participação ativa da família no processo terapêutico melhora rapidamente os resultados. Programas de treinamento para pais podem fornecer estratégias para apoiar a saúde mental das crianças, promovendo um ambiente doméstico seguro e acolhedor. A combinação de todas essas interpelações cria um sistema de suporte abrangente que trata a criança como um todo, considerando não apenas seus sintomas, mas também seu ambiente e contexto de vida. Essa conscientização, quebra o descrédito e encoraja intervenções prematuras que podem fazer uma diferença apreciável. Afinal, as raízes de uma sociedade saudável e harmoniosa começam na infância. "O sofrimento psíquico na infância não pode ser silenciado; precisa ser reunido com disciplinas que respeitem sua singularidade." — Dan Mena. O Peso Psíquico do Progresso. Finalizar um artigo como este requer de mim mais do que um simples resumo dos argumentos apresentados. É preciso uma reflexão que vá além do conteúdo, tocando a essência que nos envolve e incentivando você meu leitor a reavaliar suas afirmações e construir novos olhares sobre o tema. Neste artigo, não somente levanto as narrativas equivocadas; senão, discurso também quanto os sintomas de uma sociedade que ainda luta para compreender a si mesma, presa entre a divisão do desdouro e a ignorância. "Enquanto corremos em direção ao futuro, é saudável perguntar: estamos levando conosco nossas almas ou as deixando para trás?" — Dan Mena. Me lembro de uma frase de Freud: "a civilização exige renúncia" , mas será que esse custo não tem sido alto demais para nossa saúde mental? A psicanálise, a psicologia moderna e a neurociência mostram que o sofrimento e a angústia são parte integrante da nossa experiência, não um desvio. Encarar isso com fraternidade e sapiência são os verdadeiros atos revolucionários, especialmente, em tempos onde a desinformação se disfarça de verdade. "Como civilização avançamos, mas a sabedoria está em não esquecer quem somos, antes de tudo, seres vulneráveis e enigmáticos." — Dan Mena. "A mente dialoga incessantemente consigo mesma; a verdadeira saúde psíquica está em compreender esse colóquio como uma busca contínua por integração." — Dan Mena. Os mitos agora desvendados, mostram como nossas convicções podem ser nocivas e prejudiciais e apontam para a possibilidade da transformação. Reafirmar que saúde mental não é a ausência de transtornos, mas sim, a capacidade de lidar com os enredos da vida, é desmistificar as barreiras que nos afastam de uma compreensão mais compassiva e inclusiva. "Por que tememos a dor mental? Talvez porque ela nos lembra que somos finitos, mas também que temos o poder de crescer a partir dela." — Dan Mena. Por que insistimos em discursos que nos isolam? Talvez seja o medo do desconhecido, a recusa em encarar nossas vulnerabilidades, fragilidades ou a resistência em admitir que todos enfrentamos momentos de precariedade psíquica. Vivemos enquadrados em paradigmas que glorificam a produtividade, enquanto silenciamos o sofrimento individual. A dor não é um defeito, mas uma oportunidade de crescimento e conexão. O desejo está no coração da nossa existência, romper com a mácula dos entraves mentais significa reescrever nossa história, individual e coletivamente. "Reconhecer nossa vulnerabilidade é o primeiro passo para construir uma saúde mental sincera, que não busca se isentar da dor, mas sim ser rica em danos ressignificados." — Dan Mena. A conclusão, portanto, não é apenas uma chamada à ação, mas um apelo à transformação pessoal e social. Precisamos criar uma nova diegese que priorize a escuta sobre o julgamento, a informação sobre a ignorância e a compaixão sobre o preconceito. Como cada um de nós pode contribuir para essa mudança? Talvez a resposta esteja em ações simples: ouvir sem julgar, educar-se sobre saúde mental e reconhecer que, por trás de cada sorriso, há uma história de lutas e superações que merecem muito respeito. "A ignorância é o solo onde os preconceitos florescem; a educação, a semente que pode exterminá-los." — Dan Mena. O impacto desse movimento é altamente duradouro. Uma sociedade que valoriza esses preceitos paralelos fortalece a convivência coletiva. Entender que "autocuidado não é egoísmo" , nem um luxo, mas uma responsabilidade consigo mesmo e com os outros, é o primeiro passo para quebrar o ciclo de desinformação. Encerro assim com uma reflexão de Jung e outra da minha autoria: "Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta." Ao desafiarmos lendas, despertaremos para uma nova era, onde o saber substitui o medo e a compaixão, ocupando o lugar do preconceito. "A compaixão não é apenas um sentimento fraterno, é uma ação contínua que transforma corações e mentes." — Dan Mena. Palavras-chaves: #SaudeMental, #MitosSobreSaudeMental, #Psicanálise, #BemEstarEmocional, #TerapiaFunciona, #SaudePsicologica, #EquilibrioMental, #DepressaoAnsiedade, #Autocuidado, #FreudExplica, #Neurociencia, #JungNaPsicologia, #PreconceitoZero, #PsicanaliseContemporanea, #TranstornosMentais, #CuidadoComAMente, #SaudeMentalImporta, #PsiqueSaudavel, #VidaEquilibrada, #ConscientizacaoEmSaudeMental. Fontes Utilizadas e Autores: O Futuro de uma Ilusão - Sigmund Freud A Prática Psicanalítica na Contemporaneidade - André Green O Medo do Colapso - Donald Woods A Técnica da Psicoterapia - Melanie Klein O Mito da Doença Mental - Thomas Szasz Manicômios, Prisões e Conventos - Erving Goffman História da Loucura - Michel Foucault A Voz na Sua Cabeça - Ethan Kross Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Todo o conteúdo deste site, incluindo textos, imagens, vídeos e outros materiais, é protegido pelas leis brasileiras de direitos autorais (Lei nº 9.610/1998) e por tratados internacionais. A reprodução total ou parcial, distribuição ou adaptação dos materiais aqui publicados é permitida somente mediante o cumprimento das seguintes condições: I - Citação obrigatória do autor: Daniel Mena ou Dan Mena II - Indicação clara da fonte original: www.danmena.com.br III - Preservação da integridade do conteúdo: sem distorções ou alterações que comprometam seu significado; a - Proibição de uso: O material não poderá ser utilizado para fins ilegais ou que prejudiquem a imagem do autor. b - Importante: O uso não autorizado ou que desrespeite estas condições será considerado uma violação aos direitos autorais, sujeitando-se às penalidades previstas na lei, incluindo responsabilização por danos materiais e morais. c - Contato e Responsabilidade Ao navegar neste site, você concorda em respeitar estas condições e a utilizar o conteúdo de forma ética. Para solicitações, dúvidas ou autorizações específicas: Contato: danmenamarketing@gmail.com +5581996392402
- Mundo Líquido.
“Em um mundo onde as certezas se dissolvem como areia entre os dedos, nosso ego é confrontado diante da necessidade de encontrar significado em meio ao caos, eis, o mal-estar da civilização contemporânea'' Dan Mena. Entre a Fluidez e a Autenticidade Perdida. No tumulto incessante dessa retórica da qual somos absolutamente protagonistas, vemos as estruturas tradicionais se esvaindo. Conceitos individuais antes muito sólidos, parecem agora tão fugazes quanto a brisa de verão, surge então a necessidade urgente de compreendermos não apenas esses fenômenos externos que nos afetam, mas também, os intrincados labirintos psíquicos aos quais devemos enfrentar diante dessas radicais mudanças sociais e culturais. É neste contexto vertiginoso e desafiador que me proponho embarcar em uma breve jornada de investigação psicanalítica do mundo atual, inspirado pelas perspectivas inovadoras de Bauman, que certamente se serviu profundamente de Freud é sua obra; ''O Mal-estar na Civilização''. A cada esquina dessa ''modernidade líquida'', surgem perguntas inquietantes que ecoam nas nossas mentes: quem sou eu, em um tempo onde as identidades se desfazem e se reconstroem como nuvens passageiras? Como encontrar segurança e estabilidade em meio à fluidez incessante das relações sociais e culturais? O que significa ser, em uma era permeada pela virtualidade, artificialidade, mediocrização e vulgarização?. Assim, convido você a me acompanhar, sob a ótica atenta e aguçada da psicanálise, mergulhemos nas profundezas da mente, explorando os desejos que reprimimos, os conflitos inconscientes e mecanismos de defesa que moldam nossas percepções e ditam comportamentos. Nesse adentrar, encontraremos as sementes do eu, que entrelaçados com as teias do universo ao nosso redor, que nos instigam, incitam, estimulam, provocam e reptam. Neste artigo, além da análise estrutural embaçada nos dois livros apontados, utilizarei, em primeira mão, trechos do meu próximo livro ; 100 Respostas para a Vida Contemporânea - por Dan Mena . Boa leitura. Antes de desenvolver e estender o tema, quero abrir um quadro e chamar a uma ponderação de autoconsciência coletiva. Sem nos colocarmos numa posição cômoda de achar culpados para às queixas, impugnações, protestos e objeções que possamos ter quanto a vida que transcorre atualmente, e sem permitir, que tais sejam transferidas sem reflexão: 10 perguntas-chave de autoconsciência que podem ajudar nesse processo. Qual a nossa responsabilidade? 1 - Como minhas escolhas e ações contribuem para a dinâmica da modernidade líquida? 2 - Estou disposto(a) a questionar os valores e normas da sociedade atual, mesmo que sejam amplamente aceitas? 3 - De que maneira minha busca por segurança e estabilidade impacta minha liberdade individual? 4 - Estou consciente das relações de poder e desigualdade que permeiam as interações sociais nestes dias? 5 - Até que ponto minha identidade é influenciada pela pressão da conformidade social e pela busca por validação nas redes sociais e na cultura do consumo? 6 - Como posso cultivar relacionamentos significativos em um ambiente caracterizado pela superficialidade e transitoriedade? 7 - Estou disposto(a) a assumir a responsabilidade pelas consequências de minhas ações, mesmo em um mundo onde a culpa muitas vezes é diluída e deslocada para outros? 8 - Qual é o papel da tecnologia na minha vida e como posso garantir que ela não me aliene ou me distancie das experiências autênticas? 9 - Como posso contribuir para a construção de comunidades mais solidárias e resilientes em meio à fragilidade das estruturas sociais contemporâneas? 10 - Estou aberto(a) a repensar constantemente minhas crenças e valores à luz das mudanças rápidas e imprevisíveis que circulam? O Legado que Habitamos Freud foi pioneiro em nos deixar um patrimônio de visões sobre a nossa natureza, assim nos revelou os recônditos do inconsciente e as dinâmicas entrelaçadas das relações interpessoais. Mais adiante, em paralelo literário com Zygmunt Bauman, renomado sociólogo da nossa era que nos brindou com a metáfora do “mundo líquido”, enfatizando a transitoriedade, inconstância, fragilidade, variabilidade e flutuação das estruturas sociais na era da globalização. Convocarei então algumas frases célebres desse trabalho, de forma que possamos ampliar rapidamente o entendimento do conceito; “A vida líquida é uma vida vivida em trânsito. Como uma viagem constante de um lugar a outro, de uma ocupação a outra, de um interesse a outro, de uma relação a outra.” “No mundo líquido moderno, mudar, tornou-se a única constante.” “Na era do 'líquido moderno', as certezas se dissolvem antes mesmo de se solidificarem.” “No mundo líquido, nada é sólido, nada é permanente, e nada é confiável.” “A fluidez é a norma, e a solidez se tornou a exceção.” “Vivemos em uma época em que as formas sólidas de identidade, comunidade e moralidade, estão derretendo mais rápido do que conseguimos substituí-las.” “No mundo líquido, o indivíduo se vê constantemente navegando em um mar de incertezas, sem pontos de referência fixos.” “A modernidade líquida é uma era de liberdade individual sem precedentes, mas também de responsabilidade individual sem precedentes.” “Em um mundo líquido, as fronteiras entre o público e o privado, o local e o global, o real e o virtual se tornam cada vez mais difusas.” É sob essa perspectiva de diálogo entre a psicanálise freudiana e as análises sociológicas de Bauman, encontraremos boas respostas. Não pretendo apenas levantar questões provocativas, mas também viso oferecer caminhos para essa compreensão e a navegação dessas águas turbulentas. Mais antes de fazer minha análise quero me fazer uma pergunta, e respondê-la numa síntese; Seriam Freud e Bauman pessimistas sobre a época em que vivemos? Creio que a visão paralela deles sobre este século possuí diversas nuances, pois embora ambos tenham expressado preocupações e críticas em relação à modernidade, não necessariamente devem ser considerados pessimistas irrestritos. Freud, por exemplo, em sua obra “O Mal-estar na Civilização”, discute os desafios e as tensões inerentes à vida em sociedade, destacando a inevitável conflituosidade entre os desejos individuais e as demandas impostas pela cultura. Ele identifica a civilização como um fator gerador de insatisfação permanente e sofrimento, principalmente, devido à necessidade imposta de repressão dos instintos, em prol da suposta pacífica convivência social, obviamente, o que vemos está desfigurado como uma utopia, guerras, fome, desigualdade, etc. No entanto, ele também reconhece aspectos positivos da atual civilização, como o progresso científico e tecnológico, que contribuem de alguma maneira para o bem-estar…(de alguns). Já Bauman, em sua teoria do “mundo líquido” também traz uma crítica da modernidade, enfatizando dita inconstância das relações sociais, culturais e institucionais. Ele aponta para os efeitos desestabilizadores da globalização, do consumo e da individualização, que geram sentimentos de alienação, ansiedade, depressão e incerteza. Destarte, reconhece nossa capacidade de adaptação e criatividade dentro desse amplo contexto, e sugere várias possibilidades de resistência e reinvenção necessárias. Portanto, embora Freud e Bauman tenham delineado críticas contundentes à modernidade, suas análises, das quais compartilho, não são meramente pessimistas, mas sim reflexivas, ponderadas e articuladamente complexas, reconhecendo, tanto os desafios, quanto às potenciais oportunidades oferecidas. Particularmente, vejo transformações dessa subjetividade em um ambiente marcado pela fragmentação, onde os impactos psicológicos da hiper conexão digital, os dilemas éticos da virtualidade, incluindo às implicações emocionais das irresoluções, ambiguidades e instabilidades constantes. Neste artigo, não me proponho oferecer respostas definitivas, claro que seria uma pura fantasia minha tentar, mas sim, pretendo, quero estimular questionamentos e gerar pensamentos. Ao final, espero que o meu leitor se sinta mais capacitado para enfrentar melhor os desafios do século XXI com mais clareza, discernimento e resiliência emocional. Claro, que não pretendo concordância. “O mundo líquido desafia o ego a encontrar estabilidade em um mar de incertezas'' Dan Mena. ''As conexões da nossa espécie neste século, refletem o conflito entre o princípio do prazer e o da realidade'' Dan Mena. ''Na fluidez do mundo contemporâneo, enfrentamos a tarefa de encontrar estabilidade em um ambiente volátil, um desafio que ecoa sobre a vida em sociedade.” Dan Mena. A Metáfora de Bauman Essa concepção sob o olhar intrigante e penetrante da natureza da modernidade e suas complexidades se debruçam em uma obra prolífica. A translação desse “mundo líquido” é uma forma de descrever uma transitoriedade fragilizada nas diversas relações. Ao invés de estruturas estáveis, Bauman enxerga uma realidade frouxa, onde certezas são efêmeras, e suas fronteiras permeáveis. Nesse contexto, normas e valores são moldados pela volatilidade e pela mudança incessante. Uma das principais características dessa essência, radica na velocidade com que ditas variações ocorrem. Conversões, transições e reformas andam a um ritmo acelerado, nunca vistas, quase alucinantes. Desafiam às bases tradicionais e exigem de nós uma adaptação constante e impossível de ser absorvida e acompanhada integralmente, sejam pelos indivíduos quanto das instituições. Essa imprevisibilidade que geram, torna difícil a formulação de projetos de longo prazo e alimentam a cultura do descartável, onde tudo é facilmente substituível e nada é duradouro. Além disso, tais características apontam para a desintegração crescente da sociedade, na medida que laços comunitários e as ligações se enfraquecem, dando lugar a uma cultura do ''eu'', centrada no consumo e na busca pelo prazer imediato e urgente. Essa atomização social conduz à solidão e à alienação, à medida que como sujeitos nos vemos isolados em um mar de conexões frívolas. Por outro ângulo, o mundo líquido oferece possibilidades de liberdade e inventividade sem precedentes. O escoamento das fronteiras, e a quebra das normas tradicionais permitem a emergência de novas formas de identidade e expressão, desafiando as hierarquias estabelecidas, quebrando paradigmas e possibilitando a criação de novos caminhos e narrativas de vida. Essa ambivalente emancipação, também traz consigo responsabilidades, pois somos concatenados com a necessidade de construir o próprio sentido de identidade e pertencimento em um mundo agressivamente mutante. O Inconsciente e os Dilemas da Sociedade Atual. Desde o advento da psicanálise, as teorias de Freud sobre o inconsciente exercem uma influência cavada no entendimento que temos sobre às multiplicidades da mente, por extensão, devemos incluir dinâmicas sociais e culturais da sociedade. Logo, estou falando dos processos psíquicos que ocorrem abaixo do nosso nível consciente, lugar que Freud ofereceu como uma revolução ao respeito dos impulsos, desejos e conflitos que moldam ditos comportamentos. Esses princípios, continuam a ser fundamentais para compreendermos os dilemas contemporâneos. A concepção do inconsciente como uma região da mente onde os desejos reprimidos atuam, os traumas não resolvidos e os impulsos instintivos primitivos da espécie. Estes, por sua vez, se alocam exercendo uma influência poderosa sobre nossas condutas, atitudes, maneiras, modos, procedimentos, hábitos e procederes conscientes. As tensões entre o id, o ego e o superego, continuam a ser importantes para entendermos os embates internos e as escolhas que fazemos. A noção de que o inconsciente é, na maioria, desconhecido para o sujeito consciente, tem implicações para nossa compreensão das motivações e das interações práticas do dia a dia. Em um mundo cada vez mais digitalizado, interações acontecem de forma virtual e rasas, nos alertando de alguma forma sobre a dimensão e magnitude de olhar para além das aparências, máscaras utilizadas e das representações utilizadas. Por isso, devemos saber interpretar as verdadeiras dinâmicas psicológicas em jogo. Outro aspecto central dessas observações, reside na ideia de que a sexualidade desempenha um papel fundamental na formação da personalidade e na estruturação das relações sociais. Tal prisma, tem sido objeto de críticas e revisões ao longo do tempo, partindo da percepção de que nossos desejos sexuais e afetivos, têm um papel considerável na sua idiossincrasia, continuando a ser relevante para entendermos os enredos das conexões íntimas, bem como as normas e tabus que regem a expressão do erotismo. A Identidade Desconstruída na Era Digital. Dominados pela tecnologia e pela mídia digital, a questão da identidade e personalidade, assumem uma importância ainda maior. A fragmentação do self, ou seja, a divisão da identidade em múltiplos papéis, personagens e personas online, se tornaram uma característica marcante da nossa experiência interativa. Nessa paisagem virtual, onde as fronteiras entre o público e o privado são agora correntes, e as interações ocorrem banalmente, somos confrontados com a tarefa de construir e manter uma identificação coerente em meio a uma miríade de influências manipuladoras e expectativas sociais, geralmente fantasiosas, desonestas e maquiadas. Somos alvos inconscientes de uma pressão que exige projetar uma imagem idealizada de si nas redes, que nos empurram e levam à alienação e ansiedade, na medida que nos esforçamos para se encaixar em padrões surreais, imagens irreais de felicidade, sucesso forjado, modelos artificiais de beleza e participar de afinidades indesejadas. Além disso, a exposição constante a uma torrente de informações e estímulos, sobrecarregam nossos mecanismos de defesa psicológica, nos tornando pessoas vulneráveis à influência emocional. A falta de privacidade e a exposição constante ao julgamento e avaliação dos outros, podem minar nossa autoestima, pois vivendo uma mentira, afundamos facilmente a confiança do self autêntico. Por esta razão, os mecanismos de defesa psíquica continuam a ser pertinentes para entendermos os enredos da identidade na era informática. Ao examinar às maneiras pelas quais os desejos reprimidos se expressam, os traumas não resolvidos e as ansiedades inconscientes que se manifestam nas interações eletrônicas, podemos ganhar dicas valiosas, estudando sobre os desafios necessários na busca por uma identidade autêntica e significativa em pró de um mundo que se mostra cada vez mais disfarçado, dissimulado e osco. Relacionamentos Líquidos - Amor, Intimidade e Conexão. O Que é “Amor Líquido”? Esse termo, introduzido por Bauman, descreve a natureza instável dos relacionamentos atuais. Na era da modernidade líquida, as relações são caracterizadas pela falta de consistência e permanência, se assemelhando a líquidos que se adaptam, escorrem e fluem, em contrapartida, das estruturas sólidas de outrora, regulares e uniformes. Nas redes sociais, chats e aplicativos de namoro, os diálogos se tornaram descartáveis, indivíduos são tratados como mercadorias que podem ser trocadas por opções mais atrativas. Relacionamentos na era digital oferecem oportunidades únicas para a auto exploração e reinvenção pessoal, permitindo que os indivíduos experimentem diferentes formas de conexão e identidade. Se examinamos essas tendências sociais atuais, podemos ver como o conceito de “amor líquido” se manifesta nos relacionamentos atuais, onde a volatilidade é predominante. Isso nos permite analisar como essas dinâmicas afetam a vida cotidiana, influenciando nossas escolhas e experiências emocionais. Ao entender melhor o conceito, podemos antecipar e responder aos desafios dos relacionamentos na era digital, buscando maneiras mais autênticas e significativas de se conectar com outros. Desejo e Satisfação Instantânea. Essa análise crítica da modernidade líquida que faço apoiado, expõe a dinâmica da cultura do consumo e sua influência na sociedade. Abordar dito contexto é destacar o papel do desejo e da satisfação momentânea na formação dessa cultura muito atual. Vejamos suas principais características; 1. Cultura do Consumo: Vivemos uma era onde a demanda consumista se tornou central na organização da vida social. Sua cultura se caracteriza pela busca incessante de novas vivências, produtos e prazeres intermináveis, alimentada por uma constante insatisfação e pela promessa de gratificação súbita e passageira. “A cultura do consumo nos leva a gastar dinheiro que não temos, para comprar coisas que não precisamos, a fim de impressionar pessoas que não nos importam.” Hamilton. 