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- Vaidade.
A vaidade produz a hermenêutica da regra social atual, ou seja, a interpretação permanente, onde fica a todo instante esta característica surgida no renascimento e estimulada habilmente hoje pelo mundo capitalista, como a necessidade de sermos únicos e especiais, fortes, quase Deuses. A vaidade produz a hermenêutica da regra social atual, ou seja, a interpretação permanente, onde fica a todo instante esta característica surgida no renascimento e estimulada habilmente hoje pelo mundo capitalista, como a necessidade de sermos únicos e especiais, fortes, quase Deuses, onipresentes a nosso narcisismo contemporâneo. Queremos eliminar a falha, não dar lugar a tristeza, nem consentimos que possamos falhar sexualmente, porque tem o azulzinho. Não admitimos a angústia, porque podemos dar mão de auxílios químicos, com inibidores seletivos que simplesmente congelam superfluamente que vivamos os necessários fracassos, nos transformando em zumbis ambulantes. O intuito e barrer àquelas experiências de antigamente, conhecidas como tônicas fundamentais da vida, fortalecedoras do caráter, que estimulavam o crescimento e nos colocavam no caminho do aprendizado. Não tem mais espaço para a queda, subir a montanha deve ser sem tropeços, porque eu não suporto a dor, a todo instante e essa personalização que aumenta com a sensação de urgência, acompanhados da inseparável e absoluta vaidade, que há muito tempo deixou de ser um defeito, e passou a ser uma virtude sólida, talvez, o atributo mais esperado de todos. O novo nome da existência humana é a super autoestima, zero crítica, mal-estar e choro, não podem nos coabitar, a qualquer custo devem ser eliminadas, mais conviver com essas coisas que animaram e impulsionaram a humanidade em tempos passados devem ser banidas para baixo do tapete. Para evitar os desprazeres, não consertamos mais coisas, muito menos restauramos as relações afetivas, agora é mais fácil trocar, achincalhar a calça, sapato, celular, computadores. Substituir as pessoas por outras, cancelar ficou mais prático, vamos transfazendo a dor do desgaste pela vaidade da novidade, pois ao intercalar minhas relações, posso me re-iniciar, acredito imediatamente em estar me tornando alguém mais interessante, e não percebo que aquele espelho, espelho meu… continua sendo o drama da minha ufania. Não tolero a pessoa anterior, porque provavelmente ela me mostrou que estou envelhecendo, que o tempo não pára, ou não consigo ser verticalmente interessante. No arcabouço que construí, na minha capsula de presunção, o novo pode ser melhor manipulado, explorado com mais facilidade, o quanto aspiro ser interessante, excitante, apaixonante, e assim permanecer nessa gangorra de fantasias que, no fundo, fragilizam nossas habilidades e nos adoecem. Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
- O Carnaval.
Historicamente, às primeiras pessoas a desfrutar do Carnaval foram os camponeses sumérios que, mesmo antes de Cristo, se reuniram disfarçados e mascarados diante de fogueiras para celebrar a fertilidade da terra, para afastar os espíritos malignos da colheita. Historicamente, às primeiras pessoas a desfrutar do Carnaval foram os camponeses sumérios que, mesmo antes de Cristo, se reuniram disfarçados e mascarados diante de fogueiras para celebrar a fertilidade da terra, para afastar os espíritos malignos da colheita. Mais adiante, na sua origem romana, a festa foi contextualizada sob uma premissa religiosa, como uma celebração específica de vários países cristãos, que mais tarde se espalhou para aqueles que não eram. Nasceu, então, em associação com a Quaresma, uma vez que durante ela, todas as atividades lúdicas deviam ser suprimidas. O carnaval, portanto, se estrutura como uma concentração de atividades recreativas que dão lugar imediato, antes da Quaresma, que começa com a quarta-feira de cinzas. Apesar da sua inclusão no calendário litúrgico romano, nunca foi uma festa amiga dos católicos, pouco tolerada pelo catolicismo, hoje, altamente criticada pelos protestantes, se encontrou sujeita a infinitas restrições, era algo assim; como um filho não desejado da religião. Existem diferentes versões da origem da palavra carnaval, tais como a do latim ''Carnevale'', que significa o adeus à carne, aquela que não será consumida durante os próximos 40 dias, antes da Páscoa. A sua origem remonta aos festivais pagãos celebrados pelos romanos e gregos, tais como Lupercales e Saturnalias, festivais em honra de Baco, (deus do vinho, da agricultura, da fertilidade e da folia na mitologia romana, conhecido como Dionísio na mitologia grega). Estas, eram festas rituais, que culminavam em excessos de comida, bebida e luxúria, como uma atuação profana, que acolhia privações religiosas e às tradições romanas que sobreviveram, e se tornaram famosas na cultura renascentista Europeia. Faziam parte das comemorações, danças de salão, onde eram utilizados trajes, máscaras ou disfarces, pessoas de todas as classes sociais podiam frequentar e misturar-se. Estas formas de celebração chegaram à América através da conquista, vale dizer, que tais celebrações não são exclusivas do Brasil, pois se desenvolveram em várias partes da América Latina e Central. No entanto, um segundo elemento entra em jogo na tradição carnavalesca brasileira, é a influência africana, com a introdução das danças e do Samba, como elementos da sua base musical e rítmica. Como uma tradição partilhada coletivamente, em que pular, dançar e ocupar as ruas são a base da celebração. Assim, Eros, que; (Significa “desejar com muito amor”, inclui o “erótico” e o “erotismo” têm origem no nome desse deus). Na psicanálise. Eros representa o desejo sexual e a paixão, que será convocado a expandir sua potência, abrindo espaço para chistes, risos, sexualidade e fantasias, para lidar com às tensões pós-modernas, tornando-as possíveis de serem libertas, sem demasiadas opressões. O carnaval no Brasil, (a diferença de outros, como no meu país, Uruguai, onde existe uma parte dele realizado no palco, preparado para às "Murgas", não é um espetáculo teatral realizado em palanques convencionais com grupos, atores e espectadores, o carnaval brasileiro foi feito para o povo, essencialmente vivido na rua, onde encontra seu ''habitat''. Durante o carnaval não há outra vida, é impossível escapar, porque ele não tem fronteiras espaciais. O modelo não é apenas performativo nas esquinas, pois qualquer lugar pode torna-se imediatamente um cenário aberto, não convencional, tudo está para acontecer ou prestes a começar. O mundo contemporâneo, exibe uma vasta gama dos seus contextos em formas de celebração. Poderíamos entender isso como uma prática invocada para estabelecer uma condição afetiva, caracterizada por um elevado nível de humor, tendo a função de servir como um ingresso, um bilhete temporário, eficaz para os sujeitos contemporâneos, tentando fugir ao desconforto de viver na cultura. Freud, em ''O mal-estar na cultura'', o enuncia como diferentes formas de satisfação. De fato, o carnaval funciona hoje como um passaporte, uma espécie de promessa de um final feliz. O tema do excesso intrínseco, a ingestão de bebidas alcoólicas, drogas, agressividade, sexo casual e obscenidades, tudo em nome da luxúria e da libertação da seriedade, onde o corpo, é o laço responsável pelo seu transbordamento. Então o corpo… será que o corpo é outro no carnaval? Ou do passado, o ideal, dos deuses, o intra-uterino, o imortal, da máxima beleza, do perfeito, melancólico, o que cai e sofre, o das palavras insuficientes, que não dão conta de preencher nossos vazios? Na histeria, o sujeito encontra e inventa o seu território, o erógeno, que Freud descobre, onde o corpo, o seu próprio e o dos outros, é o tablado do drama humano. Em Totem e Tabu, Freud alude ao êxtase libertador que provoca: “Uma festa é um excesso permitido e mesmo ordenado, uma violação solene de uma proibição”. Mas o excesso, não depende do humor alegre dos homens (…), mas reside na natureza da própria festa, e a alegria, produzida pela liberdade de fazer o que em tempos normais seria estritamente proibido”. O carnaval caracteriza-se por uma espécie de divisão esquizoide da personalidade, como alguém que se torna outra coisa, sujeito ou algo que não é, mas que expressa emoções, impulsos instintivos que na sociedade e a condição pessoal do seu papel, onde o estatuto social não permite que sejam expressos sem restrições. Portanto, máscaras, nudez, sensualidade, fantasia e disfarce permitem, por exemplo, que uma pessoa cuja vida é vivida com moderação, prudência e contenção, se torne momentaneamente licenciosa, abstrata e fora das (regras). As próprias máscaras, menos utilizadas atualmente, são uma expressão de instintos reprimidos, agressividade, ódio, ira, emoções e sentimentos lascivos e depravados, retidos no inconsciente de multidões, agravados por uma diversidade de frustrações. Tudo como um jogo de simbolismos, que muitas vezes fingem ser inocentes e ingênuos. O Carnaval sempre foi um lugar para questionar a norma, o padrão, a forma habitual de viver. Este reflexo da sociedade, que no passado questionava temas tabu, como a nudez e a sexualidade, está hoje enfraquecido no sentido religioso e reforçado na direção da espetacularização, uma vez que o ator e o espectador já não são figuras permutáveis, mas cada um ocupa um lugar com um espírito insolente, mantido em grupos que se organizam para participar. O verdadeiro sentido mítico, que ainda conserva alguma autenticidade, uma vez que ainda subsistem comunicações pessoais não mediatizadas. Por outro lado, o carnaval carioca é exclusivo, com a sua espetacular exibição de recursos e a exportação de imagens transmitidas a milhões de pessoas em todo o planeta, que assistem sua musicalidade, arte, cor, lascívia e calor que às escolas de samba proporcionam. Mas este evento único, típico da cultura, tornou-se um produto globalizado, onde suas estruturas e estilos foram imitados por sociedades cujos interesses oficiais privilegiaram imposições da indústria cultural e turística. Tal transformação varreu a estrutura mais genuína do carnaval tradicional, no qual o povo era protagonista do seu circuito, embora o seu espírito não tenha sido completamente enterrado, sobrevive em diferentes práticas locais. A indústria cultural transformou este modelo num produto, esvaziando o seu significado mítico, o carnaval, foi sendo transformado num artigo, uma mercadoria de consumo, onde o folião já não é o protagonista, mas é relegado ao plano de freguês, com ingresso, camarote, telão, carro elétrico, celebridade, o papel mais relevante foi repassado ao da cultura visual. Como a festa, em muitos lugares, foi substituída por uma pasteurização. Outrossim, esta série de mitos e ritos aqui transmitidos com uma certa precariedade, pela objetividade necessária a escrita, onde caberiam um sem número de anotações na esfera histórica. Uma característica primordial e invariável não pode deixar de ser dita, o carnaval vai do cômico ao trágico, da sua morte à sua ressurreição, do agradável ao repelente, do místico ao atual, do próximo e querido ao odiado. Em qualquer caso, seja como for representado, abre uma fissura festiva, jocosa, cíclica e eternamente precária. De um ponto de vista psicanalítico, o Mito, onde sua ordem simbólica têm uma unidade constitutiva, o Significativo, adquire valor em virtude da sua relação com os outros elementos significantes de um sistema simbólico. Sob uma postura Lacaniana, é o mito uma história, que implica uma relação singular com algo imutável por detrás da sua execução, mas enunciado por via de um discurso, que não sabe o que diz e não diz o que sabe, porque faz parte dessa realidade. Este algo imutável, alude à própria inércia do ser humano para subverter a ordem estabelecida na busca do objeto que satisfaça o seu desejo. O Sujeito, deseja a Coisa Freudiana, sob um discurso incoerente que a/o invista com o manto dos deuses. O desejo que nos constitui, que conduz à lógica da insaciabilidade, busca da plenitude, seguida da infelicidade e insatisfação, um jogo de simulação, que quer contrariar a decepção, que exige sempre seu anseio por uma completude impossível. Os diferentes caminhos do homem envolvem sempre o mesmo cruzamento. Este anseio de preenchimento, de chegar a um prazer absoluto improvável, sempre procurado no reverso da humanidade, pois a sua civilidade, ciência, política, religião, sociedade e cultura, tendem para a uniformidade, robotização do mundo, onde só podemos esperar pela aniquilação do sujeito. Em tempos em que a pergunta se torna angústia, e a resposta pode ser puro delírio, como diria Carlos Drummond de Andrade: “O povo toma pileques de ilusão com futebol e carnaval. São estas às suas duas fontes de sonhos.” Então eu me pergunto? Será que no carnaval… tiramos ou colocamos às máscaras? É como sempre, gosto de finalizar com um poema, que entendo retrata um pensamento, que nem sempre nos representa, mas é humano. A nossa vida é um carnaval A gente brinca escondendo a dor E a fantasia do meu ideal É você, meu amor Sopraram cinzas no meu coração Tocou silêncio em todos os clarins Caiu a máscara da ilusão Dos Pierrôs e Arlequins Vê colombinas azuis a sorrir Vê serpentinas na luz reluzir Vê os confetes do pranto no olhar Desses palhaços dançando no ar Vê multidão colorida a gritar Vê turbilhão dessa vida passar Vê os delírios dos gritos de amor Nessa orgia de som e de dor. Poema Turbilhão - Moacyr Franco Bom carnaval! Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Palavras Chaves: #Carnaval, #CamponesesSumérios, #Fertilidade, #Fogueiras, #EspíritosMalignos, #Colheita, #Celebração, #Religião, #Cristãos, #Quaresma, #QuartaFeiraDeCinzas, #Litúrgico, #Catolicismo, #Protestantes, #Restrições, #Carnevale, #FestivaisPagãos , #Lupercales, #Saturnalias, #Baco, #Dionísio
- O que é Autismo? Sintomas, Sinais e Tratamento Explicados de Forma Clara.