2. Desejo e Insatisfação: O motor que impulsiona essa dinâmica é o desejo, constantemente estimulado pela mídia, publicidade e cultura popular, nos levam a buscar interruptamente novas formas de impossível satisfação. No entanto, essa procura infindável pelo próximo produto ou experiência leva à insatisfação crônica, já que a satisfação é sempre provisória e temporária. “O homem só pode chegar ao gozo por meio do desejo, mas o desejo é estruturado como uma falta, e é essa falta que o constitui como sujeito.” Lacan. 3. Satisfação Passageira: Na premissa do consumo, a gratificação súbita se tornou praticamente uma exigência. Com a proliferação de produtos e serviços acessíveis com apenas alguns cliques, esperamos gratificação imediata para os desejos e necessidades. No entanto, essa busca leva à superficialidade e à falta de significado nas experiências de compra. “O homem é um ser incompleto, buscando incessantemente a completude, mediante objetos e relações fugazes que apenas proporcionam uma satisfação temporária.” Fromm. 4. Consequências Sociais e Individuais: Socialmente, ela perpetua a desigualdade e a exclusão, já que o acesso aos bens e serviços desejados muitas vezes é restrito a uma minoria privilegiada. Individualmente, sua busca leva à alienação, ansiedade e falta de sentido na vida. “A mente do indivíduo é um reflexo da sociedade em que ele vive.” Horney. 5. Possibilidades e Resistência: Apesar dos desafios apresentados, há espaço para alternativas e pertinácia. Através da reflexão crítica e da ação coletiva, podemos desafiar essas estruturas pré-estabelecidas, quebrando normas e valores dessa manipulação, buscando formas mais autênticas de satisfação e realização pessoal, pleiteando uma vida mais significativa e autêntica. ''As possibilidades são sementes de potencial que residem em nós, esperando serem nutridas pelo solo fértil da autoexploração e do crescimento pessoal''. Dan Mena - ''A resistência é o escudo que erguemos contra as mudanças, uma defesa contra o desconhecido e o desconforto que vem com a transformação''. Dan Mena. A Dicotomia entre a Hiper conectividade e a Solidão Existencial. “A solidão é parte integrante e indissociável da experiência humana.” Freud Freud explora a solidão existencial como uma condição inerente à psique humana, resultante do conflito entre os desejos individuais e as demandas sociais. Ele enfatiza como os conflitos internos e traumas podem levar à alienação e desconexão emocional. “Vivemos em uma era onde as conexões são abundantes, mas a intimidade é rara.” Bauman. “Mesmo em um mundo hiper conectado, muitos de nós nos sentimos sozinhos.” Dan Mena. A presença de conexões virtuais não conseguem preencher os vazios emocionais. A exposição de vidas aparentemente perfeitas dos outros nas redes aumenta a sensação de inadequação e isolamento. “A conexão digital pode ser uma forma de evitar a confrontação com a solidão, mas raramente é uma solução.” Esses mecanismos de defesa são utilizados para lidar com a solidão existencial, como uma forma de evitar a confrontação com a solidão. O Preço de ser Objeto. Então aqui, faço uma pausa; A contrapartida que podemos pagar é alta e irreparável. A OMS estima que mais de 264 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de depressão e que a ansiedade afeta cerca de 489 milhões de pessoas. Além disso, as taxas de suicídio, muitas vezes associadas a transtornos como ansiedade e depressão, aumentam em várias regiões do mundo, indicando uma crise crescente de saúde mental. É razoável supor, que os comportamentos e condições associadas estejam funcionais a essa condição. É essencial refletir sobre nossas escolhas e ações ao longo da vida, buscando cultivar relacionamentos significativos que possam oferecer apoio, conforto e sentido em todas as fases da existência. Somente assim, podemos mitigar os impactos negativos da fluidez moderna e encontrar verdadeira satisfação e realização na jornada da vida. “O preço de ser um objeto é perder a capacidade de se reconhecer como sujeito.” Jessica Benjamin. O que podemos enfrentar? Solidão e Isolamento: Ao nos colocarmos como objetos de relações líquidas, arriscamos enfrentar uma transitoriedade marcada pelo insulamento, dado que usamos as conexões superficiais que não serão base sólida para relacionamentos resistentes. “A solidão não é meramente a ausência de outros, mas a profunda incapacidade de nos comunicarmos significativamente com os outros.” Winnicott. Falta de Suporte Social: A falta de laços interpessoais significativos pode resultar em uma ausência de suporte social na medida que a idade avança, dificultando lidar com desafios físicos, emocionais e financeiros. “A ausência de apoio social é como estar em uma ilha cercada por tempestades, onde a solidão e o desamparo são as únicas companhias.” Lowen. Perda de Identidade: Ao se basear em conexões efêmeras ao longo da vida, o indivíduo pode perder sua identidade autêntica e senso de pertencimento, o que pode se agravar, quando a busca por significado e propósito seja mais intenso. “A perda de identidade é como estar em um labirinto sem mapa, onde cada passo parece distanciar ainda mais o indivíduo de si.” Rollo May. Dependência de Tecnologia: Acostumados com o uso da tecnologia como meio principal de comunicação e interação, podemos nos encontrar em desvantagem em algum momento da vida que se perca o trem da informática, quando as habilidades tecnológicas necessárias nos superarem, assim como aconteceu com nossos pais. “A dependência de tecnologia é a ilusão de conexão, enquanto, na verdade, estamos nos desconectando cada vez mais de nós mesmos e dos outros.” Turkle. Vulnerabilidade Financeira: A falta de segurança financeira pode resultar em dificuldades econômicas e vulnerabilidade social futuras. “A vulnerabilidade financeira não se limita apenas à escassez de recursos materiais, mas também à fragilidade da autoestima e da segurança emocional.” Suze Orman. Fragilidade Emocional: A ausência de conexões reais ao longo da vida, deixarão o sujeito emocionalmente vulnerável, aumentando o risco de depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental. “A fragilidade emocional é como uma ferida aberta na alma, exigindo cuidado e atenção constante para evitar que se torne uma cicatriz permanente.” Winnicott. Desamparo Institucional: As estruturas sociais vão esmorecer inevitavelmente, sem um suporte adequado ficaremos à mercê de sistemas institucionais que nem sempre priorizam o bem-estar individual. “O desamparo institucional é o vazio deixado quando as estruturas que deveriam ser um porto seguro se tornam fontes de desespero e desconfiança.” Judith Herman. Desafios de Saúde: A falta de apoio social e emocional pode agravar os desafios de saúde, dificultando lidar com doenças crônicas, incapacidades físicas e outras questões relacionadas à idade avançada. “Os desafios de saúde não são apenas físicos, mas também emocionais e psicológicos, exigindo uma abordagem holística que considere o bem-estar do corpo, da mente e da alma.” Rogers. Falta de Propósito e Significado: A ausência de conexões sólidas ao longo da vida, vão afunilar em sensação de vazio e falta de propósito, quando desejemos encontrar significado e sentido nas experiências do passado. “A falta de propósito e significado na vida é como viver em um livro sem título, onde cada página parece vazia e sem sentido.” Fromm. Arrependimento e Remorso: Ao refletir sobre uma vida marcada por relações superficiais, irão surgir sentimentos de arrependimento e remorso, questionando as escolhas feitas e os relacionamentos perdidos. ''O remorso é a sombra persistente do passado, uma lembrança dolorosa das ações que gostaríamos de desfazer''. Dan Mena. A Ética na Era do Relativismo Moral. ''A ética na era do relativismo moral requer coragem para resistir à pressão da conformidade social e defender aquilo que acreditamos ser verdadeiramente justo e humano''. Dan Mena. Estamos diante de um cenário ético marcado pelo fácil escoamento das normas tradicionais e dos valores, estes, desafiam nossas concepções consuetudinárias do certo e errado. O consonante moral parece prevalecer, onde as novas fronteiras entre o que é considerado ético e o que não é se tornam cada vez mais tênues. Surgem assim dilemas probos, que nos obrigam a repensar nossos fundamentos morais e a refletir sobre o significado da ética nestes tempos. Para compreendermos sua dinâmica é fundamental explorar o conceito de relativismo moral em si. Nesta linha entendo que essa proposta propõe que não existam verdades morais objetivas e universais, se argumentando que tais variam conforme o contexto cultural, social e individual. Esse ângulo, desafia as estruturas permanentes que fundamentam nossos sistemas honrados, colocando em questão a ideia de uma moralidade absoluta e imutável. Essa discussão das origens dos padrões morais são internalizados através do nosso processo de socialização, onde como indivíduos absorvemos os valores e regras da sociedade em que estamos inseridos. No entanto, Freud também destaca a existência de impulsos e desejos inconscientes que podem entrar em conflito com essas normativas, gerando sentimentos de culpa e ansiedade moral. Assim, sob a ótica freudiana, ética é entendida como resultado de uma interação entre as demandas sociais e os impulsos individuais. Por outro lado, Bauman, oferece uma perspectiva igualmente relevante sobre os desafios éticos contemporâneos. Justifica, logo, que às normas morais regentes, se tornaram flexíveis e mutáveis, dificultando a definição de um conjunto estável de valores. A liquidez social promoveu uma sensação de incerteza moral, onde as pessoas são confrontadas com a tarefa de criar suas próprias éticas em meio a constantes transfigurações e metamorfoses. Um dos principais dilemas sobre o tema, diz respeito à noção de responsabilidade individual, numa aldeia, onde as fronteiras entre o certo e o errado são difusos. Sem uma base moral sólida para orientar nossas ações, somos correferidos com a difícil tarefa de tomar decisões éticas em situações ambíguas e relativas. Além disso, a rápida evolução da tecnologia e das mídias sociais levanta questões urgentes desta ordem, principalmente aquelas relacionadas à privacidade, à autenticidade e à disseminação de informações prejudiciais (fake news). Em face desses desafios, é imperativo refletir sobre o papel da ética, embora o relativismo moral possa nos desafiar a questionar nossas próprias crenças e valores, também, nos oferece a oportunidade de promover um diálogo ético mais inclusivo e plural. Ao reconhecer a diversidade de compreensões, interpretações e experiências, podemos desenvolver uma elasticidade possível, e caminhar para uma ética adaptável e adequada aos tempos, capazes de responder positivamente ao mundo moderno. Portanto, a ética na era do relativismo moral apresenta desafios e dilemas significativos que exigem uma reflexão cuidadosa e uma abordagem crítica. Ao integrar ditas contribuições podemos desenvolver uma compreensão mais profunda dos fundamentos da moralidade e encontrar maneiras de promover uma ética mais responsável e compassiva em um mundo cada vez mais complexo e interconectado. Vejamos algumas citações em livros; ''A psicanálise nos leva a questionar se a civilização nos afasta ou nos aproxima de nossa verdadeira natureza, enquanto lidamos com as tensões entre o eu e o coletivo''. ''Ansiedade Revelada'' (2022) - Dan Mena. “A civilização é um processo artificial e, portanto, capaz de ser modificado em qualquer direção, e de ser submetido a mudanças extremas. Na verdade, o próprio destino da civilização depende se os sucessos dos indivíduos em fazer ajustes éticos e sociais suficientes.” “O Mal-Estar na Civilização” (1930) - Freud. “A humanidade não renunciou a prazeres. Ela simplesmente adiou seu prazer, os substitui por outros que serão obtidos mais tarde. [...] A busca por satisfação ilimitada é o motor principal de nosso comportamento.” “Totem e Tabu” (1913) - Freud. “As normas morais dos indivíduos são determinadas pela sociedade na qual estão inseridos, e a violação dessas normas pode levar a sentimentos de culpa, conforme demonstrado pela teoria do complexo de Édipo.” “Modernidade Líquida” (2000) - Zygmunt Bauman. “Na modernidade líquida, os valores são fluidos e as fronteiras são permeáveis. Isso gera uma sensação de incerteza moral e uma falta de referências sólidas para orientar a conduta humana.” “Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos” (2003) - Zygmunt Bauman. “Em uma sociedade líquida, as relações humanas se tornam descartáveis e substituíveis. A rapidez das conexões digitais pode levar a uma superficialidade nos relacionamentos, onde os laços são facilmente rompidos.” “Ética Pós-Moderna” (1993)-Ética Pós-Moderna” (1993) - Zygmunt Bauman. 20 Paralelos entre “O Mal-estar na Civilização” de Freud e; “Tempos Líquidos” de Bauman. Sintetizando estes dois proeminentes pensadores, cujas obras transcendem as barreiras disciplinares, e, apesar das diferenças temporais e metodológicas, vejo o quanto ambos compartilham uma preocupação central com os dilemas e desafios que se nos apresentam. Neste ensaio, destaquei suas semelhanças, diferenças e contribuições para a compreensão da condição que atravessamos. Apesar das divergências em enfoques e conceitos, Freud e Bauman convergem em suas análises, reconhecem as tensões entre o indivíduo e a sociedade, bem como os efeitos nocivos da racionalidade excessiva, do consumismo desenfreado e da fragmentação social. Enquanto Freud se concentra nos conflitos intrapsíquicos e nas dinâmicas das relações sociais, Bauman, amplia o escopo para incluir as dimensões políticas, econômicas e culturais da vida. No entanto, há um fator afluente em seus discernimentos e críticas, à alienação, à ansiedade e o vazio existencial gerados pelo desenraizamento e pela desorientação da modernidade. Desta forma, nos convidam a repensar nossas premissas e valores, buscando caminhos para uma vida mais autêntica, significativa e solidária em meio às vicissitudes da modernidade. Ao analisar suas obras em conjunto, fui realmente instigado a refletir sobre nossa existência, em um mundo marcado pelos seguintes diagnósticos que resumo abaixo; Reflexão sobre a natureza da sociedade. Ambas as obras exploram as características fundamentais da sociedade moderna e suas consequências para os indivíduos. ''A psicanálise da sociedade contemporânea revela uma teia intricada de relações interpessoais, onde conflitos de poder e dinâmicas de dominação se entrelaçam com a busca por identidade e pertencimento'' Dan Mena. Abordagem psicanalítica: Adotam uma abordagem psicanalítica para analisar os dilemas e conflitos que nos acometem na vida contemporânea. ''Ao investigar a natureza da sociedade atual, a psicanálise nos relembra da importância de examinar não apenas suas superfícies, mas também as camadas mais profundas e inconscientes que moldam nossas experiências e a dinâmica social'' Dan Mena. Conceito de mal-estar. Discutem o fenômeno do mal-estar na sociedade atual, embora abordem de maneiras diferentes.'' O mal-estar na modernidade é alimentado pela incessante necessidade de aprovação externa, resultando em uma sensação de vazio existencial apesar das conquistas materiais'' Dan Mena. Exploração do indivíduo: Esquadrinham brilhantemente como somos moldados pelas pressões sociais e culturais. ''A exploração do indivíduo nestes tempos, conforme evidenciada pela psicanálise, é uma manifestação da assimilação inconsciente de valores impostos pela sociedade, muitas vezes relegando nossa autenticidade em prol da adaptação e aceitação social'' Dan Mena. Crítica à cultura consumista: Criticam a cultura do consumismo e seu impacto nas relações e na formação da identidade. ''Na nossa visão psicanalítica, a cultura consumista é criticada por fortalecer uma mentalidade narcisista e individualista, que mina os laços comunitários e contribui para a deterioração das relações interpessoais autênticas'' Dan Mena. Análise da alienação: A abstração é o sentimento de desconexão que muitos experimentam na sociedade atual. ''A investigação que fazemos na psicanálise, evidencia como a falta de integração dos diversos aspectos da psique pode gerar um sentimento de estranheza em relação a si e ao mundo'' Dan Mena. Discussão sobre a liberdade: Abordam a noção de independência, autonomia, emancipação, livre-arbítrio individual e como ela é limitada e distorcida na atualidade. ''A discussão sobre a liberdade vai além da mera ausência de restrições externas, abrangendo também a capacidade de nos libertarmos das amarras internas do passado e das ilusões que nos impedem de viver de forma autêntica e realizada'' Dan Mena. Exame da felicidade e satisfação pessoal. Discutem as fontes de felicidade e contentamento pessoal em uma sociedade marcada pela incerteza. ''O exame que faço da felicidade e a satisfação pessoal é, um convite para uma jornada de autoconhecimento e autodescoberta, reconhecendo que a verdadeira realização reside na aceitação plena de nós mesmos, com todas as nossas contradições e imperfeições'' Dan Mena. Abordagem crítica da cultura: Postulam uma abordagem depreciativa à cultura dominante e às suas normas e valores implícitos. ''Fazer uma abordagem crítica da cultura, é, para mim, enfatizar a necessidade de questionar as normas e valores dominantes, buscando assimilar como podem se perpetuar nas relações de poder e reproduzir de alguma forma às injustiças sociais'' Dan Mena. Ênfase nas relações sociais: Destacam a importância das relações inter-sociais na formação da identidade e no bem-estar emocional. ''As relações sociais representam um componente essencial para o desenvolvimento emocional saudável, proporcionando um espaço para expressão genuína, compreensão mútua e apoio recíproco'' Dan Mena. Discussão sobre a natureza do amor. Inquirem abertamente a natureza do amor e das relações afetivas em um mundo caracterizado pela instabilidade e transitoriedade. ''A natureza do amor, como um processo natural de busca por intimidade e conexão, refletem não apenas nossos desejos conscientes, mas também, necessidades emocionais profundas'' Dan Mena. Análise da ansiedade e do medo. Analisam a ansiedade e o medo que permeiam a vida moderna e suas causas subjacentes. ''A ansiedade e o medo nos direcionam a averiguar os mecanismos psicológicos pressupostos, contidos e ocultos nessas emoções, destacando que podem surgir como uma resposta a ameaças reais ou mesmo imaginárias'' Dan Mena. Exploração do conceito de civilização: Revisitam o conceito de civilização e suas implicações para o indivíduo e a sociedade na totalidade. ''A essência da concepção civilizatória moderna nos leva a meditar sobre os embates intrínsecos entre os nossos impulsos mais primitivos e as demandas da vida em sociedade, revelando grandes ambiguidades existentes na nossa condição'' Dan Mena. Crítica à racionalidade excessiva: Desaprovam a ênfase excessiva na racionalidade e no progresso material em detrimento das necessidades emocionais e espirituais. ''À racionalidade excessiva contemporânea, impõe a urgência de que valorizemos a singularidade de cada indivíduo, nos afastando de uma visão estreita e uniformizadora da experiência singular'' Dan Mena. Discussão sobre o papel do Estado: Discutem o papel do Estado na regulação da vida social e suas limitações na promoção do bem-estar da sociedade. ''O rol do Estado é uma oportunidade para interpretarmos como as estruturas de poder e autoridade afetam não apenas a organização da sociedade, mas também a subjetividade e a saúde mental dos cidadãos, exigindo uma abordagem sensível e integradora'' Dan Mena. Análise da violência e da agressão. Examinam as raízes da violência e da agressão na sociedade contemporânea e suas manifestações individuais e coletivas. '' Sob a ótica clínica, devemos também compreender a violência e a agressão como expressões simbólicas de angústia emocional e desequilíbrios psicológicos laterais, demandando abordagens terapêuticas sensíveis e integrativas'' Dan Mena. Crítica à cultura do individualismo: Centram críticas a cultura do individualismo e egoísmo que caracteriza os dias atuais. ''Realizar críticas à cultura do individualismo, impõe incluir a necessidade de equilibrar a autonomia individual com a interdependência social, reconhecendo a importância das relações interpessoais para o bem-estar psicológico