TEA na Contemporaneidade: Reflexões Psicanalíticas e Desafios Sociais. “O autismo revela a beleza da nossa diversidade.” Dan Mena. O autismo, como o compreendemos hoje, surgiu pela primeira vez de forma sistemática através do trabalho inovador de Leo Kanner. Este psiquiatra austríaco, que se estabeleceu nos Estados Unidos, apresentou um marco essencial na compreensão do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em 1943. Em seu artigo intitulado “Autistic Disturbances of Affective Contact”, contribuiu com observações meticulosas de um grupo de crianças que apresentavam comportamentos inovadores e enfrentavam dificuldades extraordinárias nas interações sociais. Com essa pesquisa, ele não apenas redefiniu o termo “autismo” dentro do campo psiquiátrico, mas também moldou um padrão comportamental que incluía o isolamento social, interesses restritos e uma resistência marcante a mudanças. Com seu trabalho, destacou um distúrbio significativo na capacidade natural de se relacionar com o mundo social, revelando um impressionante desinteresse nas interações. Essa percepção inicial destacou o hermetismo do autismo, evidenciando que essas crianças não apenas se afastavam da socialização convencional, mas que opostamente tinham uma forma única de interagir e compreender o mundo ao seu redor. À medida que essa caminhada de descobertas do autismo continua a se desdobrar, ela se torna autenticamente pessoal para muitas famílias, incluindo a minha. A condição de Davi, meu neto autista, nos ensinou a celebrar as pequenas vitórias — um sorriso radiante, uma nova palavra ou uma participação significativa. Esses momentos, muitas vezes, passam despercebidos na correria do cotidiano, mas para nós, cada um deles é uma conquista que merece ser celebrada. Aprendemos que, de uma maneira única, cada progresso é um testemunho da resiliência e da capacidade de Davi se superar. Minha filha e meu genro têm sido pilares gigantes nessa jornada, demonstrando uma dedicação admirável a Davi, e transformando seu amor em uma missão ainda maior. Como professores de educação física, eles idealizaram e implementaram o projeto “As Estrelas de Davi” , um programa de atividades aquáticas inclusivas que visa criar um ambiente acolhedor e respeitoso para crianças com TEA. Essa proposta, que agora se concretizou brilhantemente como uma realidade de sucesso, simboliza o esforço coletivo para derrubar barreiras e preconceitos, oferecendo a outras famílias um caminho de esperança e empoderamento para seus filhos. No projeto, fornecem um espaço seguro para as crianças, que também funcionam como uma plataforma de aprendizado e transformação. Davi agora, não é apenas uma fonte de inspiração para nós; ele se tornou um farol que guia a prática e a transfiguração para muitas outras crianças e suas famílias. Por meio deste programa, estamos todos contribuindo para uma visão de mundo mais abrangente, onde cada criança, independentemente de suas condições, possam prosperar e serem aceitas na sua natureza particular. Essa experiência coletiva molda nossa missão familiar, promovendo um entendimento mais profundo e empático sobre o autismo na sociedade contemporânea. Ao olharmos para Davi, vemos não apenas um menino no espectro, mas um indivíduo completo, repleto de sonhos, interesses e uma essência que enriquece nossas vidas e a de muitos outros. Assim, convido todos a refletirem sobre a importância da integração, do afeto e do amor, comemorando as diversidades que enriquecem nosso convívio. Que esta leitura possa inspirar outros a se unirem, promovendo um futuro de afirmação e valorização. Boa leitura. Como uma condição neurodesenvolvimental afeta significativamente a capacidade de comunicação e interação social. A diversidade de manifestações do autismo é ampla, o que justifica a inclusão da palavra "espectro" no nome. Os sinais de TEA podem surgir nos primeiros anos de vida e geralmente incluem dificuldades em manter contato visual, atraso no desenvolvimento da fala, interesses restritos e repetitivos, além de uma forte resistência a mudanças na rotina. No entanto, sua apresentação é variada, com alguns indivíduos demonstrando habilidades cognitivas avançadas em áreas específicas, enquanto outros enfrentam desafios mais severos. Avaliação e Diagnóstico O diagnóstico do autismo requer uma avaliação clínica detalhada e multidisciplinar, que inclui observações comportamentais e, em alguns casos, testes neuropsicológicos. Esse processo envolve uma equipe de profissionais, como pediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Devido à ampla variação na manifestação dos sintomas, o diagnóstico pode ser desafiador, mas é crucial para garantir que os indivíduos recebam o apoio necessário desde cedo. Sua complexidade demanda uma abordagem integrativa. Intervenções baseadas em evidências, como a Análise Comportamental Aplicada (ABA), são amplamente utilizadas para melhorar as habilidades de comunicação e socialização, bem como promover o desenvolvimento emocional e cognitivo. Terapias ocupacionais e fonoaudiológicas também são comuns para auxiliar no progresso do desenvolvimento. A intervenção precoce é fundamental para maximizar o potencial de desenvolvimento dos portadores. A psicanálise também oferece uma perspectiva valiosa na sua compreensão. "O diagnóstico do autismo exige uma abordagem colaborativa entre diversos profissionais, uma vez que cada caso revela nuances únicas de comportamento, exigindo um olhar sensível e detalhado." Dan Mena. Um legado Contemporâneo para o Autismo desde a Psicanalise. Frances Tustin foi uma psicoterapeuta infantil britânica que fez contribuições significativas ao campo da psicanálise aplicada ao autismo. Seu trabalho se destacou especialmente por desenvolver a teoria do "encapsulamento autístico" . Em sua proposta observou que as crianças autistas, confrontadas com um mundo sensorial avassalador e confuso, desenvolviam um "encapsulamento" como mecanismo de defesa. Essa bolha comportamental se refere a um "mundo interior" que a criança desenvolve para se proteger dos estímulos externos que são percebidos como ameaçadores ou excessivos. Esse comportamento resulta em respostas e condutas determinantes, como evitar o contato visual, apegos a rotinas específicas e o engajamento em atividades repetitivas. Poderiam ser então uma resposta a uma percepção sensorial opressora do mundo ao redor?. As crianças, na tentativa de regular essas experiências, desenvolvem comportamentos que ajudam a criar uma barreira protetora entre elas e o ambiente externo. Em suas sessões de terapia, ela adotava uma abordagem empática, buscando entender as necessidades emocionais das crianças, e acreditava que, ao fornecer um ambiente previsível, os terapeutas poderiam ajudar as crianças a reduzir suas defesas e a se engajar mais plenamente com o mundo social. "O encapsulamento autístico, conforme proposto por Frances Tustin, é um refúgio silencioso onde uma criança tenta proteger-se de um mundo que invade seus sentidos com intensidade desmedida." Dan Mena. Esse legado importante de Tustin continua a ser relevante nos dias de hoje. Seu trabalho ajudou a mudar a percepção do autismo de uma condição meramente patológica para uma outra que envolve uma gama complexa de experiências sensoriais e pungentes. Sua abordagem empática e centrada na criança continua a inspirar terapeutas e educadores, e criar ambientes que respeitem e valorizem as diferenças individuais. "A teoria de Tustin transforma radicalmente o entendimento do autismo, revelando que, por trás do aparente isolamento e retraimento, há uma tentativa vital de criar um escudo contra estímulos sensoriais que são percebidos como insuportavelmente intensos e desorganizados, forçando a criança a se proteger por meio de mecanismos defensivos que permitem uma interação mínima com o mundo externo, preservando sua integridade emocional e cognitiva." Dan Mena. A teoria das "mães geladeiras". Proposta por Bruno Bettelheim, é uma das explicações psicanalíticas mais controversas sobre a origem do autismo infantil. Ela sugeria que as mães de crianças autistas eram emocionalmente frias e distantes, o que contribuía para o desenvolvimento do autismo nos filhos. Essa ideia surgiu entre as décadas de 1940 e 1960 e foi amplamente discutida. Bettelheim argumentava que o comportamento das mães, caracterizado por uma falta de afeto e conexão emocional, poderia ser um fator desencadeante do autismo. Ele descreveu essas mães como "geladeiras" porque supostamente tratavam seus filhos com uma frieza que impedia o desenvolvimento emocional adequado. Em seu livro "A Fortaleza Vazia" ("The Empty Fortress"), ele chegou a afirmar que o desejo dos pais de que seus filhos não existissem era um fator precipitante do autismo. "A teoria das 'mães geladeiras' revela não apenas uma falha crítica da psicanálise clássica, mas também uma tendência prejudicial de culpabilizar as mães, perpetuando estigmas que desumanizam a experiência materna e obscureceram a verdadeira complexidade do autismo." Dan Mena. Essa visão gerou um estigma significativo em relação às mães de crianças autistas, levando a uma culpa injusta sobre suas habilidades parentais. A partir da década de 1970, essa teoria foi amplamente contestada e desacreditada, especialmente com o avanço de pesquisas que destacavam fatores genéticos e neurológicos como causas do autismo. O movimento de neurodiversidade, surgido nas últimas décadas, também criticou a abordagem psicanalítica, enfatizando que o autismo deve ser visto apenas como uma variação natural da condição do ser, ao invés de uma patologia a ser curada. Representou um momento histórico na compreensão do tema, refletindo as limitações da psicanálise na época. Embora tenha sido uma tentativa de explicar um fenômeno complexo, suas implicações negativas para as mães e a percepção pública do autismo levaram a um afastamento dessa visão em favor de abordagens mais inclusivas e baseadas em evidências científicas contemporâneas. "Embora a intenção de Bettelheim fosse entender o autismo, sua teoria refletia uma época em que a psicanálise priorizava explicações simplistas e morais, em detrimento de uma análise mais rica e multidimensional que a condição realmente exigia. Ele ignorou fatores neurológicos, genéticos e ambientais que afetam papéis cruciais na experiência vívida por indivíduos autistas." Dan Mena. Winnicott e o Ambiente como Facilitador da Subjetividade Infantil. Não posso deixar de me remeter à visão de Winnicott sobre o autismo e o desenvolvimento infantil, que amplia a compreensão sobre como o ambiente molda a subjetividade de uma criança. O conceito de “mãe suficientemente boa” sublinha a importância da resposta adequada às necessidades emocionais do bebê, sem a pressão de perfeição, mas com sensibilidade e presença. A falha nesse ambiente, especialmente nas fases iniciais da vida, pode gerar defesas emocionais, como estados autísticos, que protegem a criança de ansiedades intoleráveis. O ambiente sustentador ou “holding” — como base teórica — reflete a importância da segurança emocional fornecida pela figura materna e pelo ambiente em geral. Este espaço de acolhimento não é apenas para atender necessidades imediatas, mas também para permitir que a criança explore suas emoções e experimente o seu próprio desenvolvimento. "O autismo é uma forma singular de explorar o mundo, não um déficit." Dan Mena. O “holding” na prática clínica pode ser entendido como mais do que uma resposta física. Na verdade, é um ambiente emocional onde as ansiedades primitivas podem ser contidas. Para crianças com autismo, onde a dificuldade de comunicação pode complicar o processo de expressão emocional, esse tema se torna ainda mais relevante. Um espaço terapêutico eficaz pode focar não apenas em decifrar comportamentos simbólicos, mas também em proporcionar um ciclo de suporte constante, físico e emocional, facilitando o progresso da identidade e das capacidades afetivas. A transferência, neste contexto, não se limita à interpretação, mas envolve a criação de um vínculo emocional entre o analista e o paciente, possibilitando um espaço de sustentação para o crescimento. "O 'holding' é um abrigo emocional contra ansiedades primitivas." Dan Mena. Esse tipo de abordagem também valoriza interações não-verbais, fundamentais no tratamento do autismo. A capacidade de construir laços sensoriais, por meio do toque ou da presença física, ganha relevância. Intervenções como terapia assistida com animais reforçam essas conexões, exemplificam portanto o conceito winnicottiano de um ambiente suficientemente bom, onde o paciente autista pode encontrar segurança e desenvolução. A ideia da “mãe suficientemente boa” também se aplica no contexto da terapia, onde o terapeuta assume um papel que vai além da interpretação para se tornar uma figura presente e disponível, facilitando a adaptação emocional da criança. Essa mãe “suficientemente boa” não precisa ser perfeita; ela precisa ser adequada e flexível às necessidades, o que, no caso do autismo, significa entender e adaptar-se à forma singular de expressão e interação. Winnicott também sugeriu que os pais ''inventam''. Essa visão nos convida, como psicanalistas, a expandir interpretações e ir além das normas. A psicanálise, nesse sentido, se torna uma ferramenta para dar voz ao que é inefável, permitindo que o sofrimento ou a singularidade do paciente seja compreendido de uma maneira nova. Como Freud destacou, a psicanálise é uma maneira de “dar voz aos que não podem falar” , uma missão que adquire um entendimento amplo no contexto do autismo, onde muitas vezes o sofrimento emocional não se expressa claramente. A contribuição também nos lembra de que a psicanálise deve considerar o ambiente no qual a mãe está inserida. O “ambiente suficientemente bom” não é apenas um fator individual, mas também reflete o apoio que uma mãe recebe da sociedade e de seus relacionamentos, o que, por sua vez, influencia sua capacidade de cuidar do bebê. Essa abordagem na rede de cuidados e nas relações mais amplas sugere que na clínica precisamos ir além do cenário tradicional e olhar para a totalidade das influências que cercam a criança autista. Entretanto, como qualquer abordagem terapêutica, ela apresenta desafios práticos. Ainda existe uma lacuna significativa na formação de profissionais de saúde psíquica, o que impede que muitos terapeutas programem eficazmente essas abordagens. Em sistemas de saúde que privilegiam modelos tradicionais e mais rígidos, a flexibilidade emocional e o suporte necessário para eles(as) muitas vezes não são contemplados especialmente. Portanto, uma mudança na mentalidade e uma formação contínua dos terapeutas são essenciais para que a abordagem winnicottiana possa ser aplicada em sua totalidade. "Para crianças autistas, o ambiente facilita a conexão sensorial." Dan Mena. O foco na potencialidade do bebê, uma visão que retira a abordagem de deficiência ou falha, ressignifica o desenvolvimento. Como Winnicott coloca, o bebê descobre a realidade em vez de criar, o que implica que o papel do ambiente é facilitar essa descoberta e permitir que ela explore o mundo ao seu ritmo. Este é um conceito libertador, ao propor que cada forma de ser, incluindo as formas de ser autistas, sejam válidas e plenas de sentido. Isso nos convida a ir além dos parâmetros tradicionais de normalidade e a considerar sua riqueza singular. “Dar voz ao sofrimento não dito” é o que a psicanálise faz de melhor. É o que permite surgir com novas formas de compreender a vida. Seguindo a ideia de Winnicott e sua aplicação na compreensão do (TEA), inclue um ponto essencial que envolve uma mudança de perspectiva: deixar de enxergar o autismo apenas como um déficit ou um distúrbio a ser corrigido, e sim como uma maneira singular de estar no mundo, com suas próprias potencialidades e formas interativas. "O ambiente terapêutico deve acolher tanto o dito quanto o não dito." Dan Mena. A Dimensão Sensorial do Autismo: Sensibilidade e Sobrecarga. O (TEA) é caracterizado por uma ampla gama de sintomas e comportamentos, sendo a ''hipersensibilidade sensorial'' uma das dimensões menos compreendidas. Esse prisma do autismo envolve como as pessoas no espectro percebem, processam e reagem aos estímulos do ambiente, o que pode variar enormemente de uma pessoa para outra. Alguns indivíduos podem ser extremamente sensíveis a sons, luzes, cheiros, sabores e texturas. Isso significa que determinados influxos que para a maioria das pessoas são comuns e inofensivos podem ser críticos para aqueles com autismo. Por exemplo, o som de uma sirene pode ser intolerável, uma luz fluorescente pode causar desconforto extremo, ou a textura de certos alimentos pode ser insuportável ao ponto de evitar a alimentação. Esta hipersensibilidade é muitas vezes descrita como descomedimento, onde os sentidos são amplificados e, em muitos casos, perturbadores. Segundo Temple Grandin, uma famosa cientista autista, "É como ter um amplificador em nossos sentidos, e é difícil lidar com todas as informações de uma só vez." Eles ocorrem quando a quantidade de provocações perceptuais recebidas pelo cérebro é excessiva e difícil de processar. Isso pode resultar em uma resposta de "luta ou fuga" , onde a única maneira de lidar com a energia das incitações é evitá-las completamente. Em situações de superabundância, comportamentos como se cobrir, fugir do local ou se isolar podem ser vistas como estratégias de enfrentamento. Para lidar com esses fatores, várias estratégias e intervenções podem ser adotadas. A Terapia de Integração Sensorial é uma abordagem comum que busca ajudar as pessoas a processar melhor ditos eventos. Essa terapia envolve atividades que podem ajudar a "organizar" o cérebro, de modo que as respostas aos motivadores se tornem mais reguladas. "Quando o cérebro é inundado por uma exorbitância sensorial, a resposta pode ser a busca por refúgio, ilustrando como os comportamentos de isolamento são, na verdade, estratégias de sobrevivência em um ambiente repleto de estímulos incômodos." Dan Mena. Outras estratégias incluem a criação de ambientes controlados, como salas de terapia sensitiva, onde compensações como luzes, sons e texturas podem ser ajustados para ajudar autistas a se sentirem mais confortáveis. Pais e educadores também podem aprender a identificar os gatilhos específicos e implementar ajustes, como o uso de fones de ouvido para bloquear sons altos ou óculos de sol para reduzir a exposição à luz intensa. Ao reconhecer ditas diferenças e adaptar os ambientes e interações, é possível reduzir o fardo sensório e promover um ambiente mais acolhedor. Além disso, essa compreensão pode ajudar a desmistificar comportamentos que muitas vezes são mal interpretados como resistência ou desinteresse, quando na verdade são respostas a uma experiência negativa do entorno. "Para os indivíduos no espectro autista, a hipersensibilidade pode ser comparada a viver em uma sinfonia descontrolada, onde cada nota, cada luz e cada textura se intensificam, tornando a harmonia da vida diária um desafio constante." Dan Mena. Construção da Identidade Pessoal no (TEA). A ''construção da identidade pessoal'' é um processo complexo e contínuo que envolve a formação de um sentido de si mesmo, englobando características, opiniões, valores e experiências. Esse processo é ainda mais intrincado, uma vez que é moldado por fatores e desafios únicos que influenciam não apenas a forma como se percebem, mas também como são percebidos pela sociedade. A formação da identidade em indivíduos autistas enfrenta desafios devido a várias dificuldades associadas ao enunciado, como problemas de comunicação, desafios na interação social e na compreensão das normas sociais. Essa articulação pode levar à percepção de ser "diferente", afetando profundamente a autoestima e a autoimagem. A Dra. Laura Meranda observa que; “os indivíduos autistas frequentemente enfrentam um dilema de identidade, onde precisam conciliar sua percepção interna de si mesmos com as expectativas e visões externas da sociedade” . Essa tensão interna pode resultar em sentimentos de isolamento e incompreensão, criando uma luta constante para o autoconhecimento e aceitação. Além disso, o dilema de identidade pode ser agravado por experiências de ''bullying'', discriminação e exclusão social, frequentemente relatadas por eles. A pressão para se conformar às expectativas sociais pode levar à internalização de uma autoimagem negativa, contribuindo para questões de saúde psíquica, como ansiedade e depressão. Assim, é primordial que os esforços para apoiar a formação da identidade deles sejam focados não apenas no desenvolvimento de habilidades sociais, mas também na promoção da aceitação. “À medida que os indivíduos autistas navegam por um mar de desafios sociais e emocionais, a promoção de um ambiente inclusivo se torna essencial para cultivar uma identidade que celebre suas diferenças e fortaleça sua autoestima.” Dan Mena. O Papel da Família. A família desempenha um papel vital na formação da identidade, núcleos familiares que criam um ambiente de liberdade, apoio e incentivo ajudam a fortalecer a autoestima. O suporte do laço deve incluir uma compreensão das suas particularidades, promovendo uma comunicação aberta e respeitosa. Um ambiente familiar que valide as experiências emocionais dos indivíduos autistas pode ajudar a mitigar os sentimentos de inadequação e solidão. Além disso, grupos de apoio e programas comunitários oferecem espaços onde indivíduos autistas podem se conectar com outras pessoas que compartilham experiências semelhantes. A inclusão em atividades escolares, esportivas e sociais proporciona oportunidades de autoexploração e crescimento, contribuindo para uma construção de identidade positiva e saudável. O papel da família, aliado ao suporte da comunidade, pode ser um fator determinante na formação de força e resiliência. Narrativas Positivas. A representatividade na mídia e na literatura são essenciais para a construção da identidade. Ver pessoas autistas retratadas de maneira autêntica ajuda a normalizar suas vivencias e promover uma autoimagem favorável. Isso permite que eles reconheçam que suas lutas e triunfos são válidos e fazem parte de uma comunidade mais ampla. A ativista autista Amy Gravino destaca que "ter modelos de comportamento e exemplos positivos é capital para que indivíduos autistas possam visualizar o que é possível em suas próprias jornadas" . A mídia, seja em filmes, livros ou programas de televisão — desempenham um papel importante na formação da percepção pública. Narrativas inclusivas podem desafiar estereótipos negativos e oferecer uma visão mais abrangente, mostrando não apenas os desafios enfrentados, mas também as conquistas individuais e grupais. A Importância do Diagnóstico Precoce. Para garantir intervenções eficazes e melhorar a qualidade de vida das crianças afetadas, se faz necessário identificar os sinais de autismo nos primeiros anos de vida, o que não apenas potencializa as chances de progresso das habilidades sociais, comunicativas e cognitivas, mas também, permitem que famílias e profissionais de saúde implementem estratégias de apoio adequadas. Compreender a importância desse diagnóstico é essencial, pesquisas indicam que intercessões iniciadas antes dos três anos podem resultar em melhorias significativas nas habilidades de comunicação e interação social. A neuroplasticidade, que se refere à capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar, é especialmente pronunciada durante os primeiros anos de vida. Portanto, quanto mais cedo as interposições forem realizadas, maiores serão as chances de um desdobramento positivo. Estudos demonstram que crianças que recebem suporte adequado desde cedo apresentam melhor desempenho acadêmico e social ao longo da vida. Os sinais de alerta para o TEA podem ser observados desde os primeiros meses de vida. É importante que os pais estejam atentos a comportamentos que podem indicar a necessidade de avaliação profissional: Ausência de sorrisos ou expressões faciais em resposta a interações sociais. Atrasos na fala ou na capacidade de manter contato visual. Foco intenso em objetos ou atividades específicas, muitas vezes desconsiderando o contexto. Identificar esses sinais precocemente pode ser determinante para buscar ajuda profissional e iniciar intervenções apropriadas. O diagnóstico tardio pode ter sérias implicações, crianças que não recebem o diagnóstico e a intervenção adequadas correm o risco de enfrentar dificuldades escolares, problemas emocionais e sociais, além de baixa autoestima. Mediações demoradas muitas vezes resultam em oportunidades perdidas para o progressão de habilidades, como a comunicação efetiva e a formação de laços afetivos. A importância do diagnóstico precoce é inegável. Ele não apenas abre portas para intervenções eficazes, mas também fornece às famílias as ferramentas necessárias para apoiar seus filhos, onde cada indivíduo tem a oportunidade de alcançar seu pleno potencial. "Modelos de comportamento inspiradores ajudam a validar as experiências dos autistas, mostrando que suas vidas são repletas de potencial e não se resumem apenas às suas dificuldades." Dan Mena. Caminhos para Novas Descobertas. A pesquisa sobre o (TEA) tem evoluído significativamente nas últimas décadas, impulsionada por avanços nas ciências biomédicas, tecnológicas e comportamentais. O futuro da pesquisa em autismo ainda reserva muitas oportunidades e provocações para desvendar os mistérios dessa intricada condição. Neste contexto, vejamos alguns dos caminhos promissores que podem levar a novas descobertas e transformar a vida deles. Genética e Genômica. A genética é um dos campos mais promissores para a pesquisa em autismo. Recentemente foram identificados centenas de genes associados ao TEA, oferecendo novos prismas sobre suas causas biológicas. Com o advento do sequenciamento genômico de nova geração, os cientistas agora podem analisar grandes volumes de dados genéticos para identificar variantes que contribuem para sua manifestação. O projeto ''Simons Foundation Autism Research Initiative'' (SFARI) é um dos líderes nesse campo, financiando pesquisas que exploram a base genética do autismo. A esperança é que, com a identificação de variantes de genes específicos, seja possível desenvolver terapias personalizadas que possam atenuar os sintomas do autismo e melhorar sua qualidade de vida. Como afirmou Stephen Scherer, diretor do Centro de Genômica Aplicada em Toronto: "A genética nos permite entrar na caixa preta do autismo e entender suas raízes biológicas." Neuroimagem e Neurociência. Outra área em crescimento é a neuroimagem, que utiliza tecnologias como ressonância magnética funcional (FMRI) e tomografia por emissão de pósitrons (PET) para estudar a estrutura e a função do cérebro. Esses conteúdos têm revelado diferenças significativas na conectividade neural e na ativação de áreas cerebrais específicas em comparação com indivíduos neurotípicos. A neurociência computacional também está emergindo como uma ferramenta poderosa para modelar e entender os circuitos cerebrais envolvidos no autismo. A combinação de neuroimagem e modelagem computacional pode ajudar a identificar ''biomarcadores cerebrais'' que poderiam ser utilizados para diagnóstico precoce e monitoramento do progresso terapêutico. Como ressalta a Dra. Elizabeth Torres, neurocientista da Rutgers University: "A tecnologia nos dá uma janela para o cérebro autista, nos permitindo ver padrões e conexões que antes eram invisíveis." Além disso, novas terapias, como o uso de realidade virtual (VR) e tecnologias assistivas, estão sendo levantadas para melhorar a comunicação e as habilidades sociais, por exemplo, e possível criar ambientes controlados e seguros para praticar interações, proporcionando uma plataforma inovadora para o aprendizado. O Dr. Matthew Belmonte, pesquisador de autismo, observa: "A realidade virtual oferece uma oportunidade impar para as pessoas com TEA praticarem habilidades sociais em um ambiente sem julgamentos." A identificação de biomarcadores é uma área crítica para o diagnóstico preciso e a personalização do tratamento. Biomarcadores biológicos, como perfis proteômicos e metabólicos, estão sendo investigados para melhorar a precisão diagnóstica e prever respostas terapêuticas. Essa combinação, somadas a avaliações comportamentais pode resultar em uma abordagem de diagnóstico mais holística e precisa, permitindo intervenções direcionadas. Estudos longitudinais que acompanham indivíduos ao longo do tempo também são essenciais para entender a progressão alcançada. Como destaca a Dra. Joanne Kurtzberg, especialista em neurobiologia: "Biomarcadores podem revolucionar a maneira como diagnosticamos e tratamos o autismo, permitindo abordagens mais personalizadas e eficazes." "A convergência entre genética e neurociência promete não apenas desmistificar o autismo, mas também fornecer caminhos valiosos para desenvolver terapias inovadoras que atendam às necessidades individuais." Dan Mena. O futuro da pesquisa em autismo é promissor e diversificado, abrangendo desde avanços em genética e neurociência até a implementação de práticas inclusivas. À medida que continuamos a explorar esses caminhos, é essencial que a pesquisa seja guiada por uma abordagem interdisciplinar e colaborativa, envolvendo cientistas, médicos, terapeutas, educadores, famílias e as próprias pessoas portadoras. Investir em pesquisa é fundamental para descobrir novas maneiras de apoiar e empoderar eles(as). Com um esforço conjunto, podemos avançar no entendimento e na aceitação do autismo, promovendo um futuro onde todos possam alcançar uma vida feliz e satisfatória. Como diz Stephen Shore, professor e autista: "Se você conhece uma pessoa com autismo, você conhece uma pessoa com autismo." Finalmente quero explicar essa citação incrível dita por quem vive na pele o espectro, ninguém melhor para dizer: A frase pode parecer um jogo de palavras à primeira vista, mas carrega um significado mais reflexivo sobre a diversidade e a individualidade das experiências autistas. Rejeição de Generalizações; Enfatiza que o autismo não é uma característica única ou homogênea. Cada pessoa no espectro apresenta um conjunto distinto de traços, habilidades e desafios. Portanto, conhecer uma pessoa com autismo não implica conhecer todas, pois suas experiências e formas de se relacionar com o mundo podem variar amplamente. Experiências Diversificadas; O (TEA) é um espectro amplo que abrange uma variedade de manifestações e níveis de funcionalidade. Desde a comunicação até as habilidades sociais e interesses, cada indivíduo traz sua própria história e perspectiva. Essa diversidade nos lembra que não podemos fazer suposições ou julgamentos baseados em estereótipos. Valorização da Individualidade; Destaca a importância de ver a pessoa em sua totalidade, em vez de rotulá-la apenas por sua condição. Ela incentiva a valorização do indivíduo como um ser completo, que possui interesses, paixões, medos e esperanças além do seu diagnóstico. Isso promove uma visão mais humana, onde a identidade da pessoa não deve ser limitada. Desmistificação do Autismo; Ao afirmar que conheço uma pessoa com autismo, reconhecemos que o tema é cercado por mitos e mal-entendidos. Essa frase ajuda a desmistificar o transtorno, promovendo uma compreensão mais clara e realista sobre o que significa ser autista. Isso pode contribuir para reduzir o estigma e aumentar a aceitação na sociedade. Incentivo ao Relacionamento; Por último, essa afirmação nos convida a construir relacionamentos significativos com pessoas autistas. Ao reconhecer que cada um terá suas próprias experiências e dimensões, somos incentivados a nos conectar de maneira mais empática. Isso vai certamente enriquecer nossas vidas. Assim, a frase "Se você conhece uma pessoa com autismo, você conhece uma pessoa com autismo" nos lembra da importância de reconhecer e valorizar a individualidade dentro da diversidade. Ela nos encoraja a ir além das generalizações, promovendo uma compreensão mais rica desse universo singular. Ao adotarmos essa abordagem, contribuímos para um mundo onde todos são respeitados, independentemente de supostas diferenças. Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.
- Desvendando o Cyberbullying na Era Digital.
Estratégias de Enfrentamento das Conexões Virtuais. Nos últimos anos, o fenômeno do cyberbullying emergiu como um dos desafios sociais mais perturbadores da era digital. Embora essa hostilidade já conhecida entre pares não seja uma novidade, sua transição para o ambiente virtual trouxe uma série de novas dinâmicas que têm impactado crianças, jovens e adultos sem distinção. O termo foi introduzido por Bill Belsey em 2003, que aditava: “O bullying na internet não é diferente do tradicional; a única diferença é que agora ele pode ocorrer em qualquer lugar e a qualquer hora.” Essa frase transmite uma realidade cruel: pois a agressão, não apenas se tornou mais acessível, mas também constante na vida de milhões de pessoas pelo mundo. A escolha do tema me foi motivada por sua relevância contemporânea, onde a tecnologia se tornou uma extensão das nossas interações sociais. Como psicanalista, sinto uma responsabilidade ética e profissional de abordar o assunto. É uma questão muito próxima, que toca nas vulnerabilidades psíquicas de todos. Espero contribuir para esse diálogo mais amplo sobre a importância do suporte emocional, suas estratégias de intervenção e prevenção, e a necessidade de uma compreensão mais empática quanto a suas vítimas. Boa leitura. “As cicatrizes do cyberbullying são invisíveis, mas a dor reverbera nas almas feridas.” — Dan Mena. Telas que não se apagam. A rápida ascensão das redes sociais e da comunicação instantânea fez com que o cyberbullying se tornasse um problema omnipresente. Telas oferecem um palco perfeito, onde a maldade de alguns pode se manifestar a qualquer hora, em qualquer lugar. Suas vítimas, enfrentam um ciclo de estigmatização e isolamento que pode ser devastador. Belsey também anotou que: “a internet não esquece,” enfatizando como tais agressões eletrônicas deixam marcas duradouras, tanto nas memórias quanto nos estados emocionais dos sofrentes, inclusive, muito depois que os dispositivos se apagam. À medida que essa manifestação se expande, cresce a necessidade de perceber sua agudeza. A pesquisa sobre sua implicância evoluiu, incorporando prismas analíticos, psicológicos, sociais e culturais. O reconhecimento do seu impacto, resultou em uma série de novas abordagens terapêuticas e educativas. Profissionais de saúde, terapeutas, educadores e legisladores estão agora se unindo para formular alianças estratégicas eficazes de prevenção e intervenção, para tratar suas consequências. “O anonimato na internet alimenta a truculência, mas a empatia deve ser nossa armadura.” — Dan Mena. Reflexões e Questões. Diante desse contexto alarmante, é imperativo que nos perguntemos: como as experiências passadas e presentes de um indivíduo moldam sua fragilidade diante do cyberbullying? Quais são as implicações emocionais desse tipo de agressão, e como podemos, enquanto sociedade, oferecer suporte eficaz às vítimas? Qual é o papel que devemos assumir na identificação e na prevenção? Isso nos leva a uma condição investigativa ''sine qua non'' das narrativas emocionais das vítimas, e à necessidade de avanços e interpelações, que considerem não apenas os sintomas apresentados, mas também a história de vida e as condições psicológicas que podem estar em jogo. Por essa razão, ofereço aqui estratégias simples para abordar e prevenir esse problema eficazmente, utilizando a visão psicanalítica como guia. “O suporte emocional é tão vital quanto a proteção legal; ambos são essenciais.” — Dan Mena. À medida que adentramos nessa discussão, espero não apenas aumentar a conscientização sobre o tema, mas também inspirar um movimento coletivo para a criação de ambientes mais seguros e acolhedores, tanto no mundo digital quanto no real. Afinal, esse lugar imponderável, onde as vozes podem ser silenciadas com um clique ou um cancelamento, é nossa responsabilidade garantir que cada grito de ajuda seja ouvido e atendido. Na clínica psicanalítica, consideramos experiências passadas e presentes como grandes parâmetros influenciadores da vulnerabilidade de um indivíduo. Muitos dos pacientes presentes nesse tipo de situação carregam marcas emocionais que amplificam o efeito é a implicação dessa agressão. Caso Clínico: A História de Geórgia. Geórgia, uma jovem de 19 anos, buscou meu atendimento terapêutico por conta de sintomas de ansiedade intensa, acompanhada de episódios depressivos e retraimento social. Me conta, que sempre foi considerada uma aluna dedicada, mas tinha dificuldades em se integrar socialmente devido a questões relacionadas à sua aparência física. Quando entrou no ensino médio, essas inseguranças se agravaram com o surgimento de ataques nas redes realizados por colegas, eles(as) criaram perfis falsos para ridicularizá-la publicamente. Esse relato sobre sua dinâmica de rejeição que viveu nos anos escolares não eram novidade. Desde a infância sofreu uma pressão intensa por parte da família para corresponder a supostos padrões estéticos e de desempenho. Sua mãe frequentemente a comparava com outras meninas, o que gerou nela uma sensação de inadequação, na busca por validação externa. Essas experiências infantis de desacolhimento ou não pertencimento, criaram uma base emocional frágil, o que a tornou mais vulnerável nesse sentido. Sua situação me remete ao que Freud chamou de “ferida narcísica”. Em sua obra sobre o narcisismo, ele descreve como o ego busca constantemente manter uma imagem positiva de si, e como ataques a essa figura podem desestruturar a identidade do sujeito. No seu caso, o cyberbullying, representa uma investida ofensiva e direta ao seu “eu”, agravando essas feridas emocionais pré-existentes. Experiências Passadas e Presentes - Raízes da Desproteção. Estamos diante de um exemplo claro de como o traquejo da infância pode moldar a fragilidade de um indivíduo ao cyberbullying. Nossa matéria nos ensina, que o inconsciente armazena traumas e mágoas emocionais que tem gatilhos, eles podem ser reativados em situações semelhantes na vida adulta. A relação conflituosa da cliente com sua imagem corporal, somada às expectativas irreais da família, criou um “self” frágil e constantemente em busca de aprovação. Quando o bullying virtual se manifestou, ela não só revisitou suas inseguranças