do indivíduo'' Dan Mena. Reflexão sobre a mortalidade: Discursam sobre a natureza da necrologia e suas implicações para a vida em sociedade. ''Refletir sobre a finitude da vida não é apenas aceitar o fim dela, mas também, poder encontrar significado e plenitude na vida, transformando nossa relação com a morte em uma fonte de sabedoria e gratidão'' Dan Mena. Abordagem interdisciplinar: Adotam uma abordagem interdisciplinar, combinando insights da psicanálise, sociologia, filosofia e outras disciplinas para entender os desafios contemporâneos. ''Na perspectiva psicanalítica, uma abordagem multi clinica não apenas aprimora a nossa compreensão dos transtornos mentais e das dinâmicas sociais, senão que enriquece as intervenções terapêuticas e promove um diálogo mais amplo e inclusivo sobre as questões relacionadas à saúde mental e ao bem-estar psicossocial dos pacientes” Dan Mena. Proposta de alternativas: Apesar de suas críticas à sociedade atual, oferecem reflexões sobre possíveis alternativas e caminhos de futuro para a transformação social e pessoal. ''Ao propormos alternativas para a vida moderna, na psicanálise ressaltamos a importância da conexão com a criatividade, da expressão artística e do contato com a natureza como elementos essenciais para nutrir a alma e restaurar o equilíbrio emocional em um mundo cada vez mais tecnológico e frenético'' Dan Mena. Dualidade de Pensamentos Embora abordem temas distintos e empreguem metodologias diferentes, Freud e Bauman compartilham uma preocupação comum com a condição humana e a sociedade moderna. Ambos os autores reconhecem as tensões entre o indivíduo e a sociedade, bem como os efeitos corrosivos da racionalidade excessiva, do consumismo desenfreado e da fragmentação social. Enquanto Freud se concentra nos conflitos intrapsíquicos e na dinâmica das relações sociais, Bauman amplia o escopo da análise para incluir as dimensões políticas, econômicas e culturais da vida contemporânea. No entanto, ambos convergem em sua crítica à alienação, à ansiedade e ao vazio existencial gerados pelo desenraizamento e pela desorientação da modernidade líquida. ''A carência existencialista que nos habita, pode ser transformada em uma jornada de autoexploração e crescimento pessoal, por meio do processo terapêutico analítico, que permite ao indivíduo reconhecer e integrar suas necessidades mais profundas'' Dan Mena. O Papel da Psicanálise na Conscientização. Como um campo plurifacetado estuda às complexidades da mente, desempenha logo um papel crucial na promoção da conscientização e na catalisação da mudança social. Através das lentes teóricas de figuras proeminentes como Jacques Lacan, Carl Jung e Melanie Klein, podemos ampliar e compreender a sua importância e abordagem na busca por uma sociedade mais justa e compassiva. ''O papel da psicanálise na conscientização vai além do consultório terapêutico, o fazemos extensivo à sociedade como um todo, ao desafiar padrões culturais e sociais arraigados, e ao fomentar um pensamento crítico e reflexivo sobre questões fundamentais da existência'' Dan Mena. Contribuições de Lacan. Influente psicanalista francês, destacou a interconexão entre a psique individual e a estrutura social mais ampla. Para Lacan, o sujeito é formado por meio do complexo processo de identificação com as normas e valores culturais dominantes, que por sua vez moldam as dinâmicas sociais e políticas. Seu conceito de “o outro” como agente formador da identidade ressalta a importância das relações interpessoais na construção do self. Assim, as teorias lacanianas fornecem uma base sólida para compreender como as questões individuais se entrelaçam com questões sociais, impulsionando a mudança em níveis múltiplos. ''A estrutura social não apenas molda os processos psicológicos individuais, mas também é moldada por eles, criando um ciclo dinâmico onde as percepções, emoções e comportamentos individuais se entrelaçam com o contexto sociocultural'' Dan Mena. Perspectivas Junguianas. Carl Jung, por sua vez, enfatizou a importância da individuação, o processo pelo qual o indivíduo íntegra aspectos inconscientes de si para alcançar um estado de totalidade psíquica. Em suas visões, a sociedade reflete o estado coletivo da psique e vice-versa. Ao explorar os mitos, símbolos e arquétipos presentes na cultura, Jung ofereceu uma compreensão profunda das forças subjacentes que impulsionam a mudança social. Ele nos lembra que a transformação individual é intrinsecamente ligada à transformação coletiva, sugerindo que a cura psicológica e a evolução social são processos interdependentes. ''A importância da individuação como uma jornada de diferenciação e autonomia, permite ao indivíduo se distanciar das influências externas e dos padrões sociais preestabelecidos, se tornando mais autêntico em sua essência'' Dan Mena. Melanie Klein, por uma Sociedade mais Equilibrada. Klein, se concentrou na compreensão das dinâmicas emocionais desde os estágios mais precoces da vida. Suas teorias sobre o desenvolvimento infantil e a importância das relações primárias na formação da personalidade nos oferecem conceitos valiosos sobre as raízes psicológicas das desigualdades sociais e injustiças. Ao explorar os processos de introjeção e projeção. Desta forma ilumina como os traumas individuais podem se manifestar em dinâmicas sociais prejudiciais, incluindo opressão e marginalização. Assim, suas contribuições ressaltam a necessidade de abordar não apenas as questões externas, mas também as internas, na busca por uma sociedade mais equilibrada e justa.''Ao reunirmos às necessidades de percorrer origens dinâmicas emocionais desde a infância do indivíduo, entendemos que as experiências de vinculação e apego na primeira infância estabelecem os alicerces dos padrões emocionais e de relacionamento na maturidade e ao longo da vida'' Dan Mena. Estratégias para Enfrentar os Desafios Contemporâneos. A psicanálise oferece uma variedade de estratégias para promover a conscientização e a mudança social. Através da psicoterapia individual e de grupo podemos explorar e transformar padrões de pensamento arraigados que contribuem para a perpetuação de injustiças. Além disso, a psicanálise política e a aplicada à cultura, fornecem ferramentas para analisar e intervir nas estruturas sociais que perpetuam a desigualdade e a opressão. A promoção da empatia, da compaixão e do diálogo aberto, também são componentes essenciais na construção da sociedade sensata. Vislumbramos, então, possíveis caminhos para reconciliar as tensões e contradições do mundo, sejam das instituições quanto da comunidade, na construção de um futuro mais sustentável e emocionalmente saudável para todos. ''A psicanálise visa identificar os mecanismos de defesa e as distorções cognitivas que perpetuam padrões disfuncionais, oferecendo introspecções, para desafiar e reestruturar os pensamentos de forma mais adaptativa e saudável'' Dan Mena. Ao poema; Fluidez Urbana - por Dan Mena. No fluir das ruas, na cidade imensa, Ondas de concreto, vida que dispensa, Raízes profundas, em solo baldio, Na modernidade líquida, há muitos desafios. Relações tão ágeis, como correntezas, Emaranhado de redes, entre muitas mesas, Afetos que passam como ventanias, Na liquidez do tempo, floresce a agonia. Em cada esquina, uma nova conexão, Virtualidade da tela que domina, Laços que se estreitam e logo terminam, Fluidez do mundo, onde relações se esvaziam. Marinheiros solitários em mares digitais, Nas profundezas da tela, desafios banais, Vidas que se entrelaçam, a agua desfaz, Na era líquida, tudo é urgente, fugaz. Em cada esquina, histórias se cruzam, Vidas e destinos se conduzem, Mas na multidão o vazio persiste, A fluidez do tempo, a alma não resiste. Assim seguimos, navegantes sem rumo, Em um mar de incertezas, em constante prumo, Da contemporaneidade nascemos espectadores? Vivendo num mundo sem amarras, sem valores. Até breve , Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.
- Vaidade.
A vaidade produz a hermenêutica da regra social atual, ou seja, a interpretação permanente, onde fica a todo instante esta característica surgida no renascimento e estimulada habilmente hoje pelo mundo capitalista, como a necessidade de sermos únicos e especiais, fortes, quase Deuses. A vaidade produz a hermenêutica da regra social atual, ou seja, a interpretação permanente, onde fica a todo instante esta característica surgida no renascimento e estimulada habilmente hoje pelo mundo capitalista, como a necessidade de sermos únicos e especiais, fortes, quase Deuses, onipresentes a nosso narcisismo contemporâneo. Queremos eliminar a falha, não dar lugar a tristeza, nem consentimos que possamos falhar sexualmente, porque tem o azulzinho. Não admitimos a angústia, porque podemos dar mão de auxílios químicos, com inibidores seletivos que simplesmente congelam superfluamente que vivamos os necessários fracassos, nos transformando em zumbis ambulantes. O intuito e barrer àquelas experiências de antigamente, conhecidas como tônicas fundamentais da vida, fortalecedoras do caráter, que estimulavam o crescimento e nos colocavam no caminho do aprendizado. Não tem mais espaço para a queda, subir a montanha deve ser sem tropeços, porque eu não suporto a dor, a todo instante e essa personalização que aumenta com a sensação de urgência, acompanhados da inseparável e absoluta vaidade, que há muito tempo deixou de ser um defeito, e passou a ser uma virtude sólida, talvez, o atributo mais esperado de todos. O novo nome da existência humana é a super autoestima, zero crítica, mal-estar e choro, não podem nos coabitar, a qualquer custo devem ser eliminadas, mais conviver com essas coisas que animaram e impulsionaram a humanidade em tempos passados devem ser banidas para baixo do tapete. Para evitar os desprazeres, não consertamos mais coisas, muito menos restauramos as relações afetivas, agora é mais fácil trocar, achincalhar a calça, sapato, celular, computadores. Substituir as pessoas por outras, cancelar ficou mais prático, vamos transfazendo a dor do desgaste pela vaidade da novidade, pois ao intercalar minhas relações, posso me re-iniciar, acredito imediatamente em estar me tornando alguém mais interessante, e não percebo que aquele espelho, espelho meu… continua sendo o drama da minha ufania. Não tolero a pessoa anterior, porque provavelmente ela me mostrou que estou envelhecendo, que o tempo não pára, ou não consigo ser verticalmente interessante. No arcabouço que construí, na minha capsula de presunção, o novo pode ser melhor manipulado, explorado com mais facilidade, o quanto aspiro ser interessante, excitante, apaixonante, e assim permanecer nessa gangorra de fantasias que, no fundo, fragilizam nossas habilidades e nos adoecem. Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
- O Carnaval.
Historicamente, às primeiras pessoas a desfrutar do Carnaval foram os camponeses sumérios que, mesmo antes de Cristo, se reuniram disfarçados e mascarados diante de fogueiras para celebrar a fertilidade da terra, para afastar os espíritos malignos da colheita. Historicamente, às primeiras pessoas a desfrutar do Carnaval foram os camponeses sumérios que, mesmo antes de Cristo, se reuniram disfarçados e mascarados diante de fogueiras para celebrar a fertilidade da terra, para afastar os espíritos malignos da colheita. Mais adiante, na sua origem romana, a festa foi contextualizada sob uma premissa religiosa, como uma celebração específica de vários países cristãos, que mais tarde se espalhou para aqueles que não eram. Nasceu, então, em associação com a Quaresma, uma vez que durante ela, todas as atividades lúdicas deviam ser suprimidas. O carnaval, portanto, se estrutura como uma concentração de atividades recreativas que dão lugar imediato, antes da Quaresma, que começa com a quarta-feira de cinzas. Apesar da sua inclusão no calendário litúrgico romano, nunca foi uma festa amiga dos católicos, pouco tolerada pelo catolicismo, hoje, altamente criticada pelos protestantes, se encontrou sujeita a infinitas restrições, era algo assim; como um filho não desejado da religião. Existem diferentes versões da origem da palavra carnaval, tais como a do latim ''Carnevale'', que significa o adeus à carne, aquela que não será consumida durante os próximos 40 dias, antes da Páscoa. A sua origem remonta aos festivais pagãos celebrados pelos romanos e gregos, tais como Lupercales e Saturnalias, festivais em honra de Baco, (deus do vinho, da agricultura, da fertilidade e da folia na mitologia romana, conhecido como Dionísio na mitologia grega). Estas, eram festas rituais, que culminavam em excessos de comida, bebida e luxúria, como uma atuação profana, que acolhia privações religiosas e às tradições romanas que sobreviveram, e se tornaram famosas na cultura renascentista Europeia. Faziam parte das comemorações, danças de salão, onde eram utilizados trajes, máscaras ou disfarces, pessoas de todas as classes sociais podiam frequentar e misturar-se. Estas formas de celebração chegaram à América através da conquista, vale dizer, que tais celebrações não são exclusivas do Brasil, pois se desenvolveram em várias partes da América Latina e Central. No entanto, um segundo elemento entra em jogo na tradição carnavalesca brasileira, é a influência africana, com a introdução das danças e do Samba, como elementos da sua base musical e rítmica. Como uma tradição partilhada coletivamente, em que pular, dançar e ocupar as ruas são a base da celebração. Assim, Eros, que; (Significa “desejar com muito amor”, inclui o “erótico” e o “erotismo” têm origem no nome desse deus). Na psicanálise. Eros representa o desejo sexual e a paixão, que será convocado a expandir sua potência, abrindo espaço para chistes, risos, sexualidade e fantasias, para lidar com às tensões pós-modernas, tornando-as possíveis de serem libertas, sem demasiadas opressões. O carnaval no Brasil, (a diferença de outros, como no meu país, Uruguai, onde existe uma parte dele realizado no palco, preparado para às "Murgas", não é um espetáculo teatral realizado em palanques convencionais com grupos, atores e espectadores, o carnaval brasileiro foi feito para o povo, essencialmente vivido na rua, onde encontra seu ''habitat''. Durante o carnaval não há outra vida, é impossível escapar, porque ele não tem fronteiras espaciais. O modelo não é apenas performativo nas esquinas, pois qualquer lugar pode torna-se imediatamente um cenário aberto, não convencional, tudo está para acontecer ou prestes a começar. O mundo contemporâneo, exibe uma vasta gama dos seus contextos em formas de celebração. Poderíamos entender isso como uma prática invocada para estabelecer uma condição afetiva, caracterizada por um elevado nível de humor, tendo a função de servir como um ingresso, um bilhete temporário, eficaz para os sujeitos contemporâneos, tentando fugir ao desconforto de viver na cultura. Freud, em ''O mal-estar na cultura'', o enuncia como diferentes formas de satisfação. De fato, o carnaval funciona hoje como um passaporte, uma espécie de promessa de um final feliz. O tema do excesso intrínseco, a ingestão de bebidas alcoólicas, drogas, agressividade, sexo casual e obscenidades, tudo em nome da luxúria e da libertação da seriedade, onde o corpo, é o laço responsável pelo seu transbordamento. Então o corpo… será que o corpo é outro no carnaval? Ou do passado, o ideal, dos deuses, o intra-uterino, o imortal, da máxima beleza, do perfeito, melancólico, o que cai e sofre, o das palavras insuficientes, que não dão conta de preencher nossos vazios? Na histeria, o sujeito encontra e inventa o seu território, o erógeno, que Freud descobre, onde o corpo, o seu próprio e o dos outros, é o tablado do drama humano. Em Totem e Tabu, Freud alude ao êxtase libertador que provoca: “Uma festa é um excesso permitido e mesmo ordenado, uma violação solene de uma proibição”. Mas o excesso, não depende do humor alegre dos homens (…), mas reside na natureza da própria festa, e a alegria, produzida pela liberdade de fazer o que em tempos normais seria estritamente proibido”. O carnaval caracteriza-se por uma espécie de divisão esquizoide da personalidade, como alguém que se torna outra coisa, sujeito ou algo que não é, mas que expressa emoções, impulsos instintivos que na sociedade e a condição pessoal do seu papel, onde o estatuto social não permite que sejam expressos sem restrições. Portanto, máscaras, nudez, sensualidade, fantasia e disfarce permitem, por exemplo, que uma pessoa cuja vida é vivida com moderação, prudência e contenção, se torne momentaneamente licenciosa, abstrata e fora das (regras). As próprias máscaras, menos utilizadas atualmente, são uma expressão de instintos reprimidos, agressividade, ódio, ira, emoções e sentimentos lascivos e depravados, retidos no inconsciente de multidões, agravados por uma diversidade de frustrações. Tudo como um jogo de simbolismos, que muitas vezes fingem ser inocentes e ingênuos. O Carnaval sempre foi um lugar para questionar a norma, o padrão, a forma habitual de viver. Este reflexo da sociedade, que no passado questionava temas tabu, como a nudez e a sexualidade, está hoje enfraquecido no sentido religioso e reforçado na direção da espetacularização, uma vez que o ator e o espectador já não são figuras permutáveis, mas cada um ocupa um lugar com um espírito insolente, mantido em grupos que se organizam para participar. O verdadeiro sentido mítico, que ainda conserva alguma autenticidade, uma vez que ainda subsistem comunicações pessoais não mediatizadas. Por outro lado, o carnaval carioca é exclusivo, com a sua espetacular exibição de recursos e a exportação de imagens transmitidas a milhões de pessoas em todo o planeta, que assistem sua musicalidade, arte, cor, lascívia e calor que às escolas de samba proporcionam. Mas este evento único, típico da cultura, tornou-se um produto globalizado, onde suas estruturas e estilos foram imitados por sociedades cujos interesses oficiais privilegiaram imposições da indústria cultural e turística. Tal transformação varreu a estrutura mais genuína do carnaval tradicional, no qual o povo era protagonista do seu circuito, embora o seu espírito não tenha sido completamente enterrado, sobrevive em diferentes práticas locais. A indústria cultural transformou este modelo num produto, esvaziando o seu significado mítico, o carnaval, foi sendo transformado num artigo, uma mercadoria de consumo, onde o folião já não é o protagonista, mas é relegado ao plano de freguês, com ingresso, camarote, telão, carro elétrico, celebridade, o papel mais relevante foi repassado ao da cultura visual. Como a festa, em muitos lugares, foi substituída por uma pasteurização. Outrossim, esta série de mitos e ritos aqui transmitidos com uma certa precariedade, pela objetividade necessária a escrita, onde caberiam um sem número de anotações na esfera histórica. Uma característica primordial e invariável não pode deixar de ser dita, o carnaval vai do cômico ao trágico, da sua morte à sua ressurreição, do agradável ao repelente, do místico ao atual, do próximo e querido ao odiado. Em qualquer caso, seja como for representado, abre uma fissura festiva, jocosa, cíclica e eternamente precária. De um ponto de vista psicanalítico, o Mito, onde sua ordem simbólica têm uma unidade constitutiva, o Significativo, adquire valor em virtude da sua relação com os outros elementos significantes de um sistema simbólico. Sob uma postura Lacaniana, é o mito uma história, que implica uma relação singular com algo imutável por detrás da sua execução, mas enunciado por via de um discurso, que não sabe o que diz e não diz o que sabe, porque faz parte dessa realidade. Este algo imutável, alude à própria inércia do ser humano para subverter a ordem estabelecida na busca do objeto que satisfaça o seu desejo. O Sujeito, deseja a Coisa Freudiana, sob um discurso incoerente que a/o invista com o manto dos deuses. O desejo que nos constitui, que conduz à lógica da insaciabilidade, busca da plenitude, seguida da infelicidade e insatisfação, um jogo de simulação, que quer contrariar a decepção, que exige sempre seu anseio por uma completude impossível. Os diferentes caminhos do homem envolvem sempre o mesmo cruzamento. Este anseio de preenchimento, de chegar a um prazer absoluto improvável, sempre procurado no reverso da humanidade, pois a sua civilidade, ciência, política, religião, sociedade e cultura, tendem para a uniformidade, robotização do mundo, onde só podemos esperar pela aniquilação do sujeito. Em tempos em que a pergunta se torna angústia, e a resposta pode ser puro delírio, como diria Carlos Drummond de Andrade: “O povo toma pileques de ilusão com futebol e carnaval. São estas às suas duas fontes de sonhos.” Então eu me pergunto? Será que no carnaval… tiramos ou colocamos às máscaras? É como sempre, gosto de finalizar com um poema, que entendo retrata um pensamento, que nem sempre nos representa, mas é humano. A nossa vida é um carnaval A gente brinca escondendo a dor E a fantasia do meu ideal É você, meu amor Sopraram cinzas no meu coração Tocou silêncio em todos os clarins Caiu a máscara da ilusão Dos Pierrôs e Arlequins Vê colombinas azuis a sorrir Vê serpentinas na luz reluzir Vê os confetes do pranto no olhar Desses palhaços dançando no ar Vê multidão colorida a gritar Vê turbilhão dessa vida passar Vê os delírios dos gritos de amor Nessa orgia de som e de dor. Poema Turbilhão - Moacyr Franco Bom carnaval! Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Palavras Chaves: #Carnaval, #CamponesesSumérios, #Fertilidade, #Fogueiras, #EspíritosMalignos, #Colheita, #Celebração, #Religião, #Cristãos, #Quaresma, #QuartaFeiraDeCinzas, #Litúrgico, #Catolicismo, #Protestantes, #Restrições, #Carnevale, #FestivaisPagãos , #Lupercales, #Saturnalias, #Baco, #Dionísio
- O que é Autismo? Sintomas, Sinais e Tratamento Explicados de Forma Clara.