atuais, mas também reabriu seu baú de pústulas antigas. Em sua teoria das posições esquizoparanoides, Melanie Klein explica, que como indivíduos internalizamos objetos (ou figuras significativas das nossas vidas), eles podem ser percebidos como bons ou maus. No caso de Geórgia, seus colegas que praticaram o cyberbullying foram internalizados como objetos persecutórios, o que a deixou em constante sensação de estar sendo observada e atacada, não apenas no ambiente virtual, mas em qualquer lugar e deslocamento. Além disso, segundo Winnicott, o conceito de “falso self” surge em indivíduos que não receberam um esfera suficientemente positiva para desenvolver sua identidade verdadeira. Ela, que nunca se sentiu plenamente aceita em casa, alargou um falso self que busca conformidade ciclicamente. Quando esse self é ferido, o impacto é aniquilador, pois a construção de sua identidade depende excessivamente da opinião e aceitação externa. Impacto Psicológico e Emocional. Ditas implicações para Geórgia é sua saúde mental foram severas, exemplificam as consequências mais amplas que podem resultar desse portento nas vítimas. A psicanálise tem uma estrutura clinica muito fundamentada para entender como a agressão digital pode desestruturar o psiquismo de um indivíduo. Freud, em seu trabalho sobre o princípio do prazer, nos sugere que o ego tenta evitar a dor e buscar o prazer, mas em situações de hostilidade constante, como neste caso, o ego é forçado a lidar com uma sobrecarga de estímulos dolorosos que resultam muitas vezes em desregulação emocional. Do ponto de vista clínico, os(as) demandados frequentemente desenvolvem quadros de ansiedade, depressão e, em casos mais graves, ideação suicida. Muitos estudos indicam que suas vítimas apresentam um risco maior de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o que por sinal agravam e aceleram ainda mais a situação psicológica do paciente. Segundo a American Psychological Association, esse tema é amplificado pelo fato de que o ambiente eletrônico é sempre acessível, impossibilitando para a o acometido se afastar completamente da fonte de angústia. Isso me lembra Sherry Turkle, em seu livro “Alone Together”, que em sua obra homônima, descreve o paradoxo das relações sociais na era digital. Ele se refere à vivência de estarmos conectados virtualmente a muitas pessoas por meio de dispositivos como celulares, chats e redes de todo tipo, más, ao mesmo tempo, experimentamos uma sensação de solidão e desconexão emocional do mundo real. Se por um lado, a tecnologia nos permite estar “juntos” virtualmente, ela também nos distância de conexões autênticas, criando uma falsa proximidade. As interações superficiais, substituem por vezes o contato pessoal, levando a um sentimento de isolamento, mesmo quando estamos cercados por outros amigos online. Desta forma e paradoxalmente, isso aproxima e afasta as pessoas, nós deixando “sozinhos, juntos”. Ansiedade, Depressão e Traumas Pré-existentes. Casos como o relatado, podem interagir com outras condições psicológicas, como traumas, ansiedade, fobias e depressão. Pacientes que já têm predisposição a esses transtornos são particularmente vulneráveis ao impacto afetivo do cyberbullying, uma vez que o estresse adicional pode desencadear ou intensificar crises. O indivíduo que se sente incapaz de lidar com o ambiente externo recorre assiduamente ao uso de defesas psíquicas, como a retração emocional. Por este motivo, ela começou a evitar a interação social como uma forma de se proteger dos ataques virtuais, o que, ironicamente, aumentou sua sensação de solidão e agravou sua provável depressão. “As palavras têm poder, sejamos então poetas da cura, e não arquitetos da dor.” — Dan Mena. Freud em sua obra sobre o trauma, sugere que abalos e perturbações não resolvidos na infância ressurgem em tribulações, como o que interpelamos agora, e causam uma regressão emotiva. A impugnação que Geórgia passou na sua puerícia, foi agravado na maturidade pelos ataques digitais, desencadeando uma resposta emocional desproporcional, e fazendo com que ela se sentisse totalmente isolada e desamparada. Estratégias de Abordagem e Prevenção. Na prática clínica, o tratamento desta ocorrência deve ser personalizada, considerando não apenas às repercussões do presente, mas também as ocorrências passadas que singularmente contribuiram para essa indefensabilidade. A psicanálise oferece uma série de ferramentas terapêuticas que podem ajudar a reconstruir a autoestima do paciente e promover uma maior resiliência, sendo novamente elaboradas. Exploração do Inconsciente: O trabalho psicanalítico com Geórgia começou com a investigação das raízes inconscientes de sua debilidade. Esse processo analítico é como uma forma de escavação, onde o analista guia o paciente a trazer à superfície psíquica, lembranças e sentimentos reprimidos. O objetivo auxiliou a ressignificar seu passado de rejeição infantil, permitindo que ela re-construa uma narrativa mais fortalecedora da sua própria identidade. Restauração da Autoimagem: O processo de formação do ego é como uma constante “construção do espelho”, na qual o sujeito busca se ver através dos olhos dos outros. No caso de Geórgia, o ataque ao seu “eu” virtual, fragilizou ainda mais sua autoimagem. A terapia focou na reforma dessa imagem, a ajudando a perceber que sua identidade não depende da aprovação de terceiros. Criação de Espaços de Validação: Um ambiente suficientemente bom é essencial para o paciente poder se sentir seguro(a) e validado(a). Neste caso específico, o que não foi aplicado, o uso de grupos terapêuticos, onde ela fosse capaz de compartilhar seus momentos sem medo de julgamentos, seria uma estratégia eficaz para permitir a remonta da sua confiança social. “A tecnologia consegue conectar e ferir; é como uma espada de dois gumes.” — Dan Mena. Intervenção Psicoeducacional: A conscientização sobre o impacto psicológico das redes sociais é outra estratégia importante. A hiperconexão exacerba a pressão sobre o indivíduo, criando nele uma cultura de exaustão e comparação constante. A psicoeducação pode ajudar pacientes como Geórgia a entender esse ambiente, que afeta suas emoções, a capacitando para se distanciar emocionalmente dos ataques online. “Cada mensagem agressiva é um grito silencioso de dor; cada vítima merece ser ouvida e acolhida.” — Dan Mena Fortalecimento da Resiliência: Trabalhar o fortalecimento da perseverança é importante para que a vítima de cyberbullying possa lidar com futuras afrontas de forma mais eficiente. Isso inclui estratégias como a terapia cognitivo-comportamental para modificar padrões de pensamento negativos, bem como técnicas psicanalíticas de ressignificação emocional. Para Além da Tela. Embora o problema tenha suas raízes no digital, produz efeitos no mundo real. O tratamento é um processo de redescoberta, no qual a tecnologia, antes vista como um campo de batalha emocional, pode ser re-elaborada como um espaço de crescimento e superação. “Na psique, o ataque é sempre uma realidade silenciosa. A vitória está na ressignificação e no despertar de um 'eu' fortalecido, capaz de se proteger da crueldade externa e interna.” — Dan Mena. O Paradoxo da Tecnologia e a Condição do Ser. No entanto ao longo da história, a nossa desumanidade encontrou formas múltiplas de se manifestar da maneira mais perturbadoramente inovadora. Desde as arenas romanas até as cruzadas modernas da opinião pública nas redes, a perversidade nunca esteve apenas na tecnologia, mas naquilo que realmente projetamos sobre ela. Quando Hannah Arendt, pondera sobre a banalidade do mal, indica que ele não é nada incompreensível, mas sim algo ordinário e cotidiano. O eletrônico, com sua capacidade de potencializar o anonimato, oferece o palco perfeito para essa normalização, no mínimo maligna. Traçando um paradoxo seria o digital, um dos personagens o cyberbullying como a nova arena do Coliseu Romano: onde a truculência se perpetua, sem a necessidade da proximidade física, sem a angústia das plateias. “Somos gladiadores modernos, mas ao invés de espadas, empunhamos teclados.” — Dan Mena. Mas o que podemos dizer da responsabilidade individual e coletiva diante dessa era de hiperconexão? Se a improbidade encontra na tecnologia um novo meio de expansão, será que não somos todos, de alguma maneira, cúmplices quando assistimos passivamente a esses atos de violência virtual? É também a sociedade do espetáculo e da vigilância, onde o sofrimento do outro pode se transformar em entretenimento?. Ou será que estamos nos tornando sombras do que um dia fomos, perdidos em perfis digitais que refletem apenas o vazio existencial que atravessamos? “O desafio da era digital não é tecnológico, mas existencial: reconectar o ser à sua essência perdida.” — Dan Mena O Desafio de Reconectar. Diante dessas perguntas incômodas, (sei) é preciso reconhecer que o desafio contemporâneo não é apenas tecnológico, mas existencial. Se a crueldade prospera na distância eletrônica e na alienação emocional, o trabalho analítico é uma tentativa de retorno ao genuíno com o outro e com nós mesmos. Lacan, ao falar do “desejo do Outro”, nos invita a repensar como a demanda por reconhecimento se transforma em uma busca desesperada por aprovação, onde o “eu virtual” se torna um eco distante de quem somos de fato. E é aqui que a mensagem de esperança emerge, não como um consolo vazio, mas como um convite a essa transformação. Dize Nietzsche, “aquele que luta com monstros deve tomar cuidado para ele próprio não se tornar um”, talvez o primeiro passo seja o reconhecimento desse lado cruento. Mas o segundo, mais importante, é a coragem de enfrentar ditas sombras, de olhar para o espelho da tecnologia e perguntar: “Quem eu sou além dessa tela?” “Cada ato de bondade no mundo online é uma revolução contra a desumanização crescente da nossa era.” — Dan Mena. Esperança em Tempos de Hiperconexão . A tecnologia, por mais que tenha amplificado um lado impiedoso, também carrega em si o potencial de cura. Assim como ela pode ferir, pode conectar. Como pode isolar, também reúne em torno de causas justas, criando redes de apoio e empatia. O desafio, então, não é destruir a tecnologia ou retornar a um passado bárbaro, mas ressignificar o seu uso. Precisamos nos lembrar de que cada mensagem agressiva, cada comentário áspero, também é uma oportunidade perdida de ligar o ser coletivo. Se a crueldade é alimentada pela distância emocional, então a empatia deve ser nossa resposta mais revolucionária. O Futuro Está em Nossas Mãos. É importante lembrar que, mesmo nas piores manifestações de ruindade, a esperança pode brotar. Cada ação compassiva, cada gesto de solidariedade, pode ser uma pequena insurreição contra atos como o cyberbullying. Como sociedade, podemos curar as feridas que infligimos reciprocamente. Que essa observação não seja apenas um fim, mas o início de um compromisso renovado com nossa própria existência como raça. A escolha está em nossas mãos — e o futuro, embora incerto, ainda pode ser moldado pelo poder de nossas escolhas. Ao poema; Vozes Silenciadas. Por Dan Mena. Na tela que brilha, se esconde o agressor, Ataca no escuro, espalha a dor. Mensagens cruéis, veneno sem fim, Feridas que marcam, que sangram sem fim. O clique é silêncio, mas o grito ecoa, Na mente da vítima, o trauma ressoa. Quem vê de fora, ignora o tormento, Pois o sofrimento se perde no vento. Não é só virtual, o coração sente, O ódio que surge insistentemente. E a alma que luta para se defender, Se perde na tela de tanto padecer. Feridas antigas, que vêm lá de trás, Revivem momentos, se tornam sinais De que o passado, esquecido talvez, Renova a angústia em cada vez. No caso de Geórgia, o espelho quebrado, Mostrou-lhe uma face de um eu rejeitado. Por trás da imagem, a insegurança, Buscando na vida alguma confiança. A luta é interna, a cura também, No acolhimento, o analista contém. Cada frase de ódio que o agressor lança, Será silenciada pela nova esperança. O cyberbullying, cruel e impiedoso, Pode ser desfeito no processo cuidadoso, De olhar para o outro e ouvir sua dor, Tecer, com afeto, o fio do amor. Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192.
- Impacto das Redes Sociais na Construção da Identidade - Relações Interpessoais.
"Nas redes sociais, o 'eu' performático emerge como uma máscara necessária, mas ao perseguirmos aplausos externos, arriscamos sufocar nossa autenticidade." Dan Mena. No cenário atual, as redes sociais desempenham um papel importante na formação e expressão da identidade, além de moldar a natureza das nossas relações interpessoais. Essas plataformas não são apenas ferramentas de comunicação, mas verdadeiros palcos onde elas se encenam, se misturam e esquadrinham, junto aos desejos que se enfrentam e confrontam com angústias. Este processo, entretanto, não está isento de conflitos psíquicos, especialmente quando consideramos a relação entre o “eu” real e o “eu” virtual. Neste artigo abordarei este tema muito atual e interessante para todos. Boa leitura. Teatro do Inconsciente, Projeção de Fantasias e a Busca por Validação. Como sujeitos, estamos divididos entre o consciente e o inconsciente, sendo este último o lugar dos quereres reprimidos, fantasias e impulsos não resolvidos que nela residem e se acobertam. Neste campo, a construção da identidade está cada vez mais conectada à maneira como nos apresentamos nelas. Às redes sociais, criam inevitavelmente um espaço para a projeção de excitações inconscientes, oferecendo um teatro perfeito para a realização e projeção simbólica de fantasias que, no mundo físico, poderiam permanecer ocultas. Quando Freud sinaliza, “o eu não é senhor em sua própria casa”, quer expressar, que nossas ações conscientes muitas vezes são governadas por forças subconscientes. Elas amplificam essa realidade, pois podemos moldar uma imagem idealizada, que, ao mesmo tempo, é confrontada pela própria fragilidade psíquica de buscar validação. Reflexo Digital e A Revisitação do Estádio do Espelho nas Redes. Essa visão, que enfatiza a noção do “Estádio do Espelho” — nos transporta há um momento relevante no desenvolvimento infantil em que o sujeito se reconhece no seu reflexo, formando a base de sua identidade. Nas redes, esse episódio é constantemente revisitado, articulado e refletido, não apenas nas postagens e imagens, mas também nas reações e legitimações que obtemos dos outros. O “eu” virtual, passa a funcionar como esse retrato de outro projetado que tentamos incessantemente alcançar, muitas vezes em detrimento do nosso “eu” real. Lacan explica, que a tal da busca por reconhecimento é base central na nossa constituição: “Desejamos o desejo do outro.” Esse querer de ser constatado, se torna, ao final, uma força motriz que gera, tanto satisfação quanto frustração, dependendo do nível de aceitação ou rejeição experimentado. Dualidade do Eu, entre Winnicott e Baudrillard — Fragmentação Psíquica no Mundo Virtual. Podemos então falar de uma “hiper-realidade”, como foi apresentado por Jean Baudrillard, na qual interpreta que nos movemos entre o real e o virtual, nos fundindo de maneiras heterogêneas e enigmáticas. Observo, que a constante comparação social, a busca por likes, seguidores e conformação digital, nos coloca em um ciclo vicioso de recompensa e inquietude. Essa dualidade marcada pela tensão entre o ideal e o real, sendo este último muitas vezes negligenciado em prol de uma elevação. O psicanalista Donald Winnicott, em suas anotações sobre o “verdadeiro self” e o “falso self”, identifica claramente que, quando priorizamos uma imagem externa sobre a autenticidade interna, ocorre um rompimento da saúde psíquica. Esse “falso self”, agora promovido pela necessidade de desempenho e atuação, contínua indo em frente nos rumos da poetização da vida. A Modernidade Líquida e as Conexões Efêmeras. Outro conceito que nos aproxima desta compreensão, é o de “transferência”. Originalmente levantado por Freud, se refere ao lançamento de sentimentos, afetos e desejos inconscientes sobre o outro. Eles ocorrem em grande escala, não apenas nas interações íntimas, mas também em comunidades virtuais e espaços públicos. As redes sociais funcionam assim, exatamente como um espelho fragmentado, onde se visa ser reconhecido, mas, que se depara frequentemente com uma multiplicidade de versões de si mesmo, gerando um aumento na sensação de alienação. Um aporte interessante faz Zygmunt Bauman, em sua análise do livro “modernidade líquida”, do qual você poderá encontrar outros artigos no meu blog. Ele assinala que as relações sociais, nesta época, estão sob a total e absoluta influência da tecnologia, assim, se tornaram fluidas e menos estáveis, criando laços frágeis, fragmentados e efêmeros. Dita vulnerabilidade, é ainda mais evidente, pois as conexões podem ser feitas e desfeitas com a mesma facilidade, aprovando ou cancelando, gerando um ciclo contínuo de superficialidade. Como o FOMO Amplifica a Ansiedade. A questão do FOMO, (Fear of Missing Out), termo cunhado e popularizado pelo pesquisador e estrategista Dr. Dan Herman no final da década de 1990, pode ser incorporado a esta leitura. Ele começou a usar a expressão em seus estudos sobre o comportamento do consumidor, ao observar que pessoas demonstravam um medo crescente de perder experiências ou oportunidades valiosas. Isso posso sintetizar num exemplo, que revela um prisma psicológico significativo. Ao vermos a vida idealizada de outras pessoas, podemos incorporar um sentimento de exclusão e ansiedade, por não participar supostamente do mesmo know-how e bagagem. Esta seria uma expressão moderna da ansiedade social que Freud descreveu como parte das nossas neuroses, mas intensificada hoje pela imediates e constante comparação proporcionada pelas plataformas digitais. Outro efeito colateral é o fenômeno da dependência digital, onde experimentamos uma certa incapacidade de se desconectar, perpetuando o circuito de comparação, validação, ansiedade e angústia. O Paradoxo da Hiper conexão, Isolamento e Narcisismo. Na era da hiperconexão, muitos analistas contemporâneos observamos, que a sensação é que hoje tudo parece estar ao alcance de um clique. Isso determina um paradoxo crescente, pois o que se verifica na clínica é o aumento dos sentimentos de encapsulamento, isolamento e solidão. Essa contradição utópica, será muito bem detalhada por Byung-Chul Han, que perspicazmente em sua obra; “A Sociedade do Cansaço” de (2015); descreve. Apesar dessa aparente articulação conectiva proporcionada pelas redes, vivemos em uma sociedade exausta, onde a comunicação se tornou um fluxo incessante e frívolo de informações. Ele assevera, que a comunicabilidade não é mais do que simplesmente uma constante sequência de dados e elementos sem sentido, destacando como tal a proliferação de opiniões, pareceres e apreciações, que podem, incoerentemente, isolar mais do que ligar. Esses fatores alargam o narcisismo e amplia exponencialmente o egocentrismo, criando um ambiente onde o indivíduo se vê como um projeto contínuo de atuação. Observa Han: “O narcisismo reflete uma sociedade que valoriza a produtividade e o desempenho acima de tudo, resultando em uma desconexão emocional” (Han, 2015). Nesse universo, não apenas projetamos uma imagem produzida e pré-fabricada de