TEA na Contemporaneidade: Reflexões Psicanalíticas e Desafios Sociais. “O autismo revela a beleza da nossa diversidade.” Dan Mena. O autismo, como o compreendemos hoje, surgiu pela primeira vez de forma sistemática através do trabalho inovador de Leo Kanner. Este psiquiatra austríaco, que se estabeleceu nos Estados Unidos, apresentou um marco essencial na compreensão do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em 1943. Em seu artigo intitulado “Autistic Disturbances of Affective Contact”, contribuiu com observações meticulosas de um grupo de crianças que apresentavam comportamentos inovadores e enfrentavam dificuldades extraordinárias nas interações sociais. Com essa pesquisa, ele não apenas redefiniu o termo “autismo” dentro do campo psiquiátrico, mas também moldou um padrão comportamental que incluía o isolamento social, interesses restritos e uma resistência marcante a mudanças. Com seu trabalho, destacou um distúrbio significativo na capacidade natural de se relacionar com o mundo social, revelando um impressionante desinteresse nas interações. Essa percepção inicial destacou o hermetismo do autismo, evidenciando que essas crianças não apenas se afastavam da socialização convencional, mas que opostamente tinham uma forma única de interagir e compreender o mundo ao seu redor. À medida que essa caminhada de descobertas do autismo continua a se desdobrar, ela se torna autenticamente pessoal para muitas famílias, incluindo a minha. A condição de Davi, meu neto autista, nos ensinou a celebrar as pequenas vitórias — um sorriso radiante, uma nova palavra ou uma participação significativa. Esses momentos, muitas vezes, passam despercebidos na correria do cotidiano, mas para nós, cada um deles é uma conquista que merece ser celebrada. Aprendemos que, de uma maneira única, cada progresso é um testemunho da resiliência e da capacidade de Davi se superar. Minha filha e meu genro têm sido pilares gigantes nessa jornada, demonstrando uma dedicação admirável a Davi, e transformando seu amor em uma missão ainda maior. Como professores de educação física, eles idealizaram e implementaram o projeto “As Estrelas de Davi” , um programa de atividades aquáticas inclusivas que visa criar um ambiente acolhedor e respeitoso para crianças com TEA. Essa proposta, que agora se concretizou brilhantemente como uma realidade de sucesso, simboliza o esforço coletivo para derrubar barreiras e preconceitos, oferecendo a outras famílias um caminho de esperança e empoderamento para seus filhos. No projeto, fornecem um espaço seguro para as crianças, que também funcionam como uma plataforma de aprendizado e transformação. Davi agora, não é apenas uma fonte de inspiração para nós; ele se tornou um farol que guia a prática e a transfiguração para muitas outras crianças e suas famílias. Por meio deste programa, estamos todos contribuindo para uma visão de mundo mais abrangente, onde cada criança, independentemente de suas condições, possam prosperar e serem aceitas na sua natureza particular. Essa experiência coletiva molda nossa missão familiar, promovendo um entendimento mais profundo e empático sobre o autismo na sociedade contemporânea. Ao olharmos para Davi, vemos não apenas um menino no espectro, mas um indivíduo completo, repleto de sonhos, interesses e uma essência que enriquece nossas vidas e a de muitos outros. Assim, convido todos a refletirem sobre a importância da integração, do afeto e do amor, comemorando as diversidades que enriquecem nosso convívio. Que esta leitura possa inspirar outros a se unirem, promovendo um futuro de afirmação e valorização. Boa leitura. Como uma condição neurodesenvolvimental afeta significativamente a capacidade de comunicação e interação social. A diversidade de manifestações do autismo é ampla, o que justifica a inclusão da palavra "espectro" no nome. Os sinais de TEA podem surgir nos primeiros anos de vida e geralmente incluem dificuldades em manter contato visual, atraso no desenvolvimento da fala, interesses restritos e repetitivos, além de uma forte resistência a mudanças na rotina. No entanto, sua apresentação é variada, com alguns indivíduos demonstrando habilidades cognitivas avançadas em áreas específicas, enquanto outros enfrentam desafios mais severos. Avaliação e Diagnóstico O diagnóstico do autismo requer uma avaliação clínica detalhada e multidisciplinar, que inclui observações comportamentais e, em alguns casos, testes neuropsicológicos. Esse processo envolve uma equipe de profissionais, como pediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Devido à ampla variação na manifestação dos sintomas, o diagnóstico pode ser desafiador, mas é crucial para garantir que os indivíduos recebam o apoio necessário desde cedo. Sua complexidade demanda uma abordagem integrativa. Intervenções baseadas em evidências, como a Análise Comportamental Aplicada (ABA), são amplamente utilizadas para melhorar as habilidades de comunicação e socialização, bem como promover o desenvolvimento emocional e cognitivo. Terapias ocupacionais e fonoaudiológicas também são comuns para auxiliar no progresso do desenvolvimento. A intervenção precoce é fundamental para maximizar o potencial de desenvolvimento dos portadores. A psicanálise também oferece uma perspectiva valiosa na sua compreensão. "O diagnóstico do autismo exige uma abordagem colaborativa entre diversos profissionais, uma vez que cada caso revela nuances únicas de comportamento, exigindo um olhar sensível e detalhado." Dan Mena. Um legado Contemporâneo para o Autismo desde a Psicanalise. Frances Tustin foi uma psicoterapeuta infantil britânica que fez contribuições significativas ao campo da psicanálise aplicada ao autismo. Seu trabalho se destacou especialmente por desenvolver a teoria do "encapsulamento autístico" . Em sua proposta observou que as crianças autistas, confrontadas com um mundo sensorial avassalador e confuso, desenvolviam um "encapsulamento" como mecanismo de defesa. Essa bolha comportamental se refere a um "mundo interior" que a criança desenvolve para se proteger dos estímulos externos que são percebidos como ameaçadores ou excessivos. Esse comportamento resulta em respostas e condutas determinantes, como evitar o contato visual, apegos a rotinas específicas e o engajamento em atividades repetitivas. Poderiam ser então uma resposta a uma percepção sensorial opressora do mundo ao redor?. As crianças, na tentativa de regular essas experiências, desenvolvem comportamentos que ajudam a criar uma barreira protetora entre elas e o ambiente externo. Em suas sessões de terapia, ela adotava uma abordagem empática, buscando entender as necessidades emocionais das crianças, e acreditava que, ao fornecer um ambiente previsível, os terapeutas poderiam ajudar as crianças a reduzir suas defesas e a se engajar mais plenamente com o mundo social. "O encapsulamento autístico, conforme proposto por Frances Tustin, é um refúgio silencioso onde uma criança tenta proteger-se de um mundo que invade seus sentidos com intensidade desmedida." Dan Mena. Esse legado importante de Tustin continua a ser relevante nos dias de hoje. Seu trabalho ajudou a mudar a percepção do autismo de uma condição meramente patológica para uma outra que envolve uma gama complexa de experiências sensoriais e pungentes. Sua abordagem empática e centrada na criança continua a inspirar terapeutas e educadores, e criar ambientes que respeitem e valorizem as diferenças individuais. "A teoria de Tustin transforma radicalmente o entendimento do autismo, revelando que, por trás do aparente isolamento e retraimento, há uma tentativa vital de criar um escudo contra estímulos sensoriais que são percebidos como insuportavelmente intensos e desorganizados, forçando a criança a se proteger por meio de mecanismos defensivos que permitem uma interação mínima com o mundo externo, preservando sua integridade emocional e cognitiva." Dan Mena. A teoria das "mães geladeiras". Proposta por Bruno Bettelheim, é uma das explicações psicanalíticas mais controversas sobre a origem do autismo infantil. Ela sugeria que as mães de crianças autistas eram emocionalmente frias e distantes, o que contribuía para o desenvolvimento do autismo nos filhos. Essa ideia surgiu entre as décadas de 1940 e 1960 e foi amplamente discutida. Bettelheim argumentava que o comportamento das mães, caracterizado por uma falta de afeto e conexão emocional, poderia ser um fator desencadeante do autismo. Ele descreveu essas mães como "geladeiras" porque supostamente tratavam seus filhos com uma frieza que impedia o desenvolvimento emocional adequado. Em seu livro "A Fortaleza Vazia" ("The Empty Fortress"), ele chegou a afirmar que o desejo dos pais de que seus filhos não existissem era um fator precipitante do autismo. "A teoria das 'mães geladeiras' revela não apenas uma falha crítica da psicanálise clássica, mas também uma tendência prejudicial de culpabilizar as mães, perpetuando estigmas que desumanizam a experiência materna e obscureceram a verdadeira complexidade do autismo." Dan Mena. Essa visão gerou um estigma significativo em relação às mães de crianças autistas, levando a uma culpa injusta sobre suas habilidades parentais. A partir da década de 1970, essa teoria foi amplamente contestada e desacreditada, especialmente com o avanço de pesquisas que destacavam fatores genéticos e neurológicos como causas do autismo. O movimento de neurodiversidade, surgido nas últimas décadas, também criticou a abordagem psicanalítica, enfatizando que o autismo deve ser visto apenas como uma variação natural da condição do ser, ao invés de uma patologia a ser curada. Representou um momento histórico na compreensão do tema, refletindo as limitações da psicanálise na época. Embora tenha sido uma tentativa de explicar um fenômeno complexo, suas implicações negativas para as mães e a percepção pública do autismo levaram a um afastamento dessa visão em favor de abordagens mais inclusivas e baseadas em evidências científicas contemporâneas. "Embora a intenção de Bettelheim fosse entender o autismo, sua teoria refletia uma época em que a psicanálise priorizava explicações simplistas e morais, em detrimento de uma análise mais rica e multidimensional que a condição realmente exigia. Ele ignorou fatores neurológicos, genéticos e ambientais que afetam papéis cruciais na experiência vívida por indivíduos autistas." Dan Mena. Winnicott e o Ambiente como Facilitador da Subjetividade Infantil. Não posso deixar de me remeter à visão de Winnicott sobre o autismo e o desenvolvimento infantil, que amplia a compreensão sobre como o ambiente molda a subjetividade de uma criança. O conceito de “mãe suficientemente boa” sublinha a importância da resposta adequada às necessidades emocionais do bebê, sem a pressão de perfeição, mas com sensibilidade e presença. A falha nesse ambiente, especialmente nas fases iniciais da vida, pode gerar defesas emocionais, como estados autísticos, que protegem a criança de ansiedades intoleráveis. O ambiente sustentador ou “holding” — como base teórica — reflete a importância da segurança emocional fornecida pela figura materna e pelo ambiente em geral. Este espaço de acolhimento não é apenas para atender necessidades imediatas, mas também para permitir que a criança explore suas emoções e experimente o seu próprio desenvolvimento. "O autismo é uma forma singular de explorar o mundo, não um déficit." Dan Mena. O “holding” na prática clínica pode ser entendido como mais do que uma resposta física. Na verdade, é um ambiente emocional onde as ansiedades primitivas podem ser contidas. Para crianças com autismo, onde a dificuldade de comunicação pode complicar o processo de expressão emocional, esse tema se torna ainda mais relevante. Um espaço terapêutico eficaz pode focar não apenas em decifrar comportamentos simbólicos, mas também em proporcionar um ciclo de suporte constante, físico e emocional, facilitando o progresso da identidade e das capacidades afetivas. A transferência, neste contexto, não se limita à interpretação, mas envolve a criação de um vínculo emocional entre o analista e o paciente, possibilitando um espaço de sustentação para o crescimento. "O 'holding' é um abrigo emocional contra ansiedades primitivas." Dan Mena. Esse tipo de abordagem também valoriza interações não-verbais, fundamentais no tratamento do autismo. A capacidade de construir laços sensoriais, por meio do toque ou da presença física, ganha relevância. Intervenções como terapia assistida com animais reforçam essas conexões, exemplificam portanto o conceito winnicottiano de um ambiente suficientemente bom, onde o paciente autista pode encontrar segurança e desenvolução. A ideia da “mãe suficientemente boa” também se aplica no contexto da terapia, onde o terapeuta assume um papel que vai além da interpretação para se tornar uma figura presente e disponível, facilitando a adaptação emocional da criança. Essa mãe “suficientemente boa” não precisa ser perfeita; ela precisa ser adequada e flexível às necessidades, o que, no caso do autismo, significa entender e adaptar-se à forma singular de expressão e interação. Winnicott também sugeriu que os pais ''inventam''. Essa visão nos convida, como psicanalistas, a expandir interpretações e ir além das normas. A psicanálise, nesse sentido, se torna uma ferramenta para dar voz ao que é inefável, permitindo que o sofrimento ou a singularidade do paciente seja compreendido de uma maneira nova. Como Freud destacou, a psicanálise é uma maneira de “dar voz aos que não podem falar” , uma missão que adquire um entendimento amplo no contexto do autismo, onde muitas vezes o sofrimento emocional não se expressa claramente. A contribuição também nos lembra de que a psicanálise deve considerar o ambiente no qual a mãe está inserida. O “ambiente suficientemente bom” não é apenas um fator individual, mas também reflete o apoio que uma mãe recebe da sociedade e de seus relacionamentos, o que, por sua vez, influencia sua capacidade de cuidar do bebê. Essa abordagem na rede de cuidados e nas relações mais amplas sugere que na clínica precisamos ir além do cenário tradicional e olhar para a totalidade das influências que cercam a criança autista. Entretanto, como qualquer abordagem terapêutica, ela apresenta desafios práticos. Ainda existe uma lacuna significativa na formação de profissionais de saúde psíquica, o que impede que muitos terapeutas programem eficazmente essas abordagens. Em sistemas de saúde que privilegiam modelos tradicionais e mais rígidos, a flexibilidade emocional e o suporte necessário para eles(as) muitas vezes não são contemplados especialmente. Portanto, uma mudança na mentalidade e uma formação contínua dos terapeutas são essenciais para que a abordagem winnicottiana possa ser aplicada em sua totalidade. "Para crianças autistas, o ambiente facilita a conexão sensorial." Dan Mena. O foco na potencialidade do bebê, uma visão que retira a abordagem de deficiência ou falha, ressignifica o desenvolvimento. Como Winnicott coloca, o bebê descobre a realidade em vez de criar, o que implica que o papel do ambiente é facilitar essa descoberta e permitir que ela explore o mundo ao seu ritmo. Este é um conceito libertador, ao propor que cada forma de ser, incluindo as formas de ser autistas, sejam válidas e plenas de sentido. Isso nos convida a ir além dos parâmetros tradicionais de normalidade e a considerar sua riqueza singular. “Dar voz ao sofrimento não dito” é o que a psicanálise faz de melhor. É o que permite surgir com novas formas de compreender a vida. Seguindo a ideia de Winnicott e sua aplicação na compreensão do (TEA), inclue um ponto essencial que envolve uma mudança de perspectiva: deixar de enxergar o autismo apenas como um déficit ou um distúrbio a ser corrigido, e sim como uma maneira singular de estar no mundo, com suas próprias potencialidades e formas interativas. "O ambiente terapêutico deve acolher tanto o dito quanto o não dito." Dan Mena. A Dimensão Sensorial do Autismo: Sensibilidade e Sobrecarga. O (TEA) é caracterizado por uma ampla gama de sintomas e comportamentos, sendo a ''hipersensibilidade sensorial'' uma das dimensões menos compreendidas. Esse prisma do autismo envolve como as pessoas no espectro percebem, processam e reagem aos estímulos do ambiente, o que pode variar enormemente de uma pessoa para outra. Alguns indivíduos podem ser extremamente sensíveis a sons, luzes, cheiros, sabores e texturas. Isso significa que determinados influxos que para a maioria das pessoas são comuns e inofensivos podem ser críticos para aqueles com autismo. Por exemplo, o som de uma sirene pode ser intolerável, uma luz fluorescente pode causar desconforto extremo, ou a textura de certos alimentos pode ser insuportável ao ponto de evitar a alimentação. Esta hipersensibilidade é muitas vezes descrita como descomedimento, onde os sentidos são amplificados e, em muitos casos, perturbadores. Segundo Temple Grandin, uma famosa cientista autista, "É como ter um amplificador em nossos sentidos, e é difícil lidar com todas as informações de uma só vez." Eles ocorrem quando a quantidade de provocações perceptuais recebidas pelo cérebro é excessiva e difícil de processar. Isso pode resultar em uma resposta de "luta ou fuga" , onde a única maneira de lidar com a energia das incitações é evitá-las completamente. Em situações de superabundância, comportamentos como se cobrir, fugir do local ou se isolar podem ser vistas como estratégias de enfrentamento. Para lidar com esses fatores, várias estratégias e intervenções podem ser adotadas. A Terapia de Integração Sensorial é uma abordagem comum que busca ajudar as pessoas a processar melhor ditos eventos. Essa terapia envolve atividades que podem ajudar a "organizar" o cérebro, de modo que as respostas aos motivadores se tornem mais reguladas. "Quando o cérebro é inundado por uma exorbitância sensorial, a resposta pode ser a busca por refúgio, ilustrando como os comportamentos de isolamento são, na verdade, estratégias de sobrevivência em um ambiente repleto de estímulos incômodos." Dan Mena. Outras estratégias incluem a criação de ambientes controlados, como salas de terapia sensitiva, onde compensações como luzes, sons e texturas podem ser ajustados para ajudar autistas a se sentirem mais confortáveis. Pais e educadores também podem aprender a identificar os gatilhos específicos e implementar ajustes, como o uso de fones de ouvido para bloquear sons altos ou óculos de sol para reduzir a exposição à luz intensa. Ao reconhecer ditas diferenças e adaptar os ambientes e interações, é possível reduzir o fardo sensório e promover um ambiente mais acolhedor. Além disso, essa compreensão pode ajudar a desmistificar comportamentos que muitas vezes são mal interpretados como resistência ou desinteresse, quando na verdade são respostas a uma experiência negativa do entorno. "Para os indivíduos no espectro autista, a hipersensibilidade pode ser comparada a viver em uma sinfonia descontrolada, onde cada nota, cada luz e cada textura se intensificam, tornando a harmonia da vida diária um desafio constante." Dan Mena. Construção da Identidade Pessoal no (TEA). A ''construção da identidade pessoal'' é um processo complexo e contínuo que envolve a formação de um sentido de si mesmo, englobando características, opiniões, valores e experiências. Esse processo é ainda mais intrincado, uma vez que é moldado por fatores e desafios únicos que influenciam não apenas a forma como se percebem, mas também como são percebidos pela sociedade. A formação da identidade em indivíduos autistas enfrenta desafios devido a várias dificuldades associadas ao enunciado, como problemas de comunicação, desafios na interação social e na compreensão das normas sociais. Essa articulação pode levar à percepção de ser "diferente", afetando profundamente a autoestima e a autoimagem. A Dra. Laura Meranda observa que; “os indivíduos autistas frequentemente enfrentam um dilema de identidade, onde precisam conciliar sua percepção interna de si mesmos com as expectativas e visões externas da sociedade” . Essa tensão interna pode resultar em sentimentos de isolamento e incompreensão, criando uma luta constante para o autoconhecimento e aceitação. Além disso, o dilema de identidade pode ser agravado por experiências de ''bullying'', discriminação e exclusão social, frequentemente relatadas por eles. A pressão para se conformar às expectativas sociais pode levar à internalização de uma autoimagem negativa, contribuindo para questões de saúde psíquica, como ansiedade e depressão. Assim, é primordial que os esforços para apoiar a formação da identidade deles sejam focados não apenas no desenvolvimento de habilidades sociais, mas também na promoção da aceitação. “À medida que os indivíduos autistas navegam por um mar de desafios sociais e emocionais, a promoção de um ambiente inclusivo se torna essencial para cultivar uma identidade que celebre suas diferenças e fortaleça sua autoestima.” Dan Mena. O Papel da Família. A família desempenha um papel vital na formação da identidade, núcleos familiares que criam um ambiente de liberdade, apoio e incentivo ajudam a fortalecer a autoestima. O suporte do laço deve incluir uma compreensão das suas particularidades, promovendo uma comunicação aberta e respeitosa. Um ambiente familiar que valide as experiências emocionais dos indivíduos autistas pode ajudar a mitigar os sentimentos de inadequação e solidão. Além disso, grupos de apoio e programas comunitários oferecem espaços onde indivíduos autistas podem se conectar com outras pessoas que compartilham experiências semelhantes. A inclusão em atividades escolares, esportivas e sociais proporciona oportunidades de autoexploração e crescimento, contribuindo para uma construção de identidade positiva e saudável. O papel da família, aliado ao suporte da comunidade, pode ser um fator determinante na formação de força e resiliência. Narrativas Positivas. A representatividade na mídia e na literatura são essenciais para a construção da identidade. Ver pessoas autistas retratadas de maneira autêntica ajuda a normalizar suas vivencias e promover uma autoimagem favorável. Isso permite que eles reconheçam que suas lutas e triunfos são válidos e fazem parte de uma comunidade mais ampla. A ativista autista Amy Gravino destaca que "ter modelos de comportamento e exemplos positivos é capital para que indivíduos autistas possam visualizar o que é possível em suas próprias jornadas" . A mídia, seja em filmes, livros ou programas de televisão — desempenham um papel importante na formação da percepção pública. Narrativas inclusivas podem desafiar estereótipos negativos e oferecer uma visão mais abrangente, mostrando não apenas os desafios enfrentados, mas também as conquistas individuais e grupais. A Importância do Diagnóstico Precoce. Para garantir intervenções eficazes e melhorar a qualidade de vida das crianças afetadas, se faz necessário identificar os sinais de autismo nos primeiros anos de vida, o que não apenas potencializa as chances de progresso das habilidades sociais, comunicativas e cognitivas, mas também, permitem que famílias e profissionais de saúde implementem estratégias de apoio adequadas. Compreender a importância desse diagnóstico é essencial, pesquisas indicam que intercessões iniciadas antes dos três anos podem resultar em melhorias significativas nas habilidades de comunicação e interação social. A neuroplasticidade, que se refere à capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar, é especialmente pronunciada durante os primeiros anos de vida. Portanto, quanto mais cedo as interposições forem realizadas, maiores serão as chances de um desdobramento positivo. Estudos demonstram que crianças que recebem suporte adequado desde cedo apresentam melhor desempenho acadêmico e social ao longo da vida. Os sinais de alerta para o TEA podem ser observados desde os primeiros meses de vida. É importante que os pais estejam atentos a comportamentos que podem indicar a necessidade de avaliação profissional: Ausência de sorrisos ou expressões faciais em resposta a interações sociais. Atrasos na fala ou na capacidade de manter contato visual. Foco intenso em objetos ou atividades específicas, muitas vezes desconsiderando o contexto. Identificar esses sinais precocemente pode ser determinante para buscar ajuda profissional e iniciar intervenções apropriadas. O diagnóstico tardio pode ter sérias implicações, crianças que não recebem o diagnóstico e a intervenção adequadas correm o risco de enfrentar dificuldades escolares, problemas emocionais e sociais, além de baixa autoestima. Mediações demoradas muitas vezes resultam em oportunidades perdidas para o progressão de habilidades, como a comunicação efetiva e a formação de laços afetivos. A importância do diagnóstico precoce é inegável. Ele não apenas abre portas para intervenções eficazes, mas também fornece às famílias as ferramentas necessárias para apoiar seus filhos, onde cada indivíduo tem a oportunidade de alcançar seu pleno potencial. "Modelos de comportamento inspiradores ajudam a validar as experiências dos autistas, mostrando que suas vidas são repletas de potencial e não se resumem apenas às suas dificuldades." Dan Mena. Caminhos para Novas Descobertas. A pesquisa sobre o (TEA) tem evoluído significativamente nas últimas décadas, impulsionada por avanços nas ciências biomédicas, tecnológicas e comportamentais. O futuro da pesquisa em autismo ainda reserva muitas oportunidades e provocações para desvendar os mistérios dessa intricada condição. Neste contexto, vejamos alguns dos caminhos promissores que podem levar a novas descobertas e transformar a vida deles. Genética e Genômica. A genética é um dos campos mais promissores para a pesquisa em autismo. Recentemente foram identificados centenas de genes associados ao TEA, oferecendo novos prismas sobre suas causas biológicas. Com o advento do sequenciamento genômico de nova geração, os cientistas agora podem analisar grandes volumes de dados genéticos para identificar variantes que contribuem para sua manifestação. O projeto ''Simons Foundation Autism Research Initiative'' (SFARI) é um dos líderes nesse campo, financiando pesquisas que exploram a base genética do autismo. A esperança é que, com a identificação de variantes de genes específicos, seja possível desenvolver terapias personalizadas que possam atenuar os sintomas do autismo e melhorar sua qualidade de vida. Como afirmou Stephen Scherer, diretor do Centro de Genômica Aplicada em Toronto: "A genética nos permite entrar na caixa preta do autismo e entender suas raízes biológicas." Neuroimagem e Neurociência. Outra área em crescimento é a neuroimagem, que utiliza tecnologias como ressonância magnética funcional (FMRI) e tomografia por emissão de pósitrons (PET) para estudar a estrutura e a função do cérebro. Esses conteúdos têm revelado diferenças significativas na conectividade neural e na ativação de áreas cerebrais específicas em comparação com indivíduos neurotípicos. A neurociência computacional também está emergindo como uma ferramenta poderosa para modelar e entender os circuitos cerebrais envolvidos no autismo. A combinação de neuroimagem e modelagem computacional pode ajudar a identificar ''biomarcadores cerebrais'' que poderiam ser utilizados para diagnóstico precoce e monitoramento do progresso terapêutico. Como ressalta a Dra. Elizabeth Torres, neurocientista da Rutgers University: "A tecnologia nos dá uma janela para o cérebro autista, nos permitindo ver padrões e conexões que antes eram invisíveis." Além disso, novas terapias, como o uso de realidade virtual (VR) e tecnologias assistivas, estão sendo levantadas para melhorar a comunicação e as habilidades sociais, por exemplo, e possível criar ambientes controlados e seguros para praticar interações, proporcionando uma plataforma inovadora para o aprendizado. O Dr. Matthew Belmonte, pesquisador de autismo, observa: "A realidade virtual oferece uma oportunidade impar para as pessoas com TEA praticarem habilidades sociais em um ambiente sem julgamentos." A identificação de biomarcadores é uma área crítica para o diagnóstico preciso e a personalização do tratamento. Biomarcadores biológicos, como perfis proteômicos e metabólicos, estão sendo investigados para melhorar a precisão diagnóstica e prever respostas terapêuticas. Essa combinação, somadas a avaliações comportamentais pode resultar em uma abordagem de diagnóstico mais holística e precisa, permitindo intervenções direcionadas. Estudos longitudinais que acompanham indivíduos ao longo do tempo também são essenciais para entender a progressão alcançada. Como destaca a Dra. Joanne Kurtzberg, especialista em neurobiologia: "Biomarcadores podem revolucionar a maneira como diagnosticamos e tratamos o autismo, permitindo abordagens mais personalizadas e eficazes." "A convergência entre genética e neurociência promete não apenas desmistificar o autismo, mas também fornecer caminhos valiosos para desenvolver terapias inovadoras que atendam às necessidades individuais." Dan Mena. O futuro da pesquisa em autismo é promissor e diversificado, abrangendo desde avanços em genética e neurociência até a implementação de práticas inclusivas. À medida que continuamos a explorar esses caminhos, é essencial que a pesquisa seja guiada por uma abordagem interdisciplinar e colaborativa, envolvendo cientistas, médicos, terapeutas, educadores, famílias e as próprias pessoas portadoras. Investir em pesquisa é fundamental para descobrir novas maneiras de apoiar e empoderar eles(as). Com um esforço conjunto, podemos avançar no entendimento e na aceitação do autismo, promovendo um futuro onde todos possam alcançar uma vida feliz e satisfatória. Como diz Stephen Shore, professor e autista: "Se você conhece uma pessoa com autismo, você conhece uma pessoa com autismo." Finalmente quero explicar essa citação incrível dita por quem vive na pele o espectro, ninguém melhor para dizer: A frase pode parecer um jogo de palavras à primeira vista, mas carrega um significado mais reflexivo sobre a diversidade e a individualidade das experiências autistas. Rejeição de Generalizações; Enfatiza que o autismo não é uma característica única ou homogênea. Cada pessoa no espectro apresenta um conjunto distinto de traços, habilidades e desafios. Portanto, conhecer uma pessoa com autismo não implica conhecer todas, pois suas experiências e formas de se relacionar com o mundo podem variar amplamente. Experiências Diversificadas; O (TEA) é um espectro amplo que abrange uma variedade de manifestações e níveis de funcionalidade. Desde a comunicação até as habilidades sociais e interesses, cada indivíduo traz sua própria história e perspectiva. Essa diversidade nos lembra que não podemos fazer suposições ou julgamentos baseados em estereótipos. Valorização da Individualidade; Destaca a importância de ver a pessoa em sua totalidade, em vez de rotulá-la apenas por sua condição. Ela incentiva a valorização do indivíduo como um ser completo, que possui interesses, paixões, medos e esperanças além do seu diagnóstico. Isso promove uma visão mais humana, onde a identidade da pessoa não deve ser limitada. Desmistificação do Autismo; Ao afirmar que conheço uma pessoa com autismo, reconhecemos que o tema é cercado por mitos e mal-entendidos. Essa frase ajuda a desmistificar o transtorno, promovendo uma compreensão mais clara e realista sobre o que significa ser autista. Isso pode contribuir para reduzir o estigma e aumentar a aceitação na sociedade. Incentivo ao Relacionamento; Por último, essa afirmação nos convida a construir relacionamentos significativos com pessoas autistas. Ao reconhecer que cada um terá suas próprias experiências e dimensões, somos incentivados a nos conectar de maneira mais empática. Isso vai certamente enriquecer nossas vidas. Assim, a frase "Se você conhece uma pessoa com autismo, você conhece uma pessoa com autismo" nos lembra da importância de reconhecer e valorizar a individualidade dentro da diversidade. Ela nos encoraja a ir além das generalizações, promovendo uma compreensão mais rica desse universo singular. Ao adotarmos essa abordagem, contribuímos para um mundo onde todos são respeitados, independentemente de supostas diferenças. Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.
- Desvendando o Cyberbullying na Era Digital.
Estratégias de Enfrentamento das Conexões Virtuais. Nos últimos anos, o fenômeno do cyberbullying emergiu como um dos desafios sociais mais perturbadores da era digital. Embora essa hostilidade já conhecida entre pares não seja uma novidade, sua transição para o ambiente virtual trouxe uma série de novas dinâmicas que têm impactado crianças, jovens e adultos sem distinção. O termo foi introduzido por Bill Belsey em 2003, que aditava: “O bullying na internet não é diferente do tradicional; a única diferença é que agora ele pode ocorrer em qualquer lugar e a qualquer hora.” Essa frase transmite uma realidade cruel: pois a agressão, não apenas se tornou mais acessível, mas também constante na vida de milhões de pessoas pelo mundo. A escolha do tema me foi motivada por sua relevância contemporânea, onde a tecnologia se tornou uma extensão das nossas interações sociais. Como psicanalista, sinto uma responsabilidade ética e profissional de abordar o assunto. É uma questão muito próxima, que toca nas vulnerabilidades psíquicas de todos. Espero contribuir para esse diálogo mais amplo sobre a importância do suporte emocional, suas estratégias de intervenção e prevenção, e a necessidade de uma compreensão mais empática quanto a suas vítimas. Boa leitura. “As cicatrizes do cyberbullying são invisíveis, mas a dor reverbera nas almas feridas.” — Dan Mena. Telas que não se apagam. A rápida ascensão das redes sociais e da comunicação instantânea fez com que o cyberbullying se tornasse um problema omnipresente. Telas oferecem um palco perfeito, onde a maldade de alguns pode se manifestar a qualquer hora, em qualquer lugar. Suas vítimas, enfrentam um ciclo de estigmatização e isolamento que pode ser devastador. Belsey também anotou que: “a internet não esquece,” enfatizando como tais agressões eletrônicas deixam marcas duradouras, tanto nas memórias quanto nos estados emocionais dos sofrentes, inclusive, muito depois que os dispositivos se apagam. À medida que essa manifestação se expande, cresce a necessidade de perceber sua agudeza. A pesquisa sobre sua implicância evoluiu, incorporando prismas analíticos, psicológicos, sociais e culturais. O reconhecimento do seu impacto, resultou em uma série de novas abordagens terapêuticas e educativas. Profissionais de saúde, terapeutas, educadores e legisladores estão agora se unindo para formular alianças estratégicas eficazes de prevenção e intervenção, para tratar suas consequências. “O anonimato na internet alimenta a truculência, mas a empatia deve ser nossa armadura.” — Dan Mena. Reflexões e Questões. Diante desse contexto alarmante, é imperativo que nos perguntemos: como as experiências passadas e presentes de um indivíduo moldam sua fragilidade diante do cyberbullying? Quais são as implicações emocionais desse tipo de agressão, e como podemos, enquanto sociedade, oferecer suporte eficaz às vítimas? Qual é o papel que devemos assumir na identificação e na prevenção? Isso nos leva a uma condição investigativa ''sine qua non'' das narrativas emocionais das vítimas, e à necessidade de avanços e interpelações, que considerem não apenas os sintomas apresentados, mas também a história de vida e as condições psicológicas que podem estar em jogo. Por essa razão, ofereço aqui estratégias simples para abordar e prevenir esse problema eficazmente, utilizando a visão psicanalítica como guia. “O suporte emocional é tão vital quanto a proteção legal; ambos são essenciais.” — Dan Mena. À medida que adentramos nessa discussão, espero não apenas aumentar a conscientização sobre o tema, mas também inspirar um movimento coletivo para a criação de ambientes mais seguros e acolhedores, tanto no mundo digital quanto no real. Afinal, esse lugar imponderável, onde as vozes podem ser silenciadas com um clique ou um cancelamento, é nossa responsabilidade garantir que cada grito de ajuda seja ouvido e atendido. Na clínica psicanalítica, consideramos experiências passadas e presentes como grandes parâmetros influenciadores da vulnerabilidade de um indivíduo. Muitos dos pacientes presentes nesse tipo de situação carregam marcas emocionais que amplificam o efeito é a implicação dessa agressão. Caso Clínico: A História de Geórgia. Geórgia, uma jovem de 19 anos, buscou meu atendimento terapêutico por conta de sintomas de ansiedade intensa, acompanhada de episódios depressivos e retraimento social. Me conta, que sempre foi considerada uma aluna dedicada, mas tinha dificuldades em se integrar socialmente devido a questões relacionadas à sua aparência física. Quando entrou no ensino médio, essas inseguranças se agravaram com o surgimento de ataques nas redes realizados por colegas, eles(as) criaram perfis falsos para ridicularizá-la publicamente. Esse relato sobre sua dinâmica de rejeição que viveu nos anos escolares não eram novidade. Desde a infância sofreu uma pressão intensa por parte da família para corresponder a supostos padrões estéticos e de desempenho. Sua mãe frequentemente a comparava com outras meninas, o que gerou nela uma sensação de inadequação, na busca por validação externa. Essas experiências infantis de desacolhimento ou não pertencimento, criaram uma base emocional frágil, o que a tornou mais vulnerável nesse sentido. Sua situação me remete ao que Freud chamou de “ferida narcísica”. Em sua obra sobre o narcisismo, ele descreve como o ego busca constantemente manter uma imagem positiva de si, e como ataques a essa figura podem desestruturar a identidade do sujeito. No seu caso, o cyberbullying, representa uma investida ofensiva e direta ao seu “eu”, agravando essas feridas emocionais pré-existentes. Experiências Passadas e Presentes - Raízes da Desproteção. Estamos diante de um exemplo claro de como o traquejo da infância pode moldar a fragilidade de um indivíduo ao cyberbullying. Nossa matéria nos ensina, que o inconsciente armazena traumas e mágoas emocionais que tem gatilhos, eles podem ser reativados em situações semelhantes na vida adulta. A relação conflituosa da cliente com sua imagem corporal, somada às expectativas irreais da família, criou um “self” frágil e constantemente em busca de aprovação. Quando o bullying virtual se manifestou, ela não só revisitou suas inseguranças atuais, mas também reabriu seu baú de pústulas antigas. Em sua teoria das posições esquizoparanoides, Melanie Klein explica, que como indivíduos internalizamos objetos (ou figuras significativas das nossas vidas), eles podem ser percebidos como bons ou maus. No caso de Geórgia, seus colegas que praticaram o cyberbullying foram internalizados como objetos persecutórios, o que a deixou em constante sensação de estar sendo observada e atacada, não apenas no ambiente virtual, mas em qualquer lugar e deslocamento. Além disso, segundo Winnicott, o conceito de “falso self” surge em indivíduos que não receberam um esfera suficientemente positiva para desenvolver sua identidade verdadeira. Ela, que nunca se sentiu plenamente aceita em casa, alargou um falso self que busca conformidade ciclicamente. Quando esse self é ferido, o impacto é aniquilador, pois a construção de sua identidade depende excessivamente da opinião e aceitação externa. Impacto Psicológico e Emocional. Ditas implicações para Geórgia é sua saúde mental foram severas, exemplificam as consequências mais amplas que podem resultar desse portento nas vítimas. A psicanálise tem uma estrutura clinica muito fundamentada para entender como a agressão digital pode desestruturar o psiquismo de um indivíduo. Freud, em seu trabalho sobre o princípio do prazer, nos sugere que o ego tenta evitar a dor e buscar o prazer, mas em situações de hostilidade constante, como neste caso, o ego é forçado a lidar com uma sobrecarga de estímulos dolorosos que resultam muitas vezes em desregulação emocional. Do ponto de vista clínico, os(as) demandados frequentemente desenvolvem quadros de ansiedade, depressão e, em casos mais graves, ideação suicida. Muitos estudos indicam que suas vítimas apresentam um risco maior de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o que por sinal agravam e aceleram ainda mais a situação psicológica do paciente. Segundo a American Psychological Association, esse tema é amplificado pelo fato de que o ambiente eletrônico é sempre acessível, impossibilitando para a o acometido se afastar completamente da fonte de angústia. Isso me lembra Sherry Turkle, em seu livro “Alone Together”, que em sua obra homônima, descreve o paradoxo das relações sociais na era digital. Ele se refere à vivência de estarmos conectados virtualmente a muitas pessoas por meio de dispositivos como celulares, chats e redes de todo tipo, más, ao mesmo tempo, experimentamos uma sensação de solidão e desconexão emocional do mundo real. Se por um lado, a tecnologia nos permite estar “juntos” virtualmente, ela também nos distância de conexões autênticas, criando uma falsa proximidade. As interações superficiais, substituem por vezes o contato pessoal, levando a um sentimento de isolamento, mesmo quando estamos cercados por outros amigos online. Desta forma e paradoxalmente, isso aproxima e afasta as pessoas, nós deixando “sozinhos, juntos”. Ansiedade, Depressão e Traumas Pré-existentes. Casos como o relatado, podem interagir com outras condições psicológicas, como traumas, ansiedade, fobias e depressão. Pacientes que já têm predisposição a esses transtornos são particularmente vulneráveis ao impacto afetivo do cyberbullying, uma vez que o estresse adicional pode desencadear ou intensificar crises. O indivíduo que se sente incapaz de lidar com o ambiente externo recorre assiduamente ao uso de defesas psíquicas, como a retração emocional. Por este motivo, ela começou a evitar a interação social como uma forma de se proteger dos ataques virtuais, o que, ironicamente, aumentou sua sensação de solidão e agravou sua provável depressão. “As palavras têm poder, sejamos então poetas da cura, e não arquitetos da dor.” — Dan Mena. Freud em sua obra sobre o trauma, sugere que abalos e perturbações não resolvidos na infância ressurgem em tribulações, como o que interpelamos agora, e causam uma regressão emotiva. A impugnação que Geórgia passou na sua puerícia, foi agravado na maturidade pelos ataques digitais, desencadeando uma resposta emocional desproporcional, e fazendo com que ela se sentisse totalmente isolada e desamparada. Estratégias de Abordagem e Prevenção. Na prática clínica, o tratamento desta ocorrência deve ser personalizada, considerando não apenas às repercussões do presente, mas também as ocorrências passadas que singularmente contribuiram para essa indefensabilidade. A psicanálise oferece uma série de ferramentas terapêuticas que podem ajudar a reconstruir a autoestima do paciente e promover uma maior resiliência, sendo novamente elaboradas. Exploração do Inconsciente: O trabalho psicanalítico com Geórgia começou com a investigação das raízes inconscientes de sua debilidade. Esse processo analítico é como uma forma de escavação, onde o analista guia o paciente a trazer à superfície psíquica, lembranças e sentimentos reprimidos. O objetivo auxiliou a ressignificar seu passado de rejeição infantil, permitindo que ela re-construa uma narrativa mais fortalecedora da sua própria identidade. Restauração da Autoimagem: O processo de formação do ego é como uma constante “construção do espelho”, na qual o sujeito busca se ver através dos olhos dos outros. No caso de Geórgia, o ataque ao seu “eu” virtual, fragilizou ainda mais sua autoimagem. A terapia focou na reforma dessa imagem, a ajudando a perceber que sua identidade não depende da aprovação de terceiros. Criação de Espaços de Validação: Um ambiente suficientemente bom é essencial para o paciente poder se sentir seguro(a) e validado(a). Neste caso específico, o que não foi aplicado, o uso de grupos terapêuticos, onde ela fosse capaz de compartilhar seus momentos sem medo de julgamentos, seria uma estratégia eficaz para permitir a remonta da sua confiança social. “A tecnologia consegue conectar e ferir; é como uma espada de dois gumes.” — Dan Mena. Intervenção Psicoeducacional: A conscientização sobre o impacto psicológico das redes sociais é outra estratégia importante. A hiperconexão exacerba a pressão sobre o indivíduo, criando nele uma cultura de exaustão e comparação constante. A psicoeducação pode ajudar pacientes como Geórgia a entender esse ambiente, que afeta suas emoções, a capacitando para se distanciar emocionalmente dos ataques online. “Cada mensagem agressiva é um grito silencioso de dor; cada vítima merece ser ouvida e acolhida.” — Dan Mena Fortalecimento da Resiliência: Trabalhar o fortalecimento da perseverança é importante para que a vítima de cyberbullying possa lidar com futuras afrontas de forma mais eficiente. Isso inclui estratégias como a terapia cognitivo-comportamental para modificar padrões de pensamento negativos, bem como técnicas psicanalíticas de ressignificação emocional. Para Além da Tela. Embora o problema tenha suas raízes no digital, produz efeitos no mundo real. O tratamento é um processo de redescoberta, no qual a tecnologia, antes vista como um campo de batalha emocional, pode ser re-elaborada como um espaço de crescimento e superação. “Na psique, o ataque é sempre uma realidade silenciosa. A vitória está na ressignificação e no despertar de um 'eu' fortalecido, capaz de se proteger da crueldade externa e interna.” — Dan Mena. O Paradoxo da Tecnologia e a Condição do Ser. No entanto ao longo da história, a nossa desumanidade encontrou formas múltiplas de se manifestar da maneira mais perturbadoramente inovadora. Desde as arenas romanas até as cruzadas modernas da opinião pública nas redes, a perversidade nunca esteve apenas na tecnologia, mas naquilo que realmente projetamos sobre ela. Quando Hannah Arendt, pondera sobre a banalidade do mal, indica que ele não é nada incompreensível, mas sim algo ordinário e cotidiano. O eletrônico, com sua capacidade de potencializar o anonimato, oferece o palco perfeito para essa normalização, no mínimo maligna. Traçando um paradoxo seria o digital, um dos personagens o cyberbullying como a nova arena do Coliseu Romano: onde a truculência se perpetua, sem a necessidade da proximidade física, sem a angústia das plateias. “Somos gladiadores modernos, mas ao invés de espadas, empunhamos teclados.” — Dan Mena. Mas o que podemos dizer da responsabilidade individual e coletiva diante dessa era de hiperconexão? Se a improbidade encontra na tecnologia um novo meio de expansão, será que não somos todos, de alguma maneira, cúmplices quando assistimos passivamente a esses atos de violência virtual? É também a sociedade do espetáculo e da vigilância, onde o sofrimento do outro pode se transformar em entretenimento?. Ou será que estamos nos tornando sombras do que um dia fomos, perdidos em perfis digitais que refletem apenas o vazio existencial que atravessamos? “O desafio da era digital não é tecnológico, mas existencial: reconectar o ser à sua essência perdida.” — Dan Mena O Desafio de Reconectar. Diante dessas perguntas incômodas, (sei) é preciso reconhecer que o desafio contemporâneo não é apenas tecnológico, mas existencial. Se a crueldade prospera na distância eletrônica e na alienação emocional, o trabalho analítico é uma tentativa de retorno ao genuíno com o outro e com nós mesmos. Lacan, ao falar do “desejo do Outro”, nos invita a repensar como a demanda por reconhecimento se transforma em uma busca desesperada por aprovação, onde o “eu virtual” se torna um eco distante de quem somos de fato. E é aqui que a mensagem de esperança emerge, não como um consolo vazio, mas como um convite a essa transformação. Dize Nietzsche, “aquele que luta com monstros deve tomar cuidado para ele próprio não se tornar um”, talvez o primeiro passo seja o reconhecimento desse lado cruento. Mas o segundo, mais importante, é a coragem de enfrentar ditas sombras, de olhar para o espelho da tecnologia e perguntar: “Quem eu sou além dessa tela?” “Cada ato de bondade no mundo online é uma revolução contra a desumanização crescente da nossa era.” — Dan Mena. Esperança em Tempos de Hiperconexão . A tecnologia, por mais que tenha amplificado um lado impiedoso, também carrega em si o potencial de cura. Assim como ela pode ferir, pode conectar. Como pode isolar, também reúne em torno de causas justas, criando redes de apoio e empatia. O desafio, então, não é destruir a tecnologia ou retornar a um passado bárbaro, mas ressignificar o seu uso. Precisamos nos lembrar de que cada mensagem agressiva, cada comentário áspero, também é uma oportunidade perdida de ligar o ser coletivo. Se a crueldade é alimentada pela distância emocional, então a empatia deve ser nossa resposta mais revolucionária. O Futuro Está em Nossas Mãos. É importante lembrar que, mesmo nas piores manifestações de ruindade, a esperança pode brotar. Cada ação compassiva, cada gesto de solidariedade, pode ser uma pequena insurreição contra atos como o cyberbullying. Como sociedade, podemos curar as feridas que infligimos reciprocamente. Que essa observação não seja apenas um fim, mas o início de um compromisso renovado com nossa própria existência como raça. A escolha está em nossas mãos — e o futuro, embora incerto, ainda pode ser moldado pelo poder de nossas escolhas. Ao poema; Vozes Silenciadas. Por Dan Mena. Na tela que brilha, se esconde o agressor, Ataca no escuro, espalha a dor. Mensagens cruéis, veneno sem fim, Feridas que marcam, que sangram sem fim. O clique é silêncio, mas o grito ecoa, Na mente da vítima, o trauma ressoa. Quem vê de fora, ignora o tormento, Pois o sofrimento se perde no vento. Não é só virtual, o coração sente, O ódio que surge insistentemente. E a alma que luta para se defender, Se perde na tela de tanto padecer. Feridas antigas, que vêm lá de trás, Revivem momentos, se tornam sinais De que o passado, esquecido talvez, Renova a angústia em cada vez. No caso de Geórgia, o espelho quebrado, Mostrou-lhe uma face de um eu rejeitado. Por trás da imagem, a insegurança, Buscando na vida alguma confiança. A luta é interna, a cura também, No acolhimento, o analista contém. Cada frase de ódio que o agressor lança, Será silenciada pela nova esperança. O cyberbullying, cruel e impiedoso, Pode ser desfeito no processo cuidadoso, De olhar para o outro e ouvir sua dor, Tecer, com afeto, o fio do amor. Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.
- Impacto das Redes Sociais na Construção da Identidade - Relações Interpessoais.
"Nas redes sociais, o 'eu' performático emerge como uma máscara necessária, mas ao perseguirmos aplausos externos, arriscamos sufocar nossa autenticidade." Dan Mena. No cenário atual, as redes sociais desempenham um papel importante na formação e expressão da identidade, além de moldar a natureza das nossas relações interpessoais. Essas plataformas não são apenas ferramentas de comunicação, mas verdadeiros palcos onde elas se encenam, se misturam e esquadrinham, junto aos desejos que se enfrentam e confrontam com angústias. Este processo, entretanto, não está isento de conflitos psíquicos, especialmente quando consideramos a relação entre o “eu” real e o “eu” virtual. Neste artigo abordarei este tema muito atual e interessante para todos. Boa leitura. Teatro do Inconsciente, Projeção de Fantasias e a Busca por Validação. Como sujeitos, estamos divididos entre o consciente e o inconsciente, sendo este último o lugar dos quereres reprimidos, fantasias e impulsos não resolvidos que nela residem e se acobertam. Neste campo, a construção da identidade está cada vez mais conectada à maneira como nos apresentamos nelas. Às redes sociais, criam inevitavelmente um espaço para a projeção de excitações inconscientes, oferecendo um teatro perfeito para a realização e projeção simbólica de fantasias que, no mundo físico, poderiam permanecer ocultas. Quando Freud sinaliza, “o eu não é senhor em sua própria casa”, quer expressar, que nossas ações conscientes muitas vezes são governadas por forças subconscientes. Elas amplificam essa realidade, pois podemos moldar uma imagem idealizada, que, ao mesmo tempo, é confrontada pela própria fragilidade psíquica de buscar validação. Reflexo Digital e A Revisitação do Estádio do Espelho nas Redes. Essa visão, que enfatiza a noção do “Estádio do Espelho” — nos transporta há um momento relevante no desenvolvimento infantil em que o sujeito se reconhece no seu reflexo, formando a base de sua identidade. Nas redes, esse episódio é constantemente revisitado, articulado e refletido, não apenas nas postagens e imagens, mas também nas reações e legitimações que obtemos dos outros. O “eu” virtual, passa a funcionar como esse retrato de outro projetado que tentamos incessantemente alcançar, muitas vezes em detrimento do nosso “eu” real. Lacan explica, que a tal da busca por reconhecimento é base central na nossa constituição: “Desejamos o desejo do outro.” Esse querer de ser constatado, se torna, ao final, uma força motriz que gera, tanto satisfação quanto frustração, dependendo do nível de aceitação ou rejeição experimentado. Dualidade do Eu, entre Winnicott e Baudrillard — Fragmentação Psíquica no Mundo Virtual. Podemos então falar de uma “hiper-realidade”, como foi apresentado por Jean Baudrillard, na qual interpreta que nos movemos entre o real e o virtual, nos fundindo de maneiras heterogêneas e enigmáticas. Observo, que a constante comparação social, a busca por likes, seguidores e conformação digital, nos coloca em um ciclo vicioso de recompensa e inquietude. Essa dualidade marcada pela tensão entre o ideal e o real, sendo este último muitas vezes negligenciado em prol de uma elevação. O psicanalista Donald Winnicott, em suas anotações sobre o “verdadeiro self” e o “falso self”, identifica claramente que, quando priorizamos uma imagem externa sobre a autenticidade interna, ocorre um rompimento da saúde psíquica. Esse “falso self”, agora promovido pela necessidade de desempenho e atuação, contínua indo em frente nos rumos da poetização da vida. A Modernidade Líquida e as Conexões Efêmeras. Outro conceito que nos aproxima desta compreensão, é o de “transferência”. Originalmente levantado por Freud, se refere ao lançamento de sentimentos, afetos e desejos inconscientes sobre o outro. Eles ocorrem em grande escala, não apenas nas interações íntimas, mas também em comunidades virtuais e espaços públicos. As redes sociais funcionam assim, exatamente como um espelho fragmentado, onde se visa ser reconhecido, mas, que se depara frequentemente com uma multiplicidade de versões de si mesmo, gerando um aumento na sensação de alienação. Um aporte interessante faz Zygmunt Bauman, em sua análise do livro “modernidade líquida”, do qual você poderá encontrar outros artigos no meu blog. Ele assinala que as relações sociais, nesta época, estão sob a total e absoluta influência da tecnologia, assim, se tornaram fluidas e menos estáveis, criando laços frágeis, fragmentados e efêmeros. Dita vulnerabilidade, é ainda mais evidente, pois as conexões podem ser feitas e desfeitas com a mesma facilidade, aprovando ou cancelando, gerando um ciclo contínuo de superficialidade. Como o FOMO Amplifica a Ansiedade. A questão do FOMO, (Fear of Missing Out), termo cunhado e popularizado pelo pesquisador e estrategista Dr. Dan Herman no final da década de 1990, pode ser incorporado a esta leitura. Ele começou a usar a expressão em seus estudos sobre o comportamento do consumidor, ao observar que pessoas demonstravam um medo crescente de perder experiências ou oportunidades valiosas. Isso posso sintetizar num exemplo, que revela um prisma psicológico significativo. Ao vermos a vida idealizada de outras pessoas, podemos incorporar um sentimento de exclusão e ansiedade, por não participar supostamente do mesmo know-how e bagagem. Esta seria uma expressão moderna da ansiedade social que Freud descreveu como parte das nossas neuroses, mas intensificada hoje pela imediates e constante comparação proporcionada pelas plataformas digitais. Outro efeito colateral é o fenômeno da dependência digital, onde experimentamos uma certa incapacidade de se desconectar, perpetuando o circuito de comparação, validação, ansiedade e angústia. O Paradoxo da Hiper conexão, Isolamento e Narcisismo. Na era da hiperconexão, muitos analistas contemporâneos observamos, que a sensação é que hoje tudo parece estar ao alcance de um clique. Isso determina um paradoxo crescente, pois o que se verifica na clínica é o aumento dos sentimentos de encapsulamento, isolamento e solidão. Essa contradição utópica, será muito bem detalhada por Byung-Chul Han, que perspicazmente em sua obra; “A Sociedade do Cansaço” de (2015); descreve. Apesar dessa aparente articulação conectiva proporcionada pelas redes, vivemos em uma sociedade exausta, onde a comunicação se tornou um fluxo incessante e frívolo de informações. Ele assevera, que a comunicabilidade não é mais do que simplesmente uma constante sequência de dados e elementos sem sentido, destacando como tal a proliferação de opiniões, pareceres e apreciações, que podem, incoerentemente, isolar mais do que ligar. Esses fatores alargam o narcisismo e amplia exponencialmente o egocentrismo, criando um ambiente onde o indivíduo se vê como um projeto contínuo de atuação. Observa Han: “O narcisismo reflete uma sociedade que valoriza a produtividade e o desempenho acima de tudo, resultando em uma desconexão emocional” (Han, 2015). Nesse universo, não apenas projetamos uma imagem produzida e pré-fabricada de si, mas também envolvemos sentimentos de corroboração. A exibição pública, e a necessidade de sustentar uma imagem impecável, podem obscurecer o verdadeiro eu, criando uma ruptura psicológica. Logo, posso convocar uma frase de Freud; “o narcisismo é a forma mais primitiva de amor que o ego pode ter por si.” Como as Plataformas Digitais Redefinem — Proximidade e Intimidade. Nesta era informática, a percepção de proximidade não mais se limita ao físico. Sabemos que interações genuínas envolvem trocas emocionais, afetos e empatia — elementos regularmente enfraquecidos no ambiente virtual. Elas criam a sensação de estarmos sempre conectados, mas essa proximidade virtualizada pode ser muito ilusória. Embora estejamos continuamente presentes nelas, a ausência de contato físico direto, pode intensificar a sensação de solidão, ao invés de ser um atenuante. Essa nova forma de distanciamento íntimo, enseja compartilhar aspectos pessoais da nossa vida com um público vasto, sem a vulnerabilidade inerente ao contato presencial. Nessa dinâmica, exercemos controle sobre o que revelamos de si, e, ao mesmo tempo, expomos assuntos particulares para o olhar constante e crítico de outros, moldando assim, de forma imperceptível a nossa identidade, conforme tais observações de terceiros. Nesse sentido, a proximidade é radicalmente transformada, o ''outro'', está próximo no campus virtual, mas permanece longe em termos de verdadeira vinculação emotiva. As interações oferecem encontros e cruzamentos rápidos, imediatos e instantâneos, mas carecem da necessária penetração que caracterizam as relações autênticas. Essa redefinição das noções de proximidade e distância, mudam as fronteiras entre o real e o virtual. Redes sociais, enquanto teatro de construção de identidades, intensificam, tanto a alienação quanto o desejo de reconhecimento. Destarte oscilamos, entre presença e ausência, autenticidade e interpretação, enfrentamos não apenas novas formas de ligação ao outro, mas também, sofremos severamente os desafios afetivos e psíquicos decorrentes dessa transição. O Corpo, a Imagem e a Pressão pela Excelência no Mundo Virtual. Podemos elaborar uma simbiose; assim como um diretor dirige sua própria peça, e escolhe cuidadosamente cada ato do roteiro que apresentará ao público. Seja uma selfie, uma conquista profissional ou um momento pessoal, tudo se torna uma produção para uma autoapresentação. Não apenas como uma maneira de se comunicar, mas uma forma de se esculpir como uma escultura, para expressar quem somos aos olhos dos outros. Por essa razão, Lacan fala sobre o ''Estádio do Espelho'', que nos lembra, que essa percepção de nós mesmos está sempre mediada por uma imagem arquitetada. Agora, o espelho não é mais o objeto de vidro, o espelho d’água que reflete nosso rosto, mas as telas dos nossos celulares e dispositivos eletrônicos, onde essa imagem pode ser alterada, filtrada e ajustada até que pareça perfeita, até sua exaustão. E assim, nos tornamos escultores da própria identidade, manipulando o que é visto e o que permanece oculto, na esperança de agradar e sermos aceitos. Esse fenômeno é como um jogo constante de aparências, onde as regras mudam com base na audiência e auditório. Nesse espaço, somos ao mesmo tempo, os atores e os diretores da peça da nossa vida, decidindo como cada cena será cortada, editada e apresentada ao mundo. Já a autoestima, como uma delicada balança, encontra nesse ambiente um novo tipo de desafio. Subestimada que é, relevamos sua importância para o equilíbrio emocional, ignorando um alerta importante sobre os riscos de medir e comparar nosso valor a partir de padrões externos. Nas redes sociais, essa libra fica ainda mais instável, pois somos constantemente incitados por imagens de vidas fantasiosamente confeccionadas, corpos esculpidos e sucessos inexecutáveis. Nessa vitrine digital, o corpo não é apenas um meio de estar no contexto do mundo, mas uma tela, onde identidades se notabilizam. Como destaca Susie Orbach; “os corpos vão se tornando verdadeiras vitrines de identidade”, e o sujeito digital, muitas vezes, se vê pressionado a copiar, moldar ao bel-prazer de outros sua constituição física, vestimenta, alimentação, hábitos, etc., de acordo com padrões transcritos. Assim, de repente nos defrontamos inconscientemente influenciados pela busca por excelência. Prontamente, haverá um choque de encontro com a realidade — onde todas nossas supostas imperfeições e limitações irão ao encontro da destruição da autoestima que poderá despencar, nos levando a um ciclo de comparação e insatisfação irreversível. Agora, não estamos apenas nos vendo, mas sim nos comparando com inúmeras outras versões subjetivas de nós mesmos e dos outros. Esse espelho virtual, irá atuar como um caleidoscópio de imagens brilhantes e distorcidas, onde o outro sempre parece mais bonito(a), mais bem-sucedido(a), mais apto(a) e mais feliz. Efeitos na Identidade Juvenil e nas Gerações Digitais Contemporâneas. Olhando agora para os jovens que crescem nesse mar digital, a identidade é como uma embarcação no estaleiro, em constante construção. A crise identitária na adolescência é um período de grandes questionamentos e estabelecimento de definições. Hoje, essas tribulações se intensificam, à medida que os adolescentes amadurecem tentando se adaptar a uma identidade líquida e frouxa, onde a autenticidade é incessantemente sacrificada pela busca dessa validação digital. Às reflexões íntimas e autênticas que deveriam se desenvolver naturalmente pelo contato físico — muitas vezes, são substituídas por uma ininterrupta troca de mensagens e interações virtuais. A elaboração da personalidade e individualidade dos pubescentes, se transformam em um game, onde o objetivo é se tornar visível, pop, famoso, popular e curtível, muitas vezes, à custa de explorar verdadeiramente quem se é. Aumento do Ciberbullying e Outros Tipos de Violência Digital. Onde a conexão parece à primeira vista uma ponte que nos une a todos, se esconde a sua sombra o ciberbullying, uma forma progressista e sorrateira de violência. Se no passado recente, as agressões precisavam de proximidade física, hoje, por trás de uma tela, o agressor encontra um disfarce perfeito, envolto num manto de invisibilidade que facilita suas investidas. Se bem que Freud nos recorda, que a agressão é parte inerente da nossa condição, agora ela encontra outro espaço manifestado no anonimato, sem a necessidade de enfrentar sua vítima de frente, diretamente. É uma investida ofensiva, que surge como um grito no vazio, sem a culpa de ver as consequências imediatas de suas palavras. Para melhor compreender esse comportamento nada melhor que Lacan. Ele introduz o conceito de gozo, que revela o ''prazer inconsciente'' que o sujeito pode carregar, ao extrair do sofrimento alheio seu próprio deleite. E nas redes sociais, onde tudo é instantâneo, que o júbilo da agressão digital é multiplicado, especialmente, porque o agressor sente que está distante, seguro e imune às repercussões diretas de seus atos. Essa violência online, é muitas vezes mascarada de chistes, sarcasmo, humor e brincadeiras, mas pode deixar cicatrizes e feridas emocionais escavas nas suas vítimas. Viver esse mundo virtualizado, onde tudo está sempre à vista, é como habitar uma casa feita de vidro. Um cenário expresso, escancarado e exposto à constante crítica, onde não importa qual a natureza delas, ao poder provocar efeitos devastadores sobre o bem-estar psicológico do seu habitador. Vale aqui lembrar, trecho inerente da psicanalista Nancy McWilliams, que destaca como nossa autoestima se constrói na maioria com base em como imaginamos que os outros nos veem. E, na internet que se forma essa visão distorcida, que por ângulos perfeitos e prismas transparentes transpassa uma constante competição pela atenção. A cada curtida, há um impulso de validação, mas sua ausência pode desencadear sentimentos de inadequação. Não tenha dúvidas, o uso excessivo das redes sociais pode levar à desconexão emocional, criando uma sensação paradoxal. Podemos estar cercados de pessoas virtualmente, mas, nos sentirmos mais sozinhos do que nunca. Uma comunicação que foca na quantidade, e carece de qualidade, o que pode esvaziar a fundura das relações e interações interpessoais, gerando uma busca incessante por abonação, que nunca será o suficiente. A vítima de ciberbullying, pode ser atacada(o) justamente na importância que dá ao seu corpo, na formação da identidade, na aparência e gostos. Desta forma, encontra o agressor um ambiente propício, com informações particulares e detalhadas da sua provável vítima. Isso pode gerar traumas profundos, como depressão e ansiedade, e, em casos extremos, levar ao isolamento ou até mesmo a pensamentos suicidas. Educação Digital e a Conscientização sobre Comportamentos Tóxicos. Em meio a essa turbulência, surge uma necessidade urgente: a educação para o uso consciente e responsável das redes. Mais do que saber como navegar, é essencial aprender a se proteger e entendermos que o mundo online reflete, em muitos aspectos, nossas próprias sombras. A educação digital é como uma bússola que pode nos orientar e nortear, permitindo que como usuários identifiquemos os sinais de comportamentos tóxicos e aprender a evitá-los e enfrentá-los. O desenvolvimento emocional saudável exige que aceitemos tanto as nossas partes boas, quanto aquelas que depreciamos, ambas, como partes integradoras de nós mesmos. Nas redes sociais, onde tudo parece ser editorado para mostrar a versão mais “cool”= (genial), isso se torna um revés. A educação digital pode ajudar a promover uma visão mais equilibrada, nos lembrando, que a perfeição é uma ilusão, uma fantasia impossível. Privacidade e Segurança — O Preço da Exposição. Se por um lado, as plataformas digitais oferecem visibilidade e uma sensação de entrelaçamento social, por outro, podem cobrar um preço alto pelo uso. A privacidade que Lacan nos lembra, do poder do olhar do ''Outro'', e nas redes, esse avistar que está sempre presente, julgador, comparativo e quase sempre cruel. Ao expor nossa vida online, nos tornamos personagens e atores de um teatro, onde o público nunca deixa de assistir. Mas, nesse processo, sacrificamos a intimidade, retratando tudo aquilo que pode nos deixar vulneráveis a ataques e manipulações. Outro alerta que merece atenção, são nossos dados pessoais que se tornaram uma moeda valiosa, onde a privacidade está constantemente em risco. Proteger essas informações é essencial para podermos navegar no ambiente digital de forma mais segura, sem delatar aspectos que deveriam permanecer privados. Afinal, um lugar onde tudo é compartilhado, o controle sobre nossa própria imagem passa por uma linha extremamente tênue, e perder esse controle pode ter consequências sérias. No obstante, o custo da exposição continua a ser uma questão primordial. Quanto estamos dispostos a sacrificar de nossa privacidade e segurança em troca de visibilidade? Impactos Positivos e Negativos das Redes Sociais sob a Análise Psicanalítica. Este mundo digital que herdamos, nos envolve como um segundo ambiente, um cenário passional, onde nossas identidades e personagens ganham vida entre cliques, marcações e compartilhamentos. Prometem conexão, mas, também trazem consigo um jogo de espelhos e máscaras, onde tanto o brilho quanto a sombra encontram um amplo espaço para se manifestar. Um palco sem limites geográficos, que, no fundo da nossa essência busca seus objetos de amor, recompensa e satisfação. Assim, fica fácil compreender por que nos parecem tão sedutoras, ao criarem laços, comunidades, nos conectam com pessoas ao redor do globo, e nos oferecem oportunidade para moldar e expressar com bastante liberdade, inclusive aquilo que não somos. Por vezes, encontro certo paradoxo, como se estivesse em um grande parque de diversões, saltando de um perfil para o outro, absorvendo o fluxo de informações, validando experiências e ampliando um repertório de relações. Porém, ao mesmo tempo, elas trazem uma provocação. Jacques Lacan, ao falar sobre o “Grande Outro”, ressalta o papel da alteridade na formação do sujeito. E nas redes sociais, esse “Outro” se multiplica e se transforma. Esse olhar de um público invisível, que acho muito interessante. Tenho 3000 ou 4000 seguidores, ou supostos amigos, mais não conto mais de 200 que realmente interagem comigo. Então eu me pergunto… o que fazem na minha rede social e eu nas deles os outros 3800? Por qual motivo estamos conectados? Então, eu acredito que muitos possam se questionar ao respeito, por isso darei 5 motivos que acho plausíveis; Presença Virtual: Acredito que muitas pessoas, das quais me incluo, mantêm inúmeras conexões por motivos variados, como curiosidade ou desejo de visibilidade. Esses contatos, são mais uma forma de manter uma presença digital do que de engajamento ativo. Essa rede que vamos formando com o tempo, funciona como uma vitrine, onde a quantidade pode ser mais valorizada do que a profundidade das interações. Função: Redes funcionam como plataformas para partilhar atualizações pessoais, acompanhar atividades de outros e manter uma presença online. A manutenção de muitos contatos, pode ser uma forma de reafirmar a própria identidade em diversos contextos, mesmo que a interação real seja limitada ou nula. Diferenças na Participação: O nível de engajamento, varia significativamente entre os usuários. Alguns preferem uma postura mais observadora, enquanto outros se envolvem de maneira mais ativa. Essa disparidade entre o número de conexões e a angariação real pode refletir essa diversidade no comportamento dos amigos. Psicologia das Conexões: Do ponto de vista psicológico, manter um extenso número de conexões pode ser uma forma de lidar com inseguranças ou mesmo buscar validação. Valor das Interações: A qualidade das interatividades deve superar a quantidade. Ter um círculo menor, mas genuinamente significativo, pode ser mais gratificante do que possuir milhares de contatos com pouca interação real. Isso destaca a importância de focar em conexões autênticas e valiosas. Refletir e avaliar o que esperamos delas, e como essas expectativas estão sendo atendidas pode nos ajudar a ajustar nossas práticas, promovendo uma maior qualidade nas trocas. Navegando pela Pressão dos Padrões Sociais Digitais. Freud, em sua análise que faz sobre o mal-estar na civilização, observa que a sociedade nos impõe restrições que sufocam muitas vezes nossos impulsos. Nas redes sociais, essa tensão se reflete na constante atuação de um “eu” performático, sempre em busca de aplausos. Para fechar, diante desse cenário, a questão que surge é: como encontrar o equilíbrio entre a vida digital e a preservação da saúde mental? Winnicott fala; ao desenvolver o conceito de espaço transicional, descreve um lugar intermediário onde o indivíduo pode se expressar criativamente sem ser consumido pelas exigências do mundo exterior. No contexto das redes sociais, esse espaço é cada vez mais necessário. Precisamos de um ponto de fuga, um lugar onde possamos nos reconectar com nossa essência, longe das pressões digitais. Navegar nelas, exige também a habilidade de se afastar e olhar com distância crítica, usando o autoconhecimento como chave para manter o equilíbrio. Em um ambiente que nos convida constantemente a nos comparar e importante a autopercepção como ferramenta indispensável para evitar a armadilha de medir nosso valor com base nos padrões alheios. Gratificação Instantânea e o Encontro Fiel Consigo Mesmo. Assim como no balé, onde o aprumo entre força e leveza é a base, nas redes, precisamos de uma coreografia cuidadosa. Não se trata de abandonar as plataformas, pelo contrário, devemos aprender a dançar com elas, sem perder o compasso da nossa vida interior. Estarmos atentos, como Freud nos ensinou, a trabalhar entre o princípio do prazer e da realidade, pois o verdadeiro contentamento não vem da gratificação imediata que possam fornecer os vínculos, mas do encontro fiel consigo mesmo. Para escapar das armadilhas que suas propostas podem criar e apresentar, é vital adotar uma postura crítica e consciente. Pensar sistematicamente sobre como a tecnologia nos transforma em consumidores passivos. Não sermos arrastados pela correnteza de conteúdos infinitos, ficar ligados para não se perder nessa imensidão eletrônica, moldados por algoritmos, em vez de criar nossa própria experiência. Essa abordagem consciente começa com a aceitação de que a vida digital é uma ferramenta, não uma realidade definitiva. Precisamos de um espaço, sim, onde possamos brincar e criar, longe das expectativas dos outros. O que pode ser entendido como um retorno à autenticidade — uma forma de engajamento sem sermos absorvidos completamente por elas. Finalizando; Uma Abordagem Crítica à Vida Online e à Educação Digital. A educação digital também possui um papel crucial aqui. Precisamos ensinar as futuras gerações a navegarem nesse espaço, não como espectadores passivos, mas como indivíduos conscientes de seus próprios limites e necessidades emocionais. É necessário desenvolver a gestão de uma postura de distanciamento crítico, onde possamos utilizar as redes a nosso favor, sem ser consumido por elas. Como Lacan certamente poderia sugerir, o espelho digital reflete, mas também distorce. Cabe a nós, olhar com discernimento, lembrar que o valor de nossa identidade vai muito além das métricas online, e que a verdadeira conexão, com o outro, é conosco, esse, realmente acontece fora das telas. Ao poema; Identidade e Ilusão. Por Dan Mena. Na era digital, um guia se faz urgente, É preciso saber como navegar, conscientemente. Não só para nos proteger, mas para entender, Que o online reflete sombras que podemos reconhecer. Como uma bússola de saber, podemos nos orientar, Identificando os sinais que nos fazem vacilar. Aceitar o que somos, sem editar e criar, É o passo necessário para nossa alma equilibrar. Nas redes, a visibilidade pode ser sedutora, Mas o preço da exposição carrega uma dor duradoura. Lacan fala do olhar do “Outro” que não se apaga, E na tela, o público observa, a crítica nunca se abandona. Expor nossa vida é estar em constante vigília, Onde a privacidade se torna uma moeda frágil. Proteger nossa imagem é um ato essencial, Para navegar no digital sem cair no mal. Neste palco virtual, brilham luzes e sombras, Entre cliques e likes, as identidades se cobram. Seduzidos pelo brilho, muitas vezes nos perdemos, Mas no “Grande Outro” de Lacan, nos vemos. Os números crescem, mas a interação é rasa, Por que estamos conectados, se a troca é escassa? A curiosidade e a visibilidade são o que buscamos, Mas o verdadeiro valor nas conexões encontramos. Como um balé, entre força e leveza, dançamos, Nas redes balançamos, na gratificação instantânea nos lançamos. Não devemos abandonar, mas com cautela agir, Para encontrar a essência e o verdadeiro ser, refletir. A vida digital é ferramenta, não é realidade, Criar e brincar longe da pressão, É a verdadeira liberdade, a expressão, O contentamento vem do interior, Não da validação. Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University - Florida Departament of Education - USA. Enrollment H715 - Register H0192.
- Desenvolvendo Inteligência Emocional: A Chave para a Gestão de Emoções e Resiliência no Trabalho.
Como a Psicanálise e o Autoconhecimento Potencializam a Capacidade de Enfrentar Desafios Emocionais em Tempos de Incerteza. “A verdadeira inteligência emocional surge quando o caos interior é abraçado, não evitado.” — Dan Mena Anos atrás quando trabalhava na Ford, era responsável por treinar equipes de vendas. Em certa ocasião, aconteceu algo que nunca esqueci. Estava para iniciar um treinamento importante com um grupo de mais de 150 candidatos selecionados que aguardavam motivados o primeiro contato com diretrizes, orientações e estratégias da companhia. Antes de começar, percebi haver esquecido meus materiais de apoio e audiovisuais. Obviamente que podia improvisar, más, haviam dados essenciais que continham informações importantes que não lembraria. Nesse momento, fui acometido por um pânico que tomou conta de mim, minha cabeça começou a disparar muitos cenários catastróficos. Foi aí, nesse instante, que me lembrei de um exemplar que havia lido alguns meses antes: “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman, livro lançado em 1995. Na época, foi uma obra revolucionária, que revisitou a importância de lidar com nossas emoções de forma mais consciente e eficaz. O autor aduzia, que pessoas emocionalmente inteligentes são aquelas capazes de reconhecer seus sentimentos, e também as dos outros, além de poder lidar com abalos e momentos críticos como este que relato, por isso, me lembrei do livro. Dita recordação foi decisiva para que eu me acalmasse. Ao invés de sucumbir ao pânico, me lembrei de uma passagem que dizia algo do tipo: “A capacidade de atrasar a gratificação é um sinal de maturidade emocional”. Algo que eu interpretara assim; resistir à tentação de satisfazer desejos imediatamente em troca de benefícios a longo prazo, está ligado ao desenvolvimento da maturescência emocional. Isso me deu a entender, que pessoas emocionalmente maduras são realmente capazes de controlar impulsos e tomar decisões mais amplas e assertivas, em vez de ceder ao momento desequilibrante. Assim, eu estava ali, diante de uma oportunidade de praticar de verdade essa premissa. Respirei fundo, olhei em volta aquele burburijo de gente, e reconheci o meu medo, Aos poucos fui recuperando o comando e a calma retornou. Fiz uma ligação rápida para um supervisor, dei uma enrolada na galera, e, em 40 minutos o material estava na mesa, tudo seguiu como planejado. Essa escrita me ensinou que, em momentos de crise, a rédea emotiva não está em eliminar o fantasma ou a ansiedade acometida, mas sim, reconhecer que essas ilações psíquicas têm poder, cientes, que conseguimos revertê-las em ações construtivas interiorizadas. Naquele dia, o que poderia ter sido um completo desastre para mim, virou uma lição prática para minha vida, algo que agora ensino, não só aos meus pacientes, mas também aplico pessoalmente. É isso que quero trazer à tona neste artigo. Vejo que a inteligência emocional, termo que Goleman popularizou e cunhou, vai muito além de uma simples habilidade social. Ela está conectada com o autoconhecimento, algo que Freud falou quanto às forças inconscientes que sabotam nossas intenções conscientes. Ao desenvolver um maior saber de si, podemos identificar e entender essas forças ocultas, que nos credenciam a agir de maneira mais alinhada com objetivos e desejos conscientes, minimizando esse boicote interno. “Na psicanálise, o poder não está em eliminar o medo, mas em ouvir o que ele nos ensina.” — Dan Mena Vivemos em um mundo onde as pressões e as incertezas são constantes, Bauman já destacava o tema, ao descrever nossa sociedade como “líquida” e em fluxo constante. O que antes era previsível e estável, hoje se dissolve rapidamente, e, em meio a isso, as emoções podem parecer descontroladas e frouxas. Por essa razão, chega de introdução, mergulhemos no conceito e sua aplicação prática, usando tanto as ferramentas psicanalíticas quanto as descobertas contemporâneas, vou nortear você a desenvolver essa capacidade. Parafraseando Winnicott, ''a verdadeira maturidade emocional está em nossa capacidade de tolerar a frustração e o sofrimento, sem nos desintegrarmos''. Convido você a refletir: Como você lida com suas emoções quando se sente pressionado(a)? Já parou para pensar sobre como esses deslocamentos e impulsos, moldam suas decisões? Adentraremos nessas questões, apresentarei ferramentas, e lhe guiarei na construção de uma inteligência emocional sólida, capaz de melhorar sua resiliência. Isso nos leva à questão matriz deste assunto: O que realmente significa ter inteligência emotiva? Nestes tempos de grande imposição social e reptos constantes. Richard Sennett, em sua análise sobre o “homem flexível”, aborda as transformações nas relações de trabalho e na identidade desta época. Plasticidade e versatilidade, ele diz, é uma característica valorizada na economia progressista, nos leva a uma adaptação constante às exigências do mercado. Embora essa adaptabilidade possa ser vista como uma vantagem, destaca os custos emocionais da sua aplicação. Esse homem que ele menciona, que enfrenta todo tipo de insegurança, incerteza e uma falta de comprometimento, tanto em suas relações profissionais quanto pessoais. Dita dinâmica, resulta em um sentimento de deslocalização e fragilidade, onde a nossa busca por identidade e estabilidade se tornam um repto cotidiano, num mundo em vertiginosa mudança. “Tolerar a frustração sem se desintegrar é a arte de sobreviver ao fluxo incessante das incertezas.” — Dan Mena Posso afirmar que tudo isso vai muito além de simples técnicas superficiais. Ela envolve um autoconhecimento, e a capacidade de nos conectar com nossas emoções, por mais desconfortáveis que sejam. Reprimidas, podem nos causar grande sofrimento, ao surgirem de desejos e incitamentos que tentamos evitar conscientemente, assim, em vez de refrear ou negar, precisamos confrontar. Quantas vezes já fomos dominados(as) por afetos, sentimentos e perturbações anímicas como o medo, a raiva ou a tristeza? Quando isso acontece, nós perguntamos o que realmente está por trás delas? Jung as chamava de “sombras”, sendo aqueles aspectos próprios que preferimos ignorar ou não reconhecer, mas que, na verdade, moldam grande parte do nosso comportamento diário. Desenvolver a inteligência emocional e gerir esses estímulos e incentivos, são como uma mola que turbinam tanto o bem-estar, quanto trabalham positivamente a reabilitação. É na nossa capacidade de tolerar a desilusão e o sofrimento que podemos ir ao encontro da maduração. Eis a chave que abre esse segredo, portanto, vencer seus sintomas, não está em evitar sua manifestação, mas em aprender a integrá-las de maneira saudável. A tal da jornada emotiva que todos atravessamos em algum momento, inclusive repetidamente. Observemos assim, devenidamente, como lidamos com situações de estresse, constrangimento, imposição, influência, intimidação, opressão e violência. Como reagimos quando elas parecem tomar o controle da nossa vida? Boa leitura. Como Desenvolver Habilidades para Melhorar o Bem-Estar e a Resistência a Mudança. Acredito que a inteligência emocional e o domínio das emoções não só impactam nossa qualidade de vida, mas também, afetam assustadoramente nossa psique. “A regência emocional é um ato de coragem, que transforma dor em aprendizado e fragilidade em força.” — Dan Mena O Que é Inteligência Emocional Sob a Ótica Psicanalítica? Em termos de conceitualização é nossa capacidade de lidar com o “Eu” (o ego) e o “Outro” (o ambiente externo). Ao compreender nossas turbações e as dos outros, estamos navegando por um mar que inclui, tanto os nossos impulsos inconscientes quanto as demandas da realidade. Nossa civilização depende da capacidade de cada indivíduo renunciar a certas satisfações imediatas. Essa habilidade é, de certa forma, um precursor gatilho do que hoje entendemos por autocontrole. A autoconsciência — um dos pilares desse prisma — pode ser interpretado do ponto de vista analítico, como uma forma de acessar nosso inconsciente e os aspectos subversivos da mente. Benefícios da Gestão Emocional no Dia a Dia. Esse manejo em sua natureza, é um exercício contínuo do equilíbrio entre o ego e o id (forças internas do desejo) e o superego (as normas sociais e morais). Quando conduzimos ditas movimentações de maneira eficaz, não estamos apenas contendo nossos impulsos, mas também compreendendo sua origem, assim como se entrelaçam e relacionam com nossa identidade. Em suas pesquisas, Carl Jung observou, “aquilo a que resistimos, persiste”. Ao lutarmos contra sensações e estimas, sem poder entendê-los, perpetuamos o ciclo da repressão. Não é apenas sobre ter a rédea deles, más também, e sobre criar um espaço amigável para seu reconhecimento e validação. A verdadeira perseverança surge da nossa articulação, competência e habilidade de olhar para nossas feridas psíquicas — seus traumas, e as dores que nos provocaram. Acolher seu significado, por mais doloroso que seja, é um passo enorme para sua transposição. Isso me lembra Winnicott, ele, falava sobre o conceito de “mãe suficientemente boa”, que simboliza a capacidade de lidar com frustrações. Se refere à ideia de que uma mãe (ou cuidador), não precisa ser perfeita(o) para criar um ambiente saudável para o desenvolvimento da criança. Seria portanto, aquela que atende às necessidades básicas do bebê consistentemente, mas que, permite a abertura desse espaço para autenticar naufrágios e falhas, o que é básico para o aprendizado e a formação dessa adaptabilidade necessária. Essa abordagem, enfatiza que a qualidade e dedicação ofertada não reside no ato perfeito, mas na mestria de oferecer um suporte adequado, e estar presente, permitindo que essa criança desenvolva um senso de si aprimorado, e se torne um indivíduo independentemente adaptado. Tal leitura também sugere, que o erro e a imperfeição pertencem a uma parte natural do processo de crescimento, contribuindo para a saúde emocional a longo prazo. “A imperfeição é uma aliada no encadeamento da evolução; acolher nossas feridas é o primeiro passo para a adaptação emocional.” — Dan Mena Estratégias para Melhorar a Inteligência Emocional. Sugiro que qualquer progresso nessa direção comece pela observação dos padrões subconscientes. A terapia psicanalítica e um método de “autoconsciência guiada”, no qual o paciente-cliente, se torna cada vez mais capaz de identificar seus modelos emocionais, aqueles que dirigem seu agir. Práticas como o mindfulness e ioga são muito úteis, mas prefiro entendê-las como ferramentas auxiliares para essa percepção, não apenas o presente, mas o fluxo de pensamentos que surgem do inconsciente. Um dos grandes nomes da psicanálise contemporânea, Wilfred Bion, falava sobre a importância de “pensar os pensamentos” — e a relevância da metacognição, a habilidade de refletirmos sobre nossos pleitos ao pensar. Destarte, isso implica claramente em não apenas ter pensamentos, más, senão, na sua ponderação e questionamento, compreendendo suas implicações. Ao “pensar os pensamentos”, incorporamos um saber quanto a consciência crítica, o que nos permite distinguir entre aquelas ideias que estão no automático e outras que são absolutamente deliberadas. Esse exercício vai nos conduzir a uma significativa melhora na tomada de decisões, resolução de problemas e governança firme. Esses recursos cooperam em todo o contexto, ajudando a entender como nossas crenças se elaboraram. Outra estratégia comprovada é o desdobramento da empatia através da escuta. Na clínica, percebemos que a intropatia não é apenas uma resposta superficial, mas um ouvir cavado, que considera camadas emocionais e o subconsciente do outro. Resiliência Emocional e a Psicanálise. Quando perdi minha mãe na pandemia precisei de apoio, foi quando olhei para o trabalho de Melanie Klein e seu conceito de “posição depressiva” ele refletia bem o momento delicado pelo qual eu estava atravessado. Ela me fez perceber através do seu trabalho, que os objetos de nossos afetos, neste caso minha amada mãe, eram inteiros, más, que mesmo sendo a pessoa mais importante da minha existência, nosso laço continha aspectos bons e ruins. Nesse período do luto, eu passei a experienciar sentimentos de tristeza e culpa, até que reconheci que muitas das minhas ações nesse percurso de vida, (apesar de eu sempre ter sido muto cuidadoso com ela), a poderiam ter ferido, dai o provável remorso. Foi à acepção e acomodação desses sentimentos que consegui incorporar essas prerrogativas, onde amadureci, aprendendo a lidar com a perda dessa sofrida e irreversível separação terrena. A posição depressiva, não é apenas sobre sofrimento, mas quanto a faculdade potencial de amar, de me preocupar com esse outro, e de enfrentar a realidade emocional com mais complexidão. Em miúdos, a verdadeira superação não radica em evitar a angústia, mas sim, em desenvolvermos o predicado de suportar a dor da perda, da metanoia e do conflito interno, integrando tudo isso completamente, até o transformar em crescimento. Esse atributo possível de nós recuperarmos de revezes emocionais, está ligado à nossa habilidade de “trabalhar o luto” — seja ele por uma perda literal ou simbólica (como pode ser um sonho malogrado, uma expectativa perdida). Em qualquer uma dessas hipóteses, o que esta sempre em jogo e nosso desejo mais íntimo, a incompletude literal como parte inerente da nossa condição de vida. “Pensar os pensamentos, como Bion propôs, é um exercício vital que distingue entre o automático e o deliberado.” — Dan Mena Inteligência Emocional e o Local de Trabalho. No ambiente de trabalho a inteligência emocional é muitas vezes vista como uma competência prática, mas ela também carrega implicações. Quando lideramos ou colaboramos com outras pessoas, frequentemente entramos em contato com ''dinâmicas transferenciais''. Ditas mecânicas ocorrem quando começamos a transferir sentimentos, desejos e expectativas de relações passadas. Isso significa, que reagimos às pessoas como se estivéssemos lidando com figuras importantes do nosso passado. Essas implicâncias podem ser positivas ou negativas, más, sempre refletem um traquejo anterior que ainda não foi completamente elaborado. Através dessa transferência, revisitamos velhas feridas e padrões, que podem gerar um ruído profissional. Permitir o acesso interior para serem re-trabalhadas e, eventualmente ressignificadas, potencializa um melhor desempenho no ambiente de trabalho. As tensões e conflitos que surgem, revelam nossos quereres inconscientes, principalmente, ansiedades projetadas sobre o outro, que nada tem a ver com o nosso pretérito pregresso. Emoções inconscientes podem influenciar significativamente o funcionamento coletivo, ao falarmos de gestão de emoções no trabalho, estamos discutindo como cada indivíduo lida com suas próprias projeções em um contexto maior. “Administrar emoções profissionais implica entender como as projeções pessoais afetam o coletivo, moldando a dinâmica de toda a equipe.” — Dan Mena O Desafio de Navegar nas Águas da Emoção. Finalizando meus caros leitores, aprendemos que a inteligência emocional não é apenas uma habilitação a ser adquirida, será certamente uma jornada de inspirações e autodescobertas. No entanto, ao ignorar nossas partes sofridas, arriscamos permitir que pulsações censuradas se manifestem, agindo de maneira destrutiva. Destarte, é importante reconhecer que forças internas muitas vezes operam e nos governam, tomando consequentemente a direção. Essa conscientização nos permite lidar com o problema em sua forma crua, antes de serem transformadas em sentimentos organizados e compreensíveis. Isso nos dá um vislumbre da dimensão e magnitude de depreender quanto a origem de nossas reações. Eis que surge um questionamento: Como podemos nos desenvolver emocionalmente em uma sociedade que parece nos empurrar para o descontrole e o imediatismo? Acredito que o primeiro passo para alargar esse savoir-faire de tolerar a incerteza, é reconhecer o lugar onde a imprevisibilidade é a norma de constante incerteza e vulnerabilidades estão presentes. Algo que pode ser paralisante, mas também, uma janela para o conhecimento de si. O que fazer diante de tanta melindrice, desproteção e destrutibilidade? “Em uma sociedade que valoriza o imediatismo, a verdadeira habilidade emocional reside em tolerar a incerteza e abraçar nossas fraquezas.” — Dan Mena Em vez de nos fecharmos em uma postura defensiva, sugiro que elevemos nosso potencial usando a autocompreensão. Devemos aprender a ouvir, acolher, escutar nosso inconsciente, peitar o que nos desestabiliza, e, como propõe a psicanálise, encontrar significado na dor. É nessa introspecção que residem as respostas para nossas angústias. Ao olharmos para o futuro, fica outra pergunta. Estamos preparados para viver em uma comunidade onde as emoções são tão correntes quanto as mudanças ao nosso redor? Como podemos cultivar a inteligência para nos adaptarmos, sem perdermos nossas raízes culturais e sociais? “No abismo das comoções cerceadas, encontramos a chave para nossa libertação, mas isso exige coragem para enfrentar o caos interno.” — Dan Mena No fundo, de cada sensação sufocada, há um abismo que, quando ignorado, nos consome lentamente. Nesse precipício que reside a chave da nossa libertação. Não se trata apenas de controlar as emoções, mas de encarar o original e primitivo caos que nos habita. Pois, coragem para mergulhar nele, permitindo que as sombras da escuridão nos abracem na queda. Porque no final da sua falésia, no breu da própria alma, encontraremos a luz divina que nos guiará. Ao poema: A Arte da Emoção Por Dan Mena. Em tempos de pressa e aflição, A vida flui como um rio em confusão. Corações pulsando em busca de paz, Entre medos e dores o caminho se faz. "Abraça o medo," ensina o coração, Transforma a dor em aprendizado e ação. Reconhecer a sombra, o que há por trás, Na fragilidade que a força se faz. No luto da vida encontramos a luz, Entre amor e perda o caminho conduz. De cada frustração, um passo darei, A arte de viver reaprendendo a amar. A tempestade pode nos abalar, Más, no fundo do poço aprendemos a voar. Com coragem e fé, desafiamos o destino, Na dança da vida e bom seguir o divino. E quando o silêncio se faz companhia, Na introspecção, encontramos poesia. Entre lágrimas e risos, há beleza na dor, A vida é um ciclo de um eterno clamor. Como enfrentar a pressão que o agora traz? As emoções giram, como luz que se faz. Com empatia e coragem, lado a lado lutar, Na sinfonia da vida, vamos nos abraçar. Com inteligência emocional podemos ressurgir, Na tempestade da vida, sempre há um porvir. Com corações abertos prontos para sentir, E ao fim da jornada a esperança seguir. Até breve, Dan Mena Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University - Florida Departament of Education - USA. Enrollment H715 - Register H0192.