si, mas também envolvemos sentimentos de corroboração. A exibição pública, e a necessidade de sustentar uma imagem impecável, podem obscurecer o verdadeiro eu, criando uma ruptura psicológica. Logo, posso convocar uma frase de Freud; “o narcisismo é a forma mais primitiva de amor que o ego pode ter por si.” Como as Plataformas Digitais Redefinem — Proximidade e Intimidade. Nesta era informática, a percepção de proximidade não mais se limita ao físico. Sabemos que interações genuínas envolvem trocas emocionais, afetos e empatia — elementos regularmente enfraquecidos no ambiente virtual. Elas criam a sensação de estarmos sempre conectados, mas essa proximidade virtualizada pode ser muito ilusória. Embora estejamos continuamente presentes nelas, a ausência de contato físico direto, pode intensificar a sensação de solidão, ao invés de ser um atenuante. Essa nova forma de distanciamento íntimo, enseja compartilhar aspectos pessoais da nossa vida com um público vasto, sem a vulnerabilidade inerente ao contato presencial. Nessa dinâmica, exercemos controle sobre o que revelamos de si, e, ao mesmo tempo, expomos assuntos particulares para o olhar constante e crítico de outros, moldando assim, de forma imperceptível a nossa identidade, conforme tais observações de terceiros. Nesse sentido, a proximidade é radicalmente transformada, o ''outro'', está próximo no campus virtual, mas permanece longe em termos de verdadeira vinculação emotiva. As interações oferecem encontros e cruzamentos rápidos, imediatos e instantâneos, mas carecem da necessária penetração que caracterizam as relações autênticas. Essa redefinição das noções de proximidade e distância, mudam as fronteiras entre o real e o virtual. Redes sociais, enquanto teatro de construção de identidades, intensificam, tanto a alienação quanto o desejo de reconhecimento. Destarte oscilamos, entre presença e ausência, autenticidade e interpretação, enfrentamos não apenas novas formas de ligação ao outro, mas também, sofremos severamente os desafios afetivos e psíquicos decorrentes dessa transição. O Corpo, a Imagem e a Pressão pela Excelência no Mundo Virtual. Podemos elaborar uma simbiose; assim como um diretor dirige sua própria peça, e escolhe cuidadosamente cada ato do roteiro que apresentará ao público. Seja uma selfie, uma conquista profissional ou um momento pessoal, tudo se torna uma produção para uma autoapresentação. Não apenas como uma maneira de se comunicar, mas uma forma de se esculpir como uma escultura, para expressar quem somos aos olhos dos outros. Por essa razão, Lacan fala sobre o ''Estádio do Espelho'', que nos lembra, que essa percepção de nós mesmos está sempre mediada por uma imagem arquitetada. Agora, o espelho não é mais o objeto de vidro, o espelho d’água que reflete nosso rosto, mas as telas dos nossos celulares e dispositivos eletrônicos, onde essa imagem pode ser alterada, filtrada e ajustada até que pareça perfeita, até sua exaustão. E assim, nos tornamos escultores da própria identidade, manipulando o que é visto e o que permanece oculto, na esperança de agradar e sermos aceitos. Esse fenômeno é como um jogo constante de aparências, onde as regras mudam com base na audiência e auditório. Nesse espaço, somos ao mesmo tempo, os atores e os diretores da peça da nossa vida, decidindo como cada cena será cortada, editada e apresentada ao mundo. Já a autoestima, como uma delicada balança, encontra nesse ambiente um novo tipo de desafio. Subestimada que é, relevamos sua importância para o equilíbrio emocional, ignorando um alerta importante sobre os riscos de medir e comparar nosso valor a partir de padrões externos. Nas redes sociais, essa libra fica ainda mais instável, pois somos constantemente incitados por imagens de vidas fantasiosamente confeccionadas, corpos esculpidos e sucessos inexecutáveis. Nessa vitrine digital, o corpo não é apenas um meio de estar no contexto do mundo, mas uma tela, onde identidades se notabilizam. Como destaca Susie Orbach; “os corpos vão se tornando verdadeiras vitrines de identidade”, e o sujeito digital, muitas vezes, se vê pressionado a copiar, moldar ao bel-prazer de outros sua constituição física, vestimenta, alimentação, hábitos, etc., de acordo com padrões transcritos. Assim, de repente nos defrontamos inconscientemente influenciados pela busca por excelência. Prontamente, haverá um choque de encontro com a realidade — onde todas nossas supostas imperfeições e limitações irão ao encontro da destruição da autoestima que poderá despencar, nos levando a um ciclo de comparação e insatisfação irreversível. Agora, não estamos apenas nos vendo, mas sim nos comparando com inúmeras outras versões subjetivas de nós mesmos e dos outros. Esse espelho virtual, irá atuar como um caleidoscópio de imagens brilhantes e distorcidas, onde o outro sempre parece mais bonito(a), mais bem-sucedido(a), mais apto(a) e mais feliz. Efeitos na Identidade Juvenil e nas Gerações Digitais Contemporâneas. Olhando agora para os jovens que crescem nesse mar digital, a identidade é como uma embarcação no estaleiro, em constante construção. A crise identitária na adolescência é um período de grandes questionamentos e estabelecimento de definições. Hoje, essas tribulações se intensificam, à medida que os adolescentes amadurecem tentando se adaptar a uma identidade líquida e frouxa, onde a autenticidade é incessantemente sacrificada pela busca dessa validação digital. Às reflexões íntimas e autênticas que deveriam se desenvolver naturalmente pelo contato físico — muitas vezes, são substituídas por uma ininterrupta troca de mensagens e interações virtuais. A elaboração da personalidade e individualidade dos pubescentes, se transformam em um game, onde o objetivo é se tornar visível, pop, famoso, popular e curtível, muitas vezes, à custa de explorar verdadeiramente quem se é. Aumento do Ciberbullying e Outros Tipos de Violência Digital. Onde a conexão parece à primeira vista uma ponte que nos une a todos, se esconde a sua sombra o ciberbullying, uma forma progressista e sorrateira de violência. Se no passado recente, as agressões precisavam de proximidade física, hoje, por trás de uma tela, o agressor encontra um disfarce perfeito, envolto num manto de invisibilidade que facilita suas investidas. Se bem que Freud nos recorda, que a agressão é parte inerente da nossa condição, agora ela encontra outro espaço manifestado no anonimato, sem a necessidade de enfrentar sua vítima de frente, diretamente. É uma investida ofensiva, que surge como um grito no vazio, sem a culpa de ver as consequências imediatas de suas palavras. Para melhor compreender esse comportamento nada melhor que Lacan. Ele introduz o conceito de gozo, que revela o ''prazer inconsciente'' que o sujeito pode carregar, ao extrair do sofrimento alheio seu próprio deleite. E nas redes sociais, onde tudo é instantâneo, que o júbilo da agressão digital é multiplicado, especialmente, porque o agressor sente que está distante, seguro e imune às repercussões diretas de seus atos. Essa violência online, é muitas vezes mascarada de chistes, sarcasmo, humor e brincadeiras, mas pode deixar cicatrizes e feridas emocionais escavas nas suas vítimas. Viver esse mundo virtualizado, onde tudo está sempre à vista, é como habitar uma casa feita de vidro. Um cenário expresso, escancarado e exposto à constante crítica, onde não importa qual a natureza delas, ao poder provocar efeitos devastadores sobre o bem-estar psicológico do seu habitador. Vale aqui lembrar, trecho inerente da psicanalista Nancy McWilliams, que destaca como nossa autoestima se constrói na maioria com base em como imaginamos que os outros nos veem. E, na internet que se forma essa visão distorcida, que por ângulos perfeitos e prismas transparentes transpassa uma constante competição pela atenção. A cada curtida, há um impulso de validação, mas sua ausência pode desencadear sentimentos de inadequação. Não tenha dúvidas, o uso excessivo das redes sociais pode levar à desconexão emocional, criando uma sensação paradoxal. Podemos estar cercados de pessoas virtualmente, mas, nos sentirmos mais sozinhos do que nunca. Uma comunicação que foca na quantidade, e carece de qualidade, o que pode esvaziar a fundura das relações e interações interpessoais, gerando uma busca incessante por abonação, que nunca será o suficiente. A vítima de ciberbullying, pode ser atacada(o) justamente na importância que dá ao seu corpo, na formação da identidade, na aparência e gostos. Desta forma, encontra o agressor um ambiente propício, com informações particulares e detalhadas da sua provável vítima. Isso pode gerar traumas profundos, como depressão e ansiedade, e, em casos extremos, levar ao isolamento ou até mesmo a pensamentos suicidas. Educação Digital e a Conscientização sobre Comportamentos Tóxicos. Em meio a essa turbulência, surge uma necessidade urgente: a educação para o uso consciente e responsável das redes. Mais do que saber como navegar, é essencial aprender a se proteger e entendermos que o mundo online reflete, em muitos aspectos, nossas próprias sombras. A educação digital é como uma bússola que pode nos orientar e nortear, permitindo que como usuários identifiquemos os sinais de comportamentos tóxicos e aprender a evitá-los e enfrentá-los. O desenvolvimento emocional saudável exige que aceitemos tanto as nossas partes boas, quanto aquelas que depreciamos, ambas, como partes integradoras de nós mesmos. Nas redes sociais, onde tudo parece ser editorado para mostrar a versão mais “cool”= (genial), isso se torna um revés. A educação digital pode ajudar a promover uma visão mais equilibrada, nos lembrando, que a perfeição é uma ilusão, uma fantasia impossível. Privacidade e Segurança — O Preço da Exposição. Se por um lado, as plataformas digitais oferecem visibilidade e uma sensação de entrelaçamento social, por outro, podem cobrar um preço alto pelo uso. A privacidade que Lacan nos lembra, do poder do olhar do ''Outro'', e nas redes, esse avistar que está sempre presente, julgador, comparativo e quase sempre cruel. Ao expor nossa vida online, nos tornamos personagens e atores de um teatro, onde o público nunca deixa de assistir. Mas, nesse processo, sacrificamos a intimidade, retratando tudo aquilo que pode nos deixar vulneráveis a ataques e manipulações. Outro alerta que merece atenção, são nossos dados pessoais que se tornaram uma moeda valiosa, onde a privacidade está constantemente em risco. Proteger essas informações é essencial para podermos navegar no ambiente digital de forma mais segura, sem delatar aspectos que deveriam permanecer privados. Afinal, um lugar onde tudo é compartilhado, o controle sobre nossa própria imagem passa por uma linha extremamente tênue, e perder esse controle pode ter consequências sérias. No obstante, o custo da exposição continua a ser uma questão primordial. Quanto estamos dispostos a sacrificar de nossa privacidade e segurança em troca de visibilidade? Impactos Positivos e Negativos das Redes Sociais sob a Análise Psicanalítica. Este mundo digital que herdamos, nos envolve como um segundo ambiente, um cenário passional, onde nossas identidades e personagens ganham vida entre cliques, marcações e compartilhamentos. Prometem conexão, mas, também trazem consigo um jogo de espelhos e máscaras, onde tanto o brilho quanto a sombra encontram um amplo espaço para se manifestar. Um palco sem limites geográficos, que, no fundo da nossa essência busca seus objetos de amor, recompensa e satisfação. Assim, fica fácil compreender por que nos parecem tão sedutoras, ao criarem laços, comunidades, nos conectam com pessoas ao redor do globo, e nos oferecem oportunidade para moldar e expressar com bastante liberdade, inclusive aquilo que não somos. Por vezes, encontro certo paradoxo, como se estivesse em um grande parque de diversões, saltando de um perfil para o outro, absorvendo o fluxo de informações, validando experiências e ampliando um repertório de relações. Porém, ao mesmo tempo, elas trazem uma provocação. Jacques Lacan, ao falar sobre o “Grande Outro”, ressalta o papel da alteridade na formação do sujeito. E nas redes sociais, esse “Outro” se multiplica e se transforma. Esse olhar de um público invisível, que acho muito interessante. Tenho 3000 ou 4000 seguidores, ou supostos amigos, mais não conto mais de 200 que realmente interagem comigo. Então eu me pergunto… o que fazem na minha rede social e eu nas deles os outros 3800? Por qual motivo estamos conectados? Então, eu acredito que muitos possam se questionar ao respeito, por isso darei 5 motivos que acho plausíveis; Presença Virtual: Acredito que muitas pessoas, das quais me incluo, mantêm inúmeras conexões por motivos variados, como curiosidade ou desejo de visibilidade. Esses contatos, são mais uma forma de manter uma presença digital do que de engajamento ativo. Essa rede que vamos formando com o tempo, funciona como uma vitrine, onde a quantidade pode ser mais valorizada do que a profundidade das interações. Função: Redes funcionam como plataformas para partilhar atualizações pessoais, acompanhar atividades de outros e manter uma presença online. A manutenção de muitos contatos, pode ser uma forma de reafirmar a própria identidade em diversos contextos, mesmo que a interação real seja limitada ou nula. Diferenças na Participação: O nível de engajamento, varia significativamente entre os usuários. Alguns preferem uma postura mais observadora, enquanto outros se envolvem de maneira mais ativa. Essa disparidade entre o número de conexões e a angariação real pode refletir essa diversidade no comportamento dos amigos. Psicologia das Conexões: Do ponto de vista psicológico, manter um extenso número de conexões pode ser uma forma de lidar com inseguranças ou mesmo buscar validação. Valor das Interações: A qualidade das interatividades deve superar a quantidade. Ter um círculo menor, mas genuinamente significativo, pode ser mais gratificante do que possuir milhares de contatos com pouca interação real. Isso destaca a importância de focar em conexões autênticas e valiosas. Refletir e avaliar o que esperamos delas, e como essas expectativas estão sendo atendidas pode nos ajudar a ajustar nossas práticas, promovendo uma maior qualidade nas trocas. Navegando pela Pressão dos Padrões Sociais Digitais. Freud, em sua análise que faz sobre o mal-estar na civilização, observa que a sociedade nos impõe restrições que sufocam muitas vezes nossos impulsos. Nas redes sociais, essa tensão se reflete na constante atuação de um “eu” performático, sempre em busca de aplausos. Para fechar, diante desse cenário, a questão que surge é: como encontrar o equilíbrio entre a vida digital e a preservação da saúde mental? Winnicott fala; ao desenvolver o conceito de espaço transicional, descreve um lugar intermediário onde o indivíduo pode se expressar criativamente sem ser consumido pelas exigências do mundo exterior. No contexto das redes sociais, esse espaço é cada vez mais necessário. Precisamos de um ponto de fuga, um lugar onde possamos nos reconectar com nossa essência, longe das pressões digitais. Navegar nelas, exige também a habilidade de se afastar e olhar com distância crítica, usando o autoconhecimento como chave para manter o equilíbrio. Em um ambiente que nos convida constantemente a nos comparar e importante a autopercepção como ferramenta indispensável para evitar a armadilha de medir nosso valor com base nos padrões alheios. Gratificação Instantânea e o Encontro Fiel Consigo Mesmo. Assim como no balé, onde o aprumo entre força e leveza é a base, nas redes, precisamos de uma coreografia cuidadosa. Não se trata de abandonar as plataformas, pelo contrário, devemos aprender a dançar com elas, sem perder o compasso da nossa vida interior. Estarmos atentos, como Freud nos ensinou, a trabalhar entre o princípio do prazer e da realidade, pois o verdadeiro contentamento não vem da gratificação imediata que possam fornecer os vínculos, mas do encontro fiel consigo mesmo. Para escapar das armadilhas que suas propostas podem criar e apresentar, é vital adotar uma postura crítica e consciente. Pensar sistematicamente sobre como a tecnologia nos transforma em consumidores passivos. Não sermos arrastados pela correnteza de conteúdos infinitos, ficar ligados para não se perder nessa imensidão eletrônica, moldados por algoritmos, em vez de criar nossa própria experiência. Essa abordagem consciente começa com a aceitação de que a vida digital é uma ferramenta, não uma realidade definitiva. Precisamos de um espaço, sim, onde possamos brincar e criar, longe das expectativas dos outros. O que pode ser entendido como um retorno à autenticidade — uma forma de engajamento sem sermos absorvidos completamente por elas. Finalizando; Uma Abordagem Crítica à Vida Online e à Educação Digital. A educação digital também possui um papel crucial aqui. Precisamos ensinar as futuras gerações a navegarem nesse espaço, não como espectadores passivos, mas como indivíduos conscientes de seus próprios limites e necessidades emocionais. É necessário desenvolver a gestão de uma postura de distanciamento crítico, onde possamos utilizar as redes a nosso favor, sem ser consumido por elas. Como Lacan certamente poderia sugerir, o espelho digital reflete, mas também distorce. Cabe a nós, olhar com discernimento, lembrar que o valor de nossa identidade vai muito além das métricas online, e que a verdadeira conexão, com o outro, é conosco, esse, realmente acontece fora das telas. Ao poema; Identidade e Ilusão. Por Dan Mena. Na era digital, um guia se faz urgente, É preciso saber como navegar, conscientemente. Não só para nos proteger, mas para entender, Que o online reflete sombras que podemos reconhecer. Como uma bússola de saber, podemos nos orientar, Identificando os sinais que nos fazem vacilar. Aceitar o que somos, sem editar e criar, É o passo necessário para nossa alma equilibrar. Nas redes, a visibilidade pode ser sedutora, Mas o preço da exposição carrega uma dor duradoura. Lacan fala do olhar do “Outro” que não se apaga, E na tela, o público observa, a crítica nunca se abandona. Expor nossa vida é estar em constante vigília, Onde a privacidade se torna uma moeda frágil. Proteger nossa imagem é um ato essencial, Para navegar no digital sem cair no mal. Neste palco virtual, brilham luzes e sombras, Entre cliques e likes, as identidades se cobram. Seduzidos pelo brilho, muitas vezes nos perdemos, Mas no “Grande Outro” de Lacan, nos vemos. Os números crescem, mas a interação é rasa, Por que estamos conectados, se a troca é escassa? A curiosidade e a visibilidade são o que buscamos, Mas o verdadeiro valor nas conexões encontramos. Como um balé, entre força e leveza, dançamos, Nas redes balançamos, na gratificação instantânea nos lançamos. Não devemos abandonar, mas com cautela agir, Para encontrar a essência e o verdadeiro ser, refletir. A vida digital é ferramenta, não é realidade, Criar e brincar longe da pressão, É a verdadeira liberdade, a expressão, O contentamento vem do interior, Não da validação. Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University - Florida Departament of Education - USA. Enrollment H715 - Register H0192.
- Desenvolvendo Inteligência Emocional: A Chave para a Gestão de Emoções e Resiliência no Trabalho.
Como a Psicanálise e o Autoconhecimento Potencializam a Capacidade de Enfrentar Desafios Emocionais em Tempos de Incerteza. “A verdadeira inteligência emocional surge quando o caos interior é abraçado, não evitado.” — Dan Mena Anos atrás quando trabalhava na Ford, era responsável por treinar equipes de vendas. Em certa ocasião, aconteceu algo que nunca esqueci. Estava para iniciar um treinamento importante com um grupo de mais de 150 candidatos selecionados que aguardavam motivados o primeiro contato com diretrizes, orientações e estratégias da companhia. Antes de começar, percebi haver esquecido meus materiais de apoio e audiovisuais. Obviamente que podia improvisar, más, haviam dados essenciais que continham informações importantes que não lembraria. Nesse momento, fui acometido por um pânico que tomou conta de mim, minha cabeça começou a disparar muitos cenários catastróficos. Foi aí, nesse instante, que me lembrei de um exemplar que havia lido alguns meses antes: “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman, livro lançado em 1995. Na época, foi uma obra revolucionária, que revisitou a importância de lidar com nossas emoções de forma mais consciente e eficaz. O autor aduzia, que pessoas emocionalmente inteligentes são aquelas capazes de reconhecer seus sentimentos, e também as dos outros, além de poder lidar com abalos e momentos críticos como este que relato, por isso, me lembrei do livro. Dita recordação foi decisiva para que eu me acalmasse. Ao invés de sucumbir ao pânico, me lembrei de uma passagem que dizia algo do tipo: “A capacidade de atrasar a gratificação é um sinal de maturidade emocional”. Algo que eu interpretara assim; resistir à tentação de satisfazer desejos imediatamente em troca de benefícios a longo prazo, está ligado ao desenvolvimento da maturescência emocional. Isso me deu a entender, que pessoas emocionalmente maduras são realmente capazes de controlar impulsos e tomar decisões mais amplas e assertivas, em vez de ceder ao momento desequilibrante. Assim, eu estava ali, diante de uma oportunidade de praticar de verdade essa premissa. Respirei fundo, olhei em volta aquele burburijo de gente, e reconheci o meu medo, Aos poucos fui recuperando o comando e a calma retornou. Fiz uma ligação rápida para um supervisor, dei uma enrolada na galera, e, em 40 minutos o material estava na mesa, tudo seguiu como planejado. Essa escrita me ensinou que, em momentos de crise, a rédea emotiva não está em eliminar o fantasma ou a ansiedade acometida, mas sim, reconhecer que essas ilações psíquicas têm poder, cientes, que conseguimos revertê-las em ações construtivas interiorizadas. Naquele dia, o que poderia ter sido um completo desastre para mim, virou uma lição prática para minha vida, algo que agora ensino, não só aos meus pacientes, mas também aplico pessoalmente. É isso que quero trazer à tona neste artigo. Vejo que a inteligência emocional, termo que Goleman popularizou e cunhou, vai muito além de uma simples habilidade social. Ela está conectada com o autoconhecimento, algo que Freud falou quanto às forças inconscientes que sabotam nossas intenções conscientes. Ao desenvolver um maior saber de si, podemos identificar e entender essas forças ocultas, que nos credenciam a agir de maneira mais alinhada com objetivos e desejos conscientes, minimizando esse boicote interno. “Na psicanálise, o poder não está em eliminar o medo, mas em ouvir o que ele nos ensina.” — Dan Mena Vivemos em um mundo onde as pressões e as incertezas são constantes, Bauman já destacava o tema, ao descrever nossa sociedade como “líquida” e em fluxo constante. O que antes era previsível e estável, hoje se dissolve rapidamente, e, em meio a isso, as emoções podem parecer descontroladas e frouxas. Por essa razão, chega de introdução, mergulhemos no conceito e sua aplicação prática, usando tanto as ferramentas psicanalíticas quanto as descobertas contemporâneas, vou nortear você a desenvolver essa capacidade. Parafraseando Winnicott, ''a verdadeira maturidade emocional está em nossa capacidade de tolerar a frustração e o sofrimento, sem nos desintegrarmos''. Convido você a refletir: Como você lida com suas emoções quando se sente pressionado(a)? Já parou para pensar sobre como esses deslocamentos e impulsos, moldam suas decisões? Adentraremos nessas questões, apresentarei ferramentas, e lhe guiarei na construção de uma inteligência emocional sólida, capaz de melhorar sua resiliência. Isso nos leva à questão matriz deste assunto: O que realmente significa ter inteligência emotiva? Nestes tempos de grande imposição social e reptos constantes. Richard Sennett, em sua análise sobre o “homem flexível”, aborda as transformações nas relações de trabalho e na identidade desta época. Plasticidade e versatilidade, ele diz, é uma característica valorizada na economia progressista, nos leva a uma adaptação constante às exigências do mercado. Embora essa adaptabilidade possa ser vista como uma vantagem, destaca os custos emocionais da sua aplicação. Esse homem que ele menciona, que enfrenta todo tipo de insegurança, incerteza e uma falta de comprometimento, tanto em suas relações profissionais quanto pessoais. Dita dinâmica, resulta em um sentimento de deslocalização e fragilidade, onde a nossa busca por identidade e estabilidade se tornam um repto cotidiano, num mundo em vertiginosa mudança. “Tolerar a frustração sem se desintegrar é a arte de sobreviver ao fluxo incessante das incertezas.” — Dan Mena Posso afirmar que tudo isso vai muito além de simples técnicas superficiais. Ela envolve um autoconhecimento, e a capacidade de nos conectar com nossas emoções, por mais desconfortáveis que sejam. Reprimidas, podem nos causar grande sofrimento, ao surgirem de desejos e incitamentos que tentamos evitar conscientemente, assim, em vez de refrear ou negar, precisamos confrontar. Quantas vezes já fomos dominados(as) por afetos, sentimentos e perturbações anímicas como o medo, a raiva ou a tristeza? Quando isso acontece, nós perguntamos o que realmente está por trás delas? Jung as chamava de “sombras”, sendo aqueles aspectos próprios que preferimos ignorar ou não reconhecer, mas que, na verdade, moldam grande parte do nosso comportamento diário. Desenvolver a inteligência emocional e gerir esses estímulos e incentivos, são como uma mola que turbinam tanto o bem-estar, quanto trabalham positivamente a reabilitação. É na nossa capacidade de tolerar a desilusão e o sofrimento que podemos ir ao encontro da maduração. Eis a chave que abre esse segredo, portanto, vencer seus sintomas, não está em evitar sua manifestação, mas em aprender a integrá-las de maneira saudável. A tal da jornada emotiva que todos atravessamos em algum momento, inclusive repetidamente. Observemos assim, devenidamente, como lidamos com situações de estresse, constrangimento, imposição, influência, intimidação, opressão e violência. Como reagimos quando elas parecem tomar o controle da nossa vida? Boa leitura. Como Desenvolver Habilidades para Melhorar o Bem-Estar e a Resistência a Mudança. Acredito que a inteligência emocional e o domínio das emoções não só impactam nossa qualidade de vida, mas também, afetam assustadoramente nossa psique. “A regência emocional é um ato de coragem, que transforma dor em aprendizado e fragilidade em força.” — Dan Mena O Que é Inteligência Emocional Sob a Ótica Psicanalítica? Em termos de conceitualização é nossa capacidade de lidar com o “Eu” (o ego) e o “Outro” (o ambiente externo). Ao compreender nossas turbações e as dos outros, estamos navegando por um mar que inclui, tanto os nossos impulsos inconscientes quanto as demandas da realidade. Nossa civilização depende da capacidade de cada indivíduo renunciar a certas satisfações imediatas. Essa habilidade é, de certa forma, um precursor gatilho do que hoje entendemos por autocontrole. A autoconsciência — um dos pilares desse prisma — pode ser interpretado do ponto de vista analítico, como uma forma de acessar nosso inconsciente e os aspectos subversivos da mente. Benefícios da Gestão Emocional no Dia a Dia. Esse manejo em sua natureza, é um exercício contínuo do equilíbrio entre o ego e o id (forças internas do desejo) e o superego (as normas sociais e morais). Quando conduzimos ditas movimentações de maneira eficaz, não estamos apenas contendo nossos impulsos, mas também compreendendo sua origem, assim como se entrelaçam e relacionam com nossa identidade. Em suas pesquisas, Carl Jung observou, “aquilo a que resistimos, persiste”. Ao lutarmos contra sensações e estimas, sem poder entendê-los, perpetuamos o ciclo da repressão. Não é apenas sobre ter a rédea deles, más também, e sobre criar um espaço amigável para seu reconhecimento e validação. A verdadeira perseverança surge da nossa articulação, competência e habilidade de olhar para nossas feridas psíquicas — seus traumas, e as dores que nos provocaram. Acolher seu significado, por mais doloroso que seja, é um passo enorme para sua transposição. Isso me lembra Winnicott, ele, falava sobre o conceito de “mãe suficientemente boa”, que simboliza a capacidade de lidar com frustrações. Se refere à ideia de que uma mãe (ou cuidador), não precisa ser perfeita(o) para criar um ambiente saudável para o desenvolvimento da criança. Seria portanto, aquela que atende às necessidades básicas do bebê consistentemente, mas que, permite a abertura desse espaço para autenticar naufrágios e falhas, o que é básico para o aprendizado e a formação dessa adaptabilidade necessária. Essa abordagem, enfatiza que a qualidade e dedicação ofertada não reside no ato perfeito, mas na mestria de oferecer um suporte adequado, e estar presente, permitindo que essa criança desenvolva um senso de si aprimorado, e se torne um indivíduo independentemente adaptado. Tal leitura também sugere, que o erro e a imperfeição pertencem a uma parte natural do processo de crescimento, contribuindo para a saúde emocional a longo prazo. “A imperfeição é uma aliada no encadeamento da evolução; acolher nossas feridas é o primeiro passo para a adaptação emocional.” — Dan Mena Estratégias para Melhorar a Inteligência Emocional. Sugiro que qualquer progresso nessa direção comece pela observação dos padrões subconscientes. A terapia psicanalítica e um método de “autoconsciência guiada”, no qual o paciente-cliente, se torna cada vez mais capaz de identificar seus modelos emocionais, aqueles que dirigem seu agir. Práticas como o mindfulness e ioga são muito úteis, mas prefiro entendê-las como ferramentas auxiliares para essa percepção, não apenas o presente, mas o fluxo de pensamentos que surgem do inconsciente. Um dos grandes nomes da psicanálise contemporânea, Wilfred Bion, falava sobre a importância de “pensar os pensamentos” — e a relevância da metacognição, a habilidade de refletirmos sobre nossos pleitos ao pensar. Destarte, isso implica claramente em não apenas ter pensamentos, más, senão, na sua ponderação e questionamento, compreendendo suas implicações. Ao “pensar os pensamentos”, incorporamos um saber quanto a consciência crítica, o que nos permite distinguir entre aquelas ideias que estão no automático e outras que são absolutamente deliberadas. Esse exercício vai nos conduzir a uma significativa melhora na tomada de decisões, resolução de problemas e governança firme. Esses recursos cooperam em todo o contexto, ajudando a entender como nossas crenças se elaboraram. Outra estratégia comprovada é o desdobramento da empatia através da escuta. Na clínica, percebemos que a intropatia não é apenas uma resposta superficial, mas um ouvir cavado, que considera camadas emocionais e o subconsciente do outro. Resiliência Emocional e a Psicanálise. Quando perdi minha mãe na pandemia precisei de apoio, foi quando olhei para o trabalho de Melanie Klein e seu conceito de “posição depressiva” ele refletia bem o momento delicado pelo qual eu estava atravessado. Ela me fez perceber através do seu trabalho, que os objetos de nossos afetos, neste caso minha amada mãe, eram inteiros, más, que mesmo sendo a pessoa mais importante da minha existência, nosso laço continha aspectos bons e ruins. Nesse período do luto, eu passei a experienciar sentimentos de tristeza e culpa, até que reconheci que muitas das minhas ações nesse percurso de vida, (apesar de eu sempre ter sido muto cuidadoso com ela), a poderiam ter ferido, dai o provável remorso. Foi à acepção e acomodação desses sentimentos que consegui incorporar essas prerrogativas, onde amadureci, aprendendo a lidar com a perda dessa sofrida e irreversível separação terrena. A posição depressiva, não é apenas sobre sofrimento, mas quanto a faculdade potencial de amar, de me preocupar com esse outro, e de enfrentar a realidade emocional com mais complexidão. Em miúdos, a verdadeira superação não radica em evitar a angústia, mas sim, em desenvolvermos o predicado de suportar a dor da perda, da metanoia e do conflito interno, integrando tudo isso completamente, até o transformar em crescimento. Esse atributo possível de nós recuperarmos de revezes emocionais, está ligado à nossa habilidade de “trabalhar o luto” — seja ele por uma perda literal ou simbólica (como pode ser um sonho malogrado, uma expectativa perdida). Em qualquer uma dessas hipóteses, o que esta sempre em jogo e nosso desejo mais íntimo, a incompletude literal como parte inerente da nossa condição de vida. “Pensar os pensamentos, como Bion propôs, é um exercício vital que distingue entre o automático e o deliberado.” — Dan Mena Inteligência Emocional e o Local de Trabalho. No ambiente de trabalho a inteligência emocional é muitas vezes vista como uma competência prática, mas ela também carrega implicações. Quando lideramos ou colaboramos com outras pessoas, frequentemente entramos em contato com ''dinâmicas transferenciais''. Ditas mecânicas ocorrem quando começamos a transferir sentimentos, desejos e expectativas de relações passadas. Isso significa, que reagimos às pessoas como se estivéssemos lidando com figuras importantes do nosso passado. Essas implicâncias podem ser positivas ou negativas, más, sempre refletem um traquejo anterior que ainda não foi completamente elaborado. Através dessa transferência, revisitamos velhas feridas e padrões, que podem gerar um ruído profissional. Permitir o acesso interior para serem re-trabalhadas e, eventualmente ressignificadas, potencializa um melhor desempenho no ambiente de trabalho. As tensões e conflitos que surgem, revelam nossos quereres inconscientes, principalmente, ansiedades projetadas sobre o outro, que nada tem a ver com o nosso pretérito pregresso. Emoções inconscientes podem influenciar significativamente o funcionamento coletivo, ao falarmos de gestão de emoções no trabalho, estamos discutindo como cada indivíduo lida com suas próprias projeções em um contexto maior. “Administrar emoções profissionais implica entender como as projeções pessoais afetam o coletivo, moldando a dinâmica de toda a equipe.” — Dan Mena O Desafio de Navegar nas Águas da Emoção. Finalizando meus caros leitores, aprendemos que a inteligência emocional não é apenas uma habilitação a ser adquirida, será certamente uma jornada de inspirações e autodescobertas. No entanto, ao ignorar nossas partes sofridas, arriscamos permitir que pulsações censuradas se manifestem, agindo de maneira destrutiva. Destarte, é importante reconhecer que forças internas muitas vezes operam e nos governam, tomando consequentemente a direção. Essa conscientização nos permite lidar com o problema em sua forma crua, antes de serem transformadas em sentimentos organizados e compreensíveis. Isso nos dá um vislumbre da dimensão e magnitude de depreender quanto a origem de nossas reações. Eis que surge um questionamento: Como podemos nos desenvolver emocionalmente em uma sociedade que parece nos empurrar para o descontrole e o imediatismo? Acredito que o primeiro passo para alargar esse savoir-faire de tolerar a incerteza, é reconhecer o lugar onde a imprevisibilidade é a norma de constante incerteza e vulnerabilidades estão presentes. Algo que pode ser paralisante, mas também, uma janela para o conhecimento de si. O que fazer diante de tanta melindrice, desproteção e destrutibilidade? “Em uma sociedade que valoriza o imediatismo, a verdadeira habilidade emocional reside em tolerar a incerteza e abraçar nossas fraquezas.” — Dan Mena Em vez de nos fecharmos em uma postura defensiva, sugiro que elevemos nosso potencial usando a autocompreensão. Devemos aprender a ouvir, acolher, escutar nosso inconsciente, peitar o que nos desestabiliza, e, como propõe a psicanálise, encontrar significado na dor. É nessa introspecção que residem as respostas para nossas angústias. Ao olharmos para o futuro, fica outra pergunta. Estamos preparados para viver em uma comunidade onde as emoções são tão correntes quanto as mudanças ao nosso redor? Como podemos cultivar a inteligência para nos adaptarmos, sem perdermos nossas raízes culturais e sociais? “No abismo das comoções cerceadas, encontramos a chave para nossa libertação, mas isso exige coragem para enfrentar o caos interno.” — Dan Mena No fundo, de cada sensação sufocada, há um abismo que, quando ignorado, nos consome lentamente. Nesse precipício que reside a chave da nossa libertação. Não se trata apenas de controlar as emoções, mas de encarar o original e primitivo caos que nos habita. Pois, coragem para mergulhar nele, permitindo que as sombras da escuridão nos abracem na queda. Porque no final da sua falésia, no breu da própria alma, encontraremos a luz divina que nos guiará. Ao poema: A Arte da Emoção Por Dan Mena. Em tempos de pressa e aflição, A vida flui como um rio em confusão. Corações pulsando em busca de paz, Entre medos e dores o caminho se faz. "Abraça o medo," ensina o coração, Transforma a dor em aprendizado e ação. Reconhecer a sombra, o que há por trás, Na fragilidade que a força se faz. No luto da vida encontramos a luz, Entre amor e perda o caminho conduz. De cada frustração, um passo darei, A arte de viver reaprendendo a amar. A tempestade pode nos abalar, Más, no fundo do poço aprendemos a voar. Com coragem e fé, desafiamos o destino, Na dança da vida e bom seguir o divino. E quando o silêncio se faz companhia, Na introspecção, encontramos poesia. Entre lágrimas e risos, há beleza na dor, A vida é um ciclo de um eterno clamor. Como enfrentar a pressão que o agora traz? As emoções giram, como luz que se faz. Com empatia e coragem, lado a lado lutar, Na sinfonia da vida, vamos nos abraçar. Com inteligência emocional podemos ressurgir, Na tempestade da vida, sempre há um porvir. Com corações abertos prontos para sentir, E ao fim da jornada a esperança seguir. Até breve, Dan Mena Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University - Florida Departament of Education - USA. Enrollment H715 - Register H0192.
- Uma Infância Saudável.
A terapia infantil também ajuda os pais a entender as perguntas e os comportamentos de seus filhos e lhes proporciona maneiras apropriadas de ajudar eles. A terapia infantil também ajuda os pais a entender as perguntas e os comportamentos de seus filhos e lhes proporciona maneiras apropriadas de ajudar eles. Que tipo de problemas se apresentam? Ansiedade infantil Depressão primária Medos, fobias e obsessões infantis Desenvolvimento lento da linguagem ou da fala Problemas de relacionamento Baixa autoestima Problemas de comportamento Insônias e terrores noturnos Distúrbios alimentares Transtorno de Deficit de Atenção Hiperatividade Dado o alto grau de dependência das crianças de seus pais, os problemas do casal ou da família se refletem em seu comportamento, portanto, pode ser necessário o compartilhamento dos pais no acompanhamento do tratamento. Quais podem ser os benefícios? Aliviar os sentimentos de dor e culpa Melhorar as relações interpessoais Enfrentamento às situações traumáticas e perdas Superar as complicações relacionadas à saúde Ajudar a compreender suas emoções e a expressá-las Superação de obstáculos de desenvolvimento Melhor integração ao ambiente social Ajudar os pais a entender seus filhos Quando ficar atento? Quando a criança tem problemas na escola; quando mostra dificuldades para controlar seu comportamento; dificuldades para se separar de seus pais; tem dificuldades para se concentrar, está entediado, inquieto permanentemente; manifesta reações agressivas ou rebeldes; mudança abrupta de comportamento; alteração das condições de vida, separação dos pais ou divórcio; retorno a atos infantis; quando ele tem medo ou se comporta estranhamente; está triste; quando se torna muito reservado e quer ficar sozinho a maioria do tempo. O processo terapêutico permite compreender e explicar o comportamento da criança, assim como produzir as condições para melhorar o seu bem-estar. A psicanálise infantil nos chama a repensar a teoria psicanalítica em sua complexidade. Novas perguntas, novos desafios, nos convocam diariamente. A psicanálise com crianças reside em dois fatores: 1) a inclusão dos pais na análise conjunta, 2) que as intervenções com elas podem ser estruturantes, ou melhor, ser o motor da sua estruturação. Ele tem dificuldades na escola, chora por qualquer coisa… está fazendo bagunça..., etc. Então, aparecem as reclamações, solicitações e reprovações. Uma história desordenada, onde mal podemos vislumbrar de quem eles estão falando. Ansiedades, sentimentos de desesperança, medos, exigências. Assim, ambos são convocados desde a primeira chamada para ouvir um pedido, sejam de múltiplas histórias… dos pais, da criança e das gerações anteriores. A teoria psicanalítica nos ensina, que não é uma modificação comportamental imposta por outro que pode gerar mudanças na estrutura psíquica. Que não é por meio de uma indicação ou conselho que alguém pode tornar seus desejos conscientes, que a sexualidade insiste na busca do prazer e que não há consenso ou recomendação capaz de eliminá-lo. E isto, é também sobre sexualidade, sobre desejos, sobre proibições. O que insiste no jogo das repetições é o que estamos decifrando na criança, e em seus pais. Situar-se nesse lugar dos genitores, implica escutar todo o seu discurso, sem estabelecer privilégios, tentando traçar sua história infantil, dirigindo-se a eles, não para dar informações sobre o que supostamente acontece a um terceiro, mas referindo-os às suas próprias experiências, sentimentos e ideias. Na infância, as paixões antigas e eternas são recuperadas, tudo o que uma criança atualiza em um adulto é traduzido em palavras e reconhecido como seu próprio. A consulta sobre uma criança, geralmente implica em trabalhar uma ferida narcisista. A ilusão da criança perfeita, o produto dos pais ideais. Assumir a maternidade e paternidade não é fácil. É sempre um lugar de conflito, onde coabitam desejos contraditórios, identificações antigas, modelos ultrapassados estão em jogo. Quando Green afirma: "O que se exige do analista é mais que suas capacidades afetivas e sua empatia; é, de fato, seu funcionamento mental, porque as formações de sentido foram colocadas fora de circuito no paciente" (Green, 1990, p. 59). (Verde, 1990, p. 59). Isto deve ser considerado no trabalho com os pais, porque, além do diagnóstico, é muito frequente que as transferências sejam confusas. Quando trabalhamos com os pais, falamos fundamentalmente deles, e as referências que fazemos à criança são uma função de seus conflitos que se entrelaçam com o filho. E quando trabalhamos com eles, deve-se considerar sua percepção da realidade psíquica materno-paternal e os julgamentos derivados dela. A psicanálise possui os conhecimentos mais avançados sobre o desenvolvimento psíquico infantil, os estágios de desenvolvimento, as teorias que se manejam, explicam a realidade de si mesmas, é as disposições psíquicas, a partir das quais elas começam. A técnica utilizada, permite que expressem livremente suas emoções, respeitando suas preferências de disposição e sua personalidade, dirigindo-as de maneira saudável. Também, proporciona aos pais participar da terapia, e explorar livremente seus pensamentos sobre o assunto, contribuindo para melhorar a saúde de toda a família. Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
- Onde Outros Não Alcançam.
O que a psicanálise alcança que outras terapias não conseguem? Os psicanalistas, recebemos pacientes por uma variedade de razões, sentimentos de angústia, fobias, vazios, ansiedade, solidão, dificuldades em suas relações interpessoais, medos de todos os tipos, obsessões, distúrbios sexuais, ejaculação precoce, impotência, frigidez, entre muitas outras queixas Os psicanalistas, recebemos pacientes por uma variedade de razões, sentimentos de angústia, fobias, vazios, ansiedade, solidão, dificuldades em suas relações interpessoais, medos de todos os tipos, obsessões, distúrbios sexuais, ejaculação precoce, impotência, frigidez, entre muitas outras queixas. É comum que no início do tratamento falem com desespero sobre as dificuldades que estes sintomas lhes causaram e causam, a maioria, está disposta a tentar um tratamento para resolver seus problemas. Muitas vezes, os pacientes pedem conselhos, direção, sugestões ou uma recomendação sobre o que fazer. Frequentemente vamos ouvir algo do tipo: "Preciso de um conselho sobre se devo pedir demissão da empresa" ou "Devo terminar este relacionamento?"... Um modelo terapêutico que propõe estas diretrizes, mantém a ideia de que o analista é um modelo de suposto saber, que ele ou ela pode escolher melhor para o analisado. Vemos aqui, a intenção de transferir aquilo que na realidade é a sua própria queixa. Um mau terapeuta, faz recomendações e responde com conselhos em face de cada indecisão da pessoa que o consulta. Nesta perspectiva, os pacientes tornam-se inválidos emocionais. Um aspecto onipotente da mente do analisado está trabalhando, dando a outra pessoa a responsabilidade de decidir por ele. Assim, o psicanalista, agora conselheiro, parece possuir a verdade das diretrizes do outro. Fragilizados emocionalmente, são pessoas que utilizam mecanismos de idealização, e consequentemente atacam sua própria capacidade de pensar, agir e decidir, anulando sua autonomia pessoal, perdendo sua identidade e minando seu impulso para crescer através de sua própria experiência. Este sistema é compreensivelmente inadequado, infelizmente, mais comum na clínica do que podemos imaginar. O que a terapia psicanalítica propõe? Uma visão e compreensão diferente dos problemas do paciente, buscando num trabalho recíproco, a origem e a causa dos conflitos no inconsciente. Uma parte significativa da vida mental e emocional se encontra precisamente neste lugar, e ele está na linguagem, nos sonhos, em deslizes linguísticos, atos fracassados, comportamentos, condutas, hábitos, piadas, sintomas e transferência, ou seja, na relação consciente e inconsciente que se estabelece. Desta simbiose, surgira uma verdadeira aliança na construção de cânones positivos, onde o papel do psicanalista não é oferecer ajuda, senão a de conduzir as próprias resoluções. Fantasias sexuais, sonhos de infância, experiências, entre outros, permitem que conflitos infantis, ciúmes e ansiedades sejam explorados e conduzidos a luz de uma descoberta pessoal. Todas essas emoções permanecem no inconsciente, até que se tornam conscientes, em uma terapia psicanalítica dirigida, a única capaz de descobri-las pelo método da associação livre de ideias. Quando a vida psíquica se desenvolve desvinculada da parte consciente do funcionamento mental, repetições cíclicas acontecem sem sabermos a razão. Sempre soubemos que muitas pessoas, a fim de evitar entrar em contato com seus problemas psíquicos, podem se envolver em uma corrida por bens materiais, sucesso financeiro, fama e soluções imediatas. O custo é alto: angústia, doença física e brigas interpessoais, sentimentos de vazio, ausências e infelicidade estarão presentes. Da perspectiva psicanalítica, o mundo interior, a realidade psíquica, é considerada. A psicanálise propõe que a realidade interior difere da realidade externa, o mundo em que vivemos diariamente. As pessoas constroem uma ideia subjetiva do mundo, com base nessa realidade psíquica, de modo que se alguém, por exemplo, for dominado por sentimentos de superioridade, ele ou ela, olhará o mundo de cima para baixo e com desprezo. Simultaneamente, se uma pessoa estiver acelerada, o que ela sente ao seu redor será sempre fantástico. Se ele estiver deprimido, por outro lado, sentirá que não há esperança e verá o futuro como sombrio, sem esperanças. Em outras palavras, o mundo da realidade cotidiana, é o resultado de projeções que fazemos a partir de dentro da alma. Muitas vezes, a aplicação do método psicanalítico é a única maneira de reduzir o aparecimento de doenças psicossomáticas de diferentes diagnósticos, assim como o câncer, ataques cardíacos, que podem ser menos frequentes em pessoas que estão em terapia, do que aquelas que fazem aconselhamento, usam medicação ou recorrem a métodos de apoio emocional, ou comportamentais. As terapias, baseadas no senso comum, enquadramentos, ou que oferecem apenas apoio e acolhimento, as que elaboram recomendações sobre o que fazer na vida, são efetivas, mas seus efeitos transitórios, criando uma forte dependência do terapeuta. Os temas pessoais, de trabalho, conjugais, familiares, sexuais, e parentais, são muito melhorados ou resolvidos na terapia psicanalítica, uma vez que os traços de caráter que contribuem para esses problemas são reportados, trazidos a tona, e modificados. Neste sentido, a psicanálise é mais intensiva em seu trabalho, mas seus efeitos duram, seus objetivos são mais ambiciosos ao podarem alcançar mudanças profundas no desejo, na mente e na personalidade do indivíduo. Alguns pacientes, inicialmente preocupados, gradualmente se sentem compreendidos e realizam grandes progressos. Mergulhando no mundo dos seus sonhos, onde encontram a verdadeira realidade, sua interiorização, dali, emergem com maior maturidade e uma vida mental mais profunda, criativa, de resoluções firmes e qualitativas. Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
- O Analista na Política.
A orientação dos analistas para as coordenadas que se impõem nos debates sociopolíticos, são alheios à prática da análise, mas sim ao discurso analítico. A intervenção deve procurar influenciar a realidade, sem se submeter a modelos eclesiásticos, partidários ou militares. A orientação dos analistas para as coordenadas que se impõem nos debates sociopolíticos, são alheios à prática da análise, mas sim ao discurso analítico. Essa intervenção deve procurar influenciar a realidade, sem se submeter a modelos eclesiásticos, partidários ou militares. É um estilo de boa aproximação, uma possível fusão entre psicanálise e política, possibilitando o estabelecimento de campos, que diante da carência do real, tentem ir em busca de sentido. Lacan, desconfiava de ideais, sistemas e utopias políticas. "Não tinha nostalgia, nem esperança, apenas uma grande sobriedade no que se refere à política, acompanhada de inúmeros comentários que iam da ironia ao cinismo, marcados pelo sarcasmo e zombaria, enfatizando que a política é a era dos quadrinhos e dos assassinos". "Nesse sentido, a psicanálise é exatamente o oposto da política." Um dos grandes benefícios da psicanálise é não haver o outro do outro. Diante dessa dor existencial, surgiu uma totalidade, que se constituiu na esperança de reabsorver a divisão da verdade, instaurando o Reino do Uno no campo da política. Essa perspectiva tem em seu horizonte o desejo de construir uma sociedade disciplinada. Habitada por sujeitos modelos que compartilham, se identificam, num culto à personalidade, e um amor inquestionável por um líder. O analista usa uma palavra e uma linguagem que não é totalmente acessível a todos. Sua participação se baseia em sustentar a decisão, e torná-la menos vertiginosa, no sentido de revisitar as ilusões invisíveis do sujeito nesse campo. Quando o psicanalista opina politicamente, deve ser um defensor dos direitos humanos, ser contra qualquer discurso ou ação segregacionista, polarizada ou discriminatória. O analista, deve intervir com "sua decisão silenciosa, que não deve ser confundida com silêncio". Quando a abordagem de Freud passou da cura do sintoma a da compreensão das pessoas para uma visão mais integrada, o tratamento psicanalítico assumiu uma dimensão mais completa que enfatizava a singularidade do encontro de duas pessoas, analista e analisando, que criam um profundo e duradouro relacionamento de vínculos fortes. A relação analítica, tornou-se um campo específico que mobiliza afetos e impulsos inconscientes, onde ambos os participantes são expostos a avatares de transferência e contratransferência. O analista ocupa um lugar no mundo da fantasia do analisando, onde Freud alertou, para as consequências danosas que levaria o adentramento do assunto ao tratamento, nos quais se prescreve a neutralidade, a abstinência e o anonimato do analista. A micropolítica interna da situação terapêutica, que implica a personalidade de ambos os participantes, com sua fantasia, ansiedade ou defesa, configuram a porta de entrada para o campo analítico entre duas pessoas, uma tensão estruturada conforme as instruções que delas surgem. Por vezes, a abstinência do analista baseava-se em questões políticas sobre a necessidade de manter a neutralidade, no entanto, a mesma não significa que seja apolítico. O problema da neutralidade diante do paciente na sessão, bem como a maneira de abordar os aspectos reais do vínculo analítico, enfatiza a dinâmica do mundo interior e tende a ocupar posições diferentes do que a relação real. Acredito que seja prudente, tanto para os pacientes quanto para os analistas, evitar abordar tais questões. O paciente está preocupado com seu mundo interior, seus problemas particulares, mas, além disso, ambos relutam em entrar no terreno que desperta sentimentos intensos e por vezes irracionais. O salutar, pode ser um claro acordo para evitar as questões em seus aspectos manifestos, portanto, não se trata de não falar de política, mas de revelar o sentido inconsciente que assume esse rol é momento para o analisado. É verdade que na era da informação massiva, com os buscadores coletando todos os tipos de dados contidos nas redes sociais, é difícil manter os critérios de neutralidade, no entanto, considero válido manter esse critério e trabalhar nos conflitos internos, que nesse aspecto afetem o paciente. Como qualquer profissão que procura curar doenças, aliviar sofrimentos ou administrar melhor os conflitos emocionais, psicanalistas e psicoterapeutas compartilham uma preocupação geral com o bem-estar, a melhoria das condições gerais de vida, a expansão dos serviços de educação, saúde pública e tudo o que constitui um estado de bem-estar. O ensino de Lacan, aliado a uma perspectiva política democrática, que separa o governo do Estado, respeita a liberdade de expressão e o pluralismo, fornece as ferramentas necessárias para pensar o mundo social. Habilidades que, baseadas na ética analítica, permitem gerar ações que tentarão transformar o transformável do real. Do discurso analítico ao discurso político, a distância entre a ética do bem, e a que tenta encontrar... onde ela está? A decadência generalizada no campo político é conhecida, o que, portanto, não abre caminhos para a discussão racional entre os cidadãos, estamos no campo da opinião polarizada, de onde se desenrola o debate público sobre a desilusão, engano e manipulação. Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
- Complexo de Édipo - a Castração.
O complexo de castração é um dos elementos centrais na psicanálise, está ligado ao complexo de Édipo. Embora existam outras análises interessantes sobre ele, neste artigo, adentro nele com a base da teoria clássica de Freud. Freud constrói sua fala sobre os sistemas complexos assim… “Os nossos complexos são a fonte da nossa fraqueza; mas muitas vezes, eles também são a fonte da nossa força”. Segundo Freud, “o”Eu” não é senhor em sua própria casa”. Na tragédia Édipo Rei, escrita por Sófocles, como uma das bases da estruturação psíquica do desejo humano, sinaliza com um dos conceitos clínicos mais importantes da teoria psíquica, que propõe a divisão entre a consciência e o inconsciente, onde aparece como a pedra fundamental a Psicanálise, com o nome de Complexo de Édipo. A interpretação deste mito, reescrito por Freud, no qual Édipo se casa com a sua mãe e mata o pai, (sem estar ciente que era), estabelece para o Psicanalista (no seu conceito terapêutico), o ato inaugural da civilização, a partir do tabu do incesto, citado em Totem e Tabu escrito em 1913. O Complexo citado, trata de um conflito afetivo triangulado que toda criança atravessa. Surge, a partir dos desejos amorosos e provocadores em relação aos próprios pais. Em suma: nesse momento ela deseja um dos seus genitores, normalmente do sexo oposto, rivalizando com o genitor do mesmo sexo. Essa proibição de seus desejos representa a entrada do sujeito no chamado processo simbólico. A criança, ao introjetar os limites para o seu ''Eu'', desloca essa energia para outros interesses e afetos. Viver o processo de castração, inaugura o sujeito para a Psicanálise: na busca pela sua incompletude, como maneira de satisfazer o desejo impedido, que permanece viajando entre objetos, sem nunca aceder a descarga total de sua libido e excitação. Aqui podemos citar Lacan… que com sua absoluta autoridade diz: É impossível formar um… “O gozo — o gozo do corpo do ''Outro'' — resta, ele, uma questão, porque a resposta que ele pode constituir não é necessária. Isto vai mesmo mais longe. Não é nem mesmo uma resposta suficiente, porque o amor demanda o amor. Ele não deixa de demandá-lo. Ele o demanda… mais… ainda. Mais, ainda, é o nome próprio dessa falha de onde, no ''Outro'', parte a demanda do amor”, 1985. O complexo de castração é um dos elementos centrais na Psicanálise, centralmente ligado ao complexo de Édipo. Embora existam outras análises interessantes sobre ele, neste artigo, adentro com a base da teoria clássica de Freud. Este fenômeno psíquico, não se refere a uma mutilação anatômica do corpo. Diz respeito, a uma experiência inconsciente na qual a criança rompe com a ideia de onipotência da existência fálica (pênis), através da diferenciação dos sexos. Ele se dá de maneira diferente na constituição psíquica do menino e da menina, a de que muitos homens desenvolvem na infância, a fantasia de que podem ser castrados por seus pais. Essa crença imaginária, se vê reforçada por insinuações jocosas adultas, geralmente em tom de brincadeira. Um exemplo clássico poderia ser: não mexe no seu ''PIUPIU'' senão vou cortá-lo. Freud constatou que, diante do desconhecimento de como funciona a genitália feminina, crianças de ambos os sexos, tenderiam a explicar a ausência do pênis nas meninas como resultado de uma castração. O suposto medo de serem castrados, levaria os meninos a renunciarem à prática da masturbação infantil e ao desejo incestuoso pela mãe. Já as meninas, acreditando ilusoriamente que são castradas, seriam levadas a aguardar uma recompensa por tal infortúnio, normalmente um bebê a ser gerado pelo pai. Em ambos os casos, a fantasia de castração, leva os infantes a fazer uma permuta, ela (mulher), abandona e troca por determinadas coisas, para poder desejar outras, que acabam funcionando como os símbolos dessa primeira. Esta experiência mental intensa no desenvolvimento, que vivemos pela primeira vez, por volta dos 3 a 6 anos, se estabelece como uma prova inconsciente, que ciclicamente se repetem na nossa vida, particularmente, quando os mecanismos de defesa estão ativados, sendo fundamental e decisiva para a estruturação da futura identidade sexual do indivíduo. O complexo de castração, pode ser definido como “o sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela criança, quando ela constata a diferença anatômica entre os sexos” segundo afirmação de (ROUDINESCO, E. & PLON, M, 1998: 104.) (presença ou ausência de pênis) que se centra na fantasia imaginária infantil, de haver nesta suposta ausência ou não, a amputação do pênis. Portanto, se é definida pelo recalcamento da castração como estratégia defensiva, formativa do modo estrutural. A perversão pela renegação, a recusa de reconhecer a falta (já captada) do outro, representada pelo corpo da mãe em que faltaria um elemento, o falo. Freud constrói esta frase para falar sobre os sistemas complexos… “Os nossos complexos são a fonte da nossa fraqueza; mas muitas vezes, eles também são a fonte da nossa força”. O complexo de castração se faz presente, seja com meninos e meninas, cada um, a vivenciando e experimentado de uma forma diferente. Tal padrão de representação, é importante como experiência mental, onde a criança aprende através dela a diferenciar os sexos e reconhecer pela primeira vez, os desejos impossíveis que se apresentam. Segundo os estudos iniciais de Freud, esse processo psíquico transcorre em quatro fases e momentos até a sua resolução. São eles; A premissa inicial: o menino descobre que ele tem um pênis e elabora a ideia de que todas as pessoas têm um pênis. Segundo momento: a ameaça. Em virtude do complexo de Édipo, a criança deseja substituir o pai em relação à mãe. Tem comportamentos que comprovam esse desejo, simultaneamente, em que apresenta manifestações de autoerotismo. Por isso, recebe ameaças e proibições e constrói a ideia de que a castração é o castigo que o aguarda, caso persista nos seus desejos e comportamentos. Terceiro momento: a descoberta da ausência. O menino descobre que a anatomia feminina difere: as mulheres não têm pênis. Eles não percebem que as meninas têm vagina, mas são desprovidas de pênis. Associa essa realidade às ameaças imaginadas: acredita que a ausência de um pênis é uma castração real. Quarto momento: o da angústia. O menino descobre que a sua mãe é mulher, portanto, não tem pênis. Surge então a ansiedade da castração, experimentada inconscientemente. Uma vez cumpridas estas quatro etapas, acontece uma última fase que é a de resolução, tanto do complexo de castração quanto do complexo de Édipo. Dita, ocorre quando o menino não quer mais assumir o lugar do pai em relação à mãe. Em outras palavras, renúncia à mãe e aceita a lei paterna. Ele faz isso para resolver a sua angústia de castração. Assume assim, sempre inconscientemente, que se ele persistir, ficará sem o seu pênis. O complexo de castração na menina, tem vários pontos em comum com o do menino. O primeiro é que a garota também parte da premissa de que todos têm um pênis. Da mesma forma, a mãe ocupa um papel muito importante na sua vida, é o centro do seu amor. No entanto, o processo segue por caminhos diferentes. Vejamos as diferenças que aparecem entre meninos e meninas em cada um dos momentos: Inicialmente, mantém-se a premissa de que todos têm um pênis. A menina assume que o clitóris é um pênis. A descoberta dessa diferença: a menina percebe que o seu clitóris é muito pequeno para ser um pênis. Acredita então que foi castrada e gostaria que isso não tivesse acontecido. Posteriormente, ela constata que sua mãe também não tem um pênis e a culpa por não tê-lo, assim entende que houve uma transmissão dessa deficiência a ela. A resolução do complexo de castração nas meninas pode tomar três caminhos diferentes: O primeiro: é a aceitação de que ela não tem pênis e se afasta da sua sexualidade. O segundo: é a manutenção do desejo de ter um pênis. É a negação da castração, o que pode levá-la à homossexualidade. Por fim, o caminho dessa trilha é uma solução completa do complexo de castração. A menina aceita que não tem pênis. A mãe deixa de ser o centro do seu afeto e este é reorientado em relação ao pai. Do mesmo modo, há um deslocamento da libido, onde o desejo de possuir um pênis se transforma no desejo de desfrutar de um pênis durante às relações sexuais. Finalmente, esse desejo do uso fálico, se move para a maternidade, é a vontade de ter um filho. Freud afirma, quando o Complexo de Édipo fica mal resolvido, podem existir várias consequências, tais como: a identificação com o progenitor do sexo oposto, entre eles a homossexualidade, comportamento submisso, dependência excessiva ao sexo feminino, etc., que podem ganhar força, já que o menino sem pai, almejará ser como a mãe. No percurso desse desenvolvimento, a criança passa por diversos momentos que podem ser metaforicamente descritos como castrações. Neles, todos, precisam acontecer num processo cíclico de troca de um objeto ou meio de satisfação por outros, mais amplos, humanizados e amadurecidos. Um tema um tanto difícil, onde sua compreensão e desdobramentos merece muitas extensões que não são possíveis num único artigo. Farei novas abordagens no futuro. Ao poema: mais uma vez com Drummond; Só a genialidade de um poeta como ele pode incluir tantos significados num poema. Numa única frase: “no meio do caminho tinha uma pedra”, agrega questões como simbolismo, filosofia e existencialismo. “No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento Na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra.” Seriam essas nossas pedras? Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
- Tratamento da Ansiedade.
A neurose de angústia, amplamente conhecida como ansiedade e neurose de estresse, é uma condição que pode surgir totalmente ou apenas rudimentarmente desenvolvida, isoladamente ou em combinação com outras neuroses. Neurose, Ansiedade e Estresse O que é Neurose de Ansiedade? A neurose de angústia, amplamente conhecida como ansiedade e neurose de estresse, é uma condição que pode surgir totalmente ou apenas rudimentarmente desenvolvida, isoladamente ou em combinação com outras neuroses. Há casos completos de ansiedade e estresse, mas também há neuroses mistas, onde os sintomas de ansiedade e estresse aparecem associadas a outras doenças. A ansiedade é um estado de excitação, inquietação ou perturbação do humor que não permite que o doente descanse. Ela se apresenta como um desconforto ou desagrado sentido ao nível mental. Geralmente se expressa dizendo "Não sei o que há de errado comigo". O estresse e a ansiedade, por outro lado, têm sintomas corporais: taquicardia, sufocação, palpitações, hiperventilação, opressão precordial, alteração do ritmo circulatório, tonturas, suor, ataques de pânico, vertigem, bulimia, etc. Se você sofre de ansiedade ou estresse, procure ajuda, são pequenas coisas que podem durar uma noite, uma tarde, um instante, mas se prolongadas, podem causar doenças graves. Como detectar se você sofre de ansiedade ou estresse? O quadro clínico de ansiedade e estresse inclui os seguintes sintomas: Excitabilidade geral. Se você se sente nervoso e excitado, isto indica um acúmulo de excitação ou uma incapacidade de resistir a ela. Uma de suas manifestações é uma hipersensibilidade ao ruído, os quais são muitas vezes a causa da insônia. Um estado de angústia geral, como se você estivesse esperando por qualquer representação adequada para justificar essa angústia. As pessoas com expectativas ansiosas sempre preveem eventos terríveis, enxergam em cada evento acidental o prenúncio do infortúnio, e sempre pensam o pior quando se trata de um evento que provoque a sua insegurança. Por exemplo, uma mulher que, toda vez que ouve seu marido tossir, pensa na possibilidade de contrair uma pneumonia fatal e vê em sua imaginação o enterro acontecendo. Ansiedade ou ataques de pânico. Consistem em um sentimento de angústia que pode ser acompanhado por um medo de morrer ou enlouquecer. Também pode ser acompanhado por formigamento anormal, sensações de calor ou frio na pele, perturbação das funções físicas como respiração, circulação, inervação vasomotora ou atividade glandular. Algumas das formas de ataque de pânico são: Distúrbios da atividade cardíaca: palpitações, arritmias breves, taquicardia de longa duração e mesmo estados graves de fraqueza do coração, difíceis de diferenciar de doenças orgânicas. Distúrbios respiratórios: várias formas de dispneia nervosa, ataques semelhantes aos da asma, etc. Elas nem sempre são acompanhadas de uma angústia perceptível. Ataques de transpiração, às vezes noturnos. Ataques de tremores e convulsões, facilmente confundidos com histeria. Bulimia, às vezes acompanhada de vertigens. Diarreia persistente sob a forma de ataques Vertigens locomotoras. Parestesia, (queimadura, dormência, sensações anormais na pele). O "pavor noturno" dos adultos é uma forma de ataque de ansiedade, ela condiciona a segunda forma de insônia. O "pavor noturno" das crianças é também uma forma de neurose de ansiedade. Vertigem. Em sua forma mais suave, é uma simples vertigem. Em sua forma mais severa é um ataque com ou sem ansiedade. Consiste no desconforto, acompanhado pela sensação de que o solo oscila, as pernas afundam nele e é impossível continuar de pé. As pernas, tremem e se dobram, pesando como se fossem de chumbo. A vertigem das alturas também aparece. Fobias relacionadas a ameaças fisiológicas gerais: medo de cobras, tempestades, o escuro, insetos, etc. Estas são aversões instintivas comuns, intensificadas pela angústia. Perturbações da atividade digestiva, como sentimentos de náusea e desconforto, bulimia e tendência à diarreia. Inúmeros reumáticos, sofrem de neurose de ansiedade, e experimentam uma maior sensibilidade à dor. Vários sintomas aparecem de forma crônica, o que é mais difícil de detectar porque a sensação de angústia é menos precisa do que no ataque de angústia. Isto é especialmente incidente para diarreia, vertigem e parestesias. A vertigem pode ser representada por uma tendência duradoura ao cansaço e à depressão. Como tratar a ansiedade e o estresse? A Ansiedade para a psicanálise não é um termo pejorativo, mas é constitutivo do aparelho psíquico. É um sinal de que há algo que diz respeito ao assunto que o envolve. A atitude do sujeito em relação a seus desejos é singular. Ele os rejeita, os censura e não quer ter nada a ver com eles. É por isso que, toda vez que surge a angústia, deve haver algo que a provoque. É um sinal que nos avisa que estamos diante do desejo. Não se trata de algo que podemos eliminar, trata-se de aprender a lidar com isso. Ou a ansiedade nos tem, (ela nos sustenta como sujeitos desejáveis) ou de fato temos ansiedade (como sintoma). O paciente ansioso apresenta uma ânsia de concluir, de agir rapidamente. Um senso de urgência que o leva a apressar a vida, necessidade de controlar a situação e a intolerância à incerteza. Por conversas psicanalíticas, sem o uso de drogas, a psicanálise permite que os mecanismos psíquicos necessários para a gestão da ansiedade e incerteza presentes na vida, sejam postos em funcionamento. Benefícios de tratar a ansiedade e o estresse: Reduzir as insônias Melhorar a capacidade de trabalho Melhorar a saúde física Prevenir doenças graves Melhorar o bem-estar emocional Reduzindo as inibições sociais Melhorar as relações sexuais Desenvolver habilidades para administrar a incerteza Melhorar a qualidade de vida. Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
- O Que é A Depressão?
Uma diferença importante entre depressão e o luto, é que na depressão há a autorrepreensão: "Eu sou indigno", pensa o deprimido, e situações de fantasias, ruína e miséria ganham força. O paciente deprimido é o mais suscetível de estar numa direção ao suicídio. O Que é A Depressão? A depressão é uma doença dolorosa onde se perde todo contato com a realidade. Na forma como é produzida, é semelhante a um processo normal, não patológico, que é o luto, a diferença é que no luto houve uma perda real de um ente querido, através da morte, separação, etc. O paciente deprimido, por outro lado, experimentou uma perda que muitas vezes não é uma perda real de um objeto ou pessoa, mas sim a perda de um ideal, ou mesmo que tenha havido uma perda real, o paciente é incapaz de compreender tudo o que perdeu de fato. Uma diferença importante entre depressão e o luto, é que na depressão há autorrepreensão: "Eu sou indigno", pensa o deprimido, e situações de fantasias, ruína e miséria ganham força. O paciente deprimido é o mais suscetível de estar numa direção ao suicídio. Quando uma pessoa fica deprimida é porque tem grande dificuldade em substituir o que perdeu, seu amor (libido) se fixou no que perdeu, porque não aceita perdê-lo e todas as suas outras funções psíquicas ficam empobrecidas, desconstruídas. Os processos de atuação, trabalho, responsabilidades, também se tornam impossíveis de execução, e a única solução possível é direcionar essa agressão e hostilidade contra seu próprio ego, sobre o qual a sombra do objeto perdido caiu. A depressão é uma doença psicológica e não biológica. Não pode ser curada com medicamentos; em alguns casos, os medicamentos podem até agravar a doença, produzindo efeitos colaterais prejudiciais à saúde. Para curar a depressão, é necessário um tratamento psicanalítico muito especializado. Como detectar se você está sofrendo de depressão? A depressão é caracterizada pelos seguintes sintomas: Humor profundamente doloroso. Tristeza patológica ou humor depressivo. Ela se expressa como dor, vazio, desespero e, em casos extremos, como uma falta de sentimentos. Algumas vezes pode ser mascarado por outros sintomas. Perda da capacidade de amar. Inibição de todas as funções dinâmicas para as atividades diárias. Dificuldade em obter recompensas agradáveis, que costumavam ser gratificantes. Pode levar ao isolamento e à passividade. Apatia, que se manifesta como total indiferença. Diminuição da autoestima, o que se traduz em reprovações e acusações, o que pode levar a uma expectativa delirante de punição. Delírios de menosprezo: Acusa-se publicamente de ser alguém pequeno, egoísta, desonesto, sem ideias próprias, preocupado em esconder suas próprias fraquezas. Irritabilidade. Aparecem reações de comportamento violento, injustificadas e desproporcionais. Forte medo de empobrecimento financeiro. Ideias de morte ou suicídio podem ganhar força. Distúrbios vegetativos: dores de cabeça atípicas, dores musculoesqueléticas, perda de peso, distúrbios digestivos (dispepsia, constipação, perda de apetite, etc.), distúrbios cardíacos (dor precordial, taquicardia), distúrbios de equilíbrio ou distúrbios do sono com diferentes tipos de insônia, ou hipersônia. Depressão somática. Isto é uma depressão mascarada sob a forma de doença somática, o indivíduo se percebe doente. Alterações sexuais, diminuição exacerbada da libido, da excitação e atraso do orgasmo. Como se trata a depressão? Os processos psicológicos que dão origem aos sintomas da depressão são inconscientes e somente por um tratamento psicanalítico podem ser tratados. Não importa se o que o paciente diz sobre si mesmo é verdade ou não, importando, é que o que ele descreve é sua verdadeira situação psicológica. A pessoa deprimida, perdeu sua autoestima e deve ter razões para isso, o que acontece é que estas razões estão inconscientes. Através de conversas psicanalíticas, sem o uso de drogas, falando livremente, o paciente conseguirá colocar palavras no que está acontecendo com ele. O psicanalista ouvirá flutuando sobre isto, conseguindo interpretar os processos que, inconscientemente, medeiam a produção da doença radicada. A psicanálise permite agir sobre o núcleo patogênico da depressão, colocando em movimento os mecanismos psíquicos necessários para a produção de posições psíquicas mais saudáveis, que invertem o quadro. Se você pensa desconfia de si ao respeito, ou um de seus entes queridos está sendo acometido, a psicanálise pode lhe ajudar, ela é eficaz, não apenas para fazer desaparecer os sintomas da depressão, mas também para fazer as mudanças psicológicas necessárias para evitar que a doença se repita ciclicamente. Benefícios de tratar a depressão: Melhorar o humor Recuperar a capacidade de amar e trabalhar Recuperação da capacidade de agir Melhoria das relações sociais Aumento das relações sexuais Fortalecimento da autoestima Reestruturação da confiança pessoal Eliminação das tendências suicidas Viver melhor a perspectiva de futuro